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ven<strong>da</strong> e bibliotheca do Viscon<strong>de</strong> <strong>da</strong> Esperança, 30.000 volumes, illuminuras gothicas, manuscriptos<br />

e muita amabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do proprietario» e a seguir, incapaz <strong>de</strong> resistir, canta-nos esta ária<br />

fim-<strong>de</strong>-século sobre a «[...] Casa do Dr. Barahona – quadros e marmores <strong>de</strong> artistas portuguezes,<br />

outros objectos d’arte e um rarissimo tapete persa, tecido em se<strong>da</strong>, com bicharia, dois metros<br />

por um <strong>de</strong> largo (pouco mais ou menos), em que tive o prazer <strong>de</strong> pôr os meus pés e que valia a<br />

bagatella <strong>de</strong> vinte contos <strong>de</strong> réis.».<br />

Se a prosa <strong>de</strong> José Queirós não nos aju<strong>da</strong> muito, apesar do seu <strong>da</strong>tado primor, a<br />

visionar os requintes <strong>de</strong> arte e excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do «Palácio Barahona», <strong>de</strong>ixou-nos este prólogo<br />

avulso que, na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século XX, através do historiógrafo e erudito eborense Túlio<br />

Espanca, acabou por ter uma personaliza<strong>da</strong> <strong>de</strong>dicatória, se assim po<strong>de</strong>mos dizer: «Foi a última<br />

grandiosa residência fi<strong>da</strong>lga <strong>de</strong> arquitectura civil que se levantou na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> [...].»!<br />

Este “banquete” <strong>de</strong> arte ou convite a apreciar o bom gosto fim-<strong>de</strong>-século, iria permanecer<br />

inalterável na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, infelizmente, por poucos anos...<br />

Sabemos que o proprietário do «Palácio Barahona», isto é, o próprio Francisco<br />

Barahona, ain<strong>da</strong> “acrescentou” mais obras <strong>de</strong> arte ao interior do edifício, segundo o gosto naturalista<br />

<strong>de</strong> inspiração romântica e literária, muito específico <strong>de</strong> um intelectual <strong>da</strong> época. Assim,<br />

o pintor simbolista António Carneiro (1872-1930) foi contratado para <strong>de</strong>corar a fresco o vestíbulo<br />

<strong>de</strong> entra<strong>da</strong>, com motivos dos arruamentos on<strong>de</strong> na época se enquadrava o edifício. Porém, sobre<br />

todos estes frescos, para o alçado principal <strong>da</strong> esca<strong>da</strong>ria nobre, avulta um monumental painel a<br />

óleo, <strong>da</strong> autoria do mesmo António Carneiro e <strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 1902, <strong>de</strong> paradigmático tema histórico,<br />

a festejar a libertação <strong>de</strong> <strong>Évora</strong> durante a guerra <strong>da</strong> Restauração, representando a «Reconquista<br />

<strong>de</strong> <strong>Évora</strong> aos espanhóis pelo Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vila Flor em Junho <strong>de</strong> 1663»...<br />

Estamos em crer que era próprio do carácter <strong>de</strong>ste abastado mecenas e homem <strong>de</strong><br />

Cultura, exibir aos olhos <strong>da</strong>s visitas <strong>da</strong> residência a sua concepção <strong>de</strong> patriotismo, bem como o<br />

seu apego aos preceitos liberais <strong>da</strong> época, aliando-se, assim, ao título <strong>de</strong> Liberalitas Julia (século<br />

I <strong>da</strong> nossa era), com que o imperador romano Júlio César resolveu dignificar a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Évora</strong>!<br />

Afinal <strong>de</strong> contas, mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural que seus contemporâneos compreen<strong>de</strong>ram<br />

muito bem e, como rigorosos polígrafos, vieram a colocar no seu monumento, em 1908.<br />

Falecido Francisco Barahona em 1905, por sua <strong>de</strong>cisão testamentária, to<strong>da</strong>s as<br />

16 | TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA

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