Out/Dez 2011
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www.eurp.edu.br<br />
ISSN 2175-2338<br />
Volume 3 n. 4 – <strong>Out</strong>/<strong>Dez</strong> <strong>2011</strong>
Expediente<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives - EURP ISSN 2175-2338<br />
Publicação oficial da EURP<br />
Escola de Ultra-Sonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto<br />
Diretor Administrativo<br />
Francisco Mauad Neto<br />
Presidente do Departamento Científico<br />
Procópio de Freitas<br />
Bibliotecária<br />
Priscila Gauna<br />
Responsável pelo Setor Gráfico<br />
Michel da Silva<br />
Adilson Cunha Ferreira<br />
Fernando Marum Mauad<br />
Francisco Mauad Filho<br />
Jorge Garcia<br />
Procópio de Freitas<br />
Carlos César Montesino Nogueira<br />
Gerson Claudio Crott<br />
Diretor Presidente<br />
Francisco Mauad Filho<br />
Professores<br />
Diretor Científico<br />
Wellington de Paula Martins<br />
Diretor de Pesquisa<br />
Fernando Marum Mauad<br />
Secretária Geral<br />
Janete Cristina Parreira de Freitas<br />
Responsável pelo Setor de Multimídia<br />
Ricardo Tostes<br />
Jorge Rene Garcia Arevalo<br />
José Augusto Sisson de Castro<br />
José Eduardo Chúfalo<br />
João Francisco Jordão<br />
Luís Guilherme Carvalho Nicolau<br />
Simone Helena Caixe<br />
Wellington de Paula Martins
EURP<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives<br />
Adilson Cunha Ferreira<br />
Carlos César Montesino Nogueira<br />
Carolina Oliveira Nastri<br />
Fernando Marum Mauad<br />
Gerson Cláudio Crott<br />
João Francisco Jordão<br />
Editor Científico<br />
Wellington de Paula Martins<br />
Editor Executivo<br />
Francisco Mauad Filho<br />
Conselho Editorial<br />
Secretária Executiva<br />
Priscila Gauna<br />
Jorge Rene Garcia Arevalo<br />
José Eduardo Chúfalo<br />
Luis Guilherme Nicolau<br />
Procópio de Freitas<br />
Simone Helena Caixe<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012
SUMÁRIO<br />
EURP v. 4, n. 1, p 01-43 Jan-Mar 2012 ISSN 2175-2338<br />
Avaliação diagnóstica da síndrome coronariana aguda<br />
Diagnostic evaluation of acute coronary syndrome<br />
Ricardo Nogueira de Paiva<br />
01<br />
Insuficiência mitral 08<br />
Mitral Insufficiency<br />
Paulo Casimirov Banof , Márcia Elisa Moro, Cláudia Moro Sandmann<br />
Obstrução intestinal pré-natal: correlação com a<br />
avaliação pós-natal<br />
Prenatal bowel obstruction: correlation with postnatal evaluation<br />
Nuno Ricardo Gonçalves Baptista Pereira, Patrícia João Moreira Horta Oliveira, Miguel<br />
Pedro da Rocha Branco, Joaquim José Rocha Costa Simões de Sá , Raquel Maria Pereira<br />
Ortins Pina, Eulália Maria Bento Galhano, José Agostinho Valentim Barros de Mesquita<br />
14<br />
Avaliação ultrassonográfica das massas anexiais 22<br />
Ultrasound evaluation of adnexal masses<br />
Valéria Cristina Nascimento Silva, Francisco Mauad Filho<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012
Ultrassonografia na gestação complicada por diabetes<br />
mellitus<br />
Ultrasonography in pregnancy complicated by diabetes mellitus<br />
Avaliação ecocardiográfica do prolapso valvar mitral<br />
Echocardiographic evaluation of mitral valve prolapse<br />
Ultrassonografia e o câncer da tireóide<br />
Ultrasonography and thyroid cancer<br />
Wilson Ayach<br />
Gisele Oliveira Ribeiro Gomes<br />
Antonio José Ribeiro Filho<br />
Acompanhamento ultrassonográfico de mioma uterino<br />
durante a gestação<br />
Ultrasonography follow-up of uterine leiomyoma during pregnancy<br />
Rebeca Saliba Ferreira Bortone<br />
27<br />
32<br />
35<br />
41<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012
Artigo de Revisão<br />
Avaliação diagnóstica da síndrome coronariana aguda<br />
Diagnostic evaluation of acute coronary syndrome<br />
Ricardo Nogueira de Paiva 1<br />
Na síndrome coronariana aguda a qualidade do tratamento depende diretamente da precocidade do diagnóstico,<br />
já que a extensão da lesão miocárdica é tempo dependente. A síndrome é representada pelo infarto<br />
do miocárdio com elevação do segmento ST, infarto do miocárdio sem elevação do segmento ST e<br />
angina instável. Pacientes de alto risco com diagnóstico de infarto do miocárdio são encaminhados para<br />
angiografia coronária e terapia de reperfusão. Pacientes com angina instável são encaminhados para terapia<br />
intensiva e, após se estabilizarem, vão para angiografia coronária programada. Pacientes de moderado<br />
a baixo risco, estáveis, sem alterações isquêmicas ao eletrocardiograma e sem alterações dos marcadores de<br />
lesão miocárdica, são avaliados para detecção de doença arterial coronária (DAC) através da ergometria,<br />
quando possível, ou através de métodos de imagem não invasivos como a ecocardiografia, a cintilografia<br />
miocárdica, a angiotomografia coronária e a ressonância magnética. A ecocardiografia é um método de<br />
imagem não invasivo, presente em boa parte das salas de emergência e fornece dados importantes para<br />
diagnóstico da DAC através da análise das alterações segmentares do ventrículo esquerdo.<br />
Palavras-chave: Dor no Peito; Angina Pectoris; Infarto do Miocárdio; Ecocardiografia.<br />
1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />
Ribeirão Preto (EURP)<br />
Recebido em 07/11/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />
07/01/2012.<br />
Correspondências para Ricardo Nogueira de Paiva.<br />
Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />
de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />
14020-060.<br />
E-mail: paivarn@yahoo.com.br<br />
Fone: (16) 3636-0311<br />
Fax: (16) 3625-1555<br />
Abstract<br />
Acute coronary syndrome's treatment quality depends<br />
directly on early diagnosis; since the extent of<br />
myocardial damage is time-dependent. The syndrome<br />
is represented by myocardial infarction with ST segment<br />
elevation, myocardial infarction without ST segment<br />
elevation, and unstable angina. High-risk patients<br />
with a diagnosis of myocardial infarction are<br />
referred for coronary angiography and reperfusion<br />
therapy. Patients with unstable angina are referred for<br />
intensive care and, after stabilizing, to scheduled coronary<br />
angiography. Patients with moderate to low risk,<br />
stable, without ischemic changes on electrocardiogram<br />
and no changes in markers of myocardial injury, are<br />
evaluated for detection of coronary artery disease<br />
(CAD) by exercise testing, when possible, or through<br />
non-invasive imaging methods such as echocardiography,<br />
myocardial scintigraphy, coronary angiography<br />
and magnetic resonance imaging. Echocardiography is<br />
a noninvasive imaging method, present in most emergency<br />
rooms and provides important data for diagnosis<br />
of CAD by analysis of left ventricular segmental<br />
changes<br />
Keywords: Chest Pain; Angina Pectoris; Myocardial<br />
Infarction; Echocardiography.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07
Introdução<br />
A síndrome coronariana aguda compreende o<br />
infarto do miocárdio (com supra ST e sem supra<br />
ST) e angina instável, condições clínicas graves,<br />
que necessitam de um diagnóstico precoce já que<br />
aqueles pacientes considerados de alto risco necessitam,<br />
num curto período de tempo, do restabelecimento<br />
da circulação coronariana, através ou<br />
da angioplastia primária, ou terapia fibrinolítica,<br />
ou mesmo de um tratamento clínico mais agressivo<br />
1.<br />
Anualmente, nos Estados Unidos, mais de 6<br />
milhões de pacientes são atendidos nas salas de<br />
emergência com quadro de dor torácica sugestivo<br />
de síndrome coronariana aguda e mais de 40%<br />
destes atendimentos geram admissão hospitalar 2;<br />
3. Porém, grande parte destes pacientes não tem<br />
doença arterial coronariana 4; 5. Apesar de todo<br />
avanço dos recursos diagnósticos, de 2% a 8% dos<br />
pacientes são liberados de forma inadequada aumentando<br />
a morbimortalidade da doença arterial<br />
coronariana 6.<br />
Os pacientes que são atendidos nas unidades<br />
de dor torácica e salas de emergência são estratificados<br />
para alto, moderado e baixo risco para doença<br />
arterial coronariana (DAC). Para esta estratificação,<br />
o médico conta com a história clínica,<br />
exame físico, o eletrocardiograma, os marcadores<br />
bioquímicos de lesão miocárdica, a radiografia de<br />
tórax, a ergometria, a ecocardiografia, a cintilografia<br />
miocárdica, a angiotomografia de coronárias<br />
e a ressonância magnética cardíaca.<br />
A ecocardiografia é um método extremamente<br />
importante na síndrome coronariana aguda, por<br />
ser um método não invasivo, presente nas salas<br />
de emergência, baixo custo e decisivo no diagnóstico<br />
diferencial. Através da ecocardiografia avalia-se<br />
a função ventricular global, sistólica e diastólica,<br />
detecta-se de forma muito precoce as alterações<br />
de contratilidade e espessamento miocárdio<br />
decorrente da isquemia miocárdica.<br />
Quadro clínico<br />
Apesar de todo o avanço tecnológico no diagnóstico<br />
da síndrome coronariana aguda, a história<br />
clínica é de suma importância, inclusive na estratificação<br />
de risco dos pacientes.<br />
A dor torácica na síndrome coronariana aguda<br />
se manifesta mais como desconforto e está presente<br />
em 75 a 80% dos casos, e é referida como<br />
Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />
aperto, peso, queimação, opressão, sufocação, dor<br />
ou pressão.<br />
Apresenta localização variada, desde retroesternal,<br />
precordial até mandibular, ombros e epigástrico<br />
com irradiação para MMSS (mais freqüente<br />
MSE). Acompanhada frequentemente com<br />
náuseas, vômitos, sudorese, dispnéia, astenia, até<br />
síncopes 7.<br />
Na abordagem, é importante definir quando<br />
iniciou exatamente o sintoma para caracterizar o<br />
tempo de evolução da provável lesão miocárdica.<br />
O local de início da dor, a duração, a irradiação,<br />
os fatores de alívio ou agravantes 7. A busca de<br />
fatores precipitantes é importante como esforço<br />
físico, estresse emocional, o uso de drogas como<br />
cocaína.<br />
A avaliação deverá ser rápida com uma história<br />
dirigida para que as medidas de emergência<br />
sejam imediatamente implementadas. Condições<br />
clínicas que significam gravidade devem ser<br />
prontamente identificadas através do exame físico,<br />
como instabilidade hemodinâmica, cianose e<br />
arritmias.<br />
Eletrocardiograma<br />
O ECG deve ser realizado dentro dos primeiros<br />
minutos do atendimento na sala de emergência<br />
e poderá ser realizado com intervalos de 15<br />
minutos dependendo das alterações apresentadas<br />
no curso da avaliação 8. As alterações isquêmicas<br />
miocárdicas podem se apresentar de forma dinâmica<br />
ao longo do tempo, surgindo mudanças do<br />
padrão eletrocardiográfico.<br />
O ECG tem uma série de limitações, especialmente<br />
no quadro de angina instável. Alterações<br />
isquêmicas se apresentam inicialmente em 20 a<br />
30% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio,<br />
sendo que, 5 a 10% apresentam ECG normais<br />
9; 10.<br />
Pacientes que apresentam ao ECG um supradesnivelamento<br />
do segmento ST em duas ou mais<br />
derivações devem ser considerados para cineangiocoronariografia<br />
e provável angioplastia primária<br />
ou tratamento trombolítico.<br />
A depressão do segmento ST está associada a<br />
um risco alto de infarto do miocárdio (IAM sem<br />
supra desnivelamento ST), maior que a inversão<br />
da onda T que também está relacionada a isquemia<br />
miocárdica. A presença de onda Q se refere a<br />
provável infarto antigo ou até mesmo recente em<br />
evolução.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />
2
Os pacientes podem ser alocados em quatro<br />
grupos 11:<br />
• Grupo I: pacientes com história e quadro clínico<br />
compatível com SCA e evidência de elevação<br />
segmento ST.<br />
• Grupo II: pacientes com história e quadro<br />
clínico sugestivo SCA, sem elevação do segmento<br />
ST, porém de alto risco, devido às alterações<br />
isquêmicas ao ECG, instabilidade hemodinâmica.<br />
• Grupo III: pacientes que apresentam sintomas<br />
que justifiquem a avaliação, porém sem evidências<br />
objetivas de síndrome coronariana<br />
aguda, ECG inicial inalterado.<br />
• Grupo IV: pacientes com evidência clínica de<br />
sintoma de dor torácica de causa não cardíaca<br />
e ECG normal.<br />
Pacientes do grupo I devem ser considerados<br />
para imediata terapia de reperfusão (trombolítico<br />
ou angioplastia primária).<br />
Pacientes do grupo II, na ausência de contraindicações,<br />
devem receber tratamento antiplaquetário,<br />
antitrombótico e toda a medicação adjuvante<br />
do tratamento da síndrome coronariana aguda,<br />
sendo que aqueles com sintomas em curso, alterações<br />
persistentes ao ECG, ou instabilidade hemodinâmica,<br />
devem ser avaliados para angiografia<br />
coronária.<br />
Os pacientes do grupo III representam um<br />
grande número de pacientes que procuram as<br />
emergências sem alterações eletrocardiográficas,<br />
porém com sintomas que justificam o seguimento<br />
de toda propedêutica para a exclusão da isquemia<br />
miocárdica.<br />
Os pacientes do grupo IV deverão ser liberados<br />
para futura avaliação ambulatorial.<br />
Marcadores de lesão miocárdica<br />
Ainda não dispomos de um marcador de lesão<br />
miocárdica ideal para todas as situações. Diante<br />
disso, deve se utilizar ao menos dois marcadores<br />
distintos para o diagnóstico de eventos isquêmicos<br />
miocárdicos.<br />
A creatinoquinase constitui um dímero composto<br />
de subunidades (M e B). A forma MB compõe<br />
20 a 30% do miocárdio e é usada como importante<br />
marcador para identificar os pacientes<br />
com infarto do miocárdio 12.<br />
Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />
As recomendações atuais indicam as troponinas<br />
como biomarcador preferencial ou padrão<br />
para o infarto do miocárdio porque tanto a troponina<br />
I quanto a troponina T não são detectadas no<br />
sangue de pessoas saudáveis. Dessa forma, recomenda-se<br />
11:<br />
1. Todos os pacientes com suspeita clínica de<br />
síndrome coronariana aguda devem ser mensurados<br />
os marcadores de necrose miocárdica, obtidos<br />
na admissão para a sala de emergência e repetidos<br />
pelo menos uma vez nas seis horas seguintes;<br />
2. Devem ser dosados pelo menos dois tipos<br />
de marcadores, atualmente preferencialmente<br />
CKMB (dosada pela sua massa) e troponina (determinada<br />
pelo quantitativo imunoenzimático).<br />
Nos pacientes com dor torácica que apresentam<br />
ao ECG um supradesnivelamento do segmento<br />
ST a coleta de marcadores de necrose miocárdica<br />
é dispensável no que tange à decisão terapêutica.<br />
Diagnóstico diferencial<br />
A importância do conhecimento das várias patologias<br />
que cursam com dor torácica se reverte<br />
também da gravidade e da necessidade de um<br />
diagnóstico precoce.<br />
Podemos relacionar as seguintes patologias<br />
mais freqüentes que cursam com dor torácica 7:<br />
• Pericardites, valvopatias, cardiomiopatia<br />
hipertrófica.<br />
• Aneurisma dissecante de aorta.<br />
• Tromboembolismo pulmonar, pneumotórax,<br />
pneumonias, pleurites.<br />
• Gastrointestinais: gastrites, úlcera péptica,<br />
refluxo gastroesofágico, espasmo de esôfago,<br />
pancreatite.<br />
• Músculo-esqueléticas: costocondrite, fratura<br />
de arcos costais, herpes zooster.<br />
• Transtornos psiquiátricos: depressão, síndrome<br />
do pânico, ansiedade.<br />
A ecocardiografia detecta de forma conclusiva<br />
a presença de derrame pericárdico, as alterações<br />
valvares (adquiridas e congênitas), as hipertrofias<br />
ventriculares, condições freqüentes no diagnóstico<br />
diferencial.<br />
A avaliação das doenças da aorta, que podem<br />
se associar a outras condições (insuficiência aórtica,<br />
disfunção ventricular esquerda, derrame pericárdico)<br />
inicialmente é feita com a ecocardiogra-<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />
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fia transtorácica e completada com o recurso transesofágico<br />
que fornece imagens de alta definição<br />
possibilitando uma avaliação abrangente da aorta<br />
torácica.<br />
A identificação de sobrecarga de câmaras direitas<br />
e sinais de hipertensão arterial pulmonar<br />
pela ecocardiografia faz deste método um aliado<br />
no diagnóstico do tromboembolismo pulmonar.<br />
Radiografia de tórax<br />
Exame rápido de custo baixo de grande importância<br />
na análise das complicações na evolução da<br />
síndrome coronariana aguda como a congestão<br />
pulmonar e sinais indiretos de possíveis valvopatias.<br />
Importante no diagnóstico diferencial como o<br />
aneurisma de aorta, embolia pulmonar, pneumotórax,<br />
pneumonia, derrame pleural, fratura de<br />
arcos costais 1.<br />
Teste ergométrico<br />
É um método amplamente disponível, de baixo<br />
custo e que tem por objetivo submeter o paciente<br />
a estresse físico programado, identificando<br />
alterações isquêmicas pela análise do segmento<br />
ST 13.<br />
O método é contra-indicado em pacientes com<br />
limitações físicas (ortopédicas, insuficiência vascular<br />
periférica e déficits neurológicos), aqueles<br />
que fizeram uso de medicações que prejudiquem<br />
sua eficácia, como betabloqueadores, digoxina e<br />
também pacientes com alterações eletrocardiográficas<br />
que impossibilitem a análise de isquemia<br />
miocárdica como bloqueio de ramo esquerdo,<br />
sobrecarga ventricular esquerda.<br />
Indicado em pacientes com baixo e risco intermediário,<br />
além da análise de isquemia miocárdica,<br />
avalia também o grau de capacidade física,<br />
onde os pacientes que atingem mais de 10 mets<br />
no esforço têm uma baixa probabilidade para<br />
DAC 14.<br />
Embora a sensibilidade do teste ergométrico<br />
para detecção de DAC seja menor que os métodos<br />
de imagem, ele apresenta um custo benefício considerável.<br />
Estudos realizados em 317 pacientes<br />
após 12 horas de observação, sem alterações eletrocardiográficas<br />
e dos marcadores de lesão miocárdicas,<br />
o valor preditivo negativo foi de 98%<br />
com uma economia de 567 dólares por paciente<br />
em comparação com aqueles internados para tratamento<br />
habitual 15.<br />
Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />
Ecocardiografia<br />
Na síndrome coronariana aguda a alteração<br />
segmentar pode ser detectada muito precocemente<br />
pela ecocardiografia. É importante assinalar a<br />
precocidade com que se sucedem as alterações da<br />
contratilidade e espessamento miocárdio, como<br />
resposta à isquemia. A partir da isquemia miocárdica,<br />
existe uma cascata de eventos, onde a<br />
disfunção diastólica e alterações segmentares de<br />
contração são precoces e antecedem, inclusive, as<br />
alterações clínicas e eletrocardiográficas.<br />
A conseqüência imediata da isquemia miocárdica<br />
é uma diminuição ou abolição da contração<br />
miocárdica avaliada na ecocardiografia pelo grau<br />
de espessamento sistólico. A ausência de espessamento<br />
é denominada acinesia e sua diminuição,<br />
hipocinesia. Discinesia é o movimento do segmento<br />
comprometido em sentido expansivo durante<br />
a sístole, habitualmente acompanhado de<br />
adelgaçamento sistólico.<br />
Para o estudo da arquitetura miocárdica, o ecocardiograma<br />
é o melhor método: o músculo<br />
normal terá um aspecto ecogênico normal, com<br />
contratilidade e espessamento normais. O aspecto<br />
do endocárdio e sua trabeculação também são<br />
normais. Se existe fibrose, o território enfermo se<br />
encontrará adelgaçado, com ecogenicidade aumentada,<br />
perda da trabeculação, acinesia e falta<br />
de espessamento. Nos casos de hibernação e músculo<br />
atordoado, existirão alterações de contratilidade<br />
e espessamento, porém não haverá ecogenicidade<br />
aumentada e a espessura da parede ventricular<br />
estará conservada.<br />
A análise segmentar do coração deve ser sistemática<br />
e a mais completa possível. Todas as<br />
janelas disponíveis e planos tomográficos devem<br />
ser empregados para conseguir uma visão completa<br />
de todos os segmentos do ventrículo esquerdo.<br />
A evolução tecnológica, ao incorporar a melhoria<br />
das imagens com harmônicas no doppler<br />
tecidual e suas variáveis: tissue tracking (TT), strain<br />
rate (SR), strain miocárdio (SM) e emprego de<br />
agentes de contraste ultrassônicos tem produzido<br />
um notável avanço na qualidade dos estudos ecocardiográficos,<br />
melhorando sua sensibilidade e<br />
especificidade e valor preditivo 16. A principal<br />
aplicação clínica do strain rate (SR) é a doença<br />
arterial coronária e suas técnicas representam um<br />
importante índice de contratilidade segmentar, e<br />
vão desempenhar função decisiva na ecocardio-<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />
4
grafia, não só na quantificação da função sistólica<br />
regional, mas também na disfunção diastólica e<br />
detecção de miocárdio viável 17. A avaliação da<br />
contratilidade miocárdica pode ser feita das duas<br />
maneiras: sob a forma de uma medida (strain rate<br />
- SR) ou de uma percentagem (strain - SM). No<br />
território alterado pela oclusão de uma artéria<br />
coronária, pode-se encontrar: necrose, infarto<br />
transmural, infarto não transmural, músculo atordoado,<br />
músculo hibernado, músculo protegido<br />
por colaterais. As novas aplicações de SR e SM,<br />
em conjunto com estudo da resposta a doses baixas<br />
de dobutamina, permitem em muitos casos<br />
discriminar qual é a situação anatomofisiológica<br />
predominante.<br />
A ecocardiografia sob estresse pela dobutamina<br />
– atropina é um método para avaliação não<br />
invasiva de pacientes com doença arterial coronariana<br />
(DAC) suspeita ou conhecida. Novos avanços<br />
tecnológicos como Doppler tecidual, a imagem<br />
em segunda harmônica e o uso de agentes de<br />
contraste, juntamente com o desenvolvimento de<br />
imagem digital tem tornado a ecocardiografia sob<br />
estresse em um método de alta reprodutibilidade<br />
para avaliação da DAC.<br />
Kontos et al., em 141 pacientes com diagnóstico<br />
de infarto do miocárdio no serviço de emergência,<br />
realizaram estudos de perfusão miocárdica<br />
com medicina nuclear (tecnésio – 99m) e de<br />
contratilidade com a ecocardiografia bidimensional.<br />
A sensibilidade para diagnóstico de infarto<br />
do miocárdio foi de 91% para a ecocardiografia e<br />
de 89% para a cintilografia. A função sistólica<br />
ventricular esquerda se correlacionou muito bem<br />
com ambos os métodos. Quando o estudo ecocardiográfico<br />
é realizado durante o episódio de dor<br />
precordial, a ausência de alterações contrácteis é<br />
evidência de que não existe isquemia miocárdica<br />
7.<br />
A American College of Cardiology, a American<br />
Heart Association e a American Society of Echocardiography<br />
recomendam o emprego da ecocardiografia<br />
em pacientes com dor torácica nas seguintes<br />
circunstâncias:<br />
1. Diagnóstico da doença cardíaca de base,<br />
em pacientes com dor torácica e evidência clínica<br />
de doenças valvares, pericárdicas e miocárdicas.<br />
2. Avaliação da dor torácica em pacientes<br />
com suspeita de isquemia miocárdica aguda,<br />
Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />
quando o ECG basal e outros marcadores de laboratório<br />
não são diagnósticos.<br />
3. Avaliação de dor torácica em pacientes<br />
com suspeita de dissecção aórtica.<br />
4. Avaliação de pacientes com dor precordial<br />
e instabilidade hemodinâmica, que não respondem<br />
às medidas terapêuticas simples.<br />
Cintilografia de perfusão miocárdica/SPECT<br />
As anormalidades de perfusão regional sugerem<br />
evento isquêmico miocárdico e surgem mais<br />
precocemente quando comparados a alterações<br />
de contratilidade segmentar. Perfusão normal<br />
está associada a baixo risco clínico de DAC, diminuindo<br />
o tempo de observação e as internações na<br />
sala de emergência 18.<br />
O defeito de perfusão indica isquemia aguda,<br />
infarto agudo ou infarto antigo, requerendo avaliação<br />
com os biomarcadores cardíacos.<br />
O emprego da cintilografia miocárdica é limitado<br />
pelo custo elevado, pela demora na sua realização<br />
e baixa disponibilidade na sala de emergência.<br />
Angiotomografia de coronárias- CTA<br />
Diferente de outras técnicas de imagem, a CTA<br />
fornece a imagem da anatomia coronária e isto<br />
tornou-se viável com o advento da TC Multislice.<br />
Apresenta uma especificidade alta e valor preditivo<br />
negativo muito alto para a exclusão de<br />
DAC, embora o valor preditivo positivo não tem<br />
sido tão alto 19.<br />
Poucos estudos existem de análise da CTA em<br />
pacientes de baixo risco na sala de emergência.<br />
Em estudo recente 368 pacientes com dor torácica<br />
aguda foram submetidos a CTA e 31 (8%) apresentavam<br />
síndrome coronariana aguda 20. A sensibilidade<br />
e o valor preditivo negativo da CTA<br />
para síndrome coronariana aguda foram 100%<br />
para ausência de DAC e 77% e 98%, respectivamente,<br />
para estenose coronária significativa 21.<br />
O método não deve ser empregado em pacientes<br />
com arritmias, com insuficiência renal, pacientes<br />
que tem contra indicações ao uso de betabloqueador,<br />
e alérgicos ao contraste.<br />
Recentemente, novas gerações de tomógrafos<br />
obtêm-se o recurso de imagens que englobam a<br />
avaliação das coronárias, aorta e artérias pulmonares,<br />
importante para diagnóstico de dissecção<br />
aórtica e embolia pulmonar 22.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />
5
Maiores estudos são necessários para validação<br />
do uso do método em larga escala, limitado<br />
pelo alto custo e a necessidade de profissionais<br />
habilitados.<br />
Ressonância magnética cardíaca-RMC<br />
O método tem uma qualidade de imagem superior<br />
à maioria dos outros métodos de imagem<br />
não invasivos, permitindo avaliação de perfusão,<br />
função e anormalidades valvulares durante uma<br />
sessão única de imagem, porém quanto às artérias<br />
coronárias é inferior à angiotomografia. (CTA) 23.<br />
Em estudo prospectivo de 161 pacientes, a<br />
RMC apresentou sensibilidade e especificidade<br />
para identificação de síndrome coronariana aguda<br />
em 84% e 85%, respectivamente. Utilizando<br />
RMC de estresse para a avaliação, outro estudo<br />
encontrou uma sensibilidade e especificidade<br />
para identificação de DAC de 96% e 83% respectivamente<br />
24.<br />
As limitações desta técnica são, principalmente,<br />
o custo alto, a disponibilidade dos equipamentos<br />
e o elevado nível de especialização exigido de<br />
técnicos e médicos na interpretação do método.<br />
Considerações finais<br />
O atendimento nas unidades de dor torácica<br />
ou salas de emergências aos pacientes com suspeita<br />
clínica de síndrome coronariana aguda deve<br />
ser feito de forma rápida, eficiente e integrada,<br />
seguindo protocolos bem estruturados para um<br />
diagnóstico preciso, gerando menores custos com<br />
baixa margem de erros.<br />
Na avaliação inicial, baseado na história clínica,<br />
exame físico, eletrocardiografia e análise dos<br />
marcadores de lesão miocárdica, os pacientes são<br />
estratificados em alto, moderado e baixo risco<br />
para DAC. No grupo de pacientes de alto risco<br />
com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio<br />
são encaminhados para angiografia coronária e<br />
terapia de reperfusão.<br />
Neste grupo ainda os pacientes com angina<br />
instável são encaminhados para unidade de terapia<br />
intensiva e se estabilizados são encaminhados<br />
para angiografia coronária programada.<br />
No grupo de pacientes de moderado e baixo<br />
risco, se, na evolução encontram-se estáveis são<br />
encaminhados para propedêutica na busca da<br />
presença da DAC, através de métodos disponíveis<br />
na instituição e de acordo com cada caso,<br />
como ergometria, ecocardiografia, cintilografia<br />
Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />
miocárdica, angiotomografia coronária e ressonância<br />
magnética cardíaca.<br />
A ecocardiografia em foco é um método bastante<br />
interessante, presente em grande número de<br />
instituições, relativamente de baixo custo, fornecendo<br />
dados objetivos e conclusivos da presença<br />
da isquemia e necrose miocárdica, através das<br />
alterações segmentares. Avaliando a função sistólica<br />
e diastólica, e as complicações imediatas dos<br />
eventos agudos, bem como no diagnóstico diferencial<br />
das doenças envolvidas na dor torácica.<br />
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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />
7
Artigo de Revisão<br />
Insuficiência mitral<br />
Mitral Insufficiency<br />
Paulo Casimirov Banof 1 , Márcia Elisa Moro 2 , Cláudia Moro Sandmann 3<br />
O estudo clínico e fisiopatológico das enfermidades que comprometem o funcionamento mecânico da<br />
válvula mitral é complementada com estudo de imagem através do ecocardiograma transtorácico. Mesmo<br />
apresentando limitações na quantificação da gravidade nas modalidades da insuficiência mitral, estenose e<br />
análise das próteses nesta posição, fator essencial na tomada de decisões clínicas a respeito de intervenção<br />
cirúrgica ou procedimento percutâneo. Objetivo deste trabalho é revisar a literatura a respeito da avaliação<br />
ecocardiográfica bidimensional da insuficiência mitral.<br />
Palavras-chave: Insuficiência da Valva Mitral; Coração; Ecocardiografia.<br />
1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />
Ribeirão Preto (EURP)<br />
2 Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)<br />
3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIO-<br />
ESTE - MARECHAL CANDIDO RONDON)<br />
Recebido em 07/11/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />
10/01/2012.<br />
Correspondências para Paulo Casimirov Banof.<br />
Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />
de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />
14020-060.<br />
E-mail: paulobanof@hotmail.com<br />
Fone: (16) 3636-0311<br />
Fax: (16) 3625-1555<br />
Abstract<br />
The study of clinical and pathophysiologic disorders<br />
that compromise the mechanical mitral valve is<br />
complemented with imaging study using transthoracic<br />
echocardiography. Despite presenting limitations in<br />
quantifying the severity in terms of mitral stenosis,<br />
and analysis of the prosthesis in this position, an essential<br />
factor in making clinical decisions about surgical<br />
intervention or percutaneous procedure. The purpose<br />
of this paper is to review the literature on the<br />
two-dimensional echocardiographic evaluation of<br />
mitral regurgitation.<br />
Keywords: Mitral Valve Insufficiency; Echocardiography;<br />
Heart.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13
Introdução<br />
O ecocardiograma é a modalidade de escolha<br />
para a investigação, diagnóstico e o acompanhamento<br />
da insuficiência mitral, da função cardíaca<br />
global. Tem papel primordial no diagnóstico da<br />
insuficiência mitral e determinar sua etiologia<br />
com seu possível tratamento, bem como quantificar<br />
o grau de insuficiência 1. É de extrema importância<br />
determinar através de um exame de imagem<br />
o mais cedo possível alterações que levam ao<br />
comprometimento do funcionamento valvar mitral,<br />
seja em crianças, adulto jovem ou idosos 1.<br />
Apesar de todos esforços em criar um instrumento<br />
biológico ou mecânico que pudesse substituir<br />
a valva mitral nativa, nos deparamos com<br />
obstáculos ainda não solucionados, como a deterioração<br />
da valva biológica por calcificação e a<br />
rotura nas próteses biológicas e o tromboembolismo<br />
nas valvas mecânicas 1.<br />
O presente estudo visa revisar as técnicas ecocardiográficas<br />
que possam contribuir para detecção<br />
dos pacientes portadores de regurgitação valvar<br />
mitral.<br />
Anatomia<br />
O aparelho da valva mitral envolve a cúspide<br />
anterior da valva mitral; átrio esquerdo; cúspides<br />
comissurais da valva mitral; nódulos fibrosos (de<br />
Albini); cúspide posterior da valva mitral, face<br />
ventricular músculo papilar anterior (seccionado);<br />
músculo papilar posterior; músculo papilar ante-<br />
Banof et al. - Insuficiência mitral<br />
rior (seccionado). As alterações presentes em<br />
qualquer dessas estruturas e na geometria ventricular,<br />
na dinâmica de contração das fibras miocárdicas<br />
levam ao comprometimento do correto<br />
funcionamento da estruturas da válvula mitral no<br />
qual ocorre à má coaptação dos folhetos mitrais 1.<br />
Etiologia<br />
A insuficiência mitral é a segunda causa mais<br />
freqüente de valvulopatias, ficando atrás apenas<br />
da estenose aórtica 1. A insuficiência mitral é classificada<br />
de acordo com sua etiologia em primária<br />
ou orgânica, no qual a disfunção do aparato valvar<br />
é a causa primária da insuficiência mitral,<br />
como exemplo a calcificação e retração das cúspides,<br />
rotura das cordoalhas tendíneas, alterações<br />
na elasticidade da válvula, fusão das comissuras.<br />
Entre as principais etiologias orgânicas destacamse<br />
a valvulopatia reumática e a degeneração mixomatosa<br />
associada ao Prolápso da válvula mitral<br />
(PVM) univalvular ou bivalvular. Causas secundárias<br />
ou funcionais, onde o aparato valvar é<br />
estruturalmente normal, porém alterações a nível<br />
do anel mitral e da geometria do ventrículo esquerdo<br />
como na miocardiopatia dilatada culminam<br />
na disfunção da valva. A isquemia da parede<br />
miocárdica ou dos músculos papilares, diretamente<br />
ocasionam insuficiência mitral. A tabela 1<br />
resume os principais mecanismos com seus respectivos<br />
diagnósticos 2.<br />
Tabela 1. Causas de Insuficiência Mitral. Adaptado Solomon et al., 2007 3.<br />
Tipo de insuficiência Mecanismo Diagnóstico<br />
Aguda Estrutural Cordas tendíneas rotas<br />
Disfunção e/ou ruptura de músculo papilar isquêmico<br />
Infecciosa Endocardite bacteriana<br />
Crônica Degenerativa/estrutural Degeneração mixomatosa dos folhetos (Prolápso valva Mitral)<br />
Disfunção de músculo papilar e/ou ruptura com folheto frouxo<br />
Vazamento paravalvar após substituição por valva protética<br />
Calcificação anular mitral<br />
Transtornos do colágeno (Sd.Marfan e Ehlers-Danlos)<br />
Isquêmica e funcional Cardiomiopatia dilatada com dilatação do anel mitral e amarração<br />
apical<br />
Infecciosa Endocardite bacteriana (em valvas cardíacas normais e protéticas)<br />
Inflamatória Transtornos do tecido conjuntivo, como, por exemplo, lúpus eritematoso<br />
sistêmico, esclerodermia.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />
9
<strong>Out</strong>ras causas destacam-se doença cardíaca<br />
reumática, endocardite infecciosa, e causas menos<br />
comuns incluem o trauma, síndrome hipereosinofílica,<br />
uso de algumas drogas, síndrome carcinóide,<br />
as doenças vasculares do colágeno 1.<br />
Durante a diástole, os folhetos mixomatosos<br />
podem ser medidos. Folhetos espessados com<br />
mais de 5mm sustentam o diagnóstico de prolápso<br />
válvula mitral clássico. Prolápso bivalvular é<br />
facilmente visualizado no corte apical quatro câmaras.<br />
Entretanto, o perfil da valva mitral é normalmente<br />
exagerado nesta vista – e pode levar ao<br />
excesso de diagnóstico de prolápso de valva mitral.<br />
Regurgitação mitral grave estava presente 1.<br />
Regurgitação mitral em cardiomiopatia isquêmica.<br />
Isto resulta em amarração (“formação de<br />
tenda”) dos folhetos da valva mitral durante a<br />
sístole ventricular, coaptação prejudicada dos<br />
folhetos e regurgitação mitral . “Formação de<br />
tenda” descreve o fechamento da valva mitral<br />
dentro da cavidade ventricular em vez de ao nível<br />
do plano do anel mitral. A morfologia dos folhetos<br />
da valva é normal, mas a dilatação ventricular<br />
leva ao desvio lateral dos músculos papilares. Isto<br />
causa má coaptação dos folhetos, que tipicamente<br />
é simétrica, e o jato de regurgitação mitral isquêmica<br />
é dirigido centralmente.<br />
Na cardiomiopatia isquêmica dilatada, os três<br />
principais contribuintes impedem a coaptação<br />
normal dos folhetos e regurgitação mitral funcional.<br />
Os folhetos da mitral são morfológicamente<br />
normais.<br />
Fisiopatologia<br />
A dinâmica dos fluidos de uma valva estenótica<br />
é muito semelhante à dinâmica dos fluídos de<br />
uma valva insuficiente, no qual pode apresentar:<br />
“Fluxo turbulento a jusante; Área de convergência<br />
do fluxo proximal; Jato regurgitante de alta<br />
velocidade; Aumento do volume de fluxo anterógrado;<br />
Área do orifício regurgitante” 4.<br />
O orifício regurgitante nada mais é que um jato<br />
laminar de alta velocidade e a equação de Bernoulli<br />
simplificada: ∆P = 4v², determina a velocidade<br />
instantânea desse jato(v) relacionada com a<br />
diferença de pressão instantânea (∆P). O registro<br />
desse jato de alta velocidade com o Doppler contínuo<br />
permite avaliar ao longo do tempo a diferença<br />
de pressão entre o ventrículo esquerdo e o<br />
átrio esquerdo 4.<br />
Banof et al. - Insuficiência mitral<br />
Na face atrial próximo ao orifício regurgitante<br />
da valva mitral observamos a aceleração do fluxo<br />
proximal juntamente a uma área de superfície de<br />
isovelocidade proximal (PISA), no qual é multiplicada<br />
pela velocidade do aliasing e de forma<br />
quantitativa nos fornece o volume regurgitante. Já<br />
o ponto de maior estreitamento do jato regurgitante<br />
é chamado de vena contracta, no qual inicia<br />
logo após o jato regurgitante e o seu diâmetro<br />
reflete a área do orifício regurgitante 4.<br />
O fluxo de sangue regurgitante (jato de alta velocidade)<br />
proveniente do ventrículo esquerdo à<br />
medida que entra no átrio esquerdo, perde a característica<br />
de fluxo laminar e torna-se turbulento,<br />
originando múltiplas velocidades e direções. Fatores<br />
fisiológicos, anatômicos e técnicos podem<br />
fazer com que o tamanho do jato regurgitante<br />
torne-se pouco útil na quantificação da gravidade<br />
da insuficiência mitral (Tabela 2). “A complacência,<br />
o tamanho do átrio esquerdo e a força motriz<br />
produzida pela válvula mitral sobre o fluxo de<br />
sangue através da válvula mitral insuficiente,<br />
afetam a direção e a forma do jato regurgitante” 4.<br />
Tabela 2. Fatores que afetam tamanho e formato<br />
do jato regurgitante. Adaptado de Otto et al.,<br />
20044. Fisiológicos Volume regurgitante<br />
Pressão motriz<br />
Tamanho e formato do orifício regurgitante<br />
Restrição da câmara receptora<br />
Influência da parede<br />
Tempo relativo ao ciclo cardíaco<br />
Influência de jatos ou correntes de<br />
fluxo coexistentes<br />
Técnicos Ganho do ultra-som<br />
Frequência de repetição de pulsos<br />
Frequência do transdutor<br />
Frame rate<br />
Plano de imagem<br />
Profundidade<br />
Força do sinal<br />
Jatos regurgitantes excêntricos se caracterizam<br />
por margear a parede atrial esquerda, e exibir<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />
10
uma área de jato menor ao mapeamento de fluxo<br />
em cores bidimensional, e um volume menor no<br />
tridimensional, devido à soma do volume adjacente<br />
em apenas um lado do jato regurgitante. Ao<br />
contrário do que acontece com os jatos centrais em<br />
que a soma do volume adjacente ocorre em ambos<br />
lados do jato. O jato regurgitante pode ser<br />
direcionado às paredes adjacentes se este apresenta<br />
concomitante a presença do jato regurgitante<br />
aórtico 4.<br />
Quadro Clínico<br />
A insuficiência mitral impõe ao ventrículo esquerdo<br />
uma sobrecarga de volume, o que leva ao<br />
aumento das pressões no interior do átrio esquerdo<br />
e capilar pulmonar, causando sintomas mais<br />
comuns como dispnéia e fadiga. Quando a insuficiência<br />
mitral se impõe de forma crônica no qual<br />
o átrio esquerdo pode adaptar-se ao volume regurgitante<br />
tornando-se complacente, pode ser<br />
assintomática por longos períodos, mesmo na<br />
presença de grande dilatação do ventrículo esquerdo<br />
e também da disfunção do mesmo. Ao<br />
contrário, a instalação aguda na maioria das vezes<br />
é sintomática devido a não complacência da cavidade<br />
atrial esquerda em relação ao grande volume<br />
regurgitante do ventrículo esquerdo, em geral<br />
manifestando-se com edema agudo de pulmões 5.<br />
Banof et al. - Insuficiência mitral<br />
A dilatação atrial esquerda acompanha de alterações<br />
elétricas e anatômicas na qual propiciam o<br />
aparecimento da Fibrilação atrial elevando o risco<br />
de fenômenos tromboembólicos sistêmicos. Sintomas<br />
como dor torácica atípica e palpitações são<br />
freqüentes. Em estágios avançados evolui para<br />
sintomas de insuficiência cardíaca direita, com<br />
edema de membros inferiores, ascite e também<br />
associação com hipertensão pulmonar 5.<br />
Diagnóstico<br />
O ecocardiograma com Doppler o exame fundamental<br />
para avaliação da gravidade da disfunção<br />
valvar e identificação da etiologia (Tabela 3).<br />
A insuficiência valvar pode ser observada através<br />
do mapeamento de fluxo em cores, ou mapeamento<br />
de fluxo pelo Doppler contínuo. As evidências<br />
detectadas através da ecocardiografia 2 D<br />
são apenas indiretas na determinação acerca da<br />
anatomia valvar, da dilatação e a função da câmara.<br />
Evidências de uma valva mitral anatomicamente<br />
anormal acompanhada de dilatação de<br />
câmaras esquerdas, sugerem insuficiência mitral,<br />
porém é necessário o mapeamento Doppler para<br />
confirmar ou excluir o diagnóstico.<br />
Tabela 3. Parâmetros ecográficos quantitativos para classificação da gravidade da insuficiência mitral (IM).<br />
Adaptado de Nicolau, et al. 2010 5.<br />
Gravidade Grau Angiográfico Fração regurgitante(%) EROA (mm²) Largura da Vena Contracta*(cm)<br />
Leve 1 < 30 < 20 < 0,3<br />
Moderada 2 e 3 30 – 50 20 – 40 0,3 - 0,5<br />
Grave 4 >50 >40 > 0,5<br />
EROA: sigla em inglês para área do orifício regurgitante efetivo.<br />
*Largura máxima, medida de múltiplos ângulos, da porção mais estreita do jato regurgitante.<br />
O mapeamento através do Doppler detecta a<br />
insuficiência através da turbulência do fluxo a<br />
jusante ao orifício regurgitante. Seguindo a técnica<br />
adequada e os parâmetros do instrumento estão<br />
adequadamente corrigidos a sensibilidade e a<br />
especificidade encontra-se entre 90 e 99% respectivamente.<br />
Tanto que se detecta uma insuficiência<br />
que não é percebida pela ausculta cardíaca e se<br />
confirma com angiografia num segundo momento<br />
na maioria dos casos 3. O Doppler contínuo<br />
analisa através do orifício regurgitante o jato de<br />
alta velocidade, através da largura do feixe melhor<br />
visualizado através da abordagem apical<br />
quatro câmaras.<br />
A insuficiência mitral encontrada em indivíduos<br />
normais, chamado de fisiológico, é detectada<br />
em uma grande porcentagem de exames. Caracteriza-se<br />
por ser espacialmente restrita a área<br />
imediatamente ao fechamento da valva, de curta<br />
duração e pequeno volume regurgitante. Esse<br />
pequeno grau de insuficiência é normal é sem<br />
repercussão clínica.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />
11
Medidas semiquantitativas são utilizadas para<br />
classificar a insuficiência mitral como discreta,<br />
moderada e importante usando a área do jato em<br />
cores, largura da vena contracta, PHT, fluxo reverso<br />
distal. Medidas quantitativas como volume<br />
regurgitante, fração regurgitante e área do orifício<br />
regurgitante.<br />
O volume regurgitante é o volume de fluxo retrógrado<br />
através da valva, no qual pode ser estimado<br />
através do método de PISA, do fluxo volumétrico<br />
através de uma valva insuficiente e<br />
uma valva competente, do volume de ejeção total<br />
do VE calculado pelo modo bidimensional menos<br />
o volume ejetado anterógrado calculado pelo<br />
Doppler 1.<br />
A fração regurgitante (FR) é FR= VR/VOL total<br />
A área do orifício regurgitante (AOR) é calculada,<br />
utilizando a equação da continuidade, através<br />
do volume regurgitante e da integral tempo<br />
velocidade do jato regurgitante (ITVJR).<br />
VR = AOR X ITVJR<br />
AOR = VR/ITVJR<br />
VR em cm³, ITV JR em cm e AOR em cm²<br />
A vena contracta nada mais é do que o diâmetro<br />
do orifício da insuficiência refletido no diâmetro<br />
mais estreito da corrente do fluxo, com vantagens<br />
de não sofrer alterações provenientes do<br />
fluxo e da pressão direcional e tão pouco é afetada<br />
pelos parâmetros do aparelho 1.<br />
Para se obter a melhor resolução espacial devemos<br />
utilizar um corte em uma profundidade<br />
mínima, setor estreito, em modo zoom e perpendicular<br />
à largura do jato. A ao vena contracta na<br />
regurgitação mitral é fácil e rápido de se estimar<br />
nas janelas-padrão, avalia o tamanho do defeito,<br />
bom estimativa de regurgitação branda e grave,<br />
não é influenciada pela presença de regurgitação<br />
aórtica 1.<br />
A convergência de fluxo proximal é demonstrada<br />
pela dinâmica dos fluídos dentro de um<br />
espaço que convergem para uma saída estreita ou<br />
orifício em áreas de isovelocidade aproximadamente<br />
concêntricas. À medida área de superfície<br />
de isovelocidade proximal revela que o fluxo regurgitante<br />
converge para o orifício regurgitante<br />
mitral, a área de convergência proximal, o tamanho<br />
e a velocidade da área ou hemisfério mais<br />
Banof et al. - Insuficiência mitral<br />
interno podem ser medidos (SCOTT; SOLOMON,<br />
2008, p. 270).<br />
O método da área de superfície de isovelocidade<br />
proximal mostra os fluídos dentro de um<br />
espaço limitado aceleram-se na direção de uma<br />
saída ou orifício em isovelocidades constantes.<br />
Ecocardiografia<br />
A ecocardiografia através do mapeamento de<br />
fluxo em cores da área do jato, e avaliar a gravidade<br />
da regurgitação no interior da câmara receptora.<br />
Pelo menos dois cortes devem ser utilizados<br />
para avaliar o tamanho do jato de fluxo turbulento,<br />
no qual proporciona um índice qualitativo da<br />
gravidade classificado em uma escala: 1) regurgitação<br />
discreta; 2) regurgitação moderada; 3) regurgitação<br />
moderada a grave. O jato da regurgitação<br />
mitral pode ser visto pela janela apical de<br />
quatro câmaras. O Doppler a cores permite visualização<br />
espacial do fluxo sanguíneo dentro do<br />
coração, exibindo as velocidades do fluxo sanguíneo<br />
em termos de faixas de cor.<br />
Rotina do exame ecográfico<br />
Após a preparação do equipamento e do paciente,<br />
iniciamos o exame abordando a janela paraesternal<br />
esquerda a partir desta, é obtido o corte<br />
paraesternal de eixo longo. O exame segue para a<br />
posição apical, no qual se avalia através do Doppler<br />
de fluxo em cores da valva mitral em relação<br />
a regurgitação, seguido Doppler pulsado para as<br />
veias pulmonares comumente para a veia pulmonar<br />
superior direita 3.<br />
O fluxo de entrada no ventrículo esquerdo corresponde<br />
ao fluxo mitral, no qual através do<br />
Doppler pulsado ao nível das extremidades das<br />
vávulas da mitral é usado para determinar a integral<br />
tempo/velocidade. Seguido Doppler contínuo<br />
através da válvula mitral. Na projeção apical<br />
de duas câmaras, com Doppler de fluxo é avaliada<br />
a regurgitação mitral.<br />
Considerações finais<br />
A cardiologia faz uso da ecocardiografia como<br />
uma das principais ferramentas para avaliação<br />
não invasiva do sistema cardiovascular, e um dos<br />
mais importantes exames complementares de<br />
apoio à clínica cardiológica. Acompanhando a<br />
evolução e das novas descobertas disponibilizadas<br />
pela tecnologia, tornou-se um método indispensável<br />
para avaliação da fisiologia e anatomia<br />
cardíacas.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />
12
Ao lado dos sinais vitais, o exame clínico, a radiografia<br />
tórax, o eletrocardiograma, a ecocardiografia<br />
pelas suas característica de baixo custo,<br />
ausência de efeitos colaterais, portabilidade, tornaram<br />
o exame complementar de imagem ecocardiográfica<br />
insubstituível, tanto no ambulatório<br />
ao lado do leito, quanto na emergência.<br />
Capacidade de guiar decisões, disponibilizar<br />
resultados em tempo real, custo-benefício, assegurarão<br />
que a ecocardiografia permanecerá como<br />
primeira escolha na modalidade de imagem cardiovascular.<br />
Banof et al. - Insuficiência mitral<br />
Referências<br />
1. OTTO CM, BONOW RO. Braunwald - Tratado de Doenças<br />
Cardiovasculares: Elsevier; 2009.<br />
2. PEDROTTI CHS, SAMPAIO RO. Condutas práticas em<br />
cardiologia: Insuficiência mitral. In: Manole, ed. São Paulo;<br />
2010:226.<br />
3. SOLOMON SD. Ecocardiografia manual prático. Rio de<br />
Janeiro; 2010.<br />
4. OTTO CM. Fundamentos de ecocardiografia clínica. 3 ed:<br />
Elsevier; 2004.<br />
5. NICOLAU JC. Condutas práticas em cardiologia. 1 ed. São<br />
Paulo: Manole; 2010.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />
13
Artigo Original<br />
Obstrução intestinal pré-natal: correlação com a avaliação<br />
pós-natal<br />
Prenatal bowel obstruction: correlation with postnatal evaluation<br />
Nuno Ricardo Gonçalves Baptista Pereira 1 , Patrícia João Moreira Horta Oliveira 2 , Miguel Pedro da Rocha Branco 1 ,<br />
Joaquim José Rocha Costa Simões de Sá 3 , Raquel Maria Pereira Ortins Pina 4 , Eulália Maria Bento Galhano 1 , José<br />
Agostinho Valentim Barros de Mesquita 1<br />
O principal objetivo deste estudo é caracterizar os achados distintivos do diagnóstico sonográfico da obstrução intestinal<br />
fetal e estabelecer a sua correlação com os achados em pós-natal e resultados neonatais. Métodos: Estudo retrospectivo<br />
com análise dos 13 casos consecutivos com diagnóstico pré-natal de obstrução intestinal fetal, referenciados<br />
ao Centro de Diagnóstico Pré-Natal, entre Janeiro de 2004 e Julho de <strong>2011</strong>. Avaliaram-se os achados na ultrasonografia<br />
pré-natal e analisou-se a sua correlação com os achados em pós-natal. A análise estatística foi efetuada com<br />
o Statistical Package for the Social Sciences 16.0. Resultados: Os achados ultrassonográficos sugestivos de processo<br />
obstrutivo mais frequentes foram: alças dilatadas (11; 84,6%), líquido amniótico aumentado (5; 38,5%), imagem eco<br />
negativa em forma de ferradura/“U” (2; 15,4%) e sinal de “dupla bolha” (1; 7,7%). Em 4 (30,8%) casos surgiram sinais<br />
sugestivos de peritonite meconial. A atresia intestinal representou a principal etiologia de obstrução. Em 10 casos<br />
resultou um nascido-vivo. Todos os recém-nascidos necessitaram de cirurgia. Em 3 casos o casal solicitou interrupção<br />
médica da gestação. Conclusões: Este estudo reforça a importância do diagnóstico pré-natal de obstrução intestinal<br />
permitindo a pesquisa da etiologia subjacente bem como das possíveis condições associadas melhorando o aconselhamento<br />
do casal e possibilitando o encaminhamento para centro de cuidados terciário com planejamento do nascimento.<br />
Palavras-chave: Obstrução intestinal; Feto; Diagnóstico pré-natal: Ultrassonografia.<br />
1Maternidade Bissaya-Barreto, Coimbra, Portugal.<br />
2 Serviço de Cirurgia Pediátrica e Queimados Dr. Matos<br />
Coimbra – Hospital Pediátrico Carmona da Mota, Coimbra,<br />
Portugal.<br />
3 Serviço de Genética Médica – Centro Hospitalar de<br />
Coimbra, Portugal.<br />
4 Serviço de Anatomia Patológica – Centro Hospitalar<br />
de Coimbra, Portugal.<br />
Recebido em 29/11/2012, aceito para publicação em<br />
16/01/2012.<br />
Correspondências para Nuno Ricardo Gonçalves Baptista<br />
Pereira.<br />
Avenida Dr. Armando Gonçalves, 15, apto. 207<br />
CEP 3000-059 – Coimbra, Portugal<br />
E-mail: nunobaptistapereira@gmail.com ou nunobaptistapereira@hotmail.com<br />
Abstract<br />
This study main goal was to characterize ultrasound findings<br />
in fetus with bowel obstruction and it’s correlation with<br />
postnatal evaluation and neonatal outcomes. Methods: Retrospective<br />
analysis of 13 consecutive cases with prenatal<br />
diagnosis of fetal bowel obstruction, referred to the Prenatal<br />
Diagnosis Center, in the period of January 2004 to July <strong>2011</strong>.<br />
We correlated the prenatal ultrasound findings with the<br />
postnatal evaluation. Statistical analysis was performed<br />
using Statistical Package for the Social Sciences 16.0. Results:<br />
The most frequent ultrasound findings suggestive of bowel<br />
obstruction were: dilated bowel loops (11; 84,6%), increased<br />
amniotic fluid (5, 38,5%), horse-shoe/ “U” shaped anechoic<br />
structure (2; 15,4%) and “double bubble” sign (1; 7,7%). In 4<br />
(30,8%) cases there were signs suggestive of meconium peritonitis.<br />
Intestinal atresia was the main cause of obstruction.<br />
In 10 cases a child was born. Surgery was required in all<br />
these cases. In 3 cases the couple chose for termination of<br />
pregnancy. Conclusions: This study strengthens the importance<br />
of prenatal diagnosis of bowel obstruction allowing<br />
diagnostic workup and detection of associated conditions<br />
improving counselling and making feasible for a planned<br />
delivery in a tertiary referral center.<br />
Keywords: Bowel obstruction; Fetus; Prenatal diagnosis;<br />
Ultrasonography.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21
Introdução<br />
Os primeiros detalhes do desenvolvimento<br />
gastrointestinal podem ser identificados através<br />
da ultra-sonografia a partir da sétima semana de<br />
gestação (1). Desta forma a avaliação do trato gastrointestinal<br />
e diagnóstico de anomalias do seu<br />
desenvolvimento é possível desde fases precoces<br />
da gestação.<br />
A obstrução intestinal pode ocorrer em diversas<br />
localizações e, na sua gênese, podemos encontrar<br />
lesões intrínsecas ou extrínsecas. As lesões<br />
intrínsecas dividem-se em atresia ou estenose 2.<br />
A obstrução duodenal ocorre em 1:2500-10000<br />
partos e é responsável por parte dos casos de obstrução<br />
do trato intestinal 3. Vinte a 30% dos casos<br />
de obstrução a este nível devem-se à presença de<br />
pâncreas anular ou mal rotação do intestino delgado<br />
enquanto que os restantes casos têm subjacente<br />
a presença de bandas fibrosas e a atresia<br />
duodenal 4.<br />
A atresia duodenal resulta da falha na vacuolização<br />
do lúmen duodenal, na 11ª semana de gestação,<br />
conduzindo a estenose ou atresia. Tem uma<br />
incidência de 1:5000 nascimentos e tem ocorrência<br />
habitualmente esporádica, tendo sido descritos<br />
casos com transmissão autossômica recessiva.<br />
Numa série de 503 casos foram identificados 13<br />
casos com irmãos afetados 5. Em 50% dos casos<br />
existem anomalias associadas incluindo trissomia<br />
21 em cerca de 40% destes<br />
2, 6.<br />
A obstrução a nível do intestino delgado ou do<br />
intestino grosso tem uma incidência de 1:2000<br />
nascimentos. Em metade dos casos ocorre obstrução<br />
do intestino delgado e nos restantes 50% existe<br />
atresia anorretal. São condições habitualmente<br />
de ocorrência esporádica, no entanto encontramse<br />
casos familiares descritos em situações isoladas<br />
ou de atresia intestinal múltipla. É rara a associação<br />
com outras anomalias ou aneuploidias uma<br />
vez que a gênese da atresia intestinal tem por<br />
base fenômenos de isquemia 2, 6, 7. Os locais mais<br />
frequentes de obstrução do intestino delgado são:<br />
36% no ileo distal, 31% no jejuno proximal, 20%<br />
no jejuno distal e 13% no ileo proximal 4. Em 5-<br />
10% dos casos as obstruções são múltiplas 2, 6, 8. A<br />
este nível anatômico, entre as causas extrínsecas<br />
encontramos: bridas peritoneais, mal rotação com<br />
volvo, ileo meconial (devido a fibrose cística em<br />
mais de 90% das situações) 9 e doença de Hirschprung<br />
(agangliose). No diagnóstico diferencial<br />
devem considerar-se: anomalias do trato renal,<br />
Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />
quistos mesentéricos, quistos de duplicação e<br />
quistos do ovário 2, 6.<br />
A atresia anorretal resulta da divisão anormal<br />
da cloaca na 9ª semana de gestação, e o seu diagnóstico<br />
pré-natal (DPN) é difícil 2, 4.<br />
Em alguns casos de obstrução intestinal ocorre<br />
perfuração intestinal intra-uterina, originando<br />
uma peritonite química denominada peritonite<br />
meconial. Esta entidade tem uma incidência de<br />
1:3000 nascimentos. A maioria (65%) dos casos<br />
ocorre associado a estenose ou atresia intestinal e<br />
ileo meconial, contudo também pode ocorrer em<br />
consequência de volvo intestinal ou divertículo<br />
de Meckel 2, 6.<br />
A doença de Hirschprung tem incidência de<br />
1:3000 nascimentos e caracteriza-se pela ausência<br />
de gânglios do sistema nervoso parassimpático na<br />
parede de segmentos do cólon. Pensa-se que na<br />
sua gênese exista uma anomalia na migração dos<br />
neuroblastos da crista neural para os segmentos<br />
intestinais, entre a 6ª e 12ª semanas de gestação,<br />
ou degenerescência dos neuroblastos migrados. A<br />
agangliose tem habitualmente caráter esporádico<br />
mas 5% dos casos são familiares. Alguns casos<br />
associam-se a trissomia 21 2, 10.<br />
Pelo exposto, o DPN de obstrução intestinal<br />
assume particular relevância uma vez que permite<br />
pesquisar a etiologia subjacente, bem como as<br />
possíveis condições associadas, e estabelecer o<br />
prognóstico. Estes fatores potenciam o aconselhamento<br />
do casal e possibilitam o encaminhamento<br />
para um centro de cuidados terciário com<br />
diminuição da morbimortalidade, uma vez que<br />
permite instituir a terapêutica precocemente (na<br />
sua maioria cirúrgica) reduzindo a taxa de complicações.<br />
O principal objetivo deste estudo é caracterizar<br />
os achados distintivos do diagnóstico sonográfico<br />
da obstrução intestinal fetal e estabelecer a sua<br />
correlação com os achados em pós-natal e resultados<br />
neonatais.<br />
Métodos<br />
Procedeu-se à análise retrospectiva dos 13 casos<br />
consecutivos com DPN de obstrução intestinal<br />
fetal, referenciados ao Centro de Diagnóstico Pré-<br />
Natal (CDPN), entre Janeiro de 2004 e Julho de<br />
<strong>2011</strong>. A pesquisa dos casos foi efetuada com consulta<br />
da base de dados do programa Astraia.<br />
Caracterizou-se a população em estudo relativamente<br />
à idade, raça, gesta, paridade, antecedentes<br />
pessoais e familiares e local de vigilância<br />
da gravidez. Foram ainda avaliados o número de<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />
15
fetos, sexo fetal, idade gestacional da suspeita de<br />
obstrução intestinal, características dos achados<br />
ultrassonográficos, anomalias associadas, estudos<br />
complementares efetuados, atitudes clínicas, idade<br />
gestacional do parto, via de parto, vitalidade<br />
ao nascer e peso do recém-nascido. Nos casos em<br />
que o casal solicitou interrupção médica da gestação<br />
(IMG) analisaram-se os achados da fetologia.<br />
Correlacionaram-se os achados em pré e pósnatal.<br />
Considerou-se prematuridade idade gestacional<br />
inferior a 37 semanas completas; restrição de<br />
crescimento intra-uterino (RCIU) quando o peso<br />
foi inferior ao percentil 10 para a idade gestacional;<br />
a vitalidade ao nascer foi avaliada pelo índice<br />
de Apgar ao 1º, 5º e 10º minuto, e foram considerados<br />
alterados índices inferiores a 7 ao 5º minuto.<br />
As atresias intestinais foram classificadas de<br />
acordo com os seguintes tipos: Tipo I- presença<br />
Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />
de membrana ou diafragma constituído por mucosa<br />
e submucosa; Tipo II- dois segmentos em<br />
fundo de saco unidos por um cordão fibroso; Tipo<br />
IIIa- semelhante ao tipo II mas com brecha no<br />
mesentério; Tipo IIIb- presença de “apple-peel”<br />
(ausência da artéria mesentérica superior para<br />
além do ramo cólico médio, com redução significativa<br />
do comprimento intestinal e defeito largo<br />
no mesentério; o intestino delgado distal assume<br />
configuração helicoidal circundando o único vaso<br />
perfusor); Tipo IV- presença de múltiplas atresias<br />
7.<br />
Foi efetuada a análise estatística descritiva com<br />
o programa Statistical Package for the Social Sciences<br />
(SPSS) versão 16.0 com determinação da<br />
média, desvio-padrão, valor mínimo e máximo<br />
das variáveis numéricas. Nas variáveis categóricas<br />
utilizou-se o teste de proporção simples com<br />
cálculo das frequências.<br />
Tabela 1. Correlação entre a localização da obstrução suspeitada na avaliação pré-natal e verificada em<br />
pós-natal<br />
Pós-natal Duodeno Duodeno + Íleo Jejuno-ileal + Cólon Total<br />
Pré-natal<br />
Intestino delgado<br />
Cólon<br />
Duodeno 1 1<br />
Intestino delgado 1 1<br />
Intestino delgado +<br />
Cólon<br />
3 3<br />
Cólon 1 3 1 1 6<br />
Indeterminado 1 1 2<br />
Total 2 1 7 1 2 13<br />
Valor preditivo positivo de 100% para obstrução no intestino delgado<br />
Valor preditivo positivo de 22,2% para obstrução no cólon<br />
Resultados<br />
A idade média das gestantes foi 29,5±5,6 (23-<br />
41) anos, e todas eram de raça caucasiana. Cinco<br />
(38,5%) casos eram relativos a uma primeira gestação,<br />
Gesta 2 em 5 (38,5%) casos, e Gesta ≥3 em 3<br />
(23,1%) casos. Relativamente à paridade, 6<br />
(46,2%) eram nulíparas, Para 1 em 6 (46,2%) casos<br />
e Para 2 em 1 (7,7%) caso. Dos antecedentes pessoais<br />
das gestantes há apenas a salientar um dos<br />
casos com antecedentes de obstrução intestinal<br />
fetal em gravidez anterior (caso 12); 2 abortos<br />
espontâneos precoces (caso 6); outra com diagnóstico<br />
de heterozigótica para a mutação 20210 da<br />
protrombina (caso 9); e um caso, em que na se-<br />
quência de estudo citogenético do casal por 2 abortos<br />
espontâneos, tinha sido detectado no homem<br />
a t(8;21)(p23.1;q11.2) com risco calculado de<br />
anomalia cromossômica desequilibrada na descendência<br />
avaliado em 13,6% (caso 13). O caso 8<br />
tinha uma sobrinha, com cardiopatia e fenda palatina,<br />
falecida com 1 ano de idade. A história<br />
pessoal das gestantes não revelou exposição a<br />
agentes potencialmente teratogênicos em nenhum<br />
dos casos.<br />
Cinco (38,5%) casos eram provenientes de outras<br />
consultas da nossa instituição, 2 (15,4%) foram<br />
referenciados por outro hospital e 6 (46,1%)<br />
casos eram vigiados em clínica privada. O Caso<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />
16
11 tinha sido orientado para o CDPN às 12,3 semanas<br />
de gestação por rastreio combinado do<br />
primeiro trimestre positivo para trissomia 18.<br />
Em todos os casos tratava-se de gravidez única<br />
e a suspeita de obstrução intestinal fetal ocorreu<br />
em média às 24,7±6,8 (11,9–34) semanas de gestação.<br />
Foi realizado diagnóstico invasivo com amniocentese,<br />
para estudo citogenético, em 9 (69,2%)<br />
casos e nenhum deles revelou alterações do cariótipo.<br />
Em dois casos foi realizado cariótipo após o<br />
nascimento, que não revelou alterações. Quatro<br />
(30,8%) fetos eram do sexo masculino e 9 (69,2%)<br />
do sexo feminino (relação 1:2,25).<br />
O estudo da fibrose cística foi efetuado em 4<br />
(30,8%) casos tendo revelado homozigota para<br />
delta F-508 no caso 1.<br />
Os principais achados ultrassonográficos sugestivos<br />
de processo obstrutivo foram: alças dilatadas<br />
(11; 84,6%), líquido amniótico aumentado<br />
(5; 38,5%), imagem eco negativa em forma de ferradura/“U”<br />
(2; 15,4%) e sinal de “dupla bolha”<br />
(1; 7,7%). Estes achados estão ilustrados na figura<br />
1. Em 4 (30,8%) casos surgiram sinais sugestivos<br />
de peritonite meconial/ perfuração caracterizados<br />
principalmente pela presença de áreas hiperecogênicas<br />
abdominais e, num deles com ascite<br />
concomitante e outro com formação de pseudocisto<br />
meconial.<br />
Relativamente à localização da obstrução, a ultra-sonografia<br />
sugeria o cólon isoladamente em 6<br />
casos (46,1%), cólon e intestino delgado em 3<br />
(23,1%) casos, intestino delgado isoladamente<br />
num (7,7%) caso, duodeno noutro (7,7%) caso e<br />
indeterminado em 2 (15,4%) casos.<br />
Na avaliação pós-natal verificou-se que as obstruções<br />
se localizavam principalmente a nível do<br />
íleo (7; 53,8%); duodeno (2; 15,4%); cólon isoladamente<br />
(2; 15,4%); duodeno e intestino delgado<br />
(1; 7,7%); e jejuno-ileal e cólon (1; 7,7%). A correlação<br />
entre a localização da obstrução suspeitada<br />
em pré-natal e a verificada em pós-natal encontrase<br />
na tabela 1. Em 4 (30,8%) casos foi diagnosticado<br />
peritonite meconial, um dos quais sem suspeita<br />
pré-natal. A atresia intestinal representou a<br />
principal etiologia de obstrução estando presente<br />
em 10 (76,9%) casos. Num destes casos (caso 3) foi<br />
ainda diagnosticado mal rotação com volvo concomitante.<br />
<strong>Out</strong>ro caso (caso 7) apresentava malformação<br />
anorretal complexa com “Pouch-colon”<br />
(cólon encurtado e dilatado, tipo bolsão) e presença<br />
de cloaca, ou seja, com comprometimento<br />
geniturinária concomitante. Em metade dos casos<br />
de atresia estas eram do tipo IV.<br />
Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />
Nos restantes casos a obstrução ficou a deverse<br />
a: ileo meconial (caso 1), doença de Hirschprung<br />
(caso 2) e pâncreas anular (caso 9).<br />
A figura 2 ilustra os achados pré-operatórios<br />
num caso de atresia ileal e num caso de ileo meconial.<br />
A avaliação pré-natal detectou anomalias associadas<br />
em apenas um (7,7%) caso (caso 13).<br />
Em 10 (76,9%) casos resultou um nascido-vivo,<br />
com parto por via vaginal em 5 casos e por cesárea<br />
nos restantes. O parto ocorreu em média às<br />
35,3±3,4 (28,6-39,4) semanas de gestação. Os achados<br />
ecográficos, citogenética, resultados relevantes<br />
de outros estudos realizados, idade gestacional<br />
do parto, co-existência de restrição de crescimento<br />
intra-uterino, e evolução pós-natal especificando<br />
o tipo de cirurgia realizada, achados<br />
operatórios e diagnóstico final destes casos encontram-se<br />
resumidos na tabela 2. No caso 4 a<br />
suspeita de obstrução intestinal ocorreu às 23,4<br />
semanas de gestação contudo foi referenciado ao<br />
CDPN apenas às 36,3 semanas de idade gestacional.<br />
Seis casos (casos: 3, 5, 7, 8, 9 e 10) associaramse<br />
a prematuridade tendo sido efetuada corticoterapia<br />
para maturação pulmonar fetal em 3 deles.<br />
Todos os recém nascidos (RN) tinham Apgar<br />
ao 5º minuto superior a 7, e pesavam em média<br />
2616,9±913,7 (1180-4060) gramas incluindo 3 casos<br />
de RCIU. Todos os RN necessitaram de admissão<br />
em unidade de cuidados intensivos de recémnascidos<br />
(UCIRN). À exceção do caso 2, todos os<br />
RN foram submetidos a cirurgia entre o 1º e o 3º<br />
dia de vida. Dois dos casos necessitaram de reintervenção<br />
cirúrgica.<br />
No caso 2, o RN apresentou quadro de vômitos<br />
biliares com radiografia do abdômen a revelar<br />
níveis hidro-aéreos no primeiro dia de vida mas o<br />
quadro resolveu com terapêutica médica. Por<br />
manter quadro de constipação e distensão abdominal,<br />
foi submetido a biopsias de aspiração retal<br />
no 2º mês de vida tendo sido diagnosticado doença<br />
de Hirschprung. Posteriormente foi submetido<br />
a correção cirúrgica com operação de Duhamel.<br />
Em 3 (23,1%) casos o casal solicitou interrupção<br />
médica da gestação (IMG) que foi realizada<br />
em média às 24,5±8,11 (16,9-33) semanas de gestação.<br />
As características destes casos encontramse<br />
resumidas na tabela 3.<br />
O caso 11 e 12 referem-se apenas a uma paciente<br />
que durante o período de estudo teve duas<br />
gestações com feto afetado por obstrução intestinal.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />
17
A fetologia permitiu identificar malformações<br />
associadas em todos os casos submetidos a IMG.<br />
O caso 11 apresentava atresia da via biliar principal<br />
e vesícula biliar bem como duplicação do intestino<br />
delgado. O caso 12 apresentava hipertelo-<br />
Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />
rismo e pé boto bilateral. No caso 13 co-existia<br />
malformação do sistema nervoso central (SNC), já<br />
suspeitada na avaliação pré-natal.<br />
Figura 1.( a) alças intestinais dilatadas às 36 semanas de gestação - caso 1; (b) sinal de “dupla-bolha” às 34<br />
semanas de gestação - caso 9; (c) e (d) imagem eco negativa em forma de ferradura/”U” descrita às 16 semanas<br />
de gestação (c) caso 11, (d) caso 12.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />
18
Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />
Figura 2. Achados peri-operatórios num caso de atresia ileal (caso 8; à esquerda) e num caso de ileo meconial (caso 1;<br />
à direita).<br />
Discussão<br />
Os avanços tecnológicos e melhor preparação<br />
dos executantes tem promovido uma crescente<br />
acuidade da ultra-sonografia no diagnóstico de<br />
malformações fetais. A detecção pré-natal de obstrução<br />
intestinal é um desses exemplos.<br />
Tipicamente o seu diagnóstico assenta na presença<br />
de dilatação dos órgãos proximais à dilatação<br />
bem como na eventual existência de polihidrâmnios<br />
4.<br />
Este é por exemplo o caso da obstrução duodenal,<br />
na qual o característico sinal de “duplabolha”,<br />
que representa a dilatação do estômago e<br />
duodeno separados pelo piloro, é muitas vezes<br />
acompanhado de polihidrâmnios 2, 4, 6, 8, 9, 10. No<br />
entanto em situações de obstrução mais distal os<br />
achados no exame ultrassonográfico podem ser<br />
mais subtis consistindo apenas na dilatação de<br />
uma alça intestinal isolada sem alterações no volume<br />
de líquido amniótico ou com aumento em<br />
idade gestacional mais avançada 9.<br />
No presente estudo o diagnóstico ocorreu em<br />
média às 24,7±6,8 semanas de gestação, o que está<br />
de acordo com o descrito pela maioria dos autores,<br />
que afirmam que geralmente o diagnóstico é<br />
realizado após as 25 semanas de gestação 2, 6, 9. No<br />
entanto salientamos que em 7 (53,8%) casos (casos:<br />
1, 4, 8, 9, 11, 12 e 13) o diagnóstico foi suspeitado<br />
antes das 24 semanas de gestação. O achado<br />
mais comum no exame ultrassonográfico foi a<br />
presença de alças dilatadas (84,6%), este fato é<br />
consistente com o nível das obstruções uma vez<br />
que, à exceção de 2 casos, todos apresentavam<br />
obstrução distal ao duodeno.<br />
Em dois casos (casos 11 e 12) com atresia duodenal,<br />
ambos relacionados com a mesma gestante,<br />
foi descrita uma estrutura eco negativa em<br />
forma de ferradura/”U” cerca das 16 semanas de<br />
gestação. Em ambos os casos existiam malformações<br />
gastrointestinais associadas (duplicação do<br />
intestino delgado no caso 11; e outras atresias<br />
intestinais no caso 12) impossibilitando estabelecer<br />
uma relação de causalidade entre a existência<br />
desta estrutura e a presença de atresia duodenal.<br />
O único caso com descrição do sinal de “dupla-bolha”<br />
associou-se à presença de pâncreas<br />
anular, um dos diagnósticos diferenciais na obstrução<br />
duodenal amplamente referido na literatura<br />
2, 4, 6, 8, 9.<br />
Relativamente ao volume de líquido amniótico,<br />
este apresentou aumento em 5 (38,5%) casos,<br />
um deles associado a obstrução duodenal e os<br />
restantes a nível do jejuno e íleo. Segundo Paladini<br />
et al na atresia anorretal o volume de líquido<br />
amniótico permanece inalterado, ou pode mesmo<br />
apresentar-se diminuído se a atresia anorretal<br />
estiver associada a fístula reto-vesical 9. Esta observação<br />
foi confirmada num dos casos do estudo<br />
em que uma malformação anorretal (“Pouchcolon”<br />
e cloaca) se associou a anâmnios.<br />
A determinação correta do nível da obstrução<br />
(delgado, cólon) na avaliação ultrassonográfica<br />
pré-natal revelou-se difícil, com apenas 2 (casos: 6<br />
e 7) dos 9 casos (casos: 1, 3, 4, 6, 7, 8, 10, 11 e 13)<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />
19
sugestivos de envolvimento do cólon a serem<br />
confirmados na avaliação pós-natal conferindo<br />
um valor preditivo positivo de apenas 22,2%. No<br />
entanto todos os casos (casos: 3, 4, 10 e 12) que<br />
sugeriam um possível envolvimento do intestino<br />
delgado foram confirmados na avaliação pósnatal<br />
conferindo valor preditivo positivo de<br />
100%, ainda que em 3 (75%) fosse sugerido envolvimento<br />
concomitante do cólon que não foi<br />
confirmado na avaliação pós-natal. Estes dados<br />
são compatíveis com o estudo de Corteville et al<br />
que revelou valor preditivo positivo de 18,3% na<br />
detecção ultrassonográfica de obstrução a nível<br />
do cólon, e sensibilidade de 100% com valor preditivo<br />
positivo de 72,7% na obstrução do intestino<br />
delgado 11. Já a presença do sinal de “duplabolha”<br />
revelou-se específico de obstrução a nível<br />
duodenal (caso 9).<br />
Dos 4 casos (casos: 5, 8, 10 e 11) com aspectos<br />
sugestivos de peritonite meconial/ perfuração<br />
pré-natal, 3 (casos: 5, 8 e 11) foram confirmados,<br />
no entanto existiu um caso com diagnóstico pósnatal<br />
que não tinha sido suspeitado em pré-natal.<br />
Desta forma, neste estudo a ultra-sonografia revelou<br />
sensibilidade de 75% e especificidade de<br />
88,9%, com valor preditivo positivo de 75% e valor<br />
preditivo negativo de 88,9% para este diagnóstico.<br />
Estes dados são comparáveis aos de Kuroda<br />
et al que em 7 casos com suspeita pré-natal de<br />
peritonite meconial, esta foi confirmada em 6 conferindo<br />
valor preditivo positivo de 85,7% 12. Dos<br />
casos de peritonite meconial confirmados na avaliação<br />
pós-natal salienta-se a associação com obstrução<br />
ileal confirmando observações de outros<br />
autores que referem a maior tendência para perfuração<br />
neste local, em contraste com as obstruções<br />
do jejuno, que tendem mais a dilatar 9. Nenhum<br />
dos casos de peritonite meconial se associou<br />
à presença de fibrose cística, contrastando<br />
com incidência de 8-40% descrita na literatura 13.<br />
Relativamente às malformações associadas, estas<br />
tinham sido diagnosticadas em pré-natal apenas<br />
num caso (7,7%). No entanto a avaliação pósnatal<br />
revelou malformações associadas em 4<br />
(30,8%) casos.<br />
Num RN do sexo feminino (caso 7), foi diagnosticada<br />
malformação anorretal complexa com<br />
“Pouch-colon” e cloaca associando desta forma<br />
malformação do sistema geniturinário. Paladini et<br />
al descrevem anomalias associadas em 70-90%<br />
dos casos de atresia anorretal, afetando sobretudo<br />
o sistema geniturinário à semelhança do caso descrito<br />
9.<br />
Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />
Os outros casos com anomalias associadas foram<br />
aqueles submetidos a IMG.<br />
Um dos casos (caso 11) apresentou atresia da<br />
via biliar principal e vesícula biliar, e duplicação<br />
intestinal associadas a atresia duodenal. No caso<br />
12 o feto tinha hipertelorismo, pé boto bilateral e<br />
outras atresias intestinais em associação com atresia<br />
duodenal. Diversos autores descrevem prevalência<br />
de malformações associadas em 40-50% das<br />
situações de atresia duodenal 2, 6, 7, 8, 9. Entre essas<br />
anomalias encontram-se aquelas relacionadas<br />
com os sistemas gastrointestinal, esquelético (anomalias<br />
vertebrais e das costelas, agenesia do<br />
sacro, anomalias do rádio e pé boto), cardíacas e<br />
renais. A atresia biliar e agenesia da vesícula biliar<br />
tem sido descrita associada à atresia duodenal,<br />
em particular nos casos de atresia dupla 7. A ocorrência<br />
de 2 gestações com feto afetado com atresia<br />
duodenal, na mesma paciente (caso 11 e 12), levanta<br />
a hipótese de síndrome genético, no entanto<br />
não foram encontradas alterações associadas enquadráveis<br />
em síndromes, como por exemplo o<br />
de Feingold<br />
14, 15, 16.<br />
No caso 13 o feto apresentava atresia ileal tipo<br />
IV associada a malformação do SNC. Este tipo de<br />
associação é rara, uma vez que a maioria das atresias<br />
intestinais não se associa a malformações<br />
major<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />
2, 9, 10.<br />
Os 10 casos que resultaram em nascido-vivo<br />
necessitaram de intervenção cirúrgica para correção<br />
da causa de obstrução. Na maioria (80%) existia<br />
uma anomalia anatômica, enquanto que num<br />
caso se tratava de obstrução mecânica intraluminal<br />
pela presença de ileo meconial e noutro<br />
existia um segmento de cólon agangliónico causando<br />
obstrução funcional 8.<br />
O DPN de fibrose cística no caso 1 possibilitou<br />
que, perante o quadro de ileo meconial não complicado,<br />
fosse instituída terapêutica médica com<br />
clister de gastrografina precocemente, que no<br />
entanto não foi suficiente para a resolução do<br />
quadro oclusivo sendo então encaminhado para<br />
terapêutica cirúrgica.<br />
De salientar o caráter transitório das alterações<br />
ultrassonográficas no caso 2, traduzindo a dificuldade<br />
no DPN na maioria de casos de doença<br />
de Hirschprung.<br />
Segundo Shawis et al, a taxa de sobrevivência<br />
após a correção cirúrgica é de 85-90% 8. Esta taxa<br />
depende sobretudo da idade gestacional no parto,<br />
malformações associadas, local da obstrução e<br />
tipo de atresias (pior nos tipos IIIb e IV) 2, 8 ,9. No<br />
nosso estudo a sobrevivência após a cirurgia foi<br />
20
de 100%, apesar da existência de 2 casos nascidos<br />
antes das 32 semanas de gestação, 3 casos com<br />
peritonite meconial e 4 casos com atresia tipo II-<br />
Ib/ IV.<br />
Este estudo reforça a importância do DPN de<br />
obstrução intestinal permitindo realizar a investigação<br />
etiológica e adequar a vigilância da gestação<br />
com controlo ultrassonográfico mais frequente<br />
pesquisando sinais de complicações como a<br />
peritonite meconial. O diagnóstico antecipado<br />
destas situações possibilita ainda, melhor aconselhamento<br />
do casal com envolvimento da equipa<br />
cirúrgica, e o planejamento do nascimento num<br />
centro de cuidados terciário com otimização do<br />
desfecho perinatal.<br />
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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />
21
Artigo de Revisão<br />
Avaliação ultrassonográfica das massas anexiais<br />
Ultrasound evaluation of adnexal masses<br />
Valéria Cristina Nascimento Silva 1 , Francisco Mauad Filho 1<br />
A ultrassonografia continua a ser a principal modalidade de imagem usada para identificar e caracterizar<br />
massas anexiais. A classificação das neoplasias de ovário está baseada em características histológicas. A<br />
predição de malignidade através das características ultrassonográficas incluem a presença de componente<br />
sólido (particularmente se houver fluxo visível nele na avaliação Doppler), septos espessos e ascite. Várias<br />
outras características clínicas de menor utilidade tem sido associadas com malignidade, que incluem o tamanho<br />
da massa, espessura da parede e características da avaliação Doppler através do mapeamento de<br />
fluxo e caracterização das formas de onda. O seguimento com avaliações seguidas de imagem é apropriado<br />
em muitos casos, quando as descobertas com o exame inicial sugerem doença benigna, quando o<br />
diagnóstico é incerto, ou quando há fortes razões para se evitar cirurgia. Para a avaliação complementar<br />
de uma massa anexial, outros estudos de imagem podem ser utilizados, como a ressonância magnética e a<br />
tomografia computadorizada.<br />
Palavras-chave: Anexos Uterinos; Doenças dos Anexos, Medição de Risco; Ultrassonografia.<br />
1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />
Ribeirão Preto (EURP)<br />
Recebido em 15/12/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />
20/01/2012.<br />
Correspondências para Valéria Cristina Nascimento<br />
Silva.<br />
Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />
de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />
14020-060.<br />
E-mail: vcnsilva@hotmail.com<br />
Fone: (16) 3636-0311<br />
Fax: (16) 3625-1555<br />
Abstract<br />
Ultrasound remains the primary imaging modality<br />
used to identify and characterize adnexal masses. The<br />
classification of ovarian neoplasms is based on histological<br />
features. The prediction of malignancy using<br />
the ultrasound characteristics include the presence of<br />
the solid component (particularly if it visible in the<br />
flow Doppler evaluation), thickened septa and ascites.<br />
Various other features of less clinical utility has been<br />
associated with malignancies, including the size of the<br />
mass, wall thickness and characteristics of the Doppler<br />
evaluation by mapping and characterization of the<br />
flow waveforms. The follow-up evaluations followed<br />
with imaging is appropriate in many cases, when the<br />
findings with the initial examination suggest benign<br />
disease, when the diagnosis is uncertain, or when there<br />
are strong reasons to avoid surgery. For further evaluation<br />
of an adnexal mass, other imaging studies can be<br />
used as magnetic resonance imaging and computed<br />
tomography.<br />
Keywords: Adnexa Uteri; Adnexal Diseases; Risk<br />
Assessment; Ultrasonography.<br />
Introdução<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26
A ultrassonografia (US) continua a ser a principal<br />
modalidade de imagem usada para identificar<br />
e caracterizar massas anexiais 1. Embora a<br />
avaliação é muitas vezes destinada a distinguir<br />
massas benignas de malignas, a maioria das<br />
massas anexiais são benignas e cerca de 90% das<br />
massas anexiais podem ser devidamente<br />
caracterizadas com base em suas características<br />
US 2.<br />
O risco de uma mulher desenvolver uma neoplasia<br />
de ovário é de 1 em 71 2. Ao determinar o<br />
risco de malignidade para uma massa anexial<br />
devem ser considerados os fatores que não são<br />
achados de imagem. Estes incluem idade do<br />
paciente, estado menopausal, história pessoal ou<br />
familiar de câncer de mama ou câncer de ovário, e<br />
nivel de CA-125 no soro 2. A idade é um fator<br />
importante na determinação da probabilidade de<br />
câncer, com taxas que aumentam à medida que<br />
avança a idade. Multiparidade e idade precoce<br />
no primeiro parto diminui o risco e história pessoal<br />
ou familiar de câncer de mama ou câncer de<br />
ovário aumenta o risco 3, 4. O prognóstico do câncer<br />
de ovário é associado com os estágios avançados<br />
da doença no momento do diagnóstico . A<br />
experiência coletiva de muitos centros em todo o<br />
mundo proporcionou uma riqueza de informações<br />
que permite a caracterização precisa de cerca<br />
de 90% das massas anexiais com base em suas<br />
características US 5.<br />
Abordagem da massa anexial<br />
Embora muitos médicos estejam<br />
compreensivelmente preocupados com a falha<br />
para detectar um tumor maligno de ovário, é<br />
importante perceber que a maioria das massas<br />
anexiais, particularmente em mulheres na<br />
menopausa, é benigna. Desde o advento da avaliação<br />
ultrassonográfica da pelve feminina, as características<br />
do ovário normal e anormal foram<br />
extensivamente estudadas e os estudos também<br />
investigaram o papel da ultrassonografia como<br />
parte de protocolos de triagem para detecção de<br />
câncer de ovário.<br />
Com a ultrassonografia transvaginal ha uma<br />
melhor visualização do ovário normal, sua função<br />
e tambem dos tumores ovarianos, e muito<br />
trabalho tem sido feito para definir e padronizar<br />
as características do tumor de ovário. O uso da<br />
análise Doppler para mapeamento de fluxo e<br />
caracterização das formas de onda tem sido utili-<br />
Silva & Mauad - Massas anexiais<br />
zado para avaliar neovascularização das neoplasias<br />
de ovário, muitas vezes combinados com<br />
outros marcadores ultrassonográficos. Adequada<br />
caracterização de uma massa anexial é importante<br />
tanto para determinar quais pacientes precisam<br />
de cirurgia e para ajudar a definir o tipo de cirurgia<br />
e se a cirurgia com sub-especialista é necessária.<br />
Várias abordagens para se caracterizar massas<br />
anexiais foram utilizadas, das quais, a abordagem<br />
subjetiva demonstrou ser superior aos outros métodos,<br />
com uma sensibilidade de 88% a 100% e<br />
especificidade de 62% a 96% para predizer malignidade<br />
2. Um objetivo importante da avaliação de<br />
ovário por ultrassom é para determinar as diferenças<br />
entre os achados fisiológicos normais, inflamatórios,<br />
alterações benignas e câncer ovariano.<br />
Características US de massas enexiais<br />
A classificação das neoplasias de ovário está<br />
baseada em características histológicas e, em geral,<br />
as características ultrassonográficas que indicam<br />
malignidade incluem um componente sólido<br />
(particularmente se houver fluxo visível nele na<br />
avaliação Doppler), septos espessos e ascite 6.<br />
Componente sólido<br />
A demonstração ao US de um componente sólido<br />
dentro de uma massa cística (Figura 1) é o<br />
mais importante preditor de malignidade, e inversamente,<br />
malignidade é improvável na ausência<br />
de um componente sólido 2. Terminologias<br />
para descrever o componente sólido variam e<br />
também inclui projeção papilar, excrescência,<br />
vegetação e nódulos. Apesar de um componente<br />
sólido dentro de uma massa cística ser geralmente<br />
um indicador confiável de neoplasia, armadilhas<br />
podem ocasionalmente levar a problemas de<br />
diagnóstico. Sabendo disso, seguimento com US e<br />
Doppler para avaliar fluxos deverão elucidar se a<br />
etiologia da massa é benigna ou maligna 3.<br />
Septos<br />
Septos em uma massa ovariana cística são fortes<br />
evidências de uma neoplasia 3 e são mais propensos<br />
a indicar malignidade se eles são maiores<br />
que 2-3 mm de espessura ou ter fluxo detectável à<br />
US com Doppler. Há também armadilhas relacionadas<br />
aos septos e que também deverão ser diferenciadas<br />
no seguimento com US.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />
23
Ascite<br />
Ascite, um indicador indireto de malignidade,<br />
ocorre quando um tumor peritoneal se espalha e<br />
pode permitir a visão de implantes peritoneais.<br />
Embora uma pequena quantidade de líquido em<br />
fundo de saco posterior é normal em mulheres na<br />
menopausa, um aumento do risco de malignidade<br />
foi relatado quando se mede mais de 15 mm<br />
de dimensão antero-posterior 7. Fluido ascítico<br />
ecogênico pode ocorrer com malignidade, mas<br />
também pode ocorrer com doença benigna como<br />
hemoperitônio de uma ruptura de cisto ou gravidez<br />
ectópica.<br />
<strong>Out</strong>ras características do US<br />
Várias outras características clínicas de menor<br />
utilidade tem sido associadas com malignidade,<br />
que incluem o tamanho da massa, espessura da<br />
parede e características no US com Doppler. Massas<br />
maiores são muitas vezes consideradas mais<br />
suspeitas de malignidade; no entanto, o preditor<br />
mais confiável de malignidade está baseado mais<br />
nas características morfológicas que no tamanho<br />
8). A parede espessada do cisto tem sido descrita<br />
como característica de malignidade, mas tem utilidade<br />
limitada, uma vez que também pode ser<br />
visto em muitas lesões benignas.<br />
Tamanho<br />
O grande tamanho de uma massa ovariana,<br />
que tenha outras caracteristicas semelhantes,<br />
tem sido considerado um fator significativo na<br />
predição de câncer de ovário. Um estudo em mulheres<br />
na pós-menopausa descobriu que os tumores<br />
superiores a 10 cm foram mais propensos a<br />
serem associados com malignidade 9 o que foi<br />
confirmado em outros estudos e as maiores massas<br />
foram associadas a um aumento da probabilidade<br />
de câncer de ovário 4.<br />
Avaliação Doppler<br />
O Doppler pode ser a chave na distinção entre<br />
massas benignas e malignas porque as características<br />
vasculares dentro de uma neoplasia maligna<br />
muitas vezes são diferentes das de um tumor benigno.<br />
Lesões malignas costumam produzir um<br />
aumento significativo no fluxo do Doppler, sinais<br />
secundários para angiogênese 2. O Grupo IOTA<br />
sugeriu o uso de tal avaliação subjetiva semiquantitativa<br />
do fluxo para descrever as características<br />
vasculares das massas de ovário 10. Neopla-<br />
Silva & Mauad - Massas anexiais<br />
sias malignas frequentemente apresentam maior<br />
sinal de fluxo, não só na periferia da massa, como<br />
visto em lesões benignas, mas também nas regiões<br />
centrais da massa, incluindo dentro de septações<br />
e áreas sólidas do tumor. A neovascularização<br />
dentro de neoplasias malignas tem baixo fluxo<br />
de impedância (índice de pulsatilidade < 1,0 e<br />
resistência < 0,4), tempo máximo de velocidade<br />
média alta > 15 cm/s e ausência de uma incisura<br />
diastólica em tais massas 4.<br />
A presença de fluxo aumenta a preocupação<br />
de malignidade, embora muitas neoplasias benignas<br />
também tem fluxo detectável. Se não houver<br />
fluxo detectável em uma área de aparência<br />
sólida, particularmente em uma mulher na prémenopausa,<br />
deve-se considerar a possibilidade de<br />
coágulo em vez de um componente sólido de<br />
verdade 11.<br />
Ultrassom com Doppler colorido é melhor utilizado<br />
em uma modalidade qualitativa para procurar<br />
fluxo dentro de um componente sólido ou<br />
septo 12.<br />
Avaliação das massas anexiais para identificar<br />
malignidade<br />
Num grande número de estudos de US de neoplasias<br />
ovarianas houve o reconhecimento e a<br />
criação de padrões ultrassonográficos para prever<br />
a morfologia do tumor, como definido na escala<br />
de Sassone et al. 13 e refinada pelo International<br />
Ovarian Tumor Analysis (IOTA) Group 10. Tais<br />
padrões ultrassonográficos incluem as composições<br />
cística e sólida do tumor bem como a presença<br />
e o tipo de septações e papilas.<br />
Um objetivo importante da análise das massas<br />
de ovário e massas anexiais é uma tentativa de<br />
identificar entidades não-neoplásicas, tais como<br />
cistos funcionais, doenças inflamatórias e tubárias<br />
ou endometriose. Estas entidades não neoplásicas<br />
são geralmente menores em tamanho e podem<br />
exibir aparências ultrassonográficas clássicas que<br />
são referidos como patognomônicos 10, 13. No entanto,<br />
cada uma dessas entidades pode ter aparências<br />
que imitam processos neoplásicos também.<br />
Uma neoplasia benigna com aparência clássica<br />
mais comum do ovário é o tumor dermóide [figura<br />
3], que devido sua aparência sólida e ecogênica<br />
10, 13 pode ser erroneamente classificado como<br />
tumor suspeito de malignidade como na escala de<br />
Sassone et al.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />
24
Há uma qualificação e quantificação do tumor<br />
se a massa ovariana ou de anexo não se adaptar a<br />
qualquer destas descrições clássicas e recentemente,<br />
membros do Grupo IOTA 14, tem utilizado<br />
esta escala de reconhecimento de padrões qualitativa,<br />
junto com outras características ultrassonográficas<br />
e clínicas, para diferenciar entre tumores<br />
benignos e malignos, em subgrupos específicos.<br />
Sassone et al. 13 desenvolveu uma escala para<br />
tais características morfológicas do ovário,<br />
incluindo a estrutura da parede interior,<br />
espessura da parede, a presença de septos e<br />
ecogenicidade da massa, e foram capazes de<br />
distinguir massas benignas de malignas com<br />
especificidade de 83%, sensibilidade de 100%, e o<br />
valor preditivo positivo e negativo de 37% e<br />
100%, respectivamente. Esse conceito de padrão,<br />
reconhecido desde então, tem sido<br />
repetidamente confirmado, ao estabelecer que a<br />
avaliação subjetiva de escala de cinza e as<br />
características de ultrassom com Doppler é um<br />
excelente método para discriminar entre massas<br />
pélvicas benignas e malignas 4.<br />
Em um grande estudo multicêntrico, o<br />
reconhecimento de padrões foi superior ao do<br />
soro CA-125 no diagnóstico de massas anexiais<br />
benignas e malignas . Mais recentemente, com<br />
base no conceito de reconhecimento de padrões,<br />
sistemas de pontuação foram desenvolvidos para<br />
discriminar de forma mais precisa entre<br />
neoplasias benignas e malignas. Em 1999,<br />
Twickler et al. 4 incorporou a idade do paciente,<br />
volume ovariano, Doppler, velocimetria e<br />
localização de vasos, e predominância ecogênica<br />
da massa (sugestivo de dermóide) com a escala<br />
de morfologia de Sassone et al. para calcular o<br />
índice do tumor de ovário, uma probabilidade<br />
calculada de malignidade com base na<br />
ponderação de cada um dos parâmetros listados.<br />
Uma investigação está também em curso no que<br />
diz respeito ao uso da ultrassonografia na triagem<br />
de câncer de ovário. As considerações<br />
importantes destes modelos incluem o tamanho,<br />
aparência, características de fluxo ao Doppler<br />
colorido e valorização das aparências clássicas<br />
benignas, tais como dos tumores dermóides.<br />
Seguimento pela ultrassonografia<br />
O seguimento com US é apropriado em<br />
muitos casos, quando as descobertas com o<br />
Silva & Mauad - Massas anexiais<br />
exame inicial US sugere doença benigna, quando<br />
o diagnóstico é incerto, ou quando há fortes<br />
razões para evitar cirurgia. Em mulheres prémenopausadas,<br />
muitas massas são cistos<br />
funcionais que vão se resolver espontaneamente<br />
em várias semanas. Isso muitas vezes pede um<br />
seguimento com US por cerca de 6 semanas após<br />
o exame inicial<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />
3, 15.<br />
Mulheres pós-menopausadas com um cisto<br />
ovariano simples com menos de 1 cm podem<br />
deixar de fazer seguimento com US 1. Na pósmenopausa<br />
mulheres com um cisto simples de<br />
ovário maior que 1 cm, mas menor de 5 cm,<br />
geralmente pode ser seguido com o US; embora<br />
seja ideal, o intervalo de seguimento é incerto.<br />
Com curto intervalo de seguimento com US, um<br />
crescimento lento pode ocorrer com uma<br />
neoplasia benigna como um cistoadenoma seroso<br />
e pode não ser visto 3. Desempenho dos US em<br />
cerca de 6 meses parece razoável para o exame<br />
inicial de acompanhamento US 3, com os<br />
intervalos de seguimento ajustado com base no<br />
grau de mudança.<br />
Se a etiologia de uma massa é incerta, mas sua<br />
aparência não é suspeita de malignidade, o seguimento<br />
US também é razoável. Por exemplo,<br />
se uma massa é provavelmente um cisto hemorrágico,<br />
mas também tem características atípicas,<br />
um seguimento com US realizado em 6 semanas<br />
é razoável. Esta é a quantidade de tempo que<br />
permite a resolução da maioria dos cistos e deve<br />
ser feita em um período diferente do ciclo menstrual<br />
de modo que se aparecer qualquer novo<br />
cisto esperamos que tenha uma aparência diferente.<br />
Exame US seriado também pode ser indicado<br />
para seguir o curso de uma lesão benigna<br />
previamente caracterizada como nos casos de<br />
dermóides, endometrioma, hidrossalpinge ou<br />
um cisto de inclusão peritoneal.<br />
Modalidades alternativas de imagem<br />
Para melhor avaliar uma massa anexial, estudos<br />
de imagem adicionais podem ser recomendados.<br />
A ressonância magnética, desde que bem<br />
executada para caracterizar massas anexiais é a<br />
modalidade mais frequentemente usada para<br />
avaliar mais massas anexiais ainda consideradas<br />
indeterminadas no US 7.<br />
TC pode ser capaz de caracterizar massas anexiais<br />
como benignas ou malignas , mas tem um<br />
papel pequeno na rotina de detecção ou caracte-<br />
25
ização de massas anexiais e normalmente não<br />
pode ser tão específica quanto ao tipo de massa<br />
benigna da maneira que o US pode. Sendo assim,<br />
a TC deve geralmente ser reservada para avaliar a<br />
disseminação da malignidade ovariana e pode<br />
ser usada em casos selecionados de suspeita de<br />
abscesso tubo ovariano, uma vez que é superior<br />
ao US para revelar mudanças inflamatórias contínuas<br />
e envolvimento dos órgãos adjacentes 16,<br />
17.<br />
Considerações finais<br />
O US é instrumento imprescindível devido sua<br />
alta sensibilidade e especificidade quando associado<br />
ao Doppler, possibilitando a caracterização<br />
do tumor maligno e diagnóstico diferencial com<br />
processos benignos. Método não invasivo, rápido,<br />
inócuo, reprodutível e eficaz, que direciona a<br />
conduta e o acompanhamento clínico. A maioria<br />
das massas anexiais é benigna e pode ser reconhecida<br />
baseada em características ultrassonográficas.<br />
Muitas vezes, porém, na US o aparecimento<br />
de uma massa ovariana não é patognomônico<br />
e nesses casos indeterminados, há de se estabelecer<br />
modelos de análises baseados em outras<br />
características que também contribuem para definir<br />
o risco de malignidade e incluem questões<br />
clinicas, como idade e histórico de câncer.<br />
Assim, um modelo com vários parâmetros para<br />
a avaliação do risco é apropriado e o modelo<br />
ideal para que seja aceito de modo universal por<br />
radiologistas, ginecologistas e oncologistas, de<br />
fácil aplicação e com interpretações claras do risco<br />
relativo, ainda deve ser desenvolvido e que deverá<br />
ser estabelecido concretamente no futuro.<br />
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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />
26
Artigo de Revisão<br />
Ultrassonografia na gestação complicada por diabetes<br />
mellitus<br />
Ultrasonography in pregnancy complicated by diabetes mellitus<br />
Wilson Ayach 1<br />
A ultrassonografia é método propedêutico fundamental na obstetrícia moderna. Permite a avaliação<br />
qualitativa do concepto e seus anexos e da biometria embrionária e fetal. Os parâmetros ecográficos têm<br />
permitido o cálculo da idade gestacional, avaliação do crescimento fetal, diagnóstico e tratamento de másformações,<br />
avaliação da vitalidade e maturidade fetal. Na gestação complicada pelo diabetes mellitus, fatores<br />
que alteram o crescimento fetal como a hipertensão arterial e a hiperglicemia materna podem estar presentes.<br />
Os dados da biometria fetal podem ser utilizados para cálculo da idade gestacional e sua mensuração<br />
seriada deve ser utilizada para avaliar o crescimento fetal. A avaliação quantitativa e qualitativa da<br />
biometria e morfologia fetal pela ecografia constitui-se, em instrumento valioso na assistência pré-natal em<br />
especial no diagnóstico dos desvios do crescimento fetal, avaliação da maturidade e vitalidade fetal, na<br />
gestação complicada pelo diabetes mellitus.<br />
Palavras-chave: Diabetes Mellitus; Ultrassonografia; Biometria; Desenvolvimento Embrionário e Fetal.<br />
1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />
Ribeirão Preto (EURP)<br />
Recebido em 26/09/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />
20/01/2012.<br />
Correspondências para Wilson Ayach.<br />
Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />
de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />
14020-060.<br />
E-mail: wilsonayach@uol.com.br<br />
Fone: (16) 3636-0311<br />
Fax: (16) 3625-1555<br />
Abstract<br />
Ultrasound is essential investigative method in modern<br />
obstetrics. Enables qualitative assessment of the<br />
fetus and its appendices and embryonic and fetal biometry.<br />
The ultrasound parameters have permitted the<br />
calculation of gestational age, fetal growth assessment,<br />
diagnosis and treatment of malformations, assessment<br />
of fetal maturity and vitality. In pregnancy complicated<br />
by diabetes mellitus, factors that affect fetal growth<br />
as maternal hypertension and hyperglycemia may be<br />
present. The data of fetal biometry can be used to calculate<br />
the gestational age and its serial measurement<br />
should be used to assess fetal growth. The quantitative<br />
and qualitative assessment of fetal biometry and morphology<br />
by ultrasound is constituted in useful tool in<br />
prenatal diagnosis in particular the deviations of fetal<br />
growth, maturation and fetal, in pregnancy complicated<br />
by diabetes mellitus.<br />
Keywords: Diabetes Mellitus; Ultrasonography; Biometry;<br />
Embryonic and Fetal Development.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31
Introdução<br />
Ayach - Gestação complicada por diabetes mellitus<br />
A ultrassonografia é método propedêutico<br />
fundamental na obstetrícia moderna. Permite a<br />
avaliação qualitativa do concepto e seus anexos e<br />
da biometria embrionária e fetal. Os parâmetros<br />
ecográficos têm permitido o cálculo da idade gestacional,<br />
avaliação do crescimento fetal, diagnóstico<br />
e tratamento de más-formações, avaliação da<br />
vitalidade e maturidade fetal 1. O crescimento<br />
fetal é o resultado do potencial genético, da oferta<br />
de nutrientes e oxigênio e da regulação endócrina.<br />
Estes fatores determinam a trajetória do crescimento<br />
intra-uterino. A biometria embrionária e<br />
fetal tem sido utilizadas para determinar a idade<br />
gestacional, por isso fatores que influenciam no<br />
crescimento fetal como hiperglicemia e hipertensão<br />
arterial poderiam dificultar a interpretação<br />
dos dados.<br />
Ultrassonografia de primeiro trimestre da<br />
gestação<br />
A ultrassonografia do primeiro trimestre da<br />
gestação tem por finalidade avaliar o útero, o saco<br />
gestacional e marcadores embrionários, que são<br />
utilizados para o cálculo da idade gestacional e<br />
rastreamento de anomalias cromossômicas. Os<br />
principais marcadores do primeiro trimestre são o<br />
diâmetro do saco gestacional (SG), a presença, a<br />
característica e o diâmetro da vesícula vitelínica<br />
(VV), a presença e o número de embriões, o comprimento<br />
crânio-nádegas (CCN), a medida da<br />
translucência nucal (TN), a presença e comprimento<br />
dos ossos nasais (ON) e a doplervelocimetria<br />
do ducto venoso (DV). A presença de fatores<br />
que interferem no crescimento embrionário, como<br />
hipertensão arterial sistêmica e hiperglicemia<br />
poderiam alterar as dimensões e características<br />
destes marcadores e, conseqüentemente, reduzir a<br />
precisão do cálculo da idade gestacional 2. Deste<br />
modo a correlação direta entre a biometria do<br />
embrião e seus anexos e a idade gestacional precisa<br />
ser realizada de modo criterioso, para reduzir<br />
os erros de cálculo do tempo de gestação conseqüentes<br />
aos desvios de crescimento promovidos<br />
pelo estado hemodinâmico e metabólico materno.<br />
É fundamental, portanto, comparar a biometria<br />
embrionária em gestantes diabéticas e não diabéticas.<br />
Saco Gestacional<br />
O saco gestacional pode ser visualizado pela<br />
ultrassonografia transvaginal a partir da quarta<br />
semana de gestação, quando mede cerca de cinco<br />
milímetros. O diâmetro do SG correlaciona-se<br />
com o prognóstico do desenvolvimento embrionário<br />
e pode ser utilizado para o cálculo da idade<br />
gestacional 3. Análise prospectiva comparando o<br />
diâmetro do SG e o prognóstico da gestação demonstrou<br />
que medidas menores que o quinto e<br />
maiores que o 90º percentil relacionam-se a maior<br />
prevalência de aborto espontâneo 4. Por outro<br />
lado, não há até o momento, estudo clínico comparativo<br />
do diâmetro do SG em gestantes diabéticas<br />
e não diabéticas.<br />
Vesícula vitelínica<br />
A avaliação qualitativa e quantitativa de vesícula<br />
vitelínica é utilizada para predição do prognóstico<br />
da gestação. A medida da vesícula vitelínica<br />
correlaciona-se com a idade gestacional. O<br />
diâmetro médio da Vesícula Vitelínica (VV) é<br />
significativamente maior em gestantes com diabetes<br />
mellitus tipo 1 em comparação com gestantes<br />
não diabéticas 5. Dentre as gestantes diabéticas, a<br />
VV é maior nas gestantes com hemoglobina glicosilada<br />
igual ou superior a 6g% 5. A avaliação tridimensional<br />
também demonstrou diâmetros da<br />
VV maiores em gestantes portadoras do diabetes<br />
mellitus tipo 1<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31<br />
6, 7.<br />
Estes achados sugerem que o meio metabólico<br />
influencia o crescimento fetal desde o início da<br />
gestação e, por isso, em gestações de mulheres<br />
diabéticas com data da última menstruação incerta<br />
o cálculo da idade gestacional deve ser feita de<br />
modo criterioso. O volume da VV quando menor<br />
que o quinto e/ou maior que o 90º percentil relaciona-se<br />
a maior prevalência de aborto espontâneo<br />
4, 8. Além disso, o meio interno da vesícula<br />
vitelínica é diferente nas mulheres diabéticas.<br />
Schoenfeld et al. encontraram diâmtero médio da<br />
vesícula vitelínica 1,2 mm maior e níveis de prostaglandinas<br />
significativamente menores em gestantes<br />
diabéticas do tipo 1 quando comparadas a<br />
vesículas vitelínicas de embriões de gestantes não<br />
diabéticas, o que pode explicar a maior prevalência<br />
de más-formações fetais nas gestações complicadas<br />
por esta doença 9.<br />
Translucência Nucal<br />
A medida da translucência nucal (TN) tem sido<br />
utilizada como marcador de doenças genéticas,<br />
de cromossomopatias e cardiopatias. A medida<br />
da TN em fetos sem cromossomopatias demonstrou<br />
que os fetos de mães diabéticas gesta-<br />
28
Ayach - Gestação complicada por diabetes mellitus<br />
cionais e pré-gestacionais têm TN mais espessa<br />
quando comparados aos fetos de gestantes não<br />
diabéticas 10. Kelekci et al. 11 observaram que TN<br />
com dimensão acima do 95º percentil relaciona-se<br />
com desenvolvimento de diabete gestacional e<br />
macrossomia fetal 11, o que não foi confirmado<br />
por Luchi et al. 12, que demonstram não haver<br />
diferença na medida da TN em gestantes que desenvolveram<br />
e que não desenvolveram diabete<br />
gestaciona 12l. A medida da TN também não se<br />
correlaciona com o tempo de evolução do diabetes<br />
mellitus prévio à gestação, dose de insulina e<br />
hemoglobina glicosilada e com o perfil glicêmico<br />
diário 13.<br />
Comprimento crânio-nádegas<br />
Uma das principais medidas realizadas na ultrassonografia<br />
do primeiro trimestre da gestação<br />
é a mensuração do comprimento crânio-nádegas<br />
(CCN). O CCN é o parâmetro da biometria embrionária<br />
que apresenta maior correlação com a<br />
idade gestacional, por ser pouco influenciado por<br />
fatores que interferem no crescimento embrionário<br />
e fetal como hipertensão arterial e hiperglicemia<br />
e por isso tem sido utilizado para datar a gestação<br />
e corrigir eventuais erros que a data da última<br />
menstruação poderia produzir. Entretanto,<br />
El Daouk et al. 14encontraram CCN, mensurado<br />
entre 12 e 13 semanas de gestação por ocasião da<br />
medida de TN, significativamente maior nos fetos<br />
que nasceram grandes para idade gestacional<br />
(62,7 ± 6,0 mm) em comparação aos fetos pequenos<br />
para idade gestacional (58,8 ± 6,9mm) ao nascimento.<br />
Como o estudo foi realizado em gestantes<br />
sem complicações, não se pode inferir sobre a<br />
etiologia desta diferença, mas demonstra que o<br />
CCN é influenciado por fatores constitucionais<br />
que determinarão o tamanho e peso ao nascimento.<br />
O CCN maior que o esperado para idade gestacional<br />
entre 11 e 13 semanas relaciona-se a macrossomia<br />
fetal 15.<br />
Uma alternativa à medida do CCN é a medida<br />
do volume embrionário pela ultrassonografia<br />
tridimensional 16 não encontraram diferença no<br />
volume embrionário em gestações únicas e duplas<br />
e demonstraram boa correlação entre o volume<br />
fetal e a idade gestacional. Não há até o<br />
momento, estudos sobre o volume embrionário<br />
em gestações complicadas pelo diabetes mellitus.<br />
Ultrassonografia obstétrica no segundo e terceiro<br />
trimestres<br />
O crescimento fetal é influenciado pela glicemia<br />
materna e fetal. As possíveis interferências da<br />
glicemia materna no crescimento embrionário<br />
alteram os parâmetros da biometria e podem dificultar<br />
a sua relação com a idade gestacional calculada<br />
pela última menstruação. Mulder et al. 17<br />
observaram padrões distintos de crescimento de<br />
acordo com níveis de glicemia e hemoglobina<br />
glicosilada. Há maior prevalência de macrossomia<br />
quando há níveis elevados destes marcadores.<br />
Apesar destas peculiaridades, a ultrassonografia<br />
tem papel relevante na monitorização do<br />
crescimento fetal em gestantes diabéticas. A mensuração<br />
da biometria fetal de cada segmento corporal,<br />
periodicamente, pode contribuir para o<br />
diagnóstico de desvios de crescimento fetal e para<br />
o aprimoramento do tratamento do diabete na<br />
gestação.<br />
No segundo e terceiro trimestres da gestação,<br />
os parâmetros da biometria fetal podem ser divididos<br />
didaticamente em pólo cefálico, tronco e<br />
ossos longos. No pólo cefálico, destacam-se os<br />
diâmetros bi-parietal e occipito-frontal, a circunferência<br />
craniana, o índice cefálico e a medida do<br />
cerebelo. No tórax, a área cardíaca, a relação entre<br />
as áreas cardíaca e torácica, a ecogenicidade pulmonar<br />
são os mais relevantes. No abdome, merecem<br />
destaque os diâmetros antero-posterior e<br />
transverso e a circunferência abdominal. Por fim,<br />
adquirem importância a medida da diáfise de<br />
ossos longos, dentre os quais, destacamos úmero,<br />
rádio, ulna, fêmur, tíbia e fíbula. A avaliação ecográfica<br />
dos anexos fetais como espessura placentária<br />
e área de secção do cordão umbilical também<br />
podem ser utilizada.<br />
Fetos com tamanho maior do que o esperado<br />
no segundo trimestre da gestação tem maior risco<br />
de macrossomia. Thorsell et al. demonstraram que<br />
a biometria fetal uma semana maior que o esperado<br />
para a idade gestacional aumenta em 59% o<br />
risco do feto nascer com peso igual ou superior a<br />
4000g 2.<br />
O diâmetro biparietal, circunferência abdominal,<br />
peso fetal estimado e peso ao nascimento não<br />
se correlacionam com níveis séricos maternos de<br />
lipídios 18. O diâmetro biparietal e o peso ao nascimento<br />
são maiores nas gestantes com maior<br />
resistência à insulina e menor reserva de células<br />
beta-pancreáticas medidas pelos índices HOMA-<br />
IR e HOMA-B 19.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31<br />
29
Ayach - Gestação complicada por diabetes mellitus<br />
A área de secção transversal do cordão umbilical<br />
é significativamente maior nos fetos macrossômicos<br />
filhos de mulheres diabéticas em comparação<br />
aos filhos de mães não diabéticas e apresenta<br />
boa correlação com peso ao nascimento 20.<br />
Wong et al. 21 observaram que o diâmetro biparietal,<br />
circunferência abdominal e comprimento<br />
do fêmur são maiores nos fetos de gestantes diabéticas<br />
tipo 1 e 2 e dentre estas, são maiores naquelas<br />
com hemoglobina glicosilada elevada,<br />
demonstrando a influência da hiperglicemia materna<br />
no crescimento fetal.<br />
Avaliação do crescimento fetal<br />
A biometria fetal permite, também, o diagnóstico<br />
do crescimento fetal e sua classificação em<br />
simétrico e assimétrico. A discordância entre os<br />
parâmetros caracteriza o crescimento fetal assimétrico.<br />
Dentre estes, destaca-se a medida da circunferência<br />
abdominal (CA), que quando maior que<br />
o esperado para idade gestacional permite o diagnóstico<br />
do crescimento fetal acelerado e, conseqüentemente,<br />
de fetos grandes para idade gestacional.<br />
Medida da CA acima do 90º percentil associado<br />
aos demais parâmetros da biometria<br />
compatíveis com a idade gestacional caracterizam<br />
fetos grandes para idade gestacional assimétricos<br />
1.<br />
Por outro lado, a medida da circunferência abdominal<br />
(CA) menor que o nonagésimo percentil<br />
em dois exames sucessivos relaciona-se com fetos<br />
com peso adequado para idade gestacional ao<br />
nascimento 22. A CA medida pela ultrassonografia<br />
entre 37 e 42 semanas é mais sensível do que a<br />
medida da altura uterina para o rastreamento do<br />
peso do recém-nascido, quando avaliada uma<br />
semana antes do parto 23.<br />
A comparação entre os níveis séricos maternos<br />
de adipponectina, leptina e insulina de jejum e<br />
índice HOMA-IR e a medida do DBP, circunferências,<br />
cefálica e abdominal e pesos estimados e<br />
ao nascimento não demonstrou influencia destas<br />
substâncias no crescimento fetal, o que se deve<br />
provavelmente a maior influencia da glicemia,<br />
insulina e fatores de crescimento fetais no próprio<br />
crescimento 24.<br />
Medida do Líquido Amniótico<br />
A mensuração do líquido amniótico para cálculo<br />
do índice do líquido amniótico (ILA) tem<br />
sido bastante utilizada na assistência pré-natal.<br />
Apesar de confirmar uma associação entre diabe-<br />
tes tipo I da gravidez com o volume de líquido<br />
amniótico, nos estudos mais recentes ainda não<br />
há clareza sobre qual dos parâmetros metabólicos,<br />
materno ou fetal, estariam relacionados com<br />
o ILA. Gestantes diabéticas tipo I apresentam<br />
maiores ILA e níveis séricos de glicose e hemoglobina<br />
glicosilada na mãe e feto em comparação<br />
a gestantes não diabéticas 25. Entretanto, estudos<br />
recentes não demonstram correlação entre a média<br />
glicêmica e o ILA, em gestantes diabéticas<br />
tipo I e II 26. Em mulheres com diabete gestacional,<br />
há correlação entre o nível de glicose do liquido<br />
amniótico, o ILA e o peso do recém nascido<br />
27.<br />
Considerações Finais<br />
Deste modo, a ultrassonografia de segundo e<br />
terceiro trimestres deveria ser utilizada para cálculo<br />
da idade gestacionais somente quando medidas<br />
mais eficientes e precisas como o CCN não<br />
estiverem disponíveis. A biometria fetal isolada<br />
na segunda metade da gestação em gestantes diabéticas<br />
pode induzir erros de cálculo da idade<br />
gestacional e, por isso, deve ser usada com parcimônia.<br />
A biometria fetal seriada no segundo e<br />
terceiro trimestres da gestação permitem, por sua<br />
vez, acompanhar o crescimento fetal e o diagnóstico<br />
mais precoce dos desvios do crescimento.<br />
Além disso, a medida do ILA permite inferir sobre<br />
o controle metabólico materno e fetal e, conseqüentemente,<br />
sobre o crescimento fetal. É, assim,<br />
ferramenta de grande utilidade na assistência<br />
pré-natal da mulher diabética.<br />
Referências<br />
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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31<br />
31
Artigo de Revisão<br />
Avaliação ecocardiográfica do prolapso valvar mitral<br />
Echocardiographic evaluation of mitral valve prolapse<br />
Gisele Oliveira Ribeiro Gomes 1<br />
O Prolapso da valva mitral é caracterizado por alterações degenerativas do tecido valvar. A valva apresenta-se<br />
espessada, com os folhetos redundantes e alongados. O quadro clínico é bastante variável, podendo<br />
ser caracterizado por sintomas inespecíficos como dor toracica atípica, arritmias, tonturas, fadiga entre<br />
outras, ou mesmo pacientes assintomáticos. Diversos critérios foram propostos para o diagnóstico ecocardiográfico<br />
do prolapso da valvar mitral. No início com o modo M, o bidimensional e atualmente, porém<br />
ainda pouco utilizado pelo alto custo, o modo 3D. O objetivo deste trabalho é, através de uma revisão bibliográfica,<br />
determinar os critérios ecocardiográficos mais utilizados para o diagnóstico do prolapso valvar<br />
mitral.<br />
Palavras-chave: Ecocardiografia; Valva Mitral; Prolapso das Valvas Cardíacas.<br />
1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />
Ribeirão Preto (EURP)<br />
Recebido em 19/01/2012, aceito para publicação em<br />
25/02/2012.<br />
Correspondências para Gisele Oliveira Ribeiro Gomes.<br />
Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />
de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />
14020-060.<br />
E-mail: giribeiro@cardiol.br<br />
Fone: (16) 3636-0311<br />
Fax: (16) 3625-1555<br />
Abstract<br />
The mitral valve prolapse is characterized by degenerative<br />
changes of the valve tissue. The valve has thickened,<br />
with elongated and redundant leaflets. The clinical<br />
presentation is highly variable and can be characterized<br />
by nonspecific symptoms such as atypical chest<br />
pain, arrhythmia, dizziness, fatigue, among others, or<br />
even asymptomatic patients. Several criteria have been<br />
proposed for the echocardiographic diagnosis of mitral<br />
valve prolapse. At the beginning with M mode, and<br />
currently the two-dimensional, but still little used by<br />
the high cost, the 3D mode. The objective of this work<br />
is, through a literature review to determine the most<br />
commonly used echocardiographic criteria for diagnosis<br />
of mitral valve prolapse.<br />
Keywords: Echocardiography; Mitral Valve; Heart<br />
Valve Prolapse.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 32-34
Introdução<br />
O prolapso da valva mitral é uma entidade clínica/ecocardiográfica<br />
reconhecida a mais ou menos<br />
50 anos. Foi descrita pela primeira vez em<br />
1963 por John B. Barlow. Clinicamente é caracterizada<br />
por um click sistólico acompanhado ou não<br />
de sopro. Tal patologia era erroneamente atribuído<br />
à cardiopatia reumática. Inicialmente o prolapso<br />
mitral apresentava-se com a patologia valvar<br />
mais frequente, atingindo cerca de 17% da<br />
população assintomática; com a análise ecocardiográfica,<br />
mais recentemente, essa porcentagem<br />
encontra-se em torno de 3% 1. Com o advento da<br />
ecocardiografia, especialmente o bidimensional,<br />
foi possível estabelecer melhor a avaliação anatômica<br />
e funcional da valva mitral.<br />
Ecocardiograficamente é definido como o abaulamento<br />
de estruturas da valva mitral para o<br />
interior do átrio esquerdo durante a sístole ven-<br />
tricular<br />
1, 2.<br />
Deve-se lembrar que diferentes cortes avaliam<br />
porções distintas da valva e que o diagnóstico do<br />
prolapso pode ser realizado em um determinado<br />
corte e não seja visualizado em outros.<br />
Anatomia<br />
O funcionamento adequado da valva mitral<br />
depende de todas as estruturas que formam o<br />
complexo valvar que são: os folhetos, o anel, as<br />
cordoalhas tendíneas, os músculos papilares, o<br />
átrio e o ventrículo esquerdo.<br />
Anatomicamente a valva mitral é composta<br />
por dois folhetos:<br />
• O folheto anterior, aórtico ou septal apresenta<br />
uma pequena área de inserção no<br />
anel mitral (cerca de 1/3 da extensão do<br />
anel) e uma ampla extensão.<br />
• O folheto posterior ou mural tem característica<br />
oposta: com ampla área de inserção<br />
anular (2/3 do anel mitral) e pequena extensão,<br />
fazendo com que tal folheto apresente<br />
uma amplitude de movimento bem<br />
menor quando comparado ao folheto anterior.<br />
Pela classificação de Carpentier de 1983 3 os folhetos<br />
da valva mitral anterior e posterior se<br />
dividem respectivamente em 3 segmentos cada<br />
um (A1, A2, A3 e P1, P2, P3) que se correlacionam<br />
anatomicamente entre si. Nao é raro encontrar<br />
variações anatômicas desse padrão, no entanto,<br />
isso nao se traduz em anomalias valvares 1. Os<br />
Gomes - Prolapso valvar mitral<br />
dois folhetos se separam por duas comissuras:<br />
póstero-medial e anterolateral.<br />
O sistema de sustentação valvar é constituido<br />
pelas cordas tendíneas e os músculos papilares.<br />
Os folhetos são sustentados pelas cordas tendíneas<br />
que são conectadas à face ventricular dos<br />
folhetos e ligadas a dois grupos de músculos papilares<br />
situados bem a baixo das comissuras.<br />
Um fator relevante para a avaliaçao do Prolapso<br />
Mitral é a chamada zona de coaptação, que é a<br />
linha do fechamento valvar, o local onde os folhetos<br />
se encontram quando a valva se fecha.<br />
Aspecto também importante é o anel mitral:<br />
uma estrutura rígida, fibrosa, com as bordas situadas<br />
em diferentes níveis craniocaudais; estrutura<br />
assimétrica e não plana 4.<br />
Etiologia<br />
O prolapso Mitral pode ser 1:<br />
1. Primário: quando é a principal anomalia<br />
da valva, ou<br />
2. Secundário: quando se relaciona a outras<br />
disfunções cardiovasculares, neurohormonais<br />
ou reumáticas.<br />
O prolapso dito primário ou idiopático se apresenta<br />
na maioria dos casos com alterações anátomo<br />
funcionais e alterações degenerativas que<br />
afetam o tecido ocorrendo acometimento mixomatoso<br />
da valva. Apresenta maior incidência familiar<br />
devido a transmissão autossômica dominante.<br />
Os folhetos encontram-se espessados, redundantes,<br />
com saliências (domos) que se projetam<br />
em direção ao átrio esquerdo durante a sístole<br />
ventricular. As cordoalhas são longas, podendo<br />
estar espessadas ou delgadas, sendo a ruptura<br />
uma complicação frequente.<br />
Os portadores do prolapso valvar mitral, são<br />
na grande maioria das vezes asssintomáticos.<br />
Quando apresentam sintomas, esses são bastante<br />
diversos e inespecíficos, tais como, dor precordial,<br />
fadiga, palpitações, dispnéia, entre outros. A evolução<br />
dos pacientes com prolapso mitral é na<br />
maioria das vezes benigna, mas podem ocorrer<br />
complicações graves (insuficiência mitral, acidentes<br />
cérebro- vasculares, arritmias graves e até<br />
morte súbita) 1.<br />
Diagnóstico<br />
Vários critérios foram propostos para o diagnóstico<br />
do prolapso valvar mitral. Inicialmente<br />
era utilizado o Modo M, no qual se observava a<br />
redundância das cúspides, o espessamento dos<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 32-34<br />
33
folhetos e o movimento mesotelesistólico posterior<br />
da valva. 4.<br />
Atualmente, o mais amplamente utilizado é a<br />
ecocardiografia bidimensional 4. Diversos cortes<br />
são utilizados para análise dos componentes da<br />
valva mitral 2.<br />
No corte apical quatro câmaras, são observadas,<br />
com mais facilidade, projeções que simulam<br />
alterações e, portanto a avaliação deve ser mais<br />
criteriosa nesta incidência. Nos cortes longitudinais<br />
(tanto longitudinal paraesternal como longitudinal<br />
apical) tais alterações são menos comuns;<br />
desta maneira, os cortes longitudinais são considerados<br />
mais específicos para o diagnóstico do<br />
Prolapso Valvar Mitral<br />
1, 4.<br />
Define-se o diagnóstico de prolapso mitral no<br />
corte apical quatro câmaras, o movimento superior,<br />
de um ou mais componentes valvares, com<br />
medida superior a 5 (cinco) mm, com relação ao<br />
plano do anel mitral; desde que a borda de coaptação<br />
das cúspides esteja também deslocada no<br />
mesmo sentido e localizada, pelo menos, ao nível<br />
do plano anular 1, 2, 5. Considera-se anormal os<br />
deslocamentos sistólicos posteriores dos componentes<br />
valvares, com relação ao plano do anel<br />
valvar mitral, maiores que 2 (dois) mm nos cortes<br />
longitudinais 1, 5.<br />
Gomes - Prolapso valvar mitral<br />
Considerações finais<br />
O exame ecocardiográfico é considerado padrão<br />
ouro para o diagnóstico do prolapso valvar<br />
mitral, e é correto dizer que o diagnóstico de prolapso<br />
valvar mitral pode ser realizado em qualquer<br />
corte ecocardiográfico (longitudinal paraesternal,<br />
longitudinal apical, quatro câmaras, etc.) 1,<br />
2, 4. É importante também não se esquecer de que<br />
a patologia é também clínica, que há uma incidência<br />
familiar aumentada da doença mixomatosa<br />
mitral e a ecocardiografia deve ser associada às<br />
evidências clínicas da Síndrome de Barlow.<br />
Faz-se necessário lembrar ainda de que em virtude<br />
do anel mitral ser uma estrutura complexa e<br />
tridimensional e da valva mitral ser composta por<br />
diversos segmentos o diagnóstico de prolapso da<br />
valva mitral dependerá do corte ecocardiográfico<br />
no qual se observa a porção anatômica valvar<br />
envolvida no processo da patologia e que isso<br />
ocorre de uma maneira assimétrica 1, 4.<br />
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2007.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 32-34<br />
34
Artigo de Revisão<br />
Ultrassonografia e o câncer da tireóide<br />
Ultrasonography and thyroid cancer<br />
Antonio José Ribeiro Filho 1<br />
Esta revisão descreve as características ecográficas dos nódulos da tireóide e o risco de câncer da tireóide.<br />
Os fatores predisponentes à formação de nódulos e suas diferentes formas de se apresentarem à ultrassonografia,<br />
são vistas com ênfase. A ultrassonografia é fácil de executar, disponível para a população brasileira,<br />
não envolve radiação ionizante e é facilmente combinado com citologia aspirativa com agulha fina<br />
(PAAF). Desta forma, a ultrassonografia de alta resolução aliada ao Doppler colorido, torna-se um modelo<br />
satisfatório para avaliação das características específicas e da natureza dos nódulos, enquanto a PAAF ajuda<br />
na precisão do diagnóstico. Este trabalho discute o papel da ultrassonografia no diagnóstico diferencial<br />
dos nódulos suspeitos e a indicação da realização de PAAF.<br />
Palavras-chave: Glândula Tireóide; Nódulo da Glândula Tireóide; Diagnóstico diferencial; Ultrassonografia.<br />
1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />
Ribeirão Preto (EURP)<br />
Recebido em 14/02/2012, aceito para publicação em<br />
25/02/2012.<br />
Correspondências para Antonio José Ribeiro Filho.<br />
Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />
de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />
14020-060.<br />
E-mail: fertily@oi.com.br<br />
Fone: (16) 3636-0311<br />
Fax: (16) 3625-1555<br />
Abstract<br />
This review describes the sonographic features of thyroid<br />
nodules and thyroid cancer risk. Factors predisposing<br />
to the formation of nodules and their different<br />
ways of presenting themselves to the ultrasound, are<br />
viewed with emphasis. Ultrasound is easy to implement,<br />
available for the Brazilian population, involves<br />
no ionizing radiation and is easily combined with fine<br />
needle aspiration cytology (FNAC). Thus, high resolution<br />
ultrasound combined with color Doppler is a suitable<br />
model for evaluation of the specific characteristics<br />
and nature of the nodules as FNAC help the accuracy<br />
of diagnosis. This paper discusses the role of ultrasonography<br />
in the differential diagnosis of suspicious<br />
nodules and the indication of performing FNAC.<br />
Keywords: Thyroid Gland; Thyroid Nodule; Diagnosis,<br />
Differential; Ultrasonography.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40
Introdução<br />
Muitas doenças da tireóide podem se apresentar<br />
clinicamente com um ou mais nódulos tireoidianos.<br />
A detecção de nódulos tornou-se mais<br />
comum com o uso generalizado da ultrassonografia<br />
e apesar de representarem problemas clínicos<br />
comuns e controversos, este método é o principal<br />
suporte para detectar e estabelecer o diagnóstico<br />
diferencial de nódulos, bem como servir de guia<br />
para a punção aspirativa com agulha fina (PAAF).<br />
Estima-se que cerca de 10% dos adultos possuem<br />
nódulos da tireóide palpáveis 1. Estudos epidemiológicos<br />
estimam que a incidência de nódulos<br />
da tireóide varie de 6,5% em estudos de exame<br />
físico e de pelo menos 50% dos estudos patológicos<br />
2, com as mulheres sendo mais frequentemente<br />
afetadas que os homens. A ultrassonografia é<br />
muito mais sensível do que a palpação detectando<br />
nódulos em cerca de 41% da população e 48%<br />
de nódulos adicionais 3. Apesar de a doença tireoidiana<br />
nodular ser relativamente comum, o câncer<br />
tireoidiano é raro e representa menos de 2,5%<br />
de todas as neoplasias malignas 4. A American<br />
Cancer Society estimou mais de 37.000 novos casos<br />
de câncer da tireóide nos Estados Unidos em 2009<br />
e a estimativa de óbitos por câncer de tireóide foi<br />
de apenas 0,2% do total 5. A exposição à radiação<br />
ionizante (importante fator de risco para carcinoma),<br />
deficiência de iodo, tireoidites, múltiplas<br />
síndromes neoplásicas endócrinas e hiperplasia<br />
benigna são as principais causas de formação nodular,<br />
aumentando o risco de câncer da tireóde 4<br />
Novas tecnologias associadas à ultrassonografia<br />
aumentaram a sensibilidade na detecção do<br />
câncer da tireóide. Ainda que a maioria esmagadora<br />
dos nódulos tireoidianos seja benigna, o desafio<br />
clínico é distinguir os poucos nódulos malignos<br />
significativos dos muitos benignos e, assim,<br />
identificar os pacientes em que a excisão cirúrgica<br />
é realmente indicada, desta forma, estudos<br />
ecográficos de imagem e citologia de agulha<br />
fina (PAAF), são as principais ferramentas utilizadas<br />
pelo clínico 6.<br />
História clínica<br />
Pacientes com nódulo na tireóide deve ser avaliado<br />
com história clínica e exame físico completo.<br />
Elementos importantes da história clínica do paciente<br />
que aumentam a probabilidade de malignidade<br />
como radiação, síndromes genéticas, sexo<br />
masculino e achado ecográfico de um nódulo<br />
Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />
hipoecóico deve levar a PAAF, mesmo na ausência<br />
de outras características importantes 4. Assim<br />
como, História de um parente de primeiro grau<br />
com câncer de tireóide deve ser cuidadosamente<br />
avaliada, principalmente ao considerar a ocorrência<br />
de câncer de tireóide familiar não medular.<br />
Câncer da tireóide<br />
A incidência do câncer da tireóide é baixa e,<br />
mesmo surgindo, é considerada indolente 4. Dados<br />
do programa do Instituto Nacional do câncer<br />
(SEER) dos Estados Unidos revelaram que em 20<br />
anos a taxa de sobrevivência foi de 99% para pacientes<br />
com precoce diagnóstico e tratamento para<br />
carcinoma papilífero. Aqueles que não trataram<br />
imediatamente em 20 anos, a taxa de sobrevida<br />
foi de 97% 7. Os achados da literatura levam<br />
a uma seria reflexão, por parte dos especialistas,<br />
quais nódulos de fato devem ser observados ou<br />
abordados cirurgicamente. Discutiremos os achados<br />
ecográficos determinantes para esta orientação.<br />
Estudos de imagem<br />
Imagens nodulares da tireóide podem ser visibilizados<br />
pela TC (tomografia computadorizada)<br />
e por estudos de medicina nuclear 4. Todavia, a<br />
ultrassonografia com o uso de transdutores lineares<br />
de alta frequência (7,5 a 16 MHz) é hoje o método<br />
de imagem de escolha para avaliação dos<br />
nódulos da tireóide 6, muito precisa e sensível<br />
para detectar nódulos, dimensioná-los com precisão,<br />
identificar suas características, pode avaliar<br />
alterações parenquimatosas difusas, ausente de<br />
radiação ionizante, baixo custo, não invasivo,<br />
muito embora limitado em diferenciar tumores<br />
benignos e maligno.<br />
O estudo Power Doppler e Doppler colorido<br />
têm sido amplamente estudados como importantes<br />
coadjuvantes no diagnóstico de nódulo suspeito.<br />
Vários estudos mostraram que nódulos<br />
neoplásicos (adenomas e carcinomas) contêm<br />
sinais importantes de fluxo interno, por outro<br />
lado, nódulos císticos colóides são praticamente<br />
desprovidos de fluxo 8. No entanto, vários estudos<br />
têm demonstrado que índice de resistência<br />
(IR) e velocidade sistólica máxima (MSV) não<br />
devem ser usados como parâmetros únicos para<br />
diferenciar nódulo benigno de maligno 9.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />
36
Características ultrassonográficas dos nódulos<br />
tireoidianos<br />
A nomenclatura nódulo é usada para descrever<br />
uma condição patológica da glândula tireóide<br />
tanto para cistos quanto para massas sólidas. Os<br />
achados mais comuns são nódulos completamente<br />
císticos, podendo estes possuir colóides internos<br />
ou sangue, passando a se chamarem de cistos<br />
colóides e hemorrágicos respectivamente 4. A<br />
maioria dos nódulos sólidos da tireóide são benignos,<br />
chamados de adenomatóides, mas outros<br />
nódulos sólidos também poderão ser encontrados<br />
em Tireoidite de Hashimoto, os chamados hiperplásicos<br />
10. Nódulos sólidos neoplásicos incluem<br />
adenomas foliculares benigno, carcinoma folicular,<br />
adenomas de células hurthle, carcinomas de<br />
células Hurthle, carcinoma papilar, carcinoma<br />
medular, carcinoma anaplásico, linfomas primário<br />
da tireóide e doença metastática 2.<br />
Durante o exame, o ultrassonografista deve<br />
descrever a posição de cada nódulo, suas medidas<br />
(longitudinal, ântero-posterior e transversal),<br />
ecotextura (sólido, misto ou cístico), ecogenicidade<br />
(anecóicas, isoecóicas, hipoecóicas e hiperecóicos),<br />
características das margens e presença de<br />
halo periférico, presença de calcificações internas<br />
(micro ou macro calcificações) e presença de linfonodos<br />
cervical. O achado de múltiplos nódulos<br />
deve ser visto com cautela, onde todos os nódulos<br />
devem ser avaliados quanto suas características<br />
benignas ou malignas 11.<br />
Tamanho do nódulo<br />
A literatura recomenda PAAF em todos os nódulos<br />
sólidos maiores que 1 cm 2. Nódulos menores<br />
de 1 cm podem ser acompanhados anualmente<br />
e ainda que tamanho não seja critério para benigno<br />
ou maligno, porém determina para decisão<br />
de biópsia. A ultrassonografia entra como uma<br />
grande aliada a PAAF em abordar nódulos não<br />
palpáveis e está associada a uma menor taxa de<br />
resultados falso-negativos 12. A PAAF está indicada<br />
também para situações de crescimento do<br />
nódulo, invasão extra capsular e presença de linfonodos<br />
cervicais suspeitos. Pacientes com história<br />
familiar de carcinoma medular ou paciente do<br />
sexo masculino também deve levar a PAAF.<br />
Principais características na abordagem dos<br />
nódulos<br />
A aparência e o tamanho do nódulo são as duas<br />
principais características para decidir se deve<br />
Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />
ser aspirado por agulha fina e o nódulo puramente<br />
cístico é o único achado considerado benigno 4.<br />
Ainda que não haja nenhuma característica totalmente<br />
sensível e específica para o câncer 13, a<br />
combinação de vários fatores dentro de um padrão<br />
estabelecido será fundamental para triagem<br />
destes nódulos 14. Para os nódulos benignos, existem<br />
cinco modelos que tem sido demonstrado<br />
com alta especificidade 15 e para os nódulos suspeitos<br />
abordaremos os padrões ecográficos preocupantes<br />
que sugerem biópsia.<br />
Padrões associados à benignidade<br />
1. Nódulos císticos com ou sem foco ecogênico interno<br />
Nódulos fluidos com menos de 10 mm, solitários<br />
ou múltiplos, são considerados benignos e<br />
acredita-se serem oriundos de hiperplasia nodular<br />
da tireóide levando a cistos colóides 14. Dentro<br />
destes cistos observamos pequenos focos ecogênicos<br />
formando reverberação posterior, conhecidos<br />
como cauda de cometa.<br />
2. Padrão em favo de mel<br />
O padrão de favo de mel aparece como inúmeros<br />
cistos separados por finas septações 14 e não é<br />
considerado neoplásico. Utilizando transdutores<br />
de alta freqüência é possível observar, na imagem<br />
de favo de mel, focos ecogênicos internos e a<br />
maioria são avascular ou pobremente vascular 15.<br />
Estes focos ecogênicos não devem ser confundidos<br />
com micro calcificações, pois apenas correspondem<br />
a conexões das paredes finas dos cistos.<br />
Em um estudo, o aspecto morfológico de favo de<br />
mel foi 100% específico para hiperplasia nodular<br />
benigna 16. Em outro estudo, todos os 210 nódulos<br />
com o aspecto de favo de mel foram benignos e<br />
196 dos 210 nódulos foram lidos como cisto colóide<br />
à luz da histopatologia 15.<br />
3. Inúmeras pequenas nodulações<br />
Grande número de pequenos nódulos hipoecóicos<br />
em todos os lobos, separados por traves<br />
ecogênicas, é outro padrão de benignidade 14,<br />
sendo múltiplos folículos linfóides com envolvimento<br />
fibrótico. Segunda a literatura, este achado<br />
tem 95% de valor preditivo positivo para tireoidite<br />
de Hashimoto 17 e outros como hiperplasia nodular<br />
e adenomas folicular. Porém, 16% dos maiores<br />
nódulos são malignos, usualmente carcinoma<br />
papilífero e raramente linfoma. Sendo, portan-<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />
37
to, uma incidência maior do que a população geral,<br />
devendo ser biopsiados 10.<br />
4. Marcadamente hipercóico<br />
Um nódulo hiperecogênico ao ultrasom é considerado<br />
100% específico para benignidade 15.<br />
Segundo vários autores, embora raros nódulos<br />
malignos serem hiperecóicos, este achado ecográfico<br />
deve pensar em benignidade. Este padrão<br />
pode ser um nódulo colóide ou tireoidite nodular<br />
focal de Hashimoto.<br />
Padrões ultrassonográficos suspeitos de malignidade<br />
1. Nódulos sólidos hipoecóicos com discretos focos<br />
ecogênicos<br />
Mesmo sendo a ultrassonografia o método de<br />
escolha para o estudo de imagem para os nódulos<br />
tireoidianos, não se permite caracterizar um nódulo<br />
com aspecto maligno. Todavia, os achados<br />
ecográficos de hipoecogenicidade, predomínio de<br />
vascularização central à periférica, micro calcificações,<br />
margens irregulares e ausência de halo<br />
são aspectos que têm sido sistematicamente associados<br />
com malignidade.<br />
É consenso na literatura que nódulo hipoecóico<br />
com presença de micro calcificações está intimamente<br />
relacionado ao carcinoma papilífero 14.<br />
Comparando com os demais nódulos da glândula,<br />
é sabido que em 86 a 90% do carcinoma papilífero<br />
estes nódulos são hipoecóicos 18. <strong>Out</strong>ros estudos<br />
mostraram que esta afirmação foi contundente<br />
para pequenos tumores de 8 a 15 mm, demonstrando<br />
que 87% desses tumores foram hipoecóicos<br />
11.<br />
Ainda que hipoecogenicidade isoladamente<br />
não seja específico, pois um grande número de<br />
nódulos benignos têm aparência semelhante, a<br />
combinação com outra característica que tenha<br />
alta especificidade trará um alto padrão para<br />
PAAF.<br />
Especificidade de micro calcificações para malignidade<br />
é de 93 a 97% 11. A sensibilidade é menor,<br />
apenas em 42% dos carcinomas papilíferos<br />
que contem micro calcificações 18, porém o valor<br />
preditivo positivo para micro calcificações tem<br />
sido demonstrado em 70 a 71% 19. Durante a realização<br />
da ultrassonografia, micro calcificações<br />
não são visualizadas, porém ocorrendo agrupamento<br />
com sombra acústica posterior poderão ser<br />
vistos.<br />
Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />
2. Nódulos sólidos hipoecóicos com grosseira calcificação<br />
central<br />
O padrão ecográfico de hipoecogenicidade associado<br />
a grosseira calcificação central, deve recomendar<br />
biópsia aspirativa com agulha fina<br />
(PAAF). Embora este achado possa ser visto em<br />
nódulos císticos em observação, este padrão deve-se<br />
pensar em carcinoma papilífero ou medular<br />
14. A grande maioria deste padrão ecográfico é<br />
carcinoma papilífero, levando em consideração a<br />
raridade do medular (3-5%).<br />
Recomenda-se o cuidado de avaliar ambos os<br />
lobos a busca de nódulos multicêntricos, diante<br />
do achado de calcificação grosseira central. Assim<br />
como, deve existir igual preocupação para carcinoma<br />
medular diante de um nódulo em sexo<br />
masculino. Portanto, a PAAF está recomendada<br />
diante de nódulo hipoecóico com calcificação<br />
grosseira central.<br />
3. Nódulo sólido homogêneo ovalado com cápsula<br />
fina<br />
Estes nódulos sólidos se apresentam com ecotextura<br />
homogênea, são ovais e com fina cápsula.<br />
Tais lesões ainda podem ser isoecóicos, hipoecoicas<br />
ou hiperecoicas 14, sendo portanto difícil definir<br />
benignidade e malignidade.<br />
A literatura descreve hipoecogenicidade, halo<br />
e um maior tamanho do nódulo favoráveis a carcinoma<br />
folicular 20. No entanto, tais características<br />
ainda faltam especificidade e, portanto, a PAAF<br />
deve ser recomendada. A literatura é clara na<br />
indicação de lobectomia ou tireoidectomia diante<br />
de um diagnóstico citológico de lesão folicular,<br />
todavia, a mesma é insuficiente para excluir invasão<br />
vascular ou capsular, sendo estes o fator diferenciador<br />
entre adenoma folicular e carcinoma<br />
folicular (folicular, variante folicular e carcinoma<br />
papilífero).<br />
4. Sombra refratária nas bordas de um nódulo sólido<br />
A sombra refratária ocorre no momento de<br />
dois tecidos com diferentes sons de propagação<br />
de velocidades ao ângulo oblíquo a onda sonora.<br />
Uma sombra refratária na borda de um nódulo<br />
aumenta a possibilidade de ser maligno. <strong>Out</strong>ros<br />
autores descrevem a falta de especificidade para<br />
este achado, bem como, aumento da vascularização<br />
central ou periférica, margens irregulares e<br />
presença ou não de halo pode ser visto em nódulos<br />
benignos ou malignos 4.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />
38
Recomendações das sociedades<br />
Diversas sociedades têm descrito diretrizes para<br />
orientar quando realizar biópsia de nódulo<br />
suspeito de tireóide. As recomendações são baseadas<br />
em diferentes posições conforme investigações<br />
científicas 1. O tamanho do nódulo e suas<br />
características são os pilares para estas orienta-<br />
Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />
ções. As recomendações da Associação Americana<br />
de Tireóide (ATA) e da Sociedade de radiologistas<br />
em ultrassonografia (SUR) estão resumidas<br />
na tabela 1.<br />
Tabela 1. Diretrizes para recomendações de punção aspirativa por agulha fina(PAAF) de nódulo da tireóide,<br />
critérios para biópsia segundo a Associação Americana de Tireóide (ATA) e Sociedade de Radiologistas<br />
em Ultrassonogafia (SUR).<br />
Tamanho (mm) Recomendação ATA Recomendação SUR<br />
5-10 PAAF se fatores de risco clínico e fatores suspeitos<br />
ultrassonográficos<br />
Nenhuma recomendação<br />
10-15 PAAF se nódulo contém micro calcificações Fortemente considerar PAAF se nódulo contém<br />
ou são sólidos<br />
micro calcificações<br />
15-20 PAAF se nódulo contém micro calcificações, é Fortemente considerar PAAF se nódulos conter<br />
sólido ou é tanto sólido e cístico com fatores micro calcificações ou é sólido com calcificações<br />
suspeitos<br />
grosseiras<br />
>20 PAAF para todos os nódulos com exceção Fortemente considerar PAAF se nódulo contém<br />
para o puramente cístico<br />
micro calcificações, é sólida com calcificações<br />
grosseiras, tanto é sólido e cístico ou é cístico com<br />
nódulo mural ou substancial crescimento<br />
Embora vários cenários não estejam presentes<br />
nesta tabela como o valor do TSH e presença de<br />
vários nódulos similares na glândula, por outro<br />
lado, esta prevê orientações para a maioria dos<br />
nódulos. Conforme orientação da ATA, a PAAF<br />
deve ser realizada se o valor do TSH é elevado ou<br />
normal e outros critérios ecográficos estão presentes.<br />
Assim como, um baixo nível de TSH deve<br />
fazer cintilografia. As recomendações da ATA na<br />
tabela 1 são para nódulos iso ou hipofuncionantes<br />
em pacientes com TSH baixo ou pacientes<br />
TSH normal ou baixo. As duas sociedades recomendam<br />
biópsia de linfonodos anormais à ultrassonografia.<br />
Nenhum dos critérios de orientações já descrito<br />
pelas diversas sociedades é totalmente aceito,<br />
embora vários estudos tenham tentado validar a<br />
eficácia do guidelines. Esta polemica tem sido<br />
principalmente para os pacientes com pequeno<br />
volume de câncer diferenciado da tireóide.<br />
Considerações finais<br />
Nódulo da tireóide é um dos achados patológicos<br />
mais freqüentes da glândula, freqüentemente<br />
pode ser diagnosticada clinicamente, mas mui-<br />
tas vezes os achados clínicos podem ser inconclusivos.<br />
Nestes casos os estudos por imagem associado<br />
a punção por agulha fina guiado pelo ultrasom,<br />
podem ser úteis na conclusão diagnóstica. A<br />
ultrassonografia é um exame de baixo custo e<br />
fácil acesso, quando comparada aos demais métodos<br />
de imagem. Com o advento de equipamentos<br />
de alta resolução, a ultrassonografia se tornou<br />
o método de imagem de primeira escolha nos<br />
casos suspeitos de nódulos ligados ao câncer. O<br />
ultrassonografista deve estar preparado para realizar<br />
um exame que proporcione ao médico assistente,<br />
dados confiáveis para uma tomada de decisões.<br />
Isto somente será possível com os conhecimentos<br />
das novas tecnologias do ultrasom ligado<br />
ao estudo Doppler color e dos critérios ecográficos<br />
utilizados pelas associações competentes. Apesar<br />
de vários consensos terem sido publicados<br />
acerca das características suspeitas de nódulos e<br />
câncer da tireóide, ainda serão necessários outros<br />
estudos apropriados para diferentes regiões ou<br />
países.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />
39
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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />
40
Artigo de Revisão<br />
Acompanhamento ultrassonográfico de mioma uterino<br />
durante a gestação<br />
Ultrasonography follow-up of uterine leiomyoma during pregnancy<br />
Rebeca Saliba Ferreira Bortone 1<br />
Os tumores benignos mais comuns em mulheres com idade fértil são os leiomiomas uterinos. A incidência<br />
tem aumentado nas últimas décadas como consequência do adiamento da gestação. Apesar de danos<br />
materno-fetais ocorrer apenas em pequena parcela das pacientes, a presença de miomas durante a gestação<br />
pode causar implantação inadequada do embrião, dor, anemia, compressão fetal, restrição de crescimento<br />
fetal, trabalho de parto prematuro e descolamento prematuro de placenta. A literatura sugere seguimento<br />
com ultrassonografia mensal e estudo Doppler iniciando-se na vigésima sexta semana. O objetivo é a avaliação<br />
da circulação feto-placentária e eventual presença de acretismo placentário, a qual é mais comum após<br />
miomectomia. O tratamento ideal da leiomiomatose na gestação é clínico, podendo ser indicada ressecção<br />
apenas se houver dor persistente ao uso de medicação, como em caso de torção de miomas pediculados, ou<br />
se houver sangramento, infecção, degeneração, dor ou retenção urinária em leiomiomas cervicais. Miomectomia<br />
no momento do parto deve ser evitada por aumentar o risco de hemorragia. A detecção de miomatose<br />
uterina ao exame ultrassonográfico na gravidez, deve ser avaliada com muito critério e sempre levando<br />
em conta o quadro clínico de cada paciente.<br />
Palavras-chave: Mioma; Complicações na Gravidez; gravidez, Ultrassonografia.<br />
1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />
Ribeirão Preto (EURP)<br />
Recebido em 16/02/2012, aceito para publicação em<br />
28/02/2012.<br />
Correspondências para Rebeca Saliba Ferreira Bortone.<br />
Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />
de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />
14020-060.<br />
E-mail: rebecabortone@bol.com.br<br />
Fone: (16) 3636-0311<br />
Fax: (16) 3625-1555<br />
Abstract<br />
The most common benign tumors in women of childbearing<br />
age are uterine leiomyomas. The incidence has increased in<br />
recent decades as a consequence of postponing pregnancy.<br />
Although maternal-fetal damage occurs only in small number<br />
of patients, the presence of fibroids during pregnancy<br />
can cause poor implantation of the embryo, pain, anemia,<br />
fetal compression, fetal growth restriction, premature labor<br />
and placenta previa. The literature suggests follow-up with<br />
Doppler ultrasound and monthly beginning in the twentysixth<br />
week. The objective is the evaluation of fetal-placental<br />
and possible presence of accretion, which is more common<br />
after myomectomy. The ideal treatment of leiomyomata<br />
during pregnancy is clinical, resection may be indicated only<br />
if there is persistent pain medication, as in the case of torsion<br />
of pedunculated fibroids, or if there is bleeding, infection,<br />
degeneration, pain, or urinary retention in cervical<br />
leiomyomas. Myomectomy at delivery should be avoided to<br />
potentiate the risk of bleeding. The detection of uterine fibroids<br />
by ultrasound in pregnancy should be evaluated with<br />
great care and always taking into account the clinical condition<br />
of each patient.<br />
Keywords: Myoma; Pregnancy Complications; Ultrasonography.<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 41-43
Introdução<br />
Os tumores benignos mais comuns em mulheres<br />
são os leiomiomas uterinos, ocorrendo em 20 a<br />
30% das mulheres em idade reprodutiva, com<br />
incidência ainda incerta na gravidez, variando de<br />
0,1% a 12,5% 1. Sendo assim, na obstetrícia contemporânea,<br />
está cada vez mais comum o manejo<br />
da gestante com miomatose, principalmente pelo<br />
diagnóstico prévio que as futuras gestantes possuem<br />
e tendência crescente do adiamento da gravidez<br />
2.<br />
Modificações do útero miomatoso com a gravidez<br />
Devido à hipertrofia endometrial, maior vascularização<br />
local e alterações dos receptores locais<br />
aos esteróides, há um aumento da possibilidade<br />
de crescimento do leiomioma durante a gravidez.<br />
Por outro lado, outros fatores favorecem a degeneração<br />
desses nódulos como: fatores de crescimento<br />
local, a própria atividade uterina no trabalho<br />
de parto, mecanismos endócrinos relacionados<br />
à lactação (insulina, hormônio lactógenoplacentário<br />
e esteróides), além da involução uterina<br />
no pós-parto retornando à condição circulatória<br />
anterior. A degeneração benigna é a mais<br />
comum (vermelha e hialina). A degeneração sarcomatosa,<br />
maligna e mais temida, felizmente só é<br />
observada em 0,5% dos leiomiomas 3.<br />
Geralmente a literatura tende a subestimar a<br />
prevalência de miomas na gestação e superestimar<br />
as complicações atribuídas a eles. É dominante<br />
a observação na literatura médica que a<br />
maioria dos miomas não apresenta mudança de<br />
volume significativa durante a gravidez, ao contrário<br />
da opinião popular, e aqueles que crescem<br />
tendem a expandir principalmente no primeiro<br />
trimestre 4. Além disso, idade materna avançada,<br />
índice de massa corpórea e paridade estão aparentemente<br />
correlacionados à variação volumétrica<br />
dos miomas na gravidez 5.<br />
Miomas versus infertilidade<br />
O papel do mioma na infertilidade e na implantação<br />
do embrião ainda não está claro. Algumas<br />
teorias são aceitas, como a de que miomas<br />
submucosos causam distorção na cavidade endometrial,<br />
podem alterar o transporte de gametas<br />
e embriões por obstrução dos óstios tubários ou<br />
por alteração da contratilidade uterina, além de<br />
que a compressão endometrial pode prejudicar a<br />
Bortone - Mioma uterino durante a gestação<br />
implantação do embrião. Miomas parecem alterar<br />
a vasculatura uterina por expressão anormal de<br />
fatores angiogênicos e inflamatórios. Fatores envolvidos<br />
no processo de fibrose também poderiam<br />
ter efeito prejudicial 6.<br />
Complicações no curso da gravidez<br />
Gestação com miomatose é de alto risco 7 podendo<br />
causar consequências de gravidade variada.<br />
Os relatos da literatura são conflitantes sobre<br />
as chamadas complicações de miomas na gravidez,<br />
não havendo ainda dados suficientes para o<br />
estabelecimento da estratégia de gestão ideal 2.<br />
Embora a maioria das gestações não seja afetada<br />
pela presença de leiomiomas, temos que ter maior<br />
atenção aos submucosos de grande volume e aos<br />
retroplacentários por se associarem a um risco<br />
aumentado de complicações incluindo a dor (devido<br />
a sua degeneração), sangramento vaginal,<br />
descolamento prematuro de placenta, restrição de<br />
crescimento intra-uterino e trabalho de parto<br />
prematuro 4.<br />
Leiomiomas cervicais aumentam a possibilidade<br />
de cesariana e apresentação anômala 8, sendo<br />
que a apresentação pélvica é a mais comum 7.<br />
A prevalência de miomas cervicais clinicamente<br />
evidentes em uma gravidez é inferior a 1% 9.<br />
Controle no pré-natal<br />
Freqüentes avaliações ultrassonográficas são<br />
necessárias durante a gravidez visando verificar o<br />
número, localização e alteração volumétrica dos<br />
nódulos miomatosos uterinos, assim como estabelecer<br />
se há ou não contato com a placenta 8. O<br />
monitoramento do crescimento fetal deve ser realizado,<br />
atentando para o risco da compressão fetal,<br />
principalmente por leiomiomas submucosos<br />
do corpo uterino 3.<br />
Sugere-se controle ecográfico mensal e, a partir<br />
da vigésima sexta semana, complementação pelo<br />
estudo Doppler com o intuito de não somente<br />
avaliar a circulação feto-placentária, como também<br />
a eventual presença de acretismo placentário,<br />
mais freqüente após miomectomia 3.<br />
Tratamento<br />
A miomectomia na pré-concepção com objetivo<br />
de melhorar o resultado reprodutivo deve ser<br />
considerada individualmente, apenas para aquelas<br />
mulheres com história de perdas gestacionais<br />
recorrentes, com grandes miomas submucosos e<br />
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 41-43<br />
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nenhuma outra causa justificável de abortamento<br />
de repetição 4.<br />
Degeneração ou torção do pedículo pode causar<br />
dores. Devemos, sempre que possível, controlar<br />
uma complicação do mioma clinicamente e<br />
considerar sua ressecção no futuro 8. Miomectomia<br />
durante a gestação deve ser reservada para<br />
miomas subserosos ou pediculados com dor não<br />
responsiva à terapia clínica e que estão no primeiro<br />
ou segundo trimestre da gravidez 4. Pode ser<br />
indicada intervenção cirúrgica em leiomioma<br />
cervical se houver sangramento, infecção, degeneração,<br />
dor ou retenção urinária. Exame ultrassonográfico<br />
e ressonância nuclear magnética ajudam<br />
a elucidar a suspeita clínica 9.<br />
Miomectomia no momento do parto está associada<br />
a aumento da morbidade por hemorragia,<br />
devendo ser prosseguida com cautela apenas em<br />
pacientes selecionados 4.<br />
Considerações finais<br />
Embora esteja sedimentada a idéia de que a<br />
leiomiomatose possa trazer complicações na gravidez<br />
em uma pequena parcela dos casos, devemos<br />
na prática clínica, sempre orientar as pacientes<br />
sobre os principais riscos de sua gestação com<br />
o alarde necessário.<br />
A ultrassonografia é um instrumento precioso<br />
para diagnóstico e controle da leiomiomatose e<br />
do crescimento fetal, porém o bom senso deve<br />
Bortone - Mioma uterino durante a gestação<br />
sempre prevalecer. Frente a um achado ultrassonográfico<br />
anormal, é importante avaliar cuidadosamente<br />
se isso seria a explicação para os sintomas<br />
da paciente ou se representaria apenas um<br />
achado incidental 10.<br />
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