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www.eurp.edu.br<br />

ISSN 2175-2338<br />

Volume 3 n. 4 – <strong>Out</strong>/<strong>Dez</strong> <strong>2011</strong>


Expediente<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives - EURP ISSN 2175-2338<br />

Publicação oficial da EURP<br />

Escola de Ultra-Sonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto<br />

Diretor Administrativo<br />

Francisco Mauad Neto<br />

Presidente do Departamento Científico<br />

Procópio de Freitas<br />

Bibliotecária<br />

Priscila Gauna<br />

Responsável pelo Setor Gráfico<br />

Michel da Silva<br />

Adilson Cunha Ferreira<br />

Fernando Marum Mauad<br />

Francisco Mauad Filho<br />

Jorge Garcia<br />

Procópio de Freitas<br />

Carlos César Montesino Nogueira<br />

Gerson Claudio Crott<br />

Diretor Presidente<br />

Francisco Mauad Filho<br />

Professores<br />

Diretor Científico<br />

Wellington de Paula Martins<br />

Diretor de Pesquisa<br />

Fernando Marum Mauad<br />

Secretária Geral<br />

Janete Cristina Parreira de Freitas<br />

Responsável pelo Setor de Multimídia<br />

Ricardo Tostes<br />

Jorge Rene Garcia Arevalo<br />

José Augusto Sisson de Castro<br />

José Eduardo Chúfalo<br />

João Francisco Jordão<br />

Luís Guilherme Carvalho Nicolau<br />

Simone Helena Caixe<br />

Wellington de Paula Martins


EURP<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives<br />

Adilson Cunha Ferreira<br />

Carlos César Montesino Nogueira<br />

Carolina Oliveira Nastri<br />

Fernando Marum Mauad<br />

Gerson Cláudio Crott<br />

João Francisco Jordão<br />

Editor Científico<br />

Wellington de Paula Martins<br />

Editor Executivo<br />

Francisco Mauad Filho<br />

Conselho Editorial<br />

Secretária Executiva<br />

Priscila Gauna<br />

Jorge Rene Garcia Arevalo<br />

José Eduardo Chúfalo<br />

Luis Guilherme Nicolau<br />

Procópio de Freitas<br />

Simone Helena Caixe<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012


SUMÁRIO<br />

EURP v. 4, n. 1, p 01-43 Jan-Mar 2012 ISSN 2175-2338<br />

Avaliação diagnóstica da síndrome coronariana aguda<br />

Diagnostic evaluation of acute coronary syndrome<br />

Ricardo Nogueira de Paiva<br />

01<br />

Insuficiência mitral 08<br />

Mitral Insufficiency<br />

Paulo Casimirov Banof , Márcia Elisa Moro, Cláudia Moro Sandmann<br />

Obstrução intestinal pré-natal: correlação com a<br />

avaliação pós-natal<br />

Prenatal bowel obstruction: correlation with postnatal evaluation<br />

Nuno Ricardo Gonçalves Baptista Pereira, Patrícia João Moreira Horta Oliveira, Miguel<br />

Pedro da Rocha Branco, Joaquim José Rocha Costa Simões de Sá , Raquel Maria Pereira<br />

Ortins Pina, Eulália Maria Bento Galhano, José Agostinho Valentim Barros de Mesquita<br />

14<br />

Avaliação ultrassonográfica das massas anexiais 22<br />

Ultrasound evaluation of adnexal masses<br />

Valéria Cristina Nascimento Silva, Francisco Mauad Filho<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012


Ultrassonografia na gestação complicada por diabetes<br />

mellitus<br />

Ultrasonography in pregnancy complicated by diabetes mellitus<br />

Avaliação ecocardiográfica do prolapso valvar mitral<br />

Echocardiographic evaluation of mitral valve prolapse<br />

Ultrassonografia e o câncer da tireóide<br />

Ultrasonography and thyroid cancer<br />

Wilson Ayach<br />

Gisele Oliveira Ribeiro Gomes<br />

Antonio José Ribeiro Filho<br />

Acompanhamento ultrassonográfico de mioma uterino<br />

durante a gestação<br />

Ultrasonography follow-up of uterine leiomyoma during pregnancy<br />

Rebeca Saliba Ferreira Bortone<br />

27<br />

32<br />

35<br />

41<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012


Artigo de Revisão<br />

Avaliação diagnóstica da síndrome coronariana aguda<br />

Diagnostic evaluation of acute coronary syndrome<br />

Ricardo Nogueira de Paiva 1<br />

Na síndrome coronariana aguda a qualidade do tratamento depende diretamente da precocidade do diagnóstico,<br />

já que a extensão da lesão miocárdica é tempo dependente. A síndrome é representada pelo infarto<br />

do miocárdio com elevação do segmento ST, infarto do miocárdio sem elevação do segmento ST e<br />

angina instável. Pacientes de alto risco com diagnóstico de infarto do miocárdio são encaminhados para<br />

angiografia coronária e terapia de reperfusão. Pacientes com angina instável são encaminhados para terapia<br />

intensiva e, após se estabilizarem, vão para angiografia coronária programada. Pacientes de moderado<br />

a baixo risco, estáveis, sem alterações isquêmicas ao eletrocardiograma e sem alterações dos marcadores de<br />

lesão miocárdica, são avaliados para detecção de doença arterial coronária (DAC) através da ergometria,<br />

quando possível, ou através de métodos de imagem não invasivos como a ecocardiografia, a cintilografia<br />

miocárdica, a angiotomografia coronária e a ressonância magnética. A ecocardiografia é um método de<br />

imagem não invasivo, presente em boa parte das salas de emergência e fornece dados importantes para<br />

diagnóstico da DAC através da análise das alterações segmentares do ventrículo esquerdo.<br />

Palavras-chave: Dor no Peito; Angina Pectoris; Infarto do Miocárdio; Ecocardiografia.<br />

1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />

Ribeirão Preto (EURP)<br />

Recebido em 07/11/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />

07/01/2012.<br />

Correspondências para Ricardo Nogueira de Paiva.<br />

Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />

de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />

14020-060.<br />

E-mail: paivarn@yahoo.com.br<br />

Fone: (16) 3636-0311<br />

Fax: (16) 3625-1555<br />

Abstract<br />

Acute coronary syndrome's treatment quality depends<br />

directly on early diagnosis; since the extent of<br />

myocardial damage is time-dependent. The syndrome<br />

is represented by myocardial infarction with ST segment<br />

elevation, myocardial infarction without ST segment<br />

elevation, and unstable angina. High-risk patients<br />

with a diagnosis of myocardial infarction are<br />

referred for coronary angiography and reperfusion<br />

therapy. Patients with unstable angina are referred for<br />

intensive care and, after stabilizing, to scheduled coronary<br />

angiography. Patients with moderate to low risk,<br />

stable, without ischemic changes on electrocardiogram<br />

and no changes in markers of myocardial injury, are<br />

evaluated for detection of coronary artery disease<br />

(CAD) by exercise testing, when possible, or through<br />

non-invasive imaging methods such as echocardiography,<br />

myocardial scintigraphy, coronary angiography<br />

and magnetic resonance imaging. Echocardiography is<br />

a noninvasive imaging method, present in most emergency<br />

rooms and provides important data for diagnosis<br />

of CAD by analysis of left ventricular segmental<br />

changes<br />

Keywords: Chest Pain; Angina Pectoris; Myocardial<br />

Infarction; Echocardiography.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07


Introdução<br />

A síndrome coronariana aguda compreende o<br />

infarto do miocárdio (com supra ST e sem supra<br />

ST) e angina instável, condições clínicas graves,<br />

que necessitam de um diagnóstico precoce já que<br />

aqueles pacientes considerados de alto risco necessitam,<br />

num curto período de tempo, do restabelecimento<br />

da circulação coronariana, através ou<br />

da angioplastia primária, ou terapia fibrinolítica,<br />

ou mesmo de um tratamento clínico mais agressivo<br />

1.<br />

Anualmente, nos Estados Unidos, mais de 6<br />

milhões de pacientes são atendidos nas salas de<br />

emergência com quadro de dor torácica sugestivo<br />

de síndrome coronariana aguda e mais de 40%<br />

destes atendimentos geram admissão hospitalar 2;<br />

3. Porém, grande parte destes pacientes não tem<br />

doença arterial coronariana 4; 5. Apesar de todo<br />

avanço dos recursos diagnósticos, de 2% a 8% dos<br />

pacientes são liberados de forma inadequada aumentando<br />

a morbimortalidade da doença arterial<br />

coronariana 6.<br />

Os pacientes que são atendidos nas unidades<br />

de dor torácica e salas de emergência são estratificados<br />

para alto, moderado e baixo risco para doença<br />

arterial coronariana (DAC). Para esta estratificação,<br />

o médico conta com a história clínica,<br />

exame físico, o eletrocardiograma, os marcadores<br />

bioquímicos de lesão miocárdica, a radiografia de<br />

tórax, a ergometria, a ecocardiografia, a cintilografia<br />

miocárdica, a angiotomografia de coronárias<br />

e a ressonância magnética cardíaca.<br />

A ecocardiografia é um método extremamente<br />

importante na síndrome coronariana aguda, por<br />

ser um método não invasivo, presente nas salas<br />

de emergência, baixo custo e decisivo no diagnóstico<br />

diferencial. Através da ecocardiografia avalia-se<br />

a função ventricular global, sistólica e diastólica,<br />

detecta-se de forma muito precoce as alterações<br />

de contratilidade e espessamento miocárdio<br />

decorrente da isquemia miocárdica.<br />

Quadro clínico<br />

Apesar de todo o avanço tecnológico no diagnóstico<br />

da síndrome coronariana aguda, a história<br />

clínica é de suma importância, inclusive na estratificação<br />

de risco dos pacientes.<br />

A dor torácica na síndrome coronariana aguda<br />

se manifesta mais como desconforto e está presente<br />

em 75 a 80% dos casos, e é referida como<br />

Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />

aperto, peso, queimação, opressão, sufocação, dor<br />

ou pressão.<br />

Apresenta localização variada, desde retroesternal,<br />

precordial até mandibular, ombros e epigástrico<br />

com irradiação para MMSS (mais freqüente<br />

MSE). Acompanhada frequentemente com<br />

náuseas, vômitos, sudorese, dispnéia, astenia, até<br />

síncopes 7.<br />

Na abordagem, é importante definir quando<br />

iniciou exatamente o sintoma para caracterizar o<br />

tempo de evolução da provável lesão miocárdica.<br />

O local de início da dor, a duração, a irradiação,<br />

os fatores de alívio ou agravantes 7. A busca de<br />

fatores precipitantes é importante como esforço<br />

físico, estresse emocional, o uso de drogas como<br />

cocaína.<br />

A avaliação deverá ser rápida com uma história<br />

dirigida para que as medidas de emergência<br />

sejam imediatamente implementadas. Condições<br />

clínicas que significam gravidade devem ser<br />

prontamente identificadas através do exame físico,<br />

como instabilidade hemodinâmica, cianose e<br />

arritmias.<br />

Eletrocardiograma<br />

O ECG deve ser realizado dentro dos primeiros<br />

minutos do atendimento na sala de emergência<br />

e poderá ser realizado com intervalos de 15<br />

minutos dependendo das alterações apresentadas<br />

no curso da avaliação 8. As alterações isquêmicas<br />

miocárdicas podem se apresentar de forma dinâmica<br />

ao longo do tempo, surgindo mudanças do<br />

padrão eletrocardiográfico.<br />

O ECG tem uma série de limitações, especialmente<br />

no quadro de angina instável. Alterações<br />

isquêmicas se apresentam inicialmente em 20 a<br />

30% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio,<br />

sendo que, 5 a 10% apresentam ECG normais<br />

9; 10.<br />

Pacientes que apresentam ao ECG um supradesnivelamento<br />

do segmento ST em duas ou mais<br />

derivações devem ser considerados para cineangiocoronariografia<br />

e provável angioplastia primária<br />

ou tratamento trombolítico.<br />

A depressão do segmento ST está associada a<br />

um risco alto de infarto do miocárdio (IAM sem<br />

supra desnivelamento ST), maior que a inversão<br />

da onda T que também está relacionada a isquemia<br />

miocárdica. A presença de onda Q se refere a<br />

provável infarto antigo ou até mesmo recente em<br />

evolução.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />

2


Os pacientes podem ser alocados em quatro<br />

grupos 11:<br />

• Grupo I: pacientes com história e quadro clínico<br />

compatível com SCA e evidência de elevação<br />

segmento ST.<br />

• Grupo II: pacientes com história e quadro<br />

clínico sugestivo SCA, sem elevação do segmento<br />

ST, porém de alto risco, devido às alterações<br />

isquêmicas ao ECG, instabilidade hemodinâmica.<br />

• Grupo III: pacientes que apresentam sintomas<br />

que justifiquem a avaliação, porém sem evidências<br />

objetivas de síndrome coronariana<br />

aguda, ECG inicial inalterado.<br />

• Grupo IV: pacientes com evidência clínica de<br />

sintoma de dor torácica de causa não cardíaca<br />

e ECG normal.<br />

Pacientes do grupo I devem ser considerados<br />

para imediata terapia de reperfusão (trombolítico<br />

ou angioplastia primária).<br />

Pacientes do grupo II, na ausência de contraindicações,<br />

devem receber tratamento antiplaquetário,<br />

antitrombótico e toda a medicação adjuvante<br />

do tratamento da síndrome coronariana aguda,<br />

sendo que aqueles com sintomas em curso, alterações<br />

persistentes ao ECG, ou instabilidade hemodinâmica,<br />

devem ser avaliados para angiografia<br />

coronária.<br />

Os pacientes do grupo III representam um<br />

grande número de pacientes que procuram as<br />

emergências sem alterações eletrocardiográficas,<br />

porém com sintomas que justificam o seguimento<br />

de toda propedêutica para a exclusão da isquemia<br />

miocárdica.<br />

Os pacientes do grupo IV deverão ser liberados<br />

para futura avaliação ambulatorial.<br />

Marcadores de lesão miocárdica<br />

Ainda não dispomos de um marcador de lesão<br />

miocárdica ideal para todas as situações. Diante<br />

disso, deve se utilizar ao menos dois marcadores<br />

distintos para o diagnóstico de eventos isquêmicos<br />

miocárdicos.<br />

A creatinoquinase constitui um dímero composto<br />

de subunidades (M e B). A forma MB compõe<br />

20 a 30% do miocárdio e é usada como importante<br />

marcador para identificar os pacientes<br />

com infarto do miocárdio 12.<br />

Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />

As recomendações atuais indicam as troponinas<br />

como biomarcador preferencial ou padrão<br />

para o infarto do miocárdio porque tanto a troponina<br />

I quanto a troponina T não são detectadas no<br />

sangue de pessoas saudáveis. Dessa forma, recomenda-se<br />

11:<br />

1. Todos os pacientes com suspeita clínica de<br />

síndrome coronariana aguda devem ser mensurados<br />

os marcadores de necrose miocárdica, obtidos<br />

na admissão para a sala de emergência e repetidos<br />

pelo menos uma vez nas seis horas seguintes;<br />

2. Devem ser dosados pelo menos dois tipos<br />

de marcadores, atualmente preferencialmente<br />

CKMB (dosada pela sua massa) e troponina (determinada<br />

pelo quantitativo imunoenzimático).<br />

Nos pacientes com dor torácica que apresentam<br />

ao ECG um supradesnivelamento do segmento<br />

ST a coleta de marcadores de necrose miocárdica<br />

é dispensável no que tange à decisão terapêutica.<br />

Diagnóstico diferencial<br />

A importância do conhecimento das várias patologias<br />

que cursam com dor torácica se reverte<br />

também da gravidade e da necessidade de um<br />

diagnóstico precoce.<br />

Podemos relacionar as seguintes patologias<br />

mais freqüentes que cursam com dor torácica 7:<br />

• Pericardites, valvopatias, cardiomiopatia<br />

hipertrófica.<br />

• Aneurisma dissecante de aorta.<br />

• Tromboembolismo pulmonar, pneumotórax,<br />

pneumonias, pleurites.<br />

• Gastrointestinais: gastrites, úlcera péptica,<br />

refluxo gastroesofágico, espasmo de esôfago,<br />

pancreatite.<br />

• Músculo-esqueléticas: costocondrite, fratura<br />

de arcos costais, herpes zooster.<br />

• Transtornos psiquiátricos: depressão, síndrome<br />

do pânico, ansiedade.<br />

A ecocardiografia detecta de forma conclusiva<br />

a presença de derrame pericárdico, as alterações<br />

valvares (adquiridas e congênitas), as hipertrofias<br />

ventriculares, condições freqüentes no diagnóstico<br />

diferencial.<br />

A avaliação das doenças da aorta, que podem<br />

se associar a outras condições (insuficiência aórtica,<br />

disfunção ventricular esquerda, derrame pericárdico)<br />

inicialmente é feita com a ecocardiogra-<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />

3


fia transtorácica e completada com o recurso transesofágico<br />

que fornece imagens de alta definição<br />

possibilitando uma avaliação abrangente da aorta<br />

torácica.<br />

A identificação de sobrecarga de câmaras direitas<br />

e sinais de hipertensão arterial pulmonar<br />

pela ecocardiografia faz deste método um aliado<br />

no diagnóstico do tromboembolismo pulmonar.<br />

Radiografia de tórax<br />

Exame rápido de custo baixo de grande importância<br />

na análise das complicações na evolução da<br />

síndrome coronariana aguda como a congestão<br />

pulmonar e sinais indiretos de possíveis valvopatias.<br />

Importante no diagnóstico diferencial como o<br />

aneurisma de aorta, embolia pulmonar, pneumotórax,<br />

pneumonia, derrame pleural, fratura de<br />

arcos costais 1.<br />

Teste ergométrico<br />

É um método amplamente disponível, de baixo<br />

custo e que tem por objetivo submeter o paciente<br />

a estresse físico programado, identificando<br />

alterações isquêmicas pela análise do segmento<br />

ST 13.<br />

O método é contra-indicado em pacientes com<br />

limitações físicas (ortopédicas, insuficiência vascular<br />

periférica e déficits neurológicos), aqueles<br />

que fizeram uso de medicações que prejudiquem<br />

sua eficácia, como betabloqueadores, digoxina e<br />

também pacientes com alterações eletrocardiográficas<br />

que impossibilitem a análise de isquemia<br />

miocárdica como bloqueio de ramo esquerdo,<br />

sobrecarga ventricular esquerda.<br />

Indicado em pacientes com baixo e risco intermediário,<br />

além da análise de isquemia miocárdica,<br />

avalia também o grau de capacidade física,<br />

onde os pacientes que atingem mais de 10 mets<br />

no esforço têm uma baixa probabilidade para<br />

DAC 14.<br />

Embora a sensibilidade do teste ergométrico<br />

para detecção de DAC seja menor que os métodos<br />

de imagem, ele apresenta um custo benefício considerável.<br />

Estudos realizados em 317 pacientes<br />

após 12 horas de observação, sem alterações eletrocardiográficas<br />

e dos marcadores de lesão miocárdicas,<br />

o valor preditivo negativo foi de 98%<br />

com uma economia de 567 dólares por paciente<br />

em comparação com aqueles internados para tratamento<br />

habitual 15.<br />

Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />

Ecocardiografia<br />

Na síndrome coronariana aguda a alteração<br />

segmentar pode ser detectada muito precocemente<br />

pela ecocardiografia. É importante assinalar a<br />

precocidade com que se sucedem as alterações da<br />

contratilidade e espessamento miocárdio, como<br />

resposta à isquemia. A partir da isquemia miocárdica,<br />

existe uma cascata de eventos, onde a<br />

disfunção diastólica e alterações segmentares de<br />

contração são precoces e antecedem, inclusive, as<br />

alterações clínicas e eletrocardiográficas.<br />

A conseqüência imediata da isquemia miocárdica<br />

é uma diminuição ou abolição da contração<br />

miocárdica avaliada na ecocardiografia pelo grau<br />

de espessamento sistólico. A ausência de espessamento<br />

é denominada acinesia e sua diminuição,<br />

hipocinesia. Discinesia é o movimento do segmento<br />

comprometido em sentido expansivo durante<br />

a sístole, habitualmente acompanhado de<br />

adelgaçamento sistólico.<br />

Para o estudo da arquitetura miocárdica, o ecocardiograma<br />

é o melhor método: o músculo<br />

normal terá um aspecto ecogênico normal, com<br />

contratilidade e espessamento normais. O aspecto<br />

do endocárdio e sua trabeculação também são<br />

normais. Se existe fibrose, o território enfermo se<br />

encontrará adelgaçado, com ecogenicidade aumentada,<br />

perda da trabeculação, acinesia e falta<br />

de espessamento. Nos casos de hibernação e músculo<br />

atordoado, existirão alterações de contratilidade<br />

e espessamento, porém não haverá ecogenicidade<br />

aumentada e a espessura da parede ventricular<br />

estará conservada.<br />

A análise segmentar do coração deve ser sistemática<br />

e a mais completa possível. Todas as<br />

janelas disponíveis e planos tomográficos devem<br />

ser empregados para conseguir uma visão completa<br />

de todos os segmentos do ventrículo esquerdo.<br />

A evolução tecnológica, ao incorporar a melhoria<br />

das imagens com harmônicas no doppler<br />

tecidual e suas variáveis: tissue tracking (TT), strain<br />

rate (SR), strain miocárdio (SM) e emprego de<br />

agentes de contraste ultrassônicos tem produzido<br />

um notável avanço na qualidade dos estudos ecocardiográficos,<br />

melhorando sua sensibilidade e<br />

especificidade e valor preditivo 16. A principal<br />

aplicação clínica do strain rate (SR) é a doença<br />

arterial coronária e suas técnicas representam um<br />

importante índice de contratilidade segmentar, e<br />

vão desempenhar função decisiva na ecocardio-<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />

4


grafia, não só na quantificação da função sistólica<br />

regional, mas também na disfunção diastólica e<br />

detecção de miocárdio viável 17. A avaliação da<br />

contratilidade miocárdica pode ser feita das duas<br />

maneiras: sob a forma de uma medida (strain rate<br />

- SR) ou de uma percentagem (strain - SM). No<br />

território alterado pela oclusão de uma artéria<br />

coronária, pode-se encontrar: necrose, infarto<br />

transmural, infarto não transmural, músculo atordoado,<br />

músculo hibernado, músculo protegido<br />

por colaterais. As novas aplicações de SR e SM,<br />

em conjunto com estudo da resposta a doses baixas<br />

de dobutamina, permitem em muitos casos<br />

discriminar qual é a situação anatomofisiológica<br />

predominante.<br />

A ecocardiografia sob estresse pela dobutamina<br />

– atropina é um método para avaliação não<br />

invasiva de pacientes com doença arterial coronariana<br />

(DAC) suspeita ou conhecida. Novos avanços<br />

tecnológicos como Doppler tecidual, a imagem<br />

em segunda harmônica e o uso de agentes de<br />

contraste, juntamente com o desenvolvimento de<br />

imagem digital tem tornado a ecocardiografia sob<br />

estresse em um método de alta reprodutibilidade<br />

para avaliação da DAC.<br />

Kontos et al., em 141 pacientes com diagnóstico<br />

de infarto do miocárdio no serviço de emergência,<br />

realizaram estudos de perfusão miocárdica<br />

com medicina nuclear (tecnésio – 99m) e de<br />

contratilidade com a ecocardiografia bidimensional.<br />

A sensibilidade para diagnóstico de infarto<br />

do miocárdio foi de 91% para a ecocardiografia e<br />

de 89% para a cintilografia. A função sistólica<br />

ventricular esquerda se correlacionou muito bem<br />

com ambos os métodos. Quando o estudo ecocardiográfico<br />

é realizado durante o episódio de dor<br />

precordial, a ausência de alterações contrácteis é<br />

evidência de que não existe isquemia miocárdica<br />

7.<br />

A American College of Cardiology, a American<br />

Heart Association e a American Society of Echocardiography<br />

recomendam o emprego da ecocardiografia<br />

em pacientes com dor torácica nas seguintes<br />

circunstâncias:<br />

1. Diagnóstico da doença cardíaca de base,<br />

em pacientes com dor torácica e evidência clínica<br />

de doenças valvares, pericárdicas e miocárdicas.<br />

2. Avaliação da dor torácica em pacientes<br />

com suspeita de isquemia miocárdica aguda,<br />

Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />

quando o ECG basal e outros marcadores de laboratório<br />

não são diagnósticos.<br />

3. Avaliação de dor torácica em pacientes<br />

com suspeita de dissecção aórtica.<br />

4. Avaliação de pacientes com dor precordial<br />

e instabilidade hemodinâmica, que não respondem<br />

às medidas terapêuticas simples.<br />

Cintilografia de perfusão miocárdica/SPECT<br />

As anormalidades de perfusão regional sugerem<br />

evento isquêmico miocárdico e surgem mais<br />

precocemente quando comparados a alterações<br />

de contratilidade segmentar. Perfusão normal<br />

está associada a baixo risco clínico de DAC, diminuindo<br />

o tempo de observação e as internações na<br />

sala de emergência 18.<br />

O defeito de perfusão indica isquemia aguda,<br />

infarto agudo ou infarto antigo, requerendo avaliação<br />

com os biomarcadores cardíacos.<br />

O emprego da cintilografia miocárdica é limitado<br />

pelo custo elevado, pela demora na sua realização<br />

e baixa disponibilidade na sala de emergência.<br />

Angiotomografia de coronárias- CTA<br />

Diferente de outras técnicas de imagem, a CTA<br />

fornece a imagem da anatomia coronária e isto<br />

tornou-se viável com o advento da TC Multislice.<br />

Apresenta uma especificidade alta e valor preditivo<br />

negativo muito alto para a exclusão de<br />

DAC, embora o valor preditivo positivo não tem<br />

sido tão alto 19.<br />

Poucos estudos existem de análise da CTA em<br />

pacientes de baixo risco na sala de emergência.<br />

Em estudo recente 368 pacientes com dor torácica<br />

aguda foram submetidos a CTA e 31 (8%) apresentavam<br />

síndrome coronariana aguda 20. A sensibilidade<br />

e o valor preditivo negativo da CTA<br />

para síndrome coronariana aguda foram 100%<br />

para ausência de DAC e 77% e 98%, respectivamente,<br />

para estenose coronária significativa 21.<br />

O método não deve ser empregado em pacientes<br />

com arritmias, com insuficiência renal, pacientes<br />

que tem contra indicações ao uso de betabloqueador,<br />

e alérgicos ao contraste.<br />

Recentemente, novas gerações de tomógrafos<br />

obtêm-se o recurso de imagens que englobam a<br />

avaliação das coronárias, aorta e artérias pulmonares,<br />

importante para diagnóstico de dissecção<br />

aórtica e embolia pulmonar 22.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />

5


Maiores estudos são necessários para validação<br />

do uso do método em larga escala, limitado<br />

pelo alto custo e a necessidade de profissionais<br />

habilitados.<br />

Ressonância magnética cardíaca-RMC<br />

O método tem uma qualidade de imagem superior<br />

à maioria dos outros métodos de imagem<br />

não invasivos, permitindo avaliação de perfusão,<br />

função e anormalidades valvulares durante uma<br />

sessão única de imagem, porém quanto às artérias<br />

coronárias é inferior à angiotomografia. (CTA) 23.<br />

Em estudo prospectivo de 161 pacientes, a<br />

RMC apresentou sensibilidade e especificidade<br />

para identificação de síndrome coronariana aguda<br />

em 84% e 85%, respectivamente. Utilizando<br />

RMC de estresse para a avaliação, outro estudo<br />

encontrou uma sensibilidade e especificidade<br />

para identificação de DAC de 96% e 83% respectivamente<br />

24.<br />

As limitações desta técnica são, principalmente,<br />

o custo alto, a disponibilidade dos equipamentos<br />

e o elevado nível de especialização exigido de<br />

técnicos e médicos na interpretação do método.<br />

Considerações finais<br />

O atendimento nas unidades de dor torácica<br />

ou salas de emergências aos pacientes com suspeita<br />

clínica de síndrome coronariana aguda deve<br />

ser feito de forma rápida, eficiente e integrada,<br />

seguindo protocolos bem estruturados para um<br />

diagnóstico preciso, gerando menores custos com<br />

baixa margem de erros.<br />

Na avaliação inicial, baseado na história clínica,<br />

exame físico, eletrocardiografia e análise dos<br />

marcadores de lesão miocárdica, os pacientes são<br />

estratificados em alto, moderado e baixo risco<br />

para DAC. No grupo de pacientes de alto risco<br />

com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio<br />

são encaminhados para angiografia coronária e<br />

terapia de reperfusão.<br />

Neste grupo ainda os pacientes com angina<br />

instável são encaminhados para unidade de terapia<br />

intensiva e se estabilizados são encaminhados<br />

para angiografia coronária programada.<br />

No grupo de pacientes de moderado e baixo<br />

risco, se, na evolução encontram-se estáveis são<br />

encaminhados para propedêutica na busca da<br />

presença da DAC, através de métodos disponíveis<br />

na instituição e de acordo com cada caso,<br />

como ergometria, ecocardiografia, cintilografia<br />

Paiva - Síndrome coronariana aguda<br />

miocárdica, angiotomografia coronária e ressonância<br />

magnética cardíaca.<br />

A ecocardiografia em foco é um método bastante<br />

interessante, presente em grande número de<br />

instituições, relativamente de baixo custo, fornecendo<br />

dados objetivos e conclusivos da presença<br />

da isquemia e necrose miocárdica, através das<br />

alterações segmentares. Avaliando a função sistólica<br />

e diastólica, e as complicações imediatas dos<br />

eventos agudos, bem como no diagnóstico diferencial<br />

das doenças envolvidas na dor torácica.<br />

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Emergency Physicians, the Society for Cardiovascular<br />

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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 01-07<br />

7


Artigo de Revisão<br />

Insuficiência mitral<br />

Mitral Insufficiency<br />

Paulo Casimirov Banof 1 , Márcia Elisa Moro 2 , Cláudia Moro Sandmann 3<br />

O estudo clínico e fisiopatológico das enfermidades que comprometem o funcionamento mecânico da<br />

válvula mitral é complementada com estudo de imagem através do ecocardiograma transtorácico. Mesmo<br />

apresentando limitações na quantificação da gravidade nas modalidades da insuficiência mitral, estenose e<br />

análise das próteses nesta posição, fator essencial na tomada de decisões clínicas a respeito de intervenção<br />

cirúrgica ou procedimento percutâneo. Objetivo deste trabalho é revisar a literatura a respeito da avaliação<br />

ecocardiográfica bidimensional da insuficiência mitral.<br />

Palavras-chave: Insuficiência da Valva Mitral; Coração; Ecocardiografia.<br />

1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />

Ribeirão Preto (EURP)<br />

2 Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)<br />

3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIO-<br />

ESTE - MARECHAL CANDIDO RONDON)<br />

Recebido em 07/11/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />

10/01/2012.<br />

Correspondências para Paulo Casimirov Banof.<br />

Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />

de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />

14020-060.<br />

E-mail: paulobanof@hotmail.com<br />

Fone: (16) 3636-0311<br />

Fax: (16) 3625-1555<br />

Abstract<br />

The study of clinical and pathophysiologic disorders<br />

that compromise the mechanical mitral valve is<br />

complemented with imaging study using transthoracic<br />

echocardiography. Despite presenting limitations in<br />

quantifying the severity in terms of mitral stenosis,<br />

and analysis of the prosthesis in this position, an essential<br />

factor in making clinical decisions about surgical<br />

intervention or percutaneous procedure. The purpose<br />

of this paper is to review the literature on the<br />

two-dimensional echocardiographic evaluation of<br />

mitral regurgitation.<br />

Keywords: Mitral Valve Insufficiency; Echocardiography;<br />

Heart.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13


Introdução<br />

O ecocardiograma é a modalidade de escolha<br />

para a investigação, diagnóstico e o acompanhamento<br />

da insuficiência mitral, da função cardíaca<br />

global. Tem papel primordial no diagnóstico da<br />

insuficiência mitral e determinar sua etiologia<br />

com seu possível tratamento, bem como quantificar<br />

o grau de insuficiência 1. É de extrema importância<br />

determinar através de um exame de imagem<br />

o mais cedo possível alterações que levam ao<br />

comprometimento do funcionamento valvar mitral,<br />

seja em crianças, adulto jovem ou idosos 1.<br />

Apesar de todos esforços em criar um instrumento<br />

biológico ou mecânico que pudesse substituir<br />

a valva mitral nativa, nos deparamos com<br />

obstáculos ainda não solucionados, como a deterioração<br />

da valva biológica por calcificação e a<br />

rotura nas próteses biológicas e o tromboembolismo<br />

nas valvas mecânicas 1.<br />

O presente estudo visa revisar as técnicas ecocardiográficas<br />

que possam contribuir para detecção<br />

dos pacientes portadores de regurgitação valvar<br />

mitral.<br />

Anatomia<br />

O aparelho da valva mitral envolve a cúspide<br />

anterior da valva mitral; átrio esquerdo; cúspides<br />

comissurais da valva mitral; nódulos fibrosos (de<br />

Albini); cúspide posterior da valva mitral, face<br />

ventricular músculo papilar anterior (seccionado);<br />

músculo papilar posterior; músculo papilar ante-<br />

Banof et al. - Insuficiência mitral<br />

rior (seccionado). As alterações presentes em<br />

qualquer dessas estruturas e na geometria ventricular,<br />

na dinâmica de contração das fibras miocárdicas<br />

levam ao comprometimento do correto<br />

funcionamento da estruturas da válvula mitral no<br />

qual ocorre à má coaptação dos folhetos mitrais 1.<br />

Etiologia<br />

A insuficiência mitral é a segunda causa mais<br />

freqüente de valvulopatias, ficando atrás apenas<br />

da estenose aórtica 1. A insuficiência mitral é classificada<br />

de acordo com sua etiologia em primária<br />

ou orgânica, no qual a disfunção do aparato valvar<br />

é a causa primária da insuficiência mitral,<br />

como exemplo a calcificação e retração das cúspides,<br />

rotura das cordoalhas tendíneas, alterações<br />

na elasticidade da válvula, fusão das comissuras.<br />

Entre as principais etiologias orgânicas destacamse<br />

a valvulopatia reumática e a degeneração mixomatosa<br />

associada ao Prolápso da válvula mitral<br />

(PVM) univalvular ou bivalvular. Causas secundárias<br />

ou funcionais, onde o aparato valvar é<br />

estruturalmente normal, porém alterações a nível<br />

do anel mitral e da geometria do ventrículo esquerdo<br />

como na miocardiopatia dilatada culminam<br />

na disfunção da valva. A isquemia da parede<br />

miocárdica ou dos músculos papilares, diretamente<br />

ocasionam insuficiência mitral. A tabela 1<br />

resume os principais mecanismos com seus respectivos<br />

diagnósticos 2.<br />

Tabela 1. Causas de Insuficiência Mitral. Adaptado Solomon et al., 2007 3.<br />

Tipo de insuficiência Mecanismo Diagnóstico<br />

Aguda Estrutural Cordas tendíneas rotas<br />

Disfunção e/ou ruptura de músculo papilar isquêmico<br />

Infecciosa Endocardite bacteriana<br />

Crônica Degenerativa/estrutural Degeneração mixomatosa dos folhetos (Prolápso valva Mitral)<br />

Disfunção de músculo papilar e/ou ruptura com folheto frouxo<br />

Vazamento paravalvar após substituição por valva protética<br />

Calcificação anular mitral<br />

Transtornos do colágeno (Sd.Marfan e Ehlers-Danlos)<br />

Isquêmica e funcional Cardiomiopatia dilatada com dilatação do anel mitral e amarração<br />

apical<br />

Infecciosa Endocardite bacteriana (em valvas cardíacas normais e protéticas)<br />

Inflamatória Transtornos do tecido conjuntivo, como, por exemplo, lúpus eritematoso<br />

sistêmico, esclerodermia.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />

9


<strong>Out</strong>ras causas destacam-se doença cardíaca<br />

reumática, endocardite infecciosa, e causas menos<br />

comuns incluem o trauma, síndrome hipereosinofílica,<br />

uso de algumas drogas, síndrome carcinóide,<br />

as doenças vasculares do colágeno 1.<br />

Durante a diástole, os folhetos mixomatosos<br />

podem ser medidos. Folhetos espessados com<br />

mais de 5mm sustentam o diagnóstico de prolápso<br />

válvula mitral clássico. Prolápso bivalvular é<br />

facilmente visualizado no corte apical quatro câmaras.<br />

Entretanto, o perfil da valva mitral é normalmente<br />

exagerado nesta vista – e pode levar ao<br />

excesso de diagnóstico de prolápso de valva mitral.<br />

Regurgitação mitral grave estava presente 1.<br />

Regurgitação mitral em cardiomiopatia isquêmica.<br />

Isto resulta em amarração (“formação de<br />

tenda”) dos folhetos da valva mitral durante a<br />

sístole ventricular, coaptação prejudicada dos<br />

folhetos e regurgitação mitral . “Formação de<br />

tenda” descreve o fechamento da valva mitral<br />

dentro da cavidade ventricular em vez de ao nível<br />

do plano do anel mitral. A morfologia dos folhetos<br />

da valva é normal, mas a dilatação ventricular<br />

leva ao desvio lateral dos músculos papilares. Isto<br />

causa má coaptação dos folhetos, que tipicamente<br />

é simétrica, e o jato de regurgitação mitral isquêmica<br />

é dirigido centralmente.<br />

Na cardiomiopatia isquêmica dilatada, os três<br />

principais contribuintes impedem a coaptação<br />

normal dos folhetos e regurgitação mitral funcional.<br />

Os folhetos da mitral são morfológicamente<br />

normais.<br />

Fisiopatologia<br />

A dinâmica dos fluidos de uma valva estenótica<br />

é muito semelhante à dinâmica dos fluídos de<br />

uma valva insuficiente, no qual pode apresentar:<br />

“Fluxo turbulento a jusante; Área de convergência<br />

do fluxo proximal; Jato regurgitante de alta<br />

velocidade; Aumento do volume de fluxo anterógrado;<br />

Área do orifício regurgitante” 4.<br />

O orifício regurgitante nada mais é que um jato<br />

laminar de alta velocidade e a equação de Bernoulli<br />

simplificada: ∆P = 4v², determina a velocidade<br />

instantânea desse jato(v) relacionada com a<br />

diferença de pressão instantânea (∆P). O registro<br />

desse jato de alta velocidade com o Doppler contínuo<br />

permite avaliar ao longo do tempo a diferença<br />

de pressão entre o ventrículo esquerdo e o<br />

átrio esquerdo 4.<br />

Banof et al. - Insuficiência mitral<br />

Na face atrial próximo ao orifício regurgitante<br />

da valva mitral observamos a aceleração do fluxo<br />

proximal juntamente a uma área de superfície de<br />

isovelocidade proximal (PISA), no qual é multiplicada<br />

pela velocidade do aliasing e de forma<br />

quantitativa nos fornece o volume regurgitante. Já<br />

o ponto de maior estreitamento do jato regurgitante<br />

é chamado de vena contracta, no qual inicia<br />

logo após o jato regurgitante e o seu diâmetro<br />

reflete a área do orifício regurgitante 4.<br />

O fluxo de sangue regurgitante (jato de alta velocidade)<br />

proveniente do ventrículo esquerdo à<br />

medida que entra no átrio esquerdo, perde a característica<br />

de fluxo laminar e torna-se turbulento,<br />

originando múltiplas velocidades e direções. Fatores<br />

fisiológicos, anatômicos e técnicos podem<br />

fazer com que o tamanho do jato regurgitante<br />

torne-se pouco útil na quantificação da gravidade<br />

da insuficiência mitral (Tabela 2). “A complacência,<br />

o tamanho do átrio esquerdo e a força motriz<br />

produzida pela válvula mitral sobre o fluxo de<br />

sangue através da válvula mitral insuficiente,<br />

afetam a direção e a forma do jato regurgitante” 4.<br />

Tabela 2. Fatores que afetam tamanho e formato<br />

do jato regurgitante. Adaptado de Otto et al.,<br />

20044. Fisiológicos Volume regurgitante<br />

Pressão motriz<br />

Tamanho e formato do orifício regurgitante<br />

Restrição da câmara receptora<br />

Influência da parede<br />

Tempo relativo ao ciclo cardíaco<br />

Influência de jatos ou correntes de<br />

fluxo coexistentes<br />

Técnicos Ganho do ultra-som<br />

Frequência de repetição de pulsos<br />

Frequência do transdutor<br />

Frame rate<br />

Plano de imagem<br />

Profundidade<br />

Força do sinal<br />

Jatos regurgitantes excêntricos se caracterizam<br />

por margear a parede atrial esquerda, e exibir<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />

10


uma área de jato menor ao mapeamento de fluxo<br />

em cores bidimensional, e um volume menor no<br />

tridimensional, devido à soma do volume adjacente<br />

em apenas um lado do jato regurgitante. Ao<br />

contrário do que acontece com os jatos centrais em<br />

que a soma do volume adjacente ocorre em ambos<br />

lados do jato. O jato regurgitante pode ser<br />

direcionado às paredes adjacentes se este apresenta<br />

concomitante a presença do jato regurgitante<br />

aórtico 4.<br />

Quadro Clínico<br />

A insuficiência mitral impõe ao ventrículo esquerdo<br />

uma sobrecarga de volume, o que leva ao<br />

aumento das pressões no interior do átrio esquerdo<br />

e capilar pulmonar, causando sintomas mais<br />

comuns como dispnéia e fadiga. Quando a insuficiência<br />

mitral se impõe de forma crônica no qual<br />

o átrio esquerdo pode adaptar-se ao volume regurgitante<br />

tornando-se complacente, pode ser<br />

assintomática por longos períodos, mesmo na<br />

presença de grande dilatação do ventrículo esquerdo<br />

e também da disfunção do mesmo. Ao<br />

contrário, a instalação aguda na maioria das vezes<br />

é sintomática devido a não complacência da cavidade<br />

atrial esquerda em relação ao grande volume<br />

regurgitante do ventrículo esquerdo, em geral<br />

manifestando-se com edema agudo de pulmões 5.<br />

Banof et al. - Insuficiência mitral<br />

A dilatação atrial esquerda acompanha de alterações<br />

elétricas e anatômicas na qual propiciam o<br />

aparecimento da Fibrilação atrial elevando o risco<br />

de fenômenos tromboembólicos sistêmicos. Sintomas<br />

como dor torácica atípica e palpitações são<br />

freqüentes. Em estágios avançados evolui para<br />

sintomas de insuficiência cardíaca direita, com<br />

edema de membros inferiores, ascite e também<br />

associação com hipertensão pulmonar 5.<br />

Diagnóstico<br />

O ecocardiograma com Doppler o exame fundamental<br />

para avaliação da gravidade da disfunção<br />

valvar e identificação da etiologia (Tabela 3).<br />

A insuficiência valvar pode ser observada através<br />

do mapeamento de fluxo em cores, ou mapeamento<br />

de fluxo pelo Doppler contínuo. As evidências<br />

detectadas através da ecocardiografia 2 D<br />

são apenas indiretas na determinação acerca da<br />

anatomia valvar, da dilatação e a função da câmara.<br />

Evidências de uma valva mitral anatomicamente<br />

anormal acompanhada de dilatação de<br />

câmaras esquerdas, sugerem insuficiência mitral,<br />

porém é necessário o mapeamento Doppler para<br />

confirmar ou excluir o diagnóstico.<br />

Tabela 3. Parâmetros ecográficos quantitativos para classificação da gravidade da insuficiência mitral (IM).<br />

Adaptado de Nicolau, et al. 2010 5.<br />

Gravidade Grau Angiográfico Fração regurgitante(%) EROA (mm²) Largura da Vena Contracta*(cm)<br />

Leve 1 < 30 < 20 < 0,3<br />

Moderada 2 e 3 30 – 50 20 – 40 0,3 - 0,5<br />

Grave 4 >50 >40 > 0,5<br />

EROA: sigla em inglês para área do orifício regurgitante efetivo.<br />

*Largura máxima, medida de múltiplos ângulos, da porção mais estreita do jato regurgitante.<br />

O mapeamento através do Doppler detecta a<br />

insuficiência através da turbulência do fluxo a<br />

jusante ao orifício regurgitante. Seguindo a técnica<br />

adequada e os parâmetros do instrumento estão<br />

adequadamente corrigidos a sensibilidade e a<br />

especificidade encontra-se entre 90 e 99% respectivamente.<br />

Tanto que se detecta uma insuficiência<br />

que não é percebida pela ausculta cardíaca e se<br />

confirma com angiografia num segundo momento<br />

na maioria dos casos 3. O Doppler contínuo<br />

analisa através do orifício regurgitante o jato de<br />

alta velocidade, através da largura do feixe melhor<br />

visualizado através da abordagem apical<br />

quatro câmaras.<br />

A insuficiência mitral encontrada em indivíduos<br />

normais, chamado de fisiológico, é detectada<br />

em uma grande porcentagem de exames. Caracteriza-se<br />

por ser espacialmente restrita a área<br />

imediatamente ao fechamento da valva, de curta<br />

duração e pequeno volume regurgitante. Esse<br />

pequeno grau de insuficiência é normal é sem<br />

repercussão clínica.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />

11


Medidas semiquantitativas são utilizadas para<br />

classificar a insuficiência mitral como discreta,<br />

moderada e importante usando a área do jato em<br />

cores, largura da vena contracta, PHT, fluxo reverso<br />

distal. Medidas quantitativas como volume<br />

regurgitante, fração regurgitante e área do orifício<br />

regurgitante.<br />

O volume regurgitante é o volume de fluxo retrógrado<br />

através da valva, no qual pode ser estimado<br />

através do método de PISA, do fluxo volumétrico<br />

através de uma valva insuficiente e<br />

uma valva competente, do volume de ejeção total<br />

do VE calculado pelo modo bidimensional menos<br />

o volume ejetado anterógrado calculado pelo<br />

Doppler 1.<br />

A fração regurgitante (FR) é FR= VR/VOL total<br />

A área do orifício regurgitante (AOR) é calculada,<br />

utilizando a equação da continuidade, através<br />

do volume regurgitante e da integral tempo<br />

velocidade do jato regurgitante (ITVJR).<br />

VR = AOR X ITVJR<br />

AOR = VR/ITVJR<br />

VR em cm³, ITV JR em cm e AOR em cm²<br />

A vena contracta nada mais é do que o diâmetro<br />

do orifício da insuficiência refletido no diâmetro<br />

mais estreito da corrente do fluxo, com vantagens<br />

de não sofrer alterações provenientes do<br />

fluxo e da pressão direcional e tão pouco é afetada<br />

pelos parâmetros do aparelho 1.<br />

Para se obter a melhor resolução espacial devemos<br />

utilizar um corte em uma profundidade<br />

mínima, setor estreito, em modo zoom e perpendicular<br />

à largura do jato. A ao vena contracta na<br />

regurgitação mitral é fácil e rápido de se estimar<br />

nas janelas-padrão, avalia o tamanho do defeito,<br />

bom estimativa de regurgitação branda e grave,<br />

não é influenciada pela presença de regurgitação<br />

aórtica 1.<br />

A convergência de fluxo proximal é demonstrada<br />

pela dinâmica dos fluídos dentro de um<br />

espaço que convergem para uma saída estreita ou<br />

orifício em áreas de isovelocidade aproximadamente<br />

concêntricas. À medida área de superfície<br />

de isovelocidade proximal revela que o fluxo regurgitante<br />

converge para o orifício regurgitante<br />

mitral, a área de convergência proximal, o tamanho<br />

e a velocidade da área ou hemisfério mais<br />

Banof et al. - Insuficiência mitral<br />

interno podem ser medidos (SCOTT; SOLOMON,<br />

2008, p. 270).<br />

O método da área de superfície de isovelocidade<br />

proximal mostra os fluídos dentro de um<br />

espaço limitado aceleram-se na direção de uma<br />

saída ou orifício em isovelocidades constantes.<br />

Ecocardiografia<br />

A ecocardiografia através do mapeamento de<br />

fluxo em cores da área do jato, e avaliar a gravidade<br />

da regurgitação no interior da câmara receptora.<br />

Pelo menos dois cortes devem ser utilizados<br />

para avaliar o tamanho do jato de fluxo turbulento,<br />

no qual proporciona um índice qualitativo da<br />

gravidade classificado em uma escala: 1) regurgitação<br />

discreta; 2) regurgitação moderada; 3) regurgitação<br />

moderada a grave. O jato da regurgitação<br />

mitral pode ser visto pela janela apical de<br />

quatro câmaras. O Doppler a cores permite visualização<br />

espacial do fluxo sanguíneo dentro do<br />

coração, exibindo as velocidades do fluxo sanguíneo<br />

em termos de faixas de cor.<br />

Rotina do exame ecográfico<br />

Após a preparação do equipamento e do paciente,<br />

iniciamos o exame abordando a janela paraesternal<br />

esquerda a partir desta, é obtido o corte<br />

paraesternal de eixo longo. O exame segue para a<br />

posição apical, no qual se avalia através do Doppler<br />

de fluxo em cores da valva mitral em relação<br />

a regurgitação, seguido Doppler pulsado para as<br />

veias pulmonares comumente para a veia pulmonar<br />

superior direita 3.<br />

O fluxo de entrada no ventrículo esquerdo corresponde<br />

ao fluxo mitral, no qual através do<br />

Doppler pulsado ao nível das extremidades das<br />

vávulas da mitral é usado para determinar a integral<br />

tempo/velocidade. Seguido Doppler contínuo<br />

através da válvula mitral. Na projeção apical<br />

de duas câmaras, com Doppler de fluxo é avaliada<br />

a regurgitação mitral.<br />

Considerações finais<br />

A cardiologia faz uso da ecocardiografia como<br />

uma das principais ferramentas para avaliação<br />

não invasiva do sistema cardiovascular, e um dos<br />

mais importantes exames complementares de<br />

apoio à clínica cardiológica. Acompanhando a<br />

evolução e das novas descobertas disponibilizadas<br />

pela tecnologia, tornou-se um método indispensável<br />

para avaliação da fisiologia e anatomia<br />

cardíacas.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />

12


Ao lado dos sinais vitais, o exame clínico, a radiografia<br />

tórax, o eletrocardiograma, a ecocardiografia<br />

pelas suas característica de baixo custo,<br />

ausência de efeitos colaterais, portabilidade, tornaram<br />

o exame complementar de imagem ecocardiográfica<br />

insubstituível, tanto no ambulatório<br />

ao lado do leito, quanto na emergência.<br />

Capacidade de guiar decisões, disponibilizar<br />

resultados em tempo real, custo-benefício, assegurarão<br />

que a ecocardiografia permanecerá como<br />

primeira escolha na modalidade de imagem cardiovascular.<br />

Banof et al. - Insuficiência mitral<br />

Referências<br />

1. OTTO CM, BONOW RO. Braunwald - Tratado de Doenças<br />

Cardiovasculares: Elsevier; 2009.<br />

2. PEDROTTI CHS, SAMPAIO RO. Condutas práticas em<br />

cardiologia: Insuficiência mitral. In: Manole, ed. São Paulo;<br />

2010:226.<br />

3. SOLOMON SD. Ecocardiografia manual prático. Rio de<br />

Janeiro; 2010.<br />

4. OTTO CM. Fundamentos de ecocardiografia clínica. 3 ed:<br />

Elsevier; 2004.<br />

5. NICOLAU JC. Condutas práticas em cardiologia. 1 ed. São<br />

Paulo: Manole; 2010.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 08-13<br />

13


Artigo Original<br />

Obstrução intestinal pré-natal: correlação com a avaliação<br />

pós-natal<br />

Prenatal bowel obstruction: correlation with postnatal evaluation<br />

Nuno Ricardo Gonçalves Baptista Pereira 1 , Patrícia João Moreira Horta Oliveira 2 , Miguel Pedro da Rocha Branco 1 ,<br />

Joaquim José Rocha Costa Simões de Sá 3 , Raquel Maria Pereira Ortins Pina 4 , Eulália Maria Bento Galhano 1 , José<br />

Agostinho Valentim Barros de Mesquita 1<br />

O principal objetivo deste estudo é caracterizar os achados distintivos do diagnóstico sonográfico da obstrução intestinal<br />

fetal e estabelecer a sua correlação com os achados em pós-natal e resultados neonatais. Métodos: Estudo retrospectivo<br />

com análise dos 13 casos consecutivos com diagnóstico pré-natal de obstrução intestinal fetal, referenciados<br />

ao Centro de Diagnóstico Pré-Natal, entre Janeiro de 2004 e Julho de <strong>2011</strong>. Avaliaram-se os achados na ultrasonografia<br />

pré-natal e analisou-se a sua correlação com os achados em pós-natal. A análise estatística foi efetuada com<br />

o Statistical Package for the Social Sciences 16.0. Resultados: Os achados ultrassonográficos sugestivos de processo<br />

obstrutivo mais frequentes foram: alças dilatadas (11; 84,6%), líquido amniótico aumentado (5; 38,5%), imagem eco<br />

negativa em forma de ferradura/“U” (2; 15,4%) e sinal de “dupla bolha” (1; 7,7%). Em 4 (30,8%) casos surgiram sinais<br />

sugestivos de peritonite meconial. A atresia intestinal representou a principal etiologia de obstrução. Em 10 casos<br />

resultou um nascido-vivo. Todos os recém-nascidos necessitaram de cirurgia. Em 3 casos o casal solicitou interrupção<br />

médica da gestação. Conclusões: Este estudo reforça a importância do diagnóstico pré-natal de obstrução intestinal<br />

permitindo a pesquisa da etiologia subjacente bem como das possíveis condições associadas melhorando o aconselhamento<br />

do casal e possibilitando o encaminhamento para centro de cuidados terciário com planejamento do nascimento.<br />

Palavras-chave: Obstrução intestinal; Feto; Diagnóstico pré-natal: Ultrassonografia.<br />

1Maternidade Bissaya-Barreto, Coimbra, Portugal.<br />

2 Serviço de Cirurgia Pediátrica e Queimados Dr. Matos<br />

Coimbra – Hospital Pediátrico Carmona da Mota, Coimbra,<br />

Portugal.<br />

3 Serviço de Genética Médica – Centro Hospitalar de<br />

Coimbra, Portugal.<br />

4 Serviço de Anatomia Patológica – Centro Hospitalar<br />

de Coimbra, Portugal.<br />

Recebido em 29/11/2012, aceito para publicação em<br />

16/01/2012.<br />

Correspondências para Nuno Ricardo Gonçalves Baptista<br />

Pereira.<br />

Avenida Dr. Armando Gonçalves, 15, apto. 207<br />

CEP 3000-059 – Coimbra, Portugal<br />

E-mail: nunobaptistapereira@gmail.com ou nunobaptistapereira@hotmail.com<br />

Abstract<br />

This study main goal was to characterize ultrasound findings<br />

in fetus with bowel obstruction and it’s correlation with<br />

postnatal evaluation and neonatal outcomes. Methods: Retrospective<br />

analysis of 13 consecutive cases with prenatal<br />

diagnosis of fetal bowel obstruction, referred to the Prenatal<br />

Diagnosis Center, in the period of January 2004 to July <strong>2011</strong>.<br />

We correlated the prenatal ultrasound findings with the<br />

postnatal evaluation. Statistical analysis was performed<br />

using Statistical Package for the Social Sciences 16.0. Results:<br />

The most frequent ultrasound findings suggestive of bowel<br />

obstruction were: dilated bowel loops (11; 84,6%), increased<br />

amniotic fluid (5, 38,5%), horse-shoe/ “U” shaped anechoic<br />

structure (2; 15,4%) and “double bubble” sign (1; 7,7%). In 4<br />

(30,8%) cases there were signs suggestive of meconium peritonitis.<br />

Intestinal atresia was the main cause of obstruction.<br />

In 10 cases a child was born. Surgery was required in all<br />

these cases. In 3 cases the couple chose for termination of<br />

pregnancy. Conclusions: This study strengthens the importance<br />

of prenatal diagnosis of bowel obstruction allowing<br />

diagnostic workup and detection of associated conditions<br />

improving counselling and making feasible for a planned<br />

delivery in a tertiary referral center.<br />

Keywords: Bowel obstruction; Fetus; Prenatal diagnosis;<br />

Ultrasonography.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21


Introdução<br />

Os primeiros detalhes do desenvolvimento<br />

gastrointestinal podem ser identificados através<br />

da ultra-sonografia a partir da sétima semana de<br />

gestação (1). Desta forma a avaliação do trato gastrointestinal<br />

e diagnóstico de anomalias do seu<br />

desenvolvimento é possível desde fases precoces<br />

da gestação.<br />

A obstrução intestinal pode ocorrer em diversas<br />

localizações e, na sua gênese, podemos encontrar<br />

lesões intrínsecas ou extrínsecas. As lesões<br />

intrínsecas dividem-se em atresia ou estenose 2.<br />

A obstrução duodenal ocorre em 1:2500-10000<br />

partos e é responsável por parte dos casos de obstrução<br />

do trato intestinal 3. Vinte a 30% dos casos<br />

de obstrução a este nível devem-se à presença de<br />

pâncreas anular ou mal rotação do intestino delgado<br />

enquanto que os restantes casos têm subjacente<br />

a presença de bandas fibrosas e a atresia<br />

duodenal 4.<br />

A atresia duodenal resulta da falha na vacuolização<br />

do lúmen duodenal, na 11ª semana de gestação,<br />

conduzindo a estenose ou atresia. Tem uma<br />

incidência de 1:5000 nascimentos e tem ocorrência<br />

habitualmente esporádica, tendo sido descritos<br />

casos com transmissão autossômica recessiva.<br />

Numa série de 503 casos foram identificados 13<br />

casos com irmãos afetados 5. Em 50% dos casos<br />

existem anomalias associadas incluindo trissomia<br />

21 em cerca de 40% destes<br />

2, 6.<br />

A obstrução a nível do intestino delgado ou do<br />

intestino grosso tem uma incidência de 1:2000<br />

nascimentos. Em metade dos casos ocorre obstrução<br />

do intestino delgado e nos restantes 50% existe<br />

atresia anorretal. São condições habitualmente<br />

de ocorrência esporádica, no entanto encontramse<br />

casos familiares descritos em situações isoladas<br />

ou de atresia intestinal múltipla. É rara a associação<br />

com outras anomalias ou aneuploidias uma<br />

vez que a gênese da atresia intestinal tem por<br />

base fenômenos de isquemia 2, 6, 7. Os locais mais<br />

frequentes de obstrução do intestino delgado são:<br />

36% no ileo distal, 31% no jejuno proximal, 20%<br />

no jejuno distal e 13% no ileo proximal 4. Em 5-<br />

10% dos casos as obstruções são múltiplas 2, 6, 8. A<br />

este nível anatômico, entre as causas extrínsecas<br />

encontramos: bridas peritoneais, mal rotação com<br />

volvo, ileo meconial (devido a fibrose cística em<br />

mais de 90% das situações) 9 e doença de Hirschprung<br />

(agangliose). No diagnóstico diferencial<br />

devem considerar-se: anomalias do trato renal,<br />

Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />

quistos mesentéricos, quistos de duplicação e<br />

quistos do ovário 2, 6.<br />

A atresia anorretal resulta da divisão anormal<br />

da cloaca na 9ª semana de gestação, e o seu diagnóstico<br />

pré-natal (DPN) é difícil 2, 4.<br />

Em alguns casos de obstrução intestinal ocorre<br />

perfuração intestinal intra-uterina, originando<br />

uma peritonite química denominada peritonite<br />

meconial. Esta entidade tem uma incidência de<br />

1:3000 nascimentos. A maioria (65%) dos casos<br />

ocorre associado a estenose ou atresia intestinal e<br />

ileo meconial, contudo também pode ocorrer em<br />

consequência de volvo intestinal ou divertículo<br />

de Meckel 2, 6.<br />

A doença de Hirschprung tem incidência de<br />

1:3000 nascimentos e caracteriza-se pela ausência<br />

de gânglios do sistema nervoso parassimpático na<br />

parede de segmentos do cólon. Pensa-se que na<br />

sua gênese exista uma anomalia na migração dos<br />

neuroblastos da crista neural para os segmentos<br />

intestinais, entre a 6ª e 12ª semanas de gestação,<br />

ou degenerescência dos neuroblastos migrados. A<br />

agangliose tem habitualmente caráter esporádico<br />

mas 5% dos casos são familiares. Alguns casos<br />

associam-se a trissomia 21 2, 10.<br />

Pelo exposto, o DPN de obstrução intestinal<br />

assume particular relevância uma vez que permite<br />

pesquisar a etiologia subjacente, bem como as<br />

possíveis condições associadas, e estabelecer o<br />

prognóstico. Estes fatores potenciam o aconselhamento<br />

do casal e possibilitam o encaminhamento<br />

para um centro de cuidados terciário com<br />

diminuição da morbimortalidade, uma vez que<br />

permite instituir a terapêutica precocemente (na<br />

sua maioria cirúrgica) reduzindo a taxa de complicações.<br />

O principal objetivo deste estudo é caracterizar<br />

os achados distintivos do diagnóstico sonográfico<br />

da obstrução intestinal fetal e estabelecer a sua<br />

correlação com os achados em pós-natal e resultados<br />

neonatais.<br />

Métodos<br />

Procedeu-se à análise retrospectiva dos 13 casos<br />

consecutivos com DPN de obstrução intestinal<br />

fetal, referenciados ao Centro de Diagnóstico Pré-<br />

Natal (CDPN), entre Janeiro de 2004 e Julho de<br />

<strong>2011</strong>. A pesquisa dos casos foi efetuada com consulta<br />

da base de dados do programa Astraia.<br />

Caracterizou-se a população em estudo relativamente<br />

à idade, raça, gesta, paridade, antecedentes<br />

pessoais e familiares e local de vigilância<br />

da gravidez. Foram ainda avaliados o número de<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />

15


fetos, sexo fetal, idade gestacional da suspeita de<br />

obstrução intestinal, características dos achados<br />

ultrassonográficos, anomalias associadas, estudos<br />

complementares efetuados, atitudes clínicas, idade<br />

gestacional do parto, via de parto, vitalidade<br />

ao nascer e peso do recém-nascido. Nos casos em<br />

que o casal solicitou interrupção médica da gestação<br />

(IMG) analisaram-se os achados da fetologia.<br />

Correlacionaram-se os achados em pré e pósnatal.<br />

Considerou-se prematuridade idade gestacional<br />

inferior a 37 semanas completas; restrição de<br />

crescimento intra-uterino (RCIU) quando o peso<br />

foi inferior ao percentil 10 para a idade gestacional;<br />

a vitalidade ao nascer foi avaliada pelo índice<br />

de Apgar ao 1º, 5º e 10º minuto, e foram considerados<br />

alterados índices inferiores a 7 ao 5º minuto.<br />

As atresias intestinais foram classificadas de<br />

acordo com os seguintes tipos: Tipo I- presença<br />

Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />

de membrana ou diafragma constituído por mucosa<br />

e submucosa; Tipo II- dois segmentos em<br />

fundo de saco unidos por um cordão fibroso; Tipo<br />

IIIa- semelhante ao tipo II mas com brecha no<br />

mesentério; Tipo IIIb- presença de “apple-peel”<br />

(ausência da artéria mesentérica superior para<br />

além do ramo cólico médio, com redução significativa<br />

do comprimento intestinal e defeito largo<br />

no mesentério; o intestino delgado distal assume<br />

configuração helicoidal circundando o único vaso<br />

perfusor); Tipo IV- presença de múltiplas atresias<br />

7.<br />

Foi efetuada a análise estatística descritiva com<br />

o programa Statistical Package for the Social Sciences<br />

(SPSS) versão 16.0 com determinação da<br />

média, desvio-padrão, valor mínimo e máximo<br />

das variáveis numéricas. Nas variáveis categóricas<br />

utilizou-se o teste de proporção simples com<br />

cálculo das frequências.<br />

Tabela 1. Correlação entre a localização da obstrução suspeitada na avaliação pré-natal e verificada em<br />

pós-natal<br />

Pós-natal Duodeno Duodeno + Íleo Jejuno-ileal + Cólon Total<br />

Pré-natal<br />

Intestino delgado<br />

Cólon<br />

Duodeno 1 1<br />

Intestino delgado 1 1<br />

Intestino delgado +<br />

Cólon<br />

3 3<br />

Cólon 1 3 1 1 6<br />

Indeterminado 1 1 2<br />

Total 2 1 7 1 2 13<br />

Valor preditivo positivo de 100% para obstrução no intestino delgado<br />

Valor preditivo positivo de 22,2% para obstrução no cólon<br />

Resultados<br />

A idade média das gestantes foi 29,5±5,6 (23-<br />

41) anos, e todas eram de raça caucasiana. Cinco<br />

(38,5%) casos eram relativos a uma primeira gestação,<br />

Gesta 2 em 5 (38,5%) casos, e Gesta ≥3 em 3<br />

(23,1%) casos. Relativamente à paridade, 6<br />

(46,2%) eram nulíparas, Para 1 em 6 (46,2%) casos<br />

e Para 2 em 1 (7,7%) caso. Dos antecedentes pessoais<br />

das gestantes há apenas a salientar um dos<br />

casos com antecedentes de obstrução intestinal<br />

fetal em gravidez anterior (caso 12); 2 abortos<br />

espontâneos precoces (caso 6); outra com diagnóstico<br />

de heterozigótica para a mutação 20210 da<br />

protrombina (caso 9); e um caso, em que na se-<br />

quência de estudo citogenético do casal por 2 abortos<br />

espontâneos, tinha sido detectado no homem<br />

a t(8;21)(p23.1;q11.2) com risco calculado de<br />

anomalia cromossômica desequilibrada na descendência<br />

avaliado em 13,6% (caso 13). O caso 8<br />

tinha uma sobrinha, com cardiopatia e fenda palatina,<br />

falecida com 1 ano de idade. A história<br />

pessoal das gestantes não revelou exposição a<br />

agentes potencialmente teratogênicos em nenhum<br />

dos casos.<br />

Cinco (38,5%) casos eram provenientes de outras<br />

consultas da nossa instituição, 2 (15,4%) foram<br />

referenciados por outro hospital e 6 (46,1%)<br />

casos eram vigiados em clínica privada. O Caso<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />

16


11 tinha sido orientado para o CDPN às 12,3 semanas<br />

de gestação por rastreio combinado do<br />

primeiro trimestre positivo para trissomia 18.<br />

Em todos os casos tratava-se de gravidez única<br />

e a suspeita de obstrução intestinal fetal ocorreu<br />

em média às 24,7±6,8 (11,9–34) semanas de gestação.<br />

Foi realizado diagnóstico invasivo com amniocentese,<br />

para estudo citogenético, em 9 (69,2%)<br />

casos e nenhum deles revelou alterações do cariótipo.<br />

Em dois casos foi realizado cariótipo após o<br />

nascimento, que não revelou alterações. Quatro<br />

(30,8%) fetos eram do sexo masculino e 9 (69,2%)<br />

do sexo feminino (relação 1:2,25).<br />

O estudo da fibrose cística foi efetuado em 4<br />

(30,8%) casos tendo revelado homozigota para<br />

delta F-508 no caso 1.<br />

Os principais achados ultrassonográficos sugestivos<br />

de processo obstrutivo foram: alças dilatadas<br />

(11; 84,6%), líquido amniótico aumentado<br />

(5; 38,5%), imagem eco negativa em forma de ferradura/“U”<br />

(2; 15,4%) e sinal de “dupla bolha”<br />

(1; 7,7%). Estes achados estão ilustrados na figura<br />

1. Em 4 (30,8%) casos surgiram sinais sugestivos<br />

de peritonite meconial/ perfuração caracterizados<br />

principalmente pela presença de áreas hiperecogênicas<br />

abdominais e, num deles com ascite<br />

concomitante e outro com formação de pseudocisto<br />

meconial.<br />

Relativamente à localização da obstrução, a ultra-sonografia<br />

sugeria o cólon isoladamente em 6<br />

casos (46,1%), cólon e intestino delgado em 3<br />

(23,1%) casos, intestino delgado isoladamente<br />

num (7,7%) caso, duodeno noutro (7,7%) caso e<br />

indeterminado em 2 (15,4%) casos.<br />

Na avaliação pós-natal verificou-se que as obstruções<br />

se localizavam principalmente a nível do<br />

íleo (7; 53,8%); duodeno (2; 15,4%); cólon isoladamente<br />

(2; 15,4%); duodeno e intestino delgado<br />

(1; 7,7%); e jejuno-ileal e cólon (1; 7,7%). A correlação<br />

entre a localização da obstrução suspeitada<br />

em pré-natal e a verificada em pós-natal encontrase<br />

na tabela 1. Em 4 (30,8%) casos foi diagnosticado<br />

peritonite meconial, um dos quais sem suspeita<br />

pré-natal. A atresia intestinal representou a<br />

principal etiologia de obstrução estando presente<br />

em 10 (76,9%) casos. Num destes casos (caso 3) foi<br />

ainda diagnosticado mal rotação com volvo concomitante.<br />

<strong>Out</strong>ro caso (caso 7) apresentava malformação<br />

anorretal complexa com “Pouch-colon”<br />

(cólon encurtado e dilatado, tipo bolsão) e presença<br />

de cloaca, ou seja, com comprometimento<br />

geniturinária concomitante. Em metade dos casos<br />

de atresia estas eram do tipo IV.<br />

Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />

Nos restantes casos a obstrução ficou a deverse<br />

a: ileo meconial (caso 1), doença de Hirschprung<br />

(caso 2) e pâncreas anular (caso 9).<br />

A figura 2 ilustra os achados pré-operatórios<br />

num caso de atresia ileal e num caso de ileo meconial.<br />

A avaliação pré-natal detectou anomalias associadas<br />

em apenas um (7,7%) caso (caso 13).<br />

Em 10 (76,9%) casos resultou um nascido-vivo,<br />

com parto por via vaginal em 5 casos e por cesárea<br />

nos restantes. O parto ocorreu em média às<br />

35,3±3,4 (28,6-39,4) semanas de gestação. Os achados<br />

ecográficos, citogenética, resultados relevantes<br />

de outros estudos realizados, idade gestacional<br />

do parto, co-existência de restrição de crescimento<br />

intra-uterino, e evolução pós-natal especificando<br />

o tipo de cirurgia realizada, achados<br />

operatórios e diagnóstico final destes casos encontram-se<br />

resumidos na tabela 2. No caso 4 a<br />

suspeita de obstrução intestinal ocorreu às 23,4<br />

semanas de gestação contudo foi referenciado ao<br />

CDPN apenas às 36,3 semanas de idade gestacional.<br />

Seis casos (casos: 3, 5, 7, 8, 9 e 10) associaramse<br />

a prematuridade tendo sido efetuada corticoterapia<br />

para maturação pulmonar fetal em 3 deles.<br />

Todos os recém nascidos (RN) tinham Apgar<br />

ao 5º minuto superior a 7, e pesavam em média<br />

2616,9±913,7 (1180-4060) gramas incluindo 3 casos<br />

de RCIU. Todos os RN necessitaram de admissão<br />

em unidade de cuidados intensivos de recémnascidos<br />

(UCIRN). À exceção do caso 2, todos os<br />

RN foram submetidos a cirurgia entre o 1º e o 3º<br />

dia de vida. Dois dos casos necessitaram de reintervenção<br />

cirúrgica.<br />

No caso 2, o RN apresentou quadro de vômitos<br />

biliares com radiografia do abdômen a revelar<br />

níveis hidro-aéreos no primeiro dia de vida mas o<br />

quadro resolveu com terapêutica médica. Por<br />

manter quadro de constipação e distensão abdominal,<br />

foi submetido a biopsias de aspiração retal<br />

no 2º mês de vida tendo sido diagnosticado doença<br />

de Hirschprung. Posteriormente foi submetido<br />

a correção cirúrgica com operação de Duhamel.<br />

Em 3 (23,1%) casos o casal solicitou interrupção<br />

médica da gestação (IMG) que foi realizada<br />

em média às 24,5±8,11 (16,9-33) semanas de gestação.<br />

As características destes casos encontramse<br />

resumidas na tabela 3.<br />

O caso 11 e 12 referem-se apenas a uma paciente<br />

que durante o período de estudo teve duas<br />

gestações com feto afetado por obstrução intestinal.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />

17


A fetologia permitiu identificar malformações<br />

associadas em todos os casos submetidos a IMG.<br />

O caso 11 apresentava atresia da via biliar principal<br />

e vesícula biliar bem como duplicação do intestino<br />

delgado. O caso 12 apresentava hipertelo-<br />

Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />

rismo e pé boto bilateral. No caso 13 co-existia<br />

malformação do sistema nervoso central (SNC), já<br />

suspeitada na avaliação pré-natal.<br />

Figura 1.( a) alças intestinais dilatadas às 36 semanas de gestação - caso 1; (b) sinal de “dupla-bolha” às 34<br />

semanas de gestação - caso 9; (c) e (d) imagem eco negativa em forma de ferradura/”U” descrita às 16 semanas<br />

de gestação (c) caso 11, (d) caso 12.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />

18


Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />

Figura 2. Achados peri-operatórios num caso de atresia ileal (caso 8; à esquerda) e num caso de ileo meconial (caso 1;<br />

à direita).<br />

Discussão<br />

Os avanços tecnológicos e melhor preparação<br />

dos executantes tem promovido uma crescente<br />

acuidade da ultra-sonografia no diagnóstico de<br />

malformações fetais. A detecção pré-natal de obstrução<br />

intestinal é um desses exemplos.<br />

Tipicamente o seu diagnóstico assenta na presença<br />

de dilatação dos órgãos proximais à dilatação<br />

bem como na eventual existência de polihidrâmnios<br />

4.<br />

Este é por exemplo o caso da obstrução duodenal,<br />

na qual o característico sinal de “duplabolha”,<br />

que representa a dilatação do estômago e<br />

duodeno separados pelo piloro, é muitas vezes<br />

acompanhado de polihidrâmnios 2, 4, 6, 8, 9, 10. No<br />

entanto em situações de obstrução mais distal os<br />

achados no exame ultrassonográfico podem ser<br />

mais subtis consistindo apenas na dilatação de<br />

uma alça intestinal isolada sem alterações no volume<br />

de líquido amniótico ou com aumento em<br />

idade gestacional mais avançada 9.<br />

No presente estudo o diagnóstico ocorreu em<br />

média às 24,7±6,8 semanas de gestação, o que está<br />

de acordo com o descrito pela maioria dos autores,<br />

que afirmam que geralmente o diagnóstico é<br />

realizado após as 25 semanas de gestação 2, 6, 9. No<br />

entanto salientamos que em 7 (53,8%) casos (casos:<br />

1, 4, 8, 9, 11, 12 e 13) o diagnóstico foi suspeitado<br />

antes das 24 semanas de gestação. O achado<br />

mais comum no exame ultrassonográfico foi a<br />

presença de alças dilatadas (84,6%), este fato é<br />

consistente com o nível das obstruções uma vez<br />

que, à exceção de 2 casos, todos apresentavam<br />

obstrução distal ao duodeno.<br />

Em dois casos (casos 11 e 12) com atresia duodenal,<br />

ambos relacionados com a mesma gestante,<br />

foi descrita uma estrutura eco negativa em<br />

forma de ferradura/”U” cerca das 16 semanas de<br />

gestação. Em ambos os casos existiam malformações<br />

gastrointestinais associadas (duplicação do<br />

intestino delgado no caso 11; e outras atresias<br />

intestinais no caso 12) impossibilitando estabelecer<br />

uma relação de causalidade entre a existência<br />

desta estrutura e a presença de atresia duodenal.<br />

O único caso com descrição do sinal de “dupla-bolha”<br />

associou-se à presença de pâncreas<br />

anular, um dos diagnósticos diferenciais na obstrução<br />

duodenal amplamente referido na literatura<br />

2, 4, 6, 8, 9.<br />

Relativamente ao volume de líquido amniótico,<br />

este apresentou aumento em 5 (38,5%) casos,<br />

um deles associado a obstrução duodenal e os<br />

restantes a nível do jejuno e íleo. Segundo Paladini<br />

et al na atresia anorretal o volume de líquido<br />

amniótico permanece inalterado, ou pode mesmo<br />

apresentar-se diminuído se a atresia anorretal<br />

estiver associada a fístula reto-vesical 9. Esta observação<br />

foi confirmada num dos casos do estudo<br />

em que uma malformação anorretal (“Pouchcolon”<br />

e cloaca) se associou a anâmnios.<br />

A determinação correta do nível da obstrução<br />

(delgado, cólon) na avaliação ultrassonográfica<br />

pré-natal revelou-se difícil, com apenas 2 (casos: 6<br />

e 7) dos 9 casos (casos: 1, 3, 4, 6, 7, 8, 10, 11 e 13)<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />

19


sugestivos de envolvimento do cólon a serem<br />

confirmados na avaliação pós-natal conferindo<br />

um valor preditivo positivo de apenas 22,2%. No<br />

entanto todos os casos (casos: 3, 4, 10 e 12) que<br />

sugeriam um possível envolvimento do intestino<br />

delgado foram confirmados na avaliação pósnatal<br />

conferindo valor preditivo positivo de<br />

100%, ainda que em 3 (75%) fosse sugerido envolvimento<br />

concomitante do cólon que não foi<br />

confirmado na avaliação pós-natal. Estes dados<br />

são compatíveis com o estudo de Corteville et al<br />

que revelou valor preditivo positivo de 18,3% na<br />

detecção ultrassonográfica de obstrução a nível<br />

do cólon, e sensibilidade de 100% com valor preditivo<br />

positivo de 72,7% na obstrução do intestino<br />

delgado 11. Já a presença do sinal de “duplabolha”<br />

revelou-se específico de obstrução a nível<br />

duodenal (caso 9).<br />

Dos 4 casos (casos: 5, 8, 10 e 11) com aspectos<br />

sugestivos de peritonite meconial/ perfuração<br />

pré-natal, 3 (casos: 5, 8 e 11) foram confirmados,<br />

no entanto existiu um caso com diagnóstico pósnatal<br />

que não tinha sido suspeitado em pré-natal.<br />

Desta forma, neste estudo a ultra-sonografia revelou<br />

sensibilidade de 75% e especificidade de<br />

88,9%, com valor preditivo positivo de 75% e valor<br />

preditivo negativo de 88,9% para este diagnóstico.<br />

Estes dados são comparáveis aos de Kuroda<br />

et al que em 7 casos com suspeita pré-natal de<br />

peritonite meconial, esta foi confirmada em 6 conferindo<br />

valor preditivo positivo de 85,7% 12. Dos<br />

casos de peritonite meconial confirmados na avaliação<br />

pós-natal salienta-se a associação com obstrução<br />

ileal confirmando observações de outros<br />

autores que referem a maior tendência para perfuração<br />

neste local, em contraste com as obstruções<br />

do jejuno, que tendem mais a dilatar 9. Nenhum<br />

dos casos de peritonite meconial se associou<br />

à presença de fibrose cística, contrastando<br />

com incidência de 8-40% descrita na literatura 13.<br />

Relativamente às malformações associadas, estas<br />

tinham sido diagnosticadas em pré-natal apenas<br />

num caso (7,7%). No entanto a avaliação pósnatal<br />

revelou malformações associadas em 4<br />

(30,8%) casos.<br />

Num RN do sexo feminino (caso 7), foi diagnosticada<br />

malformação anorretal complexa com<br />

“Pouch-colon” e cloaca associando desta forma<br />

malformação do sistema geniturinário. Paladini et<br />

al descrevem anomalias associadas em 70-90%<br />

dos casos de atresia anorretal, afetando sobretudo<br />

o sistema geniturinário à semelhança do caso descrito<br />

9.<br />

Pereira et al. - Obstrução intestinal pré-natal<br />

Os outros casos com anomalias associadas foram<br />

aqueles submetidos a IMG.<br />

Um dos casos (caso 11) apresentou atresia da<br />

via biliar principal e vesícula biliar, e duplicação<br />

intestinal associadas a atresia duodenal. No caso<br />

12 o feto tinha hipertelorismo, pé boto bilateral e<br />

outras atresias intestinais em associação com atresia<br />

duodenal. Diversos autores descrevem prevalência<br />

de malformações associadas em 40-50% das<br />

situações de atresia duodenal 2, 6, 7, 8, 9. Entre essas<br />

anomalias encontram-se aquelas relacionadas<br />

com os sistemas gastrointestinal, esquelético (anomalias<br />

vertebrais e das costelas, agenesia do<br />

sacro, anomalias do rádio e pé boto), cardíacas e<br />

renais. A atresia biliar e agenesia da vesícula biliar<br />

tem sido descrita associada à atresia duodenal,<br />

em particular nos casos de atresia dupla 7. A ocorrência<br />

de 2 gestações com feto afetado com atresia<br />

duodenal, na mesma paciente (caso 11 e 12), levanta<br />

a hipótese de síndrome genético, no entanto<br />

não foram encontradas alterações associadas enquadráveis<br />

em síndromes, como por exemplo o<br />

de Feingold<br />

14, 15, 16.<br />

No caso 13 o feto apresentava atresia ileal tipo<br />

IV associada a malformação do SNC. Este tipo de<br />

associação é rara, uma vez que a maioria das atresias<br />

intestinais não se associa a malformações<br />

major<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />

2, 9, 10.<br />

Os 10 casos que resultaram em nascido-vivo<br />

necessitaram de intervenção cirúrgica para correção<br />

da causa de obstrução. Na maioria (80%) existia<br />

uma anomalia anatômica, enquanto que num<br />

caso se tratava de obstrução mecânica intraluminal<br />

pela presença de ileo meconial e noutro<br />

existia um segmento de cólon agangliónico causando<br />

obstrução funcional 8.<br />

O DPN de fibrose cística no caso 1 possibilitou<br />

que, perante o quadro de ileo meconial não complicado,<br />

fosse instituída terapêutica médica com<br />

clister de gastrografina precocemente, que no<br />

entanto não foi suficiente para a resolução do<br />

quadro oclusivo sendo então encaminhado para<br />

terapêutica cirúrgica.<br />

De salientar o caráter transitório das alterações<br />

ultrassonográficas no caso 2, traduzindo a dificuldade<br />

no DPN na maioria de casos de doença<br />

de Hirschprung.<br />

Segundo Shawis et al, a taxa de sobrevivência<br />

após a correção cirúrgica é de 85-90% 8. Esta taxa<br />

depende sobretudo da idade gestacional no parto,<br />

malformações associadas, local da obstrução e<br />

tipo de atresias (pior nos tipos IIIb e IV) 2, 8 ,9. No<br />

nosso estudo a sobrevivência após a cirurgia foi<br />

20


de 100%, apesar da existência de 2 casos nascidos<br />

antes das 32 semanas de gestação, 3 casos com<br />

peritonite meconial e 4 casos com atresia tipo II-<br />

Ib/ IV.<br />

Este estudo reforça a importância do DPN de<br />

obstrução intestinal permitindo realizar a investigação<br />

etiológica e adequar a vigilância da gestação<br />

com controlo ultrassonográfico mais frequente<br />

pesquisando sinais de complicações como a<br />

peritonite meconial. O diagnóstico antecipado<br />

destas situações possibilita ainda, melhor aconselhamento<br />

do casal com envolvimento da equipa<br />

cirúrgica, e o planejamento do nascimento num<br />

centro de cuidados terciário com otimização do<br />

desfecho perinatal.<br />

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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 14-21<br />

21


Artigo de Revisão<br />

Avaliação ultrassonográfica das massas anexiais<br />

Ultrasound evaluation of adnexal masses<br />

Valéria Cristina Nascimento Silva 1 , Francisco Mauad Filho 1<br />

A ultrassonografia continua a ser a principal modalidade de imagem usada para identificar e caracterizar<br />

massas anexiais. A classificação das neoplasias de ovário está baseada em características histológicas. A<br />

predição de malignidade através das características ultrassonográficas incluem a presença de componente<br />

sólido (particularmente se houver fluxo visível nele na avaliação Doppler), septos espessos e ascite. Várias<br />

outras características clínicas de menor utilidade tem sido associadas com malignidade, que incluem o tamanho<br />

da massa, espessura da parede e características da avaliação Doppler através do mapeamento de<br />

fluxo e caracterização das formas de onda. O seguimento com avaliações seguidas de imagem é apropriado<br />

em muitos casos, quando as descobertas com o exame inicial sugerem doença benigna, quando o<br />

diagnóstico é incerto, ou quando há fortes razões para se evitar cirurgia. Para a avaliação complementar<br />

de uma massa anexial, outros estudos de imagem podem ser utilizados, como a ressonância magnética e a<br />

tomografia computadorizada.<br />

Palavras-chave: Anexos Uterinos; Doenças dos Anexos, Medição de Risco; Ultrassonografia.<br />

1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />

Ribeirão Preto (EURP)<br />

Recebido em 15/12/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />

20/01/2012.<br />

Correspondências para Valéria Cristina Nascimento<br />

Silva.<br />

Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />

de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />

14020-060.<br />

E-mail: vcnsilva@hotmail.com<br />

Fone: (16) 3636-0311<br />

Fax: (16) 3625-1555<br />

Abstract<br />

Ultrasound remains the primary imaging modality<br />

used to identify and characterize adnexal masses. The<br />

classification of ovarian neoplasms is based on histological<br />

features. The prediction of malignancy using<br />

the ultrasound characteristics include the presence of<br />

the solid component (particularly if it visible in the<br />

flow Doppler evaluation), thickened septa and ascites.<br />

Various other features of less clinical utility has been<br />

associated with malignancies, including the size of the<br />

mass, wall thickness and characteristics of the Doppler<br />

evaluation by mapping and characterization of the<br />

flow waveforms. The follow-up evaluations followed<br />

with imaging is appropriate in many cases, when the<br />

findings with the initial examination suggest benign<br />

disease, when the diagnosis is uncertain, or when there<br />

are strong reasons to avoid surgery. For further evaluation<br />

of an adnexal mass, other imaging studies can be<br />

used as magnetic resonance imaging and computed<br />

tomography.<br />

Keywords: Adnexa Uteri; Adnexal Diseases; Risk<br />

Assessment; Ultrasonography.<br />

Introdução<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26


A ultrassonografia (US) continua a ser a principal<br />

modalidade de imagem usada para identificar<br />

e caracterizar massas anexiais 1. Embora a<br />

avaliação é muitas vezes destinada a distinguir<br />

massas benignas de malignas, a maioria das<br />

massas anexiais são benignas e cerca de 90% das<br />

massas anexiais podem ser devidamente<br />

caracterizadas com base em suas características<br />

US 2.<br />

O risco de uma mulher desenvolver uma neoplasia<br />

de ovário é de 1 em 71 2. Ao determinar o<br />

risco de malignidade para uma massa anexial<br />

devem ser considerados os fatores que não são<br />

achados de imagem. Estes incluem idade do<br />

paciente, estado menopausal, história pessoal ou<br />

familiar de câncer de mama ou câncer de ovário, e<br />

nivel de CA-125 no soro 2. A idade é um fator<br />

importante na determinação da probabilidade de<br />

câncer, com taxas que aumentam à medida que<br />

avança a idade. Multiparidade e idade precoce<br />

no primeiro parto diminui o risco e história pessoal<br />

ou familiar de câncer de mama ou câncer de<br />

ovário aumenta o risco 3, 4. O prognóstico do câncer<br />

de ovário é associado com os estágios avançados<br />

da doença no momento do diagnóstico . A<br />

experiência coletiva de muitos centros em todo o<br />

mundo proporcionou uma riqueza de informações<br />

que permite a caracterização precisa de cerca<br />

de 90% das massas anexiais com base em suas<br />

características US 5.<br />

Abordagem da massa anexial<br />

Embora muitos médicos estejam<br />

compreensivelmente preocupados com a falha<br />

para detectar um tumor maligno de ovário, é<br />

importante perceber que a maioria das massas<br />

anexiais, particularmente em mulheres na<br />

menopausa, é benigna. Desde o advento da avaliação<br />

ultrassonográfica da pelve feminina, as características<br />

do ovário normal e anormal foram<br />

extensivamente estudadas e os estudos também<br />

investigaram o papel da ultrassonografia como<br />

parte de protocolos de triagem para detecção de<br />

câncer de ovário.<br />

Com a ultrassonografia transvaginal ha uma<br />

melhor visualização do ovário normal, sua função<br />

e tambem dos tumores ovarianos, e muito<br />

trabalho tem sido feito para definir e padronizar<br />

as características do tumor de ovário. O uso da<br />

análise Doppler para mapeamento de fluxo e<br />

caracterização das formas de onda tem sido utili-<br />

Silva & Mauad - Massas anexiais<br />

zado para avaliar neovascularização das neoplasias<br />

de ovário, muitas vezes combinados com<br />

outros marcadores ultrassonográficos. Adequada<br />

caracterização de uma massa anexial é importante<br />

tanto para determinar quais pacientes precisam<br />

de cirurgia e para ajudar a definir o tipo de cirurgia<br />

e se a cirurgia com sub-especialista é necessária.<br />

Várias abordagens para se caracterizar massas<br />

anexiais foram utilizadas, das quais, a abordagem<br />

subjetiva demonstrou ser superior aos outros métodos,<br />

com uma sensibilidade de 88% a 100% e<br />

especificidade de 62% a 96% para predizer malignidade<br />

2. Um objetivo importante da avaliação de<br />

ovário por ultrassom é para determinar as diferenças<br />

entre os achados fisiológicos normais, inflamatórios,<br />

alterações benignas e câncer ovariano.<br />

Características US de massas enexiais<br />

A classificação das neoplasias de ovário está<br />

baseada em características histológicas e, em geral,<br />

as características ultrassonográficas que indicam<br />

malignidade incluem um componente sólido<br />

(particularmente se houver fluxo visível nele na<br />

avaliação Doppler), septos espessos e ascite 6.<br />

Componente sólido<br />

A demonstração ao US de um componente sólido<br />

dentro de uma massa cística (Figura 1) é o<br />

mais importante preditor de malignidade, e inversamente,<br />

malignidade é improvável na ausência<br />

de um componente sólido 2. Terminologias<br />

para descrever o componente sólido variam e<br />

também inclui projeção papilar, excrescência,<br />

vegetação e nódulos. Apesar de um componente<br />

sólido dentro de uma massa cística ser geralmente<br />

um indicador confiável de neoplasia, armadilhas<br />

podem ocasionalmente levar a problemas de<br />

diagnóstico. Sabendo disso, seguimento com US e<br />

Doppler para avaliar fluxos deverão elucidar se a<br />

etiologia da massa é benigna ou maligna 3.<br />

Septos<br />

Septos em uma massa ovariana cística são fortes<br />

evidências de uma neoplasia 3 e são mais propensos<br />

a indicar malignidade se eles são maiores<br />

que 2-3 mm de espessura ou ter fluxo detectável à<br />

US com Doppler. Há também armadilhas relacionadas<br />

aos septos e que também deverão ser diferenciadas<br />

no seguimento com US.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />

23


Ascite<br />

Ascite, um indicador indireto de malignidade,<br />

ocorre quando um tumor peritoneal se espalha e<br />

pode permitir a visão de implantes peritoneais.<br />

Embora uma pequena quantidade de líquido em<br />

fundo de saco posterior é normal em mulheres na<br />

menopausa, um aumento do risco de malignidade<br />

foi relatado quando se mede mais de 15 mm<br />

de dimensão antero-posterior 7. Fluido ascítico<br />

ecogênico pode ocorrer com malignidade, mas<br />

também pode ocorrer com doença benigna como<br />

hemoperitônio de uma ruptura de cisto ou gravidez<br />

ectópica.<br />

<strong>Out</strong>ras características do US<br />

Várias outras características clínicas de menor<br />

utilidade tem sido associadas com malignidade,<br />

que incluem o tamanho da massa, espessura da<br />

parede e características no US com Doppler. Massas<br />

maiores são muitas vezes consideradas mais<br />

suspeitas de malignidade; no entanto, o preditor<br />

mais confiável de malignidade está baseado mais<br />

nas características morfológicas que no tamanho<br />

8). A parede espessada do cisto tem sido descrita<br />

como característica de malignidade, mas tem utilidade<br />

limitada, uma vez que também pode ser<br />

visto em muitas lesões benignas.<br />

Tamanho<br />

O grande tamanho de uma massa ovariana,<br />

que tenha outras caracteristicas semelhantes,<br />

tem sido considerado um fator significativo na<br />

predição de câncer de ovário. Um estudo em mulheres<br />

na pós-menopausa descobriu que os tumores<br />

superiores a 10 cm foram mais propensos a<br />

serem associados com malignidade 9 o que foi<br />

confirmado em outros estudos e as maiores massas<br />

foram associadas a um aumento da probabilidade<br />

de câncer de ovário 4.<br />

Avaliação Doppler<br />

O Doppler pode ser a chave na distinção entre<br />

massas benignas e malignas porque as características<br />

vasculares dentro de uma neoplasia maligna<br />

muitas vezes são diferentes das de um tumor benigno.<br />

Lesões malignas costumam produzir um<br />

aumento significativo no fluxo do Doppler, sinais<br />

secundários para angiogênese 2. O Grupo IOTA<br />

sugeriu o uso de tal avaliação subjetiva semiquantitativa<br />

do fluxo para descrever as características<br />

vasculares das massas de ovário 10. Neopla-<br />

Silva & Mauad - Massas anexiais<br />

sias malignas frequentemente apresentam maior<br />

sinal de fluxo, não só na periferia da massa, como<br />

visto em lesões benignas, mas também nas regiões<br />

centrais da massa, incluindo dentro de septações<br />

e áreas sólidas do tumor. A neovascularização<br />

dentro de neoplasias malignas tem baixo fluxo<br />

de impedância (índice de pulsatilidade < 1,0 e<br />

resistência < 0,4), tempo máximo de velocidade<br />

média alta > 15 cm/s e ausência de uma incisura<br />

diastólica em tais massas 4.<br />

A presença de fluxo aumenta a preocupação<br />

de malignidade, embora muitas neoplasias benignas<br />

também tem fluxo detectável. Se não houver<br />

fluxo detectável em uma área de aparência<br />

sólida, particularmente em uma mulher na prémenopausa,<br />

deve-se considerar a possibilidade de<br />

coágulo em vez de um componente sólido de<br />

verdade 11.<br />

Ultrassom com Doppler colorido é melhor utilizado<br />

em uma modalidade qualitativa para procurar<br />

fluxo dentro de um componente sólido ou<br />

septo 12.<br />

Avaliação das massas anexiais para identificar<br />

malignidade<br />

Num grande número de estudos de US de neoplasias<br />

ovarianas houve o reconhecimento e a<br />

criação de padrões ultrassonográficos para prever<br />

a morfologia do tumor, como definido na escala<br />

de Sassone et al. 13 e refinada pelo International<br />

Ovarian Tumor Analysis (IOTA) Group 10. Tais<br />

padrões ultrassonográficos incluem as composições<br />

cística e sólida do tumor bem como a presença<br />

e o tipo de septações e papilas.<br />

Um objetivo importante da análise das massas<br />

de ovário e massas anexiais é uma tentativa de<br />

identificar entidades não-neoplásicas, tais como<br />

cistos funcionais, doenças inflamatórias e tubárias<br />

ou endometriose. Estas entidades não neoplásicas<br />

são geralmente menores em tamanho e podem<br />

exibir aparências ultrassonográficas clássicas que<br />

são referidos como patognomônicos 10, 13. No entanto,<br />

cada uma dessas entidades pode ter aparências<br />

que imitam processos neoplásicos também.<br />

Uma neoplasia benigna com aparência clássica<br />

mais comum do ovário é o tumor dermóide [figura<br />

3], que devido sua aparência sólida e ecogênica<br />

10, 13 pode ser erroneamente classificado como<br />

tumor suspeito de malignidade como na escala de<br />

Sassone et al.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />

24


Há uma qualificação e quantificação do tumor<br />

se a massa ovariana ou de anexo não se adaptar a<br />

qualquer destas descrições clássicas e recentemente,<br />

membros do Grupo IOTA 14, tem utilizado<br />

esta escala de reconhecimento de padrões qualitativa,<br />

junto com outras características ultrassonográficas<br />

e clínicas, para diferenciar entre tumores<br />

benignos e malignos, em subgrupos específicos.<br />

Sassone et al. 13 desenvolveu uma escala para<br />

tais características morfológicas do ovário,<br />

incluindo a estrutura da parede interior,<br />

espessura da parede, a presença de septos e<br />

ecogenicidade da massa, e foram capazes de<br />

distinguir massas benignas de malignas com<br />

especificidade de 83%, sensibilidade de 100%, e o<br />

valor preditivo positivo e negativo de 37% e<br />

100%, respectivamente. Esse conceito de padrão,<br />

reconhecido desde então, tem sido<br />

repetidamente confirmado, ao estabelecer que a<br />

avaliação subjetiva de escala de cinza e as<br />

características de ultrassom com Doppler é um<br />

excelente método para discriminar entre massas<br />

pélvicas benignas e malignas 4.<br />

Em um grande estudo multicêntrico, o<br />

reconhecimento de padrões foi superior ao do<br />

soro CA-125 no diagnóstico de massas anexiais<br />

benignas e malignas . Mais recentemente, com<br />

base no conceito de reconhecimento de padrões,<br />

sistemas de pontuação foram desenvolvidos para<br />

discriminar de forma mais precisa entre<br />

neoplasias benignas e malignas. Em 1999,<br />

Twickler et al. 4 incorporou a idade do paciente,<br />

volume ovariano, Doppler, velocimetria e<br />

localização de vasos, e predominância ecogênica<br />

da massa (sugestivo de dermóide) com a escala<br />

de morfologia de Sassone et al. para calcular o<br />

índice do tumor de ovário, uma probabilidade<br />

calculada de malignidade com base na<br />

ponderação de cada um dos parâmetros listados.<br />

Uma investigação está também em curso no que<br />

diz respeito ao uso da ultrassonografia na triagem<br />

de câncer de ovário. As considerações<br />

importantes destes modelos incluem o tamanho,<br />

aparência, características de fluxo ao Doppler<br />

colorido e valorização das aparências clássicas<br />

benignas, tais como dos tumores dermóides.<br />

Seguimento pela ultrassonografia<br />

O seguimento com US é apropriado em<br />

muitos casos, quando as descobertas com o<br />

Silva & Mauad - Massas anexiais<br />

exame inicial US sugere doença benigna, quando<br />

o diagnóstico é incerto, ou quando há fortes<br />

razões para evitar cirurgia. Em mulheres prémenopausadas,<br />

muitas massas são cistos<br />

funcionais que vão se resolver espontaneamente<br />

em várias semanas. Isso muitas vezes pede um<br />

seguimento com US por cerca de 6 semanas após<br />

o exame inicial<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />

3, 15.<br />

Mulheres pós-menopausadas com um cisto<br />

ovariano simples com menos de 1 cm podem<br />

deixar de fazer seguimento com US 1. Na pósmenopausa<br />

mulheres com um cisto simples de<br />

ovário maior que 1 cm, mas menor de 5 cm,<br />

geralmente pode ser seguido com o US; embora<br />

seja ideal, o intervalo de seguimento é incerto.<br />

Com curto intervalo de seguimento com US, um<br />

crescimento lento pode ocorrer com uma<br />

neoplasia benigna como um cistoadenoma seroso<br />

e pode não ser visto 3. Desempenho dos US em<br />

cerca de 6 meses parece razoável para o exame<br />

inicial de acompanhamento US 3, com os<br />

intervalos de seguimento ajustado com base no<br />

grau de mudança.<br />

Se a etiologia de uma massa é incerta, mas sua<br />

aparência não é suspeita de malignidade, o seguimento<br />

US também é razoável. Por exemplo,<br />

se uma massa é provavelmente um cisto hemorrágico,<br />

mas também tem características atípicas,<br />

um seguimento com US realizado em 6 semanas<br />

é razoável. Esta é a quantidade de tempo que<br />

permite a resolução da maioria dos cistos e deve<br />

ser feita em um período diferente do ciclo menstrual<br />

de modo que se aparecer qualquer novo<br />

cisto esperamos que tenha uma aparência diferente.<br />

Exame US seriado também pode ser indicado<br />

para seguir o curso de uma lesão benigna<br />

previamente caracterizada como nos casos de<br />

dermóides, endometrioma, hidrossalpinge ou<br />

um cisto de inclusão peritoneal.<br />

Modalidades alternativas de imagem<br />

Para melhor avaliar uma massa anexial, estudos<br />

de imagem adicionais podem ser recomendados.<br />

A ressonância magnética, desde que bem<br />

executada para caracterizar massas anexiais é a<br />

modalidade mais frequentemente usada para<br />

avaliar mais massas anexiais ainda consideradas<br />

indeterminadas no US 7.<br />

TC pode ser capaz de caracterizar massas anexiais<br />

como benignas ou malignas , mas tem um<br />

papel pequeno na rotina de detecção ou caracte-<br />

25


ização de massas anexiais e normalmente não<br />

pode ser tão específica quanto ao tipo de massa<br />

benigna da maneira que o US pode. Sendo assim,<br />

a TC deve geralmente ser reservada para avaliar a<br />

disseminação da malignidade ovariana e pode<br />

ser usada em casos selecionados de suspeita de<br />

abscesso tubo ovariano, uma vez que é superior<br />

ao US para revelar mudanças inflamatórias contínuas<br />

e envolvimento dos órgãos adjacentes 16,<br />

17.<br />

Considerações finais<br />

O US é instrumento imprescindível devido sua<br />

alta sensibilidade e especificidade quando associado<br />

ao Doppler, possibilitando a caracterização<br />

do tumor maligno e diagnóstico diferencial com<br />

processos benignos. Método não invasivo, rápido,<br />

inócuo, reprodutível e eficaz, que direciona a<br />

conduta e o acompanhamento clínico. A maioria<br />

das massas anexiais é benigna e pode ser reconhecida<br />

baseada em características ultrassonográficas.<br />

Muitas vezes, porém, na US o aparecimento<br />

de uma massa ovariana não é patognomônico<br />

e nesses casos indeterminados, há de se estabelecer<br />

modelos de análises baseados em outras<br />

características que também contribuem para definir<br />

o risco de malignidade e incluem questões<br />

clinicas, como idade e histórico de câncer.<br />

Assim, um modelo com vários parâmetros para<br />

a avaliação do risco é apropriado e o modelo<br />

ideal para que seja aceito de modo universal por<br />

radiologistas, ginecologistas e oncologistas, de<br />

fácil aplicação e com interpretações claras do risco<br />

relativo, ainda deve ser desenvolvido e que deverá<br />

ser estabelecido concretamente no futuro.<br />

Referências<br />

1. Liu J, Xu Y, Wang J. Ultrasonography, computed<br />

tomography and magnetic resonance imaging for diagnosis<br />

of ovarian carcinoma. Eur J Radiol 2007;62:(3):328-334.<br />

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3. Patel MD. Practical approach to the adnexal mass. Radiol<br />

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Silva & Mauad - Massas anexiais<br />

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ovarian cancer risk. AJR Am J Roentgenol 2010;194:(2):322-329.<br />

5. Valentin L, Ameye L, Jurkovic D, Metzger U, Lecuru F,<br />

Van Huffel S, et al. Which extrauterine pelvic masses are<br />

difficult to correctly classify as benign or malignant on the<br />

basis of ultrasound findings and is there a way of making a<br />

correct diagnosis? Ultrasound Obstet Gynecol 2006;27:(4):438-<br />

444.<br />

6. Brown DL, Doubilet PM, Miller FH, Frates MC, Laing FC,<br />

DiSalvo DN, et al. Benign and malignant ovarian masses:<br />

selection of the most discriminating gray-scale and Doppler<br />

sonographic features. Radiology 1998;208:(1):103-110.<br />

7. Brown DL, Dudiak KM, Laing FC. Adnexal masses: US<br />

characterization and reporting. Radiology 2010;254:(2):342-<br />

354.<br />

8. Brown DL. A practical approach to the ultrasound<br />

characterization of adnexal masses. Ultrasound Q<br />

2007;23:(2):87-105.<br />

9. Timmerman D, Testa AC, Bourne T, Ameye L, Jurkovic D,<br />

Van Holsbeke C, et al. Simple ultrasound-based rules for the<br />

diagnosis of ovarian cancer. Ultrasound Obstet Gynecol<br />

2008;31:(6):681-690.<br />

10. Timmerman D, Valentin L, Bourne TH, Collins WP,<br />

Verrelst H, Vergote I. Terms, definitions and measurements<br />

to describe the sonographic features of adnexal tumors: a<br />

consensus opinion from the International Ovarian Tumor<br />

Analysis (IOTA) Group. Ultrasound Obstet Gynecol<br />

2000;16:(5):500-505.<br />

11. Alcazar JL, Merce LT, Garcia Manero M. Threedimensional<br />

power Doppler vascular sampling: a new<br />

method for predicting ovarian cancer in vascularized<br />

complex adnexal masses. J Ultrasound Med 2005;24:(5):689-<br />

696.<br />

12. Kinkel K, Hricak H, Lu Y, Tsuda K, Filly RA. US<br />

characterization of ovarian masses: a meta-analysis.<br />

Radiology 2000;217:(3):803-811.<br />

13. Sassone AM, Timor-Tritsch IE, Artner A, Westhoff C,<br />

Warren WB. Transvaginal sonographic characterization of<br />

ovarian disease: evaluation of a new scoring system to<br />

predict ovarian malignancy. Obstet Gynecol 1991;78:(1):70-76.<br />

14. Ameye L, Valentin L, Testa AC, Van Holsbeke C, Domali<br />

E, Van Huffel S, et al. A scoring system to differentiate<br />

malignant from benign masses in specific ultrasound-based<br />

subgroups of adnexal tumors. Ultrasound Obstet Gynecol<br />

2009;33:(1):92-101.<br />

15. Miller JC, Horowitz NS, Thrall JH, Lee SI. Evaluating<br />

adnexal lesions: which need follow-up? J Am Coll Radiol<br />

2007;4:(10):725-729.<br />

16. Horrow MM. Ultrasound of pelvic inflammatory disease.<br />

Ultrasound Q 2004;20:(4):171-179.<br />

17. Zhang J, Mironov S, Hricak H, Ishill NM, Moskowitz CS,<br />

Soslow RA, et al. Characterization of adnexal masses using<br />

feature analysis at contrast-enhanced helical computed<br />

tomography. J Comput Assist Tomogr 2008;32:(4):533-540.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 22-26<br />

26


Artigo de Revisão<br />

Ultrassonografia na gestação complicada por diabetes<br />

mellitus<br />

Ultrasonography in pregnancy complicated by diabetes mellitus<br />

Wilson Ayach 1<br />

A ultrassonografia é método propedêutico fundamental na obstetrícia moderna. Permite a avaliação<br />

qualitativa do concepto e seus anexos e da biometria embrionária e fetal. Os parâmetros ecográficos têm<br />

permitido o cálculo da idade gestacional, avaliação do crescimento fetal, diagnóstico e tratamento de másformações,<br />

avaliação da vitalidade e maturidade fetal. Na gestação complicada pelo diabetes mellitus, fatores<br />

que alteram o crescimento fetal como a hipertensão arterial e a hiperglicemia materna podem estar presentes.<br />

Os dados da biometria fetal podem ser utilizados para cálculo da idade gestacional e sua mensuração<br />

seriada deve ser utilizada para avaliar o crescimento fetal. A avaliação quantitativa e qualitativa da<br />

biometria e morfologia fetal pela ecografia constitui-se, em instrumento valioso na assistência pré-natal em<br />

especial no diagnóstico dos desvios do crescimento fetal, avaliação da maturidade e vitalidade fetal, na<br />

gestação complicada pelo diabetes mellitus.<br />

Palavras-chave: Diabetes Mellitus; Ultrassonografia; Biometria; Desenvolvimento Embrionário e Fetal.<br />

1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />

Ribeirão Preto (EURP)<br />

Recebido em 26/09/<strong>2011</strong>, aceito para publicação em<br />

20/01/2012.<br />

Correspondências para Wilson Ayach.<br />

Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />

de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />

14020-060.<br />

E-mail: wilsonayach@uol.com.br<br />

Fone: (16) 3636-0311<br />

Fax: (16) 3625-1555<br />

Abstract<br />

Ultrasound is essential investigative method in modern<br />

obstetrics. Enables qualitative assessment of the<br />

fetus and its appendices and embryonic and fetal biometry.<br />

The ultrasound parameters have permitted the<br />

calculation of gestational age, fetal growth assessment,<br />

diagnosis and treatment of malformations, assessment<br />

of fetal maturity and vitality. In pregnancy complicated<br />

by diabetes mellitus, factors that affect fetal growth<br />

as maternal hypertension and hyperglycemia may be<br />

present. The data of fetal biometry can be used to calculate<br />

the gestational age and its serial measurement<br />

should be used to assess fetal growth. The quantitative<br />

and qualitative assessment of fetal biometry and morphology<br />

by ultrasound is constituted in useful tool in<br />

prenatal diagnosis in particular the deviations of fetal<br />

growth, maturation and fetal, in pregnancy complicated<br />

by diabetes mellitus.<br />

Keywords: Diabetes Mellitus; Ultrasonography; Biometry;<br />

Embryonic and Fetal Development.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31


Introdução<br />

Ayach - Gestação complicada por diabetes mellitus<br />

A ultrassonografia é método propedêutico<br />

fundamental na obstetrícia moderna. Permite a<br />

avaliação qualitativa do concepto e seus anexos e<br />

da biometria embrionária e fetal. Os parâmetros<br />

ecográficos têm permitido o cálculo da idade gestacional,<br />

avaliação do crescimento fetal, diagnóstico<br />

e tratamento de más-formações, avaliação da<br />

vitalidade e maturidade fetal 1. O crescimento<br />

fetal é o resultado do potencial genético, da oferta<br />

de nutrientes e oxigênio e da regulação endócrina.<br />

Estes fatores determinam a trajetória do crescimento<br />

intra-uterino. A biometria embrionária e<br />

fetal tem sido utilizadas para determinar a idade<br />

gestacional, por isso fatores que influenciam no<br />

crescimento fetal como hiperglicemia e hipertensão<br />

arterial poderiam dificultar a interpretação<br />

dos dados.<br />

Ultrassonografia de primeiro trimestre da<br />

gestação<br />

A ultrassonografia do primeiro trimestre da<br />

gestação tem por finalidade avaliar o útero, o saco<br />

gestacional e marcadores embrionários, que são<br />

utilizados para o cálculo da idade gestacional e<br />

rastreamento de anomalias cromossômicas. Os<br />

principais marcadores do primeiro trimestre são o<br />

diâmetro do saco gestacional (SG), a presença, a<br />

característica e o diâmetro da vesícula vitelínica<br />

(VV), a presença e o número de embriões, o comprimento<br />

crânio-nádegas (CCN), a medida da<br />

translucência nucal (TN), a presença e comprimento<br />

dos ossos nasais (ON) e a doplervelocimetria<br />

do ducto venoso (DV). A presença de fatores<br />

que interferem no crescimento embrionário, como<br />

hipertensão arterial sistêmica e hiperglicemia<br />

poderiam alterar as dimensões e características<br />

destes marcadores e, conseqüentemente, reduzir a<br />

precisão do cálculo da idade gestacional 2. Deste<br />

modo a correlação direta entre a biometria do<br />

embrião e seus anexos e a idade gestacional precisa<br />

ser realizada de modo criterioso, para reduzir<br />

os erros de cálculo do tempo de gestação conseqüentes<br />

aos desvios de crescimento promovidos<br />

pelo estado hemodinâmico e metabólico materno.<br />

É fundamental, portanto, comparar a biometria<br />

embrionária em gestantes diabéticas e não diabéticas.<br />

Saco Gestacional<br />

O saco gestacional pode ser visualizado pela<br />

ultrassonografia transvaginal a partir da quarta<br />

semana de gestação, quando mede cerca de cinco<br />

milímetros. O diâmetro do SG correlaciona-se<br />

com o prognóstico do desenvolvimento embrionário<br />

e pode ser utilizado para o cálculo da idade<br />

gestacional 3. Análise prospectiva comparando o<br />

diâmetro do SG e o prognóstico da gestação demonstrou<br />

que medidas menores que o quinto e<br />

maiores que o 90º percentil relacionam-se a maior<br />

prevalência de aborto espontâneo 4. Por outro<br />

lado, não há até o momento, estudo clínico comparativo<br />

do diâmetro do SG em gestantes diabéticas<br />

e não diabéticas.<br />

Vesícula vitelínica<br />

A avaliação qualitativa e quantitativa de vesícula<br />

vitelínica é utilizada para predição do prognóstico<br />

da gestação. A medida da vesícula vitelínica<br />

correlaciona-se com a idade gestacional. O<br />

diâmetro médio da Vesícula Vitelínica (VV) é<br />

significativamente maior em gestantes com diabetes<br />

mellitus tipo 1 em comparação com gestantes<br />

não diabéticas 5. Dentre as gestantes diabéticas, a<br />

VV é maior nas gestantes com hemoglobina glicosilada<br />

igual ou superior a 6g% 5. A avaliação tridimensional<br />

também demonstrou diâmetros da<br />

VV maiores em gestantes portadoras do diabetes<br />

mellitus tipo 1<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31<br />

6, 7.<br />

Estes achados sugerem que o meio metabólico<br />

influencia o crescimento fetal desde o início da<br />

gestação e, por isso, em gestações de mulheres<br />

diabéticas com data da última menstruação incerta<br />

o cálculo da idade gestacional deve ser feita de<br />

modo criterioso. O volume da VV quando menor<br />

que o quinto e/ou maior que o 90º percentil relaciona-se<br />

a maior prevalência de aborto espontâneo<br />

4, 8. Além disso, o meio interno da vesícula<br />

vitelínica é diferente nas mulheres diabéticas.<br />

Schoenfeld et al. encontraram diâmtero médio da<br />

vesícula vitelínica 1,2 mm maior e níveis de prostaglandinas<br />

significativamente menores em gestantes<br />

diabéticas do tipo 1 quando comparadas a<br />

vesículas vitelínicas de embriões de gestantes não<br />

diabéticas, o que pode explicar a maior prevalência<br />

de más-formações fetais nas gestações complicadas<br />

por esta doença 9.<br />

Translucência Nucal<br />

A medida da translucência nucal (TN) tem sido<br />

utilizada como marcador de doenças genéticas,<br />

de cromossomopatias e cardiopatias. A medida<br />

da TN em fetos sem cromossomopatias demonstrou<br />

que os fetos de mães diabéticas gesta-<br />

28


Ayach - Gestação complicada por diabetes mellitus<br />

cionais e pré-gestacionais têm TN mais espessa<br />

quando comparados aos fetos de gestantes não<br />

diabéticas 10. Kelekci et al. 11 observaram que TN<br />

com dimensão acima do 95º percentil relaciona-se<br />

com desenvolvimento de diabete gestacional e<br />

macrossomia fetal 11, o que não foi confirmado<br />

por Luchi et al. 12, que demonstram não haver<br />

diferença na medida da TN em gestantes que desenvolveram<br />

e que não desenvolveram diabete<br />

gestaciona 12l. A medida da TN também não se<br />

correlaciona com o tempo de evolução do diabetes<br />

mellitus prévio à gestação, dose de insulina e<br />

hemoglobina glicosilada e com o perfil glicêmico<br />

diário 13.<br />

Comprimento crânio-nádegas<br />

Uma das principais medidas realizadas na ultrassonografia<br />

do primeiro trimestre da gestação<br />

é a mensuração do comprimento crânio-nádegas<br />

(CCN). O CCN é o parâmetro da biometria embrionária<br />

que apresenta maior correlação com a<br />

idade gestacional, por ser pouco influenciado por<br />

fatores que interferem no crescimento embrionário<br />

e fetal como hipertensão arterial e hiperglicemia<br />

e por isso tem sido utilizado para datar a gestação<br />

e corrigir eventuais erros que a data da última<br />

menstruação poderia produzir. Entretanto,<br />

El Daouk et al. 14encontraram CCN, mensurado<br />

entre 12 e 13 semanas de gestação por ocasião da<br />

medida de TN, significativamente maior nos fetos<br />

que nasceram grandes para idade gestacional<br />

(62,7 ± 6,0 mm) em comparação aos fetos pequenos<br />

para idade gestacional (58,8 ± 6,9mm) ao nascimento.<br />

Como o estudo foi realizado em gestantes<br />

sem complicações, não se pode inferir sobre a<br />

etiologia desta diferença, mas demonstra que o<br />

CCN é influenciado por fatores constitucionais<br />

que determinarão o tamanho e peso ao nascimento.<br />

O CCN maior que o esperado para idade gestacional<br />

entre 11 e 13 semanas relaciona-se a macrossomia<br />

fetal 15.<br />

Uma alternativa à medida do CCN é a medida<br />

do volume embrionário pela ultrassonografia<br />

tridimensional 16 não encontraram diferença no<br />

volume embrionário em gestações únicas e duplas<br />

e demonstraram boa correlação entre o volume<br />

fetal e a idade gestacional. Não há até o<br />

momento, estudos sobre o volume embrionário<br />

em gestações complicadas pelo diabetes mellitus.<br />

Ultrassonografia obstétrica no segundo e terceiro<br />

trimestres<br />

O crescimento fetal é influenciado pela glicemia<br />

materna e fetal. As possíveis interferências da<br />

glicemia materna no crescimento embrionário<br />

alteram os parâmetros da biometria e podem dificultar<br />

a sua relação com a idade gestacional calculada<br />

pela última menstruação. Mulder et al. 17<br />

observaram padrões distintos de crescimento de<br />

acordo com níveis de glicemia e hemoglobina<br />

glicosilada. Há maior prevalência de macrossomia<br />

quando há níveis elevados destes marcadores.<br />

Apesar destas peculiaridades, a ultrassonografia<br />

tem papel relevante na monitorização do<br />

crescimento fetal em gestantes diabéticas. A mensuração<br />

da biometria fetal de cada segmento corporal,<br />

periodicamente, pode contribuir para o<br />

diagnóstico de desvios de crescimento fetal e para<br />

o aprimoramento do tratamento do diabete na<br />

gestação.<br />

No segundo e terceiro trimestres da gestação,<br />

os parâmetros da biometria fetal podem ser divididos<br />

didaticamente em pólo cefálico, tronco e<br />

ossos longos. No pólo cefálico, destacam-se os<br />

diâmetros bi-parietal e occipito-frontal, a circunferência<br />

craniana, o índice cefálico e a medida do<br />

cerebelo. No tórax, a área cardíaca, a relação entre<br />

as áreas cardíaca e torácica, a ecogenicidade pulmonar<br />

são os mais relevantes. No abdome, merecem<br />

destaque os diâmetros antero-posterior e<br />

transverso e a circunferência abdominal. Por fim,<br />

adquirem importância a medida da diáfise de<br />

ossos longos, dentre os quais, destacamos úmero,<br />

rádio, ulna, fêmur, tíbia e fíbula. A avaliação ecográfica<br />

dos anexos fetais como espessura placentária<br />

e área de secção do cordão umbilical também<br />

podem ser utilizada.<br />

Fetos com tamanho maior do que o esperado<br />

no segundo trimestre da gestação tem maior risco<br />

de macrossomia. Thorsell et al. demonstraram que<br />

a biometria fetal uma semana maior que o esperado<br />

para a idade gestacional aumenta em 59% o<br />

risco do feto nascer com peso igual ou superior a<br />

4000g 2.<br />

O diâmetro biparietal, circunferência abdominal,<br />

peso fetal estimado e peso ao nascimento não<br />

se correlacionam com níveis séricos maternos de<br />

lipídios 18. O diâmetro biparietal e o peso ao nascimento<br />

são maiores nas gestantes com maior<br />

resistência à insulina e menor reserva de células<br />

beta-pancreáticas medidas pelos índices HOMA-<br />

IR e HOMA-B 19.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31<br />

29


Ayach - Gestação complicada por diabetes mellitus<br />

A área de secção transversal do cordão umbilical<br />

é significativamente maior nos fetos macrossômicos<br />

filhos de mulheres diabéticas em comparação<br />

aos filhos de mães não diabéticas e apresenta<br />

boa correlação com peso ao nascimento 20.<br />

Wong et al. 21 observaram que o diâmetro biparietal,<br />

circunferência abdominal e comprimento<br />

do fêmur são maiores nos fetos de gestantes diabéticas<br />

tipo 1 e 2 e dentre estas, são maiores naquelas<br />

com hemoglobina glicosilada elevada,<br />

demonstrando a influência da hiperglicemia materna<br />

no crescimento fetal.<br />

Avaliação do crescimento fetal<br />

A biometria fetal permite, também, o diagnóstico<br />

do crescimento fetal e sua classificação em<br />

simétrico e assimétrico. A discordância entre os<br />

parâmetros caracteriza o crescimento fetal assimétrico.<br />

Dentre estes, destaca-se a medida da circunferência<br />

abdominal (CA), que quando maior que<br />

o esperado para idade gestacional permite o diagnóstico<br />

do crescimento fetal acelerado e, conseqüentemente,<br />

de fetos grandes para idade gestacional.<br />

Medida da CA acima do 90º percentil associado<br />

aos demais parâmetros da biometria<br />

compatíveis com a idade gestacional caracterizam<br />

fetos grandes para idade gestacional assimétricos<br />

1.<br />

Por outro lado, a medida da circunferência abdominal<br />

(CA) menor que o nonagésimo percentil<br />

em dois exames sucessivos relaciona-se com fetos<br />

com peso adequado para idade gestacional ao<br />

nascimento 22. A CA medida pela ultrassonografia<br />

entre 37 e 42 semanas é mais sensível do que a<br />

medida da altura uterina para o rastreamento do<br />

peso do recém-nascido, quando avaliada uma<br />

semana antes do parto 23.<br />

A comparação entre os níveis séricos maternos<br />

de adipponectina, leptina e insulina de jejum e<br />

índice HOMA-IR e a medida do DBP, circunferências,<br />

cefálica e abdominal e pesos estimados e<br />

ao nascimento não demonstrou influencia destas<br />

substâncias no crescimento fetal, o que se deve<br />

provavelmente a maior influencia da glicemia,<br />

insulina e fatores de crescimento fetais no próprio<br />

crescimento 24.<br />

Medida do Líquido Amniótico<br />

A mensuração do líquido amniótico para cálculo<br />

do índice do líquido amniótico (ILA) tem<br />

sido bastante utilizada na assistência pré-natal.<br />

Apesar de confirmar uma associação entre diabe-<br />

tes tipo I da gravidez com o volume de líquido<br />

amniótico, nos estudos mais recentes ainda não<br />

há clareza sobre qual dos parâmetros metabólicos,<br />

materno ou fetal, estariam relacionados com<br />

o ILA. Gestantes diabéticas tipo I apresentam<br />

maiores ILA e níveis séricos de glicose e hemoglobina<br />

glicosilada na mãe e feto em comparação<br />

a gestantes não diabéticas 25. Entretanto, estudos<br />

recentes não demonstram correlação entre a média<br />

glicêmica e o ILA, em gestantes diabéticas<br />

tipo I e II 26. Em mulheres com diabete gestacional,<br />

há correlação entre o nível de glicose do liquido<br />

amniótico, o ILA e o peso do recém nascido<br />

27.<br />

Considerações Finais<br />

Deste modo, a ultrassonografia de segundo e<br />

terceiro trimestres deveria ser utilizada para cálculo<br />

da idade gestacionais somente quando medidas<br />

mais eficientes e precisas como o CCN não<br />

estiverem disponíveis. A biometria fetal isolada<br />

na segunda metade da gestação em gestantes diabéticas<br />

pode induzir erros de cálculo da idade<br />

gestacional e, por isso, deve ser usada com parcimônia.<br />

A biometria fetal seriada no segundo e<br />

terceiro trimestres da gestação permitem, por sua<br />

vez, acompanhar o crescimento fetal e o diagnóstico<br />

mais precoce dos desvios do crescimento.<br />

Além disso, a medida do ILA permite inferir sobre<br />

o controle metabólico materno e fetal e, conseqüentemente,<br />

sobre o crescimento fetal. É, assim,<br />

ferramenta de grande utilidade na assistência<br />

pré-natal da mulher diabética.<br />

Referências<br />

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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 27-31<br />

31


Artigo de Revisão<br />

Avaliação ecocardiográfica do prolapso valvar mitral<br />

Echocardiographic evaluation of mitral valve prolapse<br />

Gisele Oliveira Ribeiro Gomes 1<br />

O Prolapso da valva mitral é caracterizado por alterações degenerativas do tecido valvar. A valva apresenta-se<br />

espessada, com os folhetos redundantes e alongados. O quadro clínico é bastante variável, podendo<br />

ser caracterizado por sintomas inespecíficos como dor toracica atípica, arritmias, tonturas, fadiga entre<br />

outras, ou mesmo pacientes assintomáticos. Diversos critérios foram propostos para o diagnóstico ecocardiográfico<br />

do prolapso da valvar mitral. No início com o modo M, o bidimensional e atualmente, porém<br />

ainda pouco utilizado pelo alto custo, o modo 3D. O objetivo deste trabalho é, através de uma revisão bibliográfica,<br />

determinar os critérios ecocardiográficos mais utilizados para o diagnóstico do prolapso valvar<br />

mitral.<br />

Palavras-chave: Ecocardiografia; Valva Mitral; Prolapso das Valvas Cardíacas.<br />

1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />

Ribeirão Preto (EURP)<br />

Recebido em 19/01/2012, aceito para publicação em<br />

25/02/2012.<br />

Correspondências para Gisele Oliveira Ribeiro Gomes.<br />

Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />

de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />

14020-060.<br />

E-mail: giribeiro@cardiol.br<br />

Fone: (16) 3636-0311<br />

Fax: (16) 3625-1555<br />

Abstract<br />

The mitral valve prolapse is characterized by degenerative<br />

changes of the valve tissue. The valve has thickened,<br />

with elongated and redundant leaflets. The clinical<br />

presentation is highly variable and can be characterized<br />

by nonspecific symptoms such as atypical chest<br />

pain, arrhythmia, dizziness, fatigue, among others, or<br />

even asymptomatic patients. Several criteria have been<br />

proposed for the echocardiographic diagnosis of mitral<br />

valve prolapse. At the beginning with M mode, and<br />

currently the two-dimensional, but still little used by<br />

the high cost, the 3D mode. The objective of this work<br />

is, through a literature review to determine the most<br />

commonly used echocardiographic criteria for diagnosis<br />

of mitral valve prolapse.<br />

Keywords: Echocardiography; Mitral Valve; Heart<br />

Valve Prolapse.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 32-34


Introdução<br />

O prolapso da valva mitral é uma entidade clínica/ecocardiográfica<br />

reconhecida a mais ou menos<br />

50 anos. Foi descrita pela primeira vez em<br />

1963 por John B. Barlow. Clinicamente é caracterizada<br />

por um click sistólico acompanhado ou não<br />

de sopro. Tal patologia era erroneamente atribuído<br />

à cardiopatia reumática. Inicialmente o prolapso<br />

mitral apresentava-se com a patologia valvar<br />

mais frequente, atingindo cerca de 17% da<br />

população assintomática; com a análise ecocardiográfica,<br />

mais recentemente, essa porcentagem<br />

encontra-se em torno de 3% 1. Com o advento da<br />

ecocardiografia, especialmente o bidimensional,<br />

foi possível estabelecer melhor a avaliação anatômica<br />

e funcional da valva mitral.<br />

Ecocardiograficamente é definido como o abaulamento<br />

de estruturas da valva mitral para o<br />

interior do átrio esquerdo durante a sístole ven-<br />

tricular<br />

1, 2.<br />

Deve-se lembrar que diferentes cortes avaliam<br />

porções distintas da valva e que o diagnóstico do<br />

prolapso pode ser realizado em um determinado<br />

corte e não seja visualizado em outros.<br />

Anatomia<br />

O funcionamento adequado da valva mitral<br />

depende de todas as estruturas que formam o<br />

complexo valvar que são: os folhetos, o anel, as<br />

cordoalhas tendíneas, os músculos papilares, o<br />

átrio e o ventrículo esquerdo.<br />

Anatomicamente a valva mitral é composta<br />

por dois folhetos:<br />

• O folheto anterior, aórtico ou septal apresenta<br />

uma pequena área de inserção no<br />

anel mitral (cerca de 1/3 da extensão do<br />

anel) e uma ampla extensão.<br />

• O folheto posterior ou mural tem característica<br />

oposta: com ampla área de inserção<br />

anular (2/3 do anel mitral) e pequena extensão,<br />

fazendo com que tal folheto apresente<br />

uma amplitude de movimento bem<br />

menor quando comparado ao folheto anterior.<br />

Pela classificação de Carpentier de 1983 3 os folhetos<br />

da valva mitral anterior e posterior se<br />

dividem respectivamente em 3 segmentos cada<br />

um (A1, A2, A3 e P1, P2, P3) que se correlacionam<br />

anatomicamente entre si. Nao é raro encontrar<br />

variações anatômicas desse padrão, no entanto,<br />

isso nao se traduz em anomalias valvares 1. Os<br />

Gomes - Prolapso valvar mitral<br />

dois folhetos se separam por duas comissuras:<br />

póstero-medial e anterolateral.<br />

O sistema de sustentação valvar é constituido<br />

pelas cordas tendíneas e os músculos papilares.<br />

Os folhetos são sustentados pelas cordas tendíneas<br />

que são conectadas à face ventricular dos<br />

folhetos e ligadas a dois grupos de músculos papilares<br />

situados bem a baixo das comissuras.<br />

Um fator relevante para a avaliaçao do Prolapso<br />

Mitral é a chamada zona de coaptação, que é a<br />

linha do fechamento valvar, o local onde os folhetos<br />

se encontram quando a valva se fecha.<br />

Aspecto também importante é o anel mitral:<br />

uma estrutura rígida, fibrosa, com as bordas situadas<br />

em diferentes níveis craniocaudais; estrutura<br />

assimétrica e não plana 4.<br />

Etiologia<br />

O prolapso Mitral pode ser 1:<br />

1. Primário: quando é a principal anomalia<br />

da valva, ou<br />

2. Secundário: quando se relaciona a outras<br />

disfunções cardiovasculares, neurohormonais<br />

ou reumáticas.<br />

O prolapso dito primário ou idiopático se apresenta<br />

na maioria dos casos com alterações anátomo<br />

funcionais e alterações degenerativas que<br />

afetam o tecido ocorrendo acometimento mixomatoso<br />

da valva. Apresenta maior incidência familiar<br />

devido a transmissão autossômica dominante.<br />

Os folhetos encontram-se espessados, redundantes,<br />

com saliências (domos) que se projetam<br />

em direção ao átrio esquerdo durante a sístole<br />

ventricular. As cordoalhas são longas, podendo<br />

estar espessadas ou delgadas, sendo a ruptura<br />

uma complicação frequente.<br />

Os portadores do prolapso valvar mitral, são<br />

na grande maioria das vezes asssintomáticos.<br />

Quando apresentam sintomas, esses são bastante<br />

diversos e inespecíficos, tais como, dor precordial,<br />

fadiga, palpitações, dispnéia, entre outros. A evolução<br />

dos pacientes com prolapso mitral é na<br />

maioria das vezes benigna, mas podem ocorrer<br />

complicações graves (insuficiência mitral, acidentes<br />

cérebro- vasculares, arritmias graves e até<br />

morte súbita) 1.<br />

Diagnóstico<br />

Vários critérios foram propostos para o diagnóstico<br />

do prolapso valvar mitral. Inicialmente<br />

era utilizado o Modo M, no qual se observava a<br />

redundância das cúspides, o espessamento dos<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 32-34<br />

33


folhetos e o movimento mesotelesistólico posterior<br />

da valva. 4.<br />

Atualmente, o mais amplamente utilizado é a<br />

ecocardiografia bidimensional 4. Diversos cortes<br />

são utilizados para análise dos componentes da<br />

valva mitral 2.<br />

No corte apical quatro câmaras, são observadas,<br />

com mais facilidade, projeções que simulam<br />

alterações e, portanto a avaliação deve ser mais<br />

criteriosa nesta incidência. Nos cortes longitudinais<br />

(tanto longitudinal paraesternal como longitudinal<br />

apical) tais alterações são menos comuns;<br />

desta maneira, os cortes longitudinais são considerados<br />

mais específicos para o diagnóstico do<br />

Prolapso Valvar Mitral<br />

1, 4.<br />

Define-se o diagnóstico de prolapso mitral no<br />

corte apical quatro câmaras, o movimento superior,<br />

de um ou mais componentes valvares, com<br />

medida superior a 5 (cinco) mm, com relação ao<br />

plano do anel mitral; desde que a borda de coaptação<br />

das cúspides esteja também deslocada no<br />

mesmo sentido e localizada, pelo menos, ao nível<br />

do plano anular 1, 2, 5. Considera-se anormal os<br />

deslocamentos sistólicos posteriores dos componentes<br />

valvares, com relação ao plano do anel<br />

valvar mitral, maiores que 2 (dois) mm nos cortes<br />

longitudinais 1, 5.<br />

Gomes - Prolapso valvar mitral<br />

Considerações finais<br />

O exame ecocardiográfico é considerado padrão<br />

ouro para o diagnóstico do prolapso valvar<br />

mitral, e é correto dizer que o diagnóstico de prolapso<br />

valvar mitral pode ser realizado em qualquer<br />

corte ecocardiográfico (longitudinal paraesternal,<br />

longitudinal apical, quatro câmaras, etc.) 1,<br />

2, 4. É importante também não se esquecer de que<br />

a patologia é também clínica, que há uma incidência<br />

familiar aumentada da doença mixomatosa<br />

mitral e a ecocardiografia deve ser associada às<br />

evidências clínicas da Síndrome de Barlow.<br />

Faz-se necessário lembrar ainda de que em virtude<br />

do anel mitral ser uma estrutura complexa e<br />

tridimensional e da valva mitral ser composta por<br />

diversos segmentos o diagnóstico de prolapso da<br />

valva mitral dependerá do corte ecocardiográfico<br />

no qual se observa a porção anatômica valvar<br />

envolvida no processo da patologia e que isso<br />

ocorre de uma maneira assimétrica 1, 4.<br />

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5. SILVA CES. Ecocardiografia - Princípios e Aplicações Clínicas;<br />

2007.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 32-34<br />

34


Artigo de Revisão<br />

Ultrassonografia e o câncer da tireóide<br />

Ultrasonography and thyroid cancer<br />

Antonio José Ribeiro Filho 1<br />

Esta revisão descreve as características ecográficas dos nódulos da tireóide e o risco de câncer da tireóide.<br />

Os fatores predisponentes à formação de nódulos e suas diferentes formas de se apresentarem à ultrassonografia,<br />

são vistas com ênfase. A ultrassonografia é fácil de executar, disponível para a população brasileira,<br />

não envolve radiação ionizante e é facilmente combinado com citologia aspirativa com agulha fina<br />

(PAAF). Desta forma, a ultrassonografia de alta resolução aliada ao Doppler colorido, torna-se um modelo<br />

satisfatório para avaliação das características específicas e da natureza dos nódulos, enquanto a PAAF ajuda<br />

na precisão do diagnóstico. Este trabalho discute o papel da ultrassonografia no diagnóstico diferencial<br />

dos nódulos suspeitos e a indicação da realização de PAAF.<br />

Palavras-chave: Glândula Tireóide; Nódulo da Glândula Tireóide; Diagnóstico diferencial; Ultrassonografia.<br />

1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />

Ribeirão Preto (EURP)<br />

Recebido em 14/02/2012, aceito para publicação em<br />

25/02/2012.<br />

Correspondências para Antonio José Ribeiro Filho.<br />

Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />

de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />

14020-060.<br />

E-mail: fertily@oi.com.br<br />

Fone: (16) 3636-0311<br />

Fax: (16) 3625-1555<br />

Abstract<br />

This review describes the sonographic features of thyroid<br />

nodules and thyroid cancer risk. Factors predisposing<br />

to the formation of nodules and their different<br />

ways of presenting themselves to the ultrasound, are<br />

viewed with emphasis. Ultrasound is easy to implement,<br />

available for the Brazilian population, involves<br />

no ionizing radiation and is easily combined with fine<br />

needle aspiration cytology (FNAC). Thus, high resolution<br />

ultrasound combined with color Doppler is a suitable<br />

model for evaluation of the specific characteristics<br />

and nature of the nodules as FNAC help the accuracy<br />

of diagnosis. This paper discusses the role of ultrasonography<br />

in the differential diagnosis of suspicious<br />

nodules and the indication of performing FNAC.<br />

Keywords: Thyroid Gland; Thyroid Nodule; Diagnosis,<br />

Differential; Ultrasonography.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40


Introdução<br />

Muitas doenças da tireóide podem se apresentar<br />

clinicamente com um ou mais nódulos tireoidianos.<br />

A detecção de nódulos tornou-se mais<br />

comum com o uso generalizado da ultrassonografia<br />

e apesar de representarem problemas clínicos<br />

comuns e controversos, este método é o principal<br />

suporte para detectar e estabelecer o diagnóstico<br />

diferencial de nódulos, bem como servir de guia<br />

para a punção aspirativa com agulha fina (PAAF).<br />

Estima-se que cerca de 10% dos adultos possuem<br />

nódulos da tireóide palpáveis 1. Estudos epidemiológicos<br />

estimam que a incidência de nódulos<br />

da tireóide varie de 6,5% em estudos de exame<br />

físico e de pelo menos 50% dos estudos patológicos<br />

2, com as mulheres sendo mais frequentemente<br />

afetadas que os homens. A ultrassonografia é<br />

muito mais sensível do que a palpação detectando<br />

nódulos em cerca de 41% da população e 48%<br />

de nódulos adicionais 3. Apesar de a doença tireoidiana<br />

nodular ser relativamente comum, o câncer<br />

tireoidiano é raro e representa menos de 2,5%<br />

de todas as neoplasias malignas 4. A American<br />

Cancer Society estimou mais de 37.000 novos casos<br />

de câncer da tireóide nos Estados Unidos em 2009<br />

e a estimativa de óbitos por câncer de tireóide foi<br />

de apenas 0,2% do total 5. A exposição à radiação<br />

ionizante (importante fator de risco para carcinoma),<br />

deficiência de iodo, tireoidites, múltiplas<br />

síndromes neoplásicas endócrinas e hiperplasia<br />

benigna são as principais causas de formação nodular,<br />

aumentando o risco de câncer da tireóde 4<br />

Novas tecnologias associadas à ultrassonografia<br />

aumentaram a sensibilidade na detecção do<br />

câncer da tireóide. Ainda que a maioria esmagadora<br />

dos nódulos tireoidianos seja benigna, o desafio<br />

clínico é distinguir os poucos nódulos malignos<br />

significativos dos muitos benignos e, assim,<br />

identificar os pacientes em que a excisão cirúrgica<br />

é realmente indicada, desta forma, estudos<br />

ecográficos de imagem e citologia de agulha<br />

fina (PAAF), são as principais ferramentas utilizadas<br />

pelo clínico 6.<br />

História clínica<br />

Pacientes com nódulo na tireóide deve ser avaliado<br />

com história clínica e exame físico completo.<br />

Elementos importantes da história clínica do paciente<br />

que aumentam a probabilidade de malignidade<br />

como radiação, síndromes genéticas, sexo<br />

masculino e achado ecográfico de um nódulo<br />

Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />

hipoecóico deve levar a PAAF, mesmo na ausência<br />

de outras características importantes 4. Assim<br />

como, História de um parente de primeiro grau<br />

com câncer de tireóide deve ser cuidadosamente<br />

avaliada, principalmente ao considerar a ocorrência<br />

de câncer de tireóide familiar não medular.<br />

Câncer da tireóide<br />

A incidência do câncer da tireóide é baixa e,<br />

mesmo surgindo, é considerada indolente 4. Dados<br />

do programa do Instituto Nacional do câncer<br />

(SEER) dos Estados Unidos revelaram que em 20<br />

anos a taxa de sobrevivência foi de 99% para pacientes<br />

com precoce diagnóstico e tratamento para<br />

carcinoma papilífero. Aqueles que não trataram<br />

imediatamente em 20 anos, a taxa de sobrevida<br />

foi de 97% 7. Os achados da literatura levam<br />

a uma seria reflexão, por parte dos especialistas,<br />

quais nódulos de fato devem ser observados ou<br />

abordados cirurgicamente. Discutiremos os achados<br />

ecográficos determinantes para esta orientação.<br />

Estudos de imagem<br />

Imagens nodulares da tireóide podem ser visibilizados<br />

pela TC (tomografia computadorizada)<br />

e por estudos de medicina nuclear 4. Todavia, a<br />

ultrassonografia com o uso de transdutores lineares<br />

de alta frequência (7,5 a 16 MHz) é hoje o método<br />

de imagem de escolha para avaliação dos<br />

nódulos da tireóide 6, muito precisa e sensível<br />

para detectar nódulos, dimensioná-los com precisão,<br />

identificar suas características, pode avaliar<br />

alterações parenquimatosas difusas, ausente de<br />

radiação ionizante, baixo custo, não invasivo,<br />

muito embora limitado em diferenciar tumores<br />

benignos e maligno.<br />

O estudo Power Doppler e Doppler colorido<br />

têm sido amplamente estudados como importantes<br />

coadjuvantes no diagnóstico de nódulo suspeito.<br />

Vários estudos mostraram que nódulos<br />

neoplásicos (adenomas e carcinomas) contêm<br />

sinais importantes de fluxo interno, por outro<br />

lado, nódulos císticos colóides são praticamente<br />

desprovidos de fluxo 8. No entanto, vários estudos<br />

têm demonstrado que índice de resistência<br />

(IR) e velocidade sistólica máxima (MSV) não<br />

devem ser usados como parâmetros únicos para<br />

diferenciar nódulo benigno de maligno 9.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />

36


Características ultrassonográficas dos nódulos<br />

tireoidianos<br />

A nomenclatura nódulo é usada para descrever<br />

uma condição patológica da glândula tireóide<br />

tanto para cistos quanto para massas sólidas. Os<br />

achados mais comuns são nódulos completamente<br />

císticos, podendo estes possuir colóides internos<br />

ou sangue, passando a se chamarem de cistos<br />

colóides e hemorrágicos respectivamente 4. A<br />

maioria dos nódulos sólidos da tireóide são benignos,<br />

chamados de adenomatóides, mas outros<br />

nódulos sólidos também poderão ser encontrados<br />

em Tireoidite de Hashimoto, os chamados hiperplásicos<br />

10. Nódulos sólidos neoplásicos incluem<br />

adenomas foliculares benigno, carcinoma folicular,<br />

adenomas de células hurthle, carcinomas de<br />

células Hurthle, carcinoma papilar, carcinoma<br />

medular, carcinoma anaplásico, linfomas primário<br />

da tireóide e doença metastática 2.<br />

Durante o exame, o ultrassonografista deve<br />

descrever a posição de cada nódulo, suas medidas<br />

(longitudinal, ântero-posterior e transversal),<br />

ecotextura (sólido, misto ou cístico), ecogenicidade<br />

(anecóicas, isoecóicas, hipoecóicas e hiperecóicos),<br />

características das margens e presença de<br />

halo periférico, presença de calcificações internas<br />

(micro ou macro calcificações) e presença de linfonodos<br />

cervical. O achado de múltiplos nódulos<br />

deve ser visto com cautela, onde todos os nódulos<br />

devem ser avaliados quanto suas características<br />

benignas ou malignas 11.<br />

Tamanho do nódulo<br />

A literatura recomenda PAAF em todos os nódulos<br />

sólidos maiores que 1 cm 2. Nódulos menores<br />

de 1 cm podem ser acompanhados anualmente<br />

e ainda que tamanho não seja critério para benigno<br />

ou maligno, porém determina para decisão<br />

de biópsia. A ultrassonografia entra como uma<br />

grande aliada a PAAF em abordar nódulos não<br />

palpáveis e está associada a uma menor taxa de<br />

resultados falso-negativos 12. A PAAF está indicada<br />

também para situações de crescimento do<br />

nódulo, invasão extra capsular e presença de linfonodos<br />

cervicais suspeitos. Pacientes com história<br />

familiar de carcinoma medular ou paciente do<br />

sexo masculino também deve levar a PAAF.<br />

Principais características na abordagem dos<br />

nódulos<br />

A aparência e o tamanho do nódulo são as duas<br />

principais características para decidir se deve<br />

Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />

ser aspirado por agulha fina e o nódulo puramente<br />

cístico é o único achado considerado benigno 4.<br />

Ainda que não haja nenhuma característica totalmente<br />

sensível e específica para o câncer 13, a<br />

combinação de vários fatores dentro de um padrão<br />

estabelecido será fundamental para triagem<br />

destes nódulos 14. Para os nódulos benignos, existem<br />

cinco modelos que tem sido demonstrado<br />

com alta especificidade 15 e para os nódulos suspeitos<br />

abordaremos os padrões ecográficos preocupantes<br />

que sugerem biópsia.<br />

Padrões associados à benignidade<br />

1. Nódulos císticos com ou sem foco ecogênico interno<br />

Nódulos fluidos com menos de 10 mm, solitários<br />

ou múltiplos, são considerados benignos e<br />

acredita-se serem oriundos de hiperplasia nodular<br />

da tireóide levando a cistos colóides 14. Dentro<br />

destes cistos observamos pequenos focos ecogênicos<br />

formando reverberação posterior, conhecidos<br />

como cauda de cometa.<br />

2. Padrão em favo de mel<br />

O padrão de favo de mel aparece como inúmeros<br />

cistos separados por finas septações 14 e não é<br />

considerado neoplásico. Utilizando transdutores<br />

de alta freqüência é possível observar, na imagem<br />

de favo de mel, focos ecogênicos internos e a<br />

maioria são avascular ou pobremente vascular 15.<br />

Estes focos ecogênicos não devem ser confundidos<br />

com micro calcificações, pois apenas correspondem<br />

a conexões das paredes finas dos cistos.<br />

Em um estudo, o aspecto morfológico de favo de<br />

mel foi 100% específico para hiperplasia nodular<br />

benigna 16. Em outro estudo, todos os 210 nódulos<br />

com o aspecto de favo de mel foram benignos e<br />

196 dos 210 nódulos foram lidos como cisto colóide<br />

à luz da histopatologia 15.<br />

3. Inúmeras pequenas nodulações<br />

Grande número de pequenos nódulos hipoecóicos<br />

em todos os lobos, separados por traves<br />

ecogênicas, é outro padrão de benignidade 14,<br />

sendo múltiplos folículos linfóides com envolvimento<br />

fibrótico. Segunda a literatura, este achado<br />

tem 95% de valor preditivo positivo para tireoidite<br />

de Hashimoto 17 e outros como hiperplasia nodular<br />

e adenomas folicular. Porém, 16% dos maiores<br />

nódulos são malignos, usualmente carcinoma<br />

papilífero e raramente linfoma. Sendo, portan-<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />

37


to, uma incidência maior do que a população geral,<br />

devendo ser biopsiados 10.<br />

4. Marcadamente hipercóico<br />

Um nódulo hiperecogênico ao ultrasom é considerado<br />

100% específico para benignidade 15.<br />

Segundo vários autores, embora raros nódulos<br />

malignos serem hiperecóicos, este achado ecográfico<br />

deve pensar em benignidade. Este padrão<br />

pode ser um nódulo colóide ou tireoidite nodular<br />

focal de Hashimoto.<br />

Padrões ultrassonográficos suspeitos de malignidade<br />

1. Nódulos sólidos hipoecóicos com discretos focos<br />

ecogênicos<br />

Mesmo sendo a ultrassonografia o método de<br />

escolha para o estudo de imagem para os nódulos<br />

tireoidianos, não se permite caracterizar um nódulo<br />

com aspecto maligno. Todavia, os achados<br />

ecográficos de hipoecogenicidade, predomínio de<br />

vascularização central à periférica, micro calcificações,<br />

margens irregulares e ausência de halo<br />

são aspectos que têm sido sistematicamente associados<br />

com malignidade.<br />

É consenso na literatura que nódulo hipoecóico<br />

com presença de micro calcificações está intimamente<br />

relacionado ao carcinoma papilífero 14.<br />

Comparando com os demais nódulos da glândula,<br />

é sabido que em 86 a 90% do carcinoma papilífero<br />

estes nódulos são hipoecóicos 18. <strong>Out</strong>ros estudos<br />

mostraram que esta afirmação foi contundente<br />

para pequenos tumores de 8 a 15 mm, demonstrando<br />

que 87% desses tumores foram hipoecóicos<br />

11.<br />

Ainda que hipoecogenicidade isoladamente<br />

não seja específico, pois um grande número de<br />

nódulos benignos têm aparência semelhante, a<br />

combinação com outra característica que tenha<br />

alta especificidade trará um alto padrão para<br />

PAAF.<br />

Especificidade de micro calcificações para malignidade<br />

é de 93 a 97% 11. A sensibilidade é menor,<br />

apenas em 42% dos carcinomas papilíferos<br />

que contem micro calcificações 18, porém o valor<br />

preditivo positivo para micro calcificações tem<br />

sido demonstrado em 70 a 71% 19. Durante a realização<br />

da ultrassonografia, micro calcificações<br />

não são visualizadas, porém ocorrendo agrupamento<br />

com sombra acústica posterior poderão ser<br />

vistos.<br />

Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />

2. Nódulos sólidos hipoecóicos com grosseira calcificação<br />

central<br />

O padrão ecográfico de hipoecogenicidade associado<br />

a grosseira calcificação central, deve recomendar<br />

biópsia aspirativa com agulha fina<br />

(PAAF). Embora este achado possa ser visto em<br />

nódulos císticos em observação, este padrão deve-se<br />

pensar em carcinoma papilífero ou medular<br />

14. A grande maioria deste padrão ecográfico é<br />

carcinoma papilífero, levando em consideração a<br />

raridade do medular (3-5%).<br />

Recomenda-se o cuidado de avaliar ambos os<br />

lobos a busca de nódulos multicêntricos, diante<br />

do achado de calcificação grosseira central. Assim<br />

como, deve existir igual preocupação para carcinoma<br />

medular diante de um nódulo em sexo<br />

masculino. Portanto, a PAAF está recomendada<br />

diante de nódulo hipoecóico com calcificação<br />

grosseira central.<br />

3. Nódulo sólido homogêneo ovalado com cápsula<br />

fina<br />

Estes nódulos sólidos se apresentam com ecotextura<br />

homogênea, são ovais e com fina cápsula.<br />

Tais lesões ainda podem ser isoecóicos, hipoecoicas<br />

ou hiperecoicas 14, sendo portanto difícil definir<br />

benignidade e malignidade.<br />

A literatura descreve hipoecogenicidade, halo<br />

e um maior tamanho do nódulo favoráveis a carcinoma<br />

folicular 20. No entanto, tais características<br />

ainda faltam especificidade e, portanto, a PAAF<br />

deve ser recomendada. A literatura é clara na<br />

indicação de lobectomia ou tireoidectomia diante<br />

de um diagnóstico citológico de lesão folicular,<br />

todavia, a mesma é insuficiente para excluir invasão<br />

vascular ou capsular, sendo estes o fator diferenciador<br />

entre adenoma folicular e carcinoma<br />

folicular (folicular, variante folicular e carcinoma<br />

papilífero).<br />

4. Sombra refratária nas bordas de um nódulo sólido<br />

A sombra refratária ocorre no momento de<br />

dois tecidos com diferentes sons de propagação<br />

de velocidades ao ângulo oblíquo a onda sonora.<br />

Uma sombra refratária na borda de um nódulo<br />

aumenta a possibilidade de ser maligno. <strong>Out</strong>ros<br />

autores descrevem a falta de especificidade para<br />

este achado, bem como, aumento da vascularização<br />

central ou periférica, margens irregulares e<br />

presença ou não de halo pode ser visto em nódulos<br />

benignos ou malignos 4.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />

38


Recomendações das sociedades<br />

Diversas sociedades têm descrito diretrizes para<br />

orientar quando realizar biópsia de nódulo<br />

suspeito de tireóide. As recomendações são baseadas<br />

em diferentes posições conforme investigações<br />

científicas 1. O tamanho do nódulo e suas<br />

características são os pilares para estas orienta-<br />

Ribeiro Filho - Câncer da tireóide<br />

ções. As recomendações da Associação Americana<br />

de Tireóide (ATA) e da Sociedade de radiologistas<br />

em ultrassonografia (SUR) estão resumidas<br />

na tabela 1.<br />

Tabela 1. Diretrizes para recomendações de punção aspirativa por agulha fina(PAAF) de nódulo da tireóide,<br />

critérios para biópsia segundo a Associação Americana de Tireóide (ATA) e Sociedade de Radiologistas<br />

em Ultrassonogafia (SUR).<br />

Tamanho (mm) Recomendação ATA Recomendação SUR<br />

5-10 PAAF se fatores de risco clínico e fatores suspeitos<br />

ultrassonográficos<br />

Nenhuma recomendação<br />

10-15 PAAF se nódulo contém micro calcificações Fortemente considerar PAAF se nódulo contém<br />

ou são sólidos<br />

micro calcificações<br />

15-20 PAAF se nódulo contém micro calcificações, é Fortemente considerar PAAF se nódulos conter<br />

sólido ou é tanto sólido e cístico com fatores micro calcificações ou é sólido com calcificações<br />

suspeitos<br />

grosseiras<br />

>20 PAAF para todos os nódulos com exceção Fortemente considerar PAAF se nódulo contém<br />

para o puramente cístico<br />

micro calcificações, é sólida com calcificações<br />

grosseiras, tanto é sólido e cístico ou é cístico com<br />

nódulo mural ou substancial crescimento<br />

Embora vários cenários não estejam presentes<br />

nesta tabela como o valor do TSH e presença de<br />

vários nódulos similares na glândula, por outro<br />

lado, esta prevê orientações para a maioria dos<br />

nódulos. Conforme orientação da ATA, a PAAF<br />

deve ser realizada se o valor do TSH é elevado ou<br />

normal e outros critérios ecográficos estão presentes.<br />

Assim como, um baixo nível de TSH deve<br />

fazer cintilografia. As recomendações da ATA na<br />

tabela 1 são para nódulos iso ou hipofuncionantes<br />

em pacientes com TSH baixo ou pacientes<br />

TSH normal ou baixo. As duas sociedades recomendam<br />

biópsia de linfonodos anormais à ultrassonografia.<br />

Nenhum dos critérios de orientações já descrito<br />

pelas diversas sociedades é totalmente aceito,<br />

embora vários estudos tenham tentado validar a<br />

eficácia do guidelines. Esta polemica tem sido<br />

principalmente para os pacientes com pequeno<br />

volume de câncer diferenciado da tireóide.<br />

Considerações finais<br />

Nódulo da tireóide é um dos achados patológicos<br />

mais freqüentes da glândula, freqüentemente<br />

pode ser diagnosticada clinicamente, mas mui-<br />

tas vezes os achados clínicos podem ser inconclusivos.<br />

Nestes casos os estudos por imagem associado<br />

a punção por agulha fina guiado pelo ultrasom,<br />

podem ser úteis na conclusão diagnóstica. A<br />

ultrassonografia é um exame de baixo custo e<br />

fácil acesso, quando comparada aos demais métodos<br />

de imagem. Com o advento de equipamentos<br />

de alta resolução, a ultrassonografia se tornou<br />

o método de imagem de primeira escolha nos<br />

casos suspeitos de nódulos ligados ao câncer. O<br />

ultrassonografista deve estar preparado para realizar<br />

um exame que proporcione ao médico assistente,<br />

dados confiáveis para uma tomada de decisões.<br />

Isto somente será possível com os conhecimentos<br />

das novas tecnologias do ultrasom ligado<br />

ao estudo Doppler color e dos critérios ecográficos<br />

utilizados pelas associações competentes. Apesar<br />

de vários consensos terem sido publicados<br />

acerca das características suspeitas de nódulos e<br />

câncer da tireóide, ainda serão necessários outros<br />

estudos apropriados para diferentes regiões ou<br />

países.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />

39


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Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 35-40<br />

40


Artigo de Revisão<br />

Acompanhamento ultrassonográfico de mioma uterino<br />

durante a gestação<br />

Ultrasonography follow-up of uterine leiomyoma during pregnancy<br />

Rebeca Saliba Ferreira Bortone 1<br />

Os tumores benignos mais comuns em mulheres com idade fértil são os leiomiomas uterinos. A incidência<br />

tem aumentado nas últimas décadas como consequência do adiamento da gestação. Apesar de danos<br />

materno-fetais ocorrer apenas em pequena parcela das pacientes, a presença de miomas durante a gestação<br />

pode causar implantação inadequada do embrião, dor, anemia, compressão fetal, restrição de crescimento<br />

fetal, trabalho de parto prematuro e descolamento prematuro de placenta. A literatura sugere seguimento<br />

com ultrassonografia mensal e estudo Doppler iniciando-se na vigésima sexta semana. O objetivo é a avaliação<br />

da circulação feto-placentária e eventual presença de acretismo placentário, a qual é mais comum após<br />

miomectomia. O tratamento ideal da leiomiomatose na gestação é clínico, podendo ser indicada ressecção<br />

apenas se houver dor persistente ao uso de medicação, como em caso de torção de miomas pediculados, ou<br />

se houver sangramento, infecção, degeneração, dor ou retenção urinária em leiomiomas cervicais. Miomectomia<br />

no momento do parto deve ser evitada por aumentar o risco de hemorragia. A detecção de miomatose<br />

uterina ao exame ultrassonográfico na gravidez, deve ser avaliada com muito critério e sempre levando<br />

em conta o quadro clínico de cada paciente.<br />

Palavras-chave: Mioma; Complicações na Gravidez; gravidez, Ultrassonografia.<br />

1 Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de<br />

Ribeirão Preto (EURP)<br />

Recebido em 16/02/2012, aceito para publicação em<br />

28/02/2012.<br />

Correspondências para Rebeca Saliba Ferreira Bortone.<br />

Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro<br />

de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP<br />

14020-060.<br />

E-mail: rebecabortone@bol.com.br<br />

Fone: (16) 3636-0311<br />

Fax: (16) 3625-1555<br />

Abstract<br />

The most common benign tumors in women of childbearing<br />

age are uterine leiomyomas. The incidence has increased in<br />

recent decades as a consequence of postponing pregnancy.<br />

Although maternal-fetal damage occurs only in small number<br />

of patients, the presence of fibroids during pregnancy<br />

can cause poor implantation of the embryo, pain, anemia,<br />

fetal compression, fetal growth restriction, premature labor<br />

and placenta previa. The literature suggests follow-up with<br />

Doppler ultrasound and monthly beginning in the twentysixth<br />

week. The objective is the evaluation of fetal-placental<br />

and possible presence of accretion, which is more common<br />

after myomectomy. The ideal treatment of leiomyomata<br />

during pregnancy is clinical, resection may be indicated only<br />

if there is persistent pain medication, as in the case of torsion<br />

of pedunculated fibroids, or if there is bleeding, infection,<br />

degeneration, pain, or urinary retention in cervical<br />

leiomyomas. Myomectomy at delivery should be avoided to<br />

potentiate the risk of bleeding. The detection of uterine fibroids<br />

by ultrasound in pregnancy should be evaluated with<br />

great care and always taking into account the clinical condition<br />

of each patient.<br />

Keywords: Myoma; Pregnancy Complications; Ultrasonography.<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 41-43


Introdução<br />

Os tumores benignos mais comuns em mulheres<br />

são os leiomiomas uterinos, ocorrendo em 20 a<br />

30% das mulheres em idade reprodutiva, com<br />

incidência ainda incerta na gravidez, variando de<br />

0,1% a 12,5% 1. Sendo assim, na obstetrícia contemporânea,<br />

está cada vez mais comum o manejo<br />

da gestante com miomatose, principalmente pelo<br />

diagnóstico prévio que as futuras gestantes possuem<br />

e tendência crescente do adiamento da gravidez<br />

2.<br />

Modificações do útero miomatoso com a gravidez<br />

Devido à hipertrofia endometrial, maior vascularização<br />

local e alterações dos receptores locais<br />

aos esteróides, há um aumento da possibilidade<br />

de crescimento do leiomioma durante a gravidez.<br />

Por outro lado, outros fatores favorecem a degeneração<br />

desses nódulos como: fatores de crescimento<br />

local, a própria atividade uterina no trabalho<br />

de parto, mecanismos endócrinos relacionados<br />

à lactação (insulina, hormônio lactógenoplacentário<br />

e esteróides), além da involução uterina<br />

no pós-parto retornando à condição circulatória<br />

anterior. A degeneração benigna é a mais<br />

comum (vermelha e hialina). A degeneração sarcomatosa,<br />

maligna e mais temida, felizmente só é<br />

observada em 0,5% dos leiomiomas 3.<br />

Geralmente a literatura tende a subestimar a<br />

prevalência de miomas na gestação e superestimar<br />

as complicações atribuídas a eles. É dominante<br />

a observação na literatura médica que a<br />

maioria dos miomas não apresenta mudança de<br />

volume significativa durante a gravidez, ao contrário<br />

da opinião popular, e aqueles que crescem<br />

tendem a expandir principalmente no primeiro<br />

trimestre 4. Além disso, idade materna avançada,<br />

índice de massa corpórea e paridade estão aparentemente<br />

correlacionados à variação volumétrica<br />

dos miomas na gravidez 5.<br />

Miomas versus infertilidade<br />

O papel do mioma na infertilidade e na implantação<br />

do embrião ainda não está claro. Algumas<br />

teorias são aceitas, como a de que miomas<br />

submucosos causam distorção na cavidade endometrial,<br />

podem alterar o transporte de gametas<br />

e embriões por obstrução dos óstios tubários ou<br />

por alteração da contratilidade uterina, além de<br />

que a compressão endometrial pode prejudicar a<br />

Bortone - Mioma uterino durante a gestação<br />

implantação do embrião. Miomas parecem alterar<br />

a vasculatura uterina por expressão anormal de<br />

fatores angiogênicos e inflamatórios. Fatores envolvidos<br />

no processo de fibrose também poderiam<br />

ter efeito prejudicial 6.<br />

Complicações no curso da gravidez<br />

Gestação com miomatose é de alto risco 7 podendo<br />

causar consequências de gravidade variada.<br />

Os relatos da literatura são conflitantes sobre<br />

as chamadas complicações de miomas na gravidez,<br />

não havendo ainda dados suficientes para o<br />

estabelecimento da estratégia de gestão ideal 2.<br />

Embora a maioria das gestações não seja afetada<br />

pela presença de leiomiomas, temos que ter maior<br />

atenção aos submucosos de grande volume e aos<br />

retroplacentários por se associarem a um risco<br />

aumentado de complicações incluindo a dor (devido<br />

a sua degeneração), sangramento vaginal,<br />

descolamento prematuro de placenta, restrição de<br />

crescimento intra-uterino e trabalho de parto<br />

prematuro 4.<br />

Leiomiomas cervicais aumentam a possibilidade<br />

de cesariana e apresentação anômala 8, sendo<br />

que a apresentação pélvica é a mais comum 7.<br />

A prevalência de miomas cervicais clinicamente<br />

evidentes em uma gravidez é inferior a 1% 9.<br />

Controle no pré-natal<br />

Freqüentes avaliações ultrassonográficas são<br />

necessárias durante a gravidez visando verificar o<br />

número, localização e alteração volumétrica dos<br />

nódulos miomatosos uterinos, assim como estabelecer<br />

se há ou não contato com a placenta 8. O<br />

monitoramento do crescimento fetal deve ser realizado,<br />

atentando para o risco da compressão fetal,<br />

principalmente por leiomiomas submucosos<br />

do corpo uterino 3.<br />

Sugere-se controle ecográfico mensal e, a partir<br />

da vigésima sexta semana, complementação pelo<br />

estudo Doppler com o intuito de não somente<br />

avaliar a circulação feto-placentária, como também<br />

a eventual presença de acretismo placentário,<br />

mais freqüente após miomectomia 3.<br />

Tratamento<br />

A miomectomia na pré-concepção com objetivo<br />

de melhorar o resultado reprodutivo deve ser<br />

considerada individualmente, apenas para aquelas<br />

mulheres com história de perdas gestacionais<br />

recorrentes, com grandes miomas submucosos e<br />

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2012; 4(1): 41-43<br />

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nenhuma outra causa justificável de abortamento<br />

de repetição 4.<br />

Degeneração ou torção do pedículo pode causar<br />

dores. Devemos, sempre que possível, controlar<br />

uma complicação do mioma clinicamente e<br />

considerar sua ressecção no futuro 8. Miomectomia<br />

durante a gestação deve ser reservada para<br />

miomas subserosos ou pediculados com dor não<br />

responsiva à terapia clínica e que estão no primeiro<br />

ou segundo trimestre da gravidez 4. Pode ser<br />

indicada intervenção cirúrgica em leiomioma<br />

cervical se houver sangramento, infecção, degeneração,<br />

dor ou retenção urinária. Exame ultrassonográfico<br />

e ressonância nuclear magnética ajudam<br />

a elucidar a suspeita clínica 9.<br />

Miomectomia no momento do parto está associada<br />

a aumento da morbidade por hemorragia,<br />

devendo ser prosseguida com cautela apenas em<br />

pacientes selecionados 4.<br />

Considerações finais<br />

Embora esteja sedimentada a idéia de que a<br />

leiomiomatose possa trazer complicações na gravidez<br />

em uma pequena parcela dos casos, devemos<br />

na prática clínica, sempre orientar as pacientes<br />

sobre os principais riscos de sua gestação com<br />

o alarde necessário.<br />

A ultrassonografia é um instrumento precioso<br />

para diagnóstico e controle da leiomiomatose e<br />

do crescimento fetal, porém o bom senso deve<br />

Bortone - Mioma uterino durante a gestação<br />

sempre prevalecer. Frente a um achado ultrassonográfico<br />

anormal, é importante avaliar cuidadosamente<br />

se isso seria a explicação para os sintomas<br />

da paciente ou se representaria apenas um<br />

achado incidental 10.<br />

Referências<br />

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poorly understood. Obstet Gynecol Surv 2005;60:(2):132-138.<br />

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Obstet Gynecol <strong>2011</strong>;37:(3):361-365.<br />

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embryo implantation. Semin Reprod Med 2007;25:(6):483-489.<br />

7. Noor S, Fawwad A, Sultana R, Bashir R, Qurat ul a, Jalil H,<br />

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complication. J Ayub Med Coll Abbottabad 2009;21:(4):37-40.<br />

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