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Avisa_la 24_FINAL - Avisala.org

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N o <strong>24</strong> outubro/2005 Revista para a formação de professores de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental<br />

Nos objetos<br />

triviais<br />

crianças e artista<br />

buscam inspiração<br />

ISSN 1806-8340


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

2<br />

O<br />

Instituto <strong>Avisa</strong> Lá é uma<br />

<strong>org</strong>anização não-governamental,<br />

herdeira do currículo,<br />

conhecimento e experiência desenvolvidos<br />

pelo Crechep<strong>la</strong>n desde<br />

1986. A atuação, que teve início<br />

com trabalhos voltados exclusivamente<br />

para Educação Infantil, foi ampliada<br />

para atingir também as séries<br />

iniciais do Ensino Fundamental. O<br />

foco principal é a formação continuada<br />

de educadores.<br />

Missão<br />

Melhorar a qualidade da edu-<br />

cação por meio do desenvolvimento<br />

profissional e pessoal de<br />

educadores e do fortalecimento<br />

do potencial educativo das esco<strong>la</strong>s<br />

e centros educacionais.<br />

Instituto <strong>Avisa</strong> Lá<br />

Diretoria<br />

Marly de Souza Gouvêa<br />

Sonia Dória London<br />

Karen Worcman<br />

Conselheiros<br />

Nahir R. Basbaum<br />

Clice Capelossi Haddad<br />

Helena Maria Ferrari<br />

Marta Gil<br />

Danielle Wolf Baldi<br />

Maria Helena B. C. Rocha<br />

Coordenação Executiva<br />

Silvia Pereira de Carvalho<br />

Coordenação de projetos<br />

Cisele Ortiz<br />

Coordenação dos Formadores<br />

Regina Scarpa<br />

Equipe de Formadores<br />

Adriana Klisys<br />

Ana Benedita G. Brentano<br />

Ana Lúcia Bresciane<br />

Beatriz Bontempi Gouveia<br />

Cecilia V. Hol<strong>la</strong>nd<br />

Clélia Cortez<br />

Cristiana Athayde<br />

Damaris Maranhão<br />

Débora Rana<br />

Denise Nalini<br />

Edi Fonseca<br />

Elza Corsi de Oliveira<br />

Fernando Brandão<br />

Heloísa A. Pacheco<br />

Marcia Cristina da Silva<br />

Marcia Sbrissa<br />

Maria Virgínia Gastaldi<br />

Priscil<strong>la</strong> Monteiro<br />

Silvana Augusto<br />

Simone de Alcântara Pinto<br />

Apoio Administrativo<br />

Andréia dos Santos V. Costa<br />

Joselita Santos Reis<br />

Objetivos<br />

Contribuir para a qualificação<br />

e o desenvolvimento de competências<br />

dos educadores que atuam em<br />

instituições educacionais voltadas<br />

para o atendimento de crianças de<br />

baixa renda.<br />

Oferecer suporte técnico para<br />

<strong>org</strong>anizações não-governamentais,<br />

agências governamentais e<br />

esco<strong>la</strong>s de Educação Infantil e<br />

Ensino Fundamental.<br />

Agir como um centro de produção<br />

de informações e conhecimentos<br />

para educação por meio de<br />

site na Internet e da produção de<br />

vídeos de formação e publicações.<br />

Contribuir para a formu<strong>la</strong>ção<br />

e implementação de políticas públicas<br />

que resultem em uma educação<br />

de maior qualidade.<br />

avisa lá – revista para a formação de<br />

professores de educação infantil e<br />

séries iniciais do ensino fundamental.<br />

Publicação trimestral do Instituto<br />

<strong>Avisa</strong> Lá.<br />

Ano V • n o <strong>24</strong> • Outubro de 2005<br />

ISSN 1806-8340<br />

Conselho Editorial<br />

Aparecida Bento<br />

Heloísa Dantas<br />

Isabel Galvão<br />

Lino de Macedo<br />

Marta Gil<br />

Monique Deheinzelin<br />

Regina Scarpa Leite<br />

Rosa Iavelberg<br />

Telma Weisz<br />

Coordenação Geral e Editoria<br />

Silvia Pereira de Carvalho<br />

Co<strong>la</strong>boradoras<br />

Adriana Klisys<br />

Ana Carolina Carvalho<br />

Assistente de Edição<br />

Vânia Regina Ferreira<br />

Projeto Gráfico e Diagramação<br />

Azul Publicidade<br />

Revisão de Texto<br />

Denise Lotito<br />

Jornalista Responsável (Mtb 027318)<br />

Edição de Textos<br />

Janaina Abreu<br />

Tiragem 2.000 exemp<strong>la</strong>res<br />

Ashoka apóia esta iniciativa<br />

Capa; Trabalhos do artista Carlos Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong> e de alunos do Centro de Convivência Infantil do Inst. Adolfo Lutz<br />

JEITOS DE CUIDAR<br />

Para cada ambiente<br />

um cuidado especial<br />

TEMA EM DESTAQUE<br />

A heterogeneidade<br />

na sa<strong>la</strong><br />

de au<strong>la</strong><br />

10<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

4<br />

O direito à<br />

diferença na<br />

Educação Infantil<br />

12<br />

Uma pirueta, duas piruetas:<br />

Uma seqüência para<br />

crianças peque<br />

14


TEMPO DIDÁTICO 2<br />

Uma casa<br />

para brincar<br />

Gera discussões<br />

ambientais e<br />

soluções matemáticas<br />

as<br />

SUSTANÇA<br />

REFLEXÕES DO FORMADOR<br />

Seções<br />

Recortes<br />

poéticos<br />

O conhecimento didático como<br />

eixo da formação<br />

EDITORIAL . . . . . . . . . . 3<br />

PARABÓLICAS . . . . . . 48<br />

<strong>FINAL</strong>MENTES . . . . . .50<br />

27<br />

34<br />

42<br />

AO LEITOR<br />

Neste momento em que passamos por grave<br />

crise política é importante não perder a esperança<br />

de que o País irá vencer um dia a corrupção.<br />

Apesar do enorme desalento com nossos governantes,<br />

temos que seguir confiando que uma educação<br />

de qualidade é ferramenta imprescindível<br />

para eleger representantes cada vez mais confiáveis,<br />

honestos e dedicados ao bem comum. Co<strong>la</strong>borando<br />

para vencer o desânimo e fortalecer nossa crença<br />

no futuro, e<strong>la</strong>boramos uma revista na qual artistas,<br />

crianças e professores brindam-nos com be<strong>la</strong>s e poderosas<br />

produções.<br />

Como precisamos reinventar o Brasil, nada<br />

melhor que a arte e a poesia para inspirar-nos. A<br />

poesia tem a ver com a autoria, com criação e invenção.<br />

Como disse Pablo Neruda “Ser poeta é ser<br />

capaz de olhar as coisas”. Um olhar que vê os objetos<br />

e sentimentos de outro jeito e descobre novos<br />

significados. Um artista de Curitiba (PR) e as<br />

crianças de uma creche em São Paulo olham para<br />

um objeto trivial, a bicicleta, e a interpretam de<br />

maneira poética. Uma prova de que o ser humano<br />

tem uma ilimitada capacidade de criar mesmo a<br />

partir de um cotidiano simples.<br />

Por outro <strong>la</strong>do, todos os artigos destacam também<br />

a importância do papel da esco<strong>la</strong>, da ação do<br />

professor em busca de estabelecer as melhores conexões<br />

entre a cultura e a aprendizagem das crianças.<br />

A produção artística presente nas esco<strong>la</strong>s, pe<strong>la</strong>s<br />

mãos de um professor sensível, informado e pedagogicamente<br />

competente torna as crianças produtoras<br />

de novos conhecimentos e habilidades.<br />

É assim no artigo sobre o circo, que destaca<br />

o movimento como área de trabalho, no Recortes<br />

Poéticos, e no texto sobre resenhas informativas.<br />

Em todos eles a cultura é sementeira onde as aprendizagens<br />

germinam.<br />

Temos ainda duas boas contribuições sobre o<br />

tema da inclusão apontado pelos professores como<br />

um dos que necessita cada vez mais de informações.<br />

Na sociedade contemporânea, incluir a todos não<br />

é mais uma ação só de especialistas, mas uma obrigação<br />

de todo o cidadão.<br />

Como vocês verão, há muita coisa sendo feita.<br />

Portanto, não vamos desanimar, vamos recriar o<br />

País reinventando nossas crenças, olhando de outro<br />

modo o dia-a-dia.<br />

Um grande abraço,<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

3


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

4<br />

JEITOS DE CUIDAR<br />

Para cada ambiente um<br />

cuidado especial<br />

POR DAMARIS MARANHÃO 1 E ELZA CORSI 2<br />

A OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DOS ESPAÇOS E ATIVIDA-<br />

DES DESENVOLVIDAS EM CENTROS DE EDUCAÇÃO<br />

INFANTIL PERMITEM A IDENTIFICAÇÃO DE PROBLE-<br />

MAS E SOLUÇÕES PARA EVITAR DISSEMINAÇÃO DAS<br />

DOENÇAS MAIS FREQÜENTES ENTRE CRIANÇAS E PRO-<br />

FISSIONAIS QUE CONVIVEM NESSES AMBIENTES<br />

Quando as famílias procuram um Centro<br />

de Educação Infantil (CEI), buscam um<br />

atendimento que co<strong>la</strong>bore com a tarefa<br />

de educar e criar seus filhos em um ambiente<br />

protegido, saudável e, ao mesmo tempo, desafiante<br />

e enriquecedor.<br />

Em geral, as pessoas atribuem os problemas<br />

de saúde das crianças às condições climáticas, às<br />

brincadeiras na área externa em dias mais frios, às<br />

brincadeiras com água ou areia. É comum o desconhecimento<br />

de que os riscos à saúde podem ser<br />

decorrentes da <strong>org</strong>anização do trabalho, da falta<br />

de procedimentos adequados na limpeza e desinfecção<br />

dos espaços, do descuido no preparo dos<br />

alimentos e das ações de cuidados, mesmo em instituições<br />

com aparência bonita, moderna e aparentemente<br />

limpa.<br />

Assim, a tomada de consciência de todos sobre<br />

os determinantes do processo saúde-doença é<br />

o primeiro passo para construir modos de convívio<br />

saudáveis que resultem em qualidade de vida.<br />

É necessário um trabalho intenso de infor-<br />

1 Mestre em Enfermagem Pediátrica e doutora em Enfermagem pe<strong>la</strong> Universidade Federal de São Paulo. Consultora em Saúde Coletiva<br />

do Instituto <strong>Avisa</strong> Lá.<br />

2 Nutricionista e Formadora em saúde e gerenciamento nos projetos de formação continuada do Instituto <strong>Avisa</strong> Lá.


mação, estudo e reflexão sobre a forma como se<br />

<strong>org</strong>aniza o trabalho nos Centros de Educação<br />

Infantil e sobre a responsabilidade de cada profissional<br />

na promoção de saúde das crianças e<br />

da equipe, para que sejam adotadas as precauções<br />

adequadas.<br />

Um pouco de história<br />

No livro o Século dos Cirurgiões, sobre os<br />

primórdios da medicina hospita<strong>la</strong>r, Jurgen<br />

Thorwald re<strong>la</strong>ta que os hospitais no século 19<br />

eram considerados locais de morte e pobreza, já<br />

que a taxa de mortalidade dos pacientes era de<br />

80 a 90%. O desconhecimento dos motivos das<br />

infecções – as péssimas condições de higiene –<br />

era o causador da maioria dos óbitos. Os médicos<br />

costumavam operar seus pacientes usando roupas<br />

comuns, muitas vezes sujas com sangue e secreções<br />

diversas. Os instrumentos cirúrgicos passavam de<br />

um paciente a outro e as mãos dos médicos e enfermeiros<br />

não eram <strong>la</strong>vadas com freqüência. As famílias<br />

ricas cuidavam de seus doentes em casa,<br />

portanto, somente os mais pobres e desamparados<br />

arriscavam-se nos hospitais.<br />

As descobertas de Pasteur (1822–1965)<br />

sobre os micróbios, do cientista Joseph Lister<br />

(1827–1912) sobre a importância da assepsia e<br />

de Florence Nightingale (1820<br />

–1910) sobre a limpeza e higiene<br />

dos hospitais, entre outras, vieram<br />

a transformar os ambientes hospita<strong>la</strong>res<br />

em lugares mais seguros.<br />

Hoje, as Comissões de<br />

Infecção Hospita<strong>la</strong>r são responsáveis<br />

pe<strong>la</strong> pesquisa, imp<strong>la</strong>ntação<br />

e supervisão de procedimentos<br />

de biossegurança e precauções-padrão<br />

para cada atividade desenvolvida e para<br />

cada setor do hospital. Estes cuidados<br />

são extensivos aos serviços ambu<strong>la</strong>toriais,<br />

postos de saúde, consultórios e equipes de<br />

resgate (primeiros socorros).<br />

O caminho dos pesquisadores e precursores<br />

de novas práticas não foi fácil. Eles amargaram<br />

muito descrédito e incompreensão. Mudar hábitos<br />

arraigados de higiene ou de <strong>org</strong>anização e<br />

execução do trabalho não é tarefa simples, mesmo<br />

quando há conhecimento disponível, alta tecnologia<br />

para identificação de riscos à saúde e dos<br />

patógenos3 .<br />

Atualizando conceitos e práticas<br />

O conceito de risco à saúde tem sido revisto,<br />

uma vez que um mesmo agente pode ser nocivo<br />

ou não para diferentes indivíduos e grupos<br />

sociais, dependendo da maior ou menor vulnerabilidade<br />

dos sujeitos envolvidos, da conjugação<br />

de variáveis biológicas, sociais e culturais e, sobretudo,<br />

da forma como cada grupo <strong>org</strong>aniza e<br />

vive o cotidiano, seja no contexto familiar, nos<br />

serviços ou na comunidade mais amp<strong>la</strong>.<br />

Com o avanço nos estudos sobre a re<strong>la</strong>ção<br />

entre ambiente e saúde, sabe-se que não são apenas<br />

os micróbios que causam doenças, mas também<br />

a exposição a várias substâncias químicas<br />

e poluentes ambientais; a alguns tipos de radiação;<br />

a ruído e pressão atmosférica excessivos; ao<br />

estresse e ritmos de vida social incompatíveis<br />

com a vida <strong>org</strong>ânica ou a insta<strong>la</strong>ções inseguras e<br />

des<strong>org</strong>anizadas podem resultar em acidentes,<br />

desgaste físico e psicológico e em danos permanentes<br />

ou temporários à saúde física e mental.<br />

Portanto, uma análise amp<strong>la</strong> das condições<br />

ambientais oferecidas, bem como dos procedimentos<br />

empregados e atividades desenvolvidas,<br />

podem contribuir para um espaço saudável. A<br />

adaptação de conceitos e mapas de c<strong>la</strong>ssificação<br />

de ambientes utilizados nos serviços de saúde<br />

3 Designação comum a diversos seres pertencentes às categorias de protozoários, fungos, bactérias e vírus capazes de causar doenças<br />

nos seres humanos e ou animais. (Dicionário Aurélio). O conceito de patógeno passa hoje por revisão, porque mesmo os germes<br />

que vivem bem conosco, no intestino, por exemplo, se chegam à uretra e sobem até a bexiga devido a técnicas inadequadas<br />

de higiene anal ou por outras condições, como menor consumo de água, podem causar infecção urinária.<br />

JEITOS DE CUIDAR<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

5


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

6<br />

JEITOS DE CUIDAR<br />

permite a identificação e visualização das áreas,<br />

objetos e ações que oferecem maior risco às<br />

crianças e profissionais e o p<strong>la</strong>nejamento dos<br />

procedimentos adequados no preparo dos alimentos<br />

e de rotinas de limpeza e desinfecção<br />

das diversas áreas.<br />

Mudando hábitos nos CEIs<br />

Pensando em como sensibilizar e informar os<br />

profissionais dos CEIs sobre as condutas mais<br />

adequadas em cada atividade e área da instituição,<br />

o Instituto <strong>Avisa</strong> Lá vem utilizando, no trabalho<br />

de formação continuada dos profissionais<br />

de limpeza, cozinha e coordenação a estratégia<br />

de reflexão sobre a prática cotidiana, iluminada<br />

por conceitos científicos construídos no campo<br />

da saúde.<br />

O p<strong>la</strong>nejamento dos procedimentos e rotinas<br />

dos cozinheiros e da equipe de limpeza não deve<br />

ser apenas tarefa dos gestores, enfermeiras<br />

ou nutricionista, mas uma oportunidade de educação<br />

de todos os profissionais responsáveis por<br />

sua execução. A construção conjunta de conhecimentos<br />

por parte da equipe no processo de p<strong>la</strong>nejamento<br />

das ações cotidianas favorece que<br />

todos se tornem responsáveis pe<strong>la</strong> sua eficácia<br />

e se apropriem do processo de trabalho.<br />

Algumas perguntas disparadoras de interesse<br />

são colocadas para os grupos em formação:<br />

Por que adoecemos? Todas as doenças são causadas<br />

por germes? Por que algumas pessoas adoecem<br />

e outras, ainda que próximas ao doente, não?<br />

Por que alguns grupos adoecem mais que outros?<br />

O que eles têm em comum ou diferente?<br />

Em um primeiro momento são trabalhadas<br />

as doenças que podem ser causadas por micróbios<br />

e parasitas como resfriados, gripes, infecção<br />

de garganta e ouvido, diarréias, viroses, sapinho,<br />

sarna, piolhos, verminose e que são identificadas<br />

pelo grupo como aque<strong>la</strong>s mais freqüentes entre<br />

as crianças menores de 6 anos que freqüentam<br />

os Centros de Educação Infantil.<br />

Na tentativa de buscar respostas, todos começam<br />

a estudar e pesquisar sobre os agentes que<br />

causam essas doenças: vírus, bactérias, fungos e<br />

parasitas. Começa-se a descobrir o que são os micro<strong>org</strong>anismos,<br />

de onde vêm, que funções têm no<br />

ciclo da vida. Essas e outras questões têm sido relevantes<br />

para os grupos que buscam pesquisar em<br />

diferentes fontes, coletivamente, as respostas.<br />

Busca-se compreender a forma como esses<br />

agentes passam de uma pessoa para outra e<br />

que medidas são indicadas para evitar o crescimento<br />

e a propagação de acordo com a forma<br />

de vida do micro<strong>org</strong>anismo ou parasita e sua função<br />

na natureza.<br />

A equipe aprende que os micro<strong>org</strong>anismos não<br />

podem ser totalmente eliminados, porque fazem<br />

parte do ciclo da vida e alguns são importantes na<br />

fabricação do pão, dos queijos e coalhadas; outros<br />

ajudam no processo de digestão e absorção dos<br />

alimentos dentro dos nossos intestinos e fabricam<br />

vitaminas. Há uma conscientização de que o importante<br />

é viver em equilíbrio, mantendo um número<br />

reduzido de micróbios que causam doenças – os<br />

chamados patogênicos – por meio de boas práticas<br />

no preparo, distribuição e armazenamento dos<br />

alimentos, nos cuidados com as crianças e na limpeza<br />

do ambiente, mobiliário e brinquedos.<br />

Aprende-se também que fezes, catarro do<br />

nariz, fios de cabelo e célu<strong>la</strong>s mortas de pele,<br />

eliminados dos nossos corpos todos os dias, gor-


dura dos dedos em contato com os objetos, comidas<br />

e lixo, são alimentos para os micro<strong>org</strong>anismos<br />

e parasitas.<br />

Um conhecimento importante é sobre o papel<br />

das mãos das crianças e dos adultos como<br />

veículo de transporte de micróbios e parasitas de<br />

um lugar para outro, e por isso ensina-se a técnica<br />

correta de <strong>la</strong>vagem de mãos. 4<br />

Estabelecendo as re<strong>la</strong>ções com o trabalho<br />

Em suas pesquisas e nas reflexões que fazem<br />

sobre o preparo de alimentos e limpeza da unidade,<br />

os profissionais dos CEIs tomam consciência<br />

de que é muito fácil ocorrer a multiplicação<br />

dos micro<strong>org</strong>anismos nos Centros de Educação<br />

Infantil. Nesse espaço convivem crianças de diversas<br />

faixas etárias, algumas ainda dependentes<br />

de cuidados básicos como trocar as fraldas<br />

ou limpar o bumbum após evacuar, <strong>la</strong>var as mãos<br />

após ir ao sanitário, limpar o próprio nariz e alimentar-se.<br />

Essas observações levam a equipe a<br />

perceber que nesses espaços há condições favoráveis<br />

ao crescimento de colônias de bactérias e<br />

fungos e à ocorrência da contaminação.<br />

Alguns desses agentes eliminados nas fezes<br />

e nas secreções respiratórias podem permanecer<br />

vivos e serem transmitidos por meio dos brinquedos<br />

e da água, ou até mesmo se multiplicar na<br />

bucha, no pano de cozinha, na tábua de carne,<br />

na colher de pau e dentro dos alimentos, causando<br />

intoxicação alimentar. Alguns parasitas, como<br />

a giárdia, permanecem vivos na superfície das<br />

mesas, nas pias, torneiras, superfícies dos sanitários,<br />

areia e brinquedos.<br />

Aprendendo a c<strong>la</strong>ssificar os ambientes<br />

Com base nesses conceitos de microbiologia<br />

apresentados por meio de vídeos, pesquisas em<br />

livros e revistas e por observação da prática, é<br />

feita uma primeira c<strong>la</strong>ssificação das áreas e atividades<br />

desenvolvidas em cada ambiente do<br />

Centro de Educação Infantil, de acordo com o<br />

Fatores que favorecem a sobrevivência, crescimento<br />

e disseminação dos micróbios e parasitas<br />

Superfícies úmidas ou molhadas: favorecem a proliferação de germes gram-negativos e fungos.<br />

Temperatura: entre 20o e 40o graus há maior chance de crescimento de algumas bactérias.<br />

Poeira: favorece a proliferação de germes gram-positivos, microbactérias e ácaros, e quando espalhada pe<strong>la</strong><br />

vassoura ou espanador levam os micróbios, parasitas e ácaros de um lugar para outro. Nunca devemos espanar<br />

ou varrer cozinha, refeitório, berçário, <strong>la</strong>ctário ou sa<strong>la</strong>s de atividades, mas empregar limpeza úmida.<br />

Revestimentos com perda da integridade: pisos e paredes porosos ou com rachaduras, paredes com pinturas<br />

descascadas e sem reboco, mesas com fórmica solta, colchonetes rasgados, tábuas de carne e colheres de<br />

madeira arranhadas pelo uso.<br />

Presença de matéria <strong>org</strong>ânica: sobras ou restos de alimentos, fezes, muco do nariz, papel higiênico usado.<br />

Tempo: a cada 20 minutos alguns tipos de bactéria duplicam em número.<br />

Procedimentos de manipu<strong>la</strong>ção de alimentos inadequados: consultar manual de boas práticas.<br />

Procedimentos de limpeza e desinfecção inadequados: por exemplo, misturar cloro com detergente,<br />

diluição e emprego de desinfetantes sem seguir recomendações técnicas, varrer, espanar, <strong>la</strong>var<br />

o pano de limpeza no balde e tornar a passar no chão.<br />

4 Revista avisa lá, edição n o 4, agosto/2000.<br />

JEITOS DE CUIDAR<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

7


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

8<br />

JEITOS DE CUIDAR<br />

maior ou menor potencial de crescimento e disseminação<br />

dos micróbios e parasitas.<br />

De acordo com a c<strong>la</strong>ssificação, áreas críticas<br />

são aque<strong>la</strong>s que têm maior potencial de crescer<br />

e disseminar micróbios; áreas semicríticas<br />

têm potencial intermediário e área não-crítica<br />

é aque<strong>la</strong> com menor potencial de contaminação.<br />

As equipes de limpeza e cozinha são convidadas<br />

a desenhar a p<strong>la</strong>nta baixa da creche ou<br />

pré-esco<strong>la</strong> e a pintar as áreas de acordo com sua<br />

c<strong>la</strong>ssificação. As cores sugeridas são aque<strong>la</strong>s usadas<br />

nos semáforos:<br />

verde para as áreas não-críticas<br />

amarelo para as semicríticas<br />

vermelho para as críticas<br />

Podem-se utilizar outros símbolos escolhidos<br />

pelo grupo para deixar visível para toda a equipe<br />

o potencial de risco de contaminação em cada<br />

área e, a partir dessa c<strong>la</strong>ssificação, é possível<br />

e<strong>la</strong>borar com eles uma rotina de limpeza e desinfecção<br />

adequada.<br />

Áreas Ambiente Limpeza / desinfecção<br />

5 Detergente é equivalente a sabão em pó.<br />

P<strong>la</strong>nta baixa de um CEI: áreas identificadas de acordo com a<br />

c<strong>la</strong>ssificação<br />

C<strong>la</strong>ssificação das áreas<br />

críticas, semicríticas e não-críticas<br />

cozinha Lavar com água e detergente 5 todos os dias.<br />

<strong>la</strong>ctário Desinfecção (após enxágüe) das superfícies e piso<br />

CRÍTICAS com solução clorada 200 ppm (não usar em super-<br />

Contato com<br />

fezes, urina,<br />

fícies inoxidáveis).<br />

alimentos e lixo sanitários Lavar com água e detergente todos os dias.<br />

sa<strong>la</strong> de banho Desinfecção (após enxágüe) com solução clorada<br />

e troca 500 ppm (não usar em superfícies inoxidáveis).<br />

Manutenção após uso pe<strong>la</strong>s crianças.<br />

sa<strong>la</strong> de saúde Limpeza diária úmida com água e sabão.<br />

<strong>la</strong>vanderia Desinfecção após enxágüe com solução clorada<br />

área de serviço 500 ppm (não usar em superfícies inoxidáveis).<br />

abrigo de lixo<br />

recipientes de lixo<br />

Manutenção após uso pe<strong>la</strong>s crianças.<br />

Continua na página 9


Continuação da página 8<br />

berçários Limpeza úmida diária das superfícies do piso, pias<br />

módulo de crianças e mobiliário com água e detergente.<br />

CRÍTICAS que usam fraldas ou Desinfecção após enxágüe, com solução clorada<br />

Contato com estão em processo de 500 ppm (não usar em superfícies inoxidáveis).<br />

fezes, urina, tirar fralda Manutenção do piso e pias durante o dia por meio<br />

alimentos e lixo de limpeza úmida com água e detergente.<br />

Lavar os brinquedos que são levados à boca todos<br />

os dias com água e detergente e após enxágüe<br />

desinfetar com solução clorada 200 ppm.<br />

Exposição ao sol dos brinquedos de pano, almofadas<br />

e colchonetes sempre que o clima permitir<br />

(diariamente se possível) e <strong>la</strong>vagem semanal das capas<br />

e forros de colchonetes.<br />

SEMICRÍTICAS sa<strong>la</strong>s de crianças Limpeza úmida diária das superfícies do piso, pias<br />

maiores de três anos e mobiliário com água e detergente (não precisa<br />

refeitórios desinfetar).<br />

NÃO-CRÍTICAS área administrativa Retirar o pó das superfícies sem espanar e empreem<br />

geral gando técnica e produto de acordo com a superfípátio<br />

cie dos equipamentos e mobiliário.<br />

recepção Lavar o pátio interno com água e detergente<br />

área externa uma vez ao dia.<br />

Manter a área externa limpa, revolver<br />

o tanque de areia e<br />

protegê-lo com capa ao final<br />

do dia.<br />

Conclusões<br />

As boas práticas de higiene pessoal e am-<br />

biental garantem, na grande maioria das vezes,<br />

uma popu<strong>la</strong>ção baixa de micro<strong>org</strong>anismos e parasitas<br />

patogênicos, protegendo assim as crianças<br />

e funcionários da contaminação que pode<br />

levar ao adoecimento.<br />

As equipes de apoio (limpeza e cozinha) tomam<br />

consciência da importância do seu papel<br />

na promoção da saúde de todos os que convi-<br />

PARA SABER MAIS<br />

vem nos Centros<br />

de Educação Infantil.<br />

Quando os procedimentos<br />

e conhecimentos<br />

construídos<br />

são socializados com os<br />

educadores, crianças e famílias,<br />

há uma integração maior da equipe de<br />

apoio no projeto educativo geral da instituição.<br />

Creche e Pré-esco<strong>la</strong> - Uma Abordagem de Saúde, de Lana Ermelinda da Silva Santos. Ed. Artes Médicas. Tel.: (11) 221-9033<br />

Manual de Controle Higiênico-sanitário em Alimentos, de Eneo Alves da Silva Junior. Livraria Vare<strong>la</strong>. Tel.: (11) 222-8622<br />

O Século dos Cirurgiões, de Jurgen Thorwald. Ed. Hemus. Site: www.hemus.com.br<br />

JEITOS DE CUIDAR<br />

<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

9


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

10<br />

TEMA EM DESTAQUE<br />

A heterogeneidade<br />

na sa<strong>la</strong> de au<strong>la</strong><br />

POR ANA CAROLINA CARVALHO 1<br />

LIDAR COM AS DIFERENÇAS NA SALA DE AULA SEM-<br />

PRE FOI UM DESAFIO PARA OS PROFESSORES. O<br />

DESEJO DE CLASSES HOMOGÊNEAS TEM SIDO<br />

CONSTANTE NAS ESCOLAS E AGORA A ORDEM É<br />

INCLUIR. É PRECISO APOIAR OS PROFESSORES<br />

NESSA NOVA ATITUDE<br />

Vivemos um momento na Educação em<br />

que a ordem é incluir. A esco<strong>la</strong>, até então<br />

pautada em um princípio homogeneizante,<br />

no que diz respeito ao projeto educativo e à<br />

popu<strong>la</strong>ção atendida, precisa agora trabalhar com<br />

a diversidade.<br />

A inclusão esco<strong>la</strong>r não acontece iso<strong>la</strong>damente.<br />

A regu<strong>la</strong>mentação de leis que prevêem a entrada<br />

de crianças com necessidades especiais na esco<strong>la</strong><br />

regu<strong>la</strong>r acompanha um movimento maior,<br />

mais amplo, de cunho político e social, pautado<br />

nos princípios democráticos, que preconizam a<br />

igualdade de acesso às oportunidades e o combate<br />

à exclusão social.<br />

1 Psicóloga, psicanalista e educadora.<br />

Quais mudanças esse movimento traz para<br />

a formação de professores, para os p<strong>la</strong>nejamentos<br />

esco<strong>la</strong>res e para as configurações dos<br />

espaços institucionais?<br />

Incluir significa trabalhar com diferenças<br />

A esco<strong>la</strong> regu<strong>la</strong>r, até então, demarcava c<strong>la</strong>ramente<br />

suas fronteiras, procurando colocar para<br />

dentro apenas alunos capazes de acompanhar seu<br />

currículo, deixando de fora os que não possuíam<br />

essa competência. Os alunos que, apesar de terem<br />

entrado, não conseguiam atingir os patamares desejados,<br />

eram simplesmente excluídos. Mesmo<br />

entre os alunos “regu<strong>la</strong>res”, a heterogeneidade é<br />

ILUSTRAÇÕES A PARTIR DA OBRA DE MARTHA SIMÕES


c<strong>la</strong>ra, sempre existiu, ainda que fosse um tanto sufocada<br />

diante do princípio da homogeneidade, em<br />

que as diferenças individuais eram pouco ou nada<br />

atendidas. Numa tentativa de ajeitar as diferentes<br />

situações, eram comuns c<strong>la</strong>sses dividas em fortes<br />

e fracas. Esta prática hoje seria condenada.<br />

Agora, há o apelo e a ordem para que se<br />

inclua e se trabalhe com todos os alunos, na<br />

mesma c<strong>la</strong>sse, respeitando e cuidando das diferenças<br />

individuais.<br />

A questão da inclusão esco<strong>la</strong>r parece colocar<br />

uma lente de aumento naquilo que é tão próprio<br />

aos seres humanos: o fato de que nós todos somos<br />

singu<strong>la</strong>res, únicos, marcados pe<strong>la</strong>s nossas<br />

diferenças, e que a humanidade se faz por cada<br />

uma dessas singu<strong>la</strong>ridades. A diversidade é vista<br />

como algo positivo que deve contribuir para<br />

uma sociedade mais humana.<br />

Ao pensar a política educacional brasileira<br />

da inclusão esco<strong>la</strong>r, Marcos Mazzotta e Sandra<br />

Souza2 nos remetem à importante filósofa Hannah<br />

Arendt3 e seu pensamento acerca da diversidade<br />

humana. Essa pensadora afirma que a pluralidade<br />

dos homens faz parte da condição humana,<br />

apontando para o fato de que estar e viver entre<br />

os homens significa assumir essa condição de pluralidade.<br />

Segundo a filósofa, “na Terra, vivem os<br />

homens e as mulheres, e não o Homem e a Mulher.<br />

Todos são seres únicos, diferentes de qualquer<br />

outro que exista, tenha existido ou venha a<br />

existir; todos marcados por uma singu<strong>la</strong>ridade,<br />

que é a própria condição da pluralidade”. Para<br />

Mazzotta e Souza, “é o paradoxo da pluralidade<br />

de singu<strong>la</strong>res”.<br />

Ainda segundo esses autores, essa “igualdade<br />

de desiguais precisa ser garantida socialmente<br />

através da possibilidade de participação ativa<br />

no convívio social”. Só assim estaremos mais próximos<br />

de conceitos como os de cidadania e inclusão<br />

social.<br />

Como garantir uma participação ativa<br />

No entanto, o que é um direito da criança<br />

traz um grande desafio para os professores: o desenvolvimento<br />

de novas competências para incluir.<br />

Como garantir uma participação ativa em<br />

uma brincadeira de parque de uma criança que<br />

está em uma cadeira de rodas? Como podem<br />

agir professores e as demais crianças para incluir<br />

esse aluno?<br />

Além do conhecimento detalhado das necessidades<br />

especiais que envolvem cada portador<br />

de determinada síndrome, é também necessário<br />

estar atento para as características subjetivas que<br />

essas crianças trazem. Trocar com as famílias,<br />

com especialistas e até mesmo ouvir as demais<br />

crianças pode ajudar a integração. A inclusão é<br />

também uma questão de afinar a sensibilidade<br />

para sentir de que maneira considerar a necessidade<br />

especial de uma criança de forma que<br />

e<strong>la</strong> possa ser atendida sem sentir-se negativamente<br />

diferente.<br />

Como esse tema é novo para os professores<br />

e para as instituições de educação, é importante<br />

ouvir quem tem diante de si o desafio de incluir,<br />

respeitando as características individuais e<br />

contribuindo para que todas as crianças avancem<br />

e desenvolvam-se plenamente. O re<strong>la</strong>to a seguir<br />

contribui para fazer avançar a reflexão.<br />

2 “Inclusão Esco<strong>la</strong>r e Educação Especial: Considerações sobre a Política Educacional Brasileira”, de Marcos Mazzotta e Sandra<br />

Souza. Revista Estilos da Clínica, edição n o 9, 2 o semestre/2000.<br />

3 Hannah Arendt (1906–1975), filósofa alemã.<br />

TEMA EM DESTAQUE<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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TEMA EM DESTAQUE<br />

O direito à<br />

diferença na<br />

Educação Infantil<br />

POR DANIELA WALDMAN TEPERMAN 1<br />

UMA SITUAÇÃO VIVIDA EM UMA CRECHE<br />

DA CIDADE DE SÃO PAULO DESENCADEIA<br />

A REFLEXÃO SOBRE O QUE É TRATAR DE<br />

FORMA IGUAL CRIANÇAS DIFERENTES<br />

Diante da eminente entrada de uma criança<br />

com algum tipo de transtorno, questiona-se<br />

sobre a antecipação de suas<br />

necessidades específicas, o que corresponderia<br />

a uma preparação para recebê-<strong>la</strong>; questiona-se<br />

a formação e conhecimento necessários para essa<br />

recepção, e diz-se, em uníssono: a criança<br />

com necessidades especiais deve ser tratada<br />

igual às outras!<br />

Tratar igual? Como tratamos todos os outros?<br />

Será que o direito de ser tratado igual aos outros<br />

não seria justamente a possibilidade de tratarmos<br />

a todos igualmente de forma diferente, o que<br />

se traduziria da seguinte maneira: garantir direitos<br />

iguais não seria garantir o direito à diferença?<br />

Garantir à criança o respeito à sua singu<strong>la</strong>ridade,<br />

ou seja, àquilo que faz de<strong>la</strong> única?<br />

1 Psicanalista e coordenadora da Creche Central da Universidade de São Paulo.<br />

Ampliando o olhar sobre a criança<br />

Diante da entrada na esco<strong>la</strong> de uma criança<br />

com um diagnóstico conhecido, como por<br />

exemplo, a Síndrome de Down, é preciso trabalhar<br />

com e<strong>la</strong> na instituição, situando-a em<br />

um contínuo. Osci<strong>la</strong>mos entre aquilo que marca<br />

um limite para a criança, a Síndrome, e aquilo<br />

que faz de<strong>la</strong> uma criança pertencente à nossa<br />

cultura, com características específicas – não<br />

decorrentes da síndrome –, mas com sua forma<br />

de habitar o mundo. É importante que transitemos<br />

entre uma e outra possibilidade e não<br />

nos agarremos apenas a uma de<strong>la</strong>s, pois nunca<br />

sabemos exatamente a extensão deste limite e,<br />

ao mesmo tempo, este desconhecimento possibilita<br />

apostarmos na ampliação do potencial<br />

desta criança.<br />

ILUSTRAÇÕES A PARTIR DA OBRA DE MARTHA SIMÕES


Mas, se uma criança com as chamadas necessidades<br />

especiais deve ser tratada como as<br />

outras, devemos “esquecer” que e<strong>la</strong> porta um problema<br />

em seu desenvolvimento? Sim, em parte,<br />

desde que, em determinados momentos, sejamos<br />

capazes de lembrar desta diferença e assegurar<br />

que as necessidades específicas desta criança sejam<br />

contemp<strong>la</strong>das.<br />

Superando os limites<br />

Um exemplo. P. tem 4 anos e freqüenta a<br />

Creche Central da Universidade de São Paulo<br />

(USP). Apresenta uma importante perda visual,<br />

no entanto, circu<strong>la</strong> pelos diferentes espaços com<br />

total desenvoltura. Observamos que fez frente<br />

aos limites marcados pe<strong>la</strong> deficiência de forma<br />

excepcional, incrementando os outros órgãos de<br />

percepção de forma a ampliar substancialmente<br />

suas possibilidades. A maneira pe<strong>la</strong> qual P. enfrenta<br />

os limites marcados pe<strong>la</strong> diminuição dos<br />

recursos da visão leva-nos a “esquecer” que apresenta<br />

uma necessidade especial, uma diferença<br />

significativa. E, de fato, não há em nossa rotina<br />

momentos em que temos que criar dispositivos<br />

específicos para atendê-<strong>la</strong>.<br />

No entanto, em uma atividade de leitura de<br />

histórias2 a educadora pediu para P. aproximarse<br />

para ver melhor. A criança respondeu: “Não,<br />

eu não preciso”.<br />

O que reve<strong>la</strong> essa resposta? Como intervir<br />

diante desta situação?<br />

P. responde à educadora a partir do lugar<br />

que lhe é out<strong>org</strong>ado nesta instituição, lugar conferido<br />

a todas as outras crianças e que vai ao encontro<br />

da posição que esta criança tem diante<br />

PARA SABER MAIS<br />

dos limites dados pelo seu <strong>org</strong>anismo. P. responde<br />

de modo a dizer, “não precisa, eu não preciso<br />

de nada diferente dos outros, sou igual aos outros”.<br />

Faz isto, ainda que pagando o preço de não<br />

poder participar efetivamente da atividade em<br />

questão, pois, por mais que e<strong>la</strong> otimize ao extremo<br />

suas possibilidades reais, há momentos em<br />

que isso não é suficiente.<br />

Um apoio especial é necessário<br />

Entendo que em uma situação como essa é<br />

preciso insistir para que P. sente-se próxima à<br />

educadora para poder ver o livro. Essa insistência<br />

é também uma intervenção. Pontua para a<br />

criança e para o grupo uma necessidade específica.<br />

Marca que e<strong>la</strong> tem uma diferença e que essa<br />

deve ser contemp<strong>la</strong>da. A educadora a “lembra”<br />

que é portadora de uma necessidade especial. É<br />

aqui que o direito à diferença deve ser assegurado<br />

para não negligenciar as reais necessidades<br />

da criança.<br />

Este é apenas um exemplo entre tantos. Mais<br />

um caso, no qual a generalização é um ponto extremamente<br />

delicado. Mesmo uma criança com as mesmas<br />

limitações <strong>org</strong>ânicas que P. não apresentaria<br />

necessariamente uma otimização de possibilidades<br />

equivalentes, ou seja, a subjetividade introduz<br />

matizes, diferenças, mesmo em quadros <strong>org</strong>ânicos<br />

aparentemente simi<strong>la</strong>res. A intervenção aqui é única,<br />

realizada a partir de uma leitura da re<strong>la</strong>ção que<br />

a criança estabelece com seus limites, com os outros,<br />

com a instituição. Contudo, há uma ética que<br />

deve reger as intervenções e que pode ser norteadora<br />

destas: ética sustentada no reconhecimento<br />

e reasseguramento das diferenças.<br />

“Inclusão Esco<strong>la</strong>r e Educação Especial: Considerações sobre a Política Educacional Brasileira”, de Marcos Mazzotta e Sandra<br />

Souza. Revista Estilos da Clínica, edição n o 9, 2 o semestre/2000. Tel.: (11) 3091-4386<br />

A Condição Humana, de Hannah Arendt. Tradução de Roberto Raposo. Ed. Forense Universitária. Tel.: (21) 2509-3148.<br />

Contato: Danie<strong>la</strong> Waldman Teperman. E-mail: danitep@usp.br<br />

2 Atividade realizada com o grupo de crianças da mesma faixa etária. As crianças sentam-se em roda em volta da professora, que<br />

com o livro nas mãos, lê a história e mostra o livro para que as crianças possam apreciar as imagens.<br />

TEMA EM DESTAQUE<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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O CIRCO É SINÔNIMO DE DIVERSÃO, HABILIDADE, MA-<br />

GIA, E É PARTE SIGNIFICATIVA DE NOSSA CULTURA. POR<br />

ISSO, FOI O TEMA ESCOLHIDO PARA TRABALHAR A DI-<br />

VERSIDADE MOTORA DE CRIANÇAS DE TRÊS CENTROS<br />

DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA CAPITAL PAULISTA<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Uma pirueta, duas<br />

Uma seqüência para<br />

crianças<br />

POR ANA LÚCIA ANTUNES BRESCIANE 1<br />

No corpo se operam sempre nossas transformações. Ele é o<br />

nosso primeiro instrumento – a consciência de seu volume, de<br />

Fiz um primeiro encontro para identificar<br />

quais seriam as principais necessidades<br />

dos grupos, conhecer as crianças e as expectativas<br />

das educadoras. Notei características<br />

bem semelhantes entre eles, embora houvesse<br />

alguma diferença de faixa etária. Sem fugir à regra<br />

das crianças nessa idade, encontrei grupos<br />

sua mobilidade, de sua flexibilidade e dinâmica, ajuda o<br />

homem a se adaptar à diversidade de situações com que se<br />

1 Formadora do Instituto <strong>Avisa</strong> Lá. É professora de apoio em<br />

três Centros de Educação Infantil.<br />

2 Crítica de dança, professora universitária e bai<strong>la</strong>rina.<br />

depara. O corpo também é o nosso primeiro limite, e nos<br />

ensina o senso primário de <strong>org</strong>anização e des<strong>org</strong>anização.<br />

Inês Bogéa 2


piruetas:<br />

pequenas<br />

“elétricos”, como disseram suas educadoras, que<br />

“gostam de andar e fa<strong>la</strong>r”, “adoram se mexer de<br />

um <strong>la</strong>do para outro, subir na mesa e correr pe<strong>la</strong><br />

sa<strong>la</strong>”. Porém, nenhuma das educadoras tinha<br />

em mente realizar um trabalho específico com<br />

movimento naquele semestre, não havia nada<br />

p<strong>la</strong>nejado nessa área até então. Conversando sobre<br />

minha idéia de desenvolver com as crianças<br />

uma seqüência de movimentos, as educadoras<br />

aprovaram a sugestão.<br />

P<strong>la</strong>nejamos então uma seqüência de atividades<br />

com as crianças. O principal objetivo era<br />

que e<strong>la</strong>s conhecessem suas possibilidades corporais<br />

e descobrissem novas formas de se<br />

movimentar e de se expressar. Para garantir<br />

motivação e interesse ao longo de todo<br />

o semestre, a proposta foi criar brincadeiras<br />

e atividades que tivessem como contexto<br />

o circo.<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

FOTOS: ANA LÚCIA ANTUNES BRESCIANE<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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TEMPO DIDÁTICO 1<br />

O movimento torna-se linguagem, uma forma de expressão<br />

A criança e o movimento<br />

Desde que a criança nasce seus movimentos<br />

medeiam sua re<strong>la</strong>ção com as pessoas próximas.<br />

Expressam disposições <strong>org</strong>ânicas e estados de<br />

bem ou mal-estar afetivo: abrem e fecham os<br />

olhos, abrem a boca, sugam os lábios, se contorcem,<br />

agitam pernas e braços, etc. Tão logo acontecem,<br />

os movimentos do bebê são interpretados<br />

pelos adultos de acordo com os significados que<br />

atribuem a eles. Rapidamente é estabelecida<br />

uma re<strong>la</strong>ção afetiva entre o bebê e o adulto cuidador,<br />

por meio de um diálogo baseado em componentes<br />

corporais e expressivos. Desta forma,<br />

os movimentos deixam de ser pura descarga impulsiva<br />

para tornar-se em expressão, linguagem,<br />

que o ser humano vai utilizar pelo resto da vida<br />

para se comunicar, para se divertir e solucionar<br />

problemas.<br />

O movimento é uma linguagem tão importante<br />

quanto qualquer outra, pois, além de ser<br />

chave para o desenvolvimento físico e motor e<br />

para a manutenção da saúde, favorece a interação<br />

das crianças com o meio físico e social, promove<br />

novas descobertas em re<strong>la</strong>ção ao seu próprio<br />

3 Site: www.facom.ufba.br/cordabamba/histo1.html<br />

corpo, suas necessidades, capacidades e limites,<br />

em re<strong>la</strong>ção aos outros e à construção de conhecimentos.<br />

É, assim, fundamental para a<br />

construção da identidade e autonomia nos primeiros<br />

anos de vida.<br />

Por que o circo?<br />

Os primeiros sinais da arte circense estão<br />

gravados nas pirâmides do Egito, com desenhos<br />

de domadores, equilibristas, ma<strong>la</strong>baristas e contorcionistas3<br />

. Esse tipo de atividade sempre atraiu<br />

o ser humano, pelo grau de desafio e por sua beleza<br />

plástica. Mas parece que o circo, como conhecemos<br />

hoje, só foi surgir na Europa na época do<br />

Império Romano. Foi então se diversificando<br />

em diferentes atividades e enriquecendo suas<br />

apresentações.<br />

Alguns desses artistas vieram para o Brasil<br />

e montaram as suas próprias companhias. Hoje<br />

há esco<strong>la</strong>s e trupes com espetáculos bem diferentes<br />

dos tradicionais.<br />

Mesmo sob novas roupagens, o circo continua<br />

encantando pessoas, pois é sinônimo de<br />

beleza, alegria e brincadeira, diversão, mágica.


Envolve inúmeras possibilidades de “ser” humano,<br />

enriquecendo a imaginação, alimentando<br />

a alma. O circo é um contexto perfeito para<br />

se desenvolver um trabalho interessante com<br />

crianças pequenas, pois permite trabalhar a<br />

diversidade motora, muito importante na Educação<br />

Infantil.<br />

O circo e os palhaços<br />

Iniciei o trabalho propondo atividades que<br />

descontraíssem as crianças e criassem um ambiente<br />

favorável ao desenvolvimento dos vínculos<br />

afetivos nos grupos.<br />

Com a intenção de conhecer o que as crianças<br />

já sabiam sobre o universo circense e incitá<strong>la</strong>s<br />

a brincar com as diversas possibilidades de<br />

expressão facial, em uma das idas na creche, coloquei<br />

um nariz de palhaço e convidei a todos para<br />

uma roda de conversa. As crianças acharam<br />

engraçado, deram risadas, algumas só olhavam<br />

para mim, outras comentaram sobre o nariz e fizeram<br />

referências aos palhaços. Mostrei muitas<br />

imagens de palhaços com expressões diversas e<br />

de circo. Todas as crianças conheciam bem a imagem<br />

do palhaço, mas quase nenhuma havia ido<br />

a um circo ou sabia o que era. Senti então que<br />

seria necessário ampliar seu repertório para darmos<br />

continuidade ao trabalho.<br />

Por fim, convidei todos a se maquiarem como<br />

palhaços e fizemos uma brincadeira de caretas<br />

em frente ao espelho.<br />

Nesta etapa, crianças e professoras se divertiram<br />

muito, ampliaram seu repertório de expressões<br />

faciais e aprenderam a se comunicar por<br />

meio de caretas. Cada grupo ainda e<strong>la</strong>borou um<br />

pequeno “livro de caretas”, contendo fotos das<br />

crianças em diversas expressões.<br />

Conhecendo mais sobre o circo<br />

Criamos uma caixa “mágica”, dentro da qual<br />

morava um palhaço que em cada encontro escolhia<br />

uma surpresa para levar para as crianças.<br />

Em cada creche escolhemos um nome diferente<br />

para o palhaço, que passou a se chamar Ué, Tic-<br />

Tac, ou João Palhaço.<br />

No primeiro dia de visita do palhaço nas creches,<br />

“ele” levou uma fita de vídeo. Era de um filme<br />

muito antigo: O Maior Espetáculo da Terra, que<br />

tem cenas muito bonitas e divertidas. Passei<br />

alguns trechos, de modo que as crianças pudessem<br />

ter um primeiro contato com todos os<br />

principais personagens do circo e encantar-se<br />

com seus movimentos.<br />

A proposta de assistir a trechos do filme com<br />

as crianças foi mais interessante do que eu esperava.<br />

Por ser um filme muito antigo, com outra<br />

estética, imaginei que fossem desinteressar-se<br />

rapidamente. Mas não, ficaram encantadas com<br />

as imagens, atentas o tempo todo, participando<br />

e comentando sobre o que viam.<br />

“Olha o palhaço!”<br />

“A moça tá pu<strong>la</strong>ndo.”<br />

“E<strong>la</strong> vai cair, e<strong>la</strong> vai cair!”<br />

“Que maluca!”<br />

Impressiona ver como esse universo atrai e<br />

encanta as pessoas de todas as idades e de todos<br />

os tempos. As professoras também se envolveram.<br />

Outro aspecto que me surpreendeu é que os<br />

pequenos já tinham noção do que representavam<br />

aqueles movimentos. De fato, não é normal ver<br />

WELLINGTON<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Palhaço<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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TEMPO DIDÁTICO 1<br />

SUZANA<br />

Palhaço<br />

alguém dando piruetas no ar. Pensei que, por serem<br />

tão pequenos, não tivessem a dimensão dos<br />

desafios a que esses artistas se submetem. Mas<br />

sim, eles têm noção. Ficaram maravilhados e aflitos<br />

ao mesmo tempo. Perguntaram insistentemente se<br />

a trapezista não ia cair. Não queriam parar de assistir.<br />

Perguntavam tudo, quem era quem, o que<br />

estavam fazendo. Quando alguém gostava de alguma<br />

cena, apontava a TV e chamava a atenção<br />

das outras crianças para olharem também.<br />

Então, fomos ao pátio, onde eu havia <strong>org</strong>anizado<br />

um pequeno “picadeiro” com cordas, caixotes,<br />

bambolês e colchões para que as crianças<br />

brincassem à vontade e imitassem os movimentos<br />

vistos no filme. Coloquei uma trilha sonora:<br />

o CD Circo, <strong>org</strong>anizado pelos Par<strong>la</strong>patões.<br />

Outra surpresa do palhaço da caixa.<br />

Integrando aspectos lúdicos nas situações propostas<br />

Observei, tanto no Centro de Educação<br />

Infantil (CEI) São Norberto, quanto no CEI Ana<br />

de Fátima, que, embora as crianças tenham gostado<br />

muito de se movimentar e tenham tido interesse<br />

total em participar e aproveitar de tudo<br />

o que lhes foi oferecido, estavam tímidas em re<strong>la</strong>ção<br />

às suas habilidades motoras. Tinham medo<br />

de alguns movimentos, principalmente os que<br />

envolviam pu<strong>la</strong>r e se pendurar. Precisavam ainda<br />

conquistar mais autonomia para se divertirem<br />

sozinhos ou com seus colegas.<br />

Dediquei as primeiras reuniões com as educadoras<br />

basicamente à leitura e reflexão da seqüência.<br />

Discutimos cada etapa como uma forma<br />

de <strong>org</strong>anização didática composta de atividades com<br />

propósitos e graus de desafios diversos, tendo como<br />

foco principal o trabalho com o movimento.<br />

Brincando de acrobata<br />

Num outro dia levei para as creches um palhaço<br />

feito de fuxicos, bem maleável, e imagens<br />

de acrobatas e contorcionistas. Depois de observar<br />

as imagens, imitei os movimentos vistos com<br />

o boneco. As crianças ficaram muito atentas e<br />

quiseram brincar com o palhacinho também.<br />

Eu havia combinado com as professoras que<br />

e<strong>la</strong>s fariam bonecos de pano para que as crianças<br />

brincassem movimentando-os, construindo<br />

assim mais noções sobre o corpo humano e sobre<br />

suas possibilidades de movimento. Era importante<br />

que os bonecos tivessem dimensões<br />

próximas às do corpo humano real e que ficassem<br />

firmes, porém flexíveis, permitindo uma grande<br />

variedade de movimentos. Todas construíram<br />

os bonecos, e as crianças brincaram e se divertiram<br />

bastante com eles.<br />

No pátio, brincamos de fazer acrobacias<br />

usando bo<strong>la</strong>s grandes de circo e colchonetes. As<br />

crianças puderam experimentar movimentos de<br />

equilíbrio sobre a bo<strong>la</strong> e de contorção sobre o<br />

próprio corpo, o que lhes dá possibilidades de<br />

ampliação da consciência corporal. Na quinzena<br />

seguinte as professoras realizaram outras pro-


postas nas quais as crianças puderam enfrentar<br />

novos desafios e desenvolver outras habilidades,<br />

como utilizar diferentes formas de apoiar-se – sobre<br />

quatro apoios, de cabeça para baixo – e de<br />

equilibrar-se – sobre um só pé, andando sobre<br />

uma superfície estreita.<br />

Registro de Áurea4 Logo que fiz o p<strong>la</strong>nejamento, vi os materiais<br />

necessários para esta atividade de<br />

acrobacias. Na roda, retomamos a conversa<br />

sobre os personagens do circo, focalizando<br />

as figuras dos acrobatas através do painel<br />

de imagens confeccionado com as crianças.<br />

Após a conversa, fizemos alguns combinados<br />

a respeito das regras das brincadeiras e<br />

apresentei os materiais que iríamos utilizar.<br />

Após a apresentação, <strong>org</strong>anizei os materiais<br />

deixando as caixas e bambolês enfileirados e<br />

fiz uma demonstração prévia para as crianças<br />

de como os materiais poderiam ser utilizados.<br />

Durante a atividade, observei que algumas<br />

crianças utilizaram os impulsos e pu<strong>la</strong>vam com<br />

os dois pés, mas ainda não estavam totalmente<br />

seguras, principalmente a Thais, o Leonardo<br />

e o Robson. As demais crianças necessitavam<br />

de ajuda para passar em cima da caixa e, quando<br />

pu<strong>la</strong>vam, observei que ficavam tensas, e<br />

saiam correndo levando os bambolês nos pés.<br />

Conforme notamos na atividade anterior,<br />

precisamos oferecer percursos menores e com<br />

menos desafios devido à faixa etária das crianças<br />

e ao pouco contato que e<strong>la</strong>s têm com estes<br />

materiais. Com isso, senti a necessidade<br />

de rep<strong>la</strong>nejar a atividade, podendo assim facilitar<br />

e auxiliar as crianças que sentiram dificuldades<br />

na atividade de percurso.<br />

Dançando com as bai<strong>la</strong>rinas<br />

Como os filmes de vídeo envolviam muito as<br />

crianças e traziam uma dimensão mais real dos<br />

4 Áurea Maria Gonçalves é educadora do CEI Ana de Fátima.<br />

5 Formadora do Instituto <strong>Avisa</strong> Lá.<br />

movimentos, levei trechos do<br />

filme Sapatinhos Vermelhos,<br />

com cenas de balé.<br />

Depois de assistirem<br />

ao filme as crianças foram<br />

convidadas para<br />

a brincadeira Seu<br />

Mestre Mandou,<br />

na qual deviam imitar<br />

os movimentos<br />

das bai<strong>la</strong>rinas.<br />

Porém, mais interessante<br />

que a brincadeira de imitação foi a proposta<br />

de dançar vários ritmos: clássico, rock,<br />

baião, etc., em que todos imitavam os movimentos<br />

de todos. No CEI Cantinho da Criança<br />

incluí na atividade um pano bem grande, com o<br />

qual foi possível realizar vários movimentos bonitos<br />

e interessantes em grupo, como uma cobra<br />

gigante.<br />

Ficou evidente a preferência das crianças pe<strong>la</strong>s<br />

atividades em grupo na hora de dançar. Por<br />

isso, sugeri às professoras que, nas outras atividades,<br />

p<strong>la</strong>nejadas para esta etapa, abusassem<br />

das brincadeiras de roda, que oferecessem desafios<br />

em re<strong>la</strong>ção aos movimentos corporais. Deixei<br />

com e<strong>la</strong>s o CD-Rom Pandalelê.<br />

Brincando de ma<strong>la</strong>barista e equilibrista<br />

Os vídeos do Cirque du Soleil, que mostrei<br />

em outra ocasião, deram uma boa referência do<br />

que é um circo e ainda alimentaram o repertório<br />

de movimentos.<br />

Como escreveu Isabel Filgueiras5 em um artigo<br />

na Revista avisa lá (edição no 11, julho/2002),<br />

mais importante que buscar o jeito certo de arremessar<br />

uma bo<strong>la</strong> no jogo, de derrubar <strong>la</strong>tas,<br />

por exemplo, é estimu<strong>la</strong>r a criança a resolver este<br />

desafio de diferentes maneiras, de diferentes<br />

distâncias, com diferentes tipos de bo<strong>la</strong>. Essas<br />

ações co<strong>la</strong>boram para o desenvolvimento de um<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

19


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

20<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

É importante adequar os<br />

desafios motores às necessidades<br />

e capacidades das crianças<br />

repertório motor que permite à criança escolher<br />

as respostas para os diferentes desafios, buscando<br />

soluções alternativas e criativas para os mesmos<br />

problemas. Baseada nisso,convidei as crianças<br />

para explorarem possibilidades de <strong>la</strong>nçamento com<br />

bolinhas de tamanhos e pesos diversos. Lançar<br />

forte, fraco, longe, perto, alto, dentro da boca do<br />

palhaço, através de bambolês, sobre um pano<br />

grande esticado, etc. Todos envolveram-se e esforçaram-se<br />

para alcançar seus objetivos e, ao<br />

final do dia, já eram observáveis os avanços<br />

de algumas crianças.<br />

As professoras confeccionaram outros instrumentos<br />

para o trapézio, como argo<strong>la</strong>s de conduítes<br />

encapados e garrafas pet enfeitadas. Improvisaram<br />

materiais para brincar de equilibrista, como copinhos<br />

de iogurte coloridos e bandejas de isopor.<br />

Tudo muito bonito e mágico. Propuseram diversas<br />

atividades com desafios com qualidade e nível<br />

diferentes. As crianças desenvolveram muitas<br />

competências como mira, força e precisão para<br />

<strong>la</strong>nçamento, equilíbrio e capacidade de agarrar<br />

objetos no ar.<br />

Registro de Áurea<br />

Como o dia estava chuvoso, fizemos uma<br />

alteração no p<strong>la</strong>nejamento, transferindo a atividade<br />

de segunda-feira para sexta-feira. Como<br />

o p<strong>la</strong>nejamento do uso do pé-de-<strong>la</strong>ta estava preparado,<br />

e eu já havia confeccionado três pares de<br />

pés-de-<strong>la</strong>ta, propus desenvolver esta atividade no<br />

espaço interno da creche. P<strong>la</strong>nejei com o objetivo<br />

de possibilitar o desenvolvimento do equilíbrio.<br />

Então, trouxe para a roda os pés-de-<strong>la</strong>ta<br />

e perguntei se conheciam o brinquedo. Fiz uma<br />

demonstração de como equilibrar-se em cima<br />

do brinquedo. As crianças mostraram interesse,<br />

curiosidade, e quiseram brincar também.<br />

Ao observar a brincadeira, notei que<br />

algumas crianças conseguiam equilibrar-se<br />

somente com ajuda do educador. Leonardo<br />

conseguiu dar alguns passos sozinho.<br />

Esta atividade durou aproximadamente<br />

uma hora e eu não conseguia interromper, pois<br />

as crianças não abandonavam o brinquedo.<br />

Brincando de trapezista<br />

Na caixa-surpresa, levei um boneco trapezista<br />

para conversar com as crianças sobre seus<br />

movimentos. Ninguém conhecia aquele brinquedo.<br />

Ficaram muito curiosas para brincar e entender<br />

como o boneco ba<strong>la</strong>nçava e virava cambalhotas<br />

sozinho no ar.<br />

Depois de brincar com o trapezista de madeira,<br />

conhecer o nome e alguns possíveis movimentos<br />

do boneco, foi o momento de assistir a<br />

mais um trecho do Cirque du Soleil. Dessa vez,<br />

as crianças não ficaram tão assustadas, achando


que os trapezistas iriam cair, como da primeira<br />

vez em que viram o vídeo. Como nos demais encontros,<br />

<strong>org</strong>anizei no pátio um cenário de verdade,<br />

com brinquedos para as crianças se divertirem e<br />

se movimentarem. Para que algumas se aventurassem<br />

no trapézio foi preciso coragem e ajuda.<br />

Para outras, a mãozinha de um amigo já foi suficiente.<br />

Mas sempre há aqueles destemidos,<br />

que na primeira chance já se viravam de cabeça<br />

para baixo.<br />

Para que desenvolvam suas capacidades motoras,<br />

é essencial que as crianças experimentem<br />

diversos movimentos, mesmo envolvendo um<br />

desafio maior. O desafio é necessário para que<br />

haja aprendizagem. Por isso, é imprescindível o<br />

educador constatar se o ambiente está preparado<br />

e se os materiais utilizados nas atividades são<br />

seguros o suficiente para garantir que a criança<br />

possa arriscar-se sem correr perigo.<br />

As educadoras deram continuidade às atividades,<br />

repetiram o mesmo formato várias vezes,<br />

pois, assim como a diversidade, a constância é<br />

indispensável para que a criança estabilize suas<br />

novas aprendizagens e possa superar desafios.<br />

Como os bichos do circo<br />

Iniciei o dia lendo a história Cliford no Circo,<br />

que teve a função de disparar a conversa sobre<br />

os animais no circo. Além da história, levei várias<br />

imagens para observar com as crianças, que conversavam<br />

entre si sobre o que viam.<br />

“Olha o cavalo!”<br />

“Não é cavalo! É elefante!”<br />

“Esse gato é feio, né?”<br />

“Não acho ele feio. Ele tem cara de bravo.”<br />

“O nome desse bicho é tigre.”<br />

“É o tigre. O tigre é bravo, né?!”<br />

Propus que cada uma se maquiasse como<br />

um animal de sua escolha e criamos no pátio uma<br />

brincadeira de faz-de-conta, na qual as crianças<br />

eram os animais e eu, a domadora. Os “bichos”<br />

ainda brincaram de corrida e de pega-pega, usando<br />

os apoios como os animais.<br />

Avaliação<br />

O aspecto mais importante da seqüência é o<br />

da continuidade, de como o professor vai propondo<br />

os novos desafios para as crianças. Foi muito<br />

marcante neste trabalho a constatação, por parte<br />

de todas nós, educadoras, de como os elementos<br />

lúdicos são fundamentais para que as crianças<br />

participem ativamente das propostas. Desta maneira,<br />

a cada início de uma nova etapa, verificávamos<br />

o nível de desenvolvimento das crianças<br />

naquele determinado aspecto que gostaríamos<br />

de trabalhar mais profundamente e nos esforçávamos<br />

em p<strong>la</strong>nejar brincadeiras para desafiar as<br />

crianças, dando sentido para as atividades motoras<br />

sugeridas.<br />

Nesta seqüência as crianças puderam aprender<br />

muitas coisas sobre seu próprio corpo,<br />

ampliaram sua consciência sobre ele e sobre os<br />

movimentos que podem realizar. Tornaram-se assim<br />

mais autônomas e independentes para se divertirem.<br />

Descortinaram um novo e mágico universo,<br />

o circo, com o qual poderão continuar se encantando,<br />

se divertindo por toda a vida.<br />

Registro de Áurea<br />

A partir do segundo semestre,<br />

comecei a desenvolver<br />

no minigrupo um trabalho<br />

de seqüência de movimentos.<br />

No início de agosto, tendo como<br />

tema o circo, foram p<strong>la</strong>nejadas<br />

várias atividades de acordo<br />

com os personagens e suas<br />

profissões: palhaço, acrobatas,<br />

equilibristas, etc. Este<br />

tema, além de ter promovido<br />

desafios, trouxe atividades<br />

de movimentos<br />

que contribuíram para que<br />

as crianças desenvolvessem<br />

sua autonomia de forma lúdica e prazerosa e<br />

se apropriassem da cultura circense.<br />

Continua na página 22<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

GUSTAVO<br />

Homem do Fogo<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

21


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

22<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Continuação da página 21<br />

Nas primeiras atividades fiquei um pouco<br />

insegura e com medo. Um certo receio de enfrentar<br />

o novo. Percebi, com o decorrer das<br />

atividades, que minhas inseguranças foram<br />

diminuindo, e as crianças também se envolviam<br />

melhor nas atividades propostas, adquirindo<br />

mais confiança nos movimentos sugeridos a<br />

e<strong>la</strong>s. Essa segurança só foi possível quando<br />

sentiram em mim um apoio.<br />

Nas rodas de conversa, as crianças tornaram-se<br />

mais participativas, pois tinham assuntos<br />

diversos para fa<strong>la</strong>r, em especial sobre o circo e<br />

seus personagens. A cada dia me surpreendiam<br />

com seus interesses, iniciativas e comentários a<br />

respeito do mundo circense.<br />

No final do semestre, percebi, por meio das<br />

devolutivas que Ana Lúcia fazia em meu diário,<br />

que precisava rever alguns aspectos. Um deles<br />

foi que cada criança tem seu movimento próprio<br />

e cabe a nós, educadores, respeitá-<strong>la</strong>s em<br />

suas individualidades, e não achar que devem<br />

imitar os movimentos que o educador faz.<br />

Uma dificuldade encontrada foi a falta de<br />

alguns materiais necessários e a <strong>org</strong>anização<br />

do espaço para desenvolver as atividades,<br />

pois nestes momentos é sempre importante a<br />

ajuda do educador de apoio ou uma educa-<br />

Trapezista<br />

O universo circense encanta as crianças que assistem ao vídeo do Cirque du Soleil<br />

GUSTAVO<br />

dora vo<strong>la</strong>nte. Infelizmente, nem sempre isto é<br />

possível, o que dificultava o desenro<strong>la</strong>r das<br />

atividades, uma vez que eu tinha que cuidar<br />

das crianças e <strong>org</strong>anizar o espaço. Sendo esta<br />

<strong>org</strong>anização feita na presença das crianças,<br />

isso tirava um pouco a surpresa e o entusiasmo<br />

das mesmas.<br />

Mas apesar das dificuldades e inseguranças,<br />

posso dizer que este trabalho de seqüência<br />

sobre o circo trouxe para minha prática<br />

como educadora e para meu processo de formação<br />

um enriquecimento muito grande.<br />

Áurea Maria Gonçalves, educadora do<br />

CEI Ana de Fátima.


Seqüência uma pirueta,<br />

duas piruetas...<br />

Objetivos gerais<br />

Ampliar conhecimentos sobre o circo e seus<br />

personagens<br />

Ampliar expressão corporal<br />

Desenvolvimento da autonomia<br />

Sete encontros desencadeadores<br />

1o Encontro<br />

O circo e os palhaços<br />

1) Roda de conversa: A partir das imagens, con-<br />

versar com as crianças sobre o circo e seus personagens,<br />

mais especificamente o palhaço.<br />

Objetivos (que a criança seja capaz de...)<br />

Observar as imagens mostradas e se manifestar<br />

sobre o que vê.<br />

Contar o que sabe sobre os palhaços: quem são,<br />

como são, o que fazem.<br />

Desenvolvimento (o que e como pretendo encaminhar<br />

a atividade)<br />

Organizar a sa<strong>la</strong>, deixando algumas possibilidades<br />

de atividades diversificadas.<br />

Colocar um nariz de palhaço e convidar a todos<br />

para que se sentem em roda.<br />

Esperar para ver se as crianças têm alguma reação<br />

frente ao nariz e conversar sobre ele.<br />

Perguntar quem já viu um palhaço e pedir para<br />

contar sobre ele.<br />

Fazer perguntas mais diretas<br />

para que as crianças respondam.<br />

Mostrar o livro Circo, atentando<br />

para as imagens e estimu<strong>la</strong>ndo-os<br />

a fa<strong>la</strong>r por<br />

meio de algumas perguntas<br />

Elefante<br />

e comentários.<br />

2) Fazendo caretas: Depois de terem<br />

o rosto pintado, fazer caretas e<br />

SUZANA<br />

observá-<strong>la</strong>s no espelho da sa<strong>la</strong>. Fotografar as caretas<br />

das crianças.<br />

Objetivos<br />

Interessar-se em maquiar-se ou em participar da<br />

proposta<br />

Imitar as caretas do professor ou as caretas dos<br />

palhaços observados no livro.<br />

Observar-se no espelho fazendo as caretas.<br />

Tentar reconhecer que sentimentos ou sensações<br />

estão re<strong>la</strong>cionados às caretas.<br />

Divertir-se fazendo caretas.<br />

Desenvolvimento<br />

Convidar uma das crianças a se maquiar como os palhaços<br />

e maquiá-<strong>la</strong> de forma que as outras crianças<br />

vejam e sintam vontade de se maquiarem também.<br />

Pedir ajuda da professora para <strong>org</strong>anizar as crianças<br />

e maquiá-<strong>la</strong>s em frente ao espelho, de forma<br />

que possam observar-se.<br />

Atentar para as caretas que fazem e sugerir que<br />

imitem uns aos outros.<br />

Convidá-los a fazer caretas de tristeza, alegria,<br />

braveza, sono, etc.<br />

Recursos utilizados<br />

Livro com imagens de circo; maquiagem de palhaço<br />

não-tóxica; espelho.<br />

Possíveis desdobramentos<br />

Leitura de novas imagens / caixa de imagens.<br />

Jogo tipo Siga o Mestre de caretas, ou jogo de<br />

adivinhar Qual é a Careta.<br />

Cantos de maquiagem e fantasia de palhaço.<br />

2o Encontro<br />

Brincadeiras de circo<br />

1) Sessão de vídeo<br />

Objetivos<br />

Apreciar as imagens do vídeo e ver como é um circo.<br />

Conhecer quem são os seus personagens.<br />

Continua na página <strong>24</strong><br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

23


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

<strong>24</strong><br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Continuação da página 23<br />

Observar os movimentos realizados pelos personagens.<br />

Desenvolvimento<br />

Passar trechos do vídeo nomeando os personagens<br />

e chamando a atenção para seus movimentos.<br />

Escutar os comentários que as crianças fazem.<br />

Depois conversar com o grupo, perguntando o que<br />

eles observaram, o que mais gostaram.<br />

2) Brincadeira de circo<br />

Objetivos<br />

Imitar os movimentos dos personagens do circo.<br />

Divertir-se ao imitar os personagens.<br />

Desenvolvimento<br />

Organizar no parque ou solário alguns materiais<br />

como cordas, bambolês, caixotes, bolinhas,<br />

colchões.<br />

Realizar movimentos semelhantes aos observados<br />

no filme e propor que as crianças imitem.<br />

Colocar música de circo de fundo.<br />

Recursos utilizados<br />

Cordas, bambolês, colchonetes, caixotes, bo<strong>la</strong>s de<br />

vários tamanhos, videocassete e TV.<br />

Possíveis desdobramentos<br />

Passeio ao circo.<br />

Organizar brincadeiras de circo para as crianças<br />

brincarem: esticar panos coloridos na sa<strong>la</strong> imitando<br />

a tenda e disponibilizar os objetos.<br />

Ouvir CD com músicas do circo.<br />

3o Encontro<br />

Acrobacias<br />

1) Apreciação de imagens e conversa<br />

Objetivos<br />

Conhecer os movimentos desses artistas.<br />

Desenvolvimento<br />

Levar um boneco de pano e imagens de acrobatas<br />

em uma caixa-surpresa.<br />

Apreciar as imagens e relembrar os movimentos<br />

dos acrobatas vistos no filme.<br />

Repetir os movimentos com o boneco para ajudar<br />

as crianças a relembrarem.<br />

Bai<strong>la</strong>rinas<br />

2) Acrobacias<br />

Objetivos<br />

Realizar movimentos que se<br />

aproximem dos movimentos<br />

dos artistas: ro<strong>la</strong>r, dar cambalhotas,<br />

ro<strong>la</strong>r sobre bo<strong>la</strong>s.<br />

Desenvolvimento<br />

Organizar na área<br />

externa colchões,<br />

para que as crianças possam realizar alguns movimentos<br />

e bolões, para que rolem por cima.<br />

Recursos utilizados<br />

Colchonetes, bolões de parque, imagens de acrobatas,<br />

boneco de pano.<br />

Possíveis desdobramentos<br />

Confeccionar um boneco de arame e pano para<br />

cada criança e propor situações de brincadeira<br />

com eles.<br />

Jogo de Siga o Mestre.<br />

Circuitos.<br />

4o Encontro<br />

Ponta dos pés, saltos e piruetas: a bai<strong>la</strong>rina<br />

1) Apreciação de imagens e conversa<br />

Objetivos<br />

Conhecer os movimentos desses artistas.<br />

Desenvolvimento<br />

Levar uma boneca bai<strong>la</strong>rina de pano ou fotografia<br />

em uma caixa-surpresa.<br />

Perguntar para as crianças se e<strong>la</strong>s lembram como<br />

faz a bai<strong>la</strong>rina.<br />

Mostrar outras imagens e relembrar os movimentos,<br />

nomeando-os.<br />

2) Dançando como as bai<strong>la</strong>rinas do circo<br />

Objetivos<br />

Realizar movimentos que se aproximem dos movimentos<br />

dos artistas: andar na ponta dos pés,<br />

saltitar e girar.<br />

Desenvolvimento<br />

Colocar uma sapatilha e propor um jogo em que<br />

as crianças imitem os movimentos que eu fizer.<br />

Continua na página 25<br />

SHEINA


Continuação da página <strong>24</strong><br />

Deixar que dancem à vontade músicas lentas e<br />

rápidas.<br />

Recursos utilizados<br />

Aparelho de som, sapatilha, boneca, imagens<br />

de bai<strong>la</strong>rina.<br />

Possíveis desdobramentos<br />

Ver trechos de filmes de espetáculos de dança.<br />

Cantos de fantasia e maquiagem.<br />

Momentos de dançar músicas diversas.<br />

5o Encontro<br />

Brincando de ma<strong>la</strong>barista e equilibrista<br />

1) Apreciação de imagens e conversa<br />

Objetivos<br />

Conhecer o que esses artistas fazem no circo.<br />

Desenvolvimento<br />

Levar imagens de equilibristas e ma<strong>la</strong>baristas e<br />

apreciá-<strong>la</strong>s identificando os movimentos, instrumentos<br />

utilizados, as roupas.<br />

2) Brincando de ma<strong>la</strong>barista<br />

Objetivos<br />

Lançar objetos de diversas maneiras: forte, fraco,<br />

alto, a curta distância, a longa distância etc.<br />

Lançar objetos uns para os outros e tentar apanhar.<br />

Desenvolvimento<br />

Convidar as crianças a explorar possibilidades de<br />

<strong>la</strong>nçamento de objetos.<br />

Primeiro fazer uma roda e jogar uma bo<strong>la</strong> grande<br />

e leve de uma para a outra criança.<br />

Experimentar jogar bolinhas de diversas maneiras,<br />

para cima, para longe, contra a parede etc.<br />

Deixar que as crianças brinquem à vontade.<br />

Recursos utilizados<br />

Bo<strong>la</strong> grande e leve, bolinhas individuais, imagens<br />

de ma<strong>la</strong>barista.<br />

Possíveis desdobramentos<br />

Confeccionar garrafas e tubos coloridos e propor<br />

novos jogos que exijam novas formas de <strong>la</strong>nçamento<br />

com os diferentes objetos.<br />

Equilibrar diferentes objetos: copos de iogurte,<br />

bandejas de isopor, caixinhas de emba<strong>la</strong>gem.<br />

6o Encontro<br />

Brincando de trapezista<br />

1) Apreciação de imagens e conversa<br />

Objetivos<br />

Conhecer os movimentos desses artistas.<br />

Desenvolvimento<br />

Levar um boneco trapezista em uma caixa-surpresa.<br />

Perguntar se as crianças se lembram desse artista.<br />

Mostrar outras imagens de trapezistas e observar<br />

os instrumentos, as roupas, os movimentos.<br />

2) Trapezistas mirins<br />

Objetivos<br />

Realizar movimentos dos artistas: ba<strong>la</strong>nçar sentado<br />

e segurando uma corda; se dependurar com<br />

as duas mãos e ba<strong>la</strong>nçar; se dependurar com uma<br />

só mão e com as pernas com ajuda dos adultos.<br />

Desenvolvimento<br />

Organizar na área externa: cordas, ba<strong>la</strong>nços e trapézios.<br />

Dar modelos do que as crianças podem fazer e<br />

ajudá-<strong>la</strong>s a explorar os brinquedos.<br />

Recursos utilizados<br />

Cordas, ba<strong>la</strong>nças e trapézios; imagens e boneco<br />

trapezista.<br />

Possíveis desdobramentos:<br />

Confeccionar trapézios.<br />

Fazer trapézios para os bonecos<br />

de arame.<br />

7o Encontro<br />

Os bichos do circo<br />

1) Apreciação de imagens e conversa<br />

Objetivos<br />

Conhecer os movimentos dos animais no circo.<br />

Desenvolvimento<br />

Levar imagens de animais no circo: elefantes<br />

sobre duas patas, cavalos correndo, cachorrinhos<br />

fazendo acrobacias, leões e tigres<br />

saltando obstáculos.<br />

Continua na página 26<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Onça<br />

JULIANA<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

25


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

26<br />

TEMPO DIDÁTICO 1<br />

Continuação da página 25<br />

2) Correria de bichos<br />

Objetivos<br />

Andar e correr sobre quatro apoios como os bichos.<br />

Desenvolvimento<br />

Confeccionar máscaras de bichos e deixar que as<br />

crianças escolham qual animal querem ser.<br />

Propor brincadeiras em que as crianças devem andar<br />

e correr como os bichos.<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Programa de Educação Infantil – PEI – Iniciativa: Fundação Abrinq e Fundação Brasileira Safra<br />

Responsabilidade Técnica: Instituto <strong>Avisa</strong> Lá<br />

Formadora: Denise Nalini<br />

Professora de Apoio: Ana Lúcia Bresciane<br />

Realização:<br />

CEI Jd. São Norberto<br />

Rua Vicenzo Neriti, 610 – Jd. São Norberto<br />

São Paulo – SP. CEP: 04884-140<br />

Tel.: (11) 5920-3506. E-mail: cspsaonorberto@ig.com.br<br />

Gerente: Rosemary Gregio de Oliveira<br />

Coordenadora: Isabel Cordeiro Leme<br />

CEI Cantinho da Criança<br />

Rua Frei Luís de Leon, vie<strong>la</strong> II – Vi<strong>la</strong> Jd. Floresta<br />

São Paulo – SP. CEP: 04836-080<br />

Gerente: Silvana Silva Silveira<br />

Coordenadora: Mariana Cristina Goes Areda<br />

Tel.: (11) 5929-58<strong>24</strong>. E-mail: reconci@terra.com.br ou recmenor@sti.com.br<br />

CEI Ana de Fátima<br />

Forte Maurício, 13 – Jd. Iporã<br />

São Paulo – SP. CEP: 04865-130<br />

Tel.: (11) 5979-6422<br />

Gerente: Roseneide de Araújo<br />

Coordenadora: Kelly Cristina de O. Braga<br />

PARA SABER MAIS<br />

Livros e Revistas<br />

“A Criança e o Movimento”, de Isabel Filgueiras. Revista avisa lá, edição n o 11, julho/2002<br />

Cliford no Circo, de Norman Bridwell. Ed. Cosac & Naif. Tel. (11) 3218-1444<br />

“Desenvolvimento Motor: Passado, Presente e Futuro”, de Isabel Filgueiras. Revista Paulista de Educação Física. Suplemento<br />

3/2000. Tel.: (11) 3091-3147<br />

Faz e Acontece no Circo, de La<strong>la</strong>u. Ilustrações de Laurabeatriz. Ed. Cia. das Letrinhas. Tel.: (11) 3707-3501<br />

Henri Wallon: Uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil, de Izabel Galvão. Ed.Vozes. Tel.: (<strong>24</strong>) 223-9000<br />

Referencial Curricu<strong>la</strong>r Nacional para a Educação Infantil: Movimento. MEC, 1998. Arquivos disponíveis no site: www.mec.gov.br<br />

Filmes disponíveis em formato DVD e VHS<br />

Cirque du Soleil – A Reinvenção do Circo, 1989. Direção de Jaques Payette<br />

O Maior Espetáculo da Terra, 1952. Direção de Cecil B. Demille<br />

Os Sapatinhos Vermelhos, 1948. Direção de Michael Powell<br />

Cavalo<br />

Recursos utilizados<br />

Imagens e máscaras.<br />

Possíveis desdobramentos<br />

Confeccionar bichos grandes nos quais as crianças<br />

possam subir, para alimentar a brincadeira.<br />

Corrida de Bichos.<br />

CDs e CD-Rom<br />

O Grande Circo Místico, de Edu Lobo e Chico Buarque. Som Livre. Site: www.somlivre.com.br<br />

Pandalelê – Brinquedos Cantados. Vol. 1. Contém CD, CD-Rom e livro. Informações e vendas: Eugenio Tadeu.<br />

Tel.: (31) 3499-5199. E-mails: etadeu@lcc.ufmg.br e atendimento@pa<strong>la</strong>vracantada.com.br<br />

Cd do Circo, dos Par<strong>la</strong>patões, Patifes e Paspalhões. Informações e vendas: Tel.: (11) 3061-9799. E-mail: par<strong>la</strong>patoes@uol.com.br.<br />

Site: www.par<strong>la</strong>patoes.com.br<br />

SHEINA


OProjeto Casa de Brinquedo, que envolve<br />

prioritariamente conteúdos da matemática<br />

e meio ambiente, nasceu da<br />

necessidade real das crianças de incrementar o<br />

acervo lúdico da Esco<strong>la</strong> Municipal de Educação<br />

Infantil João Mendonça Falcão, localizada na zona<br />

leste da capital paulista.<br />

Pensamos no projeto, quando a esco<strong>la</strong> recebeu<br />

um kit com ge<strong>la</strong>deira, fogão, pia,<br />

mesa e cadeirinhas. As crianças,<br />

quase que em coro, disseram:<br />

“Que pena que<br />

não temos uma casinha<br />

para colocar tudo<br />

dentro”. Sugeri então:<br />

“E se nós construíssemos<br />

uma casinha com<br />

caixinhas de leite?”.<br />

Essa conversa desencadeou<br />

toda a ação.<br />

TEMPO DIDÁTICO 2<br />

Uma casa para brincar<br />

Gera discussões<br />

ambientais e<br />

soluções matemáticas<br />

POR MARGARETH BUZINARO 1<br />

CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS DE UMA ESCOLA MUNI-<br />

CIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA CIDADE DE SÃO<br />

PAULO APRENDEM A PROJETAR E CONSTRUIR COLE-<br />

TIVAMENTE UMA CASA DE BRINQUEDO 2 , UTILIZANDO<br />

EMBALAGENS RECICLÁVEIS A POSSIBILIDADE DA BRIN-<br />

CADEIRA NO ESPAÇO A SER CRIADO MOVIMENTA O<br />

DESEJO DE APRENDER DAS CRIANÇAS<br />

1 Professora da Rede Municipal de Ensino da cidade de São Paulo.<br />

2 Projeto pensado por Margareth Buzinaro para ser desenvolvido com crianças de 4 e 5 anos. Com agradecimento especial à professora<br />

Rosa Maria Antunes de Barros, que co<strong>la</strong>borou no esboço da primeira versão deste trabalho.<br />

FOTOS: MARGARETH BUZINARO<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

27


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

28<br />

TEMPO DIDÁTICO 2<br />

Discuti com as crianças sobre o que queriam<br />

e, principalmente, as formas de colocar em prática<br />

seus objetivos, aproveitando para trabalhar<br />

com diferentes conteúdos de forma significativa.<br />

O Projeto nas mãos das crianças<br />

Combinamos, primeiramente, como fazer<br />

para arrecadar as caixas. Propus a e<strong>la</strong>boração<br />

coletiva de um cartaz, pedindo que outras crianças<br />

da esco<strong>la</strong> também trouxessem caixinhas<br />

vazias de leite:<br />

Estamos precisando de caixinha de lei-<br />

te Longa Vida para construir uma casinha de<br />

brinquedos. Precisa ser limpa e não pode ser<br />

amassada. Quem quiser ajudar é só trazer<br />

as caixinhas e entregar na sa<strong>la</strong> 3.<br />

E<strong>la</strong>boramos e revisamos coletivamente o texto<br />

do cartaz, fixando-o no portão da esco<strong>la</strong>, cuidando<br />

para não esquecer de explicar sobre os cuidados<br />

necessários com a limpeza das caixas.<br />

Crianças tomam decisões<br />

Esperamos que as caixas fossem chegando<br />

para realizarmos novas rodas de conversa e tomarmos<br />

algumas decisões sobre a coleta e o armazenamento,<br />

a partir das questões concretas que<br />

foram surgindo e que não foram antecipadas<br />

propositalmente:<br />

Como receber as caixas, diariamente, sem causar<br />

tumulto;<br />

Onde guardar;<br />

Como guardar;<br />

O que fazer com as caixas que viessem com restos<br />

de leite.<br />

Passados três dias do pedido de arrecadação,<br />

estávamos diante de um problema: decidir<br />

o que fazer com a quantidade diária de caixas de<br />

leite que chegavam à esco<strong>la</strong>. Precisamos tomar<br />

algumas decisões, discutidas com as crianças, pa-<br />

ra que e<strong>la</strong>s fossem entrando em contato com as<br />

questões práticas que surgem quando nos propomos<br />

a realizar ações transformadoras. Estávamos<br />

amontoando as caixinhas de leite conforme<br />

chegavam, dentro de saco<strong>la</strong>s plásticas, em nossa<br />

sa<strong>la</strong>, e o volume das caixas começou a tomar<br />

conta do espaço.<br />

Com as crianças na roda, conversamos sobre<br />

como armazenar as caixas até o momento da confecção<br />

propriamente dita da casa de brinquedo.<br />

Chegamos às seguintes soluções, que fui registrando<br />

na presença das crianças:<br />

Colocar uma caixa no pátio para recolher o material.<br />

Assim as crianças de horários diferentes<br />

fariam diretamente a entrega sem precisar ir à<br />

nossa sa<strong>la</strong>, interrompendo-nos, porque às vezes<br />

estávamos lendo uma história, ou conversando;<br />

No final de cada dia, algumas crianças de nossa<br />

turma desceriam para buscar as caixas, que<br />

ficariam armazenadas em nossa c<strong>la</strong>sse;<br />

Para melhor acomodação, as caixas de papelão<br />

foram colocadas em cima de um armário;<br />

As caixinhas de leite que viessem sujas, seriam<br />

<strong>la</strong>vadas na nossa pia.<br />

LIGIA


A doação das caixinhas mobilizou a esco<strong>la</strong> inteira<br />

Fazendo estimativas e contagens<br />

Propus uma série de situações nas quais as<br />

crianças foram convidadas a levantar hipóteses<br />

sobre quantidades, com registros feitos por e<strong>la</strong>s<br />

ou propostos por mim. Em uma roda, na qual<br />

circu<strong>la</strong>va uma boa quantidade de caixas (60,<br />

ao todo), as crianças precisavam responder<br />

às seguintes questões:<br />

Quantas caixas já temos?<br />

Será que esta quantidade de caixas<br />

é suficiente para construirmos<br />

nossa casinha?<br />

As respostas foram as mais diversas:<br />

de dez a 2 mil caixas seriam<br />

suficientes. Fui registrando em<br />

um papel pardo o que e<strong>la</strong>s diziam,<br />

destacando nomes e quantidades<br />

que cada criança ia sugerindo, com<br />

cores diferentes um do outro, de maneira<br />

que ficamos com colunas distintas de nomes<br />

e quantidades.<br />

Conversamos muito, comparamos os registros<br />

de uma e outra quantidade, até que separei<br />

em um pequeno monte dez caixas, que fui contando<br />

junto com eles e, em seguida, reformulei a<br />

pergunta inicial: “Se neste monte temos dez caixas,<br />

quantas será que temos neste outro monte<br />

que sobrou?” O fato de determinar a quantidade<br />

de uma parte das caixas fez com que as crianças<br />

re-e<strong>la</strong>borassem a estimativa inicial. Algumas<br />

sugeriram que eu <strong>org</strong>anizasse outros montes de<br />

dez e, no final chegamos a contar as 60 caixas<br />

que tínhamos ao todo. Anotamos este número<br />

em outra folha de papel pardo e combinamos que<br />

diariamente contaríamos as caixas coletadas.<br />

Começamos também a ensaiar a construção<br />

da casa. Como fazer para deixar as caixas de leite<br />

mais firmes e fortes para construirmos nossa<br />

casinha? Vazias, eram leves demais.<br />

No pátio da esco<strong>la</strong>, espalhamos todas as caixas<br />

no chão, como peças de montar, para que as<br />

crianças “ensaiassem” empilhá-<strong>la</strong>s, como se fossem<br />

iniciar a construção. Rapidamente descobriram que<br />

as caixas eram leves demais e que não seria possível<br />

construir uma casinha assim. Pensaram então:<br />

empilhar ou enfileirar? Como começar?<br />

TEMPO DIDÁTICO 2<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

29


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

30<br />

TEMPO DIDÁTICO 2<br />

Brincadeira e questão ambiental<br />

As sugestões foram muitas para resolver o<br />

problema de construir uma casa resistente: enchê<strong>la</strong>s<br />

de pedras, terra, areia. Para cada qual fomos<br />

discutindo prós e contras. Lembramos, então, de<br />

uma peça teatral sobre recic<strong>la</strong>gem de lixo que assistimos<br />

e na qual aprendemos que, enchendo<br />

caixas de leite com jornal, poderíamos construir<br />

vários brinquedos. Então tomamos a decisão de<br />

enchermos as caixinhas com jornal amassado para<br />

ver se ficaria melhor.<br />

Essa foi nossa primeira conversa sobre o<br />

lixo que pode ser reaproveitado. Em matéria<br />

de preservação do ambiente, é importante<br />

agir de acordo com os três “Rs” da ecologia:<br />

Reduzir o consumo, Reutilizar (ou reaproveitar)<br />

e Recic<strong>la</strong>r os materiais. Aplicar estas idéias<br />

no dia-a-dia esco<strong>la</strong>r é uma forma das crianças<br />

aprenderem, por meio de atitudes cotidianas,<br />

sobre como cuidar de seu ambiente.<br />

As caixinhas, que em geral vão para o lixo, podem virar material de ensino<br />

Recic<strong>la</strong>gem<br />

A recic<strong>la</strong>gem é umas<br />

das alternativas para o<br />

tratamento do lixo urbano<br />

e contribui diretamente<br />

para a conservação<br />

do meio ambiente. E<strong>la</strong> trata o lixo como matériaprima<br />

que é reaproveitada para fazer novos<br />

produtos e traz benefícios para todos, como a<br />

diminuição da quantidade de lixo enviada para<br />

aterros sanitários, a diminuição da extração de recursos<br />

naturais, a melhoria da limpeza da cidade<br />

e o aumento da conscientização dos cidadãos a<br />

respeito do destino do lixo.<br />

Existem diversas tecnologias disponíveis<br />

para a recic<strong>la</strong>gem das emba<strong>la</strong>gens da Tetra<br />

Pak. Conheça as formas de recic<strong>la</strong>gem no site:<br />

www.tetrapak.com.br/home.html.


Educação Ambiental<br />

A prática da Educação Ambiental passa<br />

necessariamente por uma educação da sensibilidade,<br />

já que estamos fa<strong>la</strong>ndo de valores,<br />

atitudes, conceitos que não se transformam<br />

a partir de uma simples informação, mas sim<br />

pe<strong>la</strong> percepção daquele valor ou atitude<br />

como algo importante para o<br />

bom desenvolvimento da re<strong>la</strong>ção<br />

homem-meio.<br />

Ferreira Santos, 2001.<br />

Uso social da matemática<br />

O próximo passo foi desco-<br />

brirmos quantos jornais seriam<br />

necessários para que cada caixinha<br />

ficasse bem firme. Já tínhamos jornais<br />

em grande quantidade. Fizemos algumas estimativas<br />

e discutimos como fazer para ter certeza<br />

da quantidade a ser utilizada. Algumas crianças<br />

Matemática<br />

Os domínios sobre os quais as crianças de<br />

0 a 6 anos fazem suas primeiras incursões e<br />

expressam idéias matemáticas elementares<br />

dizem respeito a conceitos aritméticos e espaciais.<br />

Propõe-se a abordagem desses conteúdos<br />

de forma não simplificada, tal como aparecem<br />

nas práticas sociais. Se, por um <strong>la</strong>do, isso implica<br />

trabalhar com conteúdos complexos, por<br />

outro <strong>la</strong>do, traz implícita a idéia de que a criança vai<br />

construir seu conhecimento matemático por meio de<br />

re<strong>org</strong>anizações ao longo da sua vida. Complexidade e<br />

provisoriedade são, portanto, inseparáveis, pois o trabalho<br />

didático deve necessariamente levar em conta<br />

sugeriram que experimentássemos uma a uma<br />

as folhas. Foi o que fizemos: primeiro com as folhas<br />

dup<strong>la</strong>s, depois com as simples. Registramos<br />

para não esquecer. A solução foi sete folhas dup<strong>la</strong>s<br />

ou 14 simples.<br />

Pensando nas metragens<br />

Começamos a pensar, então, em quantas caixas<br />

seriam necessárias para construir<br />

nossa casinha. Como descobrir?<br />

Queríamos que os móveis coubessem<br />

dentro de<strong>la</strong>. Fomos todos para<br />

o pátio pensar, olhando para os móveis<br />

e para as caixinhas. Mais estimativas,<br />

mais contagens. Quantas<br />

caixas por fileira? Quantas caixas por<br />

coluna? Quantas caixas por parede?<br />

E como registrar todos os <strong>la</strong>dos da casa?<br />

E decidir onde seriam as portas e<br />

jane<strong>la</strong>s? Foram muitas as idéias, os<br />

cálculos e os registros. Ao final chegamos a<br />

um número. Entre uma atividade e outra fomos<br />

enchendo as caixinhas com jornal, lem-<br />

PEDRO<br />

tanto a natureza do objeto de conhecimento como o<br />

processo pelo qual as crianças passam ao construí-lo.<br />

Referencial Curricu<strong>la</strong>r Nacional para a<br />

Educação Infantil. / MEC – Vol 3, pg. 217<br />

TEMPO DIDÁTICO 2<br />

ERICSON<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

31


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

32<br />

TEMPO DIDÁTICO 2<br />

brando da quantia certa de folhas, de manter a<br />

estrutura da emba<strong>la</strong>gem, sem amassá-<strong>la</strong>s, garantindo<br />

a forma geométrica, parecendo um tijolo.<br />

Construção da casa<br />

Depois do intenso trabalho e contando com<br />

uma armação de madeira pronta, feita por um<br />

voluntário, voltamos a pensar em forma, quantidade,<br />

p<strong>la</strong>nejamento das paredes, portas e jane<strong>la</strong>s.<br />

Finalmente tínhamos caixas suficientes.<br />

Divididas em grupos, as crianças fizeram uso de<br />

experiências anteriores. Primeiro enfileiraram caixas<br />

ao <strong>la</strong>do da armação de madeira e, em seguida,<br />

procuraram empilhar, formando colunas. Contaram,<br />

então, fileiras e colunas inteiras e foram<br />

Projeto<br />

Áreas<br />

Matemática<br />

Conteúdo transversal<br />

Meio ambiente<br />

decidindo como montar no chão, cada uma das paredes<br />

da casa, considerando suas hipóteses de<br />

quantidade.<br />

Finalmente a construção<br />

Chegou o grande dia de iniciarmos a construção<br />

de nossa casinha de brinquedo. É c<strong>la</strong>ro<br />

que precisamos de ajuda de outros adultos, mas<br />

todas as crianças puderam co<strong>la</strong>r os tijolos de caixa<br />

de leite. Como não era possível que todos participassem<br />

ao mesmo tempo, as crianças foram<br />

divididas em grupos, sendo que cada um tinha<br />

uma tarefa: selecionar as caixas, recortar calços<br />

e enfeites, acabamento para o telhado, <strong>org</strong>anizar<br />

o espaço, entre outros.<br />

Casa de Brinquedo<br />

Faixa etária<br />

4 a 5 anos – Turma com 30 crianças<br />

Duração<br />

Agosto a outubro/2004<br />

Produto final<br />

Casinha de brinquedo confeccionada com caixinhas de<br />

leite<br />

Justificativa<br />

A brincadeira é reconhecidamente um dos mais impor-<br />

tantes conteúdos da Educação Infantil. Tudo vira brinquedo<br />

nas mãos das crianças. Qualquer caixa ou pedaço<br />

de papel pode se tornar brinquedos interessantíssimos<br />

no delicioso jogo simbólico com o qual estão sempre<br />

envolvidas. Sabendo que enquanto brincam as crianças<br />

aprendem, podemos <strong>org</strong>anizar situações nas quais estas<br />

brincadeiras intermedeiem a aprendizagem de outros<br />

conteúdos que também precisam estar contidos no universo<br />

do que se pretende ensinar para e<strong>la</strong>s, como matemática<br />

ou cuidados com o meio ambiente.<br />

Foi essa idéia que nos mobilizou a construir, junto com<br />

nossos pequenos, uma linda casinha de brinquedo que<br />

já poderia ser brinquedo antes mesmo de estar pronta,<br />

ainda que envolvendo muito trabalho sério.<br />

Objetivo do professor<br />

Matemática: Envolver as crianças em diversas situações-problema,<br />

diante das quais precisassem tomar de-<br />

Continua na página 33


Continuação da página 32<br />

cisões, levantando hipóteses, fazendo uso de seus conhecimentos<br />

prévios sobre todos os conteúdos envolvidos<br />

em cada atividade proposta. Situações nas quais<br />

as crianças pudessem realizar e registrar (convencionalmente<br />

ou não):<br />

Contagens;<br />

Estimativas e cálculos mentais<br />

simples;<br />

Comparações de diversas grandezas;<br />

Medidas de comprimento, peso e<br />

volume;<br />

Exploração e identificação de propriedades<br />

geométricas: formas, tipos<br />

de contorno, faces p<strong>la</strong>nas, <strong>la</strong>dos<br />

retos.<br />

Meio ambiente: Organizar momentos<br />

de trocas de informações sobre<br />

o destino de materiais recicláveis e<br />

algumas boas razões para se recic<strong>la</strong>r<br />

o lixo, além de aprender a reaproveitar<br />

materiais que poderiam ir<br />

para o lixo.<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Projeto Casa de Brinquedo<br />

Realização Esco<strong>la</strong> Municipal de Educação Infantil João Mendonça Falcão<br />

Rua Coronel Mursa, 167 – Brás<br />

São Paulo – SP. CEP: 03043-050<br />

Equipe<br />

Diretora Maria Cecília P. Cricelli<br />

Coordenadora Pedagógica Ana Lúcia<br />

Educadora Margareth Buzinaro<br />

Co<strong>la</strong>borador Voluntário Professor Antonio Buzinaro Filho<br />

PARA SABER MAIS<br />

Objetivos para as crianças<br />

Construir uma casinha com caixas de leite para colocar<br />

a mesinha, o fogãozinho, a pia e a ge<strong>la</strong>deira que a esco<strong>la</strong><br />

ganhou de presente, e poder brincar com muitas<br />

panelinhas, comidinhas e bonecas; porque é mais gostoso<br />

brincar dentro de uma casinha.<br />

Trabalho concluído: casinha de brinquedo confeccionada com caixinhas de leite<br />

Manual de Recic<strong>la</strong>gem – Coisas Simples que Você Pode Fazer, The Earth Works Group. Ed. José Olympio. Tel.: (21) 2585-2061<br />

O Outro Lado do Meio Ambiente – Uma Incursão Humanista na Questão Ambiental, Ávi<strong>la</strong> Coimbra. Ed. Millenium.<br />

Tel.: (19) 3274-1879<br />

Sites:<br />

www.tetrapak.com.br/home.html<br />

www.recic<strong>la</strong>r-t3.<strong>org</strong>.br/html/pt/fazemos.php<br />

www.cempre.<strong>org</strong>.br/manuais.php<br />

TEMPO DIDÁTICO 2<br />

<br />

<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

34<br />

SUSTANÇA<br />

Recortes<br />

O artista<br />

POR ADRIANA KLISYS 1<br />

SÃO MUITOS OS RECORTES QUE PODEMOS FAZER DA<br />

REALIDADE.FAZÊ-LOS COM AUTORIA É UMA COMBI-<br />

NAÇÃO DE SENSIBILIDADE COM O CONHECIMENTO<br />

DE PROCEDIMENTOS QUE RESULTAM NUMA GRANDE<br />

BRINCADEIRA DA CRIAÇÃO. A POESIA DO MUNDO<br />

ESTÁ AI: TEMPERAR INTENÇÃO E AÇÃO, GESTO E MO-<br />

VIMENTO, PARA SURPREENDER-SE COM OS RUMOS ES-<br />

COLHIDOS. ASSIM FAZEM OS ARTISTAS E AS CRIANÇAS<br />

Carlos Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong>, escritor e artista plásti-<br />

co, nascido em Curitiba (PR) é um apaixonado<br />

pelo mundo do papel, suporte da escrita e da<br />

imagem. Seus textos estão repletos de imagens,<br />

assim como seu desenho e sua pintura são marcados<br />

pelo universo da escrita e seus contextos.<br />

Como artista de genuína curiosidade e in-<br />

1 Formadora do Instituto <strong>Avisa</strong> Lá e coordenadora da Caleidoscópio Brincadeira e Arte.<br />

“A arte é como uma jane<strong>la</strong> poderosa<br />

que nos atrai; e junta a beleza da<br />

pessoa com o mundo.”<br />

Lauro Mendes Gabriel, professor Ticuna<br />

tensificado interesse pelo uso dos diferentes<br />

meios e suportes, Carlos transita pelo papel, te<strong>la</strong>,<br />

painéis de cimento, parede, vidro, fotografia,<br />

escultura em papel e por aí vai. Esta mistura,<br />

que faz como brasileiro imerso neste caldo cultural<br />

que é nosso País, está presente no livro<br />

Bicicletas de Montreal, <strong>la</strong>nçado em 2002, e agora<br />

reeditado, com três capas diferentes, para representar,<br />

em agosto de 2005, o País no ano do<br />

Brasil na França, evento que reúne muitos artistas<br />

nacionais.<br />

O livro traz diferentes imagens de bicicletas<br />

abandonadas nas ruas de Montreal – capital do<br />

Canadá –, registradas por meio da fotografia e<br />

reinterpretadas em desenho, gravura, recorte e<br />

co<strong>la</strong>gem. Ao folhear o livro, podemos passear<br />

com o artista pe<strong>la</strong>s ruas de sua imaginação, numa<br />

viagem simbólica, cuja trama das linhas importa<br />

mais do que o objeto bicicleta em si.


Poéticos<br />

“<br />

Poucas vezes me perguntei quem havia<br />

abandonado essas bicicletas, e em que circunstâncias.<br />

O fato é que e<strong>la</strong>s estavam lá, em todas<br />

as ruas, um fato aparentemente corriqueiro,<br />

perfeitamente integrado ao dia-a-dia da cidade.<br />

O que me interessava era o fato gráfico, o<br />

retorcido dos aros, dos pára-<strong>la</strong>mas, dos pe-<br />

dais, o denteado da correia na calçada, a sombra<br />

harmonicamente deformada no asfalto, o<br />

arabesco dos raios entre os galhos secos de<br />

um arbusto, parcialmente cobertos pe<strong>la</strong> neve.<br />

O que me atraía era a trama de linhas metálicas<br />

e vegetais, indistintas.<br />

”<br />

Bicicletas de Montreal, Carlos Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong><br />

Bicicleta sobre fachada de A. Volpi, de Carlos Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong>. Recorte e co<strong>la</strong>gem<br />

SUSTANÇA<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

36<br />

SUSTANÇA<br />

A bicicleta dos sonhos. Carlos Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong>. Grafite, co<strong>la</strong>gem com fotografias e lápis de cor sobre papel japonês<br />

A obra Recortes Poéticos<br />

Seria uma co<strong>la</strong>gem, uma composição? A ex-<br />

pressão que encontrei para definir seu trabalho<br />

– Recortes Poéticos – traz uma dimensão da essência<br />

de Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong>: aque<strong>la</strong>, segundo a qual o<br />

olhar pessoal, e até mesmo casual, seleciona,<br />

reordena, recria e se apropria do mundo sob uma<br />

nova ótica. Recorte porque elege, seleciona fragmentos<br />

do mundo numa composição peculiar.<br />

Poético porque, de certa forma, o poeta é aquele<br />

que escolhe as imagens, metáforas que vão<br />

compor sua criação.<br />

Recortes Poéticos são dados pelo olhar curioso,<br />

olhar de quem desvenda e não aceita o lugar<br />

comum, a superficialidade. O que elegemos,<br />

assim como o que deixamos de <strong>la</strong>do, é uma<br />

operação do nosso olhar diante do mundo.<br />

Quanto mais nutridos pe<strong>la</strong> sensibilidade e informados<br />

pelo conhecimento, maior nossa possibilidade<br />

de criação e de criar inspiração.<br />

Mundo do artista e da criança<br />

Cabe à Educação, em especial à esco<strong>la</strong>, olhar<br />

atentamente para a criança e perceber ne<strong>la</strong> sua<br />

natureza criativa, propondo um ambiente favo-<br />

rável, com atividades instigantes, nas quais e<strong>la</strong>s<br />

possam se expressar e ganhar intimidade com a<br />

linguagem artística.<br />

A constância das propostas, aliada à diversidade<br />

de materiais, ajuda a criança em seu<br />

percurso criador. Mas não é só isso, é preciso<br />

valorizar o percurso criativo individual. Embora<br />

a realidade brasileira, no que diz respeito ao ensino<br />

da arte, tenha conseguido avanços, ainda<br />

é comum vermos propostas de trabalho em artes<br />

que desconsideram a criação das crianças.<br />

Prova disso é a quantidade de atividades de colorir<br />

desenhos prontos, ou mesmo propostas cujo<br />

resultado de todos os trabalhos de grupo é<br />

praticamente idêntico, portanto de autoria<br />

comprometida.<br />

Conhecer artista não é copiar<br />

É interessante que a criança possa ter conhecimento<br />

da produção artística regional, nacional e<br />

internacional, ter contato com diferentes artistas<br />

e suas obras para saber o que fazem, sobretudo como<br />

fazem (procedimentos), para que enriqueçam<br />

seu repertório. Isto não quer dizer que devam copiar<br />

o trabalho do artista. É preciso atentar para


o projeto pessoal dos pequenos. Assim sendo, no<br />

caso do artista citado, e dessas produções que<br />

destacamos, as crianças podem ser levadas por<br />

ele a observar diferentes objetos e materiais variados,<br />

compondo-os num mesmo trabalho. Não<br />

precisam necessariamente utilizar como mote as<br />

bicicletas, mesmo porque estas foram um pretexto<br />

gráfico pessoal. Para a criança experimentar<br />

a partir do seu desenho, qualquer forma ou objeto<br />

serve, tal como brinquedos, paisagens, animais<br />

de estimação, etc. O que importa é aprender<br />

o uso híbrido de materiais e atentar para o pretexto<br />

gráfico dos objetos, criando novas formas<br />

de representá-los.<br />

A criatividade é dada pe<strong>la</strong> linguagem, pelo<br />

procedimento, pelos passos que abrem para<br />

o novo. O que as crianças podem aprender<br />

com o artista é como ele procedeu, que prazer<br />

ele experimentou nesse procedimento. E, naturalmente,<br />

como esse fazer pode<br />

inspirar e nutrir o de<strong>la</strong>s.<br />

Ao realizar propostas é<br />

importante ter em mente<br />

que o objetivo que se tem dá a direção, mas é no<br />

caminho, no processo, que as coisas acontecem e<br />

muitas vezes alteram o sentido inicial. O objetivo<br />

é sempre uma coordenada, não uma camisa de<br />

força. A forma de alcançá-lo difere de criança para<br />

criança, caso contrário resultará em repetição<br />

sem fim.<br />

O processo criativo é especu<strong>la</strong>tivo, nunca está<br />

pronto. Neste sentido, o fazer artístico é re<strong>la</strong>cional<br />

depende da construção sujeito-objeto. A<br />

liberdade criativa implica romper com a forma,<br />

com o estabelecido, com o convencional.<br />

A criança, tal como o artista, necessita implicar-se<br />

com o próprio desejo para que o trabalho<br />

artístico tenha um impacto expressivo. Sem implicação<br />

do sujeito, não há possibilidade de produção<br />

individual, de autoria. Mas isso só não basta.<br />

É preciso experimentação, esforço pessoal e conhecimento.<br />

É desejável o casamento da intenção<br />

com a ação. Intenção que não<br />

deixa de ser a consciência do desejo<br />

com a ação, a coordenação do<br />

sujeito com o objeto, o conhecimento<br />

dos meios e domínio para se atingir o<br />

propósito buscado.<br />

Depois de apreciar o livro Bicicletas de Montreal,<br />

Victor, 5 anos, anima-se com sua produção de bicicleta<br />

com rodas dentadas<br />

SUSTANÇA<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

38<br />

SUSTANÇA<br />

Fragmentos da obra do artista Carlos Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong> ganham nova vida nas mãos do artista mirim Victor<br />

Possíveis propostas para as crianças<br />

Apreciar o trabalho do artista, observando as<br />

soluções que encontrou. Ler para as crianças os<br />

materiais e técnicas utilizadas. Pode-se folhear o<br />

livro, ou projetá-lo através de cópias em transparências<br />

colocadas no retroprojetor.<br />

Oferecer às crianças tesoura e papéis coloridos<br />

(papel creative paper, espelho, papel cartão, off<br />

set, revista, cartões, caixa de presente, papéis<br />

pintados com tinta guache, etc.) com a proposta<br />

de brincar de encontrar formas inusitadas por<br />

meio do recorte.<br />

Guardar os recortes numa caixa, plástico ou<br />

bandeja para posterior composição.<br />

Separar papéis brancos, coloridos e mesmo ilustrados<br />

que sirvam como suporte para as crianças<br />

criarem composições com as imagens recortadas.<br />

Sugerir às crianças que explorem as possibilidades<br />

de composição com os recortes.<br />

Oferecer co<strong>la</strong> para registrar no papel a criação<br />

que fizeram com os recortes, depois de terem tido<br />

tempo de explorar as possibilidades da criação.<br />

É interessante deixar à disposição tesoura<br />

para eventuais acabamentos da proposta.<br />

Quando as crianças ganham familiaridade com<br />

a técnica, introduzir o uso de propostas mistas:<br />

uso de caneta hidrocor, giz de cera, lápis carvão<br />

e mesmo tinta ou corretivo para compor com o<br />

trabalho. (Como no ateliê dos artistas, os materiais<br />

precisam estar à disposição das crianças e<br />

de fácil acesso.)<br />

Voltar ao trabalho do artista, apreciar a forma<br />

de ele trabalhar. Socializar com o grupo os pretextos<br />

escolhidos para a criação do artista (ler<br />

trechos do livro que contam o motivo da escolha<br />

de retratar bicicletas) e discutir os pretextos das<br />

crianças. Atentar também para o uso dos materiais,<br />

por exemplo, o corretivo.<br />

Procurar objetos cuja forma interesse às crianças;<br />

fotografá-los para que possam ser utilizados<br />

como parte de uma composição depois de<br />

reve<strong>la</strong>dos. Neste caso as crianças têm acesso<br />

às fotos para recortar parte do que lhes interessa<br />

e co<strong>la</strong>r num papel para dar continuidade à<br />

sua criação, utilizando técnicas escolhidas<br />

no ateliê.<br />

Escolher dois ou três temas<br />

(paisagens, brinquedos,<br />

etc.) e sugerir que o<br />

grupo, a partir da análise<br />

do trabalho do livro<br />

das bicicletas, também<br />

realize seus<br />

desenhos com temáticas<br />

que fujam<br />

do lugar comum<br />

FOTOS: ADRIANA KLISYS


Thiago faz uso criativo de dois fragmentos de imagens<br />

(Bicicleta Chinesa e Bicicleta dos Sonhos), que escolheu<br />

do livro Bicicletas de Montreal<br />

Co<strong>la</strong>gem de Thiago, a partir da cópia de foto<br />

de Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong> (Saint-Urban), que recortou e<br />

completou com caneta Piloto<br />

De Montreal à<br />

Mongólia, de<br />

Carlos Da<strong>la</strong><br />

Stel<strong>la</strong>. Recorte e<br />

co<strong>la</strong>gem sobre<br />

cartão postal<br />

Vinicius encanta-se com o uso de corretivo, que o artista faz em<br />

seu trabalho, e usa giz branco, sob fundo preto, para dar o efeito<br />

parecido com o que aprendeu, fazendo uso de técnica mista<br />

SUSTANÇA<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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SUSTANÇA<br />

Thiago brinca com o visual de suas rodas de bicicleta<br />

Cuidado com<br />

a Mão de Gato<br />

ao olhar. O desafio, aqui, oferecido às crianças, é<br />

procurar realizar um trabalho de forma inédita, diferente<br />

do convencional.<br />

Caso não haja possibilidade de fotografar, podem-se<br />

escolher imagens de revistas com temáticas<br />

de interesse do grupo de crianças, tais como:<br />

brinquedos, animais de estimação, insetos, bicicletas,<br />

rostos, etc., para que possam recortar partes<br />

destas imagens que servirão como pretexto<br />

para dialogar com a forma, linha, cor, usando de<br />

vários meios para dar continuidade ao trabalho.<br />

Propor rodadas de apreciação de trabalhos, nas<br />

quais as crianças possam contar o que fizeram, as<br />

soluções encontradas para seus recortes poéticos.<br />

Combinar com o grupo a <strong>org</strong>anização e montagem<br />

de uma exposição dos trabalhos realizados,<br />

É importante, numa proposta de artes, <strong>org</strong>anizá-<strong>la</strong> de tal modo que as individualidades se manifestem com força<br />

expressiva. Para isso é preciso apreciar generosamente a produção infantil. Mirá-<strong>la</strong> com interesse para que as<br />

sutilezas do percurso criativo,possam ganhar vida por meio da re<strong>la</strong>ção do professor com o trabalho das crianças.<br />

O processo criativo é eminentemente um procedimento de escolha. Neste sentido, não há o certo ou o errado<br />

em arte. Propostas no imperativo, do estilo “desenhe primeiro isto ou aquilo, use esta cor, ou faça desse jeito”<br />

jamais deveriam ter lugar na esco<strong>la</strong>. Infelizmente, isto ainda acontece com freqüência. Neste exemplo do trabalho<br />

com as bicicletas, a criança pode querer fazer uma bicicleta torta, outra com muitas rodas, faltando partes,<br />

pintar apenas alguns elementos, deixar sem pintar o resto, rabiscar por cima da mesma, usar apenas uma só cor<br />

no desenho inteiro, colorir de cores diferentes da expectativa adulta. O trabalho não é para ser cópia da realidade.<br />

Quando, por exemplo, o desenho extrapo<strong>la</strong> o papel, pode-se oferecer à criança a possibilidade<br />

de co<strong>la</strong>r um papel no outro para a continuidade do desenho, ao invés de<br />

achar que e<strong>la</strong> não respeita os limites do suporte. Os artistas escolhem o jeito de<br />

trabalhar, por que não deixar que as crianças possam achar seus caminhos, inclusive<br />

valorizando e alimentando a autonomia na criação?<br />

Nas imaginações de Vinicius, 5 anos, uma<br />

bicicleta fecunda em rodas, que recortou<br />

para sua co<strong>la</strong>gem com desenho


na qual cada criança escolherá, dentre os trabalhos,<br />

três daqueles que julga ter maior pertinência<br />

com o propósito inicial (mostrar o inédito).<br />

Uma breve História da Bicicleta<br />

O primeiro re<strong>la</strong>to sobre bicicletas ou algo simi<strong>la</strong>r<br />

é datado entre os séculos XV e XVI, sob o<br />

esboço de um velocípede<br />

projetado pelo cientista e<br />

inventor Leonardo da<br />

Vinci (1452–1519).<br />

Este projeto era audacioso<br />

para sua<br />

época, constando<br />

de manive<strong>la</strong>s, pedais<br />

e, ainda, engrenagem<br />

com transmissão por corrente,<br />

algo que só foi usado<br />

mais de três séculos depois.<br />

Existem, também, re<strong>la</strong>tos<br />

em forma de desenhos<br />

aplicados em vitral em<br />

uma Igreja construída em<br />

1642, na região de Stoke<br />

Poges, Buckinghamshire,<br />

Ing<strong>la</strong>terra, ilustrados sob<br />

a figura de um anjo montado em um cavalo marinho<br />

com duas rodas. A idéia somente se concretizou<br />

a partir do século XVIII, com o modelo<br />

chamado “Bicicleta de Kassler”, que data de 1761.<br />

Este exemp<strong>la</strong>r encontra-se em exposição no<br />

Deutsches Museum de Mônaco. Este veículo<br />

causa uma série de dúvidas quanto a sua fabricação<br />

e nacionalidade. Discute-se sobre a<br />

possibilidade de ser um modelo alemão ou até<br />

um modelo francês que teria sido exportado<br />

à Alemanha. Acredita-se mais na<br />

segunda hipótese, que pende<br />

para o <strong>la</strong>do francês.<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Os trabalhos que ilustram este artigo foram realizados com crianças de 5 anos do Centro de Convivência Infantil do Instituto<br />

Adolfo Lutz, em São Paulo, da sa<strong>la</strong> das professoras Maria Rosivane Batista Madeiro e Vera Lúcia Nunes, com a supervisão da<br />

Caleidoscópio Brincadeira e Arte.<br />

Centro de Convivência Infantil do Instituto Adolfo Lutz<br />

Rua Itaquera, 519 – Pacaembu<br />

São Paulo – SP. CEP: 01<strong>24</strong>6-030<br />

Tel.: (11) 3661-7547. E-mail: ccial@ig.com.br<br />

Diretora: Ana Maria Dahi Rizzo<br />

Coordenadora: Ana Christina Romani<br />

Caleidoscópio Brincadeira e Arte<br />

Tel.: (11) 3726-8592<br />

Site: www.caleido.com.br<br />

PARA SABER MAIS<br />

O Caçador de Vaga-Lumes, Carlos Dal<strong>la</strong> Ste<strong>la</strong>. Ed. UEPG. Tel.: (42) 3220-3744<br />

Riachuelo, 266 – Crônicas, Carlos Dal<strong>la</strong> Ste<strong>la</strong>. Ed. Criar Edições. Tel.: (41) 3573-0456<br />

Bicicletas de Montreal, Carlos Dal<strong>la</strong> Ste<strong>la</strong>. Ed. Limiar. Tel.: (11) 3813-0309<br />

Site do artista: www.geocities.com/cda<strong>la</strong>stel<strong>la</strong>. E-mail: cda<strong>la</strong>stel<strong>la</strong>@yahoo.com.br<br />

Ana Pau<strong>la</strong>, 5 anos, dispõe<br />

várias rodas recortadas e<br />

unidas por traços de linha,<br />

numa bonita composição<br />

<br />

<br />

SUSTANÇA<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

42<br />

REFLEXÕES DO FORMADOR<br />

O conhecimen<br />

O TRABALHO DE FORMAÇÃO COM EDUCADORAS DA<br />

4 a SÉRIE DE TRÊS ESCOLAS MUNICIPAIS, NO QUAL<br />

A LEITURA E ESCRITA FORAM “PRÁTICAS VIVAS E VI-<br />

TAIS”, POSSIBILITOU O ESTABELECIMENTO DE UMA<br />

NOVA RELAÇÃO ENTRE ENSINO E APRENDIZAGEM<br />

POR ANA FLÁVIA ALONÇO 1<br />

O necessário é fazer da esco<strong>la</strong> um âmbito onde leitura e escrita<br />

sejam práticas vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos<br />

poderosos que permitem repensar o mundo e re<strong>org</strong>anizar o próprio<br />

pensamento, onde interpretar e produzir textos sejam direitos que é<br />

legítimo exercer e responsabilidades que é necessário assumir.<br />

Delia Lerner2 Estabelecer na esco<strong>la</strong> um ambiente em que<br />

as práticas de leitura e escrita se instaurem<br />

com toda sua intensidade, com todas<br />

as suas potencialidades tem sido o norte deste<br />

trabalho de formação com professoras de Esco<strong>la</strong>s<br />

de Ensino Fundamental de São Caetano do Sul,<br />

como eixo<br />

na Grande São Paulo. Para isso, é necessário<br />

transformar as práticas pedagógicas, possibilitar<br />

a construção de novos conhecimentos didáticos.<br />

Sabemos que, de acordo com a teoria de<br />

Jean Piaget3 , toda ação, seja um movimento, pensamento<br />

ou sentimento, corresponde a uma necessidade<br />

que é sempre a manifestação de um<br />

desequilíbrio. A cada instante, pode-se dizer, a<br />

ação humana é desequilibrada pe<strong>la</strong>s transformações<br />

que aparecem no mundo, exterior ou interior,<br />

e cada nova conduta vai funcionar não só<br />

para restabelecer o equilíbrio, como também<br />

1 Pedagoga e mestranda pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Atualmente é capacitadora do Projeto DICA.<br />

2 Ler e Escrever na Esco<strong>la</strong>: O Real, o Possível e o Necessário, de Delia Lerner. Ed. Artmed.<br />

3 Jean Piaget (1896–1980), psicólogo e filósofo suíço.


to didático<br />

da formação<br />

para tender a um equilíbrio mais estável que o<br />

do estágio anterior a essa perturbação. A ação<br />

humana consiste nesse movimento contínuo e<br />

perpétuo de reajustamento ou de equilibração. 4<br />

Para o autor, toda ação conjuga elementos<br />

afetivos e cognitivos. A afetividade corresponde<br />

4 Seis Estudos de Psicologia, de Jean Piaget. Ed. Forense Universitária.<br />

à energética para a ação e a cognição corresponde<br />

às estruturas de pensamento, com as quais o<br />

indivíduo se apropria de determinado objeto.<br />

Nesse sentido, podemos dizer que ao contagiar<br />

as professoras com o nosso ideal de esco<strong>la</strong>, no<br />

qual a leitura e a escrita sejam “práticas vivas e<br />

REFLEXÕES DO FORMADOR<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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REFLEXÕES DO FORMADOR<br />

vitais”, ao procurar criar ne<strong>la</strong>s a vontade de mudança,<br />

temos como objetivo prover o caráter<br />

energético, afetivo, de uma ação mental, que culminará<br />

na transformação de suas práticas. E, uma<br />

vez que essas práticas são o objeto dessa ação<br />

mental, precisamos possibilitar novos observáveis<br />

que permitam a problematização e a construção<br />

de conhecimento sobre suas práticas.<br />

Levando em conta esses pressupostos teóricos<br />

que orientam nosso trabalho de formação,<br />

escolhi como objeto de análise para este re<strong>la</strong>tório<br />

um encontro com as professoras da 4a série,<br />

no qual procurou-se criar novos observáveis dentro<br />

de um duplo objetivo: conseguir, por um <strong>la</strong>do,<br />

que os professores construam conhecimentos sobre<br />

um objeto de ensino e, por outro <strong>la</strong>do, que<br />

e<strong>la</strong>borem conhecimentos referentes às condições<br />

didáticas necessárias para que seus alunos possam<br />

apropriar-se desse objeto. 5<br />

Re<strong>la</strong>to do Encontro de Formação<br />

Dinâmica com duas fases sucessivas<br />

1a Fase: Produção em grupo de uma mensagem<br />

dirigida a um destinatário específico, seguida<br />

de socialização e síntese.<br />

1. Explicação da proposta para as professoras;<br />

2. Escrita em grupo de resenha de um livro para<br />

compor um conjunto de resenhas para consul-<br />

5 Ler e Escrever na Esco<strong>la</strong>: O Real, o Possível e o Necessário, de Delia Lerner. Ed. Artmed.<br />

ta entre as professoras das três esco<strong>la</strong>s (sendo<br />

que uma das professoras terá a função de anotar<br />

as ações do grupo);<br />

3. Leitura da resenha;<br />

4. Leitura das anotações do processo de escrita<br />

do grupo, com registro dos pontos considerados<br />

importantes, pe<strong>la</strong> capacitadora, para a discussão<br />

sobre a natureza do processo de escrita.<br />

Discussão sobre os aspectos elencados.<br />

2a Fase: Reflexão sobre as características da<br />

situação didática proposta.<br />

1. Perguntas feitas pe<strong>la</strong> capacitadora com o objetivo<br />

de tornar possível a conceitualização da<br />

necessidade de se preservar o sentido social<br />

da escrita; garantir que esta seja feita para<br />

cumprir um propósito relevante e, dirigida para<br />

um destinatário específico; realçar o papel<br />

da cooperação entre os escritores na detecção<br />

e solução de problemas, da reconsideração do<br />

papel do erro e da necessidade de desenvolver<br />

nos alunos instrumentos de autocontrole<br />

na escrita; e dos tipos de intervenção do docente<br />

e quais as suas funções.<br />

2. Leitura da justificativa do projeto proposto e<br />

comentários.<br />

3. Tarefa: e<strong>la</strong>boração de etapas para o projeto.<br />

A dinâmica que constitui o cerne desse encontro<br />

– Situação de Dup<strong>la</strong> Conceitualização – é


uma das duas modalidades de estruturação da<br />

atividade de capacitação descritas por Delia<br />

Lerner, no capítulo 5 do livro Ler e Escrever na<br />

Esco<strong>la</strong>, no qual a autora discute a importância<br />

de tomar como eixo o conhecimento didático nos<br />

processos de formação de professores.<br />

A situação proposta pe<strong>la</strong> autora foi escolhida<br />

pe<strong>la</strong> nossa equipe de formadoras, porque no<br />

momento específico em que nos encontrávamos<br />

– no processo de formação dos professores do<br />

Ensino Fundamental6 , já havíamos compartilhado<br />

as características da formação e concordado<br />

na realização de um projeto de escrita em cada<br />

série com leitura diária pelo professor, discutido<br />

as modalidades <strong>org</strong>anizativas do tempo didático,<br />

analisado as características de um projeto e as<br />

condições para a realização da leitura pelo professor<br />

– fazia-se imprescindível discutir a natureza<br />

da escrita e as condições didáticas para sua<br />

construção. Nesse contexto, tal situação reunia<br />

as condições essenciais para a construção desses<br />

conhecimentos por parte dos professores.<br />

Preservando o sentido da leitura e da escrita<br />

Para colocar a atividade em prática tínhamos<br />

que tomar alguns cuidados. O primeiro deles era<br />

garantir que a mensagem que os professores teriam<br />

de escrever para um destinatário específico<br />

fosse uma situação comunicativa real, pois consideramos,<br />

tal como o faz Delia Lerner ao anali-<br />

6 Esse projeto é apoiado.<br />

7 Ler e Escrever na Esco<strong>la</strong>: O Real, o Possível e o Necessário, de Delia Lerner. Ed. Artmed.<br />

sar as condições para o ensino da leitura e da escrita,<br />

que o necessário é, em suma, preservar o<br />

sentido do objeto de ensino para o sujeito da<br />

aprendizagem, o necessário é preservar na esco<strong>la</strong><br />

o sentido que a leitura e a escrita têm como práticas<br />

sociais, para conseguir que os alunos se apropriem<br />

de<strong>la</strong>s possibilitando que se incorporem à<br />

comunidade de leitores e escritores, a fim de que<br />

consigam ser cidadãos da cultura escrita. 7<br />

Assim, pensamos em propor às professoras<br />

que, em grupo, resenhassem uma obra literária<br />

que poderia ser lida para seus alunos. Essa resenha<br />

seria enviada às outras professoras de 1a a<br />

4a séries das esco<strong>la</strong>s de São Caetano do Sul que,<br />

por sua vez, lhes enviariam as resenhas que haviam<br />

escrito. Com isso, e<strong>la</strong>s teriam em mãos um<br />

conjunto de resenhas que poderiam orientar a escolha<br />

de uma próxima leitura com suas crianças.<br />

Para que as professoras tivessem as condições<br />

necessárias para a escrita, tivemos o cuidado<br />

de levar outros livros com resenhas que se<br />

constituíssem em bons modelos; esc<strong>la</strong>recer qual,<br />

dentre as diversas acepções que a pa<strong>la</strong>vra resenha<br />

encerra, era aque<strong>la</strong> que esperávamos da<br />

situação de escrita. Além disso, apresentamos<br />

alguns livros de contos para que e<strong>la</strong>s pudessem<br />

eleger conteúdos conhecidos, como é o caso da<br />

mitologia grega; escolher a professora que desempenharia<br />

o papel de anotadora do grupo,<br />

pois, quanto mais minuciosas fossem suas anotações,<br />

melhor seria a discussão da atividade.<br />

Como só poderíamos formar um grupo de<br />

trabalho em cada ocasião – devido ao número<br />

de professores envolvidos –, não haveria a possibilidade<br />

da contribuição de vários grupos, nem<br />

da comparação intergrupos.<br />

Os resultados foram muito positivos, tanto<br />

com o grupo de professoras do Alcina, quanto com<br />

o grupo de professoras do Ângelo e do SEMEF.<br />

O fato de escreverem para uma situação de comunicação<br />

real atuou como um motivador dos<br />

REFLEXÕES DO FORMADOR<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

46<br />

REFLEXÕES DO FORMADOR<br />

esforços de todos para e<strong>la</strong>borar uma boa resenha.<br />

Levaram em consideração as características<br />

de seu destinatário (suas colegas de profissão),<br />

procurando estratégias para motivá-<strong>la</strong>s a ler.<br />

Registraram c<strong>la</strong>ramente as características do processo<br />

de escrita: o p<strong>la</strong>nejamento do texto, a textualização,<br />

o rep<strong>la</strong>nejamento, a revisão durante e<br />

ao final do processo, a edição, a procura de pa<strong>la</strong>-<br />

A Odisséia<br />

Estabelecendo as condições didáticas<br />

A segunda fase da dinâmica também<br />

fluiu de maneira extremamente satisfatória.<br />

Foi muito tranqüilo para as professoras que,<br />

a partir das questões que lhes foram propostas,<br />

estabelecessem as condições didáticas<br />

necessárias para produzir encontros significativos<br />

das crianças com a Língua Portuguesa.<br />

O fato de terem experimentado uma<br />

situação significativa de escrita dentro de um<br />

tempo determinado desencadeou, nos dois<br />

grupos, a preocupação com a produção no<br />

tempo adequado e a observação das condi-<br />

vras que provocassem no<br />

leitor o efeito desejado<br />

por seus autores, a preocupação<br />

em se colocar no<br />

lugar do leitor para imaginar<br />

se a forma como estava<br />

e<strong>la</strong>borada a escrita<br />

atingiria seu propósito.<br />

A Odisséia conta a história da volta de Ulisses, após o combate de Tróia, para sua terra, a ilha de Ítaca.<br />

Numa busca persistente de sua verdadeira felicidade através do resgate de um passado distante.<br />

Esse livro é recomendado porque alimenta a imaginação e prende a atenção do leitor pe<strong>la</strong> ação e aventura<br />

vividas por Ulisses.<br />

A história é um clássico de Homero, adaptada pe<strong>la</strong> autora Ruth Rocha, apresentada com uma linguagem<br />

simples, de fácil compreensão, com figuras e ilustrações da Grécia antiga.<br />

Resenha das professoras da Esco<strong>la</strong> Municipal de Educação (EME) Prof a Alcina Dantas Feijão<br />

Contos e Lendas<br />

da Mitologia Grega<br />

Contos e Lendas da Mitologia Grega é um transporte no tempo: da criação do Universo aos dias atuais,<br />

que fará você refletir sobre a origem do universo e sua evolução, apresentando personagens fantásticos como<br />

os deuses e heróis que se fundem com a personalidade humana, fazendo com que você se identifique com eles.<br />

Esta identificação o levará à reflexão sobre si mesmo e suas possíveis transformações internas.<br />

Resenha das professoras da 4 a série<br />

ções para que os alunos pudessem construir<br />

novos conhecimentos sobre a escrita. Essa estratégia<br />

formativa possibilitou que os professores<br />

estabelecessem uma nova re<strong>la</strong>ção entre<br />

ensino e aprendizagem.<br />

Acredito que, nesse encontro, demos<br />

mais um passo no nosso objetivo de criar<br />

nas professoras a vontade de mudança, e de<br />

possibilitar a detecção de novos observáveis<br />

nesse objeto já apreendido por e<strong>la</strong>s, o conhecimento<br />

didático, criando condições para<br />

novas problematizações de tal objeto que<br />

culminem na construção de novas práticas.<br />

EXTRAÍDO DO SITE WWW.BC.EDU


Homero<br />

A Homero, poeta que viveu por volta<br />

dos séculos IX e VIII a.C., atribuem-se os dois<br />

maiores poemas épicos da Grécia antiga,<br />

que tiveram profunda influência sobre a literatura<br />

ocidental. Além de símbolos da unidade<br />

e do espírito helênico, a Ilíada e A<br />

Odisséia são fonte de prazer estético e ensinamento<br />

moral.<br />

A Odisséia, de Homero, expressa com<br />

força e beleza a grandiosidade da remota civilização<br />

grega, do século VIII a.C., quando os gregos,<br />

depois de um longo período sem dispor de um sistema<br />

de escrita, adotaram o alfabeto fenício. A Odisséia<br />

narra as viagens e aventuras de Ulisses em duas etapas:<br />

a primeira compreende os acontecimentos que,<br />

em nove episódios sucessivos, afastam o herói de casa,<br />

e a segunda consta de mais nove episódios, que<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Projeto DICA 2005 - Didática, Informação, Cultura e Arte Formação Docente em Serviço<br />

Rua Pedro Taques, 104 – ap. 22 – Conso<strong>la</strong>ção<br />

São Paulo – SP. Cep: 01415-010<br />

Tel: 3255-7050 / 3257-1491<br />

E-mail: projetodica2005@terra.com.br<br />

Direção Pedagógica: Ana C<strong>la</strong>udia Rocha e Mariana Breim<br />

Capacitadora das Professoras de 4a série: Ana F<strong>la</strong>via Alonço Castanho<br />

Esco<strong>la</strong> Municipal de Educação Fundamental Ângelo Raphael Pellegrino<br />

Estrada das Lágrimas, 1656 – Bairro Mauá<br />

São Caetano do Sul – SP. CEP: 09580-500<br />

Tel.: (11) 4232-9056 / 4238-7344<br />

E-mail: esco<strong>la</strong>pellegrino@ig.com.br<br />

Diretora: Magali Aparecida Selva Pinto<br />

Esco<strong>la</strong> Municipal de Educação Prof a Alcina Dantas Feijão<br />

Rua Capivari, 500 – Bairro Mauá<br />

São Caetano do Sul – SP. CEP: 09580-370<br />

Tel.: (11) 4238-3157. E-mail: alcina@eme-alcina.com.br. Site: www.eme-alcina.com.br<br />

Diretora: Maria Teresinha Dario Fiorotti<br />

Segunda Esco<strong>la</strong> Municipal de Ensino Fundamental<br />

Rua José Benedetti, 550 – Bairro Cerâmica<br />

São Caetano do Sul – SP. CEP: 09531-090<br />

Tel.: (11) 4227-4631<br />

Diretora: Janice Paulino César<br />

Capacitadora das professoras de 4 a série: Ana F<strong>la</strong>via Alonço Castanho<br />

PARA SABER MAIS<br />

descrevem sua volta ao <strong>la</strong>r sob a proteção da deusa<br />

Atena. É também desenvolvido um tema secundário,<br />

o da vida na casa de Ulisses durante sua ausência, e<br />

o esforço da família para trazê-lo de volta. Esse poema,<br />

predominantemente dramático, tem encantado o<br />

homem de todas as épocas e lugares e está entre os<br />

pontos mais altos atingidos pe<strong>la</strong> poesia universal.<br />

A Odisséia, de Homero. Ed. Melhoramentos. Tel.: (11) 3874 0940<br />

Ruth Rocha Conta a Odisséia, de Ruth Rocha. Ed. Cia. Das Letrinhas. Tel.: (11) 3707-3501<br />

Contos e Lendas da Mitologia Grega, de C<strong>la</strong>ude Pouzadox. Ed. Cia das Letras. Tel.: (11) 3707 3500<br />

Ler e Escrever na Esco<strong>la</strong>: O Real, o Possível e o Necessário, de Delia Lerner. Ed. Artmed. Tel.: (11) 3027-7070<br />

Seis Estudos de Psicologia, de Jean Piaget. Ed. Forense Universitária. Tel.: (11) 3104-2005<br />

Site: www.saocaetanodosul.sp.gov.br<br />

EXTRAÍDO DO SITE WWW.BC.EDU<br />

REFLEXÕES DO FORMADOR<br />

<br />

<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

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Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

48<br />

PARABÓLICAS<br />

(Lei no 11.114, de 16 de maio de 2005, em discussão<br />

no Congresso Nacional)<br />

Em reunião do Fórum Regional de Educação<br />

Infantil da Grande São Paulo, realizada em<br />

2/6/2005, Artur Costa Neto, professor da<br />

Faculdade de Educação da PUC–SP, contribuiu com<br />

subsídios para os municípios discutirem e imp<strong>la</strong>ntarem<br />

o Ensino Fundamental de 6 anos1 . O palestrante<br />

alertou para o fato de que a decisão deve<br />

ser bem avaliada, não só porque está no P<strong>la</strong>no<br />

Nacional da Educação (PNE) e porque é lei, mas<br />

principalmente para evitar a ingerência de questões<br />

políticas, econômicas ou corporativas, descuidando-se<br />

do principal – os objetivos pedagógicos<br />

e os benefícios para as crianças.<br />

A revista avisa lá está interessada em saber<br />

como seu município resolveu a questão, os ganhos<br />

e desafios2 UMA OBRA SEMPRE ATUAL CRIANÇAS DE 6 ANOS NO ENSINO<br />

Ruth Rocha consegue manter-se fiel ao clássico<br />

grego e, simultaneamente, imprimir ao<br />

FUNDAMENTAL: SEU MUNICÍPIO<br />

ESTÁ PREPARADO PARA IMPLANTAR<br />

ESTA LEI?<br />

texto um tom pessoal. A Odisséia é atribuída a<br />

Homero, um poeta<br />

que nem sabemos<br />

se existiu de fato. O<br />

tema é a volta de<br />

Ulisses à sua terra<br />

natal, Ítaca, depois<br />

de ter participado<br />

da guerra de Tróia.<br />

Durante o longo retorno,<br />

o herói vive<br />

aventuras extraordinárias.<br />

Com esta versão<br />

de A Odisséia, Ruth Rocha introduz os leitores<br />

jovens a uma obra que está na origem da literatura<br />

ocidental.<br />

Ruth Rocha Conta a Odisséia.<br />

Ruth Rocha.<br />

Ed. Cia. Das Letrinhas.<br />

. Conte-nos a sua experiência ou, ainda,<br />

Tel.: (11) 3707-3501<br />

as dúvidas envolvendo o tema. Escreva-nos!<br />

PASSEIE NA TERRA OU NA LUA<br />

Google Earth é um programa com o qual você<br />

pode visualizar nosso p<strong>la</strong>neta. As imagens são<br />

capturadas de satélites, com uma qualidade impressionante.<br />

O programa é gratuito, mas requer máquina<br />

potente e conexão rápida à Internet.<br />

A insta<strong>la</strong>ção é simples. Basta seguir os passos indicados,<br />

mas antes de começar o processo veja se<br />

sua máquina tem os seguintes recursos:<br />

Processador Intel Pentium 3<br />

256 de memória<br />

P<strong>la</strong>ca de vídeo 3D<br />

Conexão Internet Rápida (não pode ser discada)<br />

2 GB de espaço em HD<br />

Sistema: Windows 98, 2000, 2003 ou XP<br />

Depois de executar o programa, você verá a<br />

1 Ao receberem as crianças de 6 anos na 1 a série.<br />

2 Em incluir as crianças de 6 anos no Ensino Fundamental.<br />

te<strong>la</strong> ao <strong>la</strong>do, onde<br />

estão alguns painéis<br />

de comando com diversas<br />

funções.<br />

http://desktop.google.com/download/<br />

earth/ GoogleEarth.exe<br />

Caso seu computador não tenha os requisitos necessários<br />

para rodar o Google Earth, divirta-se passeando<br />

no solo lunar<br />

pelo site: http://<br />

moon.google.com.<br />

Boa viagem, seja<br />

clicando na Terra ou<br />

na Lua.


Aexposição Que Chita Bacana conta a história da chita, um tecido de puro<br />

algodão alvejado com estampas coloridas de flores e sua amp<strong>la</strong> utilização<br />

pe<strong>la</strong> cultura popu<strong>la</strong>r, abrangendo desde a produção pe<strong>la</strong> indústria<br />

têxtil até a utilização em objetos domésticos, vestuário, artesanato e festas<br />

popu<strong>la</strong>res. Além do viés histórico, um recorte contemporâneo traz trabalhos de<br />

artistas e artesãos que apresentam novas possibilidades estéticas para o uso da<br />

chita na moda, decoração e artes plásticas. Organizada em diversos módulos, a exposição<br />

ocupa uma área de 4.500 m2 QUE CHITA BACANA<br />

e conta com um jardim temático ao ar livre,<br />

acervo de catálogos e registros antigos, ferramentas utilizadas em tece<strong>la</strong>gens e estamparias,<br />

amostras de tecidos, fotografias, exibição de vídeos que documentam o<br />

uso popu<strong>la</strong>r da chita, além de apresentações artísticas e oficinas de criação.<br />

Que Chita Bacana<br />

Galpão de Exposições e Praça de Eventos do Sesc Belenzinho<br />

De 20/08 a 18/12. Terça a sexta, das 9h às 17h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h<br />

R$ 3,00; R$ 2,00 (usuário matricu<strong>la</strong>do e dependentes). R$ 1,50 (trabalhador no comércio e serviços<br />

matricu<strong>la</strong>do e dependentes, mais de 60 anos e estudantes)<br />

Agendamento para esco<strong>la</strong>s e grupos: Tel.: (11) 6602-3700. E-mail: email@belenzinho.sescsp.<strong>org</strong>.br<br />

CARTAS<br />

Conte comigo<br />

Recebi o exemp<strong>la</strong>r da edição no 23 da revista<br />

avisa lá, em que estão as fotos que fiz como<br />

voluntário. A revista está muito bonita e a<br />

qualidade de impressão, excelente. Parabéns a<br />

todos os envolvidos na sua e<strong>la</strong>boração!<br />

Muito obrigado pe<strong>la</strong> atenção e pe<strong>la</strong> oportunidade<br />

de co<strong>la</strong>borar com vocês. Continuem sempre<br />

contando comigo para esse trabalho.<br />

Felicidades a todos !<br />

Marco Antonio Sá<br />

Resposta: Nós é que agradecemos a co<strong>la</strong>boração.<br />

Vai dar o que fa<strong>la</strong>r<br />

Lindíssima a revista que acabo de receber!<br />

Parabéns pelo trabalho de vocês!<br />

Esta parceria ainda vai “dar muito o que fa<strong>la</strong>r”.<br />

Eu tenho cada vez mais certeza disso!<br />

Um forte abraço em nome de toda a equipe<br />

do CEERT.<br />

Júlia Rosemberg e Danie<strong>la</strong> Porte<strong>la</strong><br />

Resposta: A parceria com o Centro de<br />

Estudos das Re<strong>la</strong>ções do Trabalho e da Desigualdade<br />

(CEERT) é que possibilitou esse resultado.<br />

Um grande abraço.<br />

ERRAMOS<br />

Na edição n o 23, o artigo Nenhum a Menos, publicado na seção Formação nos Municípios, é de autoria de Alexandra<br />

Contocani e Laura Dantas. Alexandra Contocani é co<strong>la</strong>boradora do projeto Letras e Livros, e não Educadora, como informamos<br />

no artigo.<br />

PARABÓLICAS<br />

Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

49


Revista avisa lá Outubro de 2005<br />

50<br />

<strong>FINAL</strong>MENTES<br />

Entrevista<br />

– O que você está lendo atualmente? – per-<br />

gunta o repórter ao pintor.<br />

– Atualmente passo horas lendo nuvens, leio<br />

também árvores, galhos, folhas – um vício de criança.<br />

E agora que estou finalmente envelhecendo,<br />

leio cada vez mais crianças. É a leitura que mais<br />

me diverte e alimenta. Leio incansavelmente os<br />

olhos dos meus filhos, seus gestos. Ainda hoje li<br />

no céu os olhos do meu pai. Naturalmente várias<br />

vezes por dia leio meu rosto, em frente ao espelho,<br />

às vezes leio o rosto de um amigo, além de<br />

uma dezena de rostos anônimos, c<strong>la</strong>ro. Também<br />

dei pra ler pés, pés e chão, leio tanta porcaria, tocos<br />

de chave, elástico, tickets, pedaços de plástico,<br />

papel velho, madeira, restos de comida, formigas.<br />

Há grandes leitores de formiga, Mario<br />

Quintana e Manoel de Barros, por exemplo. Às ve-<br />

zes, quando não tenho nada melhor pra fazer, leio<br />

prédios, sacadas, jane<strong>la</strong>s, antenas. Adoro ler antenas,<br />

fios, telhados, postes, varais. Deve ser herança<br />

lusitana. Há muito não leio rio. Rio é mais<br />

fácil do que ler mar. Mar é insondável. Nada melhor<br />

do que ler montanha de vez em quando, serra do<br />

mar, vale. Cezanne, no final da vida, virou leitor obcecado<br />

do Monte Saint Victoire. Ele foi um dos melhores<br />

leitores de pedra que já vi. Em sua cabana,<br />

no pé do monte, ele lia maçãs até e<strong>la</strong>s apodrecerem,<br />

lia galhos, mas sobretudo, lia pedras. Sem fa<strong>la</strong>r<br />

no ar, nunca vi ninguém ler tão bem o ar.<br />

O repórter interrompe, e emenda outra<br />

pergunta:<br />

– Então você nunca lê à noite, só à luz do dia?<br />

– À noite, sempre que possível, leio o corpo<br />

de minha mulher, enquanto e<strong>la</strong> lê o meu. Leio<br />

com uma avidez insaciável seu sexo, o movimento<br />

das espáduas, dos braços, das pernas. Leio como<br />

um cego seus lábios. Depois, satisfeito, nu na<br />

cama, fico lendo o sono de<strong>la</strong>. Leio às vezes por<br />

mais de uma hora o escuro, o silêncio da noite.<br />

Carlos Da<strong>la</strong> Stel<strong>la</strong><br />

Extraído do CD Ossobuco & Caviar, Crônicas de Fato e<br />

Ficção, 2002. Rádio Educativa do Paraná, FM 97,1.<br />

Ouça a rádio ao vivo, pe<strong>la</strong> Internet:<br />

www.pr.gov.br/rtve/aovivo_fm.html


FORMAS DE PAGAMENTO:<br />

Pagamento com cheque<br />

Envie pelo correio, dentro de um envelope, um cheque nominal ao Instituto <strong>Avisa</strong> Lá junto com esta ficha<br />

de inscrição preenchida. Entre em contato para conferir o recebimento.<br />

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Depósito em nome de Instituto <strong>Avisa</strong> Lá (Banco Itaú, agência 2925, conta 05220-7). Envie-nos uma cópia<br />

do comprovante de depósito bancário junto com a ficha de assinatura preenchida, por fax ou por correio.<br />

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