Comunicação e consumo: cidadania em perigo? - Banco de ...
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A Com o primeiro ajuste salarial, concedido aos cortadores<br />
<strong>de</strong> cana, do Recife, no início da década <strong>de</strong> 1960, esgotaram-se,<br />
naquela cida<strong>de</strong>, os estoques <strong>de</strong> radinhos <strong>de</strong> pilha,<br />
que passaram a acompanhar o trabalhador <strong>de</strong>pendurados<br />
nos cabos das enxadas.<br />
do <strong>consumo</strong>, Martím-Barbero adverte<br />
que "n<strong>em</strong> toda forma <strong>de</strong> <strong>consumo</strong> é<br />
interiorização dos valores <strong>de</strong> outras<br />
classes. O <strong>consumo</strong> po<strong>de</strong> falar e fala<br />
nos setores populares <strong>de</strong> suas justas<br />
aspirações a uma vida mais digna" 9 .<br />
L<strong>em</strong>bramos, no mundo da ficção,<br />
o drama <strong>de</strong> sinhá Vitória <strong>em</strong> Vidas<br />
secas, a qu<strong>em</strong> faltava uma cama <strong>de</strong><br />
couro ("Por que não haveriam <strong>de</strong> ser<br />
gente, possuir uma cama igual à do<br />
seu Tomás da bolan<strong>de</strong>ira?) 10 ". Outro<br />
ex<strong>em</strong>plo clássico, tomado <strong>de</strong>sta vez<br />
do "mundo real", é o que se vê quando<br />
se r<strong>em</strong><strong>em</strong>ora o primeiro ajuste salarial,<br />
concedido aos cortadores <strong>de</strong> cana, do<br />
Recife, no início da década <strong>de</strong> 1960.<br />
Esgotaram-se naquela cida<strong>de</strong> os esto-<br />
ques <strong>de</strong> colchão e <strong>de</strong> radinhos <strong>de</strong> pilha.<br />
Estes últimos passaram a acompanhar<br />
o trabalhador e, durante a jornada <strong>de</strong><br />
trabalho, ficavam <strong>de</strong>pendurados nos<br />
cabos das enxadas.<br />
Como diss<strong>em</strong>os, diversos autores<br />
<strong>de</strong>fend<strong>em</strong> que o cidadão t<strong>em</strong> direito<br />
não apenas àqueles que já são tra-<br />
dicionalmente reconhecidos pelo<br />
Estado. A eles <strong>de</strong>ve acrescer-se o seu<br />
direito ao exercício das "práticas so-<br />
ciais e culturais que [lhe] dão sentido<br />
<strong>de</strong> pertencimento" 11 e permit<strong>em</strong> sua<br />
participação <strong>em</strong> múltiplos territórios,<br />
propiciando a arquitetura <strong>de</strong> suas<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Entre estes direitos está<br />
o <strong>de</strong> consumir, sejam serviços, bens<br />
materiais ou simbólicos. Trata-se <strong>de</strong><br />
conceber exercícios cidadãos que,<br />
<strong>em</strong> certo sentido, ultrapassam os<br />
limites da territorialida<strong>de</strong>.<br />
E notável o papel <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhado pelos<br />
meios <strong>de</strong> comunicação, peças-chave<br />
<strong>de</strong> dispositivos comunicacionais, tecnológicos<br />
e mercadológicos que se<br />
alinham no processo que hoje <strong>de</strong>no-<br />
minamos midiatização da cultura.<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma concepção na qual<br />
a mídia - o conjunto <strong>de</strong> tecnologias<br />
<strong>de</strong> comunicação - <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha o<br />
papel <strong>de</strong> mediadora privilegiada no<br />
contexto sociopolítico e psicocultu-<br />
ral cont<strong>em</strong>porâneo.<br />
Os novos territórios nos quais circu-<br />
lamos constró<strong>em</strong> consumidores que<br />
congregam aparentes contradições,<br />
que pod<strong>em</strong> ser compreendidas como<br />
expressão <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s. Em nossa<br />
socieda<strong>de</strong>, o <strong>consumo</strong> e os meios <strong>de</strong><br />
comunicação compõ<strong>em</strong> um todo <strong>de</strong><br />
partes indissociáveis e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n-<br />
tes. Esse todo rege a subjetivida<strong>de</strong> e a<br />
formação das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. A publici-<br />
da<strong>de</strong> apresenta-se como aliado fun-<br />
damental responsável pela estetização<br />
do cotidiano e pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
produção contínua para um mercado<br />
fluido, favorecendo o escoamento mais<br />
célere da produção, <strong>de</strong> modo a respon<strong>de</strong>r<br />
às atuais dinâmicas do mercado.<br />
A mídia, porém, não é o único suporte<br />
<strong>de</strong> divulgação do <strong>consumo</strong> material e<br />
simbólico. O próprio cotidiano é locus<br />
privilegiado para a divulgação rápida e<br />
eficaz <strong>de</strong> todo tipo <strong>de</strong> bens e serviços.<br />
Sendo assim, o discurso publicitário<br />
está presente <strong>de</strong>ntro e fora dos espaços<br />
tradicionais. Hoje a publicida<strong>de</strong> está<br />
nas ruas, na escola, no jornal dito infor-<br />
mativo, nos d<strong>em</strong>ais produtos culturais,<br />
nos espaços <strong>de</strong> lazer etc.<br />
Com a sugestiva noção <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong><br />
como mídia, Dominique Quesada<br />
afirma que "as agências invest<strong>em</strong><br />
maciçamente nos setores extramídia a<br />
fim <strong>de</strong> constituir um serviço <strong>de</strong> comu-<br />
nicação global capaz <strong>de</strong> acompanhar<br />
todos os aspectos da vida cotidiana dos<br />
consumidores" 12 .<br />
Ressaltamos o papel central dos meios<br />
<strong>de</strong> comunicação na veiculação e con-<br />
solidação das práticas <strong>de</strong> <strong>consumo</strong>,<br />
salientando a estreita aliança entre a<br />
cultura midiática e a cultura do con-<br />
sumo. É importante <strong>de</strong>stacar ainda as<br />
novas tecnologias <strong>de</strong> comunicação e<br />
informação na reorganização <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>-<br />
los <strong>de</strong> negócios e padrões <strong>de</strong> <strong>consumo</strong>.<br />
Já as intuições <strong>de</strong> McLuhan assinala-<br />
vam que o primado da cultura letrada,<br />
ligada a pressupostos mecânicos, estava<br />
ce<strong>de</strong>ndo lugar para uma nova forma-<br />
ção cultural <strong>de</strong> cunho marcadamente