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A CONSTITUIÇÃO DA AUTORIA EM CRÔNICAS Tatiana ... - GELNE

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não é incompatível com a assunção - necessária - de que o sujeito<br />

sempre enuncia de posições historicamente dadas num aparelho<br />

discursivo institucionalizado e prévio.”<br />

O ensino de produção de textos na escola tradicionalmente procura dar<br />

condições para que o aluno tenha “o que dizer”, ocupando-se em fornecer-lhe conteúdo<br />

temático, através da leitura e debate de textos antes do exercício da escrita. Porém,<br />

segundo Possenti (2009), para que o aluno construa discursivamente a autoria, é<br />

necessário trabalhar a ordem do “como”, isto é, o modo como se dá voz explicitamente<br />

a outros e se incorpora ao texto discursos correntes.<br />

Ele elenca alguns argumentos que justificam sua tese. O primeiro é de que os<br />

discursos funcionam desse modo nas instituições sociais, pois são atravessados<br />

constantemente pelo interdiscurso. Outro motivo é que dar espaço a outras vozes é um<br />

ato democrático, mesmo que seja para replicá-las. E, por fim, a principal razão, a nosso<br />

ver, é a de que é um procedimento viável ao processo de ensino-aprendizagem.<br />

O professor pode e deve trabalhar o discurso reportado na construção do texto,<br />

explicando ao estudante o que citar (a selecionar os discursos citáveis conforme o<br />

intuito discursivo e as condições de produção do texto) e o como citar (os diversos tipos<br />

de heterogeneidade, que vão das formas explicitamente marcadas, tais quais o discurso<br />

direto e a negação, às formas não-marcadas, como a alusão e a ironia), bem como os<br />

mecanismos que introduzem as vozes e conferem unidade ao texto (a organização<br />

retórica, os recursos linguísticos, as estratégias estilísticas e a seleção lexical).<br />

Parafraseando Bakhtin (2000), o sujeito-autor estudante não é mais o adão<br />

mítico a tomar a palavra pela primeira vez sobre um certo tema, mas já encontra seu<br />

objeto polemizado, censurado, enaltecido, obscuro ou até decifrado por outros<br />

discursos. Seu dizer não se orienta diretamente para o objeto, mas para o “já dito”. A<br />

autoria constrói-se a partir da forma como ele enuncia seu dizer, orquestrando as<br />

diferentes vozes sociais e posicionando-se frente aos comentários apreciativos de<br />

outrem acerca do tema. Nos dizeres de Possenti (2009), a autoria é um efeito simultâneo<br />

de um jogo estilístico e de uma posição enunciativa.<br />

Conforme a avaliação que o sujeito faz dos outros enunciados,<br />

Bakhtin/Voloshinov (2004) caracterizam dois estilos de representação dessas vozes:<br />

linear e pictórico. O primeiro consiste no modo mais marcado de reportar a palavra<br />

alheia, em que o enunciado procura delimitar o espaço do outro, traçando fronteiras<br />

nítidas entre os discursos e, por conseguinte, marcando certo distanciamento hierárquico<br />

entre eles.<br />

Ele conserva a autenticidade e integridade da voz alheia, diante dos<br />

comentários apreciativos do contexto citante. São as formas do dialogismo mostrado<br />

marcado, que incluem o discurso reportado, a modalização em discurso segundo, os<br />

recursos tipográficos e a modalização autonímica (AUTHIER-REVUZ, 2004). Os<br />

recursos mobilizados pelo enunciador para introduzir as vozes alheias, tais quais os<br />

verbos dicendi, os modalizadores e sinais de pontuação, também revelam o julgamento<br />

de valor que o autor realiza dessas vozes. Eles indicam o sentido que se deve atribuir ao<br />

discurso citado e o fundo aperceptivo que o situa no contexto do discurso citante.<br />

O estilo pictórico refere-se ao modo menos marcado, em que os discursos se<br />

imbricam, apagando as delimitações entre eles. Nesse estilo, as vozes sociais não são<br />

claramente definidas, pois o discurso citante infiltra suas réplicas e comentários no<br />

discurso citado, representando-a por modelos híbridos e formando novas vozes sociais.<br />

Authier-Revuz (2004) compreende-o como as formas do dialogismo mostrado nãomarcado,<br />

em que a presença das palavras alheias é diluída na voz do enunciador, que<br />

pode ser confirmada ou se perder no universo do outro. É o caso do discurso indireto

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