CONCERTO CONCERTO - Câmara Municipal de Espinho
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este tempo não permaneça <strong>de</strong>masiado afastado <strong>de</strong> mim".<br />
As coisas, <strong>de</strong>pois, não correram tão bem como planeava, na<br />
sua estadia em Düsseldorf. É, neste contexto, que surgem<br />
a Missa e o Requiem. Contudo, facilmente se revela um<br />
fervor religioso profundo, a par <strong>de</strong> um ecletismo bem<br />
conseguido, em que tradição e inovação encontram espaço<br />
estético e convivência ousada. Po<strong>de</strong>mos avançar que nos<br />
<strong>de</strong>ixa um marco significativo na história da missa concertante<br />
romântica, nem sempre <strong>de</strong>vidamente avaliada. Digamos que<br />
a sua estética é <strong>de</strong>veras provocante e requer uma atitu<strong>de</strong><br />
própria quer <strong>de</strong> executantes, quer <strong>de</strong> ouvintes, mas talvez<br />
nisso esteja o seu carácter apaixonante (ou não: é o <strong>de</strong>safio!).<br />
Missa consta do ordinário (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus<br />
e Agnus Dei) a que o compositor acrescentou um motete<br />
para o Ofertório (Tota pulchra es) e o O salutaris hostia,<br />
após o Benedictus, retomando o Sanctus e concluindo com<br />
Amen, numa fuga breve, mas brilhante.<br />
Te Deum <strong>de</strong> Bruckner<br />
Bruckner po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se um dos últimos gran<strong>de</strong>s<br />
compositores <strong>de</strong> música sacra, no sentido profundo do artista<br />
que <strong>de</strong>ixa impressa a sua alma <strong>de</strong> crente em toda a sua<br />
música. Toda a sua música é como que um vitral para a<br />
transcendência, para Deus. Tímido, mo<strong>de</strong>sto e até rústico,<br />
afável, introvertido e psiquicamente débil, encontrou na fé<br />
o suplemento equilibrador da sua personalida<strong>de</strong> e concebeu<br />
a música como elemento impressivo e expressivo da sua<br />
natural relação com Deus. Por isso Liszt chamava-lhe, <strong>de</strong><br />
forma sugestiva, "o jogral <strong>de</strong> Deus".<br />
Bruckner, um compositor tardio, primeiramente conhecido<br />
como organista, imprimiu um estilo próprio à sua música,<br />
não só do ponto <strong>de</strong> vista formal, como do ponto <strong>de</strong> vista<br />
estético. A sua obra está penetrada por uma fé ingénua e<br />
autêntica, é a apoteose do acor<strong>de</strong> perfeito e consagra o<br />
regresso ao sistema diatónico, já ultrapassado por<br />
Wagner.Encarou toda a sua música, mesmo sinfónica, como<br />
expressão da fé, <strong>de</strong>dicando, por exemplo, a 9ª Sinfonia ao<br />
"bom Deus", ou citando, na 00, o tema do Benedictus da<br />
Missa em Fá menor e fazendo da 5ª Sinfonia, em Si bemol<br />
maior, um hino à glória da Igreja militante. A extensão das<br />
suas sinfonias (a 8ª dura quase 2 horas), o dinamismo e a<br />
varieda<strong>de</strong> dos seus crescendos, o contraste dos movimentos<br />
rápidos e dos movimentos lentos (a evocar o pathos<br />
wagneriano), as relações harmónicas audaciosas e as i<strong>de</strong>ias<br />
melódicas <strong>de</strong> acentuado cromatismo, a genial escolha e<br />
distribuição dos timbres, fazendo lembrar o seu génio<br />
organístico e, sobretudo, a atmosfera religiosa (que inva<strong>de</strong><br />
toda a sua música), patente nas reminiscências corais, a<br />
partir da 3ª Sinfonia e nos gran<strong>de</strong>s silêncios, verda<strong>de</strong>iras<br />
suspensões do tempo, para dar lugar ao influxo interior,<br />
dão à música <strong>de</strong> Bruckner um carácter único.<br />
Entre as obras estritamente religiosas <strong>de</strong>staca-se, para além<br />
das suas missas, o Te Deum, escrito em 1881 (a versão<br />
<strong>de</strong>finitiva aparece entre 1883 e 1884), estreado em 10 <strong>de</strong><br />
Janeiro <strong>de</strong> 1886. Esta obra, estruturada em 5 partes unidas<br />
por um motivo comum em saltos <strong>de</strong> quartas e quintas,<br />
características do estilo bruckneriano, culminando com uma<br />
dupla fuga, mística e grandiosa, tem reminiscências da 7ª<br />
Sinfonia e da 9ª. Gustav Mahler modificou o subtítulo do Te<br />
Deum "para coro, vozes solistas e orquestra", por "para<br />
línguas <strong>de</strong> anjos, seres bem-aventurados, e sem embustes,<br />
e almas pacificadas no fogo". "Vasta catedral <strong>de</strong> cinco naves",<br />
na expressão <strong>de</strong> J. Gallois: Nos extremos Te Deum inicial<br />
e In Te Domine (dó maior) + Te ergo e Salvum fac (ré menor),<br />
intermédios + ao centro Aeterna fac (fá menor). O próprio<br />
Bruckner viu nesta sua obra, (cujos temas previamente já<br />
improvisados ao Órgão, numa Páscoa, na Catedral <strong>de</strong> Linz),<br />
o coroamento da sua carreira <strong>de</strong> compositor.