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Europa em rápi<strong>da</strong> mutação.<br />
No limiar desses novos tempos em que outros<br />
valores emergiam, frágil era ain<strong>da</strong> no entanto a<br />
situação <strong>da</strong> mulher como ser individual. Numa<br />
socie<strong>da</strong>de lidera<strong>da</strong> por homens há muitos séculos, a<br />
identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Mulher diluía-se até ao anonimato.<br />
Talvez por essa circunstância, duma maneira geral<br />
a Mulher nos relatos de Amato só raramente surge<br />
referencia<strong>da</strong> por si própria. A sua individuali<strong>da</strong>de é <strong>da</strong><strong>da</strong><br />
ou através <strong>da</strong>s duas relações de parentesco com um<br />
homem: filho, pai, marido ( esposa de... , filha de ...,<br />
mãe de ...) ou <strong>da</strong> explicitação do seu lugar de<br />
nascimento, ou de habitação: ( mulher de Roma...,<br />
mulher que mora na rua de... , junto à praça de ... ,<br />
perto <strong>da</strong>s muralhas..., junto ao porto ... ). Talvez esta<br />
razão justifique que <strong>da</strong>s trinta e nove mulheres referi<strong>da</strong>s<br />
na I Centúria somente sete surjam como pessoas<br />
individualiza<strong>da</strong>s através do seu nome próprio.<br />
- “Clara Vizinho, filha de um tecelão de se<strong>da</strong>, que<br />
mais tarde casou com um cirurgião hebreu de nome<br />
Abraão.<br />
- Ana, esposa de Estevão Pirro, que deu à luz com<br />
êxito um menino depois de 10 meses de gravidez. -<br />
Diana, mulher de um canteiro, ataca<strong>da</strong> por cólicas<br />
provoca<strong>da</strong>s por um ataque de lombrigas.<br />
- Clara, sofrendo de uma parotidite.<br />
- Flor de Vi<strong>da</strong>, uma anconitana, com uma terçã<br />
simples.<br />
- Catarina, uma jovem de 17 anos, que vivia com as<br />
freiras de S. Bartolomeu, filha de um patrício de<br />
Ragusa, João de Gondulano, que morreu de<br />
tuberculose.<br />
- Arcângela, esposa de um militar, que sofria de<br />
vómitos.<br />
Se <strong>da</strong>s duas primeiras a individualização se pode<br />
atribuir a uma certa familiari<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>do que ambas<br />
eram, como Amato, membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de hebreia,<br />
o mesmo se não pode concluir acerca <strong>da</strong>s outras,<br />
pois diversos são os seus estratos sociais e a sua<br />
situação enquanto doentes e pessoas individuais.<br />
Na II Centúria apenas de três <strong>da</strong>s mulheres<br />
conhecemos o nome. São elas:<br />
- Jacoba Dei Monte, irmã do Papa Júlio II, com febre<br />
e forte indisposição que Amato atribuiu à ingestão de<br />
favas.<br />
- Maria Pacheca, uma jovem <strong>da</strong> freguesia de<br />
Esgueira, locali<strong>da</strong>de próxima de Coimbra, que virou<br />
varão.<br />
- Maria Ricia, de 25 anos, aquela “ que em Roma se<br />
entregava a muitos”, para usar a expressão do próprio<br />
Amato, com um tumor no útero.<br />
São, pois, a irmã do Papa, matrona respeitável de<br />
62 anos de i<strong>da</strong>de, uma insólita transexual portuguesa<br />
e uma meretriz romana, as mulheres que, nesta<br />
Centúria, mereceram a Amato a individualização<br />
através do seu nome.<br />
Na III Centúria contam-se por vinte os casos clínicos<br />
referentes a mulheres, mas somente três delas Amato<br />
individualiza pelo seu nome próprio:<br />
- Morena, uma meretriz espanhola, sofrendo de<br />
contusões provoca<strong>da</strong>s por uma que<strong>da</strong> no arranjo <strong>da</strong><br />
casa, casa que, com espanto, informa ter custado<br />
1500 ducados de ouro.<br />
- Francisca, uma jovem de 20 anos, que sofria de<br />
um tumor num joelho e que mereceu a Amato o<br />
seguinte comentário: “ tão formosa, por Hércules,<br />
como não haverá outra em to<strong>da</strong> a Itália.”<br />
- Maria, uma nobre florentina, freira, sofrendo de<br />
palpitações no coração, jovem que Amato muito<br />
estimava.<br />
Referencia ain<strong>da</strong> Amato, nesta Centúria, Maria de<br />
Baldovini, cliente de Amato de uma receita para aloirar<br />
os cabelos e acerca <strong>da</strong> qual escreveu: “ senhora <strong>da</strong><br />
nossa mui particular estima”.<br />
Na IV Centúria apenas três mulheres <strong>da</strong>s trinta e<br />
cinco cujos casos clínicos são relatados, mereceram<br />
a Amato uma referência ao seu nome:<br />
- Margarella Scalla, sofrendo de dores de estômago.<br />
- Luna de Brudes, viúva, sofrendo de fluxo menstrual<br />
prolongado.<br />
- Ricca, também viúva, que sofria de angina.<br />
Na V Centúria são vinte e quatro as mulheres<br />
trata<strong>da</strong>s por Amato. Somente de sete sabemos o<br />
nome:<br />
- Donna Myra, jovem viúva, que sofria de asma, e<br />
que Amato aconselhou a casar.<br />
- A<strong>da</strong>mans de Cyrollo, de 66 anos de i<strong>da</strong>de, que<br />
morreu, vítima de um ataque de diabetes, depois de<br />
ter bebido água <strong>da</strong>s termas de Bódio.<br />
- Rosa, uma mulher anconitana , de 60 anos,<br />
ataca<strong>da</strong> de pequenos tumores nas articulações dos<br />
dedos.<br />
- Clara de Galles, de 18 anos, ataca<strong>da</strong> de síncopes<br />
e grave melancolia atribuí<strong>da</strong> pelas “ mulherzinhas que<br />
a tratavam”, como Amato refere, a ataques provocados<br />
por espírito demoníaco.<br />
- Luna, esposa de Leão Abarbanel, a quem a<br />
supressão <strong>da</strong> menstruação lançou numa tristeza e<br />
melancolia e numa falsa gravidez.<br />
- Ana Pinta, esposa de um homem que passou largos<br />
anos na Índia e, afamado pelo seu domínio no<br />
conhecimento de muitas línguas, que se picou , num<br />
dedo, ao escamar peixe, e<br />
- Pinta, esposa do músico Pharasi, a quem Amato<br />
ajudou a acelerar o parto.<br />
Na VI Centúria <strong>da</strong>s vinte e seis mulheres, apenas<br />
uma mereceu a individualização: Aloísia, a jovem<br />
esposa de um capitão de navios, <strong>da</strong> Dalmácia, a quem<br />
Amato ajudou num parto difícil.<br />
Na VII Centúria são relata<strong>da</strong>s Curas de trinta e cinco<br />
mulheres, mas apenas de duas conhecemos o nome:<br />
- Dona Beli<strong>da</strong>, mulher de Salomão Senhor, sofrendo<br />
de delíquio, proveniente de grande desgosto pela morte<br />
de um seu criado.<br />
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