You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Giorgio<br />
Barbarelli<br />
(1477-1510).<br />
Novo ideal de<br />
beleza<br />
feminina:<br />
ventre<br />
avultado,<br />
braços e<br />
pernas<br />
arredon<strong>da</strong>dos<br />
- Grácia de Yahiis, sofrendo de febre contínua.<br />
Curiosamente, <strong>da</strong>s duas deixou-nos Amato igual<br />
retrato: Dona Belli<strong>da</strong> surge -nos como “ mulher obesa,<br />
farta de carnes, e alta de estatura, de temperamento<br />
sanguíneo”. 2 ; Grácia de Yahiis é assim descrita:<br />
“senhora alta, obesa de muitas carnes, e<br />
temperamento sanguíneo”. 3<br />
Julgamos poder admitir que a excepção feita por<br />
Amato, em relação à individualização de apenas duas<br />
<strong>da</strong>s trinta e cinco mulheres cujas Curas referencia<br />
nesta 7ª Centúria, se prende com o facto de o seu<br />
retrato físico se enquadrar nos novos cânones de<br />
Beleza que despontavam no século XVI.<br />
Na ver<strong>da</strong>de, em finais do século XV e durante o<br />
século XVI, um novo ideal de beleza feminina começa<br />
a definir-se : ventre avultado, braços e pernas roliços,<br />
ancas largas e seios generosos são os atributos<br />
fun<strong>da</strong>mentais exigidos a uma mulher segundo os<br />
novos cânones <strong>da</strong> Beleza Renascentista. Numa obra<br />
anónima, El Costume delle Donne de 1536, entre as<br />
trinta e três perfeições exigi<strong>da</strong>s à mulher ideal<br />
contavam-se: Três grandes - (“mas bem proporciona<strong>da</strong>s”<br />
) altura, braços e coxas.<br />
Três redon<strong>da</strong>s - pescoço e braços ...<br />
Teria sido Amato sensível a estes seis atributos<br />
femininos?<br />
O Modelo <strong>da</strong> Beleza Feminina do Séc. XVI nas<br />
Centúrias<br />
De todos os tempos e em to<strong>da</strong>s as culturas, a<br />
cabeleira é dos elementos do corpo humano aquele<br />
que possui maior carga de simbolismo e sobre o qual<br />
pesa maior número de interdições.<br />
Considera<strong>da</strong> na I<strong>da</strong>de Média como uma espécie de<br />
“véu natural”, fun<strong>da</strong>mentalmentenecessário<br />
à mulher, ela era<br />
simultaneamente sinal<br />
exterior <strong>da</strong> sua sujeição,<br />
<strong>da</strong> sua “inata<br />
interioriori<strong>da</strong>de”, segundo<br />
o pensamento<br />
<strong>da</strong> época, mas também,<br />
como ressaltam<br />
vários autores, 4 uma<br />
poderosa arma de<br />
sedução. Sinal diferenciador<br />
entre os dois<br />
sexos, o respeito medieval<br />
pelas diferenças<br />
entre o Feminino e o<br />
Masculino induziu a mulher, ao contrário do homem,<br />
a cui<strong>da</strong>r dos seus cabelos. No entanto, porque<br />
considera<strong>da</strong> com elevado poder de sedução, estritas<br />
normas impunham à Mulher a ocultação em público<br />
desse notável dom diferenciador. Toucados<br />
rebuscados, do mais belo brocado, de gaze multicor<br />
ou <strong>da</strong> mais fina musselina, chapéus de estranha forma<br />
e insólita dimensão, simples toucas ou lenços de linho<br />
ou de estopa, consoante o poder económico ou o<br />
estrato social, serviam para ocultar esse tentador<br />
elemento do corpo <strong>da</strong> Mulher.<br />
Com o Renascimento assiste-se a um estilhaçar<br />
de to<strong>da</strong>s as normas espartilhadoras <strong>da</strong> plenitude física<br />
do indivíduo.<br />
A Mulher é retrata<strong>da</strong> com todos os atributos <strong>da</strong><br />
condição do seu sexo.<br />
São as Madonas de Miguel Angelo e de Rafael, são<br />
as Vénus de Boticelli, com a pujança dos seus corpos<br />
desnudos, o fulgor dos seus olhos, mas sobretudo<br />
com a esplendorosa moldura <strong>da</strong>s suas cabeleiras,<br />
que se impõem ao olhar.<br />
E são os cabelos loiros, a cor do ouro e dos raios<br />
do Sol, a cor privilegia<strong>da</strong> pelos artistas e a mais<br />
canta<strong>da</strong> pelos poetas.<br />
Em todos os tempos sempre existiu um tipo - padrão<br />
de Beleza, materializado em alguém que se impôs<br />
como um modelo a seguir no mundo do seu tempo.<br />
Foi Cleópatra no antigo Egipto, foi Helena de Tróia na<br />
Antigui<strong>da</strong>de Clássica, foi Brigitte Bardot nos anos 60<br />
do nosso século, são as top-model Claudia Schiffer<br />
ou Cindy Crawford nos tempos em que vivemos.<br />
No tempo de Amato brilhava ain<strong>da</strong> esse tipo - padrão<br />
que foi Isabelle d’Este, filha dos governantes de<br />
Ferrara, mulher de Francisco Gonzaga, marquês de<br />
Mântua.<br />
De to<strong>da</strong>s as <strong>da</strong>mas <strong>da</strong> Renascença italiana foi<br />
Isabelle d’Este a que suscitou pela sua beleza, pela<br />
sua imensa cultura, pela sua sensibili<strong>da</strong>de artística,<br />
uma maior admiração.<br />
Ela tornou-se um símbolo <strong>da</strong> Beleza feminina do<br />
seu tempo.<br />
Bal<strong>da</strong>ssarre Castiglione deixou dela o seguinte<br />
retrato:<br />
“Nem Mantegna, nem Vinci, nem Apelles renderam<br />
justiça à sua beleza. Petrarca descreveu-a melhor<br />
nestas linhas: uma <strong>da</strong>ma mais bela que o Sol. Assim<br />
parecia ela diante dos meus olhos, mulher mais<br />
radiosa que o Sol, com cabelos de ouro cobrindo os<br />
ombros, apenas presos por um fio de se<strong>da</strong> castanho<br />
preso por um laço de ouro fino através do qual as<br />
madeixas brilhavam como raios luminosos ; (...) “. 5<br />
Não é de admirar, pois, que as jovens do<br />
Renascimento de acordo com os padrões <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> e<br />
<strong>da</strong> Beleza desejassem para os seus cabelos a cor do<br />
Sol e do ouro, igual à dessa <strong>da</strong>ma cujo esplendor<br />
iluminara a corte de Ferrara e Florença.<br />
Beleza e Saúde - A Difícil Convivência no Séc.<br />
XVI<br />
No Renascimento, por influência do neoplatonismo,<br />
a Beleza feminina temi<strong>da</strong> durante a I<strong>da</strong>de Média como<br />
6