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Setembro - Outubro - Novembro 1999 - ABRACOR

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Leia nesta edição :<br />

Cartas & E-mails 2<br />

Ensaio 3<br />

IX Congresso da <strong>ABRACOR</strong> Homenageou<br />

Pioneiros da Restauração<br />

Moderna na Bahia<br />

José Dirson Argolo<br />

Ensaio 6<br />

O CONGRESSO DO ANO 2000 -<br />

uma proposta preliminar<br />

Sérgio Conde de Albite Silva<br />

Artigo Técnico 8<br />

PATRIMÔNIO LITÚRGICO OU<br />

IMATERIAL<br />

Muniz Sodré<br />

Artigo Técnico 10<br />

CARACTERÍSTICAS DE FIBRAS<br />

DE BANANEIRA PARA LAMINA-<br />

ÇÃO DE DOCUMENTOS<br />

Antonio Gonçalves da Silva/José<br />

Lívio Gomide<br />

Artigo Técnico 11<br />

MEMÓRIA E PATRIMÔNIO NAGÔ<br />

Hugo Bomfim<br />

Artigo Técnico 13<br />

RELAÇÃO ENTRE PRESERVA-<br />

ÇÃO DE BENS E PATRIMÔNIO<br />

COMUNITÁRIO<br />

Raquel Paiva<br />

Resenha 16<br />

X Congresso 17<br />

ABR@COR on the Net 17<br />

ACONTECEU <strong>ABRACOR</strong> 17<br />

Agenda <strong>ABRACOR</strong> 19<br />

Boletim<br />

Boletim Informativo da Associação Brasileira de<br />

Conservadores - Restauradores de Bens Culturais<br />

EDITORIAL<br />

Set/Out/Nov de <strong>1999</strong><br />

Desde sua fundação, a <strong>ABRACOR</strong> vem buscando,cada vez mais, representar,<br />

com propriedade seus associados e os interesses da área em questão.<br />

Parece ser mesmo um consenso que, no Brasil, o espírito associativo e a atuação<br />

cooperativa ainda tem um longo caminho a descobrir e construir. De fato,<br />

a busca da efetiva participação dos membros de uma associação tem sido uma<br />

tarefa contínua, mas com resposta ainda um tanto escassas. Ora, sabemos que<br />

todos os associados da <strong>ABRACOR</strong> têm suas responsabilidades profissionais e<br />

particulares e que estas são fatores a considerar no pouco tempo dedicado às<br />

atividades de uma gestão participativa em uma entidade social. Mesmo assim,<br />

a Diretoria da <strong>ABRACOR</strong> vem se desencumbindo de suas tarefas e enfrentando<br />

os percalços de um país com sérias dificuldades estruturais e onde a área de<br />

cultura e educação não ocupam um espaço privilegiado.<br />

A Diretoria da <strong>ABRACOR</strong> tenta, neste momento, com o lançamento de mais<br />

um número de seu bBoletim, compensar um hiato de tempo sem publicar este<br />

que é o principal veículo de informação entre os associados. É preciso considerar<br />

que nesse meio tempo, a <strong>ABRACOR</strong> teve de buscar mais uma vez, um lugar<br />

que pudesse servir de sede, precisou contabilizar, avaliar e encerrar as atividades<br />

e pendências do Congresso de Salvador, além de desempenhar todoas as<br />

tarefas rotineiras e cotidianas de sua administração. Junte-se a isso, um percentual<br />

mínimo de associados que se mantêm em dia com o pagamento da<br />

anuidade, única fonte de recurso de nossa Associação. De toda maneira, temos<br />

em mãos mais um número do Boletim <strong>ABRACOR</strong>, mais encorpado, mais consistente,<br />

em nova forma e com significativo crescimento em relação ao seu<br />

conteúdo e propriedade dos artigos publicados.<br />

De outro lado, neste número iniciamos a jornada em direção ao X Congresso<br />

<strong>ABRACOR</strong>, a realizar-se no ano 2000, em São Paulo. Pode-se dizer que os<br />

congressos são marcos referenciais das atividades da <strong>ABRACOR</strong> e das atividades<br />

de cada um de seus associados. A expectativa com o próximo encontro em<br />

São Paulo deve ser acompanhada de uma sinalização nítida dos membros desta<br />

Associação, em relação a sua participação efetiva.<br />

Paralelamente, a <strong>ABRACOR</strong>, através de seu site na Internet, oferece espaço<br />

referencial técnico e científico aos conservadores-restauradores e, ao mesmo<br />

tempo, procura fazer deste meio digital um fórum cada vez mais democrático<br />

na transferência da informação e na divulgação de interesses genéricos e específicos<br />

de na nossa área de atuação.<br />

Na busca de soluções capazes de fortalecer a nossa Associação é que a<br />

Diretoria da <strong>ABRACOR</strong> reconhece e desculpa-se por eventuais falhas, aponta<br />

suas necessidades e carências e, principalmente, conclama a todos os seus<br />

membros que dentro das particularidades de cada um, entendam e assumam<br />

que tudo que é oferecido ou o que pode vir a ser, só efetivamente se realizará<br />

como produto concreto e materializado, se resultado de uma atuação coletiva,<br />

o que implica manifestação de opinião e de crítica, mas também de contribuição,<br />

de participação, de idéias, de pequenas parcelas de tempo e atenção.


Cartas & E-mails<br />

ICONOS - Fundacion para Conservación<br />

y Proteccion del Patrimonio<br />

Cultural de Bolivia<br />

Sr. (a) Maria Luisa Soares<br />

Presidente da <strong>ABRACOR</strong><br />

Estimada colega<br />

Me es muy dirigirme a Ud. para<br />

poder estabelecer un contacto<br />

profesional en el campo que nos<br />

atinge, en mi condición de miembro<br />

de la “Fundacion ICONOS”,<br />

Fundacion para la Consevación y<br />

Protección del Patrimonio Cultural<br />

de Bolivia; cuyos propósitos son<br />

comunes a quienes trabajamos<br />

con obras muebles e inmuebles<br />

que constituyen el inmenso Patrimonio<br />

Cultural de nuestro Continente.<br />

Quienes formamos parte de esta<br />

organización, tenemos como principal<br />

objetivo brindar apoyo profesional<br />

a la protección patrimonial,<br />

en todas sus manifestaciones, en<br />

respeto de nuestra legislación y<br />

aquellos documentos que regulan<br />

el còdigo de ètica a nivel internacional.<br />

Contamos con un equipo interdisciplinario<br />

de profesionales con<br />

sòlidos conocimientos en la problemàtica<br />

patrimonial, entre arquitectos,<br />

químicos, conservadores,<br />

historiadores, comunicadores y<br />

otros, con cuyo concurso estamos<br />

empenados en llevar adelante<br />

Proyectos de Conservación en<br />

construcciones religiosas coloniales<br />

y civiles de caàcter público<br />

con valor històrico. Bienes Muebles<br />

en pintura de caballete, madera<br />

dorada y policromada, escultura<br />

en metal y materiales pètreos,<br />

para lo cual contamos con un<br />

banco de dados como material de<br />

intercambio de información y/o<br />

comentario.<br />

Para difundir nuestro trabajo eestamos<br />

preparando una publicación<br />

que la hemos denominado “TRA-<br />

MA” y en convenio con algunos<br />

organismos departamentales,<br />

estamos elaborando material destinado<br />

a la concientización de la<br />

población, motivando a preservar<br />

su riqueza regional promoviendo la<br />

catalogación de sus Bienes Culturales,<br />

en coordinación con autoridades<br />

políticas y originarias.<br />

Esperamos contar con su apoyo y<br />

estamos abiertos a cualquier iniciativa<br />

que resuma nuestros comunes<br />

propòsitos.<br />

Atte.<br />

Arq. Juan Carlos Jemio Salinas<br />

Prof. Edgar Ramiro Mendieta<br />

Casilla n° 11917.<br />

tel.: 591 - 015-41916<br />

La Paz - Bolivia.<br />

jemsalin@mail.enternet.box<br />

AJEB/JEY/7/39<br />

Associação Brasileira de Conservadores<br />

e Restauradores de Bens<br />

Culturais<br />

Rio de janeiro - RJ<br />

Cx. Postal 6557<br />

20.030-970 Brazil<br />

Dear Sir<br />

We are currently trying to establish<br />

placements for students<br />

completing the first year of the<br />

MA in the Conservation of Fine<br />

Art - Paper. We feel that a period<br />

spent working in a Paper Conservation<br />

Studio would provide an<br />

excellent extension and consolidation<br />

of the knowledge and skills<br />

that a student will have acquired<br />

by that stage of course. Could you<br />

let me know whether there is the<br />

possibility of arranging such a<br />

placement for a period during the<br />

forthcoming summer when the<br />

students have three months available<br />

for this experience. The student<br />

we are trying to arrange this<br />

placement for is called Eneko<br />

Fraile-Ulgalde who is Spanish.<br />

If it is felt that this period is too<br />

short would there be the possibility<br />

of arranging a longer work<br />

experience, perhaps in the form of<br />

an Internship, at some time in<br />

future?<br />

Yours sincerely<br />

Miss A J E Brown<br />

Lecturer, MA Conservation of Fine<br />

Art - Paper<br />

University of Northumbria at New<br />

Castle<br />

Department of Historical and Critical<br />

Studies Head<br />

Burt Hall<br />

Newcastle upon Tyne NE1 8ST<br />

Telephone (0191) 227 3250<br />

Fax: (0191) 227 3250<br />

Intendencia Municipal<br />

Berazategui<br />

“Capital Nacional del Vidrio”<br />

Berazatgui, 30 de diciembre de<br />

1998.<br />

Sr./a.<br />

PRESENTE:<br />

De nuestra mayor consideración:<br />

En esta oportunidad nos acercamos<br />

a Ud. con la intensión de<br />

hacerle llegar nuestros más nobles<br />

deseos para el año que se inicia.<br />

La colaboración y apoyo que brindara<br />

a ésta Secretaria a lo largo de<br />

éstos años, particularmente al<br />

Area de Fotografia Antígua, en la<br />

realización de proyectos destinados<br />

a la recuperación de la memoria<br />

visual, hhace que en estas<br />

fiestas destinemos en nuestro<br />

recuerdo un espacio privilegiado<br />

de gratitud.<br />

Nuestra institución quiere caminar<br />

con madurez y honestidad en su<br />

trabajo cultural de servicio a la<br />

comunidad y desde ésta perspectiva<br />

se proyecta hacia el futuro.<br />

Sabemos que por los objetivoss<br />

que nos unen tendremos por delante<br />

múltiples oportunidades de<br />

acrecentar los vínculos de colaboración<br />

mutua y así trabajar en la<br />

construcción de un país mejor.<br />

#Maria Inês Criado/Olga Arcan<br />

Arca Fotografia Antígua<br />

#Mabel Harsich de Slingo<br />

Dir. Geral de Cultura y Educación<br />

#Ariel López<br />

Secretario de Cultura y Educacíón<br />

Intendencia Municipal Berazategui<br />

“Capital Nacional del Vidrio<br />

Argentina<br />

SOCIEDAD DE INVESTIGACIONES<br />

BIBLIOTECOLOGICAS<br />

Buenos Aires 24 de mayo de<br />

<strong>1999</strong>.<br />

UM LABORATÓRIO DE RESTAURO<br />

PARA O ARQUIVO HISTÓRICO<br />

MUNICIPAL DE SÃO PAULO<br />

Há muito tempo o Arquivo Histórico<br />

Municipal de São Paulo, órgão<br />

subordinado ao Departamento do<br />

Patrimônio Histórico da Secretaria<br />

Municipal de Cultura, procura<br />

parceiros para implantar novos<br />

projetos e dar sequência ao seu<br />

infindável trabalho de conservar e<br />

proporcionar acessibilidade ao<br />

valioso conjunto documental que<br />

custodia. Esta preciosa documentação,<br />

que vem desde as origens<br />

da cidade - 1555 -, permanece<br />

em parte inédita pela falta de<br />

pessoal habilitado, de recursos<br />

financeiros e de uma série de<br />

outros fatores que implicam em<br />

desânimo e falta de estímulo ao<br />

trabalho. Porém, em junho de<br />

1998, o Arquivo Histórico Municipal<br />

encaminhou à FAPESP - Fundação<br />

de Amparo à Pesquisa do<br />

Estado de São Paulo, que apoia há<br />

35 anos todas as áreas da Ciência<br />

e Tecnologia concedendo auxílio a<br />

projetos de pesquisa e outras<br />

atividades relacionadas à investigação<br />

e ao intercâmbio científicos<br />

- projetos para a implantação de<br />

um Laboratório de Restauro (suporte<br />

papel) no edifício sede da<br />

Casa da Memória Paulistana, que<br />

viesse a atender ao próprio Arquivo,<br />

proporcionasse a pesquisa de<br />

materiais e possibilitasse a divulgação<br />

da Conservação Preventiva<br />

(São Paulo está inserida em um<br />

projeto internacional) promovendo<br />

cursos e criando mão de obra<br />

voltada, especificamente, para a<br />

manutenção deste Patrimônio.<br />

Portanto, é com prazer e orgulho<br />

que comunicamos à comunidade<br />

científica e cultural esta parceria<br />

com a FAPESP que trará frutos,<br />

sem dúvida alguma, já no decorrer<br />

deste ano de <strong>1999</strong>, período marcado<br />

para a consecução total do<br />

projeto e início do planejamento<br />

dos trabalhos.<br />

Isabel Maria Alves Mezzalira -<br />

Restauradora<br />

Arquivo Histórico Municipal - Rua<br />

Roberto Simonsen, 136 - B -<br />

01017-020 São Paulo - SP<br />

2<br />

Boletim <strong>ABRACOR</strong><br />

Associação Brasileira de<br />

Conservadores-<br />

Restauradores de Bens<br />

Culturais<br />

Sede : Rua São José, nº.<br />

50/9º andar<br />

sala nº. 5. Centro - Rio<br />

de Janeiro/RJ<br />

CEP.: 20.010-020<br />

Caixa Postal 6557 CEP.:<br />

20030-970 Rio de<br />

Janeiro RJ Brasil<br />

Telefax: (021) 533-8090<br />

Ramal 244<br />

Telefax: (021) 537-0036<br />

Ramal 127<br />

E-Mail :<br />

abracor@hotmail.com<br />

Banco Itaú S.A. N° 341<br />

Agência São Clemente<br />

N° 0733 C/C N° 37602-4<br />

Rio de Janeiro RJ<br />

Homepage :<br />

http://cecor.eba.ufmg.br/<br />

abracor<br />

SETEMBRO/OUTUBRO/<br />

NOVEMBRO <strong>1999</strong><br />

Equipe Técnica<br />

Comissão de Publicação<br />

:<br />

Jayme Spinelli Jr; Maria<br />

Luisa Ramos de Oliveira<br />

Soares; Leonardo<br />

Ciannella; Sérgio Albite<br />

Programação Visual;<br />

Editoração e<br />

Diagramação :<br />

Leonardo Ciannella<br />

cianella@uol.com.br<br />

As matérias assinadas<br />

são de responsabilidade<br />

dos autores.


Ensaio<br />

IX Congresso da <strong>ABRACOR</strong><br />

Homenageou Pioneiros da<br />

Restauração Moderna na Bahia<br />

Prof. José Dirson Argolo *<br />

O IX Congresso da<br />

<strong>ABRACOR</strong>, Realizado em<br />

Salvador, rendeu, em seu<br />

primeiro dia de trabalho, homenagens<br />

a dois pioneiros<br />

da restauração moderna na<br />

Bahia : João José Rescala e<br />

Liana Gomes Silveira Kerr,<br />

presente à cerimônia. O<br />

Prof. José Dirson Argolo, coordenador<br />

regional do congresso,<br />

foi o condutor das<br />

homenagens, tendo preferido,<br />

diante de uma platéia comovida,<br />

uma mensagem<br />

(veja-se textos neste boletim),<br />

em que apresentou a<br />

biografia dos ilustres batalhadores<br />

da preservação da<br />

memória cultural.<br />

João José Rescala<br />

João José<br />

Rescala nasceu<br />

na cidade<br />

do Rio de Janeiro<br />

em 8 de<br />

janeiro de<br />

1910. Em 5 de<br />

setembro de<br />

1942 casa-se<br />

com a Srta.<br />

M a r i a<br />

Abrahão. Dessa<br />

união nascem<br />

os filhos<br />

Maria Alice,<br />

João Paulo,<br />

Jorge Alberto,<br />

Cristina, Luiz<br />

Antônio e José<br />

Carlos.<br />

Freqüenta o<br />

Liceu de Artes<br />

e Ofícios do<br />

Rio de Janeiro e, mais tarde,<br />

a , antiga Escola Nacional de<br />

Belas Artes, concluindo brilhantemente<br />

o Curso de Pin-<br />

tura. Fundador do Núcleo<br />

Bernadelli, obtém. o primeiro<br />

prêmio no Salão Anual do<br />

mesmo, em 1935; dois anos<br />

depois, recebe o “Prêmio de<br />

Viagem ao País”. Participa<br />

ativamente de exposições<br />

coletivas e salões de arte,<br />

conquistando outros prêmios<br />

e menções honrosas.<br />

Inicia a sua vida profissional<br />

como restaurador, trabalhando<br />

no Museu da<br />

Quinta da Boa Vista no Rio<br />

de Janeiro. Em 1944 recebe<br />

no Salão Nacional de<br />

Belas Artes o prêmio de<br />

“Viagem ao Estrangeiro”.<br />

Parte para Nova Yorque, estudando<br />

no New School for<br />

Social Research e estagiando<br />

no Museu de História<br />

Natural de Chicago, dando<br />

especial, atenção aos trabalhos<br />

realizados no ateliê de<br />

restauração. Pretende fre-<br />

qüentar um curso de especialização<br />

em restauração,<br />

não obtendo sucesso por<br />

questões burocráticas. No<br />

seu retomo ao Brasil, indica<br />

o Professor Édson Motta<br />

para fazer o curso que não<br />

pôde freqüentar. Retomando<br />

ao Rio de Janeiro, após<br />

a conclusão do curso, o<br />

Prof. Édson. lhe repassa os<br />

conhecimentos auferidos.<br />

Tomam-se grandes amigos<br />

e, desde então, companheiros<br />

de luta pela preservação<br />

do patrimônio brasileiro, ligados<br />

ao IPHAN.<br />

Chega à Bahia em 1954,<br />

em pleno vigor físico, aos 44<br />

anos de idade, na condição<br />

de perito em Belas Artes,<br />

cargo que ocupava no MEC.<br />

É lotado no então 2º Distrito<br />

do Patrimônio Histórico e<br />

Artístico Nacional, na Seção<br />

de Restauração de pinturas,<br />

com a missão de dar início<br />

à organização do serviço do<br />

patrimônio na Bahia. Vivência<br />

uma época difícil, pela<br />

ausência total de infra-estrutura,<br />

de técnicos especializados,<br />

nenhuma consciência<br />

do valor que representavam<br />

as relíquias do passado, verbas<br />

curtas, etc. Abraça a<br />

causa como uma missão.<br />

Nas viagens que faz pelo interior,<br />

com o objetivo de diagnosticar<br />

os monumentos<br />

para seu tombamento, ou<br />

mesmo para prestar, algum<br />

socorro, era obrigado a dormir<br />

em precárias pensões ou<br />

mesmo no interior das igrejas.<br />

Nessa época, as cidades<br />

pequenas não possuíam<br />

qualquer infra-estrutura turística;<br />

hotéis e mesmo restaurantes<br />

eram coisas raras.<br />

3<br />

Devido a seu zelo e profundo<br />

amor às obras de arte,<br />

parte importante de nossa<br />

memória cultural foi salva.<br />

Nessa época Salvador<br />

vive seu período de apogeu,<br />

principalmente a Universidade<br />

da Bahia, com o reitorado<br />

do Professor Edgard Santos.<br />

Homem culto e empreendedor,<br />

esse reitor cria o<br />

Seminário de Música, a Escola<br />

de Teatro, a Escola de<br />

Dança. Edgard Santos revoluciona<br />

o ensino universitário,<br />

mas, sem dúvida alguma,<br />

a área de arte era a<br />

menina de seus olhos. A<br />

Escola de Belas Artes, dirigida<br />

por Mendonça Filho,<br />

não tardaria a descobrir a<br />

presença de Rescala na<br />

Bahia e logo o convoca para<br />

prestar concurso de Docente<br />

Livre da Cadeira de Teoria,<br />

Conservação e Restauração<br />

da Pintura. Aprovado,<br />

e nomeado em agosto do<br />

mesmo ano. A Escola de<br />

Belas Artes da UFBa<br />

toma-se, assim, a segunda<br />

unidade universitária do Brasil<br />

a incluir no seu curriculum<br />

uma disciplina voltada<br />

para conservação e restauração<br />

de obras de arte (a<br />

primeira foi a UFRJ). Um ano<br />

depois presta concurso para<br />

catedrático da mesma disciplina,<br />

sendo aprovado por<br />

uma seleta banca examinadora,<br />

tendo como examinadores<br />

Edson Motta, Quirino<br />

Campofiorito, Mendonça Filho<br />

e outros.<br />

Em 1955 publica o livro<br />

“Pintura e Madeira (Preparo<br />

e Restauração de Suporte)”,<br />

que é sua tese de concurso<br />

à cadeira de “Teoria e Con-


servação da Pintura”.<br />

Exerce a atividade de professor<br />

e técnico SPHAN,<br />

paralelamente, uma completando<br />

a outra, sem esquecer<br />

naturalmente o exercício<br />

de pintor, uma das grandes<br />

razões da sua vida. Tendo<br />

pertencido ao grupo Bernadelli<br />

do Rio, Rescala, em<br />

pouco tempo, fica deslumbrado<br />

com a paisagem baiana,<br />

passando a retratar<br />

suas ladeiras íngremes, seu<br />

casario colonial e sua gente,<br />

principalmente as negras<br />

baianas, as lavadeiras do<br />

Abaeté, os pescadores, as<br />

festas de largo, as feiras livres....<br />

Dotado de uma rara<br />

sensibilidade, conhecedor<br />

profundo dos segredos das<br />

tintas; dos pincéis, era muito<br />

meticuloso e fazia questão<br />

de preparar ele próprio,<br />

artesanalmente, suas telas.<br />

Em 1958, é convocado<br />

por Edgard. Santos para assumir<br />

a coordenação dos<br />

trabalhos de restauração do<br />

Convento de Santa Tereza,<br />

e que seria transformado em<br />

Museu de Arte Sacra. Nessa<br />

tarefa, contou com a colaboração<br />

de sua aluna e assistente<br />

Liana Gomes Silveira,<br />

também homenageada<br />

neste Congresso. Possuidor<br />

de um talento excepcional,<br />

realizando um trabalho primoroso,<br />

foi um marco na<br />

restauração baiana e brasileira.<br />

Aquele museu é inaugurado<br />

festivamente em<br />

1958, contando com a colaboração<br />

do eminente diretor<br />

do Museu do Vaticano,<br />

Dr. DiocIécio Redig de Campos<br />

e do arquiteto Vladimir<br />

Alves de Souza.<br />

Na Escola de Belas Artes,<br />

exerceu, além do magistério,<br />

diversas funções administrativas:<br />

foi chefe do Departamento<br />

de Pintura, vicediretor<br />

e diretor entre 1963<br />

e 1967. Durante seus 26<br />

anos dedicados ao magistério,<br />

representou muito bem<br />

a escola em diversas programas<br />

a nível estadual e nacional,<br />

destacando-se em congressos<br />

e bancas examinadoras.<br />

Seu atelier particular de<br />

restauração é freqüentado<br />

pelos maiores colecionadores<br />

de arte da Bahia.<br />

Dedica-se especialmente a<br />

restauração de pinturas em<br />

suporte de madeira e tela,<br />

tendo sido responsável, entre<br />

outras grandes realizações,<br />

pela restauração do<br />

teto da Igreja de N.S. da<br />

Conceição da Praia, dos painéis<br />

da Igreja de Santana,<br />

da imagem do Senhor do<br />

Bonfim, da Igreja dos órfãos<br />

de São Joaquim e do teto<br />

da Biblioteca dos Jesuítas.<br />

Em resumo, como técnico<br />

do IPHAN, nenhuma igreja<br />

baiana ficou imune ao seu<br />

acurado trabalho.<br />

Merece menção especial<br />

a descoberta por ele feita,<br />

para o patrimônio nacional,<br />

da obra de Veiga Valle, quando,<br />

em gozo do prêmio “Viagem<br />

pelo Brasil”, esteve na<br />

cidade de Goiás, em 1940.<br />

Aposenta-se em 1980 e,<br />

alguns anos depois, recebe<br />

o título de professor emérito.<br />

Grande parte de sua experiência<br />

profissional está<br />

relatada no livro “Restauração<br />

de Obra de Arte - Pintura<br />

Imaginaria e Obra de Talha”,<br />

publicado pela UFBA,<br />

em 1985. Além desse livro,<br />

publicou muitos artigos em<br />

jornais e revistas especializadas.<br />

Já no final de sua<br />

vida, presta ainda colaboração<br />

aos cursos de especialização<br />

em restauração, realizados<br />

na EBA e no CECOR,<br />

em 1980 e 1981. Deixou<br />

vários discípulos, entre eles,<br />

a já mencionada Liana Gomes<br />

Silveira, Selma Dannemam,<br />

Ana Maria Villar, Heliane<br />

Fonseca e seus auxiliares<br />

no SPHAN, do qual também<br />

foi diretor.<br />

Como pintor e desenhista,<br />

Rescala desenvolveu um<br />

trabalho igualmente brilhante,<br />

tendo recebido inúmeros<br />

prêmios, medalhas e condecorações<br />

no Brasil e participado<br />

de importantes mostras<br />

coletivas e individuais<br />

no Exterior, inclusivo na Bienal<br />

de Veneza. O Dicioná-<br />

rio de Artes Plásticas no Brasil,<br />

de Roberto Pontual elenca<br />

uma série de participações<br />

de Rescala como artista<br />

e como restaurador.<br />

O grande mestre faleceu<br />

em Salvador, em 1986,<br />

deixando-nos uma enorme<br />

lacuna e uma profunda saudade.<br />

Liana Gomes Silveira Kerr<br />

Nasceu na cidade<br />

de Aracaju -<br />

Se em 9 de agosto<br />

de 1931, filha<br />

caçula do casal<br />

Aloísio Calazans<br />

de Silveira, destacado<br />

funcionário<br />

do Banco do Brasil,<br />

e de D. Ubalda<br />

Gomes Silveira.<br />

Quando contava<br />

três anos de<br />

idade, seus pais<br />

se transferem<br />

para Salvador. Ela<br />

e suas irmãs Luiza<br />

e Selma passam<br />

a freqüentar<br />

o colégio Nossa<br />

Senhora das Mercês<br />

onde concluem<br />

os cursos ginasial<br />

e colegial.<br />

Desde cedo demonstra<br />

inclinação para o desenho e<br />

a pintura. Dotada de grande<br />

sensibilidade artística, meticulosa<br />

e dona de uma marcante<br />

personalidade, de certa<br />

forma enfrenta a família,<br />

quando decide ingressar na<br />

Escola de Belas Artes, em,<br />

1950, para fazer o curso de<br />

pintura. Naquela época as<br />

Escolas de Belas Artes, Teatro<br />

e, Música enfrentavam<br />

grande preconceito, pois,<br />

além da profissão de ator e<br />

artista plástico serem consideradas<br />

mero diletantismo,<br />

seus recintos eram tidos<br />

como locais freqüentados<br />

por boêmios e pessoas de<br />

“vida livre”. A Escola de Belas<br />

Artes, então instalada no<br />

belo Solar Jonathas Abbot<br />

na Rua 28 de <strong>Setembro</strong> em<br />

pleno Centro Histórico, onde<br />

vivia a baixa classe média,<br />

no meio de alguns “caste-<br />

4<br />

los” e “rendez-vous”, sofria<br />

duplo preconceito. Liana e<br />

algumas poucas moças de<br />

sua época tiveram que enfrentar<br />

esses terríveis<br />

obstáculos para poderem<br />

realizar seu ideal. Diversas<br />

vezes de forma maldosa, colegas<br />

do Banco do Brasil diziam<br />

para o Sr. Aloísio: “Ontem<br />

vi sua filha passar pela<br />

28 de <strong>Setembro</strong> ... “.<br />

No EBA, Liana tem contato<br />

com o mestre Rescala,<br />

que lhe ensina os primeiros<br />

passos da arte da restauração.<br />

Logo Rescala descobre<br />

os dotes da jovem aluna e a<br />

toma como sua auxiliar no<br />

Atelier de Restauração do<br />

IPHAN, que funcionava na<br />

Casa dos 7 Candeeiros.<br />

Mais tarde, torna-se assistente<br />

voluntária da disciplina<br />

Teoria, Conservação e<br />

Restauração de Obras de<br />

Arte, sem receber nenhum<br />

tipo de remuneração.<br />

Em 1956 é convocada<br />

para trabalhar na restauração<br />

do Convento de Santa<br />

Tereza, que seria transformado<br />

no 1º museu de arte sacra<br />

do Brasil. Dedica-se a<br />

esta tarefa com afinco e profundo<br />

senso profissional. É<br />

o braço direito de Rescala.<br />

A restauração do antigo<br />

Convento dos Carmelitas


Descalços, um dos mais importantes<br />

monumentos do<br />

séc. XVII do Brasil, é um<br />

marco para a época, tendo<br />

contado com a contribuição<br />

de eminentes conhecedores<br />

de arte, como Deoclécío<br />

Redig de Campos, conservador<br />

- chefe dos Museus<br />

do Vaticano e Dr. Wladimir<br />

Alves de Souza, além do<br />

monge beneditino D. Clemente<br />

Maria da Silva Nigra,<br />

que se torna seu primeiro<br />

diretor, todos trabalhando<br />

sob a batuta do reitor Edgard<br />

Santos.<br />

É justamente nas obras<br />

de restauro do Convento<br />

que Liana vem a conhecer<br />

Dr. Edgard, que lhe oferece<br />

uma bolsa de estudos para<br />

a Europa. Em 1959 a jovem<br />

restauradora viaja para a Espanha,<br />

a rim de especializarse<br />

em restauração. Em Madri<br />

matricula-se na Escola<br />

San Fernando, onde permanece<br />

por 9 meses. Para essa<br />

viagem enfrenta novamente<br />

as resistências familiares.<br />

Somente mulheres muito<br />

determinadas e possuidoras<br />

de grande vocação se devam<br />

ao luxo de deixar a família<br />

para viver fora um longo<br />

espaço de tempo.<br />

Retornando do Espanha,<br />

Liana é convidada pelo reitor<br />

Edgar Santos para assumir<br />

o cargo de conservadora<br />

do Museu de Arte Sacra.<br />

Durante muitos anos foi a<br />

única figura feminina a trabalhar<br />

nas dependências daquele<br />

recinto exclusivamente<br />

masculino. Trabalha incansavelmente<br />

no cadastramento<br />

das peças das<br />

coleções de escultura, pintura,<br />

ourivesaria, etc., organizando<br />

o livro de tombo e<br />

toda a documentação do<br />

museu, além de suas atividades<br />

de restauradora. Nesse<br />

tempo, os museólogos<br />

eram escassos e os restauradores<br />

assumiam a dupla<br />

função. Com o passar dos<br />

anos, torna-se uma memória<br />

viva do Museu de Arte<br />

Sacra.<br />

Em 1964 une-se ao gaúcho<br />

lan Clives de Barros<br />

Kerr, funcionário da VARIG<br />

e, mais tarde, seu gerente<br />

administrativo. Ele torna-se,<br />

além de seu esposo e companheiro,<br />

um profundo admirador<br />

de seu talento e<br />

íncentivador de sua arte.<br />

Liana conquista, pela<br />

qualidade de seu trabalho,<br />

simpatias e uma seleta clientela.<br />

Nas noites, fins de<br />

semana e feriados,<br />

dedica-se a restauração particular.<br />

E requisitada pelos<br />

mais importantes colecionadores,<br />

antiquários, políticos,<br />

instituições religiosas e particulares,<br />

Carybé, Jenner,<br />

Mirabeau, Dr. Luís Viana Filho,<br />

ACM, Odorico Tavares,<br />

José Augusto Novaes e tantos<br />

outros só confiam a ela<br />

suas obras mais importantes.<br />

Não é sem razão que<br />

Jorge Amado a fez personagem<br />

no romance o “Sumiço<br />

da Santa”.<br />

No MAS é admirada e<br />

querida por todos, sua bondade<br />

e generosidade não<br />

tem limites. É comadre de<br />

quase todos os antigos funcionários,<br />

mestra e uma segundo<br />

mãe dos museólogos<br />

e restauradores. A ninguém<br />

negava informação, a todos<br />

recebia em seu gabinete;<br />

entre altos e baixos escalões,<br />

não fazia a menor diferença.<br />

Em 1970 restaura a magnífica<br />

imagem de Nossa Senhora<br />

da Piedade, peça, portuguesa<br />

do século XVIII, de<br />

tamanho natural, padroeira<br />

de Lagarto - Se., resgatando<br />

sua policromía original<br />

encoberta por várias camadas<br />

de tinta.<br />

Em 1976 recebe a missão<br />

do Prof. Valentini Calderón<br />

de passar um período<br />

no IRPA de Bruxelas, com<br />

uma bolsa do Ministério das<br />

Relações Exteriores do Brasil,<br />

a fim de reciclar-se para,<br />

futuramente, vir a dirigir um<br />

sonhado Centro de Restauro<br />

a ser criado na Bahia. No<br />

IRPA freqüenta os ateliers de<br />

restauração de esculturas<br />

policromadas nos suportes<br />

de madeira, pedra e barro<br />

cozido. No atelier de pintura<br />

aperfeiçoa-se nos modernos<br />

métodos de reinte-<br />

lação, desenvolvidos pelo<br />

Sr. Messens e nos processos<br />

de limpeza. Toma conhecimento<br />

dos modernos<br />

métodos de investigação científica<br />

e análise de materiais.<br />

Dedica-se, entre outras,<br />

à restauração de esculturas<br />

em madeira policromada,<br />

entre as quais St. Ursmer de<br />

Lobbes,St. Corneille-Bruges,<br />

Christ aux outrages, além de<br />

auto-relevos e fragmentos<br />

de sarcófagos egípcios.<br />

Torna-se amiga de Mirian<br />

Serch, Liliane M.Klalner,<br />

Francis Grené e outros destacados<br />

técnicos do IRPA.<br />

Realiza viagens de estudos<br />

e observação em vários<br />

países, é recebida no Louvre<br />

pela restauradora baiana<br />

e sua ex-colega, Regina<br />

da Costa Pinto e na Pinacoteca<br />

do Vaticano por Dr. Deoclésio.<br />

Traz para Salvador<br />

as últimas novidades e as<br />

modernas técnicas de então.<br />

No seu retorno à Bahia<br />

retoma suas atividades no<br />

Arte Sacro e por um breve<br />

período dirige o setor de restauração<br />

de bens móveis do<br />

IPAC. Retorna por mais algumas<br />

vezes ao IRPA sempre<br />

em busca de novos conhecimentos.<br />

Sou testemunha do seu<br />

grande senso de humanidade<br />

e de amor à profissão.<br />

Nas vésperas de minha viagem<br />

a Itália onde ia com a<br />

mesma bolsa de estudos do,<br />

Ministério das Relações Exteriores<br />

com que ela fora<br />

agraciada, fui recebido com<br />

respeito e obtive muito mais<br />

informações do que fui pedir,<br />

tendo recebido um<br />

exemplar do seu relatório de<br />

estágio do IRPA, do qual tirei<br />

agora algumas informações<br />

para este breve relato.<br />

Em 1980 e 1981 ministra<br />

aulas no Curso de Conservação<br />

e Restauração de<br />

Bens Móveis da Escola de<br />

Belas Artes, realizado nas<br />

dependências do MAS,<br />

Revela-se, excelente mestra<br />

e seus atualizados conhecimentos<br />

e grande experiência<br />

profissional contribuem<br />

para a elevação de curso e<br />

5<br />

para a formação dos novos<br />

restauradores.<br />

Tendo, possivelmente,<br />

herdado do pai, apaixonado<br />

colecionador de moedas<br />

brasileiras, o gosto pela preservação<br />

da memória do homem,<br />

além da meticulosidade,<br />

traço marcante em todo<br />

restaurador, Liana também<br />

vai influenciar outros membros<br />

de sua família. Primeiramente,<br />

foi sua irmã Selma<br />

Dannemann, hoje restauradora<br />

respeitada e conservadora<br />

do MAS, vindo depois<br />

Maria Lúcia Lyrio, sua sobrinha<br />

e destacada restauradora<br />

do Museu de Arte Moderna,<br />

e, mais recentemente,<br />

Cláúdia Guanais Fausto<br />

e Antônio Carlos Dannemann,<br />

no momento fazendo<br />

o curso do CECOR. Liana<br />

é como uma árvore que<br />

deu muitos boas frutos, todos<br />

continuando a vocação<br />

do nossa pioneira restauradora.<br />

Entre 1980 e 82 dirige o<br />

MAS após o falecimento do<br />

Prof. Valentin Calderón, não<br />

aceitando permanecer na direção,<br />

apesar de insistentes<br />

convites, inclusive do governador<br />

Roberto Santos, filho<br />

do fundador do MAS. Desprovida<br />

de vaidades e avessa<br />

a homenagens prefere<br />

continuar como conservadora,<br />

embora tenha sempre assumido<br />

a direção nos afastamentos<br />

temporários do diretor<br />

subseqüente, Prof. Moacir<br />

Maia.<br />

Aposentou-se do Museu<br />

de Arte Sacra em 1992,<br />

após mais de 30 anos de dedicação<br />

Aquela instituição,<br />

das mais conceituadas no<br />

mundo cultural brasileiro.<br />

Seu legado jamais será esquecido:<br />

simplicidade,<br />

devotamento ao trabalho,<br />

profissionalismo e generosidade<br />

para transferir seus<br />

conhecimentos.<br />

Prof. José Dirsom Argôlo<br />

* Coordenador Regional do<br />

IX Congresso da <strong>ABRACOR</strong>;<br />

Conservador - Restaurador;<br />

Professor da UFBa.


O CONGRESSO DO ANO 2000 -<br />

uma proposta preliminar<br />

Sérgio Conde de Albite Silva *<br />

Ensaio<br />

Após o encerramen<br />

to do IX Congres<br />

so da <strong>ABRACOR</strong>,<br />

realizado em Salvador, Bahia,<br />

no final do mês de outubro<br />

deste ano, senti imediatamente<br />

(e nesse momento era<br />

puro sentimento, sensação)<br />

que algo me perturbava.<br />

Eram sentimentos misturados.<br />

Sentimentos de conforto<br />

por ter participado e, de<br />

alguma forma, contribuído<br />

para a realização do IX Congresso<br />

da Associação Brasileira<br />

de Conservadores e Restauradores<br />

de Bens Culturais,<br />

mas, também, sentimentos<br />

de angústia, antevendo as dificuldades<br />

que as associações<br />

de classe enfrentam no<br />

Brasil para realizar qualquer<br />

coisa, ainda mais uma reunião<br />

como essa que se encerrava<br />

e como uma outra<br />

que se aproxima, no ano<br />

2000. E, principalmente,<br />

sentimentos de que todos<br />

nós precisávamos e merecíamos<br />

mais.<br />

Passado esse primeiro<br />

momento, voltei à realidade<br />

cotidiana e passei a refletir,<br />

objetiva e cartesianamente,<br />

sobre o significado dessa<br />

confusão de sensações. Hoje,<br />

exatamente um mês após o<br />

final do IX Congresso da<br />

<strong>ABRACOR</strong>, escrevo o resultado<br />

de minhas reflexões. O<br />

que será lido a seguir são as<br />

idéias que considerei mais<br />

importantes e que resolvi<br />

correr o risco de expô-las<br />

para que nós, profissionais da<br />

preservação e membros de<br />

uma associação de classe,<br />

discutíssemos a tempo de<br />

chegarmos a alguma conclusão<br />

e em tempo hábil de concretizá-las,<br />

antes da realização<br />

do próximo congresso<br />

em São Paulo. É disso que<br />

trata este texto-ensaio-proposta.<br />

A <strong>ABRACOR</strong> chegou à<br />

sua nona reunião bienal. O<br />

que por si só, já é um feito<br />

extraordinário, se considerarmos<br />

um país como o nosso<br />

que não se destaca pela continuidade<br />

de seus projetos.<br />

Parte desses nove encontros<br />

entre os profissionais da<br />

área, nos possibilita, ao fornecer<br />

material, uma despretensiosa<br />

abordagem histórica.<br />

Senão, vejamos.<br />

No encontro de Petrópolis,<br />

em 1994, o tema escolhido<br />

foi o do Panorama da<br />

Conservação na América Latina,<br />

onde, através de um<br />

esforço concentrado, abriram-se<br />

as discussões aos<br />

nossos vizinhos de fala castelhana.<br />

Neste instante, realizava-se<br />

o VII Seminário da<br />

<strong>ABRACOR</strong>, ainda entitulado<br />

de seminário. Mas algo começava<br />

a mudar.<br />

Entendido como o passo<br />

seguinte necessário, capaz<br />

de franquear ainda mais esse<br />

espaço político e técnico da<br />

preservação, a nova diretoria<br />

da <strong>ABRACOR</strong>, eleita em<br />

1994, sonhou alto, na forma<br />

e no conteúdo, e, ao dar<br />

esse segundo passo, na verdade,<br />

realizou um salto. Um<br />

aumento significativo na participação<br />

de conservadores<br />

de países da América do Sul<br />

e Central no encontro de<br />

Ouro Preto, consolidou o<br />

movimento iniciado em<br />

1994. Ampliou-se a participação,<br />

quantitativamente, e,<br />

principalmente, qualitativamente,<br />

dos expositores europeus,<br />

canadenses e norteamericanos,<br />

muitos deles<br />

Cientistas da Conservação de<br />

reconhecimento internacional.<br />

Os Anais ganham um<br />

formato mais amigável e,<br />

mais importante, se deixa de<br />

publicar apenas os resumos<br />

das conferências e palestras,<br />

e passa-se a publicar artigos<br />

completos, inclusive com<br />

seus respectivos abstracts.<br />

Os Seminários passam a<br />

Congressos. É o VIII Congresso<br />

da <strong>ABRACOR</strong>.<br />

Em Salvador, 1998, o IX<br />

Congresso realiza-se em uma<br />

ala de um centro de convenções,<br />

destinada exclusivamente<br />

para tal. Tem-se aí a<br />

reafirmação de uma caráter<br />

internacional, com a presença<br />

de nossos companheiros<br />

latino-americanos, não só<br />

participando como ouvintes<br />

e debatedores, mas com inúmeras<br />

exposições e comunicações.<br />

Quantos aos Anais,<br />

que confirmam, na forma e<br />

conteúdo, o passo anteriormente<br />

dado, são, agora, publicados,<br />

simultaneamente,<br />

resumos com os temas a<br />

serem abordados nas várias<br />

plenárias e sessões paralelas,<br />

servindo de orientação fundamental<br />

para os participantes,<br />

na hora de escolher o<br />

assunto de seu interesse. São<br />

cinco dias de ouvir e aprender.<br />

No dia do encerramento,<br />

temos uma sessão plenária<br />

na Igreja de São Francisco,<br />

patrimônio e marco histórico<br />

de Salvador, que culmina<br />

com um festivo encontro<br />

social e gastronômico<br />

entre os muros de seu átrio.<br />

Aparentemente, tudo isso<br />

pode levar a crer que as realizações<br />

futuras da ABRA-<br />

COR caminharão por si só.<br />

Sabemos que isso não confere<br />

com a realidade que vivemos.<br />

Aliás, o colega Júlio<br />

Moraes lembrou isso muito<br />

propriamente na plenária de<br />

encerramento em Salvador.<br />

Somos uma associação e só<br />

concretizaremos algo se o<br />

fizermos e trabalharmos em<br />

conjunto. Assim, o que proponho<br />

neste espaço, é provocar<br />

e convocar os associ-<br />

6<br />

ados da <strong>ABRACOR</strong> a, pelo<br />

menos, debaterem estas idéias,<br />

que resultaram, em parte<br />

da satisfação de progresso e<br />

melhora profissional que esses<br />

encontros vem oferecendo,<br />

mas, principalmente, do<br />

desejo e da ambição, identificadas<br />

também entre alguns<br />

companheiros, e que, somente<br />

juntos, poderemos realizar.<br />

É o que pretendo demonstrar<br />

a seguir. São propostas de<br />

forma e conteúdo.<br />

1) O nome, desses nossos<br />

encontros profissionais,<br />

necessita mudar, mais uma<br />

vez. Como todos os outros<br />

encontros de profissionais<br />

das mais diferentes áreas, o<br />

título do Congresso deve fazer<br />

referência explicita às atividades<br />

e responsabilidades<br />

e à área de conhecimento<br />

dos membros de tal encontro<br />

e não ao profissional em<br />

si. Assim, o próximo congresso<br />

da <strong>ABRACOR</strong> seria o<br />

X Congresso Brasileiro de<br />

Preservação de Bens Culturais<br />

e não mais o X Congresso<br />

da Associação Brasileira<br />

de Conservadores e Restauradores<br />

de Bens Culturais.<br />

2) O Congresso poderia<br />

ser realizado em menos dias,<br />

ou seja, seria um encontro<br />

mais denso e concentrado.<br />

Isso agilizaria sua organização,<br />

reduziria os custos financeiros<br />

e humanos de sua<br />

implementação e possibilitaria<br />

a participação de mais<br />

pessoas e de regiões mais<br />

distantes. Quando desocupamos<br />

a ala do Centro de Convenções<br />

de Salvador, esse<br />

espaço foi ocupado, na sexta-feira<br />

ainda, por um encontro<br />

de odontologia com<br />

10.000 inscritos. A aceitação<br />

de que nossa realidade é outra<br />

(em média 350 participantes),<br />

deve ser entendida,<br />

não com desânimo, mas


como o primeiro e sólido passo<br />

para que possamos realizar,<br />

no futuro, um Congresso<br />

com essa envergadura.<br />

Para isso, acredito que seja<br />

condição sine qua non, neste<br />

momento, a concentração<br />

dos trabalhos com a redução<br />

dos dias de encontro. Qualidade<br />

versus quantidade.<br />

3) A busca de raízes firmes<br />

na cientificidade, na interdisciplinaridade<br />

e na transdiciplinaridade<br />

exige, que a<br />

partir de Salvador, consolidado<br />

como encontro técnico,<br />

cultural e social, o X Congresso<br />

apresente-se diferente.<br />

Até agora, os encontros<br />

da <strong>ABRACOR</strong> proporcionaram,<br />

e foram fundamentais<br />

para isso, espaço físico, intelectual,<br />

técnico, cultural e<br />

social para que os profissionais<br />

brasileiros da conservação/restauração<br />

se apresentassem<br />

aos colegas de profissão,<br />

às Universidades, aos<br />

estrangeiros participantes, às<br />

autoridades. Esses encontros<br />

garantiram, durante todos<br />

esses anos, a vez e a voz para<br />

que, tantos quanto possível,<br />

se dessem a conhecer e a<br />

reconhecer, através da divulgação<br />

de suas idéias e da<br />

exposição de seus rostos e<br />

vozes.<br />

Agora, precisamos mais<br />

do que isso. Para que a realização<br />

dos encontros bienais<br />

dos profissionais da conservação/restauração<br />

no Brasil<br />

não estanque, e sim, continue<br />

em curva ascendente, é<br />

preciso que busquemos os<br />

mesmo padrões de realização<br />

que já desfrutam os encontros<br />

de química, medicina,<br />

direito, jornalismo etc. Esses<br />

padrões estão segura e reconhecidamente<br />

calcados<br />

em moldes científicos. É isso<br />

que atrai aqueles que pensam<br />

e produzem ciência, que<br />

inovam e que rompem paradigmas,<br />

em qualquer campo<br />

ou especialidade do conhecimento.<br />

A qualificação científica<br />

é o mote da vez.<br />

Assim, a mudança de direção<br />

é oportuna. No lugar<br />

de continuar priorizando apenas<br />

a técnica, devemos dar<br />

lugar às discussões teóricoconceituais,<br />

às propostas<br />

políticas, às dúvidas e/ou<br />

certezas metodológicas.<br />

Assuntos pontuais poderiam<br />

passar a ser apresentados<br />

e discutidos, por aqueles<br />

com interesse específico,<br />

em painéis técnicos, onde<br />

fotos e pequenos textos dariam<br />

o teor do assunto e seus<br />

autores estariam, em tempo<br />

determinado, ao lado de seus<br />

painéis, para as explicações<br />

adicionais aos visitantes e<br />

interessados. Isso não significa<br />

desprestígio algum. Pelo<br />

contrário, evitaria desconforto<br />

e constrangimento com<br />

enganos, pois nada mais desagradável<br />

do que escolhermos<br />

e privilegiarmos uma<br />

comunicação, com um determinado<br />

assunto, indicado<br />

pelo resumo ou por algum<br />

título pomposo e promissor,<br />

e lá chegarmos para assistir<br />

exposições de “achismos” e<br />

de opiniões pessoais, muitas<br />

vezes sem fundamento científico.<br />

Isso em relação às<br />

sessões paralelas, aquelas<br />

geralmente realizadas na parte<br />

da tarde.<br />

Formalmente, haveria<br />

mais painéis e menos comunicações<br />

ou sessões paralelas<br />

com maior tempo de exposição.<br />

Creio que assim nós<br />

estaríamos dando não só um<br />

espaço físico e técnico mais<br />

justo, adequado e próprio,<br />

para os trabalhos rotineiros<br />

desenvolvidos pelos conservadores/restauradores,<br />

como, ao garantirmos espaço<br />

para comunicações inéditas,<br />

realizadas com critérios<br />

metodológicos sólidos e de<br />

reconhecido valor científico,<br />

estaríamos valorizando a profissão,<br />

alçando a área da preservação<br />

a um patamar superior.<br />

Isso abriria possibilidade<br />

de intercâmbio de mesmo<br />

nível, com outras áreas<br />

do conhecimento.<br />

Também estaríamos oferecendo<br />

uma maior e melhor<br />

base teórico-conceitual-metodológica<br />

que pudesse orientar<br />

ou oferecer parâmetros<br />

para as definições e implementação<br />

das políticas e di-<br />

retrizes governamentais ou<br />

para normas e procedimentos<br />

institucionais, que tratam<br />

da preservação dos bens<br />

culturais brasileiros.<br />

O espaço das plenárias,<br />

tradicionalmente pelas manhãs,<br />

seria preservado e<br />

aproveitado para discussões<br />

e exposições de temas<br />

abrangentes e genéricos,<br />

passíveis de interessar a todos<br />

os tipos de profissionais<br />

da conservação, independentemente<br />

de sua especialidade.<br />

Seria um tempo para entender,<br />

discutir ou rever as<br />

nossas diferenças e/ou coincidências<br />

terminológicas, teóricas,<br />

conceituais, políticas...<br />

4) Por último, mas não<br />

menos importante, a criação<br />

de um regimento para os<br />

congressos e de um regulamento<br />

para as sessões. Algo<br />

enxuto e perene.<br />

O regimento (que já tenho<br />

delineado), com alguma coisa,<br />

em torno de 15 artigos e<br />

alguns outros poucos parágrafos,<br />

divididos em 3 ou 4<br />

capítulos. Aí teríamos referendados<br />

as finalidades gerais<br />

e específicas, os tipos e<br />

possibilidades de participação,<br />

as formas e os motivos<br />

das sessões (conferências,<br />

palestras, comunicações e<br />

outras - todas definidas e<br />

conceituadas), as atividades<br />

e responsabilidades da Comissão<br />

de Avaliação dos trabalhos<br />

concorrentes (proposta<br />

de uma mesma comissão<br />

para julgar com os mesmo<br />

critérios todos os trabalhos<br />

e destiná-los corretamente),<br />

algo a respeito dos certificados,<br />

das publicações e das<br />

disposições gerais para os<br />

futuros congressos.<br />

O regulamento das sessões,<br />

também com 10 ou 12<br />

artigos e poucos parágrafos,<br />

trataria dos temas gerais e<br />

especiais, dos diferentes tipos,<br />

formas e tempo das<br />

apresentações (teóricas, técnicas,<br />

painéis ou palestras,<br />

comunicações ou conferências<br />

- o autor, com trabalho<br />

concorrente, saberia as condições<br />

e escolheria, anteci-<br />

7<br />

padamente, em que categoria<br />

gostaria de concorrer), a<br />

metodologia das apresentações<br />

e das discussões, a<br />

composição dos diferentes<br />

tipos de mesa, as atividades<br />

e responsabilidades próprias<br />

dos palestrantes e, principalmente,<br />

dos presidentes de<br />

mesa para a boa gestão dos<br />

trabalhos.<br />

Os tópicos acima abordados<br />

resultam, não apenas<br />

elucubrações e reflexões pessoais,<br />

mas muitos deles foram<br />

identificados nas conversas<br />

e observações de vários<br />

colegas conservadores, durante<br />

e depois do Congresso<br />

de Salvador.<br />

Assumo o risco de expôlas.<br />

O debate está aberto.<br />

Temos um ano, acredito,<br />

para discutirmos, e mais um<br />

ano para realizarmos um<br />

novo e grande congresso, a<br />

partir do resultado dessas<br />

nossas discussões. O X Congresso<br />

Brasileiro de Preservação<br />

de Bens Culturais, a<br />

ser realizado pela <strong>ABRACOR</strong>,<br />

no ano 2000, no meu entender,<br />

deve significar mais que<br />

uma simples coincidência<br />

com uma data entendida por<br />

alguns como cabalística.<br />

Creio que temos a oportunidade<br />

de trabalhar para um<br />

novo e promissor milênio,<br />

onde o profissional da preservação<br />

seja valorizado e<br />

percebido, social e cientificamente,<br />

como o agente que<br />

ao tratar o passado e o presente,<br />

prepara o futuro.<br />

Rio de Janeiro, 21 de novembro<br />

de 1998.<br />

* Arquivista/Conservador,<br />

mestre em Memória<br />

Social e Documento, professor<br />

do Departamento de<br />

Estudos e Processos Arquivísticos<br />

da UNI-RIO e consultor<br />

em Arquivologia e<br />

Conservação do Centro de<br />

Memória da Academia Brasileira<br />

de Letras. UNI-RIO:<br />

Av. Pasteur, 458 - 4 o andar<br />

- Urca - Rio de Janeiro - RJ<br />

Tel. 541.1839 e<br />

295.8239, ramal 2014<br />

E-MAIL:<br />

albite@uninet.com.br


Artigo Técnico<br />

PATRIMÔNIO LITÚRGICO OU IMATERIAL<br />

A gestão de um patrimônio,<br />

entendido em sentido amplo,<br />

difere da gestão de algo posto<br />

sob a lei exclusiva do capital.<br />

Yves Barel, sociólogo francês,<br />

sustenta: “O que o patrimônio<br />

regula, para além da<br />

economia, é todo um mundo<br />

onde se encontram misturados<br />

a família, a política, o consenso<br />

e o conflito social, a “natureza<br />

como a cultura”. Isto<br />

quer dizer que o patrimônio<br />

não é uma categoria que se<br />

possa confinar ao domínio da<br />

economia.<br />

De fato, dizer “patrimônio” é,<br />

em princípio, fazer referência<br />

literal à transmissão de bens<br />

de família por herança e referência<br />

figurada àquilo que se<br />

considera como um bem próprio.<br />

A família é o sujeito econômico<br />

do patrimônio, porque<br />

é o pertencimento a ela (e não<br />

a quaisquer outras regras, por<br />

mais racionais que sejam) que<br />

organiza a transmissão dos<br />

bens. O conceito de patrimônio<br />

deixa evidente não ser o<br />

econômico que, infraestruturalmente<br />

, garante o sujeito, e<br />

sim que este último sustenta<br />

o econômico por meio da relação<br />

patrimonial. O patrimônio<br />

configura propriamente uma<br />

forma social e, para nós, constitui<br />

importante categoria de<br />

análise cultural.<br />

Na lógica patrimonial, fatos<br />

culturais (éticos, psicológicos,<br />

territoriais) dominam os econômicos.<br />

Em vez dos critérios<br />

universais presentes na razão<br />

econômica, o patrimônio privilegia<br />

a relação específica<br />

entre os bens e um grupo humano<br />

determinado. Uma fazenda<br />

é transmitida por herança,<br />

não porque o herdeiro seja<br />

mais competente do ponto de<br />

vista administrativo-econômico,<br />

e sim porque é filho do proprietário.<br />

O que importa à lógica<br />

patrimonial é a lei do grupo<br />

organizador da transmissão,<br />

uma vez que o grupo e<br />

sua continuidade constituem<br />

a finalidade de todo patrimônio.<br />

Por isso, quando se amplia a<br />

noção de sujeito patrimonial<br />

a partir da família, o grupo<br />

pode ser instituído como linhagem<br />

ou qualquer outra figuração<br />

que ele próprio decida.<br />

No grupo patrimonial, mesclam-se<br />

elementos reais e fictícios,<br />

estes últimos inventados<br />

segundo a lógica das conveniências.<br />

Simbolizações,<br />

mitologias, racionalizações<br />

genealógicas concorrem para<br />

o imaginário coletivo do grupo<br />

patrimonial.<br />

Os estamentos dirigentes das<br />

nações latino-americanas<br />

constituíram sempre grupos<br />

patrimoniais, com vistas à<br />

transmissão do poder e das<br />

riquezas nacionais, em continuidade<br />

com a forte tradição<br />

patrimonialista da Península<br />

Ibérica. Pode-se mesmo formular<br />

a hipótese de um patrimonialismo<br />

nacional, destacando<br />

algumas das características<br />

de sua lógica: (1) territorialidade<br />

– o fenômeno patrimonial<br />

funda um território<br />

próprio, distinguindo o seu<br />

grupo humano do restante do<br />

corpo social; (2) temporalidade<br />

- buscando eternizar-se, o<br />

grupo cria uma dimensão temporal<br />

particular, que gera mitos<br />

tanto de futuro como de<br />

passado. Mortos, vivos e nãonascidos<br />

integram esta dimensão;<br />

(3) investimento libidinal<br />

ou afetivo-sexual – os investimentos<br />

afetivos ou libidinais<br />

sobre o patrimônio assemelham-se<br />

àqueles que se fazem,<br />

ou inconscientemente, sobre<br />

a família.<br />

Estes são aspectos, por assim<br />

dizer, “imateriais” a serem levados<br />

em conta quando se<br />

trata de refletir sobre a preservação<br />

de determinados<br />

bens patrimoniais, a exemplo<br />

das comunidades litúrgicas<br />

afro-brasileiras. O tombamento.<br />

Pelo Conselho Consultivo<br />

da Secretaria do Patrimônio<br />

Artístico e nacional, do terreiro<br />

da Casa Branca ou Candomblé<br />

do Engenho Velho (Iya<br />

Nassô Oká), instalado no país<br />

há cerca de 350 anos, deu en-<br />

sejo à continuidade de reflexões<br />

sobre o assunto.<br />

Comunidade litúrgica é termo<br />

adequado. Em seu sentido radical,<br />

liturgia (do grego allethurgués,<br />

derivada de lao e<br />

urgués) significa “obra do<br />

povo”. Lao é diferente de demos,<br />

é povo enquanto unidade<br />

consensual relacionada<br />

com o sagrado e não com o<br />

povo enquanto expressão das<br />

diferenças (demos, de democracia).<br />

Liturgia é, em linhas<br />

gerais, a lógica de relacionamento<br />

do homem com a divindade,<br />

o conjunto das regras de<br />

culto, que implica um outro<br />

tipo de poder, uma função do<br />

consenso mediado pelo sagrado.<br />

A comunidade litúrgica afrobrasileira<br />

ou terreiro implica,<br />

antes de mais nada, a idéia de<br />

um corpo grupal forte o suficiente<br />

para dar proteção contra<br />

as adversidades, contra o<br />

estrangeiro hostil. É o que expressa<br />

um antigo canto de<br />

celebração: “Kosi mi fara alejo<br />

/ Ara wara kon mi fara...” (<br />

“Nada há que possa contra<br />

mim nem mesmo quando parte<br />

dos estrangeiros / Todos<br />

unidos num mesmo corpo,<br />

nada há no mundo que possa<br />

contra mim”). A liturgia não<br />

deixa, assim, de “vestir” ou<br />

exprimir uma prática política<br />

bastante clara.<br />

Não seria nenhum abuso teórico<br />

falar – psicanaliticamente<br />

– do terreiro como uma experiência<br />

transicional, na trilha<br />

do conceito winnicotiano<br />

de objeto transicional. Não<br />

tanto no sentido do terreiro<br />

como uma “construção substitutiva”<br />

destinada a preencher<br />

a brecha da separação entre<br />

os escravos e a terra de origem,<br />

mas como um núcleo<br />

reelaborador e criador de símbolos<br />

suscetíveis de exprimir<br />

uma experiência original do<br />

mundo, com vistas à integração<br />

de uma forma própria<br />

numa outra História. É, portanto,<br />

lugar de conforto espiritual,<br />

mas principalmente de confraternização<br />

e manutenção de<br />

8<br />

Muniz Sodré*<br />

laços míticos e real-históricos.<br />

A comunidade-terreiro é, assim,<br />

repositório e núcleo reinterpretativo<br />

de um patrimônio<br />

simbólico. Tome-se o caso da<br />

Casa Branca: seu patrimônio<br />

simbólico foi instituído ao longo<br />

dos anos por uma linhagem<br />

de sacerdotisas (Iya Nassô,<br />

Iya Detá, Iya Kalá), complementada<br />

por muitas outras<br />

e todo um corpo grupal de iniciados.<br />

O patrimônio explicita-se<br />

em mitos, ritos, valores,<br />

crenças, formas de poder, culinária,<br />

técnicas corporais, saberes,<br />

cânticos, ludismos, língua<br />

litúrgica (o iorubá) e outras<br />

práticas sempre suscetíveis<br />

de recriação histórica, capazes<br />

de implementar um laço<br />

atrativo de natureza intercultural<br />

(negros de etnias diferentes)<br />

e transcultural (negros<br />

com brancos).<br />

A preservação do patrimônio<br />

de uma comunidade litúrgica<br />

inclui, evidentemente, seu espaço<br />

físico (respeitando-se a<br />

sua dinâmica interna de transformação<br />

e renovação dos<br />

materiais), mas consiste basicamente<br />

na savalguarda de<br />

sua idéia de Arkhé. Esta é linha<br />

de força intergeracional.<br />

A idéia não de Arkhé não equivale<br />

à de um evento inaugural<br />

e eterno, um conjunto axiológico<br />

dado para sempre e transmitido<br />

de uma geração para<br />

outra. Nada a ver com a reiteração<br />

do mesmo de que fala<br />

Eliade, historiador das religiões,<br />

a propósito do “homem<br />

arcaíco”, sustentando que “a<br />

vida dele é a repetição initerrupta<br />

de gestos inaugurados<br />

por outros”.<br />

Trata-se, sim, do sentido imanente<br />

a símbolos (os orixás<br />

enquanto princípios cosmológicos,<br />

os ancestrais enquanto<br />

suporte da lei de fundação e<br />

continuidade do grupo) ativos<br />

na história comunitária, portanto<br />

da marca de um possível.<br />

Pode ser associado aos<br />

logos heracliteano, entendido<br />

como o vigor presente na maneira<br />

como cada ente se conduz<br />

ou, em outras palavras,


como uma linguagem de realização.<br />

Vale sublinhar que a consideração<br />

do sentido é pertinente<br />

não só no caso da comunidade<br />

litúrgica, mas também na<br />

maioria das questões levantadas<br />

pela preservação de um<br />

bem cultural. Por exemplo, a<br />

preservação de um edifício,<br />

onde o olhar tecnicista se deteria<br />

apenas nos aspectos<br />

materiais e externos (estéticos)<br />

da recomposição historiográfica.<br />

A isto poderia responder o<br />

antropólogo Clifford Geertz:<br />

“Dois elementos como traço<br />

e cor que, à primeira vista,<br />

parecem ser tão resplandescentes<br />

por si mesmos, extraem<br />

sua vitalidade de algo mais<br />

que o apelo estético neles<br />

contido, por mais real que seja.<br />

Sejam quais forem as capacidades<br />

inatas de reagir à delicadeza<br />

da escultura ou ao drama<br />

cromático, essas reações<br />

estão ligadas a interesses mais<br />

amplos, menos genéricos e<br />

com conteúdos mais profundos,<br />

e é essa conexão com o<br />

que é a realidade local que revela<br />

seu poder construtivo” (O<br />

Poder Local, p. 154).<br />

Tais “conteúdos profundos”<br />

têm a ver com o sentido. Este<br />

não passa de uma geração a<br />

outra como se fosse um valor<br />

ou um bem acumulável, porque<br />

é transcendente e autoengendrado.<br />

A Arkhé é sentido,<br />

que implica tradição sem<br />

tradicionalismo. Não há propriamente<br />

“transmissão” (a não<br />

ser de cargos, funções, modos<br />

litúrgicos de administração do<br />

segredo) de uma mensagem<br />

absoluta, a exemplo do kerygma<br />

cristão, mas reinterpretações<br />

na dinâmica de transformação<br />

das formas de existência<br />

do grupo.<br />

E isso ocorre devido às identificações<br />

individuais e coletivas<br />

com uma forma de vida associativa<br />

entre mito e História,<br />

entre o visível e o invisível – a<br />

Arkhé . A liturgia – cânticos,<br />

invocações, atos, distribuição<br />

hierárquica de papéis – é uma<br />

significação (convencional,<br />

particular) com poder coesivo,<br />

porque estimula representações<br />

identitárias concretas<br />

frente às abstrações com valor<br />

universal. Nela se acha a<br />

“raiz das formas” a ser preservada<br />

num terreiro.<br />

Mas é também vital a questão<br />

da propriedade do terreno, da<br />

garantia do espaço físico, e<br />

não por motivos meramente<br />

jurídicos. É que numa cultura<br />

de Arkhé, como a nagô-ketu<br />

brasileira, ganha primado a<br />

relação integrativa do corpo<br />

com a território, isto é, com<br />

os outros homens, mas também<br />

com a terra, os minerais,<br />

os vegetais, as águas. Tratase<br />

de fato de uma relação integrativa<br />

com a própria realidade<br />

do corpo humano, feito<br />

de minerais, líquidos, vegetais<br />

e proteínas. A exemplo da tradição<br />

africana, o corpo aparece<br />

como um microcosmo do<br />

espaço amplo (o cosmo, a região,<br />

a aldeia, a casa), tanto<br />

físico como mítico, o que faz<br />

da conquista simbólica do<br />

espaço uma espécie de “tomada<br />

de posse da pessoa”.<br />

Na visão do antropólogo Marc<br />

Augé, o corpo humano pode<br />

mesmo Ser concebido como<br />

uma porção de espaço, com<br />

suas fronteiras e defesas: “Se<br />

temos exemplos de territórios<br />

pensados à imagem do corpo<br />

humano, o corpo humano é<br />

muito geralmente, ao contrário,<br />

pensado como um território”.<br />

Cita o exemplo das civilizações<br />

akan (atuais Gana e<br />

Costa do Marfim), onde o corpo<br />

é visto como um conjunto<br />

de lugares de culto, um centro<br />

para onde convergem elementos<br />

cósmicos e ancestrais.<br />

Por outro lado, no próprio<br />

modo de entender o que seja<br />

uma civilização (ilaju, isto é,<br />

“rosto com marcas de linhas”),<br />

os iorubás inscrevem o espaço<br />

e a terra. Diz o crítico R.F.<br />

Thompson: “O mesmo verbo<br />

que civiliza o rosto com marcas<br />

que identificam os membros<br />

de várias linhagens urbanas<br />

e citadinas, civiliza a terra:<br />

ô xá keké; ô sakô (ele talhou<br />

as marcas {da cicatriz };<br />

ele limpa o mato). O mesmo<br />

verbo que abre marcas em<br />

uma face iorubá, abre estradas<br />

ou fronteiras na floresta<br />

(...) Na verdade, o verbo básico<br />

para cicatrizar (la) tem associações<br />

múltiplas relacionadas<br />

com a imposição de um<br />

padrão humano sobre a desordem<br />

da natureza: pedaços de<br />

madeira, o rosto humano e a<br />

floresta, todos são ‘abertos’...”<br />

Investimentos coletivos e individuais<br />

entrecruzam-se na<br />

territorialidade corporal, e seja<br />

na África ou no Brasil, o corpo<br />

humano pode ser considerado<br />

um santuário. Na verdade,<br />

a importância primordial do<br />

corpo na Arkhé está na possibilidade<br />

que enseja de uma<br />

coesão comunitária. Por meio<br />

da corporalidade, resolve-se o<br />

problema da dicotomia ( insolúvel<br />

até agora para o Ocidente)<br />

entre o sungular e o coletivo,<br />

equilibrando-se o desenvolvimento<br />

da singularidade com<br />

a pressão do grupo.<br />

O que é bem frisado pelo sociólogo<br />

português José Gil:<br />

“Isso deve-se ao fato de a comunidade<br />

primitiva deixar<br />

aberto esse espaço em que o<br />

significante flutuante podia<br />

circular; dizendo de outro<br />

modo: no domínio da comunicação<br />

dos sígnos, como no da<br />

sua apreensão e tradução, o<br />

que permitia que os códigos<br />

fossem transmitidos e compreendidos<br />

era uma determinada<br />

função do corpo” (Cf. Metamorfoses<br />

do Corpo).<br />

“Significante flutuante” é a<br />

expressão lévi-straussiana<br />

para designar o corpo e suas<br />

energias, seus poderes de realização,<br />

chamados de axé<br />

pelos nagôs. O significante<br />

flutuante – que, para o antropólogo,<br />

tem múltipla significação<br />

( força e ação, qualidade<br />

e estado, etc.) – é aquilo que<br />

faz funcionarem os códigos<br />

comunitários, presidindo às<br />

transformações ou passagens<br />

de uma situação a outra. Para<br />

o grupo nagô-ketu, é o bem<br />

valioso guardado pela comunidade-terreiro:<br />

é experienciado<br />

como um conteúdo real,<br />

acumulável e transmissível<br />

pela mediação corporal, propiciador<br />

das ações de crescimento<br />

e expansão do grupo.<br />

O axé, esse precioso conteúdo<br />

“plantado” no espaço visível<br />

e invisível do terreiro, torna<br />

possível a guarda do axexé.<br />

Este termo implica o morto<br />

recente, mas também os<br />

ancestrais fundadores, as origens<br />

do grupo, garantias míticas<br />

de continuidade das gerações<br />

futuras. Por meio do axexé,<br />

o corpo comunitário, que<br />

contém o legado dos fundadores<br />

e socializa os ritos, funde-se<br />

aos corpos individuais.<br />

Equivale também ao que vimos<br />

chamando de sentido ou<br />

Arkhé (origem e fim): de um<br />

lado, princípios éticos (ances-<br />

9<br />

trais) com que o escravo e<br />

seus descendentes se identificaram<br />

na história de sua vicissitude<br />

existencial e de suas<br />

estratégias de ressocialização<br />

no espaço nacional brasileiro;<br />

de outro, experiência de uma<br />

abstração trans-humana ( não<br />

uma identidade abstrata, mas<br />

um “mesmo” latente e reinterpretável<br />

na História), sentido<br />

profundo da coesão grupal. O<br />

cósmico e trans-humano da<br />

Arkhé é necessariamente sustentado<br />

tanto por uma ética de<br />

ancestralidade como por uma<br />

movimentação política destinada<br />

a garantir uma margem<br />

de identificações originárias<br />

para assegurar o caminho futuro.<br />

Por isso é que a Casa Branca,<br />

o Gantois e o Axé Opô Afonjá<br />

são lugares fundamentais para<br />

que se possa compreender o<br />

que há de profundo na preservação<br />

de um patrimônio simbólico<br />

de natureza litúrgica.<br />

Dizia Mãe Senhora, uma das<br />

mais famosas ialorixás de todos<br />

os tempos na Bahia, que<br />

“a Casa Branca são as pernas,<br />

o Gantois é o tronco, o Axé<br />

Opô Afonjá é a cabeça”. Ou<br />

seja, as casas fundadoras<br />

constituem, no fundo, um<br />

“corpo” comunitário, com estratégia<br />

própria – como reza o<br />

cântico: “Todos unidos no<br />

mesmo corpo/ nada há no<br />

mundo que possa contra<br />

mim”.<br />

Todas essas comunidadesmatrizes<br />

do culto nagô-ketu no<br />

Brasil podem contar histórias<br />

particulares sobre suas resistências<br />

e investidas de especulações<br />

imobiliárias, a tentativas<br />

de invasão de seus espaços<br />

ou sobre a luta pelo reconhecimento<br />

de Utilidade<br />

Pública e imunidade fiscal. Aos<br />

argumentos de que a expansão<br />

urbana torna inviável a<br />

continuidade dos cultos no<br />

perímetro da cidade, a comunidade<br />

invoca a sua soberania<br />

litúrgica e arma a resistência<br />

junto com homens e orixás.<br />

Mas ninguém no terreiro desconhece<br />

a importância de que<br />

a sociedade global tome plena<br />

consciência de que o patrimônio<br />

sagrado dos afrodescententes<br />

– o escrínio da tradição<br />

ou da Arkhhé – é também<br />

patrimônio nacional.<br />

*Miniz Sodré, (Professor Titular<br />

da ECO/UFRJ, escritor.


Artigo Técnico<br />

CARACTERÍSTICAS DE FIBRAS DE<br />

BANANEIRA PARA LAMINAÇÃO DE DOCUMENTOS<br />

Antonio Gonçalves da Silva/José Lívio Gomide *<br />

I. Descrição do trabalho<br />

As fibras de bananeira,<br />

plantas da família Musacea,<br />

é o principal resíduo da banicultura,<br />

sua celulose kraft<br />

branqueada pode ser utilizada<br />

na restauração de documentos,<br />

e na fabricação de<br />

papel especial. A matéria<br />

prima utilizada, com cerca de<br />

94% de umidade, foi obtida<br />

de plantios comerciais de banana<br />

em Janaúba-MG. Os<br />

pseudocaules foram cortados<br />

em toretes de 10 cm de<br />

altura e secos ao ar. A constituição<br />

estrutural do pseudocaule,<br />

base peso verde, foi<br />

determinada como sendo<br />

75,3 % para a região externa<br />

ou bainha e 24,7 % para<br />

a região interna ou medula.<br />

A densidade básica dessa<br />

matéria prima foi determinada<br />

como 52 Kg/m 3 , valor<br />

muito inferior ao das madeiras<br />

de eucalipto e de pinho.<br />

Suas fibras apresentaram dimensões<br />

médias de 2,9 mm<br />

de comprimento, 20,9 µm de<br />

diâmetro, 14,1 µm de lúmen<br />

e 3,4 µm de espessura de<br />

parede, o que permite sua<br />

classificação como vegetal<br />

de fibra longa. Estas característica<br />

são similares às do<br />

papel japonês.<br />

A análise química do<br />

pseudocaule integral apresentou<br />

57,3 % de holocelulose,<br />

17,8 % de lignina, 16,4<br />

% de pentosanas, 15,5 % de<br />

cinzas, 9,4% de extrativos<br />

em álcool/tolueno, 22,6% de<br />

extrativos em água quente e<br />

40,9 % de extrativos em<br />

NaOH 1%.<br />

Para a separação das duas<br />

frações que constituem o<br />

psedocaule da bananeira, a<br />

fração de fibras e a de material<br />

mucilaginoso ou finos,<br />

foram utilizados tratamentos<br />

a 120°C com água e soluções<br />

aquosas de NaOH e<br />

H 2 SO 4 a 2%, base peso<br />

seco. Os rendimentos em fibras<br />

obtidos para os três tratamentos<br />

foram, respectivamente,<br />

51, 46 e 40 %.<br />

As características químicas<br />

das fibras do pseudocaule<br />

da bananeira, após a préhidrólise<br />

encontram-se no<br />

quadro 1.<br />

Quadro 1 características<br />

químicas das fibras do pseudocaule<br />

da bananeira, após<br />

a pré-hidrólise<br />

Amostras F.H 2 OF .<br />

NaOHF. H 2 SO 4<br />

Cinzas 4,3 4,4<br />

3,9<br />

H 2 O quente 4,5<br />

5,0 5,4<br />

Solubilidade NaOH 1<br />

% 24,8 22,3 28,4<br />

ETOH 2,05 2,13<br />

1,97<br />

Lignina insolúvel<br />

13,813,8 17,8<br />

Klasson solúvel<br />

2,6 2,6 2,7<br />

total 16,4 16,4<br />

20,5<br />

Pentosanas 17,6<br />

17,816,6<br />

Holocelulose 77,2<br />

77,173,6<br />

Após estes tratamentos<br />

de isolamento das fibras, o<br />

material obtido para a deslignificação,<br />

passa a possuir<br />

características mais semelhantes<br />

as madeiras de Eucaliptus<br />

e de Pinus, pois são<br />

removidas algumas impurezas<br />

do pseudocaule, como<br />

extrativos e substâncias minerais<br />

que interferem negativamente<br />

no processo de<br />

obtenção de celulose.<br />

Para produção de polpa<br />

celulósica, foi utilizado o processo<br />

kraft, utilizando tanto<br />

o pseudocaule integral como<br />

a fração de fibras. A polpa-<br />

ção kraft da fração de fibras<br />

obtida com os pré-tratamentos<br />

de NaOH, H 2 O e H 2 SO 4<br />

resultou em número kappa<br />

17 e viscosidades em torno<br />

de, respectivamente, 45,<br />

31e 23 cP. As polpas kraft-<br />

O foram branqueadas pela<br />

sequência D 0 EpD 1 a alvura<br />

em torno de 79% ISO. As<br />

propriedades físico-mecânicas<br />

das polpas celulósicas<br />

branqueadas de bananeira,<br />

produzidas após pré-hidrólise,<br />

foram superiores às de<br />

celulose de Eucalyptus.<br />

As características das fibras<br />

e da polpa celulósica<br />

kraft branqueada de bananeira<br />

possibilita a confecção de<br />

folhas com características<br />

similares ou superiores às do<br />

“papel japonês” utilizado<br />

para laminação de documentos.<br />

As fibras de bananeira<br />

branqueadas foram diluídas<br />

a 10 % de consistência e tingidas,<br />

na tonalidade de documentos<br />

envelhecidos com<br />

0,25%, de corantes artificias,<br />

sem mordente, isto é,<br />

sem aditivo químico para fixar<br />

os corantes nas fibras. Os<br />

corantes utilizados foram o<br />

amarelo, o castanho , o laranja<br />

e o azul, sendo aplicados<br />

individualmente nas fibras,<br />

que permaneciam em<br />

repouso na solução de corante<br />

por 24 horas. Para possibilitar<br />

sua fixação. Estas fibras<br />

tingidas foram utilizadas<br />

para produção de papéis de<br />

6-10 g/m 2 ,que foram utilizados<br />

para laminação de documentos<br />

degradados, utilizando<br />

técnicas descritas por<br />

HOLLÓS(1996).<br />

Uma das vantagens do<br />

uso destas fibras está na possibilidade<br />

de tingi-lás na tonalidade<br />

do documento degradado,<br />

este procedimento,<br />

reduz os custos da restauração.<br />

Facilita a leitura do documento<br />

após esse trata-<br />

10<br />

mento. Com isso o documento<br />

deixa de apresentar as<br />

desvantagens existente no<br />

uso do papel Japonês branco,<br />

que é a ocorrência de<br />

velatura, formada pelo contraste<br />

do papel branco e a<br />

cor escura do documento. O<br />

papel japonês branco, geralmente,<br />

é utilizado na restauração,<br />

por possuir menor<br />

custo. Esse fenômeno descrito<br />

anteriormente dificulta<br />

a leitura e a microfilmagem<br />

do documento. O uso das fibras<br />

de bananeira reduz a<br />

depedência do produto importado,<br />

que possui custo<br />

elevado, no mercado nacional<br />

seu custo é em torno de<br />

U$ 4,00 a folha de 70X50<br />

cm.<br />

Este trabalho é um breve<br />

relato da dissertação de Mestrado<br />

de Antonio Gonçalves<br />

da Silva em Ciência Florestal,<br />

na área de papel e celulose<br />

utilização do pseudocaule<br />

da bananeira para produção<br />

de celulose e papel, realizado<br />

na Universidade Federal<br />

de Viçosa-MG.<br />

Antonio Gonçalves da Silva,<br />

formado em Engenharia química<br />

pela Universidade do<br />

Estado Rio de Janeiro, mestre<br />

em Ciêcia Florestal, pela<br />

Universidade Federal de Viçosa,<br />

MG em 1996, com cursos<br />

de aperfeiçoamento no<br />

Istituto Centrale per la patologia<br />

del Libro ”Afonso<br />

Gallo”, em técnicas de desinfestação,<br />

produção de papel<br />

alcalino e reações de caracterização<br />

da degradação da<br />

celulose.<br />

José Lívio Gomide, formado<br />

em Ciência Florestal, pela<br />

Universidade Federal de Viçosa<br />

em 1965, Phd em Papel e<br />

Celulose pela North Carolina<br />

state University, professor<br />

titular do departamento de<br />

Engenharia Florestal da Universidade<br />

Federal de Viçosa.


Artigo Técnico<br />

MEMÓRIA E PATRIMÔNIO NAGÔ<br />

Hugo Bomfim da Silva Filho *<br />

Trabalho apresentado<br />

por ocasião do IX Congresso<br />

da <strong>ABRACOR</strong> –<br />

Salvador - BA<br />

Ficou registrado em minha<br />

memória, o dia em<br />

que um grupo de adeptos<br />

de um desses cultos assembleístas<br />

ao caminhar<br />

pelas ruas de um bairro da<br />

periferia do Rio de Janeiro,<br />

entoando cantos de<br />

salvação, se deparou com<br />

pessoas de uma comunidade-terreiro.<br />

Começaram<br />

a proferir palavras de repúdio<br />

ao comportamento<br />

daqueles que, no seu entender,<br />

estariam agindo<br />

em desacordo com a palavra<br />

de Deus.<br />

Era uma da tarde ensolarada<br />

de Domingo, a temperatura<br />

beirava os 40<br />

graus, as pessoas transitavam<br />

pelas ruas e as crianças<br />

brincavam despreocupadas,<br />

quando esse<br />

grupo parou em frente à<br />

porteira da comunidade.<br />

Entre punhados de sal jogados<br />

a porta e louvações<br />

para expulsar os demônios<br />

que ali se encontravam,<br />

aglutinavam mais<br />

pessoas com o intuito de<br />

fazer uma espécie de exorcismo.<br />

Se tratava de um<br />

lugar de respeito. Esta atitude<br />

acabou por não convencer<br />

aos adeptos, que<br />

insistiam em manter suas<br />

pregações às portas da<br />

comunidade.<br />

O clima se tornou insuportável,<br />

e o que me<br />

parecia é que a comunidade<br />

se via ameaçada e<br />

desafiada ao mesmo tempo.<br />

De repente, se apresenta,<br />

no meio daquele<br />

grupo, uma senhora de<br />

aproximadamente 80<br />

anos, de cabelos brancos,<br />

pedindo para que seus filhos<br />

entrassem, dizendo a<br />

seguinte frase:<br />

“Nós temos muito<br />

mais coisas a resolver da<br />

nossa porta para dentro.”<br />

Imediatamente, os filhos<br />

de santo e amigos da<br />

casa retomaram seus afazeres<br />

e voltaram as suas<br />

rotinas.<br />

Quanto aos pregadores<br />

da suposta fé, acredito<br />

que tenham se cansado.<br />

Esse episódio na verdade<br />

serve como ponto de<br />

partida, para se pensar o<br />

que representa o candomblé<br />

enquanto comunidade<br />

religiosa, e a importância<br />

dessas comunidades na<br />

formação do patrimônio<br />

cultural brasileiro.<br />

Em primeiro lugar, é<br />

evidente que muitos problemas<br />

emergentes dessas<br />

comunidades referemse<br />

a sistemáticas campanhas<br />

que tentam depreciá-las,<br />

justamente naquilo<br />

que elas tem de mais<br />

original e inovador, que é<br />

a possibilidade de relacionamento<br />

com o sagrado,<br />

sem manter pretensões de<br />

caráter universalista, na<br />

medida em que, para o<br />

chamado povo-de-santo,<br />

o que vem a ser, necessariamente,<br />

importante é<br />

a articulação entre o corpo<br />

e o território.<br />

Como se trata de uma<br />

cultura da artkhe. Esse<br />

corpo não se aprende em<br />

termos exclusivamente individual,<br />

mas grupal e ritualístico.<br />

Aponta o professor<br />

Muniz Sodré, para<br />

a importância da corporalidade<br />

litúrgica, integrada<br />

ao coletivo, na forma de:<br />

gestos, posturas, direções<br />

de olhar, bem como, através<br />

de sinais e inflexões<br />

microcorporais, que sugerem<br />

outras formas e perspectivas<br />

de relacionamento<br />

do corpo com o sagrado.<br />

Neste sentido, o candomblé<br />

pode ser considerado<br />

como um microcosmo<br />

aglutinador de experiências<br />

religiosas, de manifestações<br />

do sagrado<br />

através de suas representações<br />

simbólicas, de<br />

seus orixás, voduns, inquices<br />

e caboclos.<br />

Essa rica experiência<br />

religiosa engendra uma<br />

experiência de vida, que<br />

por sua vez, reanima a<br />

experiência religiosa, tornando-a<br />

indissociável, no<br />

plano de ação comum.<br />

Contempla nesta totalidade<br />

as profundas inter-relações<br />

da casa de santo,<br />

dos terreiros, das árvores<br />

sagradas, das pedras carregadas<br />

de energias, das<br />

folhas sagradas, dos cânticos,<br />

enfim, dos sagrados<br />

e bem guardados, fundamentos<br />

religiosos. (1)<br />

A MEMÓRIA DO PA-<br />

TRIMÔNIO NAGÔ<br />

Como é notório saber,<br />

a formação da sociedade<br />

brasileira iniciada no século<br />

XVI, se deu a partir de<br />

um processo de agrupamento<br />

em um vasto território<br />

a ser conquistado,<br />

onde os elementos indígenas,<br />

europeus (colonizadores)<br />

e africanos (escravos<br />

negros trazidos principalmente<br />

da costa ocidental<br />

da África), iriam,<br />

interagir no campo ideológico<br />

do cristão do colonizador.<br />

11<br />

Os nagô, nome genérico<br />

dado a todos os grupos<br />

originários do sul do<br />

Daomé e do sudoeste da<br />

Nigéria, foram os últimos<br />

grupos de africanos a se<br />

estabelecerem no Brasil,<br />

entre o fim do século XVIII<br />

e início do século XIX, e<br />

o vasto conhecimento<br />

dessas antigas civilizações<br />

africanas nas Américas,<br />

manteve-se por força<br />

do contingente de escravos.<br />

No entanto, o que cabe<br />

perguntar é:<br />

De que maneira esses<br />

grupos mantiveram suas<br />

organizações e estruturas<br />

complexas diante do processo<br />

colonizador que<br />

perpetuava seus mecanismos<br />

de conquista, cada<br />

vez mais sofisticados,<br />

com a avidez de produzir<br />

maior lucratividade?<br />

Dentre as possibilidades<br />

explicativas, o conceito<br />

de memória coletiva,<br />

elaborado por Maurice<br />

Halbwachs, que toma o<br />

grupo como unidade de<br />

referência sociológica,<br />

apresenta um bom caminho<br />

para pensar a questão.<br />

Para Halbwachs, os<br />

grupos podem ser ocasionais<br />

e instáveis com um<br />

número pequeno de pessoas<br />

que se reúnem para<br />

relembrar momentos de<br />

uma viagem, por exemplo.<br />

Ou, podem ser permanentes,<br />

como no caso das<br />

comunidades religiosas.<br />

Esses grupos vão apresentar<br />

características em<br />

comum. Trata-se de comunidades<br />

de lembranças.<br />

O ato mnemônico<br />

atualiza uma série de fatos,<br />

situações e aconteci-


mentos partilhados por<br />

todos.<br />

Diz Halbwachs:<br />

“Se a memória coletiva<br />

tira sua força e sua<br />

duração do fato de Ter por<br />

suporte um conjunto de<br />

homens, não obstante<br />

eles são indivíduos que se<br />

lembram, enquanto membros<br />

de um grupo. Dessa<br />

massa de lembranças comuns,<br />

e que se apoiam<br />

uma sobre a outra, não<br />

são as mesmas que aparecerão<br />

com mais intensidade<br />

para cada um deles.<br />

Diríamos voluntariamente<br />

que cada memória<br />

individual é um ponto de<br />

vista sobre a memória<br />

coletiva, que este ponto<br />

de vista muda conforme<br />

o lugar que ali eu ocupo,<br />

e que este lugar mesmo<br />

muda segundo as relações<br />

que mantenho com<br />

outros meios” . (2)<br />

O que se observa nas<br />

comunidades de terreiro é<br />

que o termo patrimônio,<br />

encontra, em solo brasileiro,<br />

um lugar próprio.<br />

Essa palavra que tem, em<br />

sua etimologia, o significado<br />

de herança pode<br />

também, por um processo<br />

de expansão metafórica,<br />

caracterizar o legado<br />

de uma memória coletiva<br />

de um grupo social.<br />

Como bem assinala o<br />

professor Muniz Sodré,<br />

em “O Terreiro e a Cidade”<br />

(3), a lógica patrimonialista<br />

pode ser entendida<br />

não apenas pelos engendramentoseconomicistas<br />

de transmissão de<br />

riqueza e bens físicos e<br />

materiais, mas cabe, também,<br />

como referência aos<br />

determinantes étnicos,<br />

políticos e simbólicos.<br />

Sendo assim, qualquer<br />

patrimônio pode ser concebido<br />

como território,<br />

onde se inclui a própria<br />

memória, considerado<br />

este jogo de apropriação.<br />

O patrimônio simbólico<br />

do negro brasileiro, ou<br />

seja, a memória cultural<br />

da África, cristaliza-se<br />

aqui como território político-religioso,<br />

onde vão se<br />

preservar os traços anteriores<br />

(4), que serão transmitidos<br />

através da oralidade.<br />

No entanto, mesmo o<br />

negro tendo perdido sua<br />

referência territorial anterior,<br />

legou aos membros<br />

oriundos de uma civilização<br />

milenar a possibilidade<br />

de se reterritorializar na<br />

diáspora através de um<br />

patrimônio simbólico,<br />

atravessado por um saber<br />

vinculado ao culto dos<br />

muitos deuses que acompanham<br />

esses homens ao<br />

longo deste processo.<br />

Como explica Agenor<br />

Miranda da Rocha, oluwo<br />

, um dos mais antigos iniciados<br />

no Brasil e guardião<br />

da memória nagô, e ao<br />

que se acrescenta mais<br />

um conceito de Halbwachs:<br />

“No processo de reterritorialização,<br />

os deuses<br />

Africanos são condensados<br />

em um mesmo território,<br />

pois na África Ocidental,<br />

originalmente uma<br />

região ou cidade tinha<br />

como patrono as vezes<br />

um único orixá, pois se<br />

supunha uma relação de<br />

ancestralidade entre a dinastia<br />

local e o deus cultuado.”<br />

Desse modo o culto<br />

aos orixá predominava em<br />

determinadas cidades,<br />

como Xangô, por exemplo,<br />

predominava Oyó,<br />

assim como Oxalufã em<br />

Ifan, ocorrendo o mesmo<br />

com os outros orixás. No<br />

Brasil, entretanto, os orixás<br />

concentravam-se em<br />

uma mesma região ou cidade,<br />

propiciando a cria-<br />

ção de um novo espaço<br />

mítico, onde se coloca em<br />

primeiro plano a preservação<br />

de um patrimônio<br />

simbólico, que seria responsável<br />

pela continuidade<br />

da cosmologia africana<br />

no exílio.<br />

A continuidade pela<br />

lembrança traduz uma<br />

nova experiência no que<br />

diz respeito o culto aos<br />

deuses africanos na América.<br />

Tomamos por princípio<br />

o fato de que a lembrança,<br />

enquanto condição<br />

humana, é também<br />

uma experiência continuamente<br />

interpretada, e<br />

que toda percepção se faz<br />

dentro de um quadro interpretativo<br />

que é constantemente<br />

corrigido e<br />

transformado pela própria<br />

existência. Desta forma,<br />

constatamos uma relação<br />

dialética entre a experiência<br />

e a interpretação.<br />

Quando expressamos<br />

uma experiência por meio<br />

de uma linguagem, estamos<br />

na verdade interpretando<br />

essa experiência, e<br />

simultaneamente dando o<br />

primeiro passo para a origem<br />

de uma tradicão reelaborada<br />

e fundada na<br />

própria experiência.<br />

Enfim, não é suficiente<br />

reconstruir, peça por<br />

peça, a imagem de evento<br />

passado por obter uma<br />

lembrança. O que se torna<br />

verdadeiramente necessário<br />

é que essa reconstrução<br />

se opere a<br />

partir de noções comuns<br />

a um grupo. Sendo assim,<br />

para a preservação de<br />

uma lembrança é essencialmente<br />

indispensável a<br />

existência de uma comunidade<br />

afetiva.<br />

O afeto nas comunidades<br />

de terreiro convertese<br />

em força ou, mais precisamente<br />

em axé, que<br />

vem a ser o elemento mais<br />

importante do patrimônio<br />

simbólico preservado e<br />

12<br />

transmitido pelo grupo litúrgico<br />

de origem nagô.<br />

E, é essa força afetiva<br />

que possibilita a irradiação<br />

e expansão dessa tradição<br />

milenar.<br />

Referência Bibliográfica:<br />

SODRÉ, Muniz. O terreiro<br />

e a cidade – a forma<br />

social do negro-brasileiro.<br />

Petrópolis. Ed. Vozes,<br />

1988.<br />

____________, A verdade<br />

seduzida – por um conceito<br />

de cultura no Brasil.<br />

Rio de Janeiro. Codecri,<br />

1983.<br />

HALBWACHS, Maurice.<br />

A memória coletiva. São<br />

Paulo. Ed. Vertice, 1990.<br />

BASTIDE, Roger. As religiões<br />

africanas no Brasil.<br />

São Paulo. Ed. USP, 1971.<br />

BOSI, Ecléa. Memória e<br />

sociedade – lembranças<br />

dos velhos. São Paulo. Ed.<br />

Queiroz Editor, 1983.<br />

TONNIES, ferdinand.<br />

Communidad y associación<br />

– el comunismo el socialismo<br />

como formas de<br />

vida social. Trad. José<br />

Ivars. Barcelona. Ediciones<br />

Península, 1979.<br />

NOTAS:<br />

(1)Ver BRAGA, Júlio.<br />

Candomblé e Resistência.<br />

Rio de Janeiro: Religião e<br />

Sociedade, 1992.<br />

(2)Ver HALBWACHS,<br />

Maurice. Memória Coletiva.<br />

São Paulo: Vértice,<br />

1990.<br />

(3)Petrópolis: Editora<br />

Vozes, 1988.<br />

(4)MIRANDA, Angenor.<br />

Os Candomblés Antigos<br />

do Rio de Janeiro. Rio de<br />

Janeiro: Top Books, 1992.<br />

* Hugo Bonfim é professor<br />

da Universidade<br />

Estácio de Sá.


13<br />

Artigo Técnico<br />

RELAÇÃO ENTRE PRESERVAÇÃO<br />

DE BENS E PATRIMÔNIO COMUNITÁRIO<br />

Raquel Paiva *<br />

Eu gostaria de começar<br />

minha exposição trazendo<br />

um fato que tive a oportunidade<br />

de presenciar em fevereiro<br />

de 97 e que sempre<br />

tem me proporcionado uma<br />

intensa reflexão.<br />

Trata-se de uma escola<br />

secular localizada em Zagora,<br />

na porta do deserto marroquino.<br />

A escola, por onde<br />

passam juristas e seminaristas<br />

de várias partes do país,<br />

possui uma biblioteca, cujos<br />

livros datam de 1.400<br />

DC, escritos a mão e em letra<br />

de ouro. Trata-se de um<br />

tesouro inestimável, que os<br />

guias apresentam aos turistas,<br />

transportando-os através<br />

de três amplas salas,<br />

onde se vêem mesas no<br />

centro rodeadas por cadeiras<br />

e diversas estantes nas<br />

paredes destinadas aos livros.<br />

Não existe ali nenhum<br />

computador ou equipamento<br />

que lembre a era atual. O<br />

chão em cimento compõe,<br />

com as paredes pintadas de<br />

branco, a singela decoração<br />

do lugar.<br />

Através das janelas laterais<br />

do pátio, onde também<br />

está a biblioteca, pode-se<br />

ver o que são os quartos dos<br />

alunos e hóspedes – dormitórios<br />

apenas com esteiras.<br />

Os banheiros reservam também<br />

uma surpresa, já que<br />

não possuem água encanada<br />

e papel higiênico, tornando<br />

a permanência dos visitantes<br />

mais rápida do que o<br />

normal pelo forte odor que<br />

exalam.<br />

Nos dias que se seguiram<br />

a esta visita eu me sentia a<br />

princípio inconformada com<br />

a existência daquele tesouro<br />

em um lugar tão inóspito.<br />

Pensei mesmo que o<br />

Museu do Louvre, em Paris,<br />

seria o lugar ideal, principalmente<br />

pela alta difusão que<br />

aquelas obras alcançariam.<br />

É preciso que se diga ainda<br />

que a compreensão tornava-se<br />

mais difícil em função<br />

da paisagem local. Isso<br />

porque, praticamente ao<br />

lado, existe um hospício em<br />

que os doentes mentais –<br />

independente da situação<br />

econômica – ficam soltos<br />

em um pátio. O tratamento<br />

consiste tão somente em<br />

que, vez por outra, durante<br />

o dia, toque-se na porta de<br />

um pequeno quarto, pleno<br />

de “baraka”, ou energia superior<br />

e divina. Ali não existem<br />

psiquiatra, enfermeiro<br />

ou médico de qualquer espécie.<br />

A cura se dá em vários<br />

casos, apesar do tratamento<br />

ter abdicado desses<br />

profissionais e consistir apenas<br />

na relação com o sagrado.<br />

A partir desse caso podese<br />

pensar no significado de<br />

um bem cultural para uma<br />

comunidade. Minha proposta<br />

é discutir a pertinência de<br />

se falar de patrimônio – ou<br />

herança - cultural no mundo<br />

globalizado, principalmente<br />

no momento em que<br />

se contasta a revisão de conceitos<br />

até então considerados<br />

verdadeiros, como os relacionados<br />

à estética e à<br />

obra de arte.<br />

Neste sentido, é importante<br />

recorrer ao pensamento<br />

do filósofo italiano Gianni<br />

Vattimo, que traça uma<br />

visão positiva da atualidade,<br />

do ponto de vista da construção<br />

da história. Ele, ao<br />

contrário da grande maioria<br />

dos intelectuais e filósofos<br />

do mundo contemporâneo,<br />

vê na pós-modernidade,<br />

com seu aparato tecnológi-<br />

co, a possibilidade de uma<br />

nova proposta de memória<br />

social. Isto porque, para ele,<br />

os monumentos nos quais<br />

está condensada a experiência<br />

pessoal de uma pessoa<br />

ou de uma época não são<br />

mais do que mausoléus, testemunhas<br />

de uma vida que<br />

foi historicamente realizada.<br />

A proposta de Vattimo<br />

encaminha-se em direção à<br />

concepção do que o filósofo<br />

alemão Otto Apel conceituou<br />

como “jogo linguístico<br />

transcendental”, ou seja, o<br />

que passa a Ter importância<br />

mesmo é a possibilidade do<br />

diálogo intergeracional,<br />

onde assumem lugar de destaque<br />

os eventos fundamentais<br />

do quotidiano do gênero<br />

humano. Ora, desenha-se<br />

aí uma visão bem mais dinâmica<br />

de tudo o que comporta<br />

a tradicionalidade, inclusive<br />

a própria herança<br />

cultural, que pode ser representada<br />

até mesmo por um<br />

conjunto arquitetônico.<br />

Abre-se uma outra visão,<br />

onde necessariamente estão<br />

presentes elementos que<br />

dão uma nova coloração à<br />

proposta meramente preservacionista<br />

e museificante.<br />

O jogo linguístico transcendental<br />

assume lugar definidor<br />

na medida em que<br />

favorece a compreensão do<br />

porquê da permanência ou<br />

não de formas através dos<br />

tempos. Também descortina-se<br />

como pergunta a ser<br />

respondida o porquê de se<br />

preservar um bem, que passa<br />

a receber o estatuto de<br />

“bem cultural”. A questão<br />

central está no entendimento<br />

de que uma forma é permanentemente<br />

transmitida<br />

mesmo quando está oculta,<br />

e quando não consegue ul-<br />

trapassar as barreiras do não<br />

– dito, portanto, não é interpretado.<br />

Trata-se de uma<br />

transmissão cuja compreensão<br />

é um pouco difícil para<br />

nós, já que não se faz apenas<br />

pela visibilidade que alcança.<br />

A idéia tem por base a<br />

concepção, já discutida por<br />

Walter Benjamin, de que o<br />

relato histórico é uma versão<br />

elaborada pelos vencedores.<br />

Desta maneira, o enfraquecimento<br />

dessas formas<br />

fortes e predominantes<br />

que são a história e seus<br />

monumentos e que compõem<br />

o ambiente da pósmodernidade<br />

pode possibilitar<br />

a emergência de outras<br />

potencialidades e discursos.<br />

A construção de uma nova<br />

memória social só pode ser<br />

concebida a partir do reconhecimento<br />

de que os paradigmas<br />

até então vigentes<br />

não possuem mais o mesmo<br />

vigor que os justificava<br />

quando vigiam o horizonte<br />

metafísico e a crença de que<br />

existia um sujeito definidor<br />

da verdade.<br />

O ambiente atual, com a<br />

regência de vários fluxos informacionais,<br />

propicia a visão<br />

de um mundo integrado<br />

globalmente em torno da<br />

concepção central de mercado.<br />

Tudo passa a ser atravessado<br />

por esta ótica que<br />

define também o uso dos<br />

bens sociais e culturais.<br />

Dentre as áreas apontadas<br />

como filões mercadológicos<br />

dessa nova era, está tudo o<br />

que possa estabelecer uma<br />

conexão com a idéia de<br />

mundialização, aparecendo<br />

com força o perfil relacionado<br />

ao turismo. Isso porque<br />

o turismo engendra uma força<br />

complementar à planeta-


ização - o localismo.<br />

Assim, podem aparecer<br />

e organizar-se coletividades<br />

inteiras, com o intuito de<br />

promover a divulgação de<br />

seus bens. A construção de<br />

uma história transforma-se<br />

em um filão mercadológico<br />

assumido por um grande números<br />

de lugares que se<br />

consolidam como “cidades<br />

históricas”. Muitas vezes,<br />

esses lugares promovem<br />

uma estrutura que propicia<br />

aos frequentadores algo tão<br />

real, dentro de sua virtualidade,<br />

ao mesmo tempo tão<br />

coerente e supra-quotidiano,<br />

que tem a aparência de um<br />

dia no “mundo encantado<br />

da Disney”.<br />

O mercado turístico tem<br />

sido apontado como o responsável<br />

pela implementação<br />

de grandes indústrias<br />

mundiais, preocupadas com<br />

a manipulação consciente<br />

de reconstituição de uma<br />

identidade cultural. E geralmente<br />

para os turistas pouco<br />

importa se estão vendo<br />

apenas uma simulação da<br />

cultura local. Alguns estudos<br />

registram a presença<br />

desses empreendimentos.<br />

Por exemplo, o turismo exótico<br />

- é o caso das comunidades<br />

Inuit, no Alasca, em<br />

que os visitantes – separados<br />

em pequenos grupos –<br />

vivem com a tribo e participam<br />

de várias atividades por<br />

alguns dias. Os Inuit usam<br />

o dinheiro para comprar<br />

mantimentos e equipamentos<br />

e conseguem, assim,<br />

manter uma versão parcialmente<br />

modernizada do seu<br />

estilo de vida.<br />

Na área específica do turismo<br />

que privilegia o patrimônio<br />

histórico, também há<br />

casos, como o da cidade industrial<br />

Locke, na Califórnia,<br />

onde viviam os últimos trabalhadores<br />

chineses. Em<br />

1977, a cidade inteira foi<br />

vendida e os empresários do<br />

turismo a comercializam<br />

desde então como “a única<br />

comunidade chinesa rural intacta<br />

nos Estados Unidos”.<br />

Neste caso, os habitantes,<br />

junto com a cidade, foram<br />

museificados, apresentados<br />

como os últimos exemplos<br />

vivos de um estilo de vida<br />

que não existe mais.<br />

Não é o objetivo aqui<br />

discutir o papel da indústria<br />

turística no mundo globalizado.<br />

Entretanto a sua abordagem<br />

contribui para a proposta<br />

que pretende analisar<br />

o significado de um bem cultural<br />

para uma comunidade.<br />

Permite também vislumbrar<br />

o interesse que a temática<br />

desperta para um setor específico<br />

do mercado global.<br />

Tudo se articula no sentido<br />

de trazer para o presente o<br />

quotidiano de um passado,<br />

além da produção de identidades<br />

dentro de um horizonte<br />

fragmentado. Porém, esse<br />

esforço de museificação,<br />

que pode ficar restrito a um<br />

bem específico, mas pode<br />

também envolver toda uma<br />

coletividade, representa uma<br />

maneira específica de lidar<br />

com a memória.<br />

Por outro lado, não é possível<br />

abstrair o fato de que<br />

o esforço industrial na fabricação<br />

desse cenário histórico<br />

difere basicamente daquele<br />

em que a coletividade<br />

decide promover uma revitalização<br />

de sua história. O<br />

patrimônio assim compreendido<br />

pode assumir um outro<br />

estatuto, já não significando<br />

museificação, congelamento<br />

e glorificação de um<br />

passado, mas sim a utilização<br />

comunitária e coletiva<br />

de bens. Aliás é este o traço<br />

limite que separa duas<br />

concepções distintas de preservação:<br />

1) Uma, centrada no esforço<br />

de mumificação de<br />

uma era e tudo o que se refere<br />

ao passado, significando<br />

muito mais uma fuga diante<br />

da complexidade e abstração<br />

próprias à atualidade.<br />

Nesse sentido, aquieta e dá<br />

sossego ver corporificado na<br />

especialidade os ângulos<br />

retos, os traçados em perspectiva<br />

e a utilização das<br />

cores de forma convencional.<br />

Esta concepção apresenta,<br />

invariavelmente, a<br />

idéia da cidade congelada.<br />

2) Outra, que respeita os<br />

monumentos, mas estabelece<br />

com eles uma relação direta.<br />

Nesta perspectiva, preservar<br />

significa basicamente<br />

utilização. E utilizar quer<br />

dizer incluir, necessariamente,<br />

a relação social. Desta<br />

maneira, preservar sob este<br />

ponto de vista quer dizer<br />

também repensar formas de<br />

ocupação. Assim, não parece<br />

inadmissível considerar<br />

viável uma revisão da utilização<br />

das cores, se esta traz<br />

a visão de quem ocupa o espaço.<br />

Surge então uma questão:<br />

como lidar com o discurso<br />

montado sobre as bases<br />

técnicas? A abordagem<br />

técnica define, por exemplo,<br />

que para as construções do<br />

período colonial são apropriadas<br />

as tonalidades ocre ou<br />

ouro velho, vinho, azul e verde<br />

em tons firmes, contrastando<br />

com o branco das paredes<br />

e caixilhos. E ainda<br />

que, para as construções neoclássicas<br />

e ecléticas – que<br />

compreendem meados do<br />

século XIX, quando foram<br />

introduzidos ornatos nas fachadas<br />

e os tons pastéis –<br />

cabem os tons suaves, as<br />

cores frias como o rosé,<br />

marfim, amarelo, verde e<br />

azul claros, bege e cinza pálidos.<br />

Para a primeira disposição,<br />

a centrada na proposta<br />

de preservação em si mesma,<br />

às custas até de dispositivos<br />

judiciais, o paradigma<br />

técnico deve ser seguido<br />

à risca, não há lugar para<br />

o diálogo entre passado e<br />

presente. O passado colocase<br />

de maneira imperiosa. A<br />

Segunda idéia determina<br />

que ao lado dessas marcas<br />

estilísticas – apropriadas,<br />

isso é inegável – estejam as<br />

relações sociais. O presente<br />

connvive com o passado.<br />

Não há predomínio de um<br />

sobre o outro, apesar do reconhecimento<br />

do valor da<br />

herança cultural.<br />

É exatamente no momento<br />

em que se formulam as<br />

propostas, quando começam<br />

a surgir as dificuldades.<br />

14<br />

Afinal, a preservação é destinada<br />

a quem, por que e<br />

com que objetivos? É interessante<br />

promover uma remodelação<br />

de um conjunto<br />

arquitetônico, restaurado-o<br />

e implementando-o como se<br />

fosse um cenário movido<br />

pelo gosto de representar o<br />

original? Por outro lado, não<br />

mais rico e vigoroso restaurar,<br />

sabendo que o trabalho<br />

básico estrutura-se a partir<br />

da afetividade e da vinculação<br />

de uma coletividade?<br />

Parte-se mesmo do pressuposto<br />

de que, na verdade, as<br />

pessoas estão ocupando<br />

aquele lugar, historicamente,<br />

à sua maneira. Sendo<br />

assim, se existe uma maneira<br />

melhor e mais rica de utilização<br />

do espaço é preciso<br />

que exista a priori a possibilidade<br />

de discussão, de troca<br />

de informação, a implementação<br />

de uma instância<br />

dialógica.<br />

O esforço preservacionista<br />

está centrado em bases<br />

que englobam a tradicionalidade,<br />

a afetividade, a identidade<br />

e também a educação.<br />

A educação entendida<br />

como um processo calcado<br />

na passagem de informações,<br />

mas também ancorado<br />

na idéia de pertencimento<br />

e vinculação – portanto,<br />

propiciador e formador de<br />

uma ética local em relação<br />

direta com as regras da grupalidade<br />

que se superpõem<br />

à ética individual, onde cada<br />

indivíduo cria e é regido por<br />

suas próprias proposições<br />

normativas. Nesta perspectiva,<br />

torna-se necessário entender<br />

as forças sociais que<br />

estão implícitas, até mesmo<br />

aquelas regidas pelo estatuto<br />

do não dito. Isto porque,<br />

para ativar o sentido de preservação<br />

contido na Segunda<br />

proposta, é preciso empreender<br />

uma caminhada<br />

em direção à estrutura comunitária.<br />

***** Trabalhar com o<br />

comunitarismo requer um<br />

esforço teórico de definição<br />

da estrutura social comunitária.<br />

Este percurso tem sido<br />

trilhado quase sempre a par-


tir de uma oposição entre<br />

sociedade e comunidade.<br />

Foi com esta forma que o<br />

pensamento no Ocidente<br />

conseguiu trabalhar duas<br />

idéias tão distintas. É importante<br />

enfocar características<br />

básicas pertencentes<br />

à estrutura comunitária<br />

e que se opõem às relações<br />

contratuais vigentes<br />

na estrutura social, marcada<br />

ainda pelo atomismo<br />

social, já que os indivíduos<br />

pouco afeitos às trocas<br />

reais e simbólicas uns com<br />

os outros deixam de compartilhar<br />

o quotidiano comum,<br />

consequentemente<br />

abrem mão do projeto da<br />

construção de sua história.<br />

Reunidos em comunidade,<br />

os indivíduos encontram-se<br />

vinculados a partir<br />

da proposta maior do<br />

bem comum, e para alcançá-lo,<br />

o consenso é a regra<br />

número um. Em resumo,<br />

as relações comunitárias<br />

são afetivas, pessoais,<br />

clânicas e familiares, ao<br />

passo que as relações societárias<br />

são instrumentais,<br />

estratégicas e táticas. Entretanto,<br />

resgatar a idéia<br />

comunitária na atualidade,<br />

quando somos regidos pela<br />

lógica do mercado financeiro<br />

e perde-se paulatinamente<br />

a vivência de entidades<br />

identificatórias<br />

como o trabalho, a família,<br />

o território não significa<br />

propor um retorno a um<br />

momento em que supostamente<br />

vivíamos irmanados,<br />

ou seja o paraíso terrestre<br />

apregoado pela igreja<br />

católica. Olhar nesta direção<br />

significa buscar uma<br />

forma de vida mais integrada,<br />

principalmente entre os<br />

indivíduos. Significa também<br />

procurar formas de<br />

gerenciamento do quotidiano<br />

e do espaço urbano<br />

mais participativas e solidárias.<br />

E essa possibilidade<br />

operativa é muito importante<br />

porque, ao longo da<br />

História do Ocidente, a<br />

idéia de comunidade sempre<br />

ficou no lugar de algo<br />

perdido, como o paraíso,<br />

com uma feição muito positiva,<br />

já que vinculada à<br />

comunhão entre os homens.<br />

E por ter ficado na<br />

memória coletiva como lugar<br />

perfeito também comporta<br />

um quê de inatingível<br />

e distanciado da realidade,<br />

principalmente hoje<br />

em dia, quando os indivíduos<br />

estão, por princípio,<br />

encerrados em si mesmos.<br />

Um outro argumento que<br />

reforça o distanciamento<br />

para a implementação da<br />

força comunitária nas práticas<br />

diárias é o fato de que<br />

a idéia de comunidade esteja<br />

historicamente relacionada<br />

a sistemas reacionários,<br />

como o nazi-facismo,<br />

já que em sua temática<br />

evoca valores relativos ao<br />

território, à tradição, à família<br />

e a idéia de nação.<br />

***** Entretanto, o<br />

que se propõe aqui é trabalhar<br />

com materiais que<br />

possam propiciar uma saída<br />

para o atual esvaziamento<br />

de sentido e de força<br />

dos objetos no espaço<br />

sócio-cultural. O interesse<br />

é apresentar uma alternativa<br />

para a padronização e<br />

exclusão sociais. Além disso,<br />

o pensamento em torno<br />

do patrimônio pretende<br />

resgatar uma historicidade<br />

perdida, porque não mais<br />

possui força decisória.<br />

Caso contrário, patrimônio<br />

significaria apenas coisa<br />

antiga ou COISA VELHA,<br />

sem relação operativa com<br />

o quotidiano.<br />

É preciso situar ainda a<br />

questão na composição do<br />

atual espaço urbano, que<br />

se apresenta partido, uma<br />

vez que, ao lado dos antigos<br />

edifícios, erguem-se<br />

também os prédios de arquitetura<br />

arrojada e ultramoderna.<br />

Essa concepção,<br />

compreende passado e<br />

presente como coisas distintas<br />

e não relacionáveis,<br />

necessita – como faz com<br />

os edifícios históricos –<br />

montar construções de novíssima<br />

arquitetura, que<br />

têm por função produzir a<br />

“sensação” de modernidade<br />

e progresso e um certo<br />

olhar em direção ao futuro.<br />

Os exemplos estão por<br />

toda parte, nos edifícios<br />

das grandes metrópoles<br />

globais ou mesmo de bairros<br />

inteiros construídos<br />

para este fim, como o “La<br />

Défense”, em Paris.<br />

A contribuição que o<br />

viés comunitário oferece é<br />

o entendimento de que preservação<br />

se faz por meio<br />

da via afetiva. Assumir<br />

esta idéia significa não se<br />

contentar mais em ver ilhas<br />

museificadas na abstração<br />

do espaço urbano, como<br />

se estivessem fincadas<br />

apenas para demonstrar<br />

tecnicamente a nossa origem.<br />

E, para se revitalizar o<br />

conceito, é preciso também<br />

revitalizar a prática<br />

preservacioniosta: revendo,<br />

reinterpretando. Neste<br />

sentido, me parece extremamente<br />

interessante metaforizar<br />

a crítica feita em<br />

um jornal da cidade mineira<br />

Tiradentes por um leitor<br />

que falava sobre os altos<br />

aluguéis cobrados no centro<br />

histórico. Em função<br />

dos preços altos, muitas<br />

casas terminam ficando fechadas.<br />

A reivindicação do<br />

leitor era que as casas precisam<br />

de ar, ou seja, necessitam<br />

respirar. Eu complemento<br />

dizendo: precisam<br />

manter em dia a troca<br />

entre o ar dos tempos<br />

passados e os ares da modernidade.<br />

É dessa forma<br />

que se faz a sua preservação,<br />

ou seja, na medida em<br />

que se consegue manter o<br />

diálogo intergeracional.<br />

Daí, a importância da<br />

escola secular que vimos<br />

em Zagora, na porta do<br />

deserto: histórica e efetivamente,<br />

integra-se na paisagem<br />

e na vida quotidiana<br />

dos indivíduos. O uso<br />

15<br />

comunitário daquele espaço<br />

garante a sua preservação.<br />

Referência Bibliográfica:<br />

1 – PAIVA, Raquel. O<br />

espírito comum – mídia,<br />

globalismo e comunidade.<br />

Petrópolis,<br />

Editora Vozes, 1998.<br />

2 – SODRÉ, Muniz. A<br />

verdade seduzida – por<br />

um conceito de cultura no<br />

Brasil.<br />

Rio de Janeiro, Codecri,<br />

1983, 215 p.<br />

3 - ___________, O terreiro<br />

e a cidade – a forma<br />

social negro-brasileira.<br />

Petrópolis,<br />

Vozs, 1988, 165 p.<br />

4 – VATTIMO, Gianni.<br />

As aventuras da diferença<br />

– o que significa pensar<br />

depois de Heidegger<br />

e Nietzsche. Trad. José<br />

Eduardo Rodil. Lisboa,<br />

Edições, 70, 1988, 187<br />

p.<br />

5 - ___________ Etica<br />

dell’interpretazione. Torino,<br />

Rosenberg e Sellier,<br />

1989, 147 p.<br />

6 - ___________ Oltre<br />

l’interpretazione – il significato<br />

dell’ermeneutica<br />

per la filosofia. Roma: Laterza<br />

e Figli Editori, 1994,<br />

151 p.<br />

7 – TONNIES, Ferdinand.<br />

Communidad y asociación<br />

el comunismo y el<br />

socialismo como formas<br />

de vida social. Trad. José<br />

Francisco Ivars. Barcelona,<br />

Ediciones Peninsula,<br />

1979, 282 p.<br />

8 – APEL, Karl Otto.<br />

Communità e comunicazione.<br />

Trad. Roberto Salizone,<br />

Torino, Rosenberg e<br />

Sellier, 1991.<br />

* Professora da Escola<br />

de Comunicação da<br />

UFRJ, autora do livro “O<br />

Espírito Comun”, pela Ed.<br />

Vozes.


Resenha<br />

Portugal: Muitos Séculos e Várias<br />

Histórias em 15 meses de estágio<br />

Estou de volta ao Rio de Janeiro<br />

desde Dezembro de 1998,<br />

após um estágio de mais de um<br />

ano em Lisboa, Portugal. Já<br />

participei da restauração do<br />

Pano de Boca do Teatro Municipal<br />

do Rio e no momento estou<br />

trabalhando no Museu Imperial,<br />

em Petrópolis, onde realmente<br />

comecei. Na verdade<br />

este não é um texto técnico,<br />

mas o relato e depoimento de<br />

uma experiência de vida numa<br />

cidade apaixonante.<br />

Venho estudando e trabalhando<br />

com restauração desde<br />

1994, e a partir de então tenho<br />

me dedicado exclusivamente<br />

a essa atividade. Minha<br />

formação profissional é eclética<br />

tendo iniciado meus estudos<br />

na Universidade Santa Úrsula-<br />

RJ em 1984, cursando<br />

Arquitetura, e depois Artes<br />

Plásticas, na Escola de Artes<br />

Visuais do Parque Lage, onde<br />

tive aulas com grandes artistas<br />

contemporâneos. Após<br />

uma viagem à Europa em<br />

1993, mais especificamente à<br />

Romênia, comecei a me interessar<br />

pela Preservação do Patrimônio<br />

Histórico e Artístico<br />

Mundial. Naquele país estranho<br />

e distante tive a oportunidade<br />

de acompanhar a restauração<br />

de uma Igreja Ortodoxa do Séc.<br />

XIII.. Entre vários lugares, visitei<br />

Roma e a Capela Sistina,<br />

com suas pinturas em fase final<br />

de restauração, e o Pártenon,<br />

em Atenas. Experiências<br />

fundamentais para uma nova<br />

mudança de rumo profissional.<br />

Após seis meses, retornei ao<br />

Brasil com uma certeza: iria<br />

contribuir para a Preservação<br />

da nossa História.<br />

Desembarquei no Rio de Janeiro<br />

e iniciei minha busca por<br />

meios que me fornecessem<br />

uma formação profissional adequada<br />

na área de restauração,<br />

tema aliás constante em todos<br />

os encontros e debates entre<br />

Conservadores e Restauradores.<br />

Participei de alguns cursos<br />

livres de curta duração e percebi<br />

que a teoria teria necessariamente<br />

que ser acompanhada<br />

pela prática. Procurei por<br />

estágios e tirei a sorte grande<br />

quando fui aceito como estagiário<br />

no Museu Imperial, em<br />

Petrópolis, RJ. Com orientação<br />

de Cláudia Nunes, chefe do Setor<br />

de Restauração, e Richard<br />

Trucco, cientista norte-americano,<br />

tive a possibilidade de conhecer<br />

procedimentos técnicos<br />

e éticos utilizados por profissionais<br />

respeitados de várias<br />

partes do mundo. Após esse<br />

estágio continuei a buscar a minha<br />

Formação Profissional, participando<br />

de encontros, congressos,<br />

cursos e projetos importantes<br />

na área de Restauração<br />

de Pinturas.<br />

O Ministério da Cultura lança<br />

em 1997 o Programa Virtuose<br />

Bolsa de Cultura, com bolsas<br />

de estudo para o país e para o<br />

exterior. Resolvi participar com<br />

um projeto de Estágio. Após<br />

pesquisar diversas possibilidades<br />

me decidi por um programa<br />

de um ano na Fundação<br />

Ricardo do Espírito Santo, em<br />

Lisboa, Portugal. Dei início à<br />

todos os trâmites do processo,<br />

trocando cartas, faxes e<br />

telefonemas com a Instituição,<br />

ficando acertado que eu faria<br />

um estágio prático na Oficina<br />

de Pintura da Fundação, onde<br />

as principais atividades previstas<br />

seriam a pintura decorativa<br />

sobre vários suportes (estuque,<br />

madeira, tela, metal, vidro, papel<br />

ou pergaminho), e as intervenções<br />

de restauro em todos<br />

estes domínios. Em Agosto do<br />

mesmo ano recebi uma carta<br />

do Ministério da Cultura informando<br />

que o meu projeto havia<br />

sido selecionado. Festa.<br />

Embarquei para Lisboa em <strong>Novembro</strong>,<br />

para iniciar mais uma<br />

etapa profissional, e para minha<br />

surpresa, talvez por descaso,<br />

descuido ou desatenção<br />

da Fundação Ricardo do Espírito<br />

Santo, não encontrei um<br />

programa de estágio formulado<br />

de acordo com minhas expectativas.<br />

Em Dezembro, depois<br />

de tentar alguns ajustes<br />

técnicos, optei pela transferência<br />

de Instituição.<br />

Ainda em Lisboa, contatei diversos<br />

restauradores portugueses<br />

e brasileiros que lá se encontravam<br />

e conheci o Institu-<br />

to de José de Figueiredo, instituição<br />

de referência na área de<br />

Conservação e Restauração de<br />

bens culturais em Portugal.<br />

A partir de negociações com o<br />

Instituto, fui aceito para um estágio<br />

prático de especialização<br />

na Divisão de Restauro de Pinturas.<br />

Solicitei ao Ministério da<br />

Cultura do Brasil a transferência<br />

de Instituição, operação de<br />

risco, visto que, minha proposta<br />

inicial de estágio era vinculada<br />

à outra instituição. Respaldado<br />

por outros profissionais e<br />

ciente da minha coerência e<br />

bom senso, mais um passo foi<br />

dado.<br />

Iniciei o Estágio trabalhando em<br />

duas pinturas à óleo sobre tela<br />

do Séc. XVI de um importante<br />

artista português. Oportunidade<br />

de experimentar técnicas diferentes<br />

em obras do mesmo<br />

período, que ainda não haviam<br />

sido restauradas. Trabalhei com<br />

pinturas sobre madeira dos Séculos<br />

XV e XVII, experiência<br />

nova e muito enriquecedora. O<br />

Instituto de José de Figueiredo<br />

possui diversas divisões de restauro<br />

como papel, têxteis, pedras<br />

e madeira, um Laboratório<br />

Fotográfico onde são feitas<br />

fotografias de infra-vermelho,<br />

ultra-violeta e raios X, e um Laboratório<br />

para análises Físico-<br />

Químicas, o que me possibilitou<br />

acompanhar uma grande<br />

variedade de procedimentos.<br />

Dentro do Programa de Estágio,<br />

fui convidado pela Associação<br />

para o Desenvolvimento<br />

da Conservação e Restauro,<br />

com sede em Lisboa, para participar<br />

da restauração de duas<br />

predelas de madeira, datadas<br />

do Séc. XVIII, representando<br />

ex-votos, com uma equipe internacional<br />

formada por uma<br />

francesa, uma portuguesa, um<br />

espanhol, um africano e um<br />

português. Momento raro de<br />

troca e aprendizado.<br />

No mês de Julho soube da chegada<br />

em Lisboa de um grupo<br />

de restauradores do Instituto<br />

Central para o Restauro, de<br />

Roma. Iriam dar continuidade<br />

a uma intervenção de restauro<br />

numa pintura mural executada<br />

no teto da Sacristia da Igreja<br />

16<br />

Nossa Senhora do Loreto, igreja<br />

italiana no centro de Lisboa.<br />

Sondei a possibilidade de participar<br />

do grupo e, sendo aceito,<br />

tive uma das experiências<br />

mais gratificantes do meu estágio.<br />

Uma pintura à óleo bem<br />

interessante, com uma problemática<br />

idem, profissionais muito<br />

experientes e capacitados,<br />

materiais tradicionais e outros<br />

muito recentes, ainda em fase<br />

de testes, e uma preocupação<br />

com a segurança ainda não vista,<br />

fizeram desse trabalho um<br />

acontecimento especial.<br />

O prazo de um ano do Estágio<br />

já estava para terminar, quando<br />

solicitei uma prorrogação ao<br />

Ministério da Cultura. Mais uma<br />

surpresa, pedido aceito. Mais<br />

três meses para me especializar<br />

e mais tempo para conhecer a<br />

arte e a história de Portugal,<br />

que também é parte da nossa<br />

história.<br />

Várias pessoas não acreditaram<br />

na possibilidade do meu projeto<br />

ser selecionado no Programa<br />

Virtuose, de Cultura, e<br />

muitas outras desacreditaram<br />

ainda mais quando ele foi selecionado.<br />

No nosso país, onde<br />

a profissão de Conservador/<br />

Restaurador não é regulamentada<br />

e onde não existe um curso<br />

de graduação, as pessoas<br />

interessadas têm que buscar alternativas.<br />

Alternativas conscientes<br />

e de bom senso, em prol<br />

da Preservação da nossa Memória,<br />

que é tão carente de<br />

subsídios.<br />

Foram quinze meses em Lisboa,<br />

cidade das sete colinas, banhada<br />

por um rio, o Rio Tejo,<br />

com bairros medievais, igrejas<br />

fantásticas de vários estilos,<br />

casario nobre, ruas e becos<br />

apaixonantes e um povo impecável.<br />

Quinze meses de Seminários,<br />

Congressos, Encontros<br />

e Intervenções. Quinze meses<br />

que fizeram parte de uma vida<br />

que aqui relato, esperando que<br />

seja útil, agradável, e que sirva<br />

de incentivo a outras pessoas.<br />

Marco Resende/Restaurador de<br />

pinturas


X Congresso<br />

X CONGRESSO <strong>ABRACOR</strong><br />

Tema Central:<br />

“DESAFIOS DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL”<br />

A Assembléia da <strong>ABRACOR</strong><br />

realizada em Salvador -<br />

BA, em 30.10.98, quando<br />

do encerramento do IX<br />

Congresso, aprovou a cidade<br />

de São Paulo, como a<br />

nova sede para o X Congresso<br />

em 2000. Para a<br />

organização do evento, a<br />

Assembléia nomeou um<br />

Comissão Organizadora<br />

formada pelos conservadores-restauradores<br />

de São<br />

Paulo a saber: Lucy Luccas,<br />

Maria de Los Angeles<br />

Fanta e Júlio Eduardo Corrêa<br />

de Moraes, todos associados<br />

da <strong>ABRACOR</strong>. Essa<br />

por sua vez, nomeou uma<br />

ABR@COR on the Net<br />

É com grande satisfação que<br />

abro esta coluna, lembrando<br />

aos associados que a ABRA-<br />

COR, por mais que seja uma<br />

instituição sem condições financeiras<br />

adequadas é dotada de<br />

uma grande virtude : Todos que<br />

aqui trabalham, são capazes de<br />

dar o seu sangue e desenvolver<br />

o melhor trabalho possível . Críticas<br />

são sempre benvindas, porém<br />

é necessário saber criticar<br />

. As vezes um ato solídário tem<br />

mais efeito do que atos de depreciação,<br />

por isso conclamo os<br />

associados da <strong>ABRACOR</strong>, para<br />

que contribuam mais e mais<br />

para o desenvolvimento desta<br />

digna associação. A Homepage<br />

da <strong>ABRACOR</strong> (http://<br />

cecor.eba.ufmg.br/abracor) vai<br />

estar disponibilizando seu boletim<br />

na íntegra em arquivo de<br />

extensão .pdf, possibilitando<br />

uma maior divulgação do material<br />

da associação. Para tal, é<br />

necessário ter o plugin da Adobe<br />

chamado de Acrobat Reader,<br />

que pode ser conseguido no endereço<br />

: www.adobe.com<br />

Leonardo Ciannella<br />

Comissão de Apoio para o<br />

desenvolvimento dos trabalhos,<br />

formada por profissionais<br />

ligados a <strong>ABRACOR</strong> e<br />

outras associações e autônomos.<br />

São eles: Norma<br />

Cassares (ABER), Márcia<br />

Toledo (ABER), Renato Carvalho<br />

(APCR), Regina Gierlemger<br />

(APCR), Lúcia Elena<br />

Thomé (MAC), Florence<br />

White Veras (Autônoma),<br />

Márcia Rizzo (Autônoma),<br />

Luiz Souza (CECOR), Maria<br />

das Graças da Silva Prudêncio<br />

(ACCR), José Luiz<br />

Hernandes Alfonso (FAAP)<br />

e José Geraldo Martins de<br />

Oliveira (CAAP).<br />

# A <strong>ABRACOR</strong> mostra nesta<br />

coluna, algumas fotografias<br />

relacionadas ao IX Congresso,<br />

realizado em Salvador, BA.<br />

#A <strong>ABRACOR</strong> participou da<br />

“Mesa Redonda Nacional de<br />

Arquivos”, realizada no Arquivo<br />

Nacional/RJ, de 13 a 15<br />

de julho de <strong>1999</strong>, tendo como<br />

representante, a presidente<br />

em exercício, Maria Luisa Ramos<br />

de Oliveira Soares. Os<br />

objetivos do evento: 1)definir<br />

O X Congresso será<br />

realizado de 05 a 10<br />

de novembro de<br />

2000, no Centro<br />

de Convenções<br />

Rebouças.<br />

Endereço da<br />

Secretaria da<br />

Comissão<br />

Organizadora:<br />

Rua Nilo, 42 -<br />

sala 1 - Aclimação,<br />

cep.:01533080<br />

São Paulo - SP<br />

Brasil. Telefone:<br />

()XX) (11) 178 7969 -<br />

fax: ()XX) (11) 270 1747 -<br />

congresso2000@uol.com.br<br />

ACONTECEU <strong>ABRACOR</strong><br />

um Plano Diretor,<br />

para curto, médio<br />

e longo prazos,<br />

com estratégias e<br />

ações a serem implementadas,visando<br />

a modernização<br />

das instituições<br />

arquivísticas<br />

brasileiras, e 2)<br />

estimular agências<br />

de fomento, nacionais e internacionais,<br />

no patrocínio de<br />

projetos na<br />

área arquivística (organização<br />

de acervos, disseminação da<br />

informações, preservação de<br />

documentos, melhoria da infra-estrutura<br />

dos arquivos,<br />

implantação de programas de<br />

gestão<br />

de documentos, criação de<br />

instituições arquivísticas e<br />

formação/capitação de recursos<br />

humanos).”<br />

# Seminário Internacional De<br />

la Asociación Latinoamericana<br />

de Archivos (ALA), en San<br />

17<br />

José, Costa Rica, no mês de<br />

maio de <strong>1999</strong>. Fonte: “Archives<br />

e Organo Difusor” - San<br />

José, Costa Rica n° 58 ano<br />

14 diciember 1998. Apartado<br />

41 - 2020 Zapote, San<br />

José-Costa Rica. Tel:234<br />

7689 - fax: (506) 243 7312<br />

- e-mail:<br />

.<br />

# A <strong>ABRACOR</strong>, está participando<br />

do Concurso Prêmio<br />

Rodrigo Melo, do IPAH - Depto.<br />

de Promoção - <strong>1999</strong>, c/o<br />

projeto “Preservando a Memória<br />

Nacional - <strong>ABRACOR</strong><br />

20 Anos”


Atenção Associados, Solicitamos que confirmem ou atualizem seus endereços domiciliares, profissionais e também suas<br />

área(s) técnica(s) de atuação. Estamos trabalhando para a publicação de nosso novo diretório. Informamos que o mesmo será<br />

disponibilizado On-Line via Internet, assim como fornecido a empresas e órgãos públicos de interesse.<br />

Enviem carta endereçada à :<br />

<strong>ABRACOR</strong> – Diretório<br />

Caixa Postal 6557 Rio de Janeiro RJ Brasil CEP.: 20030-970<br />

FAÇA A DIFERENÇA : ANUNCIE AQUI ! (0XX21)533-8090 r.244<br />

18


Agenda <strong>ABRACOR</strong><br />

Cursos, Seminários, Congressos,<br />

etc.<br />

Cursos de: “Pintura/Desenho” e<br />

“Pintura Decorativa/Pátina” (formaçào<br />

de novas turmas dependendo<br />

do número de interessados.<br />

Museu Histórico Nacional/RJ -<br />

Informações pelo telefone: (0XX)<br />

21 550 9260/ 9262.<br />

<strong>Setembro</strong>/99:<br />

# Exposições: “D. João VI: Um<br />

Rei Aclamado na América” (palestra<br />

com os curadores) e “Paisagens<br />

do Rio de Janeiro Através de<br />

Gravura” e ” Ciclo de palestras<br />

Conservação de Obras de Arte em<br />

Suporte Papel”.<br />

<strong>Outubro</strong>/99:<br />

Seminário: “D. João VI: Um Rei<br />

Aclamado na América”.<br />

<strong>Novembro</strong>/99:<br />

Exposições: “O Tempo não Para” e<br />

“Natal Juntos”.<br />

Dezembro/99: Lançamento do CD<br />

Rom “A Guerra do Paraguai”.<br />

Museu Histórico Nacional - Praça<br />

Marechal âncora, s/n - sala 321 -<br />

Centro - Cep.: 20021-200, Rio de<br />

Janeiro/RJ<br />

ASCOM - A/t: Sra. Célia Goulart<br />

(das 15 às 17:00) - Telefone:<br />

(0XX) 21 550 9242 - 220 6290<br />

E-mail: aguedes@visualnet.com.br<br />

CICLO DE PALESTRAS:<br />

•10/08 - Certificado ISO 9000: O<br />

Papel do Arquivista<br />

•Professor Odair Quintela - Cursos<br />

de pós-graduação da FGV<br />

•17/08 - Aspectos Jurídicos dos<br />

Arquivos - Sebastiana Batista<br />

Vieira, Chefe do Arquivo Geral da<br />

Diretoria do RJ - ECT.<br />

•24/08 - A Preservação da Informação<br />

Digital - Professor Carlos<br />

Augusto Ditadi, membro da Câmara<br />

Técnica de Documentos Eletrônicos<br />

- CONARq.<br />

•31/08 - Ensinando a Ensinar -<br />

Professoras: Berenice Kazan / Vera<br />

Fernandes, Técnicas de treinamen-<br />

to da DATAPREV.<br />

•14/09 - Marketing em Centro de<br />

Documentação - Professora Maria<br />

de Fátima B. Gonçalves Miranda,<br />

Diretora da Divisão de Biblioteca e<br />

Documentação do tribunal de<br />

Contas do Município do RJ.<br />

•21/09 - Em Busca do Cliente -<br />

Professora Berenice Karan / Vera<br />

Fernandes, Técnicas de treinamento<br />

da DATAPREV.<br />

•28/09 - Como Eliminar Papel -<br />

Professora Rita São Paio - Analista<br />

de documentação da DATAPREV.<br />

Informações e inscrições: Associação<br />

dos Arquivistas Brasileiros -<br />

Rua da Candelária, 9 sala 1004 -<br />

Centro - Cep: 20091-020 Rio de<br />

Janeiro - RJ - Telefax: (0XX) 21<br />

233 7142 - E-mail:<br />

-<br />

http://aabweb.cjb.net<br />

SEMINÁRIOS (conservação e<br />

restauro)<br />

#Protección del Patrimonio Cultural<br />

en las Américas - Congresso<br />

Internacional de Americanistas, 50<br />

(Call for Papers). Instituiçào responsável:<br />

ICA (Congresso de las<br />

Américas) instituições Americanistas<br />

de toda Europa Centro-Oriental.<br />

Local: Varsóvia, Polonia. Período:<br />

10 1a 14 de julho de 2000 -<br />

idiomas: <br />

-<br />

(ficha de inscrição disponível no<br />

Banco de espanhol, inglês e português<br />

- prazo máximo para o envio<br />

de trabalhos 30 de setembro de<br />

<strong>1999</strong>. Custo: até 31/12/99 =<br />

US$ 160, de 01/01/2000 a 31/<br />

05/2000 = US$200, após 01/06/<br />

2000 = 230. Estudantes e acompanhantes<br />

têm desconto de 50%<br />

para inscrições efetuadas até 31/<br />

12/99. Informações: Monica<br />

Behamondez (coordenadora) - Av.<br />

Kennedy, 9350, Vitacura, Santiago<br />

- Chile - telefone: (0056) (2)<br />

201 18896 - fax: (0056) (2) 201<br />

16224 - e-mail:<br />

<br />

- fonte: Conserva-Lista, 28/05/99<br />

- Dados/CPC.<br />

# Taller Internacional sobre Nueva<br />

Museologia, 8 - tema: Patrimônio,<br />

juventude e desenvolvimento,<br />

quais os desafios para o século<br />

XXI. Instituição responsável: MI-<br />

NOM - Movimento Internacional<br />

para Nova Museologia. Local:<br />

Salvador BA - período: 3 a 7 de<br />

novembro de <strong>1999</strong>. Custo: 01/07<br />

a 30/07 = R$ 104,00, de 2/08/a<br />

15/09 = 130,00, após 16 de<br />

setembro, R$ 150,00. Estudantes<br />

têm desconto de 50%. Informações:<br />

Eliene Dourado Bina - Museu<br />

Eugênio Teixeira Leal - Coordenação<br />

Geral Brasil do VIII Atelier<br />

do MINOM. Tel: ()XX) 71 321<br />

8023/982 8928 - fax: ()XX) 71<br />

321 9551 - e-mail:<br />

.<br />

Fonte: Informativo da Comissão<br />

de Patrimônio Cultural, julho/99<br />

v.05, n° 07 - Rua da Reitoria, 109<br />

bloco K conj. 604 - cep.: 05508-<br />

900 São Paulo - SP Brasil. Telefax:<br />

()XX) 11 818 3252 - email:<br />

uspcpc@edu.usp.br - http://<br />

www.usp.br/cultura/bdados.html.<br />

# México 99 - Asamblea General<br />

del ICOMOS, 12<br />

Congreso Mundial de Conservación<br />

del Patrimonio Monumental.<br />

Tema geral: Conservación de la<br />

Arquitectura del Siglo XX. Quatro<br />

temas serão discutidos, nas quatros<br />

cidades onde o evento ocorrerá:<br />

Conservación y Patrimonio;<br />

Patrimonio y Sociedad; Patrimonio<br />

y Territorio; Patrimonio y Desarrollo.<br />

Instituição responsável: ICO-<br />

MOS Mexicano - local: México<br />

(Ciudad de México, Guanajjuato,<br />

Morelia e Guadalajara). Período:<br />

17 a 23 de outubro de <strong>1999</strong>,<br />

idiomas: inglês, francês e espanhol.<br />

Custo: US$ 400 (data limite<br />

19<br />

para inscrição: 22 de setembro de<br />

<strong>1999</strong>). Iinformações e inscrições:<br />

Comitê Organizados México 99 -<br />

Arq. Carlos Flores Marini. - Mazatián<br />

N° 190, Col. Condesa - C.P.<br />

06140 - México, DF, México.<br />

Telefax: (00**) (52) 277 3166/<br />

272 4128; site: , email:<br />

.<br />

Ficha de inscrição disponível no<br />

Banco de Dados/CPC. Fonte:<br />

Informativo CPC, agosto 99, v.<br />

05, n° 08.<br />

MUSEUS E MUSEOLOGIA<br />

# CIMAM Annual Meeting <strong>1999</strong>.<br />

Instituição responsável: ICOM/<br />

CIMAM-Modern Art. Local: Jerusalém,<br />

Israel. Período: 26 a 30 de<br />

outubro de <strong>1999</strong>. Custo: US$<br />

200, até 15 de agosto de <strong>1999</strong>;<br />

US$ 225, até 15 de setembro de<br />

<strong>1999</strong>, prazo máximo para recebimento<br />

de inscrições. Informações:<br />

CIMAM - Jerusalém Office - Bezalel<br />

Art Wing - Israel Museum -<br />

POB 71117, Jerusalém 91710<br />

Israel - tel: (00**) (972) (02) 670<br />

8987, fax: (00**) (972) (02) 563<br />

4584. Fichas de inscrição disponível<br />

no Banco CPC. Fonte: Informativo<br />

CPC. agosto 99, v. 05, n°<br />

08.<br />

# Conferencia Anual del ICOFOM,<br />

21<br />

Encuentro Regional del ICOFOM<br />

LAM, 8. Temas: Museologia y<br />

Filosofia (ICOFOM) e Museologia,<br />

Filoosofia e Identidad en Latinoamérica<br />

y el Caribe (ICOFOM<br />

LAM). Instituição responsável:<br />

ICOM/ICOFOM - International<br />

Committee for Museology. Local:<br />

Coro, Venezuela - período: 28 de<br />

novembro a 4 de dezembro de<br />

<strong>1999</strong>. Custo: US$ 250, para<br />

membros do ICOM, - US$ 200,<br />

para membros votantes do ICO-<br />

FOM e US$ 220 para membros do<br />

ICOFOM não votantes. Prazo


Agenda <strong>ABRACOR</strong><br />

máximo para envio de trabalhos:<br />

30 de agosto de <strong>1999</strong>. Informações:<br />

Prof. Teresa Scheiner - President<br />

ICOFOM - Av. Ayrton Senna,<br />

2150, s/223, bloco C, Barra da<br />

Tijuca - cep.: 22775-000 Rio de<br />

Janeiro - RJ. Tel: (0**) (21) 325<br />

3208, fax: (0**) (21) 3256635,<br />

e-mail: <br />

Fonte: Informativo CPC agosto<br />

99, v.05, ano 08.<br />

# ICOM-MPR 99 - Tema: Marketing<br />

museums beyond the millenium.<br />

Instituição responsável:<br />

ICOM/MPR - Marketing and Public<br />

Relations International Committee.<br />

Local: Paris, França - período: 25 a<br />

28 de setembro de <strong>1999</strong>. Custo:<br />

1.000 FF. Informações: A.T.I - 46<br />

Rue Lauriston - 75016 Paris - Att.<br />

Laurence or Maia. Tel: (00**1)<br />

(33) (0) 1-44050148, e-mail:<br />

. Ficha<br />

de inscrição, disponível no Banco<br />

de Dados CPC. Fonte: Informativo<br />

CPC - agosto 99, v.05, n° 08.<br />

# Terra 2000 - 8 th International<br />

Conference on the stady and<br />

conservation of earthen architectureTorquay,<br />

Devon, UK. 11-13<br />

May 2000 - themes: archaeological<br />

monuments and sites, materials<br />

and craftsmanship, conservation,<br />

repair and maintenance, continuity<br />

of tradition: new earth building,<br />

political, legal, and economic<br />

context; promotion and consciousness-raising.<br />

- Terra 2000 Centre<br />

for Earthen Architecture - University<br />

of Plymouth, Faculty of Technology,<br />

rake Circus, Plymouth PLA<br />

8AA England, UK - fax: 44 (0)<br />

1752 233310 - e-mail:<br />

terra2000@plymouth.ac.uk<br />

# Scientific Principles of Conservation<br />

- SPC 99 (International<br />

IMPRESSO<br />

Course)<br />

Dates: 11 october - 10 december<br />

<strong>1999</strong> - place: ICCROM, Rome,<br />

Italy - organization: ICCROM. -<br />

Application Form: Please use the<br />

general ICCROM application form,<br />

available at address below, or at<br />

the ICCROM Internet website <<br />

http://www.iccrom.org>. The<br />

forms shold be sent to: ICCROM -<br />

Training and Fellowship Programme<br />

Office - Via di San Michele 13<br />

- I-00153 Rome, RM, Italy. - Tel:<br />

(+39-06) 585 531 - fax: (+39-<br />

06) 5855-3349 - e-mail:<br />

- Application<br />

Deadline: 20 august <strong>1999</strong>.<br />

1) 19-25 mars - Tusnad, Roumanie<br />

Theorical and Practical Issues of<br />

Monument Preservation<br />

Built heritage and Society<br />

Oficiul Postal I.C.P.379<br />

R-3400 Cluj, Romania<br />

E-mail: tusnad@mail.soroscj.ro<br />

2) 29-31 mars - Asheville, NC,<br />

USA<br />

North American textile Conservation<br />

Conference: Conservation<br />

Combinations<br />

C.McLean/C.Varnell<br />

NATCC Symposium 2000<br />

L.A. County Museum of Art<br />

5905Wilshire Dlvd.<br />

Los Angeles, CA 90036, USA<br />

3) 11-13 mai - Torquay, Royaume -<br />

Uni<br />

Study and Conservation of Earthen<br />

Architecture - Terra 2000<br />

Terra 2000 Conference Secretariat<br />

Centre for Earthen Architecture<br />

University of Plymount, PL4 8AA,<br />

UK<br />

4) 17-20 mai - Otawa, Canadá<br />

CCI Symposium: The Conservation<br />

of Heritage Interiors<br />

Canadian Conservation Institute<br />

Symposium 2000<br />

1030 Innes Road<br />

Ottawa, ONT, KIA Om5, Canadá<br />

E-mail: jamesbourdeau@pch.gc.ca<br />

5) 15-16-juin-Limogenes, France<br />

Section Française de L’IIC. Instruments<br />

Pour Demain: La Conservation<br />

et la restauration des Instruments<br />

de Musique<br />

SFIIC<br />

29, rue de Paris - F-77420<br />

Champs-sur-Marne, France<br />

E-mail: sfiic@Irmh.fr<br />

6) 23-26 août - Helsinki, Finlande<br />

IIC-Nordic Group: 15th Triennial<br />

Meeting. Conservation winthout<br />

Limits<br />

Hannele Heporauta<br />

The National Gallery<br />

Kaivokatu 2<br />

SF-00100 Helsinki, Finlande<br />

E-mail: hheporau@fng.fi<br />

7) 22-28-sept-Séville, Espangne<br />

14th ICA Conference: Archives of<br />

the Information Society in the<br />

New Millennium<br />

International Council on Archives<br />

60 rue des Francs-Bourgeois<br />

F-75003 Paris, France<br />

E-mail:<br />

100640.54@compuserve.com<br />

8) 10-14 oct. Melbourne, Australie<br />

IIC Congress 2000, Tradition &<br />

Innovation: Advances in Conservation<br />

IIC - 6 Buckingham Street<br />

20<br />

London WC2N 6BA, UK<br />

E-mail: iicon@compuserve.com<br />

9) 15-21 oct.Rome, Italie<br />

Non-Destructive Testing: 15th<br />

World Conference<br />

Roma 2000<br />

G.Nardoni, President ICNDT<br />

Via A, Foresti 5<br />

1-25127 Brescia, Italy<br />

E-mail: aipnd@mail.protos.it<br />

10) 24-26 oct. - Cracovie, Pologne<br />

The International Conference on<br />

Conservation<br />

Zbigniew Wiklacz<br />

Instytut Historii Architektury<br />

Wydzial Archiktury Politechniki<br />

31-002 Krakow, Poland<br />

# Seminário: “Aspectos de Intervención<br />

y<br />

Conservación en los Frescos de la<br />

Capilla Sixtina (Roma - Italia)”<br />

Organizan: Facultad de Ciencias<br />

Humanas de la Universidad Nacional<br />

de Río Cuarto (Departamento<br />

de Historia), Fundación por la<br />

Cultura de la Municipalidad de Río<br />

Cuarto, Colegio de Arquitectos de<br />

Río Cuarto, Colegio de Abogados<br />

y Consejo Asesor Honorario para<br />

la Defensa del Patrimonio Natural<br />

y Cultural de la Ciudad de Río<br />

Cuarto.<br />

Data: 1 y 2 de octubre de <strong>1999</strong><br />

Contato: Fundación por la Cultura,<br />

Municipalidad de Río Cuarto<br />

Constitución 945 P.A. C.P. 5800<br />

Río Cuarto Córdoba - Argentina<br />

tel: (0358) 4671206/205 - fax:<br />

(0358) 4671207<br />

e-mail:<br />

fculturariocuarto@arnet.com.ar<br />

Boletim da <strong>ABRACOR</strong><br />

Trimestral- <strong>Setembro</strong>/<strong>Outubro</strong>/<strong>Novembro</strong> de <strong>1999</strong> - 3 mil exemplares<br />

Correspondência: Rua São José, nº. 50/9º andar - sala nº. 5. Centro - Rio de Janeiro/RJ<br />

Caixa Postal 6557 CEP.: 20030-970 Rio de Janeiro - RJ - Brasil<br />

Telefax : (021) 533-8090 Ramal 244

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