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or q de cazarme absorto<br />
o Brazil me tem por morto<br />
p a negocios de amor<br />
O Brazil he huó milhaco,<br />
huó falsso, e huó imbusteyro<br />
por q eu cazado, ou salteyro<br />
quando ensaquo, dezensaquo<br />
e a vés q me dezatacoa pecania tanta, ou quanta<br />
dou por pagar mercé tanta<br />
por q sey q na Bahia,<br />
á carne por qualquer via<br />
val conforme se levanta<br />
hora bem minha senhora<br />
eu ja cansso de esperar<br />
day vos pressa em me chamar<br />
e não seya isso á deshora,<br />
q p a quem se enamora<br />
de varios aventureyros,<br />
se os quer trazer, prezenteiros,<br />
sempre os hade ter chamados<br />
ao meyo dia os cazados,<br />
a meya noyte os salteyros.<br />
A nossa sée d Bahia<br />
com ser hua mapa de festas<br />
hé huó Prezepio de Bestas<br />
sé não for estribaria,<br />
varias bestas cada dia<br />
vejo q o sino congrega<br />
caveyra, mulla gallega,<br />
o Deão burrinha parda<br />
Pereyra Russim de albarda<br />
que tudo da sée carrega<br />
Aos Capitulares da Bahia<br />
<strong>51</strong>.<br />
Ainda sujeito a revisões 1
A Huá Freira q chorou mt as lagrimas por<br />
lhe molharem huó toncado que tinha p a hir<br />
a grade fallar com seu am te<br />
Pello toucado clamais,<br />
e em confuzam me meteis<br />
por q se enchuto o quereis<br />
omo sobre elle chorais<br />
quantos mais suspiros dais<br />
menos extremos fazendo,<br />
vay vosso dano creçendo<br />
e he muy mal esperdissado<br />
sobre a peda do toucado,<br />
andre perollas perdendo.<br />
Mas huó peito lastimado<br />
que tem em pouco essas sobras<br />
dirá pois chora por dobras<br />
que a deichem chorar dobrado<br />
ditozo o vosso toucado<br />
nas lagrimas q chorastes<br />
pois tambem dezempenhastes<br />
as vezes que vos hornou,<br />
q se athe aqui vos toucou<br />
de perollas o toucastes<br />
Por ventura Nize achais<br />
q mais bella a touca estava<br />
ao tempo que vos toucava<br />
do q agora q a toucais<br />
não vedes não reparais,<br />
q aquelles vãos ornamentos,<br />
humedeçidos alentos<br />
de aljofares derretidos<br />
o q estão de mais cahidos,<br />
isso tem de mais atentos.<br />
52.<br />
Ainda sujeito a revisões 2
Chorais com rezão tão pouco<br />
q estão todas momurando<br />
q andais as toucas lavrando<br />
não mais q por huá touca<br />
se por Dallicio hides louca<br />
por q amante vos anhella<br />
e mais por vos se desvella<br />
vinde a grade destoucada<br />
e veram q de empenhada<br />
botais as toucas por ella.<br />
Inundais as escarlatas<br />
em forma da bella Aurora<br />
como se muy novo fora<br />
q na agoa se banhem patas<br />
se as porfessas, ou donatas<br />
que as patas vos mergulharam<br />
zombay das suas invejas<br />
não se gabem malazejas<br />
q de patas vos viraram<br />
Namoreyme sem saber<br />
esse vicio a que te vas<br />
q o homem nenhúo te dás,<br />
e tomas toda a mulher<br />
A Huá Freira q por andar amancebada<br />
com outra, aborrecia o trato dos Homés<br />
Mote<br />
Fostes tão presta em matarme<br />
Lese, que não sey dizerte<br />
se en mim foy primeyro o verte,<br />
do q en ti o contentarme<br />
sendo forssa o namorarme<br />
cm tal pressa houve de ser,<br />
q importandome aprender<br />
a querer, e nmorar<br />
Ainda sujeito a revisões 3
por mais me não dilatar<br />
namoreyme sem saber<br />
Assaber como te amara<br />
menos mal me acontessera<br />
pois se mais te comprehendera,<br />
tanto menos te adorara;<br />
a vista nunca repara<br />
no q dentro da alma jás<br />
e pois tão louca te trás<br />
q se por Damas suspira<br />
não te amara se te vira<br />
esse vicio a que te vás<br />
Se por Damas me aborreces<br />
absorte em suas bellezas<br />
a tua como a desprezas<br />
se he mayor q as q apeteçes<br />
se a ti mesma te quizesses<br />
querendo o q a mim me aprás<br />
foa eu contente assás<br />
mas como serey contente<br />
se por mulheres se sente<br />
que a homé nenhúo te dás<br />
Que rendidos homés queres,<br />
que por amores te tomem,<br />
se mulher não hes p a homem<br />
e hes homem p a mulheres<br />
que homem (ó Filis) inferes<br />
que possa senão eu ter<br />
valor p a te querer<br />
se por amor, nem por arte<br />
de nenhúo deichas tomarte<br />
e tomas toda a mulher<br />
A João Vanique havendo bebido mt o vinho<br />
53.<br />
Ainda sujeito a revisões 4
em dia de S. Luzia com q se embebedou, e lhe<br />
deu gota nos pés.<br />
Senhor confrade da Bota<br />
mt o a Deos do ceo deveis<br />
pois que mil gotas bebeis,<br />
e vos dá somente a gota<br />
se a essa alma tam devota<br />
do beber, e eborrachar<br />
ouvesse Deos de igualar<br />
o castigo ao pecado,<br />
gotas vos ouvera dado<br />
mais que as areas do mar.<br />
Sois tam grande Borracham,<br />
e em beber tam desmedido,<br />
que trocais o que heis comifo<br />
pello vinho que vos dão<br />
vomitais o viho, e o pam<br />
com repugnancia muy pca<br />
e a rezam q vos provoca,<br />
he que huma ves o bebeis,<br />
e vomitandoó quereis,<br />
que otra ves vos venha a boca.<br />
Quem por vinh vomitado<br />
tanto fas, e tanto gosta<br />
tambem gostará da bosta<br />
tambem do vinho cagado<br />
senão fora vinho auguado<br />
de tão grande Hidropezia<br />
creyo q se guardaria<br />
q huó flamengo Ariopagita<br />
o q em huó dia vomita<br />
bebe logo em otro dia.<br />
Sois tão grande Bebedinho<br />
e tão manhozo novello,<br />
54.<br />
Ainda sujeito a revisões 5
q o bebello, e o desbebello<br />
hé só por dobrar o vinho<br />
quando o devais de camnho<br />
vay claro como do torno<br />
e quando do ventre morno<br />
pella boca o vomitais<br />
então muy turo o lançais<br />
como ajuda de retorno<br />
O vinho hade ser pagam<br />
qu não bebe vinho auguado<br />
por q o vinho bautizado<br />
lhe enfada por ser christam<br />
day ao Demo o beberram<br />
q com dores, e trabalhos<br />
não busca ao beber atalhos,<br />
pois sem temor d acabar,<br />
cré q mt o hade durar,<br />
por q está de vinho de alhos.<br />
Sempre tive grande magoa<br />
de cuidar q hu´mosquitinho<br />
quer antes morrer no vinho<br />
do que estar vivendo na agoa<br />
se o bofe se vos inchagoa<br />
com beber, e mais beber<br />
vireis com isto a entender<br />
que em belga donde viestes<br />
e mosquito heis de morrer<br />
Pois me enfada o teu feitio<br />
quero frizam neste dia<br />
retratarte em quatro verssos<br />
ás maravilhas<br />
A cara he huó fardo de arrós<br />
q por larga, e por comprida<br />
Ao P e Damazo da Silva<br />
55.<br />
Ainda sujeito a revisões 6
he reçam de huó Ellefante<br />
vindo da india.<br />
A boca dezempedrada<br />
he a ponte de Coimbra<br />
onde não entram nem sahem<br />
mais q mentiras<br />
Não hé a lingoa de vaca<br />
por mal dizente, e maldita<br />
mas pello mt o que corta<br />
de Tiririca<br />
No corpazil torream<br />
a natureza prevista<br />
formou a fresta da boca<br />
p a guarita<br />
Quizera as mãs compararlhe<br />
as do Gigante Golias<br />
se as do Gigante não foram<br />
tão pequeninas<br />
Os ossos de cada pée<br />
encher podem de relliquias<br />
p a toda a christandade<br />
as sanchristias.<br />
Hé grande conimbricensse<br />
sem ja mais por pe em Cimbra<br />
e sendo ignorante sabe<br />
mais q Galinha.<br />
lagrimas afectuozas<br />
brandamete derretidas<br />
o que tendes de afligidas,<br />
tende de mais poderozas.<br />
A huá Freira despedindose o Autor della<br />
sendo tão carinhozas<br />
quam tristes me pareceis<br />
q mt o que me abrandeis<br />
quando auzente me sentis<br />
56.<br />
Ainda sujeito a revisões 7
se por me cobrar sahis<br />
em busca de min correis.<br />
Se correis tão descontentes<br />
dende hides tam apressadas<br />
e se andais tão recatadas<br />
como asim sois tão correntes<br />
sendo essas vossas enchentes<br />
fermozissio embarasso<br />
que mt o que ao descompasso<br />
de huó retiro infurecido<br />
ness corrente detido<br />
lgo então perdese o passo.<br />
E ver que vos afligistes,<br />
que ufano fiquei então<br />
que alegre meu coracam<br />
meus olhos de vervos tristes<br />
com rezam vos persuadistes<br />
de formarme huó novo encãto<br />
no vosso chorar por quanto<br />
a fé com q vos adoro<br />
se alegra com o vosso choro<br />
se alegra no vosso pranto<br />
Vendo que hereis dezafogo<br />
lagrimas de vossa magoa<br />
e q hera nos olhos agoa,<br />
no peito vy q hera fogo;<br />
logo vy, e entendi logo<br />
que como en huó troco aconteçe<br />
que aly arde, e qua humedeçe<br />
asim vos em huó choro brando<br />
sahis aos olhos quando<br />
incendios a alma padeçe<br />
Lagrimas grande seria<br />
huá dr que vos condena<br />
que a custa da vossa pena<br />
Ainda sujeito a revisões 8
compreis a minha alegria<br />
e pois da malencolia<br />
que tive em tão tristes horas<br />
haveis sido as redentoras<br />
do gosto que meis comprado<br />
tanto á custa do chorado<br />
com rezam sereis senhoras<br />
Sereis pello que agradastes<br />
lagrimas aljofaradas<br />
eternamente lembradas<br />
destes olhos q alegrastes<br />
se por mim vos derramastes<br />
e a custa de vossos brios<br />
por entre tantos desvios<br />
me buscais, fora dezar,<br />
não sermeus olhos huó mar,<br />
p a recolher dois rios.<br />
Lagrimas q em vossas dores<br />
dezieis imudecidas<br />
finezas ja mais ouvidas<br />
de nunca vistos amores<br />
pois que de vossos primores,<br />
he tão subido o arrebol<br />
basta que do seu crissol<br />
saya esta fineza emfim<br />
que eu vi triste huó sarafino<br />
e chorozo ao mesmo sol<br />
Eternamente aplaudidas<br />
sereis lagrimas fermozas<br />
pois deichais de ser ditozas<br />
só por ser por min vertidas<br />
se o valor de agradecidas<br />
basta a vossos matizes<br />
contra a nota de infelizes<br />
podeis rirvos de choradas<br />
57.<br />
Ainda sujeito a revisões 9
pois q de gratificadas<br />
sois no mundo as mais felizes.<br />
Epigrama a varios sugeitos<br />
Sahio, a satira má,<br />
e empurraram ma os preverssos<br />
por que em quanto a fazer verssos,<br />
só eu tenho geito qua.<br />
Noutras obras de talento<br />
só eu sou o asneyrão,<br />
em sendo satira, então<br />
só eu tenho entendimento<br />
Acabouse a sée e envolto,<br />
na obra o sete caveyras<br />
enfermou de caganeyras<br />
e fes mt o versso solto<br />
Tu q o Poeta motejas<br />
sabe q andou asertado<br />
que por na obra o louvado<br />
he costume das Igrejas<br />
Coremse mt os carneyros<br />
na festa das onze mil,<br />
e eu com notável ardil,<br />
não vou ver os cavaleyros.<br />
Não vou ver, e não se espantem,<br />
que algum testemunho temo,<br />
sou velho pelos que gemo,<br />
não quero q mos levantem<br />
Queremme aqui todos mal,<br />
e eu quero mal a todos,<br />
elles, e eu por varios modos<br />
nos pagamos tal, por qual<br />
58.<br />
Ainda sujeito a revisões 10
e querendo eu mal a quntos<br />
me tem odio tão vehemente<br />
o meu odio hé mais valente<br />
pois sou só, e elles sam tantos.<br />
Algum amigo que tenho<br />
se hé q tenho algum amigo<br />
me aconcelha que o q digo<br />
o calle com todo o empenho.<br />
Este me dis, disme estotro<br />
que me não fie daquelle<br />
q farei se me dis elle<br />
me não fie daquellotro.<br />
O Perlado com bons modos<br />
vizitou toda a cidade<br />
he cortezam na verdade<br />
pois nos vizitou a todos.<br />
Vizitouse a pura escrita,<br />
o povo, e seus comarcãos<br />
e os Reos de num cortezãos,<br />
hande pagar a vizita<br />
A cidade me provoca<br />
com vertudes tão comuas<br />
ha tantas cruzes nas ruas<br />
quantas eu fasso na boca<br />
Os Diabos em seu centro,<br />
foy cada huó por seu cabo<br />
nas ruas não há huó diabo,<br />
haos de portas a dentro<br />
As damas de toda a cor<br />
como tam pobre me vem<br />
as mais lastima me tem,<br />
59.<br />
Ainda sujeito a revisões 11
as menos me tem amor<br />
O que me tem admirado<br />
he ficharem me o poleyro<br />
logo acabado o dinheiro,<br />
devião termo contado<br />
Muy alta, e muy poderoza<br />
Raynha, e senhora minha<br />
A Huá Mullata demaziada de comprida<br />
por poderoza Raynha<br />
senhora por alta roza<br />
permeti minha fermoza<br />
q esta proza envolta em versso<br />
de huó poeta tão preversso<br />
se conçagre ao vosso pée<br />
pois rendido a vossa fée<br />
sou ja poeta conversso<br />
Fuy vervos, vim admirado<br />
e tanto essa lus me embaça<br />
que aos rayos da vossa grassa<br />
me converti a adorarvos<br />
servivos de apiadarvos<br />
idolo da alma adorado<br />
de huó mizero coytado<br />
a quem só concede amor<br />
por galardam huó rigor,<br />
por alimento huó cuidado.<br />
Daime por favor primeiro<br />
vrvos huma ora na vida<br />
que pella vossa medida<br />
virá a ser huó anno inteiro<br />
permeti bello luzeiro<br />
a huó coraçam lastimado<br />
60.<br />
Ainda sujeito a revisões 12
que ou por destino, ou por fado<br />
alcanse huó sinal de amor<br />
q sendo vosso o favor,<br />
será por forssa estirado<br />
Pario numa madrugada<br />
Ignacia como ja vedes<br />
e cahindolhe as paredes<br />
ficou dezemparedada<br />
temo q não valha nada<br />
pos tendo o vazo parido<br />
qual pardieyro cahido<br />
recolherá todo o gado<br />
ou das chuvas acssado<br />
ou das calmas retrahido.<br />
E vendo que aly se apoya<br />
o gado no pardieyro<br />
dirá todo o passageyro<br />
triste mente aqui foy Troya<br />
Ao Parto infelis de ignacia Paredes.<br />
por aquella clara boya<br />
despedassada em quaqueiros<br />
vi eu entrar cavaleyros<br />
que quando Troya reynava<br />
apenas huó, e huó entrava<br />
agora entram a milheyros.<br />
Não me espanto dos adomos<br />
de huá Dama singular<br />
q em cornos venha a parar<br />
tendo ella parido os cornos<br />
mas de tantos caldos mornos<br />
de estiticas calidades<br />
em tantas calamidades<br />
não valham, sam dezenganos<br />
da rezolucam dos annos,<br />
da caveyra das idades.<br />
Ainda sujeito a revisões 13
Deyxay pois o artificio<br />
Ignacia por q bem vedes<br />
que ao baque dessas paredes<br />
espira todo o idificio<br />
deichay a vida do vicio<br />
ás que o vicio eternizam<br />
e se a vos vos finalizam<br />
alerta q as pedras falam<br />
q as paredes vos estalam,<br />
q os estallos vos avizam<br />
A Huá Freira estando com dor de dentes<br />
Ay Filis quanto me peza<br />
qye da dor que padeceis<br />
a ter não vos incineis<br />
mais piedade que dureza<br />
se desse achaque a braveza<br />
entre ambos reparte amor<br />
tenho por grande favor<br />
q nesta amante converssa<br />
eu sinta a dor da doença<br />
vos a doença da dor<br />
Por rezõens mais q aparentes<br />
devo eu huó mal estimar<br />
que sey q me hade livrar<br />
de trazeresme entre dentes<br />
mas por cauzas mais urgentes<br />
quero que arremedieis.<br />
e se quando o mal venceis<br />
a morderme vos provoca,<br />
perdoe o morder da boca<br />
a boca com q mordeis.<br />
A Huá Freira que lhe mandou huns dosses<br />
61.<br />
Ainda sujeito a revisões 14
huó dosse q alimpa a tosse<br />
couza muita grande hera<br />
se eu não trocara, e perdera<br />
a dossura pello dosse<br />
se quizera amor q eu fosse<br />
tam digno, e tal me fizera<br />
que juntos vos mereçera<br />
ora o dosse a dureza ora,<br />
maldita a minha alma fora<br />
se tudo vos não comea<br />
Mas há grande destinçam<br />
e descrime temerario<br />
entre os dosses de huó almario<br />
e as dossuras de huá mão<br />
e quem he tal chabicham<br />
destro no ré-mi-fa-sol<br />
mal pode errar em seu prol<br />
quando sabe que a dussura<br />
se se come, he por natura,<br />
e os mais dosses por bemol.<br />
E q enfin venho a dizer,<br />
he que se a minha ventura<br />
negaus comer da dyssyra<br />
dosses não heide comer<br />
não heide a troca fazer<br />
mais q a palos me moais<br />
e se comigo apertais<br />
que os vossos dosses almosse<br />
o fazerme a boca dosse,<br />
quanto a min hé por de mais<br />
Trocay o dosse em favor,<br />
e curay meu mal tão grave<br />
com aquella ambrozia suave<br />
com que foy criado amor<br />
62.<br />
Ainda sujeito a revisões 15
o nectar será melhor<br />
q destillam vossas flores,<br />
q se tão seos favores<br />
são de amor efeitos pecos,<br />
tão maos sam os dosses secos,<br />
como são secos amores<br />
A Silvestre Cardozo, negando huá fernicaçam<br />
em q foy achado com huá negra<br />
Viuvos huó vosso parente<br />
em huánoite fornicando<br />
e vos o cazo negando<br />
sois Pedro Silvestremente<br />
vos ments, eu elle mente<br />
dizendo a verdade pura,<br />
vos estaveis na espesura<br />
donde a negra vos espera<br />
ou donde vos viram, hera,<br />
o demo em vossa figura.<br />
Ja por vosso menos cabo<br />
dipois de injurias tamanhas<br />
dizem da vossas entranhas,<br />
q he morada do diabo<br />
por q no cano, ou no rabo<br />
me dizia o coraçam<br />
q se ha demo fodincham<br />
havendo o tal de foder,<br />
não podia tal fazer,<br />
senão o vosso Pismão.<br />
Não sey q menos torpeza<br />
a vossa torpeza rara<br />
ache na noite mais clara,<br />
q na noite mais espeza<br />
tudo he foder á monteza,<br />
63.<br />
Ainda sujeito a revisões 16
e não tendes que dizer,<br />
replicar, nem defender,<br />
que aqui foy, e não aly<br />
por q ou seya aly, ou aqui,<br />
Slvestre tudo he foder.<br />
Se mudais de situacam<br />
não mais q por concluir<br />
q sempre anda a mentir<br />
vosso amigo foam;<br />
eu vos digo em concluzam<br />
que o tirardes a cazaqua<br />
e abaixarsevos a ataca<br />
como dis vosso parente<br />
tudo hé siinal evidente<br />
de q sois o Autor da cáca<br />
A serto advogado, que hindo buscar sua Dama<br />
achona ocupada com otro.<br />
Foy huó tnto amancebado<br />
de noite ao seu Pullanar<br />
foy por se descarregar,<br />
e sahio mais carregado.<br />
tinhanhe o leito ocupado<br />
outro mais madrugador<br />
e quando ovio o rumor<br />
de quem batia de fora,<br />
estava elle nessa hora<br />
batendo a porta de amor.<br />
Logo acabou de bater,<br />
e provendo pello tino<br />
q quem vinha hera huó minino<br />
jugou com elle a esconder<br />
Lá dentro se foy meter<br />
na ultima camarinha<br />
dando com Maricotinha,<br />
e Guimar mossas modernas,<br />
Ainda sujeito a revisões 17
deitouse entre quatro pernas<br />
e ficou muy de perninha<br />
Fizerão tanta galhofa<br />
as duas mal maridadas<br />
q ouvindo a tonto as rizadas<br />
se fy queimando das mofa<br />
entrou, e vendo na alcofa<br />
os tres de la vida ayrada<br />
arancou da sua espada<br />
e disse ao outro Alfaquy<br />
com esse descansso esta aqui,<br />
não o asusta huá estocada.<br />
o outro q hera má cam<br />
sem mudar de cabiçeira,<br />
não lhe falou de cadeira,<br />
respondeulhe de colcham<br />
enchendose de paicham<br />
q o tonto lhe ocazionou<br />
num pistollete pegou,<br />
e pondolho no focinho,<br />
lhe disse ande maganinho<br />
e elle en ves de andar voou.<br />
Prantou na sala a falua<br />
donde disse ao fanfarram<br />
saya para fora vallentam<br />
se he homem q eu estou na rua<br />
sahio com a espada nua<br />
e o outro na mesma ora<br />
saltou pella cama fora<br />
e chegando a porta ja<br />
lhe disse amanhã será<br />
que eu quero foder agora<br />
Fechou a porta, e n sentro<br />
disse entre quatro paredes<br />
64.<br />
Ainda sujeito a revisões 18
lá de fora dormiredes<br />
em quanto eu durmo qua dentro<br />
foisse como o bom coentro<br />
o tonto com leda cara<br />
e me dizem se gavara<br />
quando o cazo referira<br />
que posto que o não ferira<br />
ao menos o incurrallara<br />
O Copido encurralado<br />
vendose senhor do bollo<br />
rebollou como huó crioullo<br />
sobre o vazo amullatado<br />
e por q quis hir poupado<br />
ao duello do outro dia<br />
parou e a puta dezia<br />
fornique quanto quizer<br />
quefraco nunca hade ser,<br />
quanto he quem o dezafia<br />
Então com forças dobradas<br />
o mosso encendido em fogo<br />
se foy picando no jogo<br />
e foy dobrando as paradas<br />
a puta ouvindo as pancadas<br />
do fozil, e pedernal<br />
ficou de todo mortal<br />
vendo corer pella cama<br />
entre diluvios de chama<br />
incendios de radical.<br />
vinha amanheçendo ja<br />
quando elle vestido, e armado<br />
diga, (disse) ao seu letrado<br />
se acazo tomar por qua,<br />
que me busque, e me achará<br />
nos dezempenhos forsozos,<br />
65.<br />
Ainda sujeito a revisões 19
de cornos tão afrontozos<br />
sendo q não deve estar<br />
sentido de eu lhos prantar<br />
que a huó traydos dois aleyvozos.<br />
Se hé Pedro de malas artes<br />
que com tão sujos modilhos<br />
por comer a dois corrilhos,<br />
falla por ambas as partes<br />
e com tão infames artes<br />
vay recolhendo as maquias<br />
das partes todos os dias<br />
sayba q as come em má fée<br />
por q bom conhese q hé<br />
letrado de aleyvozias.<br />
Com isto se foy embora<br />
entendendo a cada passo<br />
q encontrava com o madrasso<br />
que o veyo esperar qua fora<br />
e se tão faco não fora,<br />
asim o havia de ser<br />
mas essa noite he de crer,<br />
que estaria no seu bec<br />
elle a engolir o sequo<br />
a puta a se correger.<br />
Acabado o disgostinho,<br />
mandouo a puta chamar<br />
que huo como não he dezar<br />
q a huó dstes mude o focinho<br />
veyo ella com todo o alinho,<br />
e elle embrabecido, e hirado<br />
lhe disse, he bem empregado<br />
depois de eu vender o mundo<br />
para comprar esse surdo<br />
tirarlho por mal comprado.<br />
66.<br />
Ainda sujeito a revisões 20
Ella diselhe huó dichote<br />
e o tontinho, ou asnial<br />
abrio a boca sem sal,<br />
e surriuse a meyo trote<br />
com huó, e outro rizote<br />
o pos ella tão virado<br />
que ficou logo asentado<br />
por huó artigo da pas,<br />
que ella ao outro machacas<br />
lhe mandase este recado.<br />
A esse magano dizey<br />
que eu não sou louca perene<br />
que troque huó Doutor chimene<br />
nem pello setro del Rey<br />
por que se huá ves errey,<br />
foy por huó serto respeyt;<br />
foylhe o recado direyto;<br />
com avizo de ante mam<br />
e dandos lhe ao asneiram,<br />
se deu por muy satisfato.<br />
A. P e Alves de Neiva dedicandoselhe huás<br />
concluzo~ens<br />
Digam os que argumentarão<br />
qual mais dezaforo indica<br />
quem as concluzoens dedica<br />
ou a quem se dedicaram<br />
se as terres q lhe gravaram,<br />
com tanta faquificencia<br />
ão são da sua ascendencia<br />
posto que dos Neivas são<br />
concedolhe a concluzam,<br />
mas negolhe a concequencia<br />
Concedo que aquelle escudo<br />
67.<br />
Ainda sujeito a revisões 21
com gravados torreõens,<br />
serão dos Neivas brazõens<br />
mas não de huó Neiva orilhudo<br />
que homem pode haver sezudo<br />
que vendo aquelle jumento<br />
não conclua o argumento<br />
de q os seus timores, e duellos<br />
não s«ao torres, são castellos<br />
porem castellos de vento.<br />
A Huó cavaleiro vilão<br />
estas armas lhe hande dar<br />
sobe escudo verde mar<br />
huó aquilhada, e huó podam<br />
item por q l+a em Moçam<br />
servindo na caza alhea<br />
foy lacayo da librea<br />
passa aqui de huó rossinante<br />
e lhe dam em campo brilhante<br />
huá almofassa, e huá pea.<br />
Pello torream guerreiro<br />
lhe vão em juridica forma<br />
na praya huá plataforma<br />
dando seja auguardenteyro;<br />
e por q vay a escudeiro<br />
por cazar com a indiana<br />
com dote de perssolana<br />
e enchoval de canequin<br />
lhe dão por armas emfim,<br />
huó chusso, e huó portazana.<br />
Dezaforo tão inssano<br />
sofreram outras naçõens<br />
huó magano, a outro magano<br />
e sendo huó costume lhano<br />
oferecer, e didicar<br />
ao Perllado, ao titullar,<br />
ao Principe, ao Monarca<br />
Ainda sujeito a revisões 22
se veja huá suja alparca<br />
em tão subido espaldar<br />
Mas em fin que lhe importou<br />
versse asim intronizado<br />
se tão vil he o dedicado,<br />
como quem lho dedicou<br />
tudo o diabo levou<br />
a honrra, e a didicatoria<br />
a honrra, tornousse escoria<br />
a didicatoria em mijo<br />
o brazil se vy de rijo<br />
e aqui pas, e depois gloria.<br />
A Huó Am te q em caza de huá Dama sahio<br />
descomposto<br />
Huó Samsão de Caramello<br />
quis a Dalida ofender,<br />
e ella pello enfraquecer<br />
lhe deitou fora o cabello<br />
elle vendose sem pello<br />
fraquejou na retirada<br />
de huó salto tomou a escada<br />
e por ser de levar as portas<br />
levou muita bofetada.<br />
O felisteu q lhas deu<br />
segundo elle signifiqua<br />
a may hera de Betica<br />
molher como huó Felisteu<br />
a bofetõens a cozeu<br />
e o pos como huó sal muhido<br />
mas elle está agradecid<br />
de trazer olhos na cara<br />
q ela dis lhos não tirara<br />
por ja lhos haver comido.<br />
Posto o mu Samsão na rua<br />
68.<br />
Ainda sujeito a revisões 23
por firmarse na estacada<br />
tomou de huó burra a queixada<br />
q otros dizem q hera sua<br />
com ella o contrario acua,<br />
mas não fes dano, nem mal<br />
por q afirma cada qual<br />
entre alvorosso, e sosurro<br />
quem livrou dos pés de huó burro<br />
mal morrera do queixal.<br />
Em fin foy prezo Samsão<br />
pellas mãons da Filistea<br />
não nos bofes cadea,<br />
nas tripas de huó torream;<br />
se ally o cabello lhe dam<br />
que perdeo na suja guerra<br />
jura Samsão, brama, e berra<br />
q em tornando a ver Betica<br />
se as collunas se lhe aplica<br />
q hade dar com ella em terra.<br />
A Huó letrado da B a a quem encaucharam<br />
na cabessa huá panella de merda dizendo ser<br />
de camarõens<br />
Estava o Doutor Gil Vaz<br />
a margem da livraria<br />
ignorando o q fazia<br />
e estudando o q não fas<br />
quando huá parte sagas<br />
lhe entrou com sertas questõens<br />
e ao pagarlhe as rezõens<br />
se transformou no bofete<br />
a panella em capacete<br />
e em camara os camarõens<br />
Huns camarõens em panella<br />
hera o mimo, e o prezente<br />
69.<br />
Ainda sujeito a revisões 24
q’ aquella parte inssolente<br />
levava ao Doutor Cabrella.<br />
elle arremessou a ella,<br />
mas mostroulhe o seu pecado<br />
q’ do officio de advogado<br />
donde estriva o seu sustento<br />
hera aquillo huó provimento<br />
pella camara passado.<br />
Porque da camara hera<br />
dis a parte q o levara<br />
que reverente o beijara<br />
e na cabeça o puzera.<br />
que a panella se escorrera<br />
e da cara enmascarrada<br />
sahira tal inchurrada<br />
que o Doutor nesta ocazião<br />
não cegou d princam<br />
ficou sego da privada.<br />
Deste sucesso infelis,<br />
log e a todo o correr,<br />
teve noticia a mulher<br />
por avizo do naris<br />
e posto que ver não quis<br />
tal cara com tal salmoyra<br />
q’ á afeya, e a desdoyra<br />
vio na cabelleira, e cara<br />
q adequada a tansformara<br />
mais suja porem mais loyra.<br />
Por evitar mayor perda<br />
agoa, agoa pedio logo<br />
senão p a tanto fogo<br />
agoa para tanta merda<br />
lavoulhe cabell, e serda<br />
lavoulhe ropa, e vestido<br />
o couro o tinha sentido<br />
70.<br />
Ainda sujeito a revisões 25
disse medroza a vilhaqua<br />
vedes vos toda esta caqua<br />
não me cheira bem marido.<br />
E por q mais agoa pede<br />
ella lhe disse isto basta<br />
por q esta merda he de casta<br />
q se mais bollem, mais fede<br />
hide p a a rua, e vede<br />
a rezam com q vos movo<br />
na istoria fazeis novo<br />
mostrayvos leve na perda<br />
por esta merda, foy merda<br />
de q gostou todo o povo.<br />
Justo hera q em tantos pleitos<br />
aparte lhe encomendase<br />
por q o pleito arezoasse<br />
que lhe tomase os seus feitos<br />
elle lhe dará tais geitos,<br />
que lhes ache rezão nova<br />
que quem tanto dezencova<br />
sem ver aresto, de aresto<br />
bem deste novo gesto<br />
lhe pode tirar a prova.<br />
A parte andou temeraria<br />
e com sobeja ouzadia,<br />
não faria valentia<br />
mas fes couza necessaria<br />
vos como grande alemaria<br />
no pleyto lhe deveis perda<br />
pois huó artigo o dezerda<br />
e elle ya pode agirmar<br />
quem me intentadezerdar,<br />
pella mesma boca merda.<br />
71.<br />
Ainda sujeito a revisões 26
Que hera de engenho notorio<br />
gdá grandissima sospeito<br />
pois deicha camara feita<br />
o q foy sempre escritorio.<br />
muday lgo o concistorio,<br />
como letrado de lampa<br />
q ja hoje o rizo escampa<br />
e dis a gente travessa<br />
q vos farieis a pessa,<br />
mas elle armouvos a trampa.<br />
Se vos não houve respeito<br />
q hé couza em q se repara<br />
nem á crus q está na cara,<br />
nem +a crus q anda no peito<br />
ao q prezumo, e suspito,<br />
he q nunca stá seguro<br />
de tanto cabumgo impuro<br />
cruzeiro em monturo achado,<br />
com q o vosso está cagado<br />
por crus posta no monturo.<br />
quem pos tal merda em tal capa<br />
tenho por ponto acentado,<br />
q morrera excommungado<br />
se não recorrer ao Papa.<br />
vos sois fidalgo de chapa<br />
desde o brazil á Europa<br />
pois quando a merda vos toca<br />
tanto fedeis que ao naris<br />
mosso da camara his,<br />
a mossa da guardarropa.<br />
A parte não andou lerda<br />
es em vir com a panella chea<br />
por q a min me coube meya<br />
panella, comeya merda<br />
não quis a fortuna esquerda<br />
q nos deu tão ná maré<br />
Ainda sujeito a revisões 27
dezigualarnos, mais que<br />
nos sentimentos prezentes<br />
q a tomastes entre dentes<br />
porem eu dei lhe de pée.<br />
Não temais q a parte luza<br />
por q leva a mõ ganhada<br />
q se elle fes panellad<br />
vos fizestes gatantuza.<br />
elle deu asumpto á meza<br />
que já dormia, e roncava<br />
pois quando agora acordava<br />
vio q pello triste cazo,<br />
the a fonte do Pamazo<br />
com tanta merda inundava<br />
A morte de huó cavallo de P do Alves de Neiva<br />
Pedralves não há alcançallo<br />
por q se não sabe delle<br />
se o cavallo o tinha a elle<br />
ou se elle tinha o cavallo<br />
mandou o tio comprallo<br />
por ver o seu Bejamin<br />
na charolla de huó setin<br />
mas depois de o ter comprado<br />
então ficou cavalgado<br />
o tio mais q o rossim.<br />
E por que hera o sendeiro<br />
huó pouco acavalhheirado<br />
se lhe pos caza e estado,<br />
dous pages, e huó escudeyro<br />
item papel, e tinteiro<br />
comfessor, e capellam<br />
dando veyo a ocaziam<br />
de todo o povo maluado<br />
dizer q o russo, queimado<br />
morrera muy bom christão.<br />
72.<br />
Ainda sujeito a revisões 28
Por não tomar algum vicio,<br />
hia elle, e o rossim<br />
ao campo a roer capim´<br />
fingindo q a exerciçio<br />
vendoo em tão alto officio<br />
hia com grande alvorosso<br />
marotage em huó trosso<br />
dizendo a poco intrevallo<br />
será homem de cavallo<br />
quem fo de cavallos mosso.<br />
Huá tard em q corria,<br />
eylo pellas ancas vay,<br />
q’ mt o se tambem cay<br />
qualquer santo no seu dia<br />
foy tão grande a curreria<br />
do rossim pello escampado<br />
que de huó monte acantilado<br />
rodou por jugar de lombo<br />
com q o russo q hera pombo<br />
desde então ficou rodado.<br />
Acudio Pedro á burrada<br />
e chegando a rezido,<br />
vio o cavallocahido,<br />
ficou sota desmayada<br />
mas a gente alli chegada<br />
lhe disse ao Senhor Balyo<br />
triunfe com vallor, e brio<br />
q se este perdido está,<br />
outro cavallo achará<br />
na baralha de seu tio.<br />
Elle então dessé a valla<br />
e dando avante dous passos<br />
tomou a cavallo nos brassos,<br />
e feslhe esta branda falla.<br />
73.<br />
Ainda sujeito a revisões 29
meu Russo, e minha cavalla<br />
meu carinho, e meu amor,<br />
pois fiquo em tamanha dor,<br />
horfam, e dezemparado,<br />
por não morrr mal curado,<br />
hordenayme huó curador<br />
Testay com sizo perene<br />
que huó testamento serrado<br />
or vos; e por mim ditado<br />
por forssa hade ser sollene<br />
não quero que vos condene<br />
algum Platonico astuto<br />
de q ao pagar do tributo<br />
podendo cm todo o alinho<br />
falecer como huó anginho<br />
acabastes como huó bruto<br />
O Russo wque hera entendido<br />
pouco menos q seu amo<br />
em ouvindo este reclamo<br />
surgio dando hum ay sentido;<br />
deu huó, deu otro gemido<br />
e dpois de escoissinhar<br />
disse, ainda estou devagar,<br />
ainda q a morte não queira<br />
q isto e acabar á carreira,<br />
e não a carreira acabar<br />
Isto disse o Rossinante<br />
e logo p a o curar<br />
tratou de o dezencovar<br />
huó, e outro sercunstante<br />
com cordas, e huó cobrestante,<br />
e inchadas p a cavallo,<br />
não podendo darlhe aballo,<br />
tão o trabalho se perde<br />
74.<br />
Ainda sujeito a revisões 30
por q hera cavallo verde<br />
sendo russo o tal cavallo<br />
Mas huó coadjutor Rizonho<br />
disse a tal dono tal gado<br />
que o cavallo he tão pezado<br />
quanto o dono hé enfadonho<br />
Pedralves como huó medronho<br />
córou, e ja de afrontado<br />
desconfiou como honrrado<br />
do coadjutor malhadeyro<br />
por q estava o seu sindeiro<br />
da cura desconfiado.<br />
Ex que com forssa e com arte<br />
a empuchóens do cabrestante<br />
foy sacado o rossinante<br />
da barroca a otra parte<br />
Pedralves em huó balvarte<br />
se pos, e a gente deteve<br />
dizendo m pratica breve,<br />
veme alguem puchar a min,<br />
pois hé q este meus rossin,<br />
nem Deus quero q molleve.<br />
Aqui o Russo hade jazer<br />
conforme o seu natural,<br />
que he Phillozelo moral,<br />
e no campo hademorrer<br />
quem teve q escarneçer,<br />
e quem teve q zombar;<br />
todos enfin a puchar,<br />
derão todo aquelle dia<br />
com o Russo na estribaria,<br />
e trataram d o curar.<br />
Ouve junto de Alveytares,<br />
e medicos de jumentos,<br />
75.<br />
Ainda sujeito a revisões 31
carregados de instromentos<br />
bellestilhas, e aziares<br />
item seringas aos ares<br />
unguentos, mechas, e tallo,<br />
e simples p a formallos<br />
todos remedios innanes,<br />
por q só p´s de Joanes<br />
he remedio de cavallos.<br />
Curouse emfin o frizam<br />
pellos mais exprimentados<br />
homéns bem intencionados<br />
pella primeira intençam<br />
mas sbre vindo huó febram<br />
de implicadas calidades<br />
em tantas calamidades<br />
quis Deos q não lhe aproveite<br />
nem das brotas o azeite,<br />
nem o vinagre dos frades.<br />
Pedralves num accidente<br />
fiado em seu privilegio,<br />
mandou pedir ao colegio<br />
huó osso do sol do Oriente,<br />
mas send ao Reytor prezente<br />
a casta do agonizante;<br />
direy, disse, a esse birbante<br />
q o santo a curar não presta<br />
o mal q elle tem de besta,<br />
nem o do seu Russinante.<br />
Com q o russo a peyorar<br />
as relliquias a não vir,<br />
Pedrálves a se afligir<br />
seu tio a se enfadar;<br />
o dinheiro a se gastar<br />
a caza a se aborrecer<br />
tanto veyo a suceder<br />
q om pezar não pequeno<br />
Ainda sujeito a revisões 32
em chegando ao catorzeno<br />
o russo veyo a morrer.<br />
A asistirlhe na agonia<br />
vieram sem q huá manque<br />
todas as bestas do tanque<br />
dos padres da Companhia,<br />
e huá que cantar sabia,<br />
hua fiçãm lhe cantu<br />
e quando ao versso chegou<br />
donde dis andantem me,<br />
russo entendeu huó pée,<br />
dou huó zurro, e espirou<br />
Ao tratar do enterramento<br />
ouve alguma dilaçam,<br />
por q Pedralves então<br />
cherava como huó jumento.<br />
mas aberto o testamento<br />
perante huó, e outro ouvinte<br />
se achou q morrera aos vinte,<br />
e testara aos vinte, e tres,<br />
e de tal anno, e tal mes<br />
e q dezia o seguinte.<br />
Meu corpo vá amortalhado<br />
no habito, e cocoetes,<br />
q’ tem meu amo entre asnetes<br />
de falar agongorado<br />
não o coma adro sagrado,<br />
q huó monturo bastará,<br />
sendo q tão magro está,<br />
de Hipocrates, e Anicenas,<br />
q vou recendo penas,<br />
p a huó bocado haverá.<br />
Item ao S r Marqués<br />
76.<br />
Ainda sujeito a revisões 33
em quem o céo ha juntado<br />
as ferezas de soldado<br />
ao carinho de cortes.<br />
pella merce q me fes<br />
de com tãojusta rezam<br />
suspender de capitam<br />
meu amor q fiqua em calma<br />
lhe passo pella sua alma,<br />
q o suspenda de asneyram<br />
meu amo instituo emfin<br />
por meu endeiro forssado<br />
e lhe deicho de contado<br />
a mangedoyra e o capim<br />
item lhe deicho o sellimn,<br />
q me pos de sarna gafo,<br />
e ja morro, e abafo,<br />
o meu bocado lhe deicho<br />
por q veja queix a queixo<br />
o q vay de bafo, a bafo.<br />
Não podendo alcansar huá de duas damas<br />
Dame amor a escolher<br />
de duas huma Demonia,<br />
ou ignacia, ou Apollonia,<br />
e, eu não me sey resolver<br />
a ambas quero querer<br />
por q depois de as lograr,<br />
mais facil será asertar<br />
q nos riscos da eleiçam<br />
o seguro, he lançar mão<br />
de tudo por não errar.<br />
Assim será mas que monta<br />
isto q fazer pertendo<br />
se diram q estou fazendo<br />
sem á hospeda esta conta<br />
77.<br />
Ainda sujeito a revisões 34
qual dellas será tão tonta,<br />
que se acomode aos dezayres<br />
de partir com seus pozares<br />
amor, asistencia, e tratos<br />
q as damas não são sapatos<br />
q se hajão de ter aos pares.<br />
Mas se debacho da lua<br />
não val mais esta q estotra<br />
eu não deicho huá por otra<br />
nem escolho otra por huá<br />
não há duvida nenhuma<br />
q ambas são mossas de porte<br />
e senão me estorva a morte<br />
ambas me hande vir a mão<br />
Ignacia pella eleyçam,<br />
Apollonia pella sorte.<br />
histo q remedio tem,<br />
seham entre si tão manas,<br />
q repartindo as somanas<br />
vá huá quando outra vem<br />
q eu repartirey tambem<br />
em paga deste favor<br />
gimbo, crinho, e vallor<br />
q sendo a logica o posto<br />
na arismetica do gosto<br />
pode repartirsse amor.<br />
A Andre Barboza queimandocelhe a caza<br />
o vicio da sodomia<br />
em Gomorra, e em Sedoma<br />
lavrava como carcoma<br />
e como trassa rohia<br />
quis Deos lanssalla em huó dia,<br />
e a lanssou de huó lansso só<br />
por q redozindoa em pó<br />
78.<br />
Ainda sujeito a revisões 35
a cidade, e sua gente,<br />
livrou do incendio somente,<br />
toda a família de Lot.<br />
Segundo Lot ao burlesco<br />
temos hoje emAndrezam,<br />
com sodomita, não<br />
como bebedor tudesco<br />
estava dormindo em freco<br />
e roncando a seu prazer<br />
p a a cachassa cozer,<br />
e por mais q a chossa arda,<br />
Deos lha defende, e resguarda,<br />
elle, famillia, e mulher<br />
O vulgo q he todo asnal<br />
tem este cazo orrorozo<br />
por prodigio milagrozo<br />
sendo couza natural<br />
por q tomando huó sendal,<br />
ou qualquer lensso molhado<br />
em agoardente enssopado<br />
se o fogo se lhe puzr,<br />
á agoardente hade arder,<br />
sem ser o lensso queimado.<br />
asim o nosso andrezam<br />
de geribita atacado,<br />
não podia ser queimado<br />
no fio do cazacam<br />
a palhossa ardeu então<br />
porem a pelle maldita<br />
seria couza esquezita<br />
q pudesse em fogo arder,<br />
por q a pelle vinha a ser,<br />
o lenço da geribita.<br />
E suposto está livrança<br />
entre Sedoma, e Todesco,<br />
Ainda sujeito a revisões 36
ou ha grande parentesco,<br />
ou muy grande semelhanca<br />
quem quizer com confianssa,<br />
entrar no fogo vehemente<br />
escuze o ser ignocente<br />
como os mosss do Psalmista,<br />
trate de ser flactivista,<br />
e bba muita agoardente.<br />
Lá no forno do Pombal<br />
villa do Conde vallido<br />
quando está mais encendido<br />
entra; prodigio fatal<br />
huó vellam de animo tal<br />
que dentro vira a fogossa<br />
com q todo o fogo embassa<br />
sem o misterio alcanssar,<br />
e eu agora venho a dar,<br />
q vay cheyo de vinhassa.<br />
E pois o nosso Andrezam<br />
leva o fogo de vencida,<br />
p a toda a sua vida,<br />
temos nelle huó borracham.<br />
e como hé asneiram<br />
en tudo tão material<br />
para huó descursso tal,<br />
q he beber, mais beber,<br />
hade escapar, e viver<br />
do Diluvio Universal.<br />
Enganasse o asneiram,<br />
por q no final juizo<br />
se hade acabar q hé preçizo<br />
vinho, vide, sepa, echam.<br />
tudo hade acabar entam<br />
e quando ache o guilhote<br />
escondido algum pipote<br />
79.<br />
Ainda sujeito a revisões 37
com hé tão geral á magoa<br />
por q morra darlheham agoa<br />
q he veneno de huó vinhote.<br />
Reverendo Fr. Antonio<br />
se vos der veneria fome<br />
A Huó frade q mandou pedir huó favor a<br />
huá Dama e ella lhe mandou huá panella<br />
de merda<br />
praza a Dos q Deos me tome<br />
como vos toma o demonio<br />
huá purga de antimonio<br />
devia o mossa tomar,<br />
quando ouve de vos mandar<br />
huó mim, e dá a entender,<br />
q ja vos ama, e vos quer,<br />
tanto com o seu cegar.<br />
fostevos muy de lampeiro,<br />
ge os maigos da cella<br />
ao miollo da panella<br />
e achastes huó camareiro<br />
metestes a mã primeiro<br />
do q vos dezenganaces<br />
e quis o demo q achasses<br />
cagalhõens q então sentistes<br />
por q aquillo q não vistes<br />
quis o demo q o cheirasses.<br />
A hora foy temeraria<br />
o cazo tremendo, e atrós,<br />
e essa merda para vós,<br />
senão sente he necessaria<br />
se a pessa he ordinaria<br />
eu de vós não tenho, dó<br />
e senão dizeyme hé pó,<br />
80.<br />
Ainda sujeito a revisões 38
mandarvos a ponto cru,<br />
a mossa prendar do cú,<br />
q tão vezinho hé do có.<br />
Se vos mandara primeiro<br />
o mijo em huó panellam<br />
não ficareis vos entam<br />
muy longe do mijadeiro.<br />
mas a huó frade malhadeiro<br />
sem Carreyra, nem Lacerda<br />
q não sente a sua perda<br />
sem descredito, ou dezar<br />
q havia a mossa mandar<br />
senão merda co mais merda.<br />
Dos cagalhõens afamados<br />
dis esta gente inimiga,<br />
q heram de ouro de má liga<br />
não dobrõens, senão dobrados.<br />
aos fradnhos esfaimados<br />
q abrindo a panella estão<br />
day por cabessahuó dobram<br />
e o mais, mandayo fechar,<br />
q por isso, e por guardar<br />
logo sereis guardião<br />
Se os cagalhõens são tão duros,<br />
tão gordos, tão bem dispostos,<br />
he por q hoje foram postos,<br />
e ainda não estam maduros<br />
repartam-se nos monturos<br />
q na inchurrada dos táes<br />
hé de crer q abrandem mais<br />
por q a mossa christanmente<br />
não quer q quebreis huó dente<br />
mas deseja q os comais<br />
A Fr. Thomas sensurando a Gl o Rovasco<br />
81.<br />
Ainda sujeito a revisões 39
quando diante da sua freira vomitou nochapeo<br />
Quem vos mete Fr. thomas,<br />
em julgar as mãons de amor<br />
falando de huó amador<br />
q pode darvos seis, e az<br />
sendo vos disso incapas,<br />
quem vos mete fr. tanquia<br />
a julgar se he maluazia<br />
o vomito q arrotastes<br />
se quando vos o julgastes<br />
vomitasts huá asnia.<br />
Sabeis por q vomitou<br />
aquelle amante em jegum<br />
lembroulhe vosso bodum,<br />
e a lembrança o injoou<br />
e por que conciderou<br />
q o tal bodum vomitado<br />
hera huó fedor refinado<br />
por não ver poluto huó céo,<br />
o cobrio com o seu chapeo,<br />
e encobrilho o fes honrrado<br />
Vos sois huó pontufo em banco<br />
mais occo, do q huótorrel<br />
e se estudais no burel<br />
entendereis de tamancos<br />
q as açõens dos homens brancos<br />
tão brancos como o foão<br />
não os julga huó mangalhão<br />
criado em huó oratorio<br />
julgador do refeitorio,<br />
q dá o novo guardiam.<br />
O q sabeis Fe Garrafa,<br />
hé a trassa e a maneyra<br />
82.<br />
Ainda sujeito a revisões 40
com q estafais huá freira<br />
dizendo q vos estafa<br />
vos sahis com a manga gafa<br />
de palangana, e tigella<br />
de ovos molles com canella<br />
e tão mal conrrespondeis,<br />
q esse tempo em q os comeis<br />
sam temporas para ella.<br />
Item sabeis tresladar<br />
falto de proprios concelhos<br />
de trezentos sermõens velhos<br />
huó sermão para prégar<br />
e como entre o pontear,<br />
e sergir obras alheas<br />
se enchergam vossas idéas<br />
mostrais pregando de falsso<br />
que sendo huó frade descalsso<br />
andais pregando de meyas<br />
E pois vossa reverencia<br />
quis ser julgador de nora,<br />
tenha paciençia agora<br />
se lhe tira a rezidencia<br />
e ainda q a minha clemencia<br />
se há com disimulacam<br />
livrese na Rellaçam<br />
dos cargos em q hé culpado<br />
ser glotam como huó capado,<br />
como huó bode fodincham.<br />
A fugida de Marianna Rolla estando prezo<br />
por hordem do Sur. Arcebisp<br />
Na gayolla Episcopal<br />
cahio sobre o pinguello<br />
huó passaro de cabello<br />
pouco mayor que huó pardal<br />
o passarinho Real<br />
Ainda sujeito a revisões 41
ou d lastima ou carinho<br />
ou ja por lhe dar coninho,<br />
brecha lhe abrio na gayolla,<br />
não quis mais a passarolla,<br />
foisse como huó passarinho<br />
Arrollinha q as amolla,<br />
zomba de quem se disvella<br />
por colher na esparrella,<br />
ou tomallo na gayolla<br />
não he passarinho a Rolla<br />
q no debil embarasso,<br />
caya de linha, ou sedasso,<br />
salvo huó mazullo naris,<br />
se lho poem por chamaris,<br />
q então cahirá no lasso.<br />
O Perllado tem jactancia<br />
de tornalla a reduzir,<br />
ojos q la vieram hir,<br />
não la veram mas en Francis<br />
que ella de instancia, em instancia,<br />
e de amigo, em amigam,<br />
asegura o cordovam<br />
por q he segura cautella<br />
q quem se prende com ella,<br />
a não da a otra prizam<br />
Quem nos mundo hade ter modos<br />
de prender a huá mulher,<br />
tão distintissima em prender,<br />
q de huó olhar prende a todos<br />
que Partos, medos, e Godos,<br />
que ministro, ou Regedor,<br />
a hade prender em rigor<br />
se ella aquelles q por leu<br />
prendem da parte del Rey,<br />
prende da parte de amor<br />
83.<br />
Ainda sujeito a revisões 42
A brites Barboza deitando huá galla.<br />
Toda a noyte me desvello<br />
por saber com que concelho<br />
p a meter de vermelho<br />
vos vestists de amaello<br />
não sabe o vosso donzello<br />
qual amante, ou quais amores<br />
vos deu a galla de lores<br />
por q asim como chamais<br />
p a a cama officiais<br />
p a a galla há coadjutores<br />
Como se fora o deitalla<br />
render huó forte eminente,<br />
andais ajuntando gente<br />
p a deitar huá galla<br />
em outra couza se não falla<br />
entre a gente que trazeis<br />
por q quando os convoqueis,<br />
e elles vos forem galando,<br />
mil gallos vos hirão dando,<br />
com q mil gallus tereis.<br />
De tanto amante sem conto,<br />
a galla haveis recebido<br />
q nos pontos do vestido,<br />
cabe a cada amante huó ponto<br />
não vos sinto outro desconto<br />
sendo a vossa obrigaçam<br />
tanta, quanto os pontos são<br />
se não q huó, a huó se afoyte,<br />
a hirsse pagando de noite<br />
nos pontos q se lhe dam.<br />
Não tendes que vos queichar<br />
destas minhas travessuras<br />
84.<br />
Ainda sujeito a revisões 43
por q em vos bato as escuras<br />
p a o vestido assentar<br />
se todos hande pragar<br />
em chegando a vos dormir<br />
deixay tambem repartir<br />
por min esta obrigaçam<br />
que os mais de vestir vos dam<br />
e eu vos corto de vestir.<br />
Aos cavalheyros q correrão na festa das onze mil<br />
virgens na cidade da B a<br />
Clorey nas festas passadas<br />
q as virgens são offerecidas<br />
ouve quadrilhas corridas,<br />
parentas de envergonhadas<br />
agora as vy tão realssadas<br />
neste anno redadeiro<br />
q na esfera do terreyro<br />
aparecia huó Brandam,<br />
q correndo exalaçam<br />
acabava cavalleyro.<br />
E os estas apariçõens<br />
de cometas tão luzidos<br />
nos miroens espavoridos,<br />
herão tudo admirssõens<br />
em maximas conjunssõens<br />
de ouro, e prata de cores,<br />
notey q os festejadores<br />
fazião com grassas sumas,<br />
no ar huo jardim de plumas,<br />
e na terra huó mar de flores.<br />
Sua Ex a asistia<br />
o Conde, e toda a Nobreza<br />
e os Padres por natureza<br />
lhe fazião companhia<br />
85.<br />
Ainda sujeito a revisões 44
estava sereno o dia,<br />
á espera toda anatada<br />
a agoa de mar estanhada,<br />
brando o verto lizongeiro,<br />
e com tudo no terreyro<br />
hove grande carneyrada.<br />
Emfim na festa paçada<br />
tão chea de cavalleyros,<br />
se a fizerão dos barbeyros,<br />
não sahira mais sangrada<br />
aly vi dar cutillada,<br />
q ó ventre todo decipa<br />
do bruto q a partecipa,<br />
e eu disse pasmado, e abssorto,<br />
q a Catana hera do Porto<br />
por brilhar sempre na tipa.<br />
Logo e na primeira entrada,<br />
ouve jogo de manilha<br />
q p a isso a quadrilha<br />
pello lindo hera pintada<br />
quem lhe dava huá encontrada,<br />
e quem na ponta a levava<br />
tudo então nos agravava,<br />
pois com forme o vy julgar<br />
aly entre dar, e tomar,<br />
pouca ventagem se dava.<br />
Cada qual sem mais tardança,<br />
á Dama a q mais se aplica<br />
levou na ponta da piqua<br />
o q ganhou pella lanssa<br />
athe o Padre estrelanssa,<br />
digo o conigo Gonçallo<br />
se logrou deste regallo,<br />
e eu so na baralha ingrata<br />
86.<br />
Ainda sujeito a revisões 45
não vy maninha de prata,<br />
que na de ouro ja não fallo.<br />
Ao Meyrinho generozo<br />
o dia franco, e escasso<br />
conceddeulhe o gallanasso<br />
recatandolhe o ditozo<br />
e visto q por ayrozo<br />
he o Adonis da quadrilha<br />
tudo se lhe rende, e humilha,<br />
dandolhe por q o conforte<br />
no Basto a primeira sorte<br />
q a segunda na Manilha.<br />
Barreto alheo do susto<br />
q não implica adestrado<br />
nem o forte áo aseado,<br />
nem o galan ao robusto<br />
luzimento a pouco custo<br />
bom ar sem affectassam<br />
foy jugando em concluzam<br />
que a destreza o não desvella<br />
pois sem cuidado na sella<br />
cahia no caprazam.<br />
Muito Euzebio se disvella<br />
em correr mais q ninguem<br />
e por correr sempre bem<br />
nunca se asentou na sella<br />
como hade asentarsse nella,<br />
se correr só pertendia<br />
tão propria mente a fazia<br />
q por estar, e correr<br />
não podem juntos caber,<br />
não se assentava, corria<br />
o valerozo Munis<br />
em galla, cavallo, e arreyo<br />
quanto ganhou pelo aceyo,<br />
Ainda sujeito a revisões 46
a perdeu pello infelis<br />
o que eu vy, e a terra diz<br />
he q de muito adestrdo<br />
andou tão aventejado,<br />
q á vos do Povo levou,<br />
com q desde então ficou<br />
o Povo mudo, e pasmado.<br />
Outro Munis valentam<br />
o fes tão prefeitamente<br />
q sendo em sangue parente,<br />
hera na destreza hirmão<br />
pello forte em concluzam<br />
deicho de sy tal memoria<br />
que por sua, e nossa gloria<br />
deihando aos mais em calma,<br />
fes pouco em levar a palma<br />
sendo filho da Vitoria.<br />
Do Borlantin a cavallo,<br />
dezia o Povo gostozo,<br />
q hera da festa o graciozo,<br />
e eu digo q hera o badallo<br />
quem chegar a ponderallo<br />
correndo sobre a ruçina<br />
revirar a colantrina,<br />
perniaberto para o ar,<br />
a q pode acomodar,<br />
mais q asino q se impina.<br />
Ao Araujo famozo<br />
no principio da carreyra<br />
resueloulhe a dianteira<br />
a cavallo de furiozo;<br />
cego, arrojado, e fogozo<br />
entre húns bayetas meteuse;<br />
quem sentado estava, ergueusse,<br />
porem o Baxel violento<br />
87.<br />
Ainda sujeito a revisões 47
como hia arrazado em vento,<br />
deu nuns bancos, e perdeusse<br />
Cahio o mosso infelis,<br />
ouve grita, e alarido<br />
sendo q cahio entendido,<br />
em tudo o que se lhe diz<br />
ergueusse em menos de huó triz<br />
e pondosse na vareda,<br />
correo com cara tão leda,<br />
q cauzou admiraçam<br />
em todos por q ja então<br />
tinha elle com todos queda.<br />
Huó sobrinho da frizão<br />
ao cheiro acudio dos patos,<br />
por q hé em publicos actos,<br />
muy ouzado huó patifam<br />
proza a redia em huó arpam<br />
nos estribos dous arpeos,<br />
pus eu os olhos nos céos<br />
e disse q bem podia<br />
louvar a Deos os q viam<br />
a cavallo huó louva a Deos.<br />
Huá aguilhada por lanssa<br />
trabalhava a meyo trote<br />
qual servo de D. Quichote<br />
a quem chamam Sancho Panssa<br />
na cara infame perneta<br />
e com tramoya secreta,<br />
hia sobre o seu jumento<br />
pello arreyo, e nacimento,<br />
a bastarda, e a gineta.<br />
Elle andou tão dezestrado,<br />
q p a darlhe sentido,<br />
a cavallo, hera o corrido,<br />
88.<br />
Ainda sujeito a revisões 48
elle o dezavergonhado.<br />
estava o frizam pasmado,<br />
de gost babando o freyo<br />
por ser da rezam alheo<br />
versse com tão pouco aballo<br />
não no senteyo o cavallo,<br />
mas no cavallo senteyo.<br />
A este filho universsal<br />
com tres pais, e tres padrastos<br />
todo vestido de emplastros<br />
se emprestado o mesmo val<br />
se se guia huó sigarral<br />
de quem tomaram modellos,<br />
p a a corcova os camellos,<br />
cuja perna dobradissa<br />
sempre á memoria me atissa<br />
da rua dos cotovellos.<br />
No minino Ascanio fallo,<br />
que o Pay Eneas ao murro,<br />
devendo de o por num burro,<br />
o deichou por a cavallo<br />
este minino hia ao gallo<br />
e encontrousse com a galhofa<br />
donde servia de mofa<br />
os dias q ali gastara,<br />
se huó brasso lhe não cebrara,<br />
e o mandara em huá alcofa.<br />
Lá vem o chiquo ás carreyras,<br />
dando esporadas crueis<br />
em huá solla de lambeis<br />
vestido de Bananeyras<br />
nas laranjadas primeiras<br />
teve tão adverssa estrella<br />
q cahio na esparrella<br />
89.<br />
Ainda sujeito a revisões 49
não como rolla em verdade<br />
por q a queda foy de frade<br />
pois logo agarrou a sella.<br />
As festas não deu desmayo,<br />
nenhúo destes entre mezes,<br />
q não ha ouro sem fezes<br />
nem comedia sem lacayo<br />
nenhúo destes entre mezes,<br />
q não ha ouro sem fezes<br />
nem comedia sem lacayo<br />
qualquer corréo como huó rayo<br />
e fes sua obrigaçam<br />
excepto o Boy do certam<br />
sendo que alguem lhe cobissa,<br />
e rezistir á justissa<br />
e dar com a força no cham<br />
o lindo Euxebio da Costa<br />
escrivão das onze mil,<br />
por asombrar o Brazil,<br />
fes tudo ja com mão posta<br />
com os passados deu á vosta,<br />
e excedeo a toda a ley<br />
e asim eu sempre direy,<br />
hoye, e en toda a ocazião<br />
q o ser por casta Reymão,<br />
lhe vem de ter mão de Rey.<br />
A Huó frade q se prezava de ter boa vos, boa,<br />
cara, e bom membro<br />
Ouve magano a vos deq m te canta<br />
em vos de dosses passos de garganta,<br />
amargos pardieyros de gasnate;<br />
ouve sujo alpercate<br />
as menturas vis de huó D. Quichote<br />
revestio em remendos de picote<br />
Homé dado de pós athe o fucinho<br />
Ainda sujeito a revisões 50
me persuado q hés frade Antoninho<br />
por Fr. Bazilio vas a S. Francisco,<br />
e tornas a entrar Fr. Bazalisco,<br />
pois q deichas á morte as putas todas,<br />
ou já pella má vista, ou pella fodas<br />
tu tens huó membralhas aventureyro,<br />
com q sahes cda trique ao terreyro<br />
a mantes arreytassos, e fodengas,<br />
com q as putas derrengas<br />
valhate e quem cuydara olho de alpiste,<br />
q seria o teu membro, o teu inriste<br />
gavaste q se morrem as Mullatas,<br />
por ti, e tens rezão pois tu as matas,<br />
a puro pespegar, e não de amores,<br />
ou de puros fedores<br />
q exalam porcalham as uas bragas,<br />
com q ou mata o mundo, ou o destragas<br />
dizemme q prezumes de tres partes<br />
e as de Pedro serão de mallas artes,<br />
boa vos, boa cara, e bom badallo,<br />
q hé parte de cavallo,<br />
q partes podes ter villam agreste,<br />
se não sabes a parte em q naceste<br />
vestido de burel huó saluajolla,<br />
q partes pode ter (de mariolla)<br />
quando a todo he suor, e porcaria,<br />
a parte que seria,<br />
cada parte bodum, catinga, e todos,<br />
q est as partes são dos frades todos<br />
não te esvaesa andarte a puta ao rabo,<br />
q Joanna Lopes dormia com o diabo<br />
e posto q Izabel tão bem forniques,<br />
q hé mossa de alfiniques<br />
supoem q tinha então faminta a golla,<br />
q te quis mamar o pam da esmolla<br />
não ham mister as outas gentilezas,<br />
q arto abundancia tem de bonitezas<br />
90.<br />
Ainda sujeito a revisões <strong>51</strong>
o q querem, he dinheiro,<br />
e se as cavalgas tu pobre sindeyro,<br />
hé por q dando esmollas em ofertorio,<br />
quando pespegas geme o refeitorio<br />
prezaste de galan, bonito, e pulcro,<br />
e os federes da boca, hé huó supulcro<br />
a caéns mortos te fede a dentadura;<br />
e se há puta q te atura,<br />
tais alentos, de boca, ou de trazeiro,<br />
hé por q a inssensas com dinheyro<br />
o habito levantas no paceyo<br />
e cuidas q está nisso o galanteyo,<br />
mostras a perna muy lavada, e inchuta,<br />
sendo manha de puta<br />
erguer a saya por mostrar as pernas,<br />
com q hes hema podita nas cavernas<br />
tu hes filho de huó sastre de bainhas,<br />
e deitas mt o mal as tuas linhas,<br />
pois quando fidalgam te significas<br />
a ti mesmo te picas,<br />
e dando pontos em groseiro pano,<br />
mostra pella entretella q hes magano<br />
terna em teu sizo louco Durandarte,<br />
se algum dia tiveste a q tornarte<br />
teme a Deos, q en tão louco dezatino,<br />
de algum seleste signo,<br />
hey medo q huó badallo te despessa,<br />
e te rompa a abaça, ou a cabeça<br />
e se hes frade louva ao S. Patriarca,<br />
q te sofre calsarlhe a sua alparca<br />
que juro a tal, q se ao seculo tornaras,<br />
nem ainda te fartaras<br />
de ser huó tapanhuno de carretos,<br />
por não diizer mariolla aonde ha pretos<br />
Retrato ao Governado q Foy da Bahia Ant o<br />
de Souza de Menezes o Brasso de Prata<br />
91.<br />
Ainda sujeito a revisões 52
O não te espantes, não D. notomia<br />
que se atreva a Bahia<br />
com espremida vos, em sequo estio,<br />
canta ao Mundo teu rico feitio;<br />
que he ja velho em poetas elegantes<br />
o cahir em torpezas semelhantes<br />
da pulga acho q Ouvidio tem ja escrito,<br />
Luciano do Mosquito,<br />
das Rãns Homero e destes não me prezo,<br />
q escreverão materias de mais pezo,<br />
do q eu q canto couza mais delgada,<br />
mais chata, mais sutil, mais emagada<br />
quando dezembarcaste da fragata,<br />
meu D. Braço de Prata<br />
cuydey q a esta cidade tonta, e fatua<br />
mandava a inquissiçam alguá estatua,<br />
vendo tão espremido salvajolla<br />
vizam de palha sobre huó mariolla<br />
o rosto de azarcam afuguiado,<br />
e em partes mal untado<br />
tão cheo o corpazil de gudilhõens<br />
que o julguey por huó saquode melhóens.<br />
vite o brasso pendente da garganta<br />
e nunca prata vi com liga tanta<br />
o bigode fanado posto ao ferro,<br />
esta aly num desterro,<br />
e cada pello em sulidam tão raza,<br />
q pareçe hermitão da tua caza<br />
da cabileyra afirmarão cegos,<br />
q a mandastes comprar ao arco dos pregos<br />
olhos cagõens que cagam sempre a porta,<br />
me tem esta alma abssorta<br />
principalm te vendolhe as vidrassas,<br />
nos groceyros cayxilhos das courassas<br />
cangalhas q formarão luminozas,<br />
em dous arcos de pipa duas ventozas<br />
de mt o cego (não de bem querer)<br />
a ninguem podes ver,<br />
92.<br />
Ainda sujeito a revisões 53
tão cego q não ves teu prejuizo<br />
cendo couza q se olha com juizo<br />
tu es mais cego do q eu que te sussurro,<br />
q em te olhando não vejo mais huó burro<br />
chato o naris de cocaras sempre posto,<br />
te corre todo o rosto,<br />
de gatinhas buscando algum jazigo,<br />
donde odes conheçam por embigo<br />
the q se esconde donde mal o vejo,<br />
por fugir ao fedor do teu bocejo<br />
faslhe tal vizinhança a tua boca;<br />
q com rezão não pouca<br />
o naris se recolhe p a o sentro<br />
mudado p a os baxos lá de dentro<br />
e se ergue logo vendo a baforada,<br />
lhe fiqua a ponta aly logo engasgada<br />
pernas e pés defendem tua cara,<br />
valhate! e quem cuidara.<br />
tomandote a medida das cavernas,<br />
se movesse tal corpo com tais pernas<br />
cuydey q heras ruein das Alpujarras,<br />
e ja frizão te julgo pellas garras<br />
Huó cazaquam trazias sobre o couro,<br />
qual odre a quem o touro,<br />
huá, e otra cornada deu traidora<br />
e lhe deitou de todo o vento fora<br />
Tal vinha o teu vestido de enrrugado,<br />
q o julguey por odre esfuracado<br />
na esquerda mão trazias a bengalla,<br />
ou por força, ou por galla<br />
no sovaco as vezes a metias,<br />
só por fazer infindas cortezias<br />
tirando ao Povo quando te destapas,<br />
entonces o chapeo, agora as capas<br />
os que te vem ser todo rabadilha,<br />
dirão que te perfilha<br />
huá quaresma chato porsovejo<br />
93.<br />
Ainda sujeito a revisões 54
por arenque de fumo, ou por badejo<br />
sem carne, e osso, q m ha ahi q crea,<br />
senão q és dessendeente de lamprea<br />
livrete Deos de huó sapateiro, ou sastre,<br />
que temo algum dezastre,<br />
e hé q por sovella, ou por agulha,<br />
armen sobre levarte, ou por alguma bulha<br />
por q depozitandote a justiça,<br />
sera num agulheiro, ou em cortissa<br />
fundiase a cidade em garalhadas,<br />
vendo as duas entradas,<br />
q fizeste o mar a S. Ignacio,<br />
e depois do colegio, a Palacio;<br />
com rabo erguido em cortezias mudas<br />
como quem pllo cú tomava ajudas<br />
ao teu palacio te acolheste e logo<br />
caza armaste de jogo,<br />
ordenando as merendas por tal geito<br />
q a cada jugador se da huó confeito<br />
dos tafus huó confeito hera huó bocado,<br />
sendo tu pella caza o enforcado<br />
depois deste em fazer tanta porvoisse,<br />
q inda q o povo risse,<br />
ao prencipio; creceo depois a tanto<br />
q chegou a chorar com triste pranto<br />
chorase nú, de huó Robadoir de falsso,<br />
e vendote eu de rizo me descalsso;<br />
chingate o negr, o branco te pragueja<br />
e a ti nada te aleja<br />
e por teu sem sabor, e pouca grassa<br />
hes fabulla do lar, rizo da Prassa,<br />
the a balla q o brasso te levara,<br />
venha segunda ves buscarte a cara.<br />
Ao comfessor do Arcebispo da Bahia<br />
Eu q me não sey callar<br />
mas antes tenho gram mingoa<br />
não purgasse qualquer lingoa<br />
Ainda sujeito a revisões 55
a risco de arebentar<br />
vos quero amigo contar,<br />
pois sois o meu sacretario<br />
huó sucesso temerario<br />
huó cazo tremendo, e atrós,<br />
porem fique aqui entre nos.<br />
Confessor á Sevirita<br />
que ao ladram do confessado<br />
não só lhe abssolve o pecado,<br />
mas os furtos lhe alcovita,<br />
do Procurssor da vizita<br />
que na vanguarda marchando<br />
vay pedindo e vay tirando,<br />
o demo hade ser algos,<br />
porem fique aqui entrenos.<br />
O ladronosso em rigor,<br />
não tem p a que dizer<br />
furtos que antes de os fazer,<br />
ja os sabe o confessor<br />
calaos por ouvir milhor<br />
pois com o officio alternado<br />
confessor, e confessado<br />
aly se barbeam sos,<br />
porem fique aqui entre nós.<br />
Aly o ladram se concente<br />
sem castigo, e com escuza<br />
pois do mesmo que se acuza<br />
he o confessor delinquente<br />
ambos altrnadamente<br />
huó ao outro e outro a huó<br />
o pecado q he comun<br />
comfessa em comua vos<br />
porem fique aqui entre nos.<br />
Huó e outro a mor cautella<br />
94.<br />
Ainda sujeito a revisões 56
vem a ser neste inçidente<br />
confessor, e penitnte,<br />
por q fique ella por ella<br />
o Demo em tanta mazella,<br />
desfas só por q facais<br />
e absolve, por q absolvais<br />
pacto, imunidade atrós,<br />
porem fique aqui entre nos<br />
Não se dá a este ladram<br />
penitencia em cazo algum,<br />
e sómente em huó jejum<br />
se lhe tira a colocam<br />
elle estará como huó cam,<br />
de levar a bofetada<br />
mas na cara ladrilhada<br />
emmenda o pejo não pos,<br />
porem fique aqui entre nos.<br />
De tal confessor me abisma,<br />
q relleve, e não se ofenda,<br />
q huó frade sagrado venda,<br />
o sagrado oleo da chrisma<br />
por dinheiro a gente chrisma<br />
não por sera havendo queixa,<br />
q nem á da orelha deicha<br />
donde chrismando a mão pos,<br />
porem fique aqui entre nos.<br />
Que em toda a franciscana<br />
não ache huó mao ladram<br />
quem o oussa de confiçam<br />
senão huó padre da Apanhia,<br />
isto amigo he simpatia,<br />
e he q lhe veyo a pello<br />
q huó vá atando no orello<br />
o q outro mete no cos,<br />
95.<br />
Ainda sujeito a revisões 57
porem fique aqui entre nos<br />
Que tanta culpa mortal,<br />
se abssolva, não perco o tino,<br />
pois abssolve hu tiatin,<br />
peccados de pedra, e cal<br />
que vinha conventual<br />
dará a huá filha q bate<br />
condenando o dote, e date<br />
vem a darlhe o pam, e arros,<br />
porem fique aqui entre nos.<br />
As freiras com tantas sedes,<br />
sam condenadas em pedra,<br />
quando o ladronasso medra<br />
roubando pedra, e paredes<br />
vos amigo que isto vdes<br />
deveis a Deos graças dar<br />
por que vos fes sicular,<br />
e não zote de albernos<br />
porem fique aqui entre nos.<br />
Huó vendilham bax, e vil,<br />
de cornos pos huma tenda,<br />
e confiado em q os venda,<br />
corre por todo o Brazil;<br />
p a min de tantos mil<br />
lhe mandei q me quardasse<br />
se verdade não fallaçe<br />
sem soberno, e com sejomo,<br />
Huó corno.<br />
P a o Alcayde ladram<br />
com despejo, e sem temor<br />
q na mão leva o Doutor,<br />
na barriga a Rellaçam,<br />
hindo a caza de huó Samsão,<br />
Destribuissam a varios sugeitos<br />
96.<br />
Ainda sujeito a revisões 58
entre andax, e confiado<br />
e converssa no estrado<br />
da mulher com sus adornos,<br />
dous cornos.<br />
P a o escrivam falçario<br />
q sem chegarlhe á pouzada<br />
da a parte por citada,<br />
e da fée cobra o selario<br />
e sendo feit ordinario,<br />
como corre a reveria,<br />
sahe a sentenssa em huó dia<br />
mais amarga q piornos<br />
tres cornos.<br />
P a julgador o rate<br />
ignorante e famfarram<br />
q sem ser conde de Unham<br />
ja quer ser Marqués de Unhate<br />
e por qualquer doute, ou date,<br />
revolve do inués huó feito,<br />
e assola a torto, e a direyto,<br />
a cidade, e seus contornos<br />
quatro cornos<br />
P a o Judas Macabeu<br />
que por q no tribo estriba<br />
faz de capitam escriba,<br />
e de escrina farizeu<br />
pois no officio se meteu,<br />
a efeito só de comer<br />
syfrgio, q em ves de os cre<br />
quer antes arder em fornos<br />
sinco cornos.<br />
P a o bebado mestisso,<br />
e fidalgo atravessado<br />
97.<br />
Ainda sujeito a revisões 59
que tendo o pernil tortado,<br />
cuida q hé branco castisso<br />
e de flactos emfermisso<br />
se ataca de geribita<br />
crendo q os flactos lhe quita<br />
quando os vomita em retornos<br />
seis cornos<br />
P a conigo absservante<br />
tdo o dia, e toda a hora,<br />
cuja carne he pecadora<br />
das completas por diante<br />
cara de dessiplinante<br />
queixadas de penitente<br />
e qualquer gimbo corrente<br />
serve p a seus sobornos<br />
sete cornos<br />
P a as damas da cidade<br />
brancs, Mullatas, e pretas,<br />
q com artes, e com tretas<br />
roubam toda a liberdade<br />
quivocando a verdade<br />
dizem q sam huó feitiço<br />
não o tendo em cortisso<br />
tanto como em caldos mornos,<br />
oito cornos.<br />
P a o frade comfessor<br />
que ouvindo huó pecador orrendo<br />
se vay pasmado benzendo,<br />
fogindo do pecador<br />
e sendo talves pior<br />
do q eu; não quer absolverme<br />
tal ves por q enveja verme<br />
com tão torper dezadornos<br />
nove cornos.<br />
P a o Pregador horrendo,<br />
q’ a igreja entende os seus ditos,<br />
Ainda sujeito a revisões 60
nem eu tam pouco os entendo<br />
e a vida q está vivendo<br />
hé lá por outra medida<br />
e a min me quiza huá vida<br />
mais apertada q tornos<br />
Des cornos<br />
P a o santo da Bahia<br />
que mormura do meu versso<br />
sendo elle tão preversso,<br />
q a saber fazer; faria<br />
e quando a minha Thalia<br />
lhe chega as mãons, e ouvidos<br />
fas na cidade alaridos,<br />
e vay gostallo aos contornos<br />
mil cornos<br />
A Lourenço Ribeyro clerigo Mullato, e Pegador<br />
Huó branco mt o encolhido<br />
huó Mullato mt o ouzado<br />
huó canás todo atrevido<br />
no saber mt o abatido<br />
nos siencias ignorante<br />
muy ufano, e muy farfante<br />
sem pena, ou contradiçam<br />
milagres do Brazil são<br />
Que Huó com revestido em Padre<br />
por culpa da Santa Sée<br />
seja tão ouzado que;<br />
contra huó branco honrrado ladre.<br />
e que esta ouzadia quadre,<br />
ao cortezão, ao senhor<br />
ao Bispo, no Governador,<br />
tendo Náos, e Maranham,<br />
milagres do Brazil são.<br />
98.<br />
Ainda sujeito a revisões 61
Se etc tal podengo asneyro,<br />
o Pay desvançe yá<br />
a may lhe lembro q esta<br />
roento em huó tamueyro<br />
que importa huó branco cueiro,<br />
se o cú hé tão denegrido,<br />
mas se no misto sentido<br />
s lhe esconde a negridam<br />
milagres do Brazil sam.<br />
Prego o Perro frandulario,<br />
e como a licenssa o cegua,<br />
cuida q em pulpito prega,<br />
e ladra em huó companario,<br />
vão ouvillo de ordinario,<br />
tias, e tios do Congo,<br />
e se suando o mondongo,<br />
elles só o govo lhe dam<br />
milagres do Brazil são.<br />
Que hade pregar o cachorro,<br />
sendo huá vil criatura<br />
q não sabe de escritura<br />
mais q aquella q o pos forro<br />
quem lhe da ajuda, ou socorro,<br />
são quatro sermõens antigos,<br />
que lhe vam dando os amigos<br />
e se amigos tem huó cam<br />
milagres do Brazil sam.<br />
Huó cam hé o timbre mayor,<br />
da hordem Predicatoria<br />
mas não acho em toda a historia<br />
q huó com fosse Pregador<br />
nunca falta huá bom senhr,<br />
q lhe alcansse esta licenssa<br />
ao Lourenço por Lourença<br />
99.<br />
Ainda sujeito a revisões 62
q as pardas tudo farám<br />
milagres do Brazil sam.<br />
Em vossos quer dar penada<br />
e porque o genio desbroche,<br />
como he cam a toxe, moxe,<br />
mete a unha, e dá dentada<br />
o perro não sabe nada<br />
e se com pouca vergonha<br />
tudo abate por que sonha<br />
que sabe alguma questam,<br />
milagres do Brazil são.<br />
Do perro afirmão Doutores<br />
que fes huá Apologia<br />
ao mestre da Thiologia,<br />
outra ao sol dos Pregadores<br />
se da lua aos resplendores<br />
late huó cam a noite inteira<br />
e ella seguindo a careira<br />
lus com mais ostentaçam,<br />
milagres do brazil sam.<br />
Que vos direy do Mullato,<br />
que vos não tenha ja dito<br />
se será amanhã dilicto<br />
falar delle sem recato<br />
não faltará huó mentecapto,<br />
que como villam de encerro<br />
sinta que dem no seu perro<br />
e se ponha como huó cam<br />
milagres do brazil sam.<br />
Imaginais q o incenssato<br />
do canzaram fala tanto,<br />
por q sabe tanto, ou quanto,<br />
não senão porq he Mullato.<br />
ter sangue de carrapato<br />
<strong>100</strong>.<br />
Ainda sujeito a revisões 63
seu estoraque de Congo<br />
cheirarlhe a ropo a mondongo,<br />
he sifra de perfeicam<br />
milagres do Brazil sam.<br />
Ainda sujeito a revisões 64