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Lilian Jacoto (Universidade de São Paulo) - Universidade do Minho

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VI Congresso Nacional Associação Portuguesa <strong>de</strong> Literatura Comparada /<br />

X Colóquio <strong>de</strong> Outono Comemorativo das Vanguardas – <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Minho</strong> 2009/2010<br />

que, então não se ia embora então, <strong>de</strong> toda vez, o caduco maluco estafermo,<br />

espantalho? Sábio, se<strong>de</strong>ntaria<strong>do</strong>, queria que progredissem e não se per<strong>de</strong>ssem, vigiava-<br />

os, <strong>de</strong> graça ainda administrava-os, <strong>de</strong>les gestor, capataz, ren<strong>de</strong>iro. Serviam-no, ainda e<br />

mesmo assim. Mas, <strong>de</strong>certo, milenar e animalmente, o odiavam. (I<strong>de</strong>m, 80-81)<br />

A autenticida<strong>de</strong> da personagem, advinda sobretu<strong>do</strong> da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> conta,<br />

isto é, <strong>de</strong> envolver-se <strong>de</strong> forma lúdica com as contingências da vida, sem a<strong>de</strong>rir a elas <strong>de</strong><br />

maneira <strong>de</strong>finitiva, é o que o habilita a tomar para si a responsabilida<strong>de</strong> da li<strong>de</strong>rança: ele <strong>do</strong>a<br />

suas terras, mas zela pelo bom aproveitamento <strong>de</strong>sse <strong>do</strong>m. A ação <strong>de</strong> Tio Man’Antônio<br />

<strong>de</strong>screve um ethos estóico: ele confia na virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse discernimento para fazer a escolha certa,<br />

no momento oportuno: “ele era um que sabia abanar a cabeça, que não, que sim.” (I<strong>de</strong>m,76-77)<br />

Não é outra a razão que explica a “adivinhação” <strong>do</strong> bom investimento - ele profetizara a subida<br />

<strong>de</strong> preço <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, ultrapassou pela antevisão a concorrência, enriqueceu fazen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> conta...<br />

Tio Man’Antônio é, em tu<strong>do</strong>, um gran<strong>de</strong> joga<strong>do</strong>r. A consciência <strong>de</strong> que tu<strong>do</strong> (inclusive o<br />

sujeito) é transitório, é o que lhe fundamenta o discernimento e as <strong>de</strong>cisões. É também o que o<br />

<strong>do</strong>ta da simbólica “circunvisão”, o que o coloca sua casa no ponto mais eleva<strong>do</strong> da montanha,<br />

on<strong>de</strong> se fixa no fim da vida, para <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>saparecerem, casa e sujeito, nas cinzas, e<br />

confundirem-se finalmente com a terra. A virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber buscar o bem e repelir corretamente<br />

as coisas <strong>de</strong> somenos se <strong>de</strong>monstra no gesto seu corriqueiro: “mesmo em seu mais costumeiro<br />

gesto - que era o <strong>de</strong> como se largasse tu<strong>do</strong> <strong>de</strong> suas mãos, qualquer objeto. Distraí<strong>do</strong>, porém,<br />

acarinhan<strong>do</strong>-as, redimia-as, <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>, as coisas comezinhas.” (I<strong>de</strong>m,78) Há nele,<br />

portanto, uma comoção da matéria, que a redime, mas não a coloca <strong>de</strong>ntre as priorida<strong>de</strong>s da<br />

vida. Fazer <strong>de</strong> conta era enfim a sua artimanha <strong>do</strong> bem-viver: “porque fazia ou sofria as coisas,<br />

sem parar, mas não estava, <strong>de</strong>ntro em sua mente, em tu<strong>do</strong> e nada ocupa<strong>do</strong>” (I<strong>de</strong>m,77)<br />

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