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Sara Martins Rissato - Universidade Presbiteriana Mackenzie : Index

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MADONNA: UM PAINÉL DE EXPERIÊNCIAS HUMANAS<br />

<strong>Sara</strong> <strong>Martins</strong> <strong>Rissato</strong> (IC) e Martin César Feijó (Orientador)<br />

Apoio: PIBIC <strong>Mackenzie</strong><br />

Resumo<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

Este artigo tem como objetivo fazer uma análise de imagem a fim de ajudar na conscientização do<br />

contexto autodestrutivo que a humanidade moderna está inserida. Tudo o que nos rodeia é<br />

descartável, inclusive a própria cultura. O objeto de estudo do artigo será cinco fotografias do<br />

ícone/mito Madonna que visa responder os seguintes questionamentos: Se tudo o que nos rodeia é<br />

efêmero, o que fazer para evitar a passividade total do homem? E também, durante os últimos 27<br />

anos Madonna vem arrastando verdadeiras multidões de fãs. Por quê? As imagens procuram<br />

preencher um vazio existencial causado pela modernidade, quando aprendemos a analisá-las de<br />

forma crítica ficamos menos vulneráveis a manipulação da indústria cultural. Essas fotografias<br />

retratam facetas verdadeiras da mesma pessoa, por mais que por trás de todas elas esteja uma forte<br />

campanha publicitária, veremos no artigo que todas as imagens constituem a nossa realidade, elas<br />

constroem tudo aquilo que causa estímulos em nós, portanto não importa se é verdadeira ou não,<br />

cada imagem selecionada provocará um processo de identificação/projeção.<br />

Palavras-chave: Madonna; imagem; fotografia; indústria cultural; publicidade; celebridade;<br />

ícone/mito.<br />

Abstract<br />

This article will help in the awareness of self-destructive context that modern humanity is inserted.<br />

Everything around us is disposable, including our own culture. The object of the article will be five<br />

photographs of the icon / myth Madonna that seeks to answer the following questions: If everything<br />

that surrounds us is ephemeral, what to do to avoid total passivity of man? Also, during the last 27<br />

years Madonna has been dragging real crowds of fans. Why? The images seek to fill an existential<br />

void caused by modernity, as we learn to analyze them critically we become less vulnerable to<br />

manipulation of the culture industry. These photographs depict true facets of the same person. For<br />

more than that behind them all is a strong advertising campaign, we’ll see that all images are parts of<br />

our reality. They cause reactions, so whether it is true or not, each selected image will cause a<br />

process of identification / projection on us.<br />

Key-words: Madonna; image; photography; culture industry; publicity; celebrity; icon / myth.<br />

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Introdução<br />

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

A história conhece muitos períodos de tempos luminosos, em que âmbitos públicos<br />

brilharam e o mundo se tornou tão claro que as pessoas se entregaram completamente para<br />

as novidades do momento. Os que viveram em tempos tais, e neles se formaram,<br />

provavelmente sempre se inclinaram a ser otimista em relação ao mundo e o âmbito público,<br />

a viver o máximo possível, ultrapassando os limites a fim de fazer parte das novas<br />

transformações – como se o mundo fosse um lindo cenário para novas atuações – em tais<br />

tempos desenvolve-se um tipo específico de humanidade. Para avaliar adequadamente<br />

suas possibilidades, pensemos apenas em Nathan, o Sábio, cujo verdadeiro tema – “Basta<br />

ser um homem”, (ou uma mulher) – permeia a peça. Madonna viveu em um desses tais<br />

tempos, acompanhou de perto as mudanças da sociedade. O nascimento de uma nova era<br />

a qual foi dada a partida na década de 50 e culminou com as décadas de 70 e 80. Madonna,<br />

uma mulher em tempos luminosos.<br />

Durante os últimos 25 anos Madonna vem arrastando verdadeiras multidões de fãs. Por<br />

quê? Vivemos numa sociedade contemporânea na qual a cultura de massa ainda prevalece.<br />

Essa cultura, entre outros aspectos, baseia-se nas imagens, logo, essa sociedade passa a<br />

viver delas. Como afirmam Adriana Bittencourt e Fernando Oliveira: “A sociedade torna-se<br />

moderna quando uma de suas principais atividades é produzir e consumir imagens. Eis que<br />

elas passam a influenciar/determinar as crenças dos indivíduos” (BITTENCOURT;<br />

OLIVEIRA, 2006, p.133). Se antigamente as pessoas baseavam seu imaginário em ritos<br />

religiosos, deuses da mitologia agora são as imagens dos chamados ícones/mitos que<br />

ocupam o lugar mais alto do pedestal. Contudo essa cultura é um paradoxo, por mais que<br />

seja padronizada, necessita de unidades individualizadas e arquétipos para que haja uma<br />

estruturação no imaginário das pessoas, a fim de “brincar” com o que é real e o que é<br />

imaginário. “[...] quanto mais a indústria cultural se desenvolve mais ela apela para a<br />

individualização, mas tende também a padronizar essa individualização” (MORIN, 1984, p.<br />

31).<br />

A quantidade de imagens na vida de Madonna infelizmente é superior ao que esta iniciação<br />

científica pode comportar, por isso coube a mim a quase impossível tarefa de escolher<br />

dentre dezenas, cinco imagens das quais a meu ver foram as mais impactantes e<br />

significantes para alcançar os objetivos propostos anteriormente. Essas cinco imagens que<br />

denominei de Ousada, Humanizada, Provocante, Dura na Queda e 50 Anos foram<br />

materializadas em fotografias selecionadas aleatoriamente, mas que expressam claramente<br />

o objeto da pesquisa em questão. Como nos ditos de Edgar Morin, “o espectador<br />

tipicamente moderno é aquele que se devota as imagens em plano aproximado, mas ao<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

mesmo tempo numa impalpável distância; mesmo o que está mais próximo está<br />

infinitamente distante da imagem.” (MORIN, 1984, p.70)<br />

Uma imagem, tanto faz se for um desenho de uma criança, fotografia, filme, uma pintura,<br />

passam uma mensagem, tem alguma significação, sentido tanto para quem a esta<br />

produzindo como para quem a esta recebendo e a reconhece, ou seja, cada indivíduo irá<br />

perceber uma imagem através do contato cultural e com suas leis particulares.<br />

A construção da imagem de alguém com fotografias significa tentar criar associações entre<br />

a pessoa e o mundo no qual ela se insere, a fim de atribuir qualidades e/ou defeitos<br />

socioculturais. Afinal se repararmos uma imagem pode remeter a tudo e também ao<br />

contrário, utilizando nosso objeto Madonna como exemplo, as suas imagens tantos fixas<br />

como animadas misturam o profano com o sagrado, a mulher madura pulando corda como<br />

criança, isso não diminui o poder da imagem muito pelo contrário aumenta a complexidade<br />

do objeto, já que levanta no mínimo dois pontos de vista opostos, além de cada uma delas<br />

possuir suas especificidades quanto às mensagens e sentidos que desejam passar. O<br />

intuito da pesquisa é desvendar as percepções visíveis e latentes das fotografias<br />

selecionadas, a fim de trazer para o leitor uma leitura completa, pois as fotografias<br />

concebem muito mais do que uma matéria impressa, ela é a captação de um momento na<br />

sua totalidade, nela há profundidade, cada pixel de uma fotografia tem uma utilidade e faz<br />

parte de uma história. Como foram realizadas as construções de cada uma das imagens as<br />

quais foram responsáveis pela estrela única de Madonna? Pelas fotografias obteremos<br />

algumas respostas.<br />

“A fotografia, portanto, proporcionou à cultura da celebridade novas e<br />

poderosas maneiras de encenar e ampliar a celebridade. Ela<br />

introduziu um meio de apresentar imagens, novo e em expansão, que<br />

rapidamente deslocou o texto impresso como o principal meio de<br />

comunicação da celebridade. As fotografias fizeram a fama ser<br />

instantânea e ubíqua como o mundo impresso não poderia igualar.”<br />

(ROJEK, 2008, p. 138-139)<br />

Imagens de ícones/mitos como Madonna segundo Chris Rojek, substituíram as imagens dos<br />

santos da Igreja Católica e da monarquia, tornando-se assim as novas representações da<br />

sociedade em termos de reconhecimento e pertencimento. E foi com a “morte de Deus” para<br />

a sociedade moderna, que as celebridades alcançaram esse status de ícones/mitos,<br />

conseguiram a imortalidade.<br />

Essa sociedade moderna que como diz Marx, em O Manifesto, vive no “Tudo o que é solido<br />

desmancha no ar”, faz com que as engrenagens da vida moderna sejam constituídas no<br />

desmantelamento dos valores e tradições e na consolidação da confusão e da contradição.<br />

Nas palavras de Madonna na música Like it or not, “Life is a paradox, and it doesn’t make<br />

much sense, you can’t have a femme without the fatale [...]”, A vida é um paradoxo e não<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

tem muito sentido, você não pode ter a Femme sem o Fatale, ou seja, tudo na modernidade<br />

é construído por paradoxos, o homem moderno é criador e destruidor, “[...] na tentativa de<br />

se expressar e agarrar um mundo onde tudo está impregnado de seu contrário [...] A<br />

moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausência e vazio de valores, mas ao<br />

mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundancia de possibilidades.” (BERMAN,<br />

1982, p.32)<br />

“Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura,<br />

poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das<br />

coisas em redor- mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que<br />

temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência<br />

ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e<br />

raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse<br />

sentido, pode-se dizer que a modernidade une a humanidade. Porém<br />

é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade [...]”<br />

(BERMAN, 1982, p.15).<br />

O feminismo e a sexualidade são temas que não poderia ignorar nessa pesquisa. Ser<br />

independente financeiramente e emocionalmente é o que faz a mulher ocidental do século<br />

XXI se definir como realizada. É um desejo quase que desesperado de conseguir<br />

ultrapassar as barreiras da submissão que por séculos assombraram o sexo feminino.<br />

Analisar a transformação da imagem da mulher, como um objeto sexual e submisso aos<br />

desejos dos homens do século XIX como nos romance-folhetim do Marquês de Sade ou de<br />

Eugène Sue à sua independência profissional, financeira e emocional, é uma forma de<br />

contribuir para a consolidação de uma imagem cada vez mais forte para a mulher, o que<br />

encaixa perfeitamente na figura de Madonna.<br />

Milhares a odeiam, inclusive o papa, milhares a adoram. E quer saber eu também odeio a<br />

Madonna. E odeio porque ela é mais talentosa, magra e rica do que eu. O que ela<br />

responderia a mim, ao papa e a todos os outros, ou melhor, respondeu, e não só uma, mas<br />

várias vezes durante a música de entrada de seu novo show Sticky and Sweet, “My sugar is<br />

raw!”, isto é, meu açúcar é natural!<br />

Referencial Teórico<br />

Madonna como tudo começou<br />

Madonna Louise Veronica Ciccone nasceu em 16 de agosto de 1958, em Bay city, uma<br />

cidadezinha bem ao norte de Detroit (EUA). Seus pais são um imigrante italiano chamado<br />

Tony Ciccone e uma franco-canadense, Madonna Louise Fortin. Além de Madonna, seus<br />

pais tiveram mais cinco filhos, Anthony, Martin, Paula, Christopher e Melanie. Era uma<br />

família de classe média que vivia em uma modesta casa, no subúrbio da rua Thors.<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

Quando Madonna Fortin engravidou de Melanie foi diagnosticada com câncer de mama.<br />

Nessa época, Madonna tinha cinco anos e acompanhou o sofrimento de sua mãe. Madonna<br />

irá desenvolver uma aversão a fraqueza que torneará todas as suas imagens. Sua mãe<br />

morre no dia 1 de dezembro de 1963 com trinta anos de idade. Seu velório aconteceu na<br />

Visitation Church. Nesse evento, Madonna viu a cena que diz ser a mais apavorante de toda<br />

sua vida e, que, contribuiu com uma forte característica de sua personalidade única, a boca<br />

de sua mãe estava costurada dentro do caixão.<br />

Não é por acaso que as produções artísticas e imagens de Madonna são ações<br />

desesperadas para expressar o mais forte e alcançar o mais longe possível. Após três anos<br />

da morte de sua mulher, Tony Ciccone decidiu se casar novamente e a escolhida foi Joan<br />

Gustafson, empregada da família. Com o novo casamento, Madonna ganhou mais dois<br />

irmãos, Jennifer e Mario.<br />

Madonna construiu sua vida em oposição ao de sua mãe. Os Ciccone, especialmente sua<br />

mãe, professavam fanaticamente o catolicismo, ao ponto de Madonna ver sua mãe várias<br />

vezes ajoelhada no arroz, passando por rigorosos jejuns e cobrindo a imagem do Sagrado<br />

coração de Jesus cada vez que uma mulher entrava em sua casa usando Jeans.<br />

Outro fator crucial: Madonna tem um desejo infindável por religiosidade e pelas proibições<br />

que ela impõe. Os traços ocultos da sexualidade ainda tão pouco comentados em sua<br />

época era algo instigante, tudo o que envolvia sexo era considerado sacrilégio. Misturar<br />

sexo e espiritualidade virou uma espécie de obsessão para ela, por isso que símbolos como<br />

crucifixos, rosários, terços, retratos da santa Madonna e o fato dela não subir no palco sem<br />

fazer uma oração antes, são traços que acompanharam sua carreira desde o início.<br />

Passados alguns anos, Madonna se inscreveu nas aulas de Ballet clássico, e conheceu<br />

Christopher Flynn, um ex-bailarino, seu professor e mentor de 42 anos. Flynn alimentou a<br />

mente de Madonna com artes plásticas, museus, músicas e danças nas boates gays, no<br />

centro de Detroit. Madonna se adaptou bem e conseguiu libertar sua mentalidade para<br />

aquela nova realidade que estava surgindo nos anos 70. A era disco, boates gays, pista de<br />

dança se tornaram um dos seus principais pontos de referencia. Além disso, o preconceito<br />

entre negros e brancos era descarado e bem consolidado, nenhuma garota de respeito iria<br />

se misturar com negros, porém Madonna gostava do jeito deles, principalmente da música e<br />

dança.<br />

Em 1976 já estava solta no mundo, mas se pararmos para pensar ela estava solta no<br />

mundo desde a morte de sua mãe, já que seu pai, madrasta e irmãos não exerceram grande<br />

influencia sobre ela. Após se formar, aconselhada por Flynn, decidiu pedir uma bolsa na<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

<strong>Universidade</strong> de Michigan, foi aceita, mas logo cansou de esperar, percebeu que poderia<br />

passar a vida inteira ali e talvez não conseguisse ser mais do que uma simples bailarina.<br />

Nova York se abriu para Madonna, era lá onde as coisas aconteciam. Largou a faculdade,<br />

escreveu uma carta de despedida para seu pai, arrumou suas coisas, pegou o dinheiro do<br />

bolso e foi para o centro do mundo. Alugou um apartamento minúsculo e sem mobília,<br />

dormia sobre caixas de leite. Começou como garçonete da loja Dunkin’ Dunuts em frente à<br />

Bloomingdale’s.<br />

Depois que se demitiu da lanchonete, teve vários empregos como garçonete em boates<br />

punks, grande influência, principalmente, em seu vestuário nos primeiros anos de sua<br />

carreira e modelo nu artístico. Ao voltar do trabalho, em 1978, foi rendida por um homem<br />

negro que a levou para o telhado de um prédio e ameaçando com uma faca obrigou-a a<br />

felação. Psicólogos alegam que é por isso que Madonna tem a obsessão de estar sempre<br />

por cima, principalmente se o assunto for sexo.<br />

Em uma dessas noites, em boates, conheceu Dan Gilroy, um músico independente que lhe<br />

mostrou a música em detrimento à dança, ou melhor, no caso dela, a mágica combinação<br />

da música e da dança. Gravou uma fita de demonstração e conseguiu com que ela<br />

chegasse às mãos da produtora musical Camille Barbone. A empresária, de início, detestou<br />

a voz de Madonna que parecia como o Mickey Mouse. Porém, quando Barbone foi ao<br />

primeiro show de Madonna ficou extasiada com a presença de palco, animação e sintonia<br />

entre Madonna e o público. Barbone ofereceu um contrato inicial de seis meses, contratou<br />

músicos e fez uma banda de profissionais para ela.<br />

Barbone e Madonna discutiam muito quanto ao estilo de música. Steve Bray que levou a<br />

estrela pop para o estilo dance no qual atua até hoje. Madonna com 23 anos, em 1981,<br />

determinou seu publico alvo inicial: as mulheres. A artista sempre encarou sua atuação em<br />

cima do palco como algo ilícito e proibido, via o público como alguém que a espiava pela<br />

fechadura do quarto, lugar perfeito para realizar suas fantasias.<br />

Em fevereiro de 1982 Madonna deu um basta em Barbone. No final dos anos 70, a estrela<br />

pop lutava para achar alguma brecha para o mundo da fama. Nova York respirava de<br />

danceterias, clubes e discotecas, mas uma delas era especial Mudd Club. E era neste lugar<br />

que o DJ Mark Kamins regia as festas. Numa dessas noites, Madonna entregou a ele um<br />

demo com a música Everybody. Kamins aceitou a fita e tocou a música na casa noturna. O<br />

lugar não foi à loucura, mas as pessoas gostaram do som.<br />

Madonna aprendeu desde cedo a usar sua sexualidade a seu favor, sabia atrair os homens<br />

que queria sempre visando em primeiro lugar sua carreira e isso não foi diferente com<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

Kamins. Através dele, em 1982, ela conseguiu assinar um contrato com Seymour Stein da<br />

gravadora Sire, de 15 mil dólares para gravar duas músicas, Everybody e Ain’t no big deal.<br />

O compacto chegou ás paradas de sucesso da música dance através da Warner, porém<br />

com um “pequeno erro de “fabricação”. Como o disco não tinha a foto de Madonna na capa,<br />

todos acharam que ela fosse negra. Esse fato ajudou a consolidação de sua música, já que<br />

quando se mostrou para o público trajando roupas rasgadas e sujas, cheia de pulseiras e<br />

crucifixos e luvas de renda rasgadas nas mãos, o público se assustou e amou, a imagem de<br />

Madonna.<br />

Quando Kamins não apresentava mais condições de ajudar Madonna, a Warner Brothers o<br />

tirou do comando e colocou Reggie Lucas. Nessa época, uma grande força para o mercado<br />

musical foi inaugurada, a MTV. O videoclip era uma ferramenta completamente nova para<br />

as pessoas, algo surreal e foi através do clip de Everybody e de sue outro single, Burning<br />

Up, que a maioria das pessoas conheceram realmente a pessoa atrás da voz provocante e<br />

sedutora.<br />

Madonna era uma garota branca, de olhos azuis que dançava como uma mulher negra,<br />

totalmente revolucionário na época. Ela tinha um contrato de apenas dois discos com a<br />

Warner e precisava estourar. O produtor da vez era Nile Rodgers. Madonna tinha uma<br />

seleção de músicas e Rodgers achou muito fraco, mas ela tinha certeza que daria certo e<br />

que uma música Like a virgin seria o carro forte do disco. A combinação entre as palavras<br />

virgens e Madonna era como uma bomba relógio, um encaixe perfeito, uma mistura de<br />

perversão com loucura. E não só Like a virgin, mas agora veio também Material girl. E, em<br />

setembro de 1984, na cerimônia de premiação do MTV Video Music Awards, transmitido ao<br />

vivo, Madonna cantou Like a virgin. Ela saiu de dentro de um bolo de noiva, vestida a<br />

caráter e durante sua apresentação fez posições sexuais no meio do palco. Foi neste dia<br />

que Madonna Louise Veronica Ciccone se tornou celebridade!<br />

Cultura de massas: formação da cultura de celebridades<br />

“A industrialização do espírito” (MORIN, 1984, p.13) esse é o termo utilizado por Edgar<br />

Morin em seu célebre livro Cultura de Massas no século XX – O espírito do tempo, para<br />

designar a alma da sociedade moderna. O espírito do ser humano foi industrializado,<br />

escravizado por desejos que nem ele mesmo criou.<br />

Dentre centenas de definições sobre o que é cultura, continuaremos com Edgar Morin para<br />

seguir uma linha linear de pensamento.<br />

“Cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e<br />

imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os<br />

instintos, orientam as emoções. Esta penetração se efetua segundo<br />

trocas mentais de projeção e de identificação polarizadas nos<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

símbolos, mitos e imagens da cultura como nas personalidades<br />

míticas ou reais que encarnam os valores (os ancestrais, os deuses).<br />

Uma cultura de apoio práticos à vida imaginária; ela alimenta o ser<br />

semi-real, semi-imaginário, que cada um secreta no interior da alma,<br />

e no ser semi-real e semi-imaginário que cada um secreta no seu<br />

exterior, sua personalidade.” (MORIN, 1984, pag 15)<br />

Então é isso, uma cultura engloba normas, símbolos, imagens que infiltram a mente do<br />

sujeito, dirigindo esse mesmo à suas ações e emoções. Todavia a cultura de massa tem<br />

algo a mais, ela é regida pelos olhares das indústrias, entenda o sistema capitalista, e da<br />

mídia. Essa cultura nasceu nos Estados Unidos, desenvolvendo suas características<br />

principais a partir da década de 30. É completamente voltada para o mercado mundial,<br />

passou por uma democratização sendo acessível a todos. Isso porque após a segunda<br />

guerra mundial há uma mudança radical na sociedade ocidental. As massas urbanas e do<br />

campo começam a fazer parte do mundo do consumismo, lazer, bem-estar que antes era<br />

privilégio somente da burguesia. Desde a revolução industrial o homem moderno vem<br />

passando por um lento processo de metamorfose, as máquinas substituem o trabalho dos<br />

indivíduos, logo, o homem tem mais tempo para o lazer e volta sua atenção para sua vida<br />

privada.<br />

Essa vida estava apoiada nos mitos, como por exemplo, a fada do dente ou no saci pererê;<br />

com a cultura de massa surgem os novos mitos na música, no cinema, e é claro, Madonna.<br />

Estes passam a ser vendidos como mercadorias. Essa cultura nas palavras de Morin, “[...]<br />

pode ser considerada uma terceira cultura, oriunda da imprensa, do cinema, da rádio, da<br />

televisão, que surge, desenvolve-se, projeta-se, ao lado das culturas clássicas” (MORIN,<br />

1967, p14).<br />

O homem: mitos, aspirações e medos<br />

Mito, segundo o dicionário Melhoramentos, dentre outros significados, corresponde a<br />

“exagero na representação de personagens reais” (Melhoramentos minidicionário da língua<br />

portuguesa, 1992, p.337). Já segundo Josimey da Silva, que escreve um ensaio chamado:<br />

O Encontro no Cinema: mídia e vínculo social, “O mito é uma para-linguagem, um método<br />

de descrever o mundo que representa incorporações de estruturas culturais, é um modelo<br />

exemplar de comportamento, portanto, é arquetípico” (SILVA, 2006, p.223).<br />

Ícone também segundo o dicionário Melhoramentos significa: “quadro, estátua ou qualquer<br />

imagem que, na Igreja Ortodoxa representa Cristo, a Virgem, ou um santo [...] designava<br />

também uma pintura executada sobre a madeira representando uma imagem religiosa. Se<br />

pensarmos em Madonna, Michael Jackson, Beatles e tantos outros que são considerados<br />

ícones/mitos, notamos que a premissa desse termo esta justamente na imagem, significa<br />

que eles são imagens que devem ser cultuadas por nós.<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

Para ser um ícone/mito, antes é necessário ser uma celebridade. “O despontar da<br />

celebridade é resultado de três grandes processos históricos inter-relacionados. Primeiro, a<br />

democratização da sociedade; segundo, o declínio da religião organizada; terceiro, a<br />

transformação do cotidiano em mercadoria” (ROJEK, 2008, p.15) As representações das<br />

celebridades na mídia são a chave-mestra na formação da cultura das celebridades, a qual<br />

dedicaremos mais explicações adiante, pois através dos artefatos da comunicação essas<br />

celebridades aparecem como seres mágicos, envoltos em uma nuvem de glamour.<br />

“O significado moderno do termo celebridade, a bem dizer, deriva da queda dos deuses e da<br />

ascensão de governos democráticos e sociedades seculares” (ROJEK, 2008, p.11) O ser<br />

humano tem a necessidade de adorar, inspirar-se em algo maior e melhor que ele, pois isso<br />

o força a superar-se cada vez mais. A sociedade passa então a cultivar e cultuar pessoas<br />

públicas, as quais de alguma forma causam impacto, tanto de reconhecimento favorável do<br />

público, ou então de forma notória, com reconhecimento negativo. Também segundo Chris<br />

Rojek, “Em francês, a palavra célèbre significa, bem conhecido em público. Além disso,<br />

sugere representações da fama que florescem além dos limites da religião e da sociedade<br />

cortesã. Em resumo, associa celebridade a um público, e reconhece a natureza volúvel,<br />

temporária, do mercado de sentimentos humanos.” (ROJEK, 2008, p.11)<br />

Para uma sociedade moderna que está confusa e sem modelos de representação, essas<br />

celebridades, neo-mitos serão como “botes salva-vidas” e as instituições, mídias, que<br />

descobrirem, investirem, controlarem as imagens deles, serão os condutores desses botes<br />

nos quais toda a sociedade irá se apoiar cegamente.<br />

A cultura de massa tende a encontrar algo comum entre os homens. A produção desse<br />

sistema acaba por produzir também um consumidor para ela, por isso é vantajoso para essa<br />

cultura uma universalização do público, já que seu principal objetivo é o lucro através<br />

desses produtos. Portanto pode-se concluir que a sociedade contemporânea é uma<br />

sociedade que foi modelada sob os moldes dos produtos da cultura de massa, cabe colocar<br />

no lugar de produtos, as imagens retiradas dos ícones/mitos como Madonna.<br />

O amor se tornou o tema principal da tentativa de universalização. Começou a partir da<br />

década de 30 com o “viveram felizes para sempre” dos filmes, o amor se torna eternizado,<br />

superando todas as barreiras sociais, inclusive a união sexual sem o ritual do casamento,<br />

como sendo a união das almas. Devagar os valores vão mudando. Mesmo que haja uma<br />

contradição com as constantes desilusões amorosas dentro do círculo de convívio das<br />

celebridades, no qual o amor eterno dos filmes tende a se desintegrar, com os escândalos,<br />

divórcios, traições que acontecem. Essa volta do amor para o tempo real é interessante,<br />

pois por mais que o amor pareça rachado, depois de inúmeros escândalos e divórcios ele<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

torna a renascer em um outro relacionamento. E nesse movimento de<br />

desintegração/renascimento do amor, nota-se que o que é eterno é a esperança de se achar<br />

o verdadeiro e único amor, o que cativa e aproxima ainda mais a sociedade às celebridades.<br />

A mídia vai ser uma espécie de refletor da instabilidade amorosa na vida das celebridades<br />

como foi no dia 16 de Outubro de 2008, Madonna anunciou o seu divórcio depois de sete<br />

anos e meio de casamento com o diretor de cinema Guy Ritchie. A mídia refletiu essa<br />

notícia em todos os meios de comunicação desaprovando, comentando, mas ao mesmo<br />

tempo insinuando os possíveis candidatos a vaga recém aberta na vida de Madonna, a qual<br />

foi ocupada pelo humilde modelo brasileiro Jesus Luz, causando ainda mais relações entre<br />

as celebridades e nós os pobres mortais. Como se Madonna, uma deusa do Olimpo<br />

escolhesse um de nós para fazer parte desse meio completamente seletivo e absurdamente<br />

distante.<br />

Pode- se resumir a cultura de massa como sendo um movimento entre produção e<br />

consumo. A produção de uma imagem pela indústria cultural que é difundida pela mídia é<br />

capaz de se incorporar à sociedade moderna a tal ponto de se tornar ideal, fazendo com<br />

que as pessoas façam o papel de suporte para mantê-las sempre em evidência.<br />

As imagens originadas pela cultura de massa se aproximam do real, se a sociedade está<br />

envolta pelo desejo da felicidade, lazer e bem estar, estas imagens serão as condutoras<br />

para as aspirações da sociedade. Convencendo as pessoas de que elas só serão<br />

verdadeiramente realizadas se imitarem as mesmas.<br />

“É porque a cultura de massa se torna o grande fornecedor dos mitos<br />

condutores do lazer, da felicidade, do amor, que nós podemos<br />

compreender o movimento que a impulsiona, não só do real para o<br />

imaginário, mas também do imaginário para o real. Ela não é só<br />

evasão, ela é ao mesmo tempo, e contraditoriamente, integração”<br />

(MORIN, 1984, p.90).<br />

Integração é uma palavra instigante, pois sem isso não existe identidade, muito menos<br />

sociedade. Ela é um fator crucial para o advento de qualquer grupo, projeto social. E vai ser<br />

a celebridade que sustentará e unificará a sociedade. A esfera pública “criou uma espécie<br />

de mural de excelência” aonde todas as outras esferas sociais como política, religião<br />

apresentaram as suas personalidades dramáticas e seus feitos conseguidos através de<br />

esforços notórios ou por uma sorte invejável, são as famosas cartas na manga. Feito isso a<br />

esfera pública irá ter a ilusão de “eleger quem virá a ser celebridade” – ilusão porque todos<br />

nós sabemos que quem elege mesmo é a mídia – e isso confere uma integração entre os<br />

indivíduos que constituem a sociedade. “Nesse ponto, a cultura da celebridade supre uma<br />

importante função integradora na sociedade secular” (ROJEK, 2008, p16)<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

Cabe-nos aqui mostrar uma curiosa ironia com relação a ilusão da esfera pública e as<br />

celebridades: “Os rostos públicos que as celebridades elaboram não lhes pertence, visto<br />

que eles só tem validade se o publico confirmar [...] o fato de o status de celebridade<br />

depender do reconhecimento publico é uma ironia. Uma queixa constante das celebridades<br />

é a de que o público não respeita a privacidade.” (ROJEK, 2008, p.22) Isto é, quem é mais<br />

iludido a celebridade ou a esfera pública?<br />

Montando uma celebridade<br />

Segundo Chris Rojek e seu manual sobre celebridades, as mesmas possuem as seguintes<br />

classificações. “São três status da celebridade: conferida, adquirida e atribuída.” (ROJEK,<br />

2008, p.20)<br />

A classificação conferida deriva da linha de descendentes do indivíduo. Filhos de reis,<br />

rainhas, presidentes, mitos da música, cinema... Conforme suas atitudes pode-se somar ou<br />

subtrair sua condição de celebridade, mas sempre serão uma. A celebridade adquirida<br />

concentra-se nas realizações do sujeito observadas pela esfera pública em competições.<br />

São reconhecidos pelo público como indivíduos dotados de raros talentos que conseguem<br />

arrebatar a atenção de tudo e todos. A celebridade atribuída resulta da concentrada<br />

representação do sujeito como merecedor de notas.<br />

A obra de Morin é significativa para subverter a proposta de que a industria da cultura cria<br />

as celebridades.O fascínio pelas celebridades não pode ser explicado pelo seu talento inato,<br />

pelo contrario, Morin prefere uma explicação que explore o poder da celebridade como uma<br />

projeção das necessidades reprimidas do publico. A sociedade moderna vive num diálogo<br />

de identificação e projeção entre a realidade e o imaginário, a qual acontece no campo da<br />

estética. Quando uma pessoa se identifica com uma imagem, acontece dentro da mesma,<br />

uma mistura de realismo e idealização, sendo completamente indispensável que haja uma<br />

supervalorização, ou seja, essa imagem tem que ter além do que já possuímos, tem que ser<br />

mais feliz, ter mais riqueza, mais amor e ainda tem que se relacionar com interesses<br />

específicos que estão guardados no imaginário de cada um. Por isso a cultura de massa<br />

insiste em universalizar, para que os interesses sejam parecidos ou iguais entre os sujeitos.<br />

Tudo isso para que desperte no sujeito um desejo de projeção, como por exemplo, imitar as<br />

roupas, penteados e etc. “[...] a projeção pode ser a tal ponto fascinante que ocasiona uma<br />

espécie de conversão hipnótica da vida [...]” (MORIN, 1984, p.83)<br />

O processo então na maioria dos casos é assim: Madonna lança sua própria imagem, num<br />

primeiro momento radicalmente combinando ou criticando as tendências que a cultura de<br />

massa impôs sobre a sociedade. Dependendo do impacto de sua imagem, a mídia entra em<br />

cena, difundindo em todos os veículos de comunicação, a fim de compreender a dimensão<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

que a sua imagem provocou, nesse sentido de identificação/projeção. Se houve uma<br />

legitimação da parte do grande público, a cultura de massa irá investir na sua imagem,<br />

transformando-a em algo universal para o consumo mundial, a fim de dar início as<br />

imitações. “As obras de arte universais são aquelas que detêm originalmente, ou que<br />

acumulam em si, possibilidades infinitas de projeção-identificação” (MORIN, 1984, p.85)<br />

A mídia passará a se beneficiar dela, passando a, constantemente, chocar-se com<br />

Madonna, pois a partir do momento que ela é aceita pela massa, tudo o que a mídia mostrar<br />

dela será revertido em lucro. Sendo assim, segundo Edgar Morin, as celebridades<br />

satisfazem as funções que lhes são exigidas pelos engravatados do entretenimento. “O<br />

mercado inevitavelmente transformou a celebridade num bem de consumo” (ROJEK, 2008,<br />

p16)<br />

O imaginário do ser humano é tão forte quanto a razão. O imaginário como afirma Edgar<br />

Morin, “É a estrurura antagonista e complementar daquilo que chamamos de real, e sem a<br />

qual, sem dúvida não haveria o real para o homem, ou antes, não haveria realidade<br />

humana” (MORIN, 1967, p.80). Uma área cheia de enigmas, que vai se penetrando no<br />

íntimo do indivíduo.<br />

A celebridade então vira uma espécie de fonte dos desejos, pois “[...] de modo geral, a<br />

celebridade é um recurso imaginário para onde se voltar em meio às dificuldades e aos<br />

triunfos, para obter consolo, para suplicar sabedoria e felicidade. (ROJEK, 2008, p.58) Como<br />

encaramos as mesmas como seres viventes de um mundo diferente do nosso, damos<br />

autorização e abrimos licença para fazerem coisas com as quais muitas vezes nem<br />

sonhamos em fazer.<br />

As transgressões são uma característica típica do ser humano, desde o Éden gostamos de<br />

quebrar regras. Elas alimentam uma sensação de prazer, um êxtase momentâneo<br />

misturando curiosidade, ansiedade, proibição, um verdadeiro deleite para o corpo. A<br />

celebridade aqui toma a forma de herói. Madonna impulsionou e ousou liberar suas<br />

emoções e desejos, principalmente os sexuais, que eram e ainda são bloqueados pela<br />

sociedade. Intimamente a celebridade mexe no nosso imaginário dando-nos a utopia de<br />

sentir-nos livres das repressões do dia a dia, por isso é tão importante que o rosto da<br />

celebridade se solidifique no imaginário da esfera pública. Isso acontece com a ajuda da<br />

indústria cultural e age através da cultura de massas deixando o indivíduo alienado,<br />

aprisionando-o no sistema capitalista na sua forma mais atroz.<br />

Criou-se a partir dessa combinação entre - cultura das celebridades, cultura de massas,<br />

indústria cultural - uma sociedade extremamente imediatista e em pânico. Esse pânico é o<br />

medo da finitude da vida, que é inaceitável para o indivíduo moderno. Entretanto esse<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

pânico também possui o seu lado positivo, pois com ele as pessoas ainda veem a urgência<br />

de se construir uma consciência individual para que ainda possa existir uma certa<br />

diferenciação entre as pessoas que compõem a sociedade.<br />

Esse imediatismo, tudo aqui e agora, diz respeito ao ar de efemeridade o qual Berman<br />

expõe em seu ensaio, “Tudo o que é sólido desmancha no ar”. Como a morte é a única<br />

certeza que temos na vida, e tendo em vista a instabilidade da vida humana no mundo, o<br />

sujeito tenta de todas as formas instaurar sua imortalidade através da metamorfose ou da<br />

criação das imagens dos seres divinos, ou seja, seres que superam os limites humanos. “O<br />

sonho de superação da vida ordinária e das limitações impostas pela morte fez nascer as<br />

imagens dos corpos superiores que geram códigos culturais que geram imagens”<br />

(BITTENCOURT; OLIVEIRA, 2006, p.139).<br />

A mídia vai trabalhar nesse plano como se fosse uma xilocaína, criando imagens para<br />

amenizar esse medo da morte biológica.<br />

“Esse tempo ritual que se cria no texto da mídia é, dessa maneira,<br />

uma periodicidade criada para superar o pânico humano frente ao fim<br />

biológico, por meio de uma rítmica temporal que re-ordena por meio<br />

de marcos fronteiriços dos “pequenos fins nossos de cada dia”. Negase<br />

assim o tempo do pânico que é um “tempo de não ter mais tempo”,<br />

e a esse fenômeno a cultura responde (por meio da nova<br />

sincronização instaurada pelos textos da mídia) com a criação de um<br />

tempo outro, esse sim demarcado e ordenado de forma possível e<br />

não pânica” (CONTRERA, 1996, p.60).<br />

Não só a mídia, Madonna também vai entender esse pânico que cega a sociedade e vai<br />

promover uma verdadeira celebração à vida, zombando da própria morte, com a sua turnê<br />

Confessions on a Dance Floor em 2006. Madonna tinha acabado de se recuperar de uma<br />

queda a cavalo, na qual quebrou nove ossos aos seus 47 anos de idade. A turnê anunciada<br />

pouco tempo depois de sua recuperação, assustadoramente rápida, já poderia ser<br />

considerada um grande feito, entretanto não satisfeita, supera-se nas suas performances<br />

em Like a Virgin e Futures Lovers/I Feel Love, as imagens do telão eram nada mais e nada<br />

menos do que as radiografias de seus ossos quebrados atreladas a fotos de acidentes com<br />

cavalos e uma sessão de fotos que ela mesma promoveu dentro de um estábulo só ela e<br />

um cavalo. Além das coreografias desafiadoras e difíceis em cima de uma sela, juntamente<br />

de seus dançarinos que interpretavam o animal. Mostrando a todos não só sua vitória sobre<br />

as freqüentes “quedas” da vida, mas também, sua incrível vontade de viver.<br />

Esses seres divinos também denominados por Morin, “olimpianos modernos” (MORIN,<br />

1984, p.105) têm uma dupla natureza, humana e divina, a imprensa vai supervalorizar essa<br />

imagem divina, entretanto sempre se voltando para o lado humano, para que haja a<br />

identificação. Voltemos para o nosso corpus, imagens da Madonna, em uma das<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

reportagens escolhidas para análise, a solidária ao Malauí, a reportagem da BBC News de<br />

Londres primeiramente faz críticas a sua decisão de tentar quebrar as leis de adoção do<br />

Malauí como uma tentativa de autopromoção, mas logo em seguida mostra cenas de uma<br />

entrevista que ela dera ao programa Oprah Winfrey Show, no qual todos a apoiavam<br />

emocionando-a, ou seja, mostra-se, o seu lado fraco e humano.<br />

Madonna: o nome da marca<br />

“Eles realizam os fantasmas que os mortais não podem realizar, mas<br />

chamam os mortais a realizar o imaginário. A esse título os<br />

olimpianos são os condensadores energéticos da cultura de massa.<br />

Sua segunda natureza, por meio da qual cada um se pode comunicar<br />

com sua natureza divina, fá-los participar também da vida de cada<br />

um. Conjugando a vida cotidiana e a vida olímpiana, os olimpianos se<br />

tornam modelos de cultura no sentido etnográfico do termo, isto é,<br />

modelos de vida. São heróis modelos. Encarnam os mitos de autorealização<br />

da vida privada” (MORIN, 1984, p.107).<br />

Imaginamos que todos conheçam a famosa história de Fausto de Goethe. Ele é o melhor<br />

exemplo para compreender como a humanidade chegou nesse ponto. Ao analisar a história<br />

de Fausto conseguimos desprender nossas almas aprisionadas do corpo, e deixá-las livres,<br />

voando, a fim de enxergar a tragédia do desenvolvimento “de cima”, sem nenhuma<br />

interferência. A pesquisa sobre Fausto esta baseada nos estudos de Marshal Berman<br />

inseridos no livro Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.<br />

A figura do Fausto acolhe o espírito da modernidade, um desejo pelo desenvolvimento de<br />

seu ambiente. Essa é a grande sacada nessa história, o principal objeto de transformação é<br />

o mundo e não o próprio Fausto como muitos pensam. Fausto aqui representa o ser<br />

humano que também sofre mudanças, mas elas são conseqüências e não conquistas. Para<br />

que isso ocorra é necessário modificações nos sistemas sociais, políticos, econômicos e<br />

morais, as quais serão reconhecidas como a tragédia do desenvolvimento.<br />

Fausto sozinho não era capaz de realizar tais transformações, somente com a ajuda de<br />

Mefistófelis - popularmente conhecido como diabo, chifrudo, demônio, enfim o coisa ruim<br />

mesmo - ele conseguiria trilhar esse caminho que lhe exigiria três metamorfoses<br />

denominadas: o sonhador, o amador e finalmente o fomentador.<br />

Nessa primeira fase Fausto tem que aprender que a premissa do mundo são os paradoxos.<br />

O mundo é constituído deles, desde o princípio quando Deus decidiu criar a terra. O maior<br />

deles é: não é possível construir nada sem destruir antes. A partir desse momento ele tem<br />

que parar de ser inibido pela sua moral que o isolou do mundo e simplesmente fazer,<br />

construir, agir sem se preocupar com as baixas que certamente aconteceriam no caminho.<br />

A partir daí ele está pronto para a segunda encarnação, o Amador. Nessa etapa ele vai<br />

compreender o preço altíssimo que terá de pagar pelo desenvolvimento, pois o homem<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

totalmente inserido no pequeno mundo feudal (“briga” entre jovens e idosos) não tem<br />

suporte para aguentar a modernidade. São simplesmente incompatíveis, o tempo passa e<br />

as pessoas ficam para trás.<br />

E finalmente chegamos a terceira e última fase, Fomentador, enfim Fausto irá expandir os<br />

seus horizontes e se lançará na política, economia, vida pública. Acaba tendo que desistir<br />

de sua moral e seus valores. Passa a ter a mentalidade dos grandes empresários que<br />

mantém seus corações no dinheiro e não na vida. Quando se dá conta disso, tenta expulsar<br />

Mefisto, mas já era tarde demais, a modernidade já estava impregnada e surgia uma nova<br />

sociedade baseada do progresso a qualquer custo.<br />

A modernidade pode ser lida e compreendida nas três metamorfoses de Fausto, como ela<br />

envolveu a sociedade e modificou a natureza e o homem. Chama-se tragédia do<br />

desenvolvimento porque quanto mais a terra se desenvolve, mais o ser humano regride em<br />

ética, cidadania, solidariedade, sentimentos. Quando mais o homem enche o mundo com<br />

novas tecnologias, mais vazio ele vai ficando. Essa é a tragédia da modernidade. Fausto se<br />

devota a modernidade e morre por ela, e que situação paradoxal é essa? Afinal para nós a<br />

modernidade que Fausto criou é obsoleta, ultrapassada. A própria modernidade engoliu<br />

Fausto como engolirá, um dia, a todos nós.<br />

O que significa a palavra Madonna para você? Símbolo do capitalismo que domina essa<br />

sociedade descartável ou uma espécie de “deusa” que guarda em seus sorrisos maliciosos<br />

o sonho de coragem e ousadia de enfrentar a repressão que nenhum de nós tem? Já é<br />

praticamente um clichê dizer que estamos inseridos em uma sociedade de imagens. Existe<br />

uma inflação de imagens, uma enxurrada delas que são levadas para os nossos olhos<br />

tirando a nossa capacidade de reflexão.<br />

Sinceramente essa constatação não é um grande feito, pelo simples fato de que essas<br />

imagens estão somente fazendo o papel delas. No sistema vigente em nossa sociedade –<br />

capitalismo – as imagens têm como função primordial serem consumidas e não serem<br />

“objetos de contemplação e reflexão”. (FONTENELE, 2004, p. 18) Visualizando o cenário<br />

através dessa perspectiva, Madonna é uma das imagens que melhor exerceu/exerce esse<br />

papel na história.<br />

O ato de consumir se tornou uma marca legitimadora para a sociedade. Encaremos o<br />

homem moderno assim: perdido em um labirinto de dúvidas, ele não sabe definir o que é<br />

real do que não é, perdeu a capacidade de sentir prazer na sua totalidade, pois nunca esta<br />

satisfeito com nada, teve seus valores morais violados, e que ainda tem que lutar contra as<br />

crises da modernidade – superpopulação, ansiedade, competição ao extremo, vaidade<br />

exacerbada, massificação do indivíduo, ruptura das tradições... – como podemos culpá-lo de<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

consumir algo que lhe transmite a mensagem, “This is who I am you can like it or not, you<br />

can love me, or leave me cause I’ll never gonna stop” ou ainda “ I would like to express my<br />

extreme point of view, I’m not a christian and I’m not a jew, I’m Just leaving out the American<br />

dream and I just realized that nothing it’s what it seems”, isto é, uma autoconfiança invejável<br />

que encanta, ainda mais quando ela esta em cima de um palco afrontando uma platéia de<br />

milhares de pessoas e o próprio governo americano. Madonna sabe quem ela é, onde quer<br />

chegar, pouquíssimos seres humanos possuem essa certeza.<br />

Madonna além de interpretar dezenas de imagens diferentes, não o faz somente de uma<br />

forma. Existem classificações de imagens, em movimento, estática, simbólica... Dentre os<br />

tipos, uma em especial, a chamada imagem em movimento é de grande importância para a<br />

pesquisa. “Gestos são imagens em movimento formadas. Em um sentido especial, são<br />

formas estereotipadas constituídas por movimentos e que são utilizadas de forma<br />

semelhante a palavras” (GEBAUER, 2006, p.25). Cada gesto tem um significado próprio, um<br />

olhar, o jeito que você coloca as mãos, o modo de andar, cada uma dessas remete á quem<br />

esta olhando uma imagem. Essa imagem irá para o imaginário, onde encontrará um<br />

significado culturalmente aceito ou não. A dança é uma das imagens com mais destaque no<br />

imaginário das pessoas, ela emite uma sucessão de imagens por segundo. O ensaio de<br />

Gebauer que está no livro “Os símbolos vivem mais que os homens” nos mostra que não<br />

somente o que vemos são imagens, mas tudo o que os nossos cinco sentidos captam viram<br />

imagens.<br />

“Podemos reconhecer que nos movimentos da dança e do esporte<br />

não são realizadas apenas técnicas corporais e emoções, mas<br />

também uma abundância de gestos representados por imagens. A<br />

maioria desses movimentos vem do passado, especialmente da<br />

antiguidade grega. Por se tratarem de gestos formados culturalmente,<br />

não é difícil reconhecê-los, porque se tornaram óbvios em nossa<br />

cultura quanto comer com garfo e faca [...]” (GEBAUER, 2006, p.26).<br />

Como já falado essas imagens nos ajudam a manifestar emoções, pensamentos, ações,<br />

contudo é indiscutivelmente pertinente realçar aqui que elas também nos limitam, há uma<br />

diminuição drástica na criatividade/imaginação das pessoas, além de alienar uma sociedade<br />

inteira impossibilitando uma evolução do próprio ser humano.<br />

Isleide Fontenele elaborou um estudo muito interessante chamado “O Nome da Marca”.<br />

Uma das mais interessantes citações que selecionamos para esse estudo é: “A marca é<br />

uma imagem, mais do que isso sua força está em sua capacidade de criar uma diferença<br />

como imagem. A aura é perdida na publicidade, paradoxalmente a marca eleva-se a uma<br />

posição de fetiche. Não é a imagem, mas o nome da marca que importa, já que as imagens<br />

se deslocam o tempo todo em torno do nome, que é fixo”. (FONTENELE, 2004, p.28)<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

O nome da marca se torna tão forte que ganha vida própria. Mac Donalds, Coca Cola,<br />

Malboro, Nike, Madonna são nomes que quando mencionados nos causam alguma reação<br />

tanto positiva como negativa, não importa, o que realmente importa é a ligação automática<br />

que o nosso imaginário faz com essas palavras. O nome MADONNA já diz tudo. Ela é um<br />

fetiche de imagem que secreta conceitos dentro de si. Ir a um show da Madonna tem muito<br />

mais valor do que ir, por exemplo, a um show do maior sucesso do momento nas rádios.<br />

Pois ela carrega uma subjetividade, um simbolismo tremendo nessas sete letras que<br />

formam o seu nome. Ou seja, nessas descrições Madonna é como espelho de talento inato.<br />

Ela é compreendida como um fenômeno único, intangível. Não existirá jamais outra<br />

Madonna, ela é única.<br />

Saímos do mundo da supervalorização das coisas para a supervalorização das marcas,<br />

imagens. As imagens adestram o nosso olhar nas grandes cidades e na mídia. Por isso que<br />

voltamos a bater na tecla de que as imagens são transitórias, mas o nome da marca é fixo.<br />

Mesmo elas sendo transitórias mantém-se um padrão a fim de ser uma cadeia de imagens<br />

subjetivas que referem-se ao nome da marca. Isso quer dizer que todas as letras de música,<br />

fotos, shows, campanhas publicitárias, gordas contribuições para ONGS, nada disso teria o<br />

mesmo efeito se não carregasse a marca MADONNA junto.<br />

“O problema não é a imagem nem a representação enquanto tais, mas a sociedade que<br />

precisa dessas imagens. É verdade que o espetáculo utiliza, sobretudo a visão, o sentido<br />

mais abstrato e mais passível de manipulação, mas o problema esta na independência<br />

atingida por essas representações que escapam ao controle dos homens e lhes falam sob a<br />

forma de monólogo, banindo da vida qualquer diálogo.” (DEBORD, 1997, p. 21) Essa<br />

citação de Debord nos remete a uma evolução do mundo do filme Matrix, só que ao invés do<br />

homem ser controlado pelas máquinas ele o é pelas imagens. Não podemos entender essas<br />

imagens como falsificação da realidade, justamente porque elas são a nossa realidade. Por<br />

pior que seja temos que encarar que o que consideramos por real é formado por imagens,<br />

signos mutáveis e descartáveis.<br />

Quando tudo é descartável, inclusive, ou melhor, principalmente a própria cultura, a marca<br />

surge como ilusão. Essas imagens procuram preencher esse vazio, que, paradoxalmente, o<br />

próprio capitalismo criou. Sendo assim, pouco importa se as imagens são ou não<br />

falsificação da realidade, elas existem para ajudar o homem contemporâneo a sobreviver<br />

nessa cultura. O homem moderno pensa que vive em uma sociedade individualista, que não<br />

liga para o social. Contudo a cruel verdade é que o homem moderno é o mesmo aqui e<br />

acolá, perdemos a nossa identidade, estamos todos no mesmo saco baseando-se na idéia<br />

de o que importa é o que possuímos, pois é isso que constrói a nossa imagem perante a<br />

sociedade. Tendo isso em vista os meios de comunicação, as mercadorias, o capitalismo<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

em si é totalmente voltado para o “individualismo”, como por exemplo, o logo do Itaú, “Itaú<br />

feito pra você”, as identidades são promovidas pelo mercado, é uma autoconstrução da<br />

personalidade, “identidades negociadas que vêm acompanhadas de rótulos da aprovação<br />

social”. (FONTENELE, 2004, 55)<br />

Com a reprodutibilidade técnica e a tecnização da vida humana, a sociedade vai perdendo a<br />

sua memória. Tudo é mutável e transitório, não temos mais sentido de permanência por<br />

nada, assim Madonna que já está entre nós há mais de duas décadas se torna o que o rio<br />

Nilo significava para a antiga civilização egípcia, isto é, ela é um símbolo, um porto seguro,<br />

um terreno firme para o homem. Nesse sentido tendemos a enxergar a marca publicitária<br />

como um lugar de memória. A marca seria uma “forma-ilusória” a qual preencheria esse<br />

vazio provocado pela cultura descartável na qual vivemos assim ela se torna um refúgio<br />

para o homem moderno. Ela é o padrão de sucesso, legitimador social, por isso ilusão.<br />

Método<br />

A metodologia deste artigo será uma análise de imagem, tendo o livro “Introdução à análise<br />

da imagem” de Martine Joly como suporte. Serão levados em consideração os signos<br />

plásticos e icônicos de cada fotografia. “Os signos icônicos dão uma impressão de<br />

semelhança com a realidade jogando com a analogia perceptiva e com os códigos de<br />

representação. Os signos plásticos são os componentes propriamente plásticos da imagem,<br />

como a cor, composição, textura, ângulo, cor, iluminação. Os signos icônicos e plásticos são<br />

então, considerados como signos visuais, ao mesmo tempo distintos e complementares”.<br />

(JOLY, 2008, p.75) Mediante a observação de cinco fotografias, que serão expostas a<br />

seguir, poderemos contemplar o referencial teórico acima. A seleção das fotografias para<br />

análise foi aleatória, visando sintetizar em cada imagem uma das cinco categorias: Ousada,<br />

Provocante, Humanizada, Dura na Queda e 50 Anos.<br />

“Para analisar uma mensagem, em primeiro lugar devemos nos<br />

colocar deliberadamente do lado em que estamos, ou seja, do lado<br />

da recepção, o que não nos livra da necessidade de estudar o<br />

histórico da mensagem [...] Porém, se persistirmos em nos proibir de<br />

interpretar uma obra sob o pretexto de que não se tem certeza de<br />

que aquilo que compreendemos corresponde às intenções do autor,<br />

é melhor parar de ler ou contemplar qualquer imagem de imediato.”<br />

(JOLY, 2008, p.44-45)<br />

Para analisá-las apropriadamente teremos que desmontá-las, pois cada imagem guarda<br />

dentro de si mais do que uma conotação, isto é, tem uma significação segunda que parte de<br />

uma primeira de um signo pleno. A fotografia (significante) que permite reconhecer o ícone<br />

Madonna (significado) constitui um signo pleno (significado) ligado diretamente com um<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

(significante). Porém, esse signo possui, além da mencionada, mais “camadas significativas”<br />

tornado-se assim o significante de um significado segundo, terceiro e assim por diante. “De<br />

fato, nem sempre é inútil lembrar que as imagens não são as coisas que representam, elas<br />

se servem das coisas para falar de outra coisa” (JOLY, 2008, p. 84)<br />

• FOTOS<br />

• OUSADA<br />

• PROVOCANTE<br />

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• HUMANIZADA<br />

• DURA NA QUEDA<br />

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

20


• 50 ANOS<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

“Os elementos plásticos são signos plenos e inteiros e não simples material de<br />

expressão dos signos icônicos (figurativos). [...] Uma parte da significação da<br />

mensagem visual é determinada pelas escolhas plásticas e não unicamente pelos<br />

signos icônicos.” (JOLY, 2008, p.92-93).<br />

• Plásticos<br />

• Suporte – Papel semi-acetinado, formato revista (pode ser ou não página dupla). O<br />

próprio nome Madonna já remete ao universo da publicidade, portanto, são<br />

fotografias que têm o poder de construir e representar a realidade por meio dos<br />

próprios traços registrados no suporte. Em geral as revistas e jornais possuem uma<br />

mistura de gêneros que se intercalam com o passar das páginas, ou seja, de<br />

reportagens jornalísticas pulam para a publicidade. Nas fotos em questão não<br />

possuem gênero jornalístico, sendo na sua premissa voltado para o marketing.<br />

• Textura – A textura em uma imagem está diretamente ligada a uma terceira<br />

dimensão, pois o tato é utilizado nessa área. Em uma percepção visual, onde logo<br />

de cara é classificada como distante e fria, pois supõe um distanciamento do<br />

espectador pode ser “sentida” através da textura podendo causar até sensações<br />

sinestésicas.<br />

• Quadro – Todas as imagens estáticas possuem limites físicos que podem ser ou não<br />

possuir molduras. Quando menciono molduras me refiro tanto as de madeira,<br />

plástico, mas também a uma capa de revista com manchetes ao redor da foto.<br />

21


VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

Porém em alguns casos não existe molduras físicas, porém o incômodo permanece.<br />

Como mecanismo de defesa o homem utiliza alguns procedimentos, que podem ser,<br />

por exemplo, o re-enquadramento imaginário, imaginar o restante da foto. Na<br />

fotografia 4 essa situação é clara, falta a cabeça do cavalo, ela está bruscamente<br />

interrompida pelas bordas da revista. Esse procedimento prende particularmente o<br />

imaginário da pessoa, já que leva o espectador a construir através dos suas próprias<br />

experiências e conhecimento o que não consegue ver no campo visual do suporte e<br />

o leva para fora desse campo, trazendo o mesmo para mais perto de si.<br />

• Enquadramento – Cuidado para não confundir enquadramento com moldura. Este<br />

item corresponde ao foco da foto, aos recortes que você irá selecionar no assunto<br />

principal, os componentes externos ao objeto – cenário, planos abertos ou fechados.<br />

A famosa regra dos terços entra aqui, os quatro pontos de atração do olhar: superior<br />

e inferior esquerdo e superior e inferior direito.<br />

• Ângulo e tipo de objetiva – O ângulo em uma fotografia é crucial, pois tem o poder<br />

de reforçar a impressão do imaginário das pessoas sobre o objeto fotografado. Pode<br />

supervalorizar ou desvalorizar. O simples fato de o fotógrafo abaixar ou tirar a foto<br />

na altura dos olhos do assunto confere ou não mais força ao personagem em<br />

questão.<br />

A escolha da objetiva também conta muito. Ela pode ser teleobjetiva, grande-<br />

angular, macro. Há objetivas com grande profundidade de campo (todos os planos<br />

da foto ficam nítidos), o que confere a utopia de proximidade com o local, além de<br />

obter perspectiva, parecendo muito com a nossa visão natural. Podemos usar como<br />

exemplo a 55mm<br />

As teleobjetivas recortam o objeto do fundo, brincando com o nítido e o flou. Ela<br />

acaba sendo considerada mais profissional e é bem mais expressiva, todavia,<br />

esmaga qualquer noção de perspectiva. Como por exemplo: 70-200, 75-300.<br />

A chamada grande angular ou também a eyed fish (olho de peixe) possui um ângulo<br />

amplo. Esse tipo de lente forma aberrações e curvas. Muito comum em fotos abertas<br />

de paisagens e bastante frequente em reportagens, podemos usar como exemplo<br />

as lentes 16-35 e a 17-40.<br />

• Cores e iluminação – O receptor tem uma reação especialmente importante aqui.<br />

São nas cores que ele mais irá relacionar a fotografia com a sua bagagem<br />

psicofisiológica, pois coloca o espectador em contato com suas experiências desde<br />

as primordiais até as atuais das cores e humores vinculados a elas. Cores mais frias<br />

como azul aéreo do céu ou o a calmaria do verde remetem a manhãs, inverno,<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

outono, campo, descanso, alegria. A força e a violência das cores quentes como<br />

vermelho, amarelo, laranja que trazem à memória o fogo, verão, por do sol, praia<br />

sentimentos e sensações fortes como raiva, paixão, sexo. São tantas referencias<br />

que com apenas o tom de uma dessas cores pode trazer a baila do receptor.<br />

A iluminação pode ser difusa, isto é, suave, apagada, sem sombras e relevos. Outra<br />

opção é a luz dura e orientada que demarca cada traço do objeto.<br />

• Composição e diagramação – Essa é a área que vai comandar o olhar, vai montar<br />

a hierarquização da visão em relação à imagem, o que consequêntemente irá<br />

orientar a leitura da mesma. Existem três tipos de construção: axial, profundidade,<br />

sequencial, que respectivamente significam: colocar o assunto no eixo do olhar, em<br />

geral no centro da fotografia. O objeto é integrado com o cenário em perspectiva<br />

(tudo nítido), porém permanece sempre em primeiro plano. E finalmente a<br />

sequencial que consiste em contextualizar o espectador antes para que somente<br />

então seu olhar recaia sobre o assunto principal. Esses tipos de composição e<br />

diagramação caem como luvas em publicidade, por isso servem para as fotos<br />

selecionadas de Madonna.<br />

• Icônicos<br />

Cada componente das fotografias estão lá por algo mais do que eles próprios, através das<br />

conotações que os mesmos evocam. Cada uma dessas representações tem um “motivo”<br />

(JOLY, 2008, p.48) com diversas significações que dependem da bagagem de experiências<br />

socioculturais do receptor.<br />

No caso das fotos Dura na Queda e 50 Anos um dos personagens não esta completo na<br />

fotografia, quando isso ocorre usamos a cenografia que utiliza o imaginário para reconstruir<br />

as partes que faltam. “Esse tipo de representação é metonímico, isto é, vemos partes de<br />

elementos que ali estão para designar o todo por contiguidade, utilizando o imaginário do<br />

espectador.” (JOLY, 2008, p.45)<br />

• Ousada – Madonna está deitada em uma cama, seu braço direito está levantado<br />

escondendo parte do rosto, porém os olhos sedutores e profundos ficam de<br />

expostos. O estímulo da fotografia está na força do olhar e no cinto “Boy Toy”, que<br />

causam toda a ambiguidade e complexidade do assunto: virgindade x sexo, que no<br />

contexto histórico da época diz respeito à libertação feminina de um mundo<br />

extremamente machista.<br />

• Provocante – Ainda sob o contexto do movimento feminino, a mensagem da<br />

fotografia ainda tem como foco a liberdade. Madonna nua, andando sem rumo por<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

uma rua movimentada, fumante. Essa fotografia sob a análise figurativa mostra a<br />

mulher sem as amarras da tradição em busca de um novo caminho.<br />

• Humanizada– Madonna vestida com roupas casuais, “escondida” sob os óculos de<br />

sol, sem maquiagem, precisando retocar a tintura no cabelo, segurando uma criança<br />

negra e pobre (símbolo de caridade mundial) que passa uma mensagem mulher-<br />

mãe. Aquela mulher que abre mão da sua vaidade, sensualidade em prol dos seus<br />

filhos. A Manchete “Madonna: uma das mães mais poderosas do mundo” reforça<br />

ainda mais esta imagem.<br />

• Dura na Queda – Nesta foto impõem-se duas observações a primeira é o corte na<br />

cabeça do cavalo, a segunda é o cigarro. Essa sessão fotográfica tem um porquê.<br />

Antes da turnê Confessions on a Dance Floor, Madonna aos 47 anos caiu de um<br />

cavalo e quebrou 9 ossos. Com uma recuperação assombrosa, a rainha do pop<br />

preparou essa sessão com cavalos para se impor em um papel de “dominadora”<br />

sobre o animal. Por isso o corte bem na cabeça do cavalo, ela esta em uma posição<br />

completa de comando e autoridade, afinal está deitada sobe ele. E finalmente o<br />

cigarro com fumaça que pode ser considerado, neste contexto, um símbolo de<br />

desprezo e despreocupação formam uma mensagem forte no imaginário do<br />

espectador. Além disso a ausência da cabeça designa apenas na reconstrução na<br />

imaginação de um cavalo inteiro, mas sim em todas as imagens que o espectador<br />

em questão já viu com cavalos. Por isso a publicidade utiliza muito este recurso,<br />

pois quando imaginamos uma complementação, o cérebro faz um levantamento das<br />

imagens mais marcantes que nós tivemos com o objeto.<br />

• 50 Anos – É claro que Madonna luta desesperadamente contra o tempo, atualmente<br />

com 52 anos, a Loira não é tão atraente quanto sua época de Sex Book. Seu último<br />

ensaio fotográfico realizado no Rio de Janeiro, Brasil, Madonna insiste em um<br />

flashback de seu livro e realiza uma de suas fantasias. Sempre tendo o homem<br />

latino como símbolo sexual ela encontra no modelo carioca Jesus Pinto Luz um<br />

refúgio. Além de novamente apelar para a sexualidade, ela volta com o tema religião<br />

muito forte em sua época Like a Prayer. Nessa fotografia o interessante é a figura<br />

de Madonna relacionada com uma freira, com vestido comportado preto, luvas,<br />

crucifixo, ela luta contra o desejo e a tentação. Seu braço esquerdo escondido<br />

causa um estímulo no imaginário, já que bem ao seu lado, Jesus aparece<br />

completamente nu fazendo com que pensemos que ela esconde a mão com medo<br />

de se render e tocar no homem. Sua figura também é instigante, pois o corte<br />

também causa estímulos no imaginário, já que corta bem no seu órgão sexual. Além<br />

disso Jesus está com um escapulário, que remete a religião, sacrifício, porém ele<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

está molhado. A água significa renascimento, liberdade, como se ele tivesse sido<br />

liberto dos dogmas da religião.<br />

Sintetizando a mensagem icônica verificamos que: “a análise da mensagem icônica sublnha<br />

que a interpretação dos motivos ocorre por meio do processo da conotação, ele próprio<br />

carregado por conotadores de diversas ordens: usos socioculturais dos objetos, dos lugares,<br />

posturas do modelo e assim por diante” (JOLY, 2008, p.108) As fotos estudadas sugerem<br />

elementos que associam com arquétipos e estereótipos – Domínio, liberdade, controle,<br />

aventura, jogo de ambigüidade como virgindade x sexo, cores frias e neutras representando<br />

assuntos quentes.<br />

Fizemos duas tabelas, uma analisando todos os signos plásticos e a outra com os signos<br />

icônicos e chegamos aos seguintes resultados:<br />

Resultados e Discussão<br />

QUADRO<br />

ENQUADRA<br />

MENTO<br />

ÂNGULO da<br />

TOMADA<br />

ESCOLHA<br />

da<br />

OBJETIVA<br />

COMPOSIC<br />

AO<br />

• Tabela signos plásticos<br />

SIGNIFICANTES PLASTICOS<br />

OUSADA PROVOCANTE HUMANIZADA<br />

Presente, fora de<br />

quadro: concreto<br />

Fechado:<br />

proximidade<br />

Leve plongée:<br />

domínio do<br />

espectador,<br />

diminuição do<br />

modelo<br />

Distância focal<br />

longa: nítido/flou,<br />

sem profundidade<br />

de campo:<br />

focalização do<br />

objeto<br />

Simétrica,<br />

equilibrada,<br />

vertical<br />

Presente, fora<br />

de quadro:<br />

concreto<br />

Amplo:<br />

Distância<br />

Frontal: mesma<br />

altura dos<br />

olhos, realidade<br />

Distância focal<br />

curta:<br />

profundidade de<br />

campo, espaço<br />

e precisão<br />

Simétrica,<br />

equilibrada,<br />

vertical<br />

Presente, fora<br />

de quadro:<br />

concreto<br />

Fechado:<br />

proximidade<br />

Frontal:<br />

mesma altura<br />

dos olhos,<br />

realidade<br />

Distância<br />

focal longa:<br />

nítido/flou, sem<br />

profundidade<br />

de campo,<br />

focalização no<br />

objeto<br />

Simétrica,<br />

equilibrada,<br />

vertical<br />

DURA na<br />

QUEDA<br />

Presente,<br />

fora de<br />

campo:<br />

imaginário<br />

Amplo:<br />

distância<br />

Leve contreplongée:<br />

altura, força e<br />

valorização<br />

do modelo<br />

Distância<br />

focal curta:<br />

profundidade<br />

de campo,<br />

espaço e<br />

precisão<br />

Simétrica,<br />

equilibrada,<br />

vertical<br />

50 ANOS<br />

Presente, fora<br />

de campo:<br />

imaginário<br />

Fechado:<br />

proximidade<br />

Frontal e leve<br />

contreplongée:<br />

mesma altura<br />

dos olhos,<br />

realidade, e;<br />

altura, força e<br />

valorização ao<br />

modelo<br />

Distância focal<br />

curta:<br />

profundidade de<br />

campo, espaço<br />

e precisão<br />

Simétrica,<br />

equilibrada,<br />

horizontal<br />

25


SUPORTE<br />

ascendente, plano<br />

americano<br />

Papel<br />

semiacetinado:<br />

revista<br />

ascendente ascendente,<br />

moldurada<br />

Papel<br />

semiacetinado:<br />

revista<br />

CORES Dominante: Fria Diminante:<br />

Neutra<br />

ILUMINACA<br />

O<br />

Difusa<br />

generalizada<br />

Orientada<br />

generalizada<br />

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

Papel<br />

semiacetinad<br />

o: revista<br />

Dominante:<br />

fria<br />

Difusa<br />

generalizada<br />

ascendente ascendente<br />

Papel<br />

semiacetinad<br />

o: revista<br />

Dominante:<br />

fria<br />

Difusa<br />

generalizada<br />

Papel<br />

semiacetinado:<br />

revista<br />

Dominante: fria<br />

Difusa<br />

generalizada<br />

Textura Lisa: visual Em grão: tátil Lisa: visual Lisa: visual Lisa: visual<br />

• Tabela signos icônicos<br />

SIGNIFICANTES<br />

OUSADA<br />

SIGNIFICADOS DE CONOTACOES DE SEGUNDO<br />

ICONICOS<br />

PRIMEIRO NIVEL<br />

NIVEL<br />

Vestido branco Vestido de noiva, casamento, Feminilidade, virgindade, pureza,<br />

tradição<br />

compromisso<br />

Luvas de renda Mão de mulher Maciez, delicadeza, feminilidade,<br />

proteção<br />

Cinto "Boy Toy" Acessório masculino Domínio, proteção, desafio,<br />

resistência<br />

Cama Lugar de apoio Conforto, maciez, sexo, convite,<br />

desejo<br />

Buquê de flores<br />

brancas<br />

Mulher Mulher, maciez, pureza<br />

Anel mão esquerda Casamento Compromisso, domínio, promessa<br />

SIGNIFICANTES<br />

PROVOCANTE<br />

SIGNIFICADOS DE PRIMEIRO CONOTACOES DE SEGUNDO<br />

ICONICOS<br />

NIVEL<br />

NIVEL<br />

Cigarro Fumaça Vício, dependência,<br />

sexualidade, esconderijo<br />

Bolsa e sapato salto- Acessório feminino Esconderijo e objeto de<br />

alto<br />

locomoção<br />

Rua Local de apoio Caminho<br />

Carro Espaço móvel Fuga<br />

SIGNIFICANTES<br />

HUMANIZADA<br />

SIGNIFICADOS DE<br />

CONOTACOES DE<br />

ICONICOS<br />

PRIMEIRO NIVEL<br />

SEGUNDO NIVEL<br />

Óculos de sol Acessório Esconderijo,<br />

proteção, distância<br />

máscara,<br />

Manchetes Maternidade Reforço da polissemia da<br />

imagem<br />

Crianças Infância Inocência, alegria, família<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

Roupas casuais Vestimenta Simplicidade, dia, alegria,<br />

despreocupação, folga do<br />

trabalho, realidade<br />

DURA NA QUEDA<br />

SIGNIFICANTES SIGNIFICADOS DE PRIMEIRO CONOTACOES DE SEGUNDO<br />

ICONICOS<br />

NIVEL<br />

NIVEL<br />

Animal Cavalo Virilidade, liberdade, natureza<br />

Cigarro Fumaça Vício,<br />

sexualidade<br />

dependência,<br />

Curral Local de apoio Sensualidade, espírito<br />

Luvas de couro Acessório masculino, mão de<br />

homem<br />

selvagem, desconforto<br />

Controle, firmeza, equilíbrio,<br />

força, maciez, frio<br />

Rédeas Cavalo Natureza, domínio<br />

Chicote Instrumento de equitação Sensualidade, domínio, sexo,<br />

desejo<br />

Roupa couro macio Produto natural Calor, sensualidade,<br />

resistência, equilíbrio<br />

50 ANOS<br />

SIGNIFICANTES SIGNIFICADOS DE CONOTACOES DE SEGUNDO<br />

ICONICOS<br />

PRIMEIRO NIVEL<br />

NIVEL<br />

Luvas de renda Mão de mulher Maciez, delicadeza, feminilidade,<br />

proteção<br />

Crucifíxio Religião, igreja, tradição Sacrifício, punição, autocontrole,<br />

castidade<br />

Vestido preto Vestimenta feminina Seriedade, respeito,<br />

comportamento, resistência,<br />

freira<br />

Escapulário Religião, igreja, tradição Sacrifício, punição, autocontrole,<br />

castidade<br />

Água Banho Liberdade, renascimento<br />

Conclusão<br />

No sistema vigente da nossa sociedade – capitalismo – as imagens se tornam o nosso<br />

ponto de apoio primordial. O nome Madonna causa uma reação em nós, porque suas<br />

imagens se relacionam com o nosso imaginário a ponto de nos projetar-mos nelas. A<br />

vontade alucinante de consumir é o que legitima o ser humano inserido em uma sociedade<br />

ocidental capitalista. Tornamo-nos seres dependentes, por isso vivemos sim em uma<br />

“sociedade de espetáculos”.<br />

Se tudo o que nos rodeia é descartável, inclusive a própria cultura, o que fazer para evitar a<br />

passividade total? Essa é a grande importância da análise da imagem, já que se<br />

considerarmos que as mesmas procuram preencher um vazio existencial causado pela<br />

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

modernidade, somente sabendo como observá-las de forma reflexiva e critica impedirá a<br />

manipulação das empresas capitalistas, principalmente da publicidade sobre nós.<br />

A verdade é que a humanidade está seguindo o caminho da massificação, simplesmente<br />

porque ela está preguiçosa e desaprendeu a refletir. Através de todos os pontos cruciais que<br />

o referencial teórico desse artigo passou percebemos que o que falta no homem é<br />

capacidade intelectual para lutar frente as conseqüências da modernidade - vista na história<br />

de Fausto. Nunca o ser humano esteve tão atolado na tragédia do desenvolvimento quanto<br />

nos dias de hoje.<br />

O interesse de estudar uma imagem mesmo que seja de forma inocente e ingênua já<br />

começa a formar um espírito crítico. Cada imagem possui camadas e camadas de<br />

significados, que uma simples leitura usando somente suas experiências socioculturais pode<br />

descobrir. Por isso que Madonna consegue há 27 anos somar seus fãs. Já que ao difundir<br />

essas imagens, a rainha do pop mexe com nosso imaginário, nossa bagagem de<br />

experiências, forçando uma projeção de nós mesmos na imagem dela.<br />

A análise conseguiu desvendar as percepções visíveis e latentes de cada fotografia<br />

selecionada, a fim de trazer ao espectador a compreensão de que uma imagem, mesmo<br />

sendo a mais simples delas – estática – capta muito mais do que está no primeiro nível de<br />

entendimento. Cada pontinho de tinta nessas imagens tem em seu interior tudo o que<br />

discorremos neste artigo, isto é, cultura de massa, indústria cultural, celebridade, ícone-mito,<br />

marca, capitalismo.<br />

Referências<br />

BAITELLO JUNIOR, Norval, (org).; GUIMARÃES, Luciano, (org).; MENEZES, José Eugênio<br />

de Oliveira, (org).; PAIERO, Denise, (org). Os símbolos vivem mais que os homens:<br />

ensaios de comunicação, cultura e mídia. São Paulo: Annablume; CISC, 2006.<br />

CONTRERA, Malena. Mito na mídia: a presença de conteúdos arcaicos nos meios de<br />

comunicação. São Paulo: Annablume, 1996.<br />

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. São Paulo: Contrapondo, 1997.<br />

FONTENELLE, Isleide Arruda. O nome da marca: McDonalds, fetichismo e cultura<br />

descartável. São Paulo: Boitempo, 2002<br />

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas: Papirus, 1996<br />

MARSHALL, Berman. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da<br />

modernidade. trad. Carlos Felipe Moisés; Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das<br />

Letras, 1996.<br />

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<strong>Universidade</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>Mackenzie</strong><br />

MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo – 1 Neurose. trad.<br />

Maura Ribeiro Sardinha. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária LTDA, 1984.<br />

O’BRIEN, Lucy. Madonna 50 anos: a biografia do maior ídolo da música pop. trad. Inês<br />

Cardoso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.<br />

Contato: sarinha.rissato@gmail.com; sara_rissato@hotmail.com e mcfeijo@mackenzie.br<br />

29

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