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VIVENTES DOS PANTANAIS E CERRADOS “LIVING ... - UFGD

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Universidade Federal da Grande Dourados<br />

Para justifi car suas afi rmações, a ensaísta revisa a posição dos críticoshistoriadores<br />

do regionalismo, salientando que, para Afrânio Coutinho, o termo<br />

“regionalismo” ou pode ser entendido como a capacidade de as obras de arte terem<br />

como pano de fundo um lugar (regional) ou, ainda, o fato de brotarem desse local<br />

particular. Enfatiza, inclusive, que a literatura sofre quando os escritores se afastam de<br />

suas fontes locais, concluindo com André Gide que, é na particularização que pode<br />

ser alcançada a humanidade profunda, e evocando, ao fi nal, um brocado espanhol<br />

que diz “El pátio de mi casa es particular; cuando llueve se moja como los demás”<br />

(Cf. ARAÚJO, 2006, p. 115). Já para Lúcia Miguel Pereira, o regional é o que se<br />

defi niria em relação ao nacional; logo, o regionalismo se restringe “[às] obras cujo<br />

conteúdo perderia a signifi cação sem esses elementos exteriores, e que se passem<br />

em ambientes onde os hábitos e estilos de vida se diferenciem dos que imprime a<br />

civilização niveladora” (apud ARAÙJO, 2006, p. 115), incorporando, neste raciocínio,<br />

a visão do colonizador e o que para ele era civilização e barbárie. Disso se extrai que,<br />

a literatura regionalista deveria evoluir na medida em que investisse em concepções<br />

mais universais, abrindo mão do localismo em busca do cosmopolitismo – nisto a<br />

contradição de Miguel-Pereira.<br />

Para Antonio Candido, em “O regionalismo como programa e critério<br />

estético”, ou, ainda, em “Literatura e cultura: de 1990 a 1945”, estaria se produzindo<br />

“um regionalismo pobre e romantizado”, uma vez que o crítico procura<br />

associar o regionalismo com a matriz romântica e seu corolário, o nacionalismo,<br />

que signifi cava, segundo o crítico, escrever sobre coisas locais, observando que<br />

o regionalismo serviu para classifi car obras produzidas fora do Rio de Janeiro<br />

(ARAÚJO, 2006, p. 117-119).<br />

Alfredo Bosi, em um primeiro momento, não se distanciaria desta perspectiva<br />

que vê no regionalismo um tipo de fi cção romântica, como lemos:<br />

As várias formas de sertanismo (romântico, naturalista,<br />

acadêmico e, até, modernista) que têm sulcado nossas letras<br />

desde os meados do século passado, nasceram do contato de<br />

uma cultura citadina e letrada com a matéria bruta do Brasil<br />

rural, provinciano e arcaico. Como o escritor não pode fazer<br />

folclore puro, limita-se a projetar os próprios interesses ou<br />

frustrações na sua viagem literária à roda do campo. Do<br />

enxêrto [sic] resulta quase sempre uma prosa híbrida onde<br />

não alcançam o ponto de fusão artístico o espelhamento da<br />

vida agreste e os modelos ideológicos e estéticos do prosador.<br />

(apud ARAÚJO, 2006, p.119).<br />

Da perspectiva de Bosi, o regionalismo seria uma literatura menor, que criara<br />

romances que nada acrescentariam ao leitor médio; em seu critério de ajuizamento,<br />

Bosi salva alguns romances de segunda plana (Inocência, O sertanejo, O gaúcho e O guarani),<br />

que se redimiriam “das concessões à peripécia e ao inverossímil pelo fôlego<br />

descritivo e pelo êxito na construção de personagens-símbolo” (apud ARAÚJO, 2006,<br />

p. 120). Mais tarde, em Literatura e resistência, o Bosi que afi rmara que o regionalismo<br />

sobrevivia apenas por uma necessidade escolar, vem a reconhecer, nestas produções,<br />

96 Raído, Dourados, MS, v. 4, n. 8, jul./dez. 2010

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