Limites e liberdade - Aprendendo a Vida
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<strong>Limites</strong> e <strong>liberdade</strong><br />
Textos sobre a importância dos limites na educação de<br />
crianças e adolescentes e de equilibrar restrições e<br />
<strong>liberdade</strong>.<br />
Jorge Montardo<br />
Médico Pediatra<br />
2011
Sobre o autor Jorge Montardo<br />
Médico Pediatra<br />
Especialista em Pediatria pela Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria<br />
Mestre em Educação nas Ciências<br />
Médico Pediatra da CAAMI (Centro de<br />
Atendimento aos Adolescentes do<br />
Município de Ijuí)<br />
Médico Pediatra do CAPSi (Centro de<br />
Apoio Psicossocial Infantil de Ijuí)<br />
Consultório:<br />
Atendimento clínico de crianças e<br />
adolescentes<br />
End.: Rua Ernesto Alves, 93, sala 303<br />
(Centro) Edifício da Unimed<br />
Telefone 3332-7099<br />
e-mail: jorge.montardo@gmail.com<br />
Blog: http://www.ijui.com/blog/blog-do-<br />
jorge<br />
2
Índice 4 /A importância dos limites<br />
5 /As dificuldades em impor limites<br />
6 /Os significados de impor limites<br />
7 / Como estabelecer limites<br />
9 /<strong>Limites</strong> – outros tópicos<br />
11 /Estabelecendo limites: pais<br />
precisam ser firmes<br />
12 /Comportamentos inadequados<br />
em crianças: soluções imediatas<br />
causam problemas futuro<br />
Estes textos foram publicados no Blog do Jorge Montardo, no Ijuhy.com<br />
3
A A importância importância dos dos dos limites limites<br />
limites<br />
A criança, quando começa a<br />
movimentar-se sozinha, precisa de<br />
<strong>liberdade</strong> para explorar o ambiente ao<br />
seu redor, como abrir gavetas e tirar<br />
todo o seu conteúdo para fora, mas<br />
não para colocar os dedos em uma<br />
tomada elétrica ou tocar em um fogão<br />
quente. Quando começa a caminhar e<br />
a correr é importante que os espaços<br />
lhe sejam franqueados para brincar ao<br />
ar livre, mas não pode atravessar<br />
uma rua sozinha.<br />
O adolescente também precisa<br />
ampliar sua <strong>liberdade</strong> em relação aos<br />
pais e buscar a sua independência,<br />
como sair com amigos, ir a festas,<br />
chegar mais tarde em casa, mas<br />
precisa cumprir horários, dizer com<br />
quem e onde está e estudar.<br />
A <strong>liberdade</strong> é vinculada a limites e não<br />
há como separá-los. E a criança<br />
precisa aprender o conceito de que<br />
nem sempre se pode fazer tudo o que<br />
se deseja.<br />
A criança e o jovem precisam de<br />
<strong>liberdade</strong>, mas também necessitam e<br />
buscam em seus pais a resposta para<br />
a pergunta: até onde posso ir? Ao<br />
testar os pais, a criança está emitindo<br />
uma mensagem muito clara: está<br />
dizendo que precisa de ajuda para<br />
descobrir o que pode e o que não<br />
pode fazer e a atitude dos pais será<br />
de extrema importância neste<br />
aprendizado.<br />
Impedir a independência progressiva<br />
da criança ou do adolescente,<br />
tolhendo-lhe a <strong>liberdade</strong>, é impedir<br />
que ela se transforme numa pessoa<br />
consciente e autônoma. Mas é preciso<br />
reconhecer que a disciplina é uma<br />
pré-condição para a vida, inclusive<br />
para as atividades de lazer (imaginese<br />
um jogo de futebol praticado por<br />
prazer nos finais de semana sem<br />
nenhuma regra, seria na verdade uma<br />
grande e desagradável confusão).<br />
Pode não ser fácil, mas é<br />
indispensável encontrar o ponto de<br />
equilíbrio entre o limite e a <strong>liberdade</strong><br />
para que os pais possam contribuir na<br />
formação de seus filhos. Inclusive, a<br />
ausência de regras e limites será<br />
interpretada pelos filhos como falta de<br />
atenção, descuido e abandono. Pode<br />
até ser difícil estabelecer limites, pois<br />
exigem paciência, persistência, afeto<br />
e dedicação. Mas não é possível<br />
educar filhos sem eles.<br />
4
As As dificuldades dificuldades em em impor impor limites<br />
limites<br />
Houve um tempo em que criança não<br />
tinha vez, querer ou escolhas, não<br />
interrompia conversas de adultos e<br />
não era prioridade. Aquelas que<br />
quebravam estas regras eram<br />
castigadas fisicamente pelos pais,<br />
hábito aceito pela sociedade como<br />
normal e necessário.<br />
Este tipo de relacionamento foi, no<br />
decorrer das últimas décadas,<br />
amplamente modificado e as crianças<br />
passaram a ser reconhecidas como<br />
indivíduos que têm vontade própria,<br />
direitos e necessidades específicas. O<br />
modo de educar os filhos tornou-se<br />
muito menos autoritário.<br />
Como toda transição, esta mudança<br />
no tipo de relacionamento entre<br />
adultos e crianças originou<br />
turbulências e, enquanto novos<br />
valores eram assumidos, alguns pais<br />
e professores “perderam o rumo”,<br />
transformando a educação de crianças<br />
uma tarefa complicada, desgastante e<br />
muitas vezes frustrante.<br />
Muitos confundiram a necessidade de<br />
mais <strong>liberdade</strong> com total falta de<br />
limites. Alguns livros e manuais<br />
sugeriram aos pais <strong>liberdade</strong> total<br />
para os filhos. Aqueles que foram<br />
filhos de pais muito autoritários<br />
acreditavam que deviam ser<br />
exatamente ao contrário com seus<br />
próprios filhos, enquanto outros ainda<br />
acreditam que não devem negar nada<br />
às crianças.<br />
Esta situação ainda tem gerado<br />
muitas dúvidas e confusão nos pais,<br />
que muitas vezes se encontram<br />
perdidos e não sabem muito bem<br />
como lidar com seus filhos na questão<br />
de limites. Contribuem também para<br />
esta dificuldade o pouco tempo<br />
disponível aos filhos atualmente – e<br />
consequentemente um sentimento de<br />
culpa – e a influência do estímulo ao<br />
consumismo exagerado.<br />
Mas através de algumas regras<br />
básicas, bom senso, respeito e afeto a<br />
tarefa de estabelecer limites aos filhos<br />
não precisa ser tão difícil ou<br />
traumática. Quando se reconhece a<br />
sua importância e aprende-se sobre<br />
as características normais das<br />
crianças em suas diversas idades,<br />
temos expectativas realistas e<br />
aceitamos que o processo de<br />
aprendizagem é naturalmente lento, a<br />
missão de educar os filhos pode ser<br />
gratificante.<br />
5
Os Os Os significados significados significados de de de impor impor impor limites<br />
limites<br />
Quando os adultos estabelecem<br />
regras e limites estão transmitindo às<br />
crianças alguns significados<br />
importantes, entre eles:<br />
1) Ensinar que todos os indivíduos<br />
têm direitos e deveres.<br />
2) Facilitar a compreensão de que os<br />
direitos de um acabam onde começam<br />
os direitos do outro. Quem não<br />
respeita esta regra geralmente são<br />
pessoas desagradáveis,<br />
inconvenientes, desajustadas, que<br />
não sabem se comportar em situações<br />
como em filas ou no trânsito.<br />
3) Deixar claro que muitas vezes é<br />
necessário dizer e ouvir um “não” e<br />
que vamos ouvir esta palavra muitas<br />
vezes em nossas vidas (na escola, no<br />
trabalho, etc.).<br />
4) Que podemos fazer muitas coisas,<br />
mas não todas.<br />
5) Que é necessário tolerar a<br />
aprender a conviver com pequenas<br />
frustrações, pois elas fazem parte de<br />
nossas vidas.<br />
6) Ensinar que muitas vezes é<br />
necessário adiar uma satisfação e que<br />
temos de esperar os momentos mais<br />
adequados para determinadas<br />
atividades, evitando o imediatismo.<br />
7) Perceber a diferença entre<br />
necessidade e desejo (o calçado é<br />
necessário, o tênis que custa mais<br />
que salário mínimo é desejo).<br />
8) Aprender a conviver com as<br />
diferenças sócio-econômicas típicas de<br />
nossa sociedade e que isto se reflete<br />
em diversos aspectos de nossas vidas,<br />
como padrões de consumo, por<br />
exemplo.<br />
Os limites ensinam a criança a ter<br />
comportamentos adequados, a se<br />
proteger contra situações de risco e a<br />
respeitar os demais. Colocar limites é,<br />
portanto, um investimento. Sem eles<br />
estaremos criando filhos difíceis,<br />
alunos problemáticos e adultos<br />
desajustados socialmente.<br />
As crianças e jovens precisam de<br />
limites, de ordem e de liderança,<br />
embora sistematicamente os<br />
contestem, o que é absolutamente<br />
normal e esperado.<br />
6
Como Como Como estabelecer estabelecer limites<br />
limites<br />
Estabelecer limites não precisa ser tão<br />
complicado como muitos imaginam. É<br />
claro que não existem receitas únicas,<br />
padronizadas, pois as características<br />
familiares e individuais (tanto dos pais<br />
como dos filhos) são importantes para<br />
definir as escolhas e decisões a serem<br />
tomadas. Mas algumas orientações<br />
básicas são úteis para a maioria dos<br />
pais.<br />
Alguns aspectos que precisam estar<br />
claros ao estabelecer limites:<br />
a) Reconhecer que dificuldades não<br />
são por culpa dos filhos (contestar os<br />
limites é uma atitude normal em<br />
crianças e adolescentes).<br />
b) Ter muita paciência, persistência e<br />
dedicação. É preciso ser mais<br />
persistente que a criança.<br />
c) Ter afeto e amor incondicional,<br />
mesmo nas horas mais difíceis.<br />
d) Reconhecer que educar é um<br />
processo longo, repetitivo e cujos<br />
resultados não são imediatos.<br />
e) Reconhecer as próprias limitações<br />
(os erros, o fato de algumas vezes<br />
estar cansado e que é normal perder<br />
a calma em algumas situações).<br />
f) Combater o sentimento de culpa<br />
por não atender a todos os desejos<br />
dos filhos.<br />
E algumas regras básicas são as<br />
seguintes:<br />
1) Agir de acordo com a idade da<br />
criança: é preciso conhecer a sua fase<br />
do desenvolvimento e sua capacidade<br />
cognitiva para transmitir informações,<br />
regras e limites. É necessário<br />
reconhecer a capacidade do filho em<br />
entender as regras e as<br />
conseqüências do não cumprimento<br />
das mesmas e ter expectativas<br />
coerentes e de acordo com a idade e<br />
características individuais da criança.<br />
Não exigir nem demais nem de<br />
menos.<br />
2) Iniciar o mais cedo possível, antes<br />
de um ano de idade, quando a criança<br />
começa a perceber o significado de<br />
certas palavras, inclusive o “não”.<br />
3) Manter a coerência entre os pais e<br />
demais familiares. A dificuldade é<br />
grande quando pai corrige e a mãe<br />
perdoa (ou vice-versa). Um não pode<br />
desautorizar o outro. E os demais<br />
familiares (como tios ou avós) não<br />
devem interferir nas decisões e<br />
atitudes dos pais. Os pais saberão que<br />
estão agindo certos quando os filhos<br />
disserem: “isto não é justo, vocês<br />
dois estão contra mim!”.<br />
4) Dar o exemplo é a melhor forma de<br />
educar (melhor do que dar<br />
conselhos). Nas pequenas atitudes do<br />
dia a dia, como em filas, ao<br />
manifestar respeito às demais<br />
pessoas, ao exercer comportamento<br />
ético e honesto é possível mostrar às<br />
crianças quais comportamentos são<br />
corretos e quais são inadequados ou<br />
inaceitáveis.<br />
5) As regras devem ser claras,<br />
definidas e estáveis. Estabelecer de<br />
forma clara o que pode e o que não<br />
pode. Não dá para ficar mudando as<br />
regras com freqüência, pois isto<br />
confunde a criança em seu<br />
aprendizado. Não é possível mudar de<br />
atitude como quem muda de roupa. E<br />
as regras devem ser estabelecidas<br />
pensando na adequada educação da<br />
criança e não apenas no benefício dos<br />
pais.<br />
6) É preciso ser persistente (mais do<br />
que as crianças). Se a criança insistir<br />
mil vezes em fazer algo errado, é<br />
preciso corrigi-la mil e uma vezes.<br />
7) Cumprir o que foi dito. Se houve a<br />
ameaça de que o filho ficaria sem<br />
assistir TV se não fizesse os temas, é<br />
preciso cumprir a penalidade se a<br />
7
criança realmente não fez os temas.<br />
Sem voltar atrás ou “perdoar, ficar<br />
com peninha”. Os pais precisam ser<br />
claros, firmes, determinados,<br />
confiantes e tranqüilos. Não dá para<br />
ficar com pena porque a criança<br />
chorou ou ficou triste se você estiver<br />
confiante de que tomou a atitude<br />
correta.<br />
8) Criticar o ato cometido em si e não<br />
o indivíduo ou sua personalidade.<br />
Deve-se reclamar que o quarto está<br />
bagunçado, mas não é necessário<br />
dizer que o filho é relaxado ou<br />
bagunceiro. Quando ele briga não<br />
dizer que é mau, se não estuda que é<br />
preguiçoso. Deve-se ressaltar o<br />
comportamento em si e não utilizar<br />
rótulos. Criticar e corrigir o gesto ou<br />
atitude, não a criança. Frases do tipo<br />
“você é” (egoísta, impossível, não tem<br />
jeito) qualificam a criança e não a sua<br />
atitude. E ela com certeza não merece<br />
estes “carimbos ou rótulos”.<br />
9) E também, muito importante,<br />
lembrar que elogiar os bons<br />
comportamentos é fundamental, pois<br />
geralmente o mais comum é<br />
reclamarmos quando os filhos fazem<br />
coisas erradas. Lembrar que premiar<br />
não é dar coisas materiais, mas sim<br />
elogiar e demonstrar afeto. Não<br />
economizar elogios (um elogio vale<br />
muito mais que várias críticas). Os<br />
"prêmios" são imprescindíveis na<br />
socialização da criança,<br />
principalmente o sorriso de<br />
aprovação, o elogio verbal, o gesto<br />
afetuoso de um adulto querido. No<br />
entanto, a criança deverá se<br />
comportar de determinada forma,<br />
conscientemente, por opção e não<br />
para conquistar determinado prêmio.<br />
8
<strong>Limites</strong> <strong>Limites</strong> – outros tópicos<br />
Neste texto sobre limites registro<br />
algumas considerações gerais<br />
relevantes para que os pais possam<br />
educar seus filhos de uma forma mais<br />
tranqüila e produtiva.<br />
1) Não ofender, humilhar ou rotular.<br />
Para uma criança, as palavras ditas<br />
por seus pais são muito significativas,<br />
sejam elas elogios ou críticas.<br />
Portanto ao dizer para uma criança<br />
que ela é “boba, feia ou burra” pode<br />
deixar marcas importantes. É possível<br />
ser enérgico e corrigir<br />
comportamentos inadequados sem<br />
ofender ou humilhar.<br />
2) Confiança e respeito se conquistam<br />
com a verdade, jamais através de<br />
afirmações, ameaças ou promessas<br />
falsas. Não mentir é fundamental no<br />
processo de educação.<br />
3) Não discutir, se irritar, ficar brabo<br />
ou perder a paciência. Os pais devem<br />
determinar e fazer com que a<br />
determinação seja cumprida.<br />
Principalmente com criança pequena<br />
não se discute ou “bate-boca”.<br />
Reconsiderar é possível se os pais<br />
reconhecerem que erraram ou<br />
mudarem a decisão se o filho (de<br />
mais idade) se valer de argumentos<br />
convincentes. Uma argumentação<br />
bem feita também pode ser<br />
reconhecida e valorizada.<br />
4) Não trazer outros assuntos para<br />
uma determinada situação, lembrando<br />
comportamentos inadequados<br />
passados, a menos que tenham<br />
relação com o fato atual.<br />
5) Ouvir o que a criança tem a dizer,<br />
sem julgar ou pressionar. Tentar<br />
decifrar o motivo do comportamento é<br />
importante, pois muitas vezes<br />
podemos entender o seu significado<br />
de uma forma mais clara, valorizando<br />
os sentimentos antes de julgar certos<br />
comportamentos.<br />
6) Disciplinar significa ensinar: cada<br />
oportunidade de disciplinar é também<br />
uma oportunidade de ensinar alguma<br />
coisa em benefício da criança.<br />
7) Proporcionar a oportunidade dos<br />
filhos tomarem certas decisões,<br />
estimulando a autonomia e<br />
independência progressivas e a<br />
conquista da confiança dos pais. Em<br />
todas as idades as crianças têm<br />
condições de agirem e fazerem certas<br />
atividades sozinhas.<br />
8) É possível estabelecer limites com<br />
carinho. Não é necessário gritar,<br />
ameaçar e muito menos agredir<br />
(verbal ou fisicamente). Paciência e<br />
afeto são armas importantes para se<br />
transmitir regras e ensinar<br />
comportamentos. Demonstrar para a<br />
criança que os pais estão tristes<br />
devido ao seu comportamento<br />
inadequado é mais importante que<br />
crititcar. O amor deve ser<br />
incondicional e deve ficar claro para a<br />
criança que ela é amada,<br />
independentemente de seu<br />
comportamento.<br />
9) Os pais devem aprender a evitar a<br />
influência dos outros, principalmente<br />
quando a criança ou adolescente<br />
argumenta que “todo mundo está<br />
fazendo ou usando”. As decisões<br />
devem ser tomadas por critérios e<br />
valores próprios da família.<br />
10) Não é preciso se sentir culpado<br />
por controlar a vida de filhos.<br />
Estabelecer limites é uma atitude em<br />
benefício da criança, para melhorar<br />
seu aprendizado e crescimento como<br />
indivíduo, bem como a sua adequada<br />
integração com a família e a<br />
comunidade. Deve-se lembrar que,<br />
em todas as idades, a última palavra<br />
é a dos pais. Isto não ser autoritário,<br />
é agir com a autoridade de pai e ser<br />
responsável. A recompensa pode ser<br />
tardia, mas vale a pena.<br />
9
Estabelecer limites não é uma tarefa<br />
fácil, mas também não é tão difícil<br />
quando se tem tranqüilidade, afeto e<br />
confiança.<br />
10
Estabelecendo Estabelecendo limites: limites: pais pais precisam precisam ser ser firmes<br />
firmes<br />
Os pais não apenas podem, mas<br />
devem estabelecer regras e limites<br />
para seus filhos. Já abordei em outros<br />
textos este tema (A importância dos<br />
limites), mas neste ressalto a<br />
necessidade dos pais estarem seguros<br />
quanto a serem firmes e decididos,<br />
possibilitando às crianças saberem<br />
exatamente o que podem e o que não<br />
podem fazer.<br />
As relações familiares entre os pais e<br />
entre estes e seus filhos mudaram em<br />
vários aspectos e em decorrência de<br />
múltiplas transformações sociais. Um<br />
efeito colateral destas transformações<br />
foi embaralhar o papel dos pais como<br />
educadores e responsáveis por<br />
estabelecer de forma firme e<br />
consistente regras e limites.<br />
Mesmo com os novos costumes e<br />
práticas sociais, as crianças<br />
continuam precisando de normas e<br />
controles, embora como sempre, os<br />
contestem e resistam em aceitá-los. E<br />
não se trata de receitar a volta a<br />
tempos idos, mas de reconhecer que<br />
muitos pais atualmente se sentem<br />
inseguros, frustrados e até mesmo<br />
infelizes, e crianças sem noção de<br />
como agir adequadamente.<br />
Pais indecisos, sem autoridade,<br />
permitem comportamentos<br />
inadequados e protagonizam cenas<br />
constrangedoras com seus filhos.<br />
Muitas vezes só adotam atitudes mais<br />
drásticas quando atingem um limiar<br />
de paciência, perdendo o controle da<br />
situação e explodindo em crises de<br />
raiva.<br />
Não é preciso ser assim. Pode-se<br />
estabelecer regras e limites com<br />
carinho, afeto e determinação.<br />
Quando os pais são firmes e<br />
determinados, todos ganham com<br />
isso. Os filhos aprendem que serão<br />
tratados com respeito e amor, mas<br />
que devem seguir as determinações<br />
estabelecidas. E os pais, mais<br />
tranquilos e confiantes, sem<br />
sentimentos de culpa, perceberão que<br />
devem ser mais do que bonzinhos e<br />
tolerantes, e que devem manter<br />
controle sobre os filhos.<br />
Pais firmes não discutem, não ficam<br />
brabos, sabem a diferença entre pedir<br />
e determinar, estabelecem regras<br />
claras e consistentes, certificam-se de<br />
que a criança entendeu o que lhe foi<br />
determinado e conferem se as normas<br />
foram cumpridas.<br />
Pais firmes e seus filhos são mais<br />
felizes.<br />
11
Comportamentos Comportamentos inadequados inadequados em em crianças:<br />
crianças:<br />
soluções soluções imediatas imediatas significam significam problemas problemas problemas futuros<br />
futuros<br />
Quem não gostaria de resolver<br />
problemas de comportamento dos<br />
filhos de uma maneira rápida e<br />
efetiva? Mas, ao contrário do que<br />
muitos pais almejam, em algumas<br />
situações – lamento dizer que tendem<br />
a ser a maioria -, as soluções rápidas<br />
e imediatas não são as mais<br />
adequadas, pois tendem a<br />
desencadear novas, piores e repetidas<br />
situações problemáticas.<br />
Um dos exemplos mais frequentes é<br />
ceder à demanda de uma criança<br />
quando um dos pais está ocupado<br />
(falando com outra pessoa<br />
pessoalmente ou ao telefone,<br />
desempenhando alguma atividade que<br />
exige atenção, entre tantas outras),<br />
para acabar com a crise de choro e a<br />
atitude inoportuna.<br />
O problema daquele momento pode<br />
ser resolvido, mas a possibilidade de<br />
que atitudes semelhantes por parte<br />
da criança se repitam com mais<br />
freqüência e intensidade aumenta<br />
significativamente.<br />
Há muitos outros exemplos: levar<br />
para a cama dos pais a criança que<br />
resolveu não querer ir para a sua<br />
cama ou acorda durante a noite e não<br />
quer voltar a dormir; concordar em<br />
permitir uma mamadeira com leite<br />
porque a criança “se recusou a<br />
almoçar”; comprar o que a criança<br />
“exige” através de choro, gritos e<br />
outras manifestações embaraçosas na<br />
loja ou no supermercado; e... bem, a<br />
lista pode ser interminável.<br />
Ceder nestes momentos é abrir as<br />
portas para a repetição cada vez mais<br />
frequente destes comportamentos. E<br />
as alternativas de discutir, gritar ou<br />
bater na criança, também não são<br />
adequadas para corrigir problemas.<br />
Portanto, em algumas oportunidades,<br />
em vez de adotar soluções imediatas<br />
(que na verdade não serão<br />
verdadeiras soluções), é preciso<br />
dispender um pouco mais de tempo e<br />
buscar, seja lá onde estiver e por<br />
menor que seja, um pouco ou talvez<br />
muita paciência para investir em<br />
resultados mais definitivos e<br />
duradouros.<br />
Na educação dos filhos também os<br />
investimentos a longo prazo demoram<br />
mais a mostrar resultados, mas<br />
geralmente são mais gratificantes.<br />
12