17.08.2013 Views

Childhood and adolescence in the contemporary society - PePSIC

Childhood and adolescence in the contemporary society - PePSIC

Childhood and adolescence in the contemporary society - PePSIC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

que acreditamos ser nossa personalidade, nosso mais<br />

<strong>in</strong>tenso desejo, são expressões em nós da história de<br />

nossa época”.<br />

A história de vida, embora seja s<strong>in</strong>gular, não é<br />

um processo <strong>in</strong>terior <strong>in</strong>dependente da sociedade, pois<br />

o social constitui o subjetivo. A sociedade contemporânea<br />

caracterizada pela predom<strong>in</strong>ância das<br />

tecnologias da <strong>in</strong>formação, pela realidade virtual, pela<br />

<strong>in</strong>teração mediada pela máqu<strong>in</strong>a, pelo questionamento<br />

da ascendência da cultura superior, onde o conhecimento<br />

científico é só mais um tipo de conhecimento,<br />

determ<strong>in</strong>a modos específicos de subjetivação que são<br />

próprios dessa época (Sennett, 1975; Tajfel, 1984;<br />

Giddens, 2002; Hall, 2002).<br />

A identidade da criança e do adolescente é<br />

construída hoje numa cultura caracterizada pela<br />

existência de uma <strong>in</strong>dústria da <strong>in</strong>formação, de bens<br />

culturais, de lazer e de consumo onde a ênfase está no<br />

presente, na velocidade, no cotidiano, no aqui e no<br />

agora, e na busca do prazer imediato. A subjetividade<br />

é, então, construída no comigo mesmo, na relação com<br />

o outro e num tempo e num espaço social específicos.<br />

Mesmo que as concepções anteriores de<br />

crianças e adolescentes não possam ser descartadas<br />

porque cont<strong>in</strong>uam respondendo a questões presentes<br />

nessa área de estudo, é necessário problematizá-las, já<br />

que essas concepções não permitem mais captar toda<br />

a complexidade do significado da <strong>in</strong>fância e da<br />

adolescência hoje. A sociedade atual acaba por impor<br />

uma revisão da dist<strong>in</strong>ção entre criança, adolescente e<br />

adulto até agora dom<strong>in</strong>ante. Nesse sentido é que este<br />

texto busca apontar para a necessidade de repensar<br />

os parâmetros que def<strong>in</strong>em a <strong>in</strong>fância e a adolescência<br />

na sociedade atual.<br />

Infância e adolescência como etapas da vida<br />

No f<strong>in</strong>al do século XVIII e <strong>in</strong>ício do XIX, a<br />

percepção que até então se t<strong>in</strong>ha da criança foi<br />

gradualmente se modific<strong>and</strong>o e a concepção de<br />

<strong>in</strong>fância como uma etapa dist<strong>in</strong>ta da vida se consolidou<br />

na sociedade. Essa percepção, de acordo com Ariès<br />

(1986), é concomitante à constituição da família nuclear,<br />

do estado nação e da nova organização do trabalho<br />

produtivo.<br />

O conceito de <strong>in</strong>fância e adolescência é uma<br />

<strong>in</strong>venção própria da sociedade <strong>in</strong>dustrial, ligado às leis<br />

trabalhistas e ao sistema educacional que torna o jovem<br />

dependente dos pais. Como diz Ariès (1986), a<br />

especificidade da adolescência foi reconhecida e<br />

emergiu com a escolarização, que supõe a separação<br />

entre seres adultos e seres em formação, com a família<br />

burguesa que separa o espaço familiar do exterior e<br />

com a progressiva exclusão da criança do mundo do<br />

trabalho. Esse processo que se <strong>in</strong>iciou nas classes sociais<br />

mais abastadas estendeu-se para toda a sociedade e<br />

se impôs como um modelo que at<strong>in</strong>giu toda a<br />

organização social.<br />

A criança foi, então, excluída do mundo do<br />

trabalho e de responsabilidades; foi separada do adulto,<br />

não particip<strong>and</strong>o mais de atividades nas quais até<br />

então a sua presença era usual (Ariès,1986). A criança<br />

adquiriu um status de pura, assexuada e <strong>in</strong>ocente<br />

(Coll, 1995).<br />

A dist<strong>in</strong>ção criança e adulto fez com que a<br />

adolescência começasse a ser percebida como um<br />

período à parte do desenvolvimento humano.<br />

Conforme Ariès (1986), por volta de 1890 começou a<br />

se firmar o <strong>in</strong>teresse pela adolescência, que se torna<br />

tema literário e preocupação de moralistas e políticos.<br />

Gradualmente, a adolescência como uma fase da vida<br />

vai se consolid<strong>and</strong>o e se torna um fenômeno universal,<br />

com repercussões pessoais e sociais <strong>in</strong>questionáveis. A<br />

adolescência passa a ser caracterizada como um<br />

emaranhado de fatores de ordem <strong>in</strong>dividual, por estar<br />

associada à maturidade biológica, e de ordem histórica<br />

e social, por estar relacionada às condições específicas<br />

da cultura na qual o adolescente está <strong>in</strong>serido.<br />

Na sociedade moderna, com suas condições<br />

materiais e simbólicas específicas, a criança, o<br />

adolescente e o jovem adquiriram um status de<br />

dependentes, não responsáveis jurídica, política e<br />

emocionalmente. A criança vai à escola, br<strong>in</strong>ca, mora<br />

com a família, é feliz e não tem responsabilidades<br />

(Castro,1998; Leite, 2000). Socialmente, fundamenta-se<br />

a concepção de que as crianças e os adolescentes<br />

devem ser discipl<strong>in</strong>ados para se tornarem adultos.<br />

A criança deve ser submetida à ordem pela<br />

<strong>in</strong>ternalização dos costumes, das normas, dos valores<br />

sociais e dos significados simbólicos estabelecidos<br />

socialmente (Durkheim, 1970). A criança deve ser<br />

socializada, o que assegura a transmissão da cultura e<br />

garante a cont<strong>in</strong>uidade da sociedade. Junto com a<br />

Estudos de Psicologia I Camp<strong>in</strong>as I 22(1) I 33-41 I janeiro - março 2005<br />

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA<br />

35<br />

35

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!