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Ética e responsabilidade social na preservação do ... - ABRACOR

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também essenciais como a discussão de casos práticos e de técnicas de intervenção, questões<br />

relacio<strong>na</strong>das à formação de profissio<strong>na</strong>is e à regulamentação das atividades no campo –, mas<br />

esse é um problema primordial que não tem si<strong>do</strong> muito debati<strong>do</strong>.<br />

Retoma-se, aqui, uma colocação feita durante o Seminário Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l "Um olhar<br />

contemporâneo sobre a <strong>preservação</strong> <strong>do</strong> patrimônio cultural material" no Museu Histórico<br />

Nacio<strong>na</strong>l, Rio de Janeiro, em 2007: a necessidade de questio<strong>na</strong>r a interpretação da noção de<br />

que "cada caso é um caso", que se tem traduzi<strong>do</strong> <strong>na</strong> prática corrente de intervenções como<br />

"cada um faz o que quer", ou "qualquer coisa é possível" 3 . É extremamente deletério que a<br />

questão seja encarada dessa forma; espera-se esclarecer o porquê dessa colocação a seguir.<br />

Ao longo <strong>do</strong>s últimos vinte anos, minhas pesquisas se voltam ao estu<strong>do</strong> e análise <strong>do</strong><br />

patrimônio industrial e aos problemas de restauração, procuran<strong>do</strong> enfatizar que os<br />

instrumentos ofereci<strong>do</strong>s pela meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> restauro e pelos preceitos teóricos que deveriam<br />

reger as ações são váli<strong>do</strong>s e consistentes, e devem ser reinterpreta<strong>do</strong>s em relação aos bens<br />

culturais como um to<strong>do</strong>. Através da análise de várias intervenções e de numerosíssimos textos<br />

sobre ações em bens da industrialização, foi possível evidenciar que se encerrar num tema<br />

isola<strong>do</strong> – como permanecer vincula<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> exclusivo ao patrimônio industrial, ou<br />

moderno, por exemplo –, leva a um processo de distorção <strong>do</strong> olhar, pois não incita uma<br />

reflexão mais ampla e não leva a repensar o problema a partir de seu cerne (as razões de se<br />

preservar). Recai-se freqüentemente num empirismo cego e pedestre que parte unicamente <strong>do</strong><br />

objeto (o bem a ser restaura<strong>do</strong>), o que acaba por justificar qualquer postura, pois to<strong>do</strong>s os<br />

casos se tor<strong>na</strong>m exceção 4 .<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, para qualquer bem cultural, partir de uma lógica induzida unicamente a<br />

partir <strong>do</strong> objeto, e não de posturas deduzidas de princípios éticos e científicos, acaba fazen<strong>do</strong><br />

com que se distorça o "cada caso é um caso", que passa a ser traduzi<strong>do</strong> por "qualquer coisa é<br />

válida", pois tu<strong>do</strong> é encara<strong>do</strong> como exceção, algo que não deveria ocorrer. As escolhas<br />

operacio<strong>na</strong>is deveriam ser justificadas à luz das razões e <strong>do</strong>s objetivos da <strong>preservação</strong> e feitas<br />

como conseqüência da análise <strong>do</strong>s princípios de intervenção em relação a cada um <strong>do</strong>s casos,<br />

pois toda obra tem uma configuração que lhe é própria, assim como seus materiais e seu<br />

particular transcurso ao longo <strong>do</strong> tempo. Desse mo<strong>do</strong>, seria necessário partir de uma via<br />

3 O evento foi organiza<strong>do</strong> pelo Museu Histórico Nacio<strong>na</strong>l, Fundação Casa de Rui Brabosa, Museu de<br />

Astronomia e Ciências Afins. A palestra apresentada deu origem ao texto: KÜHL, Beatriz Mugayar. A<br />

Restauração como Campo Discipli<strong>na</strong>r Autônomo, A<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Museu Histórico Nacio<strong>na</strong>l, Rio de Janeiro, v. 40, p.<br />

351-373, 2008.<br />

4 Para resulta<strong>do</strong>s da pesquisa, bibliografia a<strong>na</strong>lisada e obras exami<strong>na</strong>das ver: KÜHL, Beatriz Mugayar.<br />

Preservação <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico da Industrialização: Problemas Teóricos de Restauro. Cotia: Ateliê /<br />

FAPESP, 2009. Este texto retoma reflexões já apresentadas no livro.<br />

3

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