You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Associação Cultural <strong>Amigos</strong> <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> | Março 2013
2<br />
4 | Editorial<br />
6 | CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais<br />
Selvagens<br />
16 | Rhizocarpon geographicum<br />
um líquen na serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> contemporâneo do final do último período<br />
glaciário?<br />
23 | Centro Interpretativo do Vale Glaciar do Zêzere<br />
Manteigas<br />
24 | A criança e o meio ambiente<br />
26 | Montanhas de imagens<br />
João Rebelo, fotógrafo convi<strong>da</strong>do<br />
30 | Monopólio e letargia<br />
Duas características muito específicas do turismo na serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong><br />
36 | Computação Ubíqua Persuasiva para a Sustentabili<strong>da</strong>de do Planeta<br />
41 | Mocho-galego<br />
Fauna <strong>da</strong> serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong><br />
42 | Escalar na serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong><br />
51 | ASESTRELA 2012<br />
V edição do maior encontro de montanha do país<br />
ZIMBRO - EDIÇÃO DE MARÇO 2013
Desde a primeira hora, primeiríssima, já que tive a oportuni<strong>da</strong>de<br />
de assistir à nascença de tamanha insensatez, por parte do ex-<br />
ICNB, que manifestei a discordância de taxar quem procura os<br />
espaços naturais para an<strong>da</strong>r a pé.<br />
A razão primeira, para esta minha posição, prende-se com a<br />
questão do Direito na medi<strong>da</strong> em que as<br />
vere<strong>da</strong>s, caminhos ou carreiros, como os<br />
que são postos em causa pela aplicação <strong>da</strong>s<br />
taxas, são um direito que os povos têm desde<br />
tempos imemoriais. (Segundo o Assento<br />
do Supremo Tribunal de Justiça de 19 de<br />
Abril de 1989 (hoje com o valor de Acórdão<br />
Uniformizador <strong>da</strong> Jurisprudência), “são<br />
públicos os caminhos que, desde tempos<br />
imemoriais, estão no uso directo e imediato<br />
do público”.).<br />
Segundo, taxar as pessoas para an<strong>da</strong>rem<br />
a pé nas Áreas Protegi<strong>da</strong>s, iria penalizar,<br />
precisamente, as populações que edificaram a<br />
rede de comunicações existentes, (caminhos,<br />
vere<strong>da</strong>s...) que, actualmente, têm a função,<br />
acresci<strong>da</strong>, de promover mais esta vertente do<br />
turismo – o pedestrianismo, como uma maisvalia<br />
para as regiões dos espaços procurados,<br />
ca<strong>da</strong> vez mais isolados, com menos pessoas e<br />
com menos apoios.<br />
A aplicação <strong>da</strong> taxa será Sol de pouca dura<br />
e a sua tributação foi possível porque o<br />
pedestrianismo em Portugal ain<strong>da</strong> não tem um movimento forte<br />
e consistente. Por outro lado, as empresas liga<strong>da</strong>s ao turismo<br />
<strong>da</strong> natureza, na<strong>da</strong> fizeram e foram coniventes com a situação,<br />
aceitando, salvo raras excepções, o pagamento <strong>da</strong>s taxas. Convém<br />
lembrar que a generali<strong>da</strong>de destas empresas não tem qualquer<br />
4<br />
José Maria <strong>Serra</strong> Saraiva<br />
controle por parte <strong>da</strong>s Áreas Protegi<strong>da</strong>s.<br />
Paga-se e depois pode fazer-se o que se<br />
quiser.<br />
A situação publicitou-se mais quando um<br />
deputado do PSD no Parlamento Europeu,<br />
considerou as taxas um absurdo.<br />
No dia 5 de Março, último, a Provedoria de<br />
Justiça dá razão a uma queixa de um ci<strong>da</strong>dão,<br />
cuja divulgação o, Movimento Natureza para<br />
todos, teve a gentileza de me enviar, no qual<br />
é posto em causa, por omissão do próprio<br />
enquadramento legal, a taxa para quem an<strong>da</strong><br />
a pé.<br />
No caso concreto <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>, o<br />
disparate é ain<strong>da</strong> mais incompreensível<br />
quando aos olhos dos ci<strong>da</strong>dãos que<br />
gostam de an<strong>da</strong>r a pé, regra geral exímios<br />
conservacionistas, que fariam corar de<br />
vergonha quem tomou medi<strong>da</strong>s tão injustas<br />
e discriminatórias, assistem ao absurdo de<br />
ver, na área mais sensível do Parque Natural,<br />
milhares de esquiadores, motas, bicicletas,<br />
automóveis, ondem podem fazer tudo,<br />
inclusive invadir os cervunais e na<strong>da</strong> pagam!<br />
Tudo isto porque existe um “monstro”,<br />
delapi<strong>da</strong>dor do meio natural, que tem<br />
uma exclusivi<strong>da</strong>de altamente contesta<strong>da</strong>,<br />
inconstitucional e que é “engor<strong>da</strong>do”,<br />
precisamente, por quem tinha o dever de o<br />
fiscalizar – o ESTADO.<br />
Tive a oportuni<strong>da</strong>de de questionar o, então,<br />
Secretário de Estado do Ambiente, Engº.<br />
Daniel Campelo e a Engª Paula Sarmento,<br />
presidente do ICNF, numa audiência<br />
pedi<strong>da</strong> pela FPME, se tinham estudos<br />
que suportassem a aplicação <strong>da</strong>s taxas.<br />
Também sobre a existência de elementos que<br />
revelassem a frequência e os impactes sobre<br />
o meio natural. A resposta foi de que não<br />
existem quaisquer estudos.<br />
Perante tais circunstâncias é caso para dizer<br />
que a conservação pouco importa, o que<br />
interessa é obiceres usquam!<br />
J. Maria Saraiva
O Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens<br />
(CERVAS) encontra-se em Gouveia e é uma estrutura do Parque Natural<br />
<strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> (PNSE) / Instituto <strong>da</strong> Conservação <strong>da</strong> Natureza e <strong>da</strong>s<br />
Florestas (ICNF) que foi cria<strong>da</strong> em 2004, tendo iniciado a sua activi<strong>da</strong>de<br />
durante o ano de 2006. Desde 2009 que a sua gestão é assegura<strong>da</strong> pela<br />
Associação ALDEIA através de uma parceria com o ICNF e a ANA –<br />
Aeroportos de Portugal, o principal patrocinador do centro, no âmbito <strong>da</strong><br />
iniciativa Business & Biodiversity.<br />
Ingresso de um grifo (Gyps fulvus)<br />
juvenil debilitado no CERVAS através<br />
do SEPNA/GNR de Mangualde.<br />
Gonçalo Costa.
Uma <strong>da</strong>s principais linhas de trabalho do centro<br />
é a recuperação de animais selvagens feridos e/<br />
ou debilitados que são entregues por enti<strong>da</strong>des<br />
como o Serviço de Protecção <strong>da</strong> Natureza e<br />
do Ambiente (SEPNA) <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Nacional<br />
Republicana (GNR) ou as áreas protegi<strong>da</strong>s,<br />
mas também nalguns casos pelas próprias<br />
pessoas que encontram os animais. Desde<br />
2006 ingressaram 2072 animais, sendo que<br />
1445 (69,7%) estavam vivos quando chegaram<br />
ao centro e 627 já eram cadáveres.<br />
As aves são o grupo mais representado, com<br />
1664 indivíduos, o que representa cerca de 80%<br />
do total. Destas, 567 eram Falconiformes (aves<br />
de rapina diurnas) sendo de destacar a águiade-asa-redon<strong>da</strong><br />
(Buteo buteo) (181), o milhafrepreto<br />
(Milvus migrans) (79) ou o grifo (Gyps<br />
Gonçalo Costa<br />
8<br />
Ricardo Brandão<br />
fulvus) (64), e 428 eram Strigiformes (aves de<br />
rapina nocturnas), com destaque para a corujado-mato<br />
(Strix aluco) (123), o mocho-galego<br />
(Athene noctua) (121) e a coruja-<strong>da</strong>s-torres<br />
(Tyto alba) (101). Tendo em conta a eleva<strong>da</strong><br />
casuística destes grupos de aves o centro foise<br />
especializando neles mas a versatili<strong>da</strong>de é<br />
necessária visto que entraram também muitos<br />
indivíduos de outros grupos de aves, sendo<br />
de referir os 394 Passeriformes (144 (36,5%)<br />
deles pintassilgos (Carduelis carduelis), 108<br />
Ciconiiformes (cegonhas-brancas (Ciconia<br />
ciconia) e garças), 65 Apodiformes (andorinhãopreto<br />
(Apus apus) e andorinhão-pálido (Apus<br />
pallidus), que representam desafios totalmente<br />
diferentes ao nível do maneio, alimentação e<br />
instalações necessárias para a sua recuperação.<br />
Andorinhão-preto (Apus apus) durante a<br />
revisão clínica final antes <strong>da</strong> devolução à<br />
Natureza.<br />
As principais causas de ingresso de animais<br />
vivos foram que<strong>da</strong> do ninho (358) e captura/<br />
cativeiro ilegal (348), sendo de referir que no<br />
total estas duas causas representaram quase<br />
50% do total de ingressos de animais vivos. O<br />
trauma (205), debili<strong>da</strong>de (182), atropelamento<br />
(153), electrocussão (78), colisão (76) e abate<br />
a tiro (61) foram outras <strong>da</strong>s causas mais<br />
comuns. No que respeita à origem geográfica<br />
dos animais que ingressam no CERVAS,<br />
naturalmente, verifica-se que a maioria é<br />
proveniente do distrito <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> (838,<br />
Artur Vaz Oliveira<br />
Ricardo Brandão<br />
40% do total), seguindo-se Coimbra (294),<br />
As aves são o grupo<br />
mais representado<br />
com 1664 indivíduos<br />
Portalegre (214), Viseu (191), Bragança (170),<br />
Castelo Branco (127) e Aveiro (95).<br />
Açor (Accipiter gentilis) que estava em<br />
cativeiro ilegal numa aldeia de Gouveia e a<br />
quem tinham sido corta<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as penas<br />
<strong>da</strong>s asas e cau<strong>da</strong>.
O principal objectivo do CERVAS e sem<br />
dúvi<strong>da</strong> o momento mais gratificante de todo<br />
o processo de recuperação é a devolução à<br />
Natureza dos animais recuperados. Desde<br />
o início <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de do centro foi possível<br />
libertar 883 animais, o que representa 61,1%<br />
Gonçalo Costa<br />
Sempre que possível são envolvi<strong>da</strong>s as pessoas<br />
que estiveram relaciona<strong>da</strong>s com o processo de<br />
recolha de ca<strong>da</strong> animal bem como as enti<strong>da</strong>des<br />
que colaboraram no seu transporte e entrega.<br />
Com o objectivo de aumentar o impacto ao nível<br />
<strong>da</strong> divulgação e promoção <strong>da</strong> fauna selvagem<br />
e <strong>da</strong> educação ambiental <strong>da</strong>s populações o<br />
CERVAS tem tentado aproveitar as acções de<br />
devolução à Natureza para chegar também aos<br />
mais diversos sectores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e no total,<br />
10<br />
Ricardo Brandão<br />
dos animais que ingressaram vivos, bastante<br />
acima <strong>da</strong> média conheci<strong>da</strong> em Portugal (33%,<br />
segundo o relatório <strong>da</strong> Rede Nacional de<br />
Centros de Recuperação para a Fauna, ICNF<br />
2007).<br />
Britango (Neophron percnopterus) na fase<br />
final de recuperação, o treino num túnel<br />
de voo, antes <strong>da</strong> devolução à Natureza em<br />
Fonte de Aldeia, Miran<strong>da</strong> do Douro.<br />
18491 pessoas tiveram a oportuni<strong>da</strong>de de<br />
participar neste momentos. Tem sido feito um<br />
esforço para mostrar o trabalho do CERVAS<br />
à população, e para tal têm-se realizado<br />
diversos tipos de iniciativas, desde acções em<br />
escolas (com 4113 crianças), participação em<br />
eventos (junto de 7079 pessoas) até recepção<br />
de visitantes no centro (2533 visitantes). Em<br />
to<strong>da</strong>s as diversas acções realiza<strong>da</strong>s estiveram<br />
directamente envolvi<strong>da</strong>s 32216 pessoas de<br />
várias regiões do país. Em paralelo com estas<br />
acções têm sido usa<strong>da</strong>s outras ferramentas de<br />
divulgação na Internet, nomea<strong>da</strong>mente o sítio<br />
<strong>da</strong> Associação ALDEIA (www.aldeia.org),<br />
Eric Chavez<br />
libertar, 171 morreram durante o processo<br />
de recuperação, 189 foram eutanasiados por<br />
se considerar que o seu estado não permitiria<br />
a devolução à Natureza ou transferência para<br />
um destino adequado, 79 foram transferidos<br />
para centros de educação ambiental, parques<br />
zoológicos ou similares, e 21 permaneciam em<br />
recuperação no final de 2012. O CERVAS<br />
mantém alguns animais irrecuperáveis<br />
com o objectivo de que estes contribuam<br />
Ricardo Brandão<br />
o blogue do CERVAS (http://cervas-aldeia.<br />
blogspot.com), a página do centro no Facebook<br />
e o blogue STRI (http://rapinasnocturnas.<br />
blogspot.pt/) dedicado exclusivamente às<br />
rapinas nocturnas.<br />
Em relação aos animais que não foi possível<br />
Libertação de uma águia-calça<strong>da</strong> (Aquila<br />
pennata) em Pinhel, após recuperação.<br />
positivamente para a recuperação de outros<br />
indivíduos <strong>da</strong>s mesmas espécies (ou de<br />
outras com quem possam ser manti<strong>da</strong>s em<br />
contacto directo), e são um auxiliar decisivo<br />
na socialização, aprendizagem (de técnicas de<br />
caça, por exemplo) ou na redução do stress de<br />
animais que ingressam.
Ricardo Brandão<br />
Juvenil de coruja-do-mato (Strix aluco) em<br />
contacto com indivíduo adulto irrecuperável<br />
O modelo de gestão actual do CERVAS tem<br />
permitido a criação de diversas parcerias que<br />
têm contribuído para a melhoria continua do<br />
trabalho desenvolvido e para o alargamento<br />
<strong>da</strong>s áreas de trabalho. Desde logo a parceria<br />
mais importante é a que é manti<strong>da</strong> com a<br />
ANA e ICNF, que para além de permitir o<br />
funcionamento do CERVAS, em colaboração<br />
com o Parque Natural <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>,<br />
também permite à ALDEIA gerir outro<br />
centro no Algarve, o RIAS (http://rias-aldeia.<br />
blogspot.com), em colaboração com o Parque<br />
Natural <strong>da</strong> Ria Formosa, o que no seu conjunto<br />
representa um importante contributo para o<br />
funcionamento <strong>da</strong> Rede Nacional de Centros<br />
de Recuperação para a Fauna (RNCRF), tanto<br />
ao nível <strong>da</strong> área geográfica abrangi<strong>da</strong> pela<br />
activi<strong>da</strong>de de ambos os centros, como pelo<br />
Monitorização de crias de coruja-<strong>da</strong>s-torres<br />
que nasceram numa caixa-ninho coloca<strong>da</strong> em<br />
Gouveia no âmbito do projecto BARN.<br />
Ricardo Brandão<br />
número de animais que neles ingressam, cerca<br />
de 1500 anualmente. Como complemento<br />
do importante patrocínio <strong>da</strong> ANA têm-se<br />
estabelecido diversas parcerias com empresas<br />
que têm contribuído com equipamento,<br />
material e/ou apoio financeiro ao trabalho<br />
do centro, sendo de referir a ADT, os CTT,<br />
a EDP, a Vinícola Castelar, Águas <strong>Serra</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Estrela</strong>, Intermarché, Rádio Popular, Staedtler<br />
e Delta-Cafés, entre outras. As autarquias<br />
também têm sido parceiros importantes, com<br />
destaque para as Câmaras Municipais de<br />
Gouveia e Seia, sendo de referir a vertente de<br />
colaboração com o Centro de Interpretação<br />
<strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> (CISE) principalmente ao<br />
nível <strong>da</strong> dinamização de diversas activi<strong>da</strong>des<br />
relaciona<strong>da</strong>s com a Biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Estrela</strong>.<br />
Ricardo Brandão
As universi<strong>da</strong>des têm sido enti<strong>da</strong>des<br />
parceiras muito importantes e com as<br />
quais se têm dinamizado diversos estágios<br />
curriculares, mestrados e colaborações em<br />
teses de doutoramento principalmente nas<br />
áreas <strong>da</strong> Medicina Veterinária e Biologia. A<br />
principal parceria tem sido manti<strong>da</strong> com o<br />
Departamento de Biologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
14<br />
As universi<strong>da</strong>des têm<br />
sido enti<strong>da</strong>des parceiras<br />
muito importantes<br />
Ricardo Brandão<br />
de Aveiro, com trabalhos na área <strong>da</strong> ecologia<br />
e conservação de aves de rapina nocturnas<br />
(projecto BARN), comportamento/etologia<br />
e enriquecimento ambiental, entre outros.<br />
A colaboração com diversos investigadores<br />
desta e de outras universi<strong>da</strong>des (Univ. Trás-os-<br />
Montes e Alto Douro – UTAD; Univ. Porto<br />
/ ICBAS; Univ. de Lisboa / Fac. de Ciências)<br />
tem permitido a realização de diversos<br />
trabalhos científicos, por exemplo, nas<br />
áreas <strong>da</strong> toxicologia (monitorização de<br />
metais pesados em aves de rapina diurnas<br />
e aves aquáticas), genética (genética<br />
populacional de carnívoros selvagens) ou<br />
microbiologia (resistências de bactérias a<br />
antibióticos em animais selvagens).<br />
Gonçalo Costa<br />
Devolução à Natureza de uma águia-calça<strong>da</strong><br />
(Aquila pennata) que tinha sido atropela<strong>da</strong><br />
em Oliveira do Hospital.<br />
Fauna <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong><br />
Quem não se deixa enganar pelo canto<br />
do mocho galego, a partir de Fevereiro<br />
começa a ouvi-lo, muito semelhante ao<br />
miado dos gatos, altura em que os machos<br />
começam a defender o território, já que a<br />
época de reprodução não tar<strong>da</strong>rá muito.<br />
O Mocho galego é uma ave de rapina de<br />
pequeno porte e de forma rechonchu<strong>da</strong>,<br />
com tamanho médio de 24 cm, uma envergadura<br />
de 50 cm e 150 gr de peso. Ocupa<br />
uma grande varie<strong>da</strong>de de habitats, com<br />
preferência por áreas de árvores dispersas<br />
(montados e olivais), evitando bosques<br />
fechados e áreas montanhosas. Esta ave de<br />
rapina é considera<strong>da</strong> ave nocturna, no entanto<br />
tem hábitos diurnos e crepusculares,<br />
pelo que são de fácil avistamento pousados<br />
em postes de telefone e outros poisos ao<br />
entardecer. Caça quase sempre de pequenos<br />
poisos, sendo as suas presas favoritas<br />
o pequeno rato do campo, mas também é<br />
frequente velos caçar insectos, lagartixas e<br />
pequenas aves.<br />
Esta pequena ave de rapina não constrói<br />
ninho, realizam a postura quase sempre no<br />
interior de buracos de árvores, a época de<br />
reprodução dá-se entre Março a Junho, os<br />
ovos, entre 3 a 5, são brancos e postos com<br />
intervalo de 2 dias, sendo incubados durante<br />
mais ou menos 30, As crias deixam o<br />
ninho um mês depois de nascerem.<br />
Em Portugal tem estatuto de espécie não<br />
ameaça<strong>da</strong> no Livro Vermelho dos Vertebrados.
Líquen milenar<br />
Na serra <strong>da</strong> estrela, nos sectores de altitude<br />
mais eleva<strong>da</strong>, existe uma grande diversi<strong>da</strong>de<br />
de líquenes, encontrando-se inventaria<strong>da</strong>s<br />
mais de 250 espécies, a maioria <strong>da</strong>s quais se<br />
desenvolvem em habitats rochosos. A espécie<br />
Rhizocarpon geographicum, líquen<br />
crustáceo, de cor amarela ou verde, típico<br />
de regiões subárcticas ou alpinas, é na serra<br />
muito abun<strong>da</strong>nte, e confere aos afloramentos<br />
graníticos <strong>da</strong>s zonas de maior altitude<br />
uma tonali<strong>da</strong>de esverdea<strong>da</strong> característica.
Os líquenes são organismos simbióticos,<br />
isto é, que resultam <strong>da</strong> associação entre um<br />
fungo e uma alga. A alga tem como principal<br />
função realizar a fotossíntese, produzindo<br />
o alimento necessário à sobrevivência de<br />
ambos, enquanto o fungo fornece água, sais<br />
minerais, suporte e protecção. Os líquenes<br />
apresentam a capaci<strong>da</strong>de de se desenvolverem<br />
em locais de difícil colonização por seres<br />
vivos, possuem limites de tolerância às<br />
oscilações climáticas e ambientais superiores<br />
a qualquer outro organismo vegetal e<br />
encontram-se numa grande diversi<strong>da</strong>de de<br />
ambientes. Distribuem-se desde o nível do<br />
mar até às montanhas mais eleva<strong>da</strong>s, desde<br />
os desertos tropicais até às regiões polares,<br />
sobrevivendo num gradiente extremo de<br />
temperaturas e humi<strong>da</strong>de, e colonizando uma<br />
grande varie<strong>da</strong>de de substratos, como cortiça,<br />
lenhina, solo e, claro, rochas.<br />
No limite poente do planalto dos Poios<br />
Brancos, sobre um bloco errático, numa<br />
moreia do glaciar do rio Zêzere, a cerca de<br />
1550 metros de altitude, encontra-se um<br />
líquen <strong>da</strong> espécie Rhizocarpon geographicum<br />
de grandes dimensões, descoberto pelo<br />
geólogo alemão Schroeder-Lanz, em meados<br />
dos anos 80, que este autor considerou ter<br />
uma i<strong>da</strong>de notável. Para o cálculo <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de do<br />
exemplar, com um diâmetro de 24-25 cm e<br />
3-4mm de altura, Schroeder-Lanz aplicou a<br />
taxa de crescimento de 3.1mm em 100 anos,<br />
aceite para ambientes subárcticos e alpinos a<br />
nível global, concluindo que este indivíduo<br />
teria cerca de 7700-8000 anos, e seria, muito<br />
provavelmente, um dos organismos vivos<br />
mais velhos de Portugal. No último pico<br />
de glaciação, há aproxima<strong>da</strong>mente 23 mil<br />
18<br />
anos, este local estaria coberto por gelo.<br />
Considerando que o último período glaciar<br />
na serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong><br />
terá terminado há<br />
cerca de 10 mil<br />
anos, pode colocarse<br />
a questão se<br />
o líquen será<br />
contemporâneo do<br />
final deste período.<br />
A <strong>da</strong>tação <strong>da</strong><br />
exposição de<br />
superfícies rochosas<br />
recorrendo<br />
ao estudo do<br />
crescimento dos<br />
líquenes (<strong>da</strong>tação<br />
liquenométrica),<br />
tem sido utiliza<strong>da</strong><br />
para determinar a<br />
<strong>da</strong>ta aproxima<strong>da</strong><br />
de retracção de<br />
glaciares e do<br />
desaparecimento<br />
de bancos de<br />
neve perenes. A<br />
técnica baseiase<br />
na premissa<br />
de que se for<br />
conhecido o tempo<br />
que demorou a<br />
colonização <strong>da</strong><br />
rocha pelo líquen, e<br />
for possível medir a sua taxa de crescimento,<br />
então uma <strong>da</strong>ta mínima de ocupação <strong>da</strong> rocha<br />
(<strong>da</strong>ta em que a rocha ficou exposta) pode ser<br />
obti<strong>da</strong> medindo o diâmetro do maior líquen<br />
de um local. O método é especialmente<br />
José Conde José Conde<br />
Bloco errático e líquen milenar
R. geographicum sobre afloramentos graníticos<br />
Malha<strong>da</strong> do Cabeço <strong>da</strong> Esterca<strong>da</strong><br />
útil em ambientes árcticos – alpinos onde<br />
os líquenes crescem mais lentamente e<br />
apresentam maior longevi<strong>da</strong>de, podendo<br />
atingir em casos extremos i<strong>da</strong>des superiores<br />
a 10 mil anos.<br />
A determinação exacta <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de do exemplar<br />
em causa apresenta vários problemas, sendo<br />
difícil confirmar a i<strong>da</strong>de aponta<strong>da</strong> por<br />
Schroeder-Lanz, sobretudo se se considerar<br />
o possível intervalo de taxas de crescimento<br />
para a espécie e<br />
... cerca de 7700-8000<br />
anos, e seria, muito<br />
provavelmente, um dos<br />
organismos vivos mais<br />
velhos de Portugal.<br />
sabendo que o<br />
local onde o líquen<br />
cresce, nos últimos<br />
milénios, esteve<br />
exposto a condições<br />
climáticas<br />
subalpinas.<br />
Salienta-se ain<strong>da</strong><br />
que a determinação<br />
<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de do<br />
líquen pode ser condiciona<strong>da</strong> por múltiplos<br />
outros factores, que é necessário ter em<br />
conta, tais como: intervalo de tempo entre<br />
a exposição <strong>da</strong> rocha e a sua colonização;<br />
influência de factores ambientais na taxa<br />
de crescimento que variam com a região e<br />
ao longo do tempo, dependência <strong>da</strong> taxa de<br />
crescimento com a textura do substrato e a<br />
sua composição, e a variação <strong>da</strong>s condições<br />
climáticas no local. Em relação a questões<br />
intrínsecas à aplicação <strong>da</strong> técnica, pode<br />
apontar-se a falta de reprodutibili<strong>da</strong>de do<br />
design de amostragem, e a adequabili<strong>da</strong>de de<br />
utilizar o diâmetro do talo do indivíduo em<br />
estudos para indicação <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de.<br />
No entanto, apesar destes problemas, a<br />
liquenometria em combinação com outros<br />
métodos tem-se revelado como uma<br />
ferramenta extremamente útil na <strong>da</strong>tação <strong>da</strong><br />
i<strong>da</strong>de de retracção de gelos em ambientes<br />
glaciares. O facto de os valores de taxas<br />
de crescimento para ambientes subalpinos<br />
serem relativamente baixos, e tendo em<br />
conta que o local esteve coberto de gelo, o<br />
indivíduo de Rhizocarpon geographicum<br />
encontrado pode ser de facto um dos seres<br />
vivos mais antigos<br />
Bibliografia<br />
José Conde<br />
em Portugal. Porém,<br />
a confirmação desta<br />
hipótese só poderá<br />
ser feita através<br />
de um estudo de<br />
liquenométrico<br />
mais apurado e em<br />
complemento com<br />
outros métodos de<br />
<strong>da</strong>tação.<br />
Armstrong, R.A. (1983). Growth curve of<br />
the lichen Rhizocarpon geographicum. The<br />
New Phytologist, 94 (4): 619-622.<br />
Bradwell, T. & Armstrong, R A. (2007).<br />
Growth rates of Rhizocarpon geographicum:<br />
a review with new <strong>da</strong>ta from Iceland. Journal<br />
of Quaternary Science, 22 (4): 311-320.<br />
Jansen, J. (2002). Guia Geobotânico <strong>da</strong> <strong>Serra</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>. Instituto <strong>da</strong> Conservação <strong>da</strong><br />
Natureza, Lisboa.<br />
ZIMBRO - EDIÇÃO DE MARÇO 2013
Pormenor de R. geographicum<br />
Matthews, J.A. (2005). ‘Little Ice Age’<br />
glacier variations in Jotunheimen, southern<br />
Norwvay: a study in regionally controlled<br />
lichenometric <strong>da</strong>ting of recessional moraines<br />
with implications for climate and lichen<br />
growth rates. The Holocene, 15 (1): 1-19.<br />
Schroeder-Lanz, H. (1981). The Oldest<br />
Portuguese Being Living: a Lichen in the<br />
<strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>? Finisterra XVI, No.32:<br />
311-316.<br />
Schroeder-Lanz, H. (1983). Establishing<br />
22<br />
José Conde<br />
lichen growth curves by repeated size<br />
(diameter) measurements of lichen individua<br />
in a test area. In Schroeder-Lanz, H., (ed.),<br />
Late and postglacial oscillations of glaciers:<br />
glacial and periglacial forms: 393-409.<br />
Rotter<strong>da</strong>m.<br />
Vieira, G. (2008). Combined numerical and<br />
geomorphological reconstruction of the<br />
<strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> plateau icefield, Portugal.<br />
Geomorphology, 97: 190-207.<br />
Foi inaugurado no passado dia 4 de Março<br />
o Centro Interpretativo do Vale Glaciar do<br />
Zêzere em Manteigas.<br />
O novo centro, que faz uma forte aposta nas<br />
novas tecnologias, tem como principal atração<br />
um simulador que leva o visitante a recuar<br />
milhares de anos numa viagem virtual em<br />
balão de ar quente durante a qual se assiste ao<br />
desenvolvimento <strong>da</strong>quele vale glaciar .<br />
Em forma de U, um<br />
dos maiores vales<br />
glaciares <strong>da</strong> Europa,<br />
com 13 quilómetros<br />
de extensão, está<br />
integrado no Parque<br />
Natural <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Estrela</strong> e na Rede<br />
Natura 2000.<br />
E s m e r a l d o<br />
Carvalhinho, autarca<br />
de Manteigas,<br />
explicou à Lusa que,<br />
durante a viagem<br />
virtual de balão, será<br />
possível observar<br />
“uma ilustração<br />
com as diferentes épocas de glaciação, bem<br />
como a deslocação dos três glaciares que<br />
transformaram o vale naquilo que hoje se pode<br />
observar”.<br />
O complexo, que será uma espécie de “porta<br />
de entra<strong>da</strong>” para o Vale Glaciar do Zêzere,<br />
está instalado numa antiga Casa do Guar<strong>da</strong>,<br />
junto do Viveiro <strong>da</strong>s Trutas, no início do<br />
acesso ao vale, a partir de Manteigas, que<br />
foi reconstruí<strong>da</strong> pela Câmara Municipal e<br />
a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> às novas funções.<br />
Viajar até à I<strong>da</strong>de do Gelo, consultar quadros<br />
interativos sobre a fauna e a flora ou ain<strong>da</strong><br />
mapas com percursos pedestres são alguns<br />
dos serviços do Centro Interpretativo do Vale<br />
Glaciar do Zêzere que inaugura esta segun<strong>da</strong>feira,<br />
em Manteigas.<br />
Quadros e mapas interativos<br />
O Centro Interpretativo do Vale Glaciar do<br />
Zêzere também dispõe de vários quadros<br />
interativos com imagens sobre a fauna e<br />
flora locais, apresenta duas “janelas” sobre o<br />
passado e o presente de Manteigas e um mapa<br />
interativo com 16 percursos pedestres que os<br />
visitantes podem descobrir e percorrer.<br />
A autarquia de Manteigas pretende fazer<br />
parcerias com as escolas <strong>da</strong> região e de todo<br />
o país, para que os alunos também possam<br />
visitar o novo equipamento que custou 400<br />
mil euros.<br />
O autarca assinala que a obra foi suporta<strong>da</strong>,<br />
na totali<strong>da</strong>de, por fundos comunitários e<br />
por verbas do Turismo de Portugal, ficando<br />
“a custo zero para a Câmara Municipal de<br />
Manteigas”.<br />
@Guar<strong>da</strong>.pt
O meio ambiente assume um papel essencial<br />
no desenvolvimento de qualquer ser humano,<br />
uma vez que faz parte dele! É muito importante<br />
que ca<strong>da</strong> indíviduo, e a comuni<strong>da</strong>de no seu todo,<br />
contacte com valores e atitudes direcciona<strong>da</strong>s para<br />
a preservação e conservação do meio ambiente.<br />
À importância de se preservar o meio ambiente,<br />
tem-se juntado o conceito de desenvolvimento<br />
sustentável, que tem vindo a assumir um papel<br />
preponderante nas últimas déca<strong>da</strong>s. Este traduz a<br />
ideia de que os recursos naturais devem ser usados<br />
para saciar as necessi<strong>da</strong>des do Homem, mas de<br />
modo equilibrado, a fim de preservá-los para as<br />
gerações futuras. To<strong>da</strong>via, o meio ambiente não<br />
se resume a recursos naturais, nem tão pouco ao<br />
que está ao redor do Homem, pois este é parte<br />
desse meio, integrando-o e interagindo com ele,<br />
cabendo-lhe, preservá-lo e cuidá-lo.<br />
A educação ambiental assume, deste modo, um<br />
papel muito importante ao nível do processo<br />
educativo de qualquer indíviduo, devendo, por<br />
isso mesmo, ser promovi<strong>da</strong> e incuti<strong>da</strong> o mais cedo<br />
possível, desde a i<strong>da</strong>de infantil, uma vez que as<br />
crianças de hoje serão os adultos de amanhã.<br />
A ligação dessa educação à educação pré-escolar<br />
é, portanto, essencial, a fim de se estimular a<br />
criança para que tenha boas atitudes perante<br />
o meio ambiente. Pergunta-se: será uma tarefa<br />
difícil? Convém lembrar que as crianças são<br />
muito curiosas, adoram tudo o que se relaciona<br />
com a natureza (plantas, bichos, árvores, insectos,<br />
...), pois através dela vivem à descoberta. Ora,<br />
24<br />
A Educadora,<br />
Maria José Carvalho Proença<br />
incutir boas atitudes relativamente<br />
a algo que, à parti<strong>da</strong>, todos gostam,<br />
será algo fácil, acessível a qualquer<br />
Educador.<br />
Promover a interacção com o meio<br />
ambiente, através do contacto directo<br />
com a Natureza, possibilitará o<br />
despertar e o desenvolvimento dos<br />
sentidos, os quais são fun<strong>da</strong>mentais<br />
no processo de aprendizagem.<br />
Respirar o ar puro, mexer na terra,<br />
sentir a água a correr pelo corpo,<br />
ouvir os sons <strong>da</strong> fauna e <strong>da</strong> flora, e<br />
saborear os frutos que a Natureza<br />
nos dá, são aspectos essenciais para a<br />
vi<strong>da</strong> e felici<strong>da</strong>de de qualquer criança.<br />
Nestes termos, o incremento de<br />
conhecimentos sobre o meio ambiente<br />
circun<strong>da</strong>nte e a consciencialização<br />
para a sua conservação, tem de fazer<br />
parte de todo o processo educativo.<br />
A educação pré-escolar, enquanto<br />
primeira etapa desse processo, deve,<br />
assim, estimular as crianças para<br />
essa reali<strong>da</strong>de, a fim de as tornar<br />
ci<strong>da</strong>dãos despertos para o meio<br />
sócio-ambiental envolvente.<br />
Tudo isto porque aquilo que nós somos<br />
corresponde ao que fazemos! E o que fazemos é<br />
o que o ambiente nos faz fazer! A terra ensinanos<br />
mais acerca de nós próprios do que todos os<br />
livros. Devemos, por isso, valorizar a natureza,<br />
pois a criança é infeliz sem ela!<br />
Promover a interacção com o meio ambiente, através do contacto<br />
directo com a Natureza...<br />
Crianças brincando num bosque
Refúgio na <strong>Serra</strong><br />
Fotógrafo, Lisboa<br />
www.facebook.com/JoaoRebeloRodriguesFotografia<br />
www.flickr.com/photos/joaorebelorodrigues<br />
Fotografia | Nascido e<br />
criado nos arredores de Lisboa<br />
a fotografia, como ativi<strong>da</strong>de,<br />
aconteceu tarde na minha vi<strong>da</strong>,<br />
embora tenha sido apreciador<br />
desde muito cedo. O nascimento<br />
do meu filho, 9 anos atrás e o
advento do digital despoletaram<br />
esta minha paixão, que se foi<br />
desenvolvendo e tornando-se ca<strong>da</strong> vez<br />
mais séria.<br />
Já vi várias fotos minhas publica<strong>da</strong>s<br />
em revistas de fotografia, que<br />
culminaram, recentemente, com a<br />
publicação de uma entrevista na<br />
revista zoom, o que representou o<br />
reconhecimento do meu trabalho<br />
fotográfico. Continuo amador, mas<br />
com dedicação. Já fiz exposições,<br />
ocasionalmente, e organizo<br />
expedições fotográficas, que me<br />
permitem ver e levar a ver alguns dos<br />
mais belos recantos de Portugal e <strong>da</strong><br />
Europa.<br />
Sou, antes do mais, apaixonado pelo<br />
mundo, especialmente o natural<br />
e não dispenso os momentos de<br />
contemplação quando estou a<br />
fotografar em algum local mais<br />
ou menos remoto. Sei que nunca<br />
conseguirei transmitir totalmente o<br />
êxtase que sinto quando observo algo<br />
de belo: como se fotografa o cheiro a<br />
terra molha<strong>da</strong>? Ou o som do silêncio?<br />
Como pode o espetador apreciar um<br />
por do sol se nunca observou um,<br />
apenas pelo prazer? Não obstante,<br />
continuarei a tentar, na esperança<br />
que o espetador <strong>da</strong>s minhas fotos<br />
possa partilhar um pouco do<br />
meu entusiasmo…e porque<br />
simplesmente gosto de apreciar e<br />
fotografar a beleza.<br />
Imagens de João Rodrigues<br />
Todos os direitos reservados<br />
“Sou, antes do mais, apaixonado pelo mundo...”<br />
O Zêzere com cores de tempestade<br />
Fé no Covão do Ferro<br />
Covão d’Ametade<br />
Prata na Nave de Santo António<br />
A natureza fria e dura <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>
Maciço central <strong>da</strong> serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong><br />
Em to<strong>da</strong>s as montanhas relevantes do<br />
mundo ocidental, o turismo é uma forte<br />
componente <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de económica, a oferta<br />
turística é plural e diversifica<strong>da</strong>, tanto em<br />
termos <strong>da</strong>s empresas que materializam essa<br />
oferta, como nas ativi<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s. Em<br />
qualquer montanha relevante do mundo<br />
ocidental, há inúmeros parques de campismo,<br />
hotéis, pensões, empresas que oferecem<br />
passeios a cavalo, guias para montanhismo<br />
e escala<strong>da</strong>, os trilhos pedestres encontramse<br />
sinalizados e documentados e são<br />
empenha<strong>da</strong>mente divulgados. Em qualquer<br />
montanha relevante do mundo ocidental,<br />
o turismo não pára no Verão, antes pelo<br />
contrário, é no Verão que tudo vibra com<br />
mais intensi<strong>da</strong>de. Isto é ver<strong>da</strong>de mesmo<br />
naquelas montanhas, como os Alpes e os<br />
Pirinéus, onde neva com muita intensi<strong>da</strong>de<br />
e onde por isso é possivel praticar, com<br />
regulari<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de, desportos de neve.<br />
Isto é também ver<strong>da</strong>de em montanhas onde<br />
neva pouco, como a serra do Gerês. No<br />
entanto, claramente isto não é ver<strong>da</strong>de na<br />
serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>. Porquê?<br />
O enquadramento legal <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />
turística na serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> está fortemente<br />
marcado pela figura <strong>da</strong> concessão exclusiva<br />
do turismo e dos desportos, introduzi<strong>da</strong><br />
pelo Decreto-Lei nº 325/71 e actualiza<strong>da</strong><br />
pelo Decreto Lei nº 408/86. De acordo com<br />
estes diplomas, a exploração do turismo e<br />
dos desportos na serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> (os limites<br />
espaciais coincidem aproxima<strong>da</strong>mente com<br />
os do Parque Natural <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>) é<br />
concessiona<strong>da</strong> em exclusivi<strong>da</strong>de à empresa<br />
Turistrela, durante sessenta anos contados<br />
<strong>da</strong> <strong>da</strong>ta de celebração do contrato cujas bases<br />
são defini<strong>da</strong>s no Decreto-lei 408/86.<br />
A figura <strong>da</strong> concessão exclusiva <strong>da</strong> Turistrela<br />
implementa no turismo <strong>da</strong> serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong><br />
uma política económica de intervenção<br />
estatal que talvez fosse considera<strong>da</strong> boa em<br />
1970, mas que já era fortemente contesta<strong>da</strong><br />
em 1986 e que hoje em dia é unanimemente<br />
rejeita<strong>da</strong>. Que partidos, hoje em dia,<br />
defendem uma tal ingerência do estado na<br />
esfera <strong>da</strong> iniciativa priva<strong>da</strong>? Que partidos,<br />
hoje em dia, defendem que é positivo para<br />
A área <strong>da</strong> concessão é<br />
de algumas dezenas de<br />
milhares de hectares<br />
um setor <strong>da</strong> economia que uma empresa<br />
(priva<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> por cima) fique protegi<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> concorrência de outras empresas que se<br />
dediquem à mesma ativi<strong>da</strong>de? Certamente<br />
que nenhum dos partidos do chamado<br />
“arco do poder”. E, no entanto, de nenhum<br />
órgão de nenhum desses partidos se têm<br />
ouvido críticas a este estado de coisas,<br />
claramente contrário à ideologia dominante<br />
que defende o contrário: mais concorrência,<br />
mais empreendedorismo, mais livre iniciativa<br />
priva<strong>da</strong>, menos estado, menos ingerência<br />
deste nos negócios.<br />
Mas, pressupostos ideológicos à parte,<br />
admitamos que era ain<strong>da</strong> mais ou menos<br />
consensual que o modelo de concessão<br />
exclusiva tinha algumas virtudes, e que<br />
devíamos pesar os prós e os contra <strong>da</strong> sua<br />
aplicação neste caso concreto. Tentemos<br />
avaliar o modelo do turismo na serra <strong>da</strong><br />
<strong>Estrela</strong> nesse pressuposto hoje em dia<br />
unanimemente considerado prejudicial.
A área <strong>da</strong> concessão é de algumas dezenas<br />
de milhares de hectares e o seu período<br />
temporal é de sessenta anos. Muito poucas<br />
empresas se mantêm em ativi<strong>da</strong>de durante<br />
tanto tempo, e poucas empresas conseguem<br />
intervir num território tão extenso. Por<br />
outro lado, o turismo de montanha é uma<br />
ativi<strong>da</strong>de muito diversifica<strong>da</strong>. Envolve, como<br />
disse acima, ativi<strong>da</strong>des de pedestrianismo,<br />
observação e interpretação de natureza,<br />
caça, pesca, todo-o-terreno motorizado,<br />
BTT, esqui, passeios a cavalo, montanhismo<br />
e escala<strong>da</strong>, pára-pente e asa-delta, balão,<br />
canoagem, canyoning, e mais um longo etc.<br />
Face a estas constatações, uma pergunta<br />
impõe-se: parece razoável “entregar” a uma<br />
única empresa a activi<strong>da</strong>de turística num<br />
território tão extenso, durante um período<br />
32<br />
José Amoreira<br />
temporal tão largo, abarcando um leque<br />
tão diversificado de ativi<strong>da</strong>des? Pareceme<br />
que a resposta a esta pergunta<br />
só pode ser um rotundo “NÃO”.<br />
No entanto, é um “SIM” convicto a<br />
resposta que está subjacente ao modelo<br />
implementado.<br />
Mas concerteza que se o governo<br />
escolheu para o turismo <strong>da</strong> serra<br />
<strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> o modelo de concessão<br />
exclusiva (com a aprovação do<br />
parlamento e a homologação do<br />
Presidente), alguma virtude lhe deve ter<br />
encontrado. Infelizmente, qual possa<br />
ser, em concreto, a legislação não o<br />
diz. Aliás, no Decreto-Lei 408/86 (ou<br />
seja, no final de 25 anos de vigência<br />
<strong>da</strong> concessão exclusiva <strong>da</strong> Turistrela),<br />
depois de se reconhecer (no ponto 1) que<br />
as potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> “têm<br />
sido subaproveita<strong>da</strong>s quando não degra<strong>da</strong><strong>da</strong>s”<br />
e de se constatar que esta “situação é<br />
consequência <strong>da</strong> erra<strong>da</strong> perspectiva com que<br />
foi encarado o seu desenvolvimento turístico e<br />
<strong>da</strong> inoperância <strong>da</strong> empresa” concessionária,<br />
conclui-se espantosamente que (ponto 4)<br />
“o estatuto de concessionária <strong>da</strong> Turistrela<br />
tem virtuali<strong>da</strong>des que o transformarão num<br />
instrumento de realização dos objectivos” do<br />
desenvolvimento do turismo na serra <strong>da</strong><br />
<strong>Estrela</strong>. Que virtuali<strong>da</strong>des são essas? Não<br />
é dito. Entretanto, passaram mais 25 anos.<br />
Essas não nomea<strong>da</strong>s virtuali<strong>da</strong>des terão já<br />
transformado o estatuto <strong>da</strong> Turistrela em<br />
instrumento seja do que for?<br />
A concessão decerto acarretará deveres para<br />
a concessionária. Ao fim e ao cabo, é-lhe<br />
atribui<strong>da</strong> exclusivi<strong>da</strong>de na exploração de<br />
um bem público... Mas que deveres serão<br />
esses? O Decreto-Lei 408/86 apenas indica<br />
obrigações concretas para os primeiros cinco<br />
anos <strong>da</strong> concessão (no Título II, Base II <strong>da</strong>s<br />
bases do contrato-programa, em anexo ao<br />
referido decreto). Essas obrigações consistem<br />
na realização de um plano para a reanimação<br />
turística <strong>da</strong> serra <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> e para a<br />
reabertura <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des hoteleiras existentes<br />
na serra. Mais de resto, não são previstas<br />
obrigações objetivamente verificáveis nem<br />
mecanismos para a sua verificação.<br />
Ou seja, a situação do turismo na serra <strong>da</strong><br />
<strong>Estrela</strong> é, há cinquenta anos, a seguinte: à<br />
Turistrela (que, à escala nacional, não passa<br />
de uma empresa de pequena dimensão)<br />
foi atribuído o monopólio de to<strong>da</strong>s as<br />
activi<strong>da</strong>des turísticas, num território de<br />
dezenas de milhares de hectares, com a<br />
duração de sessenta anos a partir de 1986,<br />
sem que se lhe tenham imposto obrigações<br />
objetivamente verificáveis e sem que tenham<br />
sido previstos mecanismos para a sua<br />
avaliação.<br />
Esta situação é, claramente, original:<br />
um modelo unanimemente considerado<br />
ideologicamente ultrapassado, aplicado<br />
Vale do Beijames
Rio Zêzere<br />
durante dezenas de anos, numa área de<br />
dezenas de milhares de hectares, sem<br />
avaliação nem controlo? Francamente, não<br />
conheço mais nenhum exemplo de situações<br />
semelhantes em nenhuma parte do mundo<br />
ocidental. Francamente, não conheço mais<br />
nenhuma montanha relevante no mundo<br />
ocidental onde o turismo permaneça neste<br />
estado tão pobre. E, por isso, perguntome:<br />
não será o modelo de monopólio<br />
privado escolhido para o turismo na serra<br />
<strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> a principal causa do atraso em<br />
que ele continua? E por quantos mais anos<br />
continuaremos a suportá-lo, sem avaliação,<br />
sem resultados, sem que nenhuma instituição<br />
relevante o questione? Por quantos mais<br />
34<br />
anos continuaremos nesta letargia de aceitar<br />
que “nós aqui vivemos <strong>da</strong> neve”, ain<strong>da</strong> por<br />
cima dessa neve que por cá cai pouca e com<br />
pouca quali<strong>da</strong>de?<br />
Fontes<br />
Lei 3/70: http://dre.pt/<br />
pdf1sdip/1970/04/09900/05210522.pdf<br />
Decreto-Lei 325/71: http://dre.pt/util/<br />
getpdf.asp?s=dip&serie=1&iddr=1971.176&<br />
iddip=19711326<br />
Decreto-Lei 408/86: http://dre.pt/util/<br />
getpdf.asp?s=dip&serie=1&iddr=1986.284&<br />
iddip=19863424<br />
ASE<br />
ZIMBRO - EDIÇÃO DE MARÇO 2013
Deriva<strong>da</strong> do latim ubique, a palavra ubíqua é um adjectivo<br />
que significa “que está em to<strong>da</strong> parte ao mesmo tempo”.<br />
Mark Weiser “construiu” o conceito Computação Ubíqua<br />
(Ubicomp), ou Computação Pervasiva, e apresentou-o em<br />
“The Computer for the 21st Century” com os princípios<br />
baseados no desvanecimento dos computadores por entre<br />
aquilo que é o dia-a-dia <strong>da</strong>s nossas vi<strong>da</strong>s, que “percam as<br />
suas formas visíveis”, mas permanecendo interligados, em<br />
pleno funcionamento. Estas ideias propostas por Weiser<br />
abriram uma vasta área de investigação e desenvolvimento.<br />
Assim sendo, surgiu uma grande mu<strong>da</strong>nça para a<br />
computação centra<strong>da</strong> no humano, onde a tecnologia<br />
deixa de ser uma barreira e a<strong>da</strong>pta-se às necessi<strong>da</strong>des e<br />
preferências humanas, encontrando-se “nos bastidores” até<br />
que seja necessária. Este é um caminho no sentido de uma<br />
maior naturali<strong>da</strong>de na interacção e no uso do poder dos<br />
sistemas de computação de redes que assim não estarão<br />
ligados apenas à Internet ou a outros computadores,<br />
mas a pessoas, a locais, e a coisas do dia-a-dia. Em 1991,<br />
esta visão de uma computação fortemente embuti<strong>da</strong> nas<br />
36<br />
“coisas” parecia longe de ser alcança<strong>da</strong>, a sua<br />
viabili<strong>da</strong>de era questionável. No entanto, já<br />
em 1969 tinha surgido o romance “Ubik”, de<br />
Philip K. Dick, que teve forte influência em<br />
Weiser. Este romance previa um futuro onde<br />
tudo, desde maçanetas de portas a autoclismos,<br />
estaria interligado de forma inteligente.<br />
Weiser olhou para as diferentes fases <strong>da</strong><br />
computação e previu uma possível evolução<br />
para a Ubicomp. As três on<strong>da</strong>s <strong>da</strong> computação<br />
(ver Figura 2) separam a era <strong>da</strong> Mainframe (um<br />
computador usado por muitas pessoas) <strong>da</strong> era<br />
do Personal Computer (PC) (um computador<br />
para uma pessoa) e <strong>da</strong> era <strong>da</strong> Ubicomp (uma<br />
pessoa partilha vários computadores). A<br />
ver<strong>da</strong>de é que hoje, em 2013, verifica-se que a<br />
previsão de Weiser fazia todo o sentido. Há já<br />
vários anos que é possível a uma pessoa li<strong>da</strong>r<br />
naturalmente com vários computadores, seja<br />
Mark Weiser nos laboratórios <strong>da</strong> Xerox PARC, EUA, em plenos anos 90, onde era<br />
cientista chefe, tendo falecido em 1999 de cancro no estômago (Mais informações<br />
em: http://www2.parc.com/csl/members/weiser/).<br />
ZIMBRO - EDIÇÃO DE MARÇO 2013
de forma directa com telemóveis inteligentes,<br />
e portáteis, entre outros, ou indirectamente<br />
através <strong>da</strong> Internet.<br />
Ain<strong>da</strong> hoje é difícil prever quais serão as<br />
aplicações <strong>da</strong> Ubicomp que se tornarão banais,<br />
tal como a rápi<strong>da</strong> evolução <strong>da</strong>s tecnologias<br />
Web também não<br />
era de fácil previsão<br />
nos primeiros tempos<br />
de desenvolvimento.<br />
Têm surgido trabalhos<br />
de muita quali<strong>da</strong>de<br />
em áreas intimamente<br />
liga<strong>da</strong>s à Ubicomp,<br />
tais como sistemas de<br />
informação contextual<br />
(context-aware), redes<br />
de sensores, toolkits<br />
computacionais para<br />
a construção flexível<br />
de aplicações, espaços<br />
físicos “inteligentes”<br />
(Smart Spaces), entre<br />
outros. Muito <strong>da</strong>quilo<br />
que ain<strong>da</strong> hoje se<br />
discute já era investigado por exemplo em 1994,<br />
por Schilit et al., quando descreviam sistemas<br />
que examinavam e reagiam às alterações no<br />
contexto de um indivíduo (ver Figura 3).<br />
Tal como sugeriu Weiser em 1991, uma<br />
implementação Ubicomp deve integrar três<br />
tipos de enti<strong>da</strong>des. Estes são 1) os agentes<br />
de utilizadores (i.e., dispositivos carregados<br />
pelos utilizadores tais como os telemóveis), 2)<br />
os dispositivos integrados no meio ambiente,<br />
3) e a Internet, com a interacção digital entre<br />
38<br />
Rui Neves Madeira<br />
estas enti<strong>da</strong>des a <strong>da</strong>r origem a novas aplicações.<br />
Com a crescente maturação <strong>da</strong>s tecnologias,<br />
em que existe um maior desempenho para<br />
um menor tamanho de dispositivos, tais como<br />
processadores, memórias, tecnologias de rede,<br />
ecrãs e sensores, caminha-se mais facilmente<br />
em direcção à Ubicomp, a uma conectivi<strong>da</strong>de<br />
As on<strong>da</strong>s <strong>da</strong> computação segundo Weiser<br />
ubíqua e a interfaces mais a<strong>da</strong>ptáveis. Já são<br />
muitos os objectos e os dispositivos que possuem<br />
processadores e sensores embutidos. Os carros<br />
são talvez o melhor exemplo, possuindo<br />
sensores que possibilitam as mais varia<strong>da</strong>s<br />
respostas em diversas situações, sobretudo<br />
ao nível <strong>da</strong> segurança. De todos os modos,<br />
estes sistemas são, regra geral, considerados<br />
stand-alone, não interagindo necessariamente<br />
com outros objectos. Contudo, já são vários<br />
os projectos em desenvolvimento para que<br />
rapi<strong>da</strong>mente se chegue ao próximo estágio. Por<br />
Esboço do ParcTab - Um sistema de computação context-aware, no centro Xerox PARC, EUA.<br />
exemplo, através <strong>da</strong> colocação de transceptores<br />
(transmissores/receptores) móveis de curto<br />
alcance em dispositivos adicionais e em outros<br />
objectos do dia-a-dia podem-se estabelecer<br />
outras formas de comunicação. Pretende-se<br />
que as ligações ou comunicações não sejam<br />
estabeleci<strong>da</strong>s apenas entre as pessoas ou<br />
entre pessoas e computadores, mas que se<br />
avance para o tipo pessoas-objectos, e mais<br />
especificamente para objectos-objectos.<br />
Foi adiciona<strong>da</strong> uma nova dimensão ao<br />
mundo <strong>da</strong>s Tecnologias de Informação e<br />
Comunicação (ICTs), onde no conceito “a<br />
qualquer momento, em qualquer local” com<br />
conectivi<strong>da</strong>de para “qualquer um”, passou-se<br />
para conectivi<strong>da</strong>de para “qualquer coisa”. Uma<br />
nova rede de redes, conheci<strong>da</strong> por Internet of<br />
Things surge assim com a multiplicação <strong>da</strong>s<br />
ligações disponíveis entre to<strong>da</strong>s as enti<strong>da</strong>des<br />
considera<strong>da</strong>s num espaço Ubicomp. Este<br />
conceito de “Internet <strong>da</strong>s coisas” não pode ser<br />
considerado ficção científica nem desajustado<br />
<strong>da</strong>quilo que se pode praticar actualmente na<br />
indústria <strong>da</strong>do ser baseado nos avanços sólidos<br />
<strong>da</strong>s tecnologias e nas visões <strong>da</strong>s redes ubíquas.<br />
Em termos quotidianos e comerciais, uma<br />
forma primária de redes de comunicação<br />
e informação ubíquas apareceu com a vasta<br />
expansão do uso de telemóveis, em que o<br />
número total de dispositivos à escala mundial<br />
deverá chegar perto dos sete mil milhões<br />
em 2013. Segundo a União Internacional de<br />
Telecomunicações (UIT), estima-se que 2013<br />
acabará com quase tantos telemóveis como o<br />
número de pessoas que vivem no mundo. Estes<br />
dispositivos, incluindo os mais avançados<br />
smartphones, juntamente com os tablets,<br />
têm vindo a ocupar um papel integrante no<br />
quotidiano <strong>da</strong>s pessoas, inclusive até mais<br />
que a Internet. Deste modo, os dispositivos
móveis pessoais tornam-se dispositivos<br />
computacionais ubíquos ao encontrarem-se<br />
em praticamente todos os locais, a<strong>da</strong>ptandose<br />
individualmente, e estando quase que<br />
universalmente conectáveis (com capaci<strong>da</strong>des<br />
de comunicação tanto para curtas como para<br />
grandes distâncias). Ao serem constantemente<br />
transportados pelos seus utilizadores<br />
(tornaram-se ferramentas essenciais para o<br />
seu dia-a-dia), acabam por estar presentes<br />
quando ocorrem interacções com objectos<br />
em possíveis ambientes de sistemas de<br />
Ubicomp. Em paralelo com a evolução<br />
<strong>da</strong>s funcionali<strong>da</strong>des disponíveis, existe um<br />
incremento na diversi<strong>da</strong>de e capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />
várias tecnologias, com especial destaque para<br />
a comunicação wireless.<br />
Estas novas tecnologias e paradigmas de<br />
40<br />
Rui Neves Madeira<br />
Miniaturização em direcção à Internet of Things<br />
computação podem e devem ser usados para<br />
estimular mu<strong>da</strong>nças nos comportamentos<br />
humanos face a questões ambientais e de<br />
sustentabili<strong>da</strong>de do planeta, uma vez que<br />
se torna mais fácil e rápido aproximar <strong>da</strong>s<br />
pessoas. Para tal, será importante considerar<br />
também o conceito de “tecnologia persuasiva”,<br />
que visa mu<strong>da</strong>r atitudes e/ou comportamentos<br />
de forma interactiva e através de persuasão<br />
e influência social (sem usar coerção ou<br />
engano). A computação móvel e ubíqua é<br />
um óptimo veículo para esta persuasão pela<br />
ubiqui<strong>da</strong>de dos dispositivos móveis pessoais,<br />
que estão presentes (quase) sempre que são<br />
necessários, avisando-nos, entretendo-nos,<br />
etc. Pode-se introduzir um novo paradigma<br />
de consciencialização ambiental, que aju<strong>da</strong>rá a<br />
motivar os ci<strong>da</strong>dãos a serem mais responsáveis<br />
no seu dia-a-dia, para mostrarem uma maior<br />
sensibilização para com o meio ambiente.<br />
Assim sendo, é necessário incentivar as pessoas<br />
de uma forma interativa e apelativa, reagindo<br />
às suas acções reais quotidianas, pois será a<br />
melhor forma destas mu<strong>da</strong>rem as suas atitudes<br />
menos correctas. Acções como reciclagem,<br />
diminuição de poluição, diminuição do<br />
consumo de energia elétrica, entre outras, são<br />
o foco <strong>da</strong>s aplicações e sistemas resultantes<br />
deste conceito.<br />
A parte II do artigo aprofun<strong>da</strong>rá o papel<br />
que a computação ubíqua, sobretudo através<br />
dos dispositivos móveis pessoais, pode ter na<br />
persuasão <strong>da</strong>s pessoas com vista a uma maior<br />
sustentabili<strong>da</strong>de do planeta. Serão descritos<br />
alguns exemplos de sistemas e aplicações<br />
móveis de modo a melhor entender-se o que<br />
se pode atingir com este conceito.<br />
Dois exemplos: LEY de Rui Madeira et al. e Pollution e-Sign de Ben Hooker et al.<br />
ZIMBRO - EDIÇÃO DE MARÇO 2013
A zona <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> tem condições<br />
excelentes para a prática <strong>da</strong> escala<strong>da</strong> seja ela<br />
de que tipo for: Clássica, Desportiva, Bloco,<br />
ou mesmo em Gêlo (esta ultima no periodo<br />
invernal). O clima relativamente ameno<br />
permite a prática destas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des na<br />
maioria do ano e mesmo em pleno Inverno<br />
é possivel escalar em alguns bons dias de sol.<br />
No entanto, o periodo mais favoravel para<br />
a maioria <strong>da</strong>s vertentes <strong>da</strong> escala<strong>da</strong> situa-se<br />
entre Maio e Setembro ou mesmo Outubro<br />
onde os dias são longos, amenos, a rocha está<br />
seca e a probabili<strong>da</strong>de de precipitação é mais<br />
reduzi<strong>da</strong>. Deve ser feita uma excepção ao mês<br />
de Agosto onde, locais mais soalheiros ou a<br />
mais baixa altitude, podem apresentar calor<br />
excessivo.<br />
Escala<strong>da</strong> em aderência<br />
Em geral, os locais de escala<strong>da</strong> (por vezes<br />
tambem chamados “sectores”) requerem uma<br />
caminha<strong>da</strong> de aproximação não demasiado<br />
longa que, não só aju<strong>da</strong> o aquecimento<br />
mas tambem permite disfrutar a paisagem<br />
<strong>Serra</strong>na sem dispender demasiado esforço.<br />
O tipo de rocha dominante na maioria<br />
dos sectores é o granito de “grão grosso”,<br />
fazendo com que as vias de escala<strong>da</strong> sejam<br />
caracteriza<strong>da</strong>s por placas mais ou menos<br />
tomba<strong>da</strong>s e com poucos agarres (ou “presas)<br />
onde por as mãos firmemente. Assim, tornase<br />
necessário recorrer mais à aderência do<br />
calçado técnico (pés-de-gato) e ao equilibrio<br />
do que própriamente à força dos braços. É<br />
vulgar denominar este tipo de escala<strong>da</strong> por<br />
“escala<strong>da</strong> em aderência”. Ao mesmo tempo, a
ocha encontra-se frequentemente fractura<strong>da</strong><br />
originando fen<strong>da</strong>s mais ou menos extensas<br />
e mais ou menos estreitas que permitem a<br />
colocação de material de segurança por parte<br />
do escalador à medi<strong>da</strong> que vai progredindo<br />
verticalmente e que, em conjunto com uma<br />
cor<strong>da</strong>, permitem deter uma eventual que<strong>da</strong>.<br />
Talvez a escala<strong>da</strong> Clássica, precisamente<br />
aquela em que o escalador progride sem<br />
recurso a equipamento fixo permanente na<br />
rocha, seja aquela mais pratica<strong>da</strong> na zona<br />
<strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong>. No entanto, tambem<br />
a escala<strong>da</strong> em Bloco, ou seja, a escala<strong>da</strong> de<br />
blocos rochosos geralmente de baixa altura,<br />
encontra condições muito boas para a sua<br />
prática com um crescente numero de adpetos.<br />
Embora seja considerado um terreno de<br />
Montanha e aventura, existem vias de<br />
escala<strong>da</strong> relativamente simples que podem ser<br />
realiza<strong>da</strong>s por praticantes menos evoluidos<br />
mas que detenham os conhecimentos<br />
44<br />
apropriados para a sua pratica<br />
em segurança. Não esquecer, no<br />
entanto, que é um ambiente de<br />
alterações rápi<strong>da</strong>s e em que a saí<strong>da</strong> do<br />
local nem sempre é fácil e imediata<br />
em caso de fraca visibili<strong>da</strong>de ou<br />
lesão corporal. Mesmo em dias<br />
de aparente estabili<strong>da</strong>de nunca<br />
deixar de transportar os elementos<br />
minimos necessários à protecção.<br />
Em termos históricos, o Cântaro<br />
Magro é a zona mais emblemática<br />
para a prática <strong>da</strong> escala<strong>da</strong> Clássica,<br />
embora existam outros sectores<br />
nas imediações com vias abertas e<br />
outras zonas pouco explora<strong>da</strong>s mas<br />
que à vista parecem ter potencial.<br />
Tambem o Covão do ferro tem<br />
sido, mais recentemente, muito<br />
procurado para a exploração de<br />
novas vias. Para fazer escala<strong>da</strong> Desportiva,<br />
aquela em que a progressão do escalador se<br />
faz utilizando equipamento previamente<br />
embutido na rocha, existem tambem vários<br />
sectores com caracteristicas distintas. Por<br />
exemplo, o corredor dos dos Mercadores<br />
caracteriza-se por vias curtas, muito verticais,<br />
por vezes até extrapruma<strong>da</strong>s, enquanto que o<br />
sector <strong>da</strong> Francelha apresenta vias mais longas<br />
e menos verticais tipicamente de aderência.<br />
Perto do Covão d’ametade existem outras<br />
duas zonas, a placa dos fantasmas (vias<br />
parcialmente equipa<strong>da</strong>s, de baixa dificul<strong>da</strong>de<br />
e boas para iniciação) e o sector <strong>da</strong> Cascata<br />
musical. Relativamente à escala<strong>da</strong> de Bloco<br />
existe aquela que é considera<strong>da</strong> por muitos<br />
uma <strong>da</strong>s “Mecas” para a prática deste tipo<br />
de escala<strong>da</strong> em Portugal: a zona <strong>da</strong> Pedra do<br />
Urso, no entanto, tambem o Covão Cimeiro<br />
tem sido muito procurado pelos adeptos<br />
desta escala<strong>da</strong>. Por fim, temos a escala<strong>da</strong> em<br />
gêlo, mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de bastante exigente sobre o<br />
Cântaro magro<br />
ponto de vista técnico, de material<br />
e de segurança. Os locais para<br />
a prática deste tipo de escala<strong>da</strong><br />
são tipicamente zonas sombrias,<br />
de altitude, e com escorrencias<br />
que possam congelar quando as<br />
temperaturas descem abaixo de<br />
zero. Embora o local exacto possa<br />
variar de ano para ano e até ao longo<br />
do inverno, existem zonas onde<br />
habitualmente se formam cascatas<br />
de gêlo com condições para serem<br />
escala<strong>da</strong>s: curva do Cântaro, topo<br />
do Covão Cimeiro, Corredor do<br />
Inferno, Covão do Ferro, Cantaro<br />
Raso, entre outros...<br />
Proposita<strong>da</strong>mente, não referimos<br />
com exactidão os respectivos locais<br />
de escala<strong>da</strong>. A <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> é<br />
uma zona com habitats sensiveis e<br />
que urge proteger e conhecer. Alem disso, desde
46<br />
Tiago Pais<br />
Corredor dos dos Mercadores<br />
Lagoa <strong>da</strong> Francela<br />
a ultima revisão do Plano de Ordenamento do<br />
Parque Natural que foram impostas restrições<br />
à prática <strong>da</strong> escala<strong>da</strong> mas cujos fun<strong>da</strong>mentos<br />
não foram, até ao momento, devi<strong>da</strong>mente<br />
explicados. Esta decisão foi toma<strong>da</strong> sem haver<br />
qualquer contacto com os clubes ou a própria<br />
Federação pelo que suspeitamos que tenha<br />
sido feita sem o devido conhecimento destas<br />
activi<strong>da</strong>des. Acresce que esta restrição não se<br />
encontra publica<strong>da</strong> em nenhum documento<br />
oficial pelo que é dificil ter conhecimento <strong>da</strong><br />
sua extensão. Em qualquer caso, julgamos que<br />
a <strong>Serra</strong> deve ser explora<strong>da</strong> aos poucos e sem<br />
pressas! E que a melhor maneira para fazer isto<br />
de forma segura e sem prejudicar os habitats<br />
locais é através de pessoas ou grupos que já<br />
conheçam o local nomea<strong>da</strong>mente praticantes
Cascata de gelo<br />
experientes, clubes, associações ou guias<br />
profissionais devi<strong>da</strong>mente reconhecidos.<br />
Temos pelo menos três clubes na zona<br />
nomea<strong>da</strong>mente a ASE (www.asestrela.org),<br />
Tiago Pais<br />
o CMG (www.montanhismo-guar<strong>da</strong>.pt), e o<br />
CMS (www.clubemontanhismoseia.com) que<br />
realizam activi<strong>da</strong>des na <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> e que<br />
te poderão aju<strong>da</strong>r a conhece-la.<br />
ZIMBRO - EDIÇÃO DE MARÇO 2013
50<br />
Co-organizado pela ASE - Associação Cultural<br />
<strong>Amigos</strong> <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> Estela e pelo Ge-<br />
Observer, o NORSUDESTE, a realizar nos<br />
dias 8 e 9 de Junho deste ano, é uma travessia<br />
guia<strong>da</strong> por montanhistas experientes,<br />
atravessando os vales mais espectaculares <strong>da</strong><br />
<strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> - Beijames, Zêzere e Garganta<br />
de Loriga - ligando Valhelhas a Loriga<br />
com todos os predicados para se saborearem<br />
momentos de rara beleza, através de<br />
uma <strong>Estrela</strong> desconheci<strong>da</strong> e mais selvagem.<br />
Co-organizado pela ASE - Associação Cultural<br />
<strong>Amigos</strong> <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> Estela e pelo Ge-<br />
Observer, o NORSUDESTE, a realizar nos<br />
dias 8 e 9 de Junho deste ano, é uma travessia<br />
guia<strong>da</strong> por montanhistas experientes,<br />
atravessando os vales mais espectaculares <strong>da</strong><br />
<strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> - Beijames, Zêzere e Garganta<br />
de Loriga - ligando Valhelhas a Loriga<br />
com todos os predicados para se saborearem<br />
momentos de rara beleza, através de<br />
uma <strong>Estrela</strong> desconheci<strong>da</strong> e mais selvagem.<br />
A ASE em colaboração com a Associação de Vila de Mouros<br />
vai organizar uma caminha<strong>da</strong> que tem algo de original.<br />
Um grupo sairá <strong>da</strong> “Aldeia” - Vila do Carvalho guia<strong>da</strong><br />
por elementos <strong>da</strong> AVM e outro guiado por elementos<br />
<strong>da</strong> ASE iniciará a sua caminha<strong>da</strong> a partir de Manteigas.<br />
O encontro dos dois grupos será nas poldras do Beijames onde é servido<br />
um almoço. Local ideal para o convívio, talvez para discutir e aprofun<strong>da</strong>r<br />
relações entre os dois lados <strong>da</strong> <strong>Serra</strong>, do romance e, quem sabe, <strong>da</strong> recu-<br />
À hora a que estas palavras são li<strong>da</strong>s estará a<br />
decorrer o 5 ASESTRELA, não no espaço<br />
onde há 30 anos a ASE vem promovendo a<br />
serra e o montanhismo, com o espírito mais<br />
são que o homem souber alcançar, mas no seu<br />
reduto, no meio do vale glaciário do Zêzere,<br />
onde tudo está por fazer para o preservar.<br />
Podíamos ter ido para o Covão d’Ametade e<br />
ter enfrentado tudo e todos, como já o fizemos<br />
noutros tempos, para provar que aquilo que<br />
nos feito é injusto e carece que qualquer sentido<br />
legal. Preferimos no entanto, não ir por aí<br />
e ficar na expectativa para ver até onde vai o<br />
arrojo relativamente ao Covão d’Ametade.<br />
Depois de tanta experiência acumula<strong>da</strong>, A<br />
ASE não tem sido procura<strong>da</strong> como parceiro.<br />
Preferem os responsáveis, pela gestão dos<br />
baldios, continuar a acumular erros atrás de<br />
erros com consequências nefastas para aquele<br />
monumento natural, conforme lhe chamou<br />
o Dr. Marques Ferreira, então presidente do<br />
Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação<br />
<strong>da</strong> Natureza.<br />
Por respeito para com todos os participantes<br />
e pelo conhecimento dos problemas que a<br />
Junta de Freguesia de São Pedro (questões de<br />
saúde com dois dos seus representantes), está<br />
a atravessar e a quem desejamos as melhoras<br />
e o restabelecimento breve, apenas iremos<br />
referir o que motivou a nossa discordância e<br />
a não realização do ASESTRELA, no Covão<br />
d’Ametade.<br />
1º A ASE não obteve resposta alguma aos<br />
três e-mails que enviou;<br />
2º A ausência de qualquer resposta e o aproximar<br />
<strong>da</strong> <strong>da</strong>ta forçou a Associação e cancelar o<br />
ASESTRELA.<br />
3º Essa condição gerou uma on<strong>da</strong> de contestação<br />
que preocupou a Junta de Freguesia<br />
de S. Pedro.<br />
4º Em resultado disso, a ASE aceitou alterar<br />
uma activi<strong>da</strong>de programa<strong>da</strong> para os dias 29 e<br />
30 de Março e substituí-la pelo ASESTRE-<br />
LA.<br />
5º É a partir deste momento que a empresa,<br />
Trilhos e Lagoas, nos contacta por e-mail e<br />
nos transmite a cedia o espaço, gratuitamente,<br />
mas impunha que a recepção fosse feita por si.<br />
A ASE não aceitou essa condição e pediu que<br />
lhe fosse explicado a razão de tal exigência. O<br />
nosso pedido não só não foi satisfeito como a<br />
gestão <strong>da</strong> recepção se ter mantido.<br />
Em face disso foi decidido alterar o local e<br />
convi<strong>da</strong>r todos os participantes associados<br />
para os terrenos <strong>da</strong> ASE.<br />
O ASESTRELA irá terminar aqui, esperando<br />
que outras dinâmicas venham a surgir para<br />
bem <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Estrela</strong> e do montanhismo<br />
em Portugal.<br />
ZIMBRO - EDIÇÃO DE MARÇO 2013