Antropocosmologia do Jovem Kant - LusoSofia
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Que é o Homem? – <strong>Antropocosmologia</strong> <strong>do</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Kant</strong> 21<br />
Mas esses <strong>do</strong>is “pontos de vista” – insiste <strong>Kant</strong> – não devem ser<br />
pensa<strong>do</strong>s como estan<strong>do</strong> um ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro, e sim como estan<strong>do</strong> “necessariamente<br />
uni<strong>do</strong>s no mesmo sujeito.” 27<br />
Numa outra modulação, o mesmo tópico regressa obsessivamente<br />
na primeira centena de páginas <strong>do</strong> Opus Postumum, onde o então já<br />
septuagenário Filósofo pretende ainda captar na sua máxima economia<br />
“o mais eleva<strong>do</strong> ponto de vista da filosofia transcendental”. Nessas<br />
páginas atinge esta antropologia da mediação a sua máxima expressão.<br />
Enquanto sujeito e pessoa, o homem é o “termo médio” (terminus medius),<br />
a cópula (copula) que “une” (verknüpft) os <strong>do</strong>is princípios ou<br />
ideias da razão – Deus e o Mun<strong>do</strong>, num to<strong>do</strong> absoluto, para assim<br />
os “reduzir à unidade sintética” (zur synthetischen Einheit zu bringen)<br />
num sistema formal de ideias de que ele mesmo se sabe cria<strong>do</strong>r.<br />
Enquanto se considera na sua relação ao mun<strong>do</strong> sensível, ele é<br />
o cosmotheoros, isto é, aquele que cria a priori os elementos que tornam<br />
possível o conhecimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e lhe permitem que, sen<strong>do</strong><br />
ele mesmo um “habitante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” (Welthewohner), seja, ao mesmo<br />
tempo, o “contempla<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” (Weltbeschauer, We1tbeobachter).<br />
Mas, por outro la<strong>do</strong>, enquanto se considera como pessoa, consciente da<br />
sua liberdade, participante da legislação de um mun<strong>do</strong> moral e liga<strong>do</strong><br />
a outros seres racionais, ele é verdadeiramente um “cosmopolita”, no<br />
mais próprio e pleno senti<strong>do</strong> que pode dar-se a esta expressão. 28<br />
Ao atingir assim o seu “mais eleva<strong>do</strong> ponto de vista”, a filosofia<br />
transcendental kantiana mais não faz <strong>do</strong> que consumar a convicção da<br />
condição anfíbia, média e media<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> homem, que vimos surgir na<br />
III Parte <strong>do</strong> ensaio de 1755 e desenvolver-se depois como o Leitmotiv<br />
da sua filosofia prática.<br />
5. A cosmologia kantiana, desde ce<strong>do</strong> formulada e amadurecida,<br />
oferece-se como um fecun<strong>do</strong> alfobre de metáforas e de analogias que o<br />
27 Grundh, Ak, IV, 456: “[...] und dass beide nicht allein gar wohl beisammen<br />
stehen können, sondern auch als nothwendigen vereinigt in demselben Subject gedacht<br />
werden müssen.”<br />
28 Ak, XXI, 31, 43, 553.<br />
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