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de pombal à primeira república

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128 JOSÉ EDUARDO FRANCO<br />

A doutrina antijesuítica <strong>de</strong>senvolvida nesta obra arquétipa encerra e<br />

estabelece a lenda negra dos Jesuítas portugueses como síntese global <strong>de</strong><br />

toda a literatura antijesuítica <strong>pombal</strong>ina, esta que foi consi<strong>de</strong>rada a opus<br />

monumentale, “a obra porventura a mais importante <strong>de</strong> quantas se têm<br />

publicado contra os Jesuítas” 15 . Este tratado é atravessado por uma i<strong>de</strong>ia-<br />

-chave, uma tese orientadora que o estrutura, tese univalente que preten<strong>de</strong><br />

oferecer uma explicação global para a <strong>de</strong>cadência e o obscurantismo que<br />

marcou os últimos século <strong>de</strong> história portuguesa, por contraste ao presente<br />

português que renasce pelas Luzes imprimidas pela acção benéfica<br />

do <strong>de</strong>spotismo iluminado. A tese é simples: até ao momento em que a<br />

Companhia <strong>de</strong> Jesus se estabeleceu em Portugal, no ano <strong>de</strong> 1540, o país<br />

vivia uma autêntica ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro, uma era <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> glórias<br />

que conferiram ao país um largo prestígio internacional. A partir do momento<br />

em que a Companhia começou a se implementar, a se expandir e<br />

automaticamente a inocular a sua nefasta influência, teve início um período<br />

<strong>de</strong> uma progressiva <strong>de</strong>cadência que instalou no reino uma ida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ferro, um tempo <strong>de</strong> trevas, <strong>de</strong> ignorância e <strong>de</strong> fanatismo. O reino ficou<br />

cadaveroso, sofrendo um vergonhoso retrocesso que o rebaixou em termos<br />

<strong>de</strong> prestígio frente <strong>à</strong> Europa dita culta e iluminada. Esta situação teria<br />

atingido o seu ponto culminante no início do reinado <strong>de</strong> D. José I, época<br />

em que os “perniciosos regulares” foram expulsos, permitindo a Portugal<br />

regenerar-se e reabilitar-se do quebrantamento extremo a que foi sujeito<br />

pela máquina <strong>de</strong> intriga e <strong>de</strong> sujeição da Companhia <strong>de</strong> Jesus.<br />

O Marquês <strong>de</strong> Pombal apresenta-se, <strong>de</strong> facto, como esse herói <strong>de</strong>ste<br />

tempo novo, <strong>de</strong>sse tempo <strong>de</strong> regeneração e <strong>de</strong> recuperação do prestígio e<br />

da dignida<strong>de</strong> perdida pelo país. Os Jesuítas, os Ingleses 16 e alguns sectores<br />

15<br />

THEINER, Agustin, Op. Cit., p. 9.<br />

16<br />

Verifica-se um certo paralelismo entre a imagem do Estado Inglês transmitida<br />

por Pombal e a imagem dos Jesuítas, ambas diabolizadas como sujeitos produtores <strong>de</strong><br />

efeitos nefastos para o nosso país. Por exemplo no “Discurso político sobre as vantagens<br />

que o reino <strong>de</strong> Portugal po<strong>de</strong> tirar da sua <strong>de</strong>sgraça por ocasião do terramoto do 1º <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 1755”, o ministro <strong>de</strong> D. José <strong>de</strong>screve assim a nação inglesa: “Uma nação<br />

ambiciosa minava surdamente há muito tempo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> seus vizinhos: sua indústria e<br />

seu comércio lhe haviam dado vantagens sobre muitos Estados. Uma política maravilhosamente<br />

combinada, tinha conduzido todos os seus <strong>de</strong>sígnios ao supremo po<strong>de</strong>r, por caminhos<br />

ocultos a guiava. Os preconceitos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração que ela tinha sabido estabelecer, o<br />

sistema pacífico com que havia encantado os olhos das potências, as riquezas do Brasil,<br />

<strong>de</strong> que ela tinha tido inteira posse, uma marinha formidável, as artes vigorosamente cultivadas,<br />

florescentes manufacturas. Eis aqui os instrumentos <strong>de</strong> que ela se tinha servido para<br />

subjugar muitos povos”. POMBAL, Marquês <strong>de</strong>, Cartas e outras obras selectas, Quinta

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