Aspectos do feminino e masculino na arte de Ismael Nery* - SciELO
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<strong>Aspectos</strong> <strong>do</strong> <strong>feminino</strong> e <strong>masculino</strong><br />
maneira, faz lembrar a criação New look 16 – traje <strong>do</strong> novo homem<br />
<strong>do</strong>s trópicos, <strong>do</strong> artista Flávio <strong>de</strong> Carvalho, em 1956. Trata-se <strong>de</strong><br />
uma blusa <strong>de</strong> manga curta e folgada, um saiote, um chapéu <strong>de</strong><br />
abas largas, sandálias e meia arrastão, com os quais Flávio, para a<br />
surpresa da população, <strong>de</strong>sfilou pelas ruas <strong>de</strong> São Paulo <strong>na</strong><br />
intenção <strong>de</strong> questio<strong>na</strong>r as convenções sociais.<br />
Comentan<strong>do</strong> poemas <strong>de</strong> Murilo Men<strong>de</strong>s, Davi Arrigucci Jr.<br />
os compara aos quadros <strong>de</strong> Nery, com influência <strong>de</strong> Chagall, no<br />
qual os perso<strong>na</strong>gens surgem flutuan<strong>do</strong>. Para o crítico, neste<br />
“Chagall à moda da casa”, o flutuar está liga<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
liberação, ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apresentar-se fora <strong>do</strong>s eixos. Num Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro católico e reprimi<strong>do</strong> sexualmente, a <strong>arte</strong>, <strong>de</strong> certa maneira<br />
associada a este mesmo catolicismo, parece ser o caminho<br />
escolhi<strong>do</strong> por Nery para um encontro consigo mesmo:<br />
Assim, em quadros chagallianos ou à maneira <strong>de</strong> <strong>Ismael</strong><br />
Nery, Chagall à moda da casa, figuras <strong>na</strong>vegan<strong>do</strong> nos ares<br />
<strong>do</strong> sonho saem mesmo das ruas pacatas <strong>de</strong> um Rio<br />
camarada, on<strong>de</strong> ainda é possível <strong>de</strong>vanear bobagens (...).<br />
Ou seja, um mun<strong>do</strong> pré-burguês ou pequeno-burguês, <strong>de</strong><br />
instabilida<strong>de</strong>s variadas, mas <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong> reprimida e<br />
muito acomoda<strong>do</strong> em suas salas <strong>de</strong> visita e nos rituais da<br />
vida social, <strong>de</strong>sliza tranqüilamente em seus eixos até que<br />
passa a flutuar fora <strong>de</strong>les, conforme os solavancos <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>sejo, magnetiza<strong>do</strong> por uma sensualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sbragada e<br />
ungi<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma religiosida<strong>de</strong> que vê o <strong>de</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> Deus em<br />
toda p<strong>arte</strong>. 17<br />
Em “Poema” e em Duas amigas ou Eva (fig. 2), Nery trata<br />
<strong>do</strong>s primeiros habitantes da terra segun<strong>do</strong> a Bíblia, Adão e Eva:<br />
16<br />
A obra pertence à coleção <strong>de</strong> Heloísa <strong>de</strong> Carvalho.<br />
17<br />
ARRIGUCCI Jr., Davi. Arquitetura da memória. In: O cacto e as ruí<strong>na</strong>s. São<br />
Paulo, Duas cida<strong>de</strong>s, 1997, pp.83-84.<br />
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