Aspectos do feminino e masculino na arte de Ismael Nery* - SciELO
Aspectos do feminino e masculino na arte de Ismael Nery* - SciELO
Aspectos do feminino e masculino na arte de Ismael Nery* - SciELO
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Aspectos</strong> <strong>do</strong> <strong>feminino</strong> e <strong>masculino</strong><br />
Assim como Narciso e Francesco Mazzola, o italiano<br />
inicia<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Maneirismo 4 em 1523, Nery também postou-se diante<br />
<strong>do</strong> espelho. A história <strong>de</strong> Narciso fala <strong>de</strong> um amor não<br />
correspondi<strong>do</strong>, <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> impossível <strong>de</strong> ser resolvida:<br />
Havia uma fonte clara, cuja água parecia <strong>de</strong> prata, a qual<br />
pastores jamais levavam rebanhos (...). Ali chegou um dia<br />
Narciso, fatiga<strong>do</strong> da caça, e sentin<strong>do</strong> muito calor e muita<br />
se<strong>de</strong>. Debruçou-se para <strong>de</strong>salterar-se, viu a própria imagem<br />
refletida <strong>na</strong> fonte e pensou que fosse um belo espírito das<br />
águas que ali vivesse. Ficou olhan<strong>do</strong> com admiração para<br />
os olhos brilhantes, para os cabelos anela<strong>do</strong>s como os <strong>de</strong><br />
Baco ou <strong>de</strong> Apolo, o rosto oval, o pescoço <strong>de</strong> marfim, os<br />
lábios entreabertos (...). Apaixonou-se por si mesmo.<br />
Baixou os lábios, para dar um beijo e mergulhou <strong>na</strong> água<br />
para abraçar a bela imagem. Esta fugiu com o contato, mas<br />
voltou um momento <strong>de</strong>pois, renovan<strong>do</strong> a fasci<strong>na</strong>ção.<br />
Narciso não pô<strong>de</strong> mais conter-se. Esqueceu <strong>de</strong> to<strong>do</strong> da<br />
idéia <strong>de</strong> alimento ou repouso, enquanto se <strong>de</strong>bruçava sobre<br />
a fonte (...).<br />
- Por que me <strong>de</strong>sprezas belo ser? (...)<br />
Com estas palavras, e muitas outras semelhantes, atiçava a<br />
chama que o consumia, e, assim, pouco a pouco, foi<br />
per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as cores, o vigor e a beleza (...). O jovem<br />
<strong>de</strong>paupera<strong>do</strong> morreu... 5<br />
Francesco Mazzola, postan<strong>do</strong>-se diante <strong>do</strong> espelho convexo,<br />
encontrou um sujeito <strong>de</strong>forma<strong>do</strong>, com uma mão gigantesca. Nery<br />
também reencontra muitas vezes um sujeito <strong>de</strong>forma<strong>do</strong> 6 , pinta-se<br />
4<br />
HOCKE, Gustav R. Maneirismo: o mun<strong>do</strong> como labirinto. São Paulo,<br />
Perspectiva, 1974, pp.15-17.<br />
5<br />
BULFINCH, Thomas. O livro <strong>de</strong> ouro da mitologia (a ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ouro): histórias<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>uses e heróis. 9. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Ediouro, 2000, pp.124-125.<br />
6<br />
Suas fases, que muitas das vezes se confun<strong>de</strong>m, são as seguintes:<br />
expressionista, cubista e surrealista. Neste texto, serão a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s ape<strong>na</strong>s quadros<br />
da primeira fase.<br />
178