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LDM Magazine

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<strong>LDM</strong><br />

Revista do blog Longe de Mim - Ano I - Edição Nº 01<br />

São José do Rio Preto/SP<br />

MAGAZINE<br />

CRÔNICA<br />

QUEM<br />

ROUBOU<br />

MINHA VAGA?<br />

A MAIS NOVA<br />

PENSADORA<br />

Um professor de filosofia cita Valesca Popozuda em<br />

uma prova: ensino defasado ou proposta de discussão?<br />

E mais:<br />

Após ataque de sinceridade, repórter da Globo<br />

admite que emissora escolhe a dedo os<br />

entrevistados - página 8<br />

A mulher, o sangue e a guerra: As origens do<br />

machismo na sociedade atual - página 5<br />

Comunicação é tema de debate entre alunos de<br />

jornalismo e central sindical - página 6


Minissaia (in)justa<br />

Uma pesquisa realizada pelo Ipea jogada sensacionalista da grande apontou que uma parcela da<br />

(Instituto de Pesquisa Econômica mídia. Queria acreditar que nos população brasileira acredita que a<br />

Aplicada), que entrevistou 3.810 documentos oficiais da pesquisa mulher deva ser punida por usar<br />

pessoas, revelou que 26% dos estaria “Mulheres que usam roupas curtas e provocantes, como<br />

entrevistados concordam com a roupas curtas e provocantes estão se isso fosse um crime.<br />

afirmação de que mulheres que mais vulneráveis a ser atacadas E quanto ao comportamento?<br />

u s a sexualmente”. Decepcionei-me. A Segundo a opinião dessas pessoas<br />

palavra utilizada era mesmo o estupro é uma falha no<br />

“merecem” e um quarto dos comportamento feminino. Porém,<br />

entrevistados concordava com não deveriam os homens ter<br />

isso.<br />

controle sobre seus instintos?<br />

Não concordo, porém, com Vi v e m o s e m u m m u n d o<br />

nenhuma das duas afirmações, no civilizado, onde comportamento<br />

m roupas curtas e provocantes<br />

entanto, se a expressão utilizada nenhum, por mais provocativo<br />

m e r e c e m s e r a t a c a d a s<br />

fosse “estão mais vulneráveis”, o que seja, justifica um ataque<br />

sexualmente. Como já foi<br />

quadro apontado na pesquisa sexual.<br />

e s c l a r e c i d o , o s n ú m e r o s<br />

s e r i a , n o m í n i m o m a i s Uma pesquisa como essa mostra o<br />

divulgados anteriormente –<br />

humanitário. Nesse caso caberia q u ã o r e t r ó g r a d o e s t á o<br />

a p o n t a n d o q u e 6 5 %<br />

aquela comparação de que se você pensamento de pelo menos um<br />

concordavam com tal ideia –<br />

deixar o carro aberto na rua estará quarto da sociedade. Espero que<br />

estavam errados. Um erro<br />

mais vulnerável a ser roubado. e s s a s i d e i a s n ã o s e j a m<br />

gravíssimo, no entanto, o<br />

Percebam, porém, como um único disseminadas, senão, vamos<br />

resultado ainda é alarmante.<br />

termo muda o rumo das coisas. regredir depois de tanto evoluir.<br />

Confesso que quando li o termo<br />

Tendo em vista que a palavra Sobre a opinião dessa parcela, só<br />

“merecem” nos jornais e portais<br />

“merecer”, quando empregada digo uma coisa: preparem as<br />

de notícias, torci para ser uma<br />

com um sentido negativo remete à fogueiras, a Idade Média está<br />

culpa e à punição, a pesquisa tentando voltar!<br />

ÍNDICE<br />

6<br />

2<br />

10<br />

3<br />

Quem roubou minha vaga?<br />

A mulher, o sangue e a guerra<br />

Comunicação é tema de debate da CUT<br />

Beijo no ombro ‘pra’ mídia<br />

O outro lado do #vergonhariopreto<br />

Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais<br />

7<br />

12<br />

5


POLARIDADE<br />

‘‘<br />

O Brasil vai continuar tendo<br />

forte prioridade na sua relação<br />

com o continente africano.<br />

- Lula<br />

ex-presidente do Brasil<br />

da Redação<br />

Quem roubou minha vaga?<br />

lan nasceu em uma família pobre. Estudou a vida toda<br />

em escola pública. Ia para o colégio de manhã e<br />

Atrabalhava à tarde na vendinha do Seu Manoel,<br />

próxima à sua casa. Nos horários de menor movimento na<br />

venda, Alan sempre tirava um tempinho para ler. Não havia um<br />

dia sequer que o garoto estivesse sem algum livro 3que pegava<br />

na biblioteca da escola.<br />

O rapaz era estudioso e jurava que seria advogado. Seus pais,<br />

parentes e amigos até o apoiavam, mas no fundo todo esse<br />

pessoal achava mesmo era que Alan continuaria ali, na<br />

vendinha do Seu Manoel, afinal, com o ensino de sua escola era<br />

difícil entrar em uma universidade pública, e seus pais não<br />

poderiam pagar uma particular.<br />

Do outro lado da cidade morava Pedro. Nascido em uma família<br />

de classe média alta, o garoto sempre frequentou uma escola


particular. Ao contrário de Alan, Pedro tinha a tarde<br />

livre, não trabalhava, mas tampouco se interessava<br />

pelos livros da biblioteca.<br />

Apesar da falta de interesse, o garoto era considerado o<br />

menino prodígio da família, o orgulho dos pais. Jurava<br />

que seria advogado, e ninguém duvidava, afinal, tinha<br />

todas as oportunidades para isso.<br />

Chega 2013 e com ele o terceiro colegial para Alan e<br />

Pedro. O primeiro garoto se esforça o ano todo.<br />

Chegou até a pedir para o Seu Manoel o dispensar uma<br />

hora mais cedo todos os dias. É claro que o salário<br />

acabou abaixando, mas ele precisava desse tempo para<br />

estudar.<br />

Para Pedro, 2013 foi um ano mais tranquilo. Sua rotina<br />

continuou a mesma, até um mês antes do vestibular,<br />

quando o desespero bateu à porta e ele percebeu que<br />

precisava estudar. Pegava os<br />

‘‘<br />

haver um esforço<br />

livros, mas não sabia onde era<br />

o começo de tudo aquilo. Já<br />

sem muitas esperanças, fez a<br />

prova na raça, acreditando que<br />

os simulados que fez na escola<br />

o ajudariam.<br />

Alan estava seguro. Havia<br />

estudado e não tinha dúvidas<br />

de que conseguiria passar. Fez a prova com calma,<br />

devagar, quase não deu tempo de responder a última<br />

questão, mas conseguiu concluir o vestibular. Voltou<br />

para casa seguro, de cabeça erguida.<br />

Depois de alguns dias, o resultado. Alan não estava na<br />

primeira chamada, nem Pedro. Segunda chamada, e<br />

nada. Terceira, e última chamada. Alan passou<br />

raspando, em último lugar, mas passou. Pedro não<br />

conseguiu.<br />

Enquanto Alan comemorava, Pedro praguejava contra<br />

os “malditos cotistas que roubaram sua vaga”. É claro<br />

que a cota que Alan tinha direito por ser estudante de<br />

escola pública deu um empurrãozinho, mas se não<br />

fosse seu esforço, não teria conseguido.<br />

Há duas semanas Alan começou a faculdade. Daqui<br />

uns anos será um ótimo advogado. Já Pedro conseguiu<br />

4convencer seu pai de que só não conseguiu passar por<br />

causa dos cotistas, que entraram em sua frente. Esse<br />

era o único argumento que tinha para mascarar sua<br />

falta de dedicação.<br />

Mas no fundo Pedro sabia que deveria ter estudado<br />

mais. Sabia que cotas não aprovam ninguém. Ajudam,<br />

sim, mas tem que haver um esforço por parte do cotista.<br />

E graças a essas cotas que pessoas como o Alan, que<br />

têm sede de ser alguém, conseguem alcançar seus<br />

objetivos.<br />

...cotas não aprovam<br />

ninguém. Ajudam,<br />

sim, mas tem que<br />

por parte do cotista.<br />

RECOMENDAMOS<br />

Descubra quem é Augusto<br />

Cândido e o que ele faz<br />

quando alguém o deixa muito<br />

aborrecido. Conheça Cíntia<br />

Amaral, seus conflitos e sua<br />

enorme obsessão por fazer<br />

justiça. Saiba quem é Gabriel<br />

Assunção, de onde ele veio, e<br />

de quê ele está arrependido.<br />

Desvende seus motivos, seus<br />

segredos, seus objetivos.<br />

Limite suas diferenças,<br />

encontre o culpado, e tente<br />

achar a resposta: quem é o<br />

vilão?<br />

O AUTOR<br />

Jean Pereira Lourenço nasceu<br />

em 1993 e atualmente cursa<br />

Letras – Tradutor na UNESP –<br />

IBILCE, em São José do Rio<br />

Preto, onde vive. Além de<br />

lecionar língua inglesa, é<br />

dono da página Ponto do<br />

Conto, no Facebook, e criador<br />

da Quântica, selo de literatura<br />

independente. Atualmente, o<br />

Universo Literário Quântica<br />

conta com um total de 40<br />

obras em desenvolvimento,<br />

sendo “O vilão” a primeira a<br />

ser oficialmente publicada.


GÊNERO<br />

‘‘<br />

A mulher, antes divina,<br />

foi demonizada. A que<br />

outrora era considerada<br />

forte, agora era frágil,<br />

submissa.<br />

Vênus de<br />

Willendorf<br />

da Redação<br />

A mulher, o sangue e a guerra<br />

á dizia o filósofo Michel Foucault: “Por derramado, mais poder àquele que o derramou.<br />

muito tempo, o sangue constituiu um O líquido vermelho que escorria dos inimigos<br />

Jelemento importante nos mecanismos do era sinônimo de força e autoridade, e as deusas<br />

poder, em suas manifestações e rituais. (…) o foram substituídas por deuses. Senhores da<br />

sangue constitui um dos valores essenciais; guerra que lutavam junto com seu povo.<br />

seu preço se deve, ao mesmo tempo, a seu A mulher, antes divina, foi demonizada. A que<br />

papel instrumental (poder derramar o sangue), outrora era considerada forte, agora era frágil,<br />

a seu funcionamento na ordem dos signos (…), submissa. Devia ficar em casa, cuidando dos<br />

a sua precariedade (fácil de derramar, sujeito a filhos, e sempre pronta para gerar outros<br />

extinção, demasiadamente pronto a se herdeiros para seu marido. O sangue da<br />

misturar, suscetível de se corromper menstruação, antigo sinônimo de vida e<br />

rapidamente)”.<br />

virilidade, passou a ser sujo, impuro, maldito.<br />

O sangue sempre criou um fascínio nos seres Toda a divindade do sexo feminino foi<br />

humanos desde os primórdios da humanidade. esmagada pela ascensão das sociedades<br />

As primeiras sociedades baseavam-se no patriarcais.<br />

modelo matriarcal. A prova disso é um das mais E ai de quem tentasse provar o contrário. O<br />

antigas representações de uma divindade: a culto ao feminino foi condenado. Era bruxaria, e<br />

Vênus de Willendorf. Uma mulher, todas as “bruxas” eram queimadas na fogueira.<br />

representada por uma estátua com seios, O motivo? Medo! Medo que homens tinham de<br />

barriga, coxas e nádegas fartas, simbolizando a<br />

fertilidade. Mas o que dava esse caráter divino que têm hoje.<br />

à mulher não era apenas a capacidade de gerar O modelo patriarcal é o grande responsável<br />

outro ser dentro de si, mas também a pelo machismo que vemos atualmente. A ideia<br />

capacidade de, de tempos em tempos, sangrar de que a mulher é inferior, incapaz e mais fraca<br />

por vários dias sem morrer. Aquele fluxo era surgiu quando o flúido vermelho deixou de ser<br />

visto como uma dávida divina e, em algumas divino, e passou a ser moeda para compra de<br />

sociedades, chegava a ser utilizado em rituais poder. Devido a isso, muito sangue foi<br />

religiosos.<br />

derramado. Sangue de mulheres que lutaram<br />

Mas o sangue, que simbolizava a vida, passou por seus direitos, mulheres que sofreram (e<br />

a ser sinônimo de poder. Poder pela morte. As ainda sofrem) abusos. Sangue que escorre por<br />

sociedades patriarcais engoliram os modelos dentro cada vez que uma foto é compartilhada<br />

sociais que tinham a mulher como centro. E o nas redes sociais rotulando a mulher como<br />

sangue, antes vindo do sagrado feminino, vadia. Sangue que continuará escorrendo<br />

passou a vir das guerras. Quanto mais sangue enquanto o machismo prevalecer.<br />

perder o lugar para as mulheres. Mesmo medo<br />

5


COMUNICAÇÃO<br />

Da esquerda para a direita:<br />

Paulo Salvador, Rafael Garcia,<br />

Telma Andrade e Adriana<br />

Magalhães<br />

Ouça a entrevista<br />

com Paulo Salvador<br />

goo.gl/SIyMhk<br />

Comunicação é tema de debate da CUT<br />

Em parceria com a UNIRP, evento foi direcionado a jornalistas do meio sindical e estudantes de comunicação<br />

ASão Paulo (CUT-SP) realizou, na<br />

última sexta-feira,4, no Centro<br />

Universitário de Rio Preto, uma oficina com o<br />

tema “Comunicação: O Desafio do Século”.<br />

Entre os assuntos debatidos estavam o novo<br />

marco regulatório para democratização dos<br />

meios de comunicação do Brasil, internet:<br />

marco civil e redes sociais, estratégias de<br />

comunicação alternativa e experiências do<br />

movimento sindical.<br />

Central Única dos Trabalhadores de<br />

6<br />

da Redação<br />

A atividade reuniu cerca de 130 pessoas, entre<br />

elas, jornalistas do meio sindical e alunos de<br />

comunicação social da universidade.<br />

Para Paulo Salvador, coordenador da Rede<br />

Brasil Atual e um dos palestrantes do evento, é<br />

importante que haja o debate sobre a mídia no<br />

Brasil. Ele ressalta que não se deve somente<br />

criticar, mas apontar novos caminhos para a<br />

comunicação no país.<br />

Sobre promover esse debate entre os alunos de<br />

comunicação social, Salvador lembra que<br />

quando era estudante defendia a integração<br />

com o movimento real da ruas, e não só com o<br />

meio acadêmico: “O jornalismo é isso, e nessa<br />

interação que estamos fazendo com a<br />

universidade e com os alunos, todo mundo<br />

ganha, todo mundo aprende. Acredito que<br />

estamos ajudando a preparar bons<br />

profissionais”.<br />

Além de Paulo Salvador, o evento contou com<br />

outros palestrantes, entre eles, Rafael Garcia,<br />

coordenador da Rádio Brasil Atual Noroeste<br />

Paulista, Adriana Oliveira Magalhães,<br />

secretária de imprensa da CUT São Paulo e<br />

Telma Andrade, diretora da APEOESP em Rio<br />

Preto.


por Gabriel Vital<br />

Beijo no ombro ‘pra’ mídia<br />

professor que jogou a pouco mais aberta - como o professor<br />

carniça pros abutres e a e seus pupilos - entendeu a ironia.<br />

Ojornalista que teve um Ora, ninguém da mídia apareceu na<br />

ataque de sinceridade. Foram esses exposição de fotografia, mas foi só a<br />

os protagonistas das histórinhas dos escola ser palco de um suposto<br />

últimos dias. Quem diria que a mídia deslize que os urubus vieram<br />

seria tão discutida, assim, do nada, a correndo - ou voando - pra mexer na<br />

partir de duas personagens sem carniça.<br />

qualquer ligação.<br />

O problema é que a carniça era uma<br />

Bom, vamos do início. Tudo isca, e dentro dela havia um anzol,<br />

começou quando a o Centro de prontinho pra fisgar quem quer que<br />

Ensino Médio 3, em Taquaritinga, fosse. E fisgou. O professor<br />

cidade-satélite de Brasília, propôs esclareceu, posteriormente, que a<br />

aos alunos uma exposição de questão se tratava de uma crítica à<br />

fotografia com o tema “Olhares”. própria mídia que sempre busca algo<br />

Cada grupo de estudantes escolhia o negativo para ‘meter o pau’ nas<br />

que iria abordar e, a partir daí, escolas públicas.<br />

fotografava expondo seus olhares Todo mundo - menos os abutres -<br />

sobre aquilo. A mostra ganhou a entendeu. Até a Valesca. A cantora<br />

adesão dos alunos, que expuseram publicou um texto em sua página<br />

1300 fotografias. Toda imprensa dizendo que se sentiu honrada pelo<br />

local foi convidada, mas ninguém título de pensadora, mas que teria que<br />

apareceu.<br />

recusá-lo: “porque é um titulo muito<br />

Dias depois, Antonio Kubitschek - forte e eu ainda não me sinto pronta<br />

professor de Filosofia da escola - pra isso hahaha Diva, Diva sambista,<br />

colocou em sua prova bimestral uma Lacradora essas coisas eu já estou<br />

questão que fazia referência à uma<br />

grande pensadora contemporânea: CONTEMPOR NEA ainda não”. Ela<br />

Valesca Popozuda.<br />

se colocou em defesa do professor e<br />

Não deu outra. Uma aluna tirou uma disse: “me espanta mesmo é todo<br />

foto da questão e publicou no mundo se preocupar com uma única<br />

Facebook. Compartilhamentos e questão da prova sem analisar os<br />

mais compartilhamentos depois, a termos por trás disso tudo (E se o<br />

mídia caiu matando em cima. A professor colocou a questão dentro<br />

prova virou motivo de piada, e o do contexto da matéria? E se o<br />

professor, taxado como cretino, professor quis ser irônico com o<br />

babaca e motivo da educação no sucesso das músicas de hoje em<br />

Brasil estar indo pro buraco. dia?...)”.<br />

Acontece que quem tem a cabeça um<br />

pronta ok mas PENSADORA<br />

7


Ora, resta-me dar os parabéns a esse professor.<br />

Primeiro porque ele está cumprindo - e muito<br />

bem, diga-se de passagem - o seu papel de<br />

mestre, promovendo a discussão e fazendo os<br />

alunos pensarem, além de romper com as<br />

paredes da sala de aula e expandir essa<br />

discussão por todo o país. E depois,<br />

parabenizo-o também por ter lançado uma isca<br />

que mostrou o quão tendenciosa é a mídia hoje.<br />

Se é coisa ruim ou se é pra falar mal do<br />

governo, então é pauta. Foi isso que esse<br />

professor mostrou e que a pobrezinha<br />

jornalista da Globo provou. O que ela fez você<br />

confere abaixo.<br />

‘‘ econômicos, no entanto,<br />

A grande mídia hoje está<br />

assim: um jogo de<br />

interesses políticos e<br />

c r i t i c a r n ã o b a s t a .<br />

Devemos começar a<br />

trilhar novos caminhos e<br />

temos poder para isso.<br />

Foi realizada em São Paulo, no dia 9 de abril, a 8º<br />

Marcha dos Trabalhadores, que uniu diversas<br />

centrais sindicais levantando as bandeiras as<br />

principais bandeiras de luta da classe trabalhadora,<br />

entre elas a redução da jornada de trabalho, o fim<br />

do fator previdenciário, 10% do PIB para a<br />

educação, negociação coletiva no setor público,<br />

reforma agrária e política agrícola, 10% do<br />

orçamento da União para a saúde, combate à<br />

demissão imotivada, salário igual para trabalho<br />

igual, correção da tabela de IR e não ao PL da<br />

terceirização.<br />

A marcha reuniu cerca de 40 mil pessoas, de<br />

acordo com os organizadores. Claro que um<br />

movimento desse porte não poderia ser<br />

simplesmente abafado pela grande mídia. Não dá.<br />

Portanto, a imprensa esteve em peso na Marcha, e<br />

a Globo apareceu com suas câmeras e microfones.<br />

8Acontece que a manifestação não se tratava de um<br />

ato de uma única central sindical, mas um ato<br />

unificado de várias, entre elas a CGTB, CGT,<br />

UGT, NCST, CUT e Força Sindical. Mas parece<br />

que a Globo não entendeu isso - mesmo estando as<br />

logos de todas as centrais no material de<br />

divulgação.<br />

A bomba estourou quando a Marize Muniz,<br />

assessora de imprensa da CUT (Central Única dos<br />

Trabalhadores) publicou em seu Facebook:<br />

‘‘ com os caras da Força Sindical (do<br />

“Deu dó. Sempre tenho pena de<br />

pessoas inocentes.<br />

Foquinha da TV Globo gravou sonora<br />

Aécio Neves), na Praça da Sé, durante<br />

manifestação de seis centrais<br />

sindicais.<br />

Aí, um militante cutista foi lá e<br />

perguntou: e a CUT, você não vai<br />

ouvir ninguém da maior central da<br />

America Latina?<br />

A pobrezinha respondeu: Tenho<br />

ordens da redação para só ouvir os<br />

caras da Força.<br />

Foi um quiprocó danado e a bichinha<br />

teve de ir embora do local.”<br />

- Marize Muniz<br />

via Facebook


Em primeiro lugar, não estou aqui para<br />

julgar a repórter. Parto do princípio<br />

que ela estava fazendo o trabalho dela<br />

e, é claro, cumprindo ordens. (Se bem<br />

que ela poderia ter gravado a entrevista<br />

com o pessoal da CUT e depois ter<br />

cortado, já que a Globo não quer que vá<br />

ao ar. Questão de bom senso.)<br />

Mas a pobrezinha teve um ataque de<br />

sinceridade - ou desespero - e na hora<br />

soltou o que não devia. Jogou merda no<br />

ventilador. Mostrou que a Globo dá<br />

voz a quem ela quer, e o escolhido da<br />

vez foi o Paulinho da Força. Justo ele<br />

que é o presidente de Central que mais<br />

critica o governo Dilma (PT) e que já<br />

declarou apoio ao Aécio Neves<br />

(PSDB) para as próximas eleições.<br />

Afinal, qual o problema de entrevistar<br />

o Paulinho? Nenhum. O problema é<br />

entrevistar SÓ o Paulinho. Por que não<br />

dar voz aos representantes de outras<br />

centrais? O sinal de TV é uma<br />

concessão pública e deve ser usado em<br />

benefício da população, e não em favor<br />

dos interesses de um pequeno grupo.<br />

Foto: Rodrigo Vianna<br />

- Escrevinhador<br />

Foto: Rodrigo Vianna<br />

- Escrevinhador<br />

De acordo com Rodrigo Vianna,<br />

do blog Escrevinhador, a<br />

repórter da Globo foi vaiada e<br />

teve de saír de cena em meio aos<br />

gritos de “o povo não é bobo,<br />

abaixo à Rede Globo” . Ela<br />

correu para dentro de uma<br />

agência do Bradesco onde,<br />

minutos depois, o Paulinho da<br />

Força chegou para dar entrevista<br />

mas, aparentemente, não<br />

rolou…<br />

A grande mídia hoje está assim:<br />

um jogo de interesses políticos e<br />

econômicos, no entanto, criticar<br />

não basta. Devemos começar a<br />

trilhar novos caminhos e temos<br />

poder para isso. Vamos lutar pela<br />

d i s s e m i n a ç ã o d a m í d i a<br />

alternativa, vamos blogar, usar<br />

esse espaço que temos hoje que é<br />

a internet, vamos trabalhar pela<br />

quebra do monopólio da<br />

comunicação e mostrar que o<br />

povo sim, tem voz e essa voz<br />

9<br />

precisa ser ouvida.<br />

Em tempo, beijinho no ombro<br />

pros reaças passarem longe.<br />

Agora vou fazer igual a Valesca e<br />

ir ali ler um Machado de Assis<br />

pra, quem sabe um dia, me tornar<br />

um pensador de elite.


O OUTRO LADO DO<br />

da Redação<br />

O movimento não é feito apenas de protestos e ocupações, entenda como agem os ativistas<br />

Q<br />

uando a Prefeitura de Rio Preto, em agosto de 2011, decidiu colocar<br />

em pauta o aumento do salário dos vereadores, bem como um<br />

aumento de cadeiras na Câmara Municipal que vários grupos se<br />

organizaram para protestar contra a decisão, formando o movimento<br />

Vergonha Rio Preto. Entre as várias frentes que se dispuseram a lutar contra<br />

a pauta estavam os estudantes da COOPEN, o Coletivo Unificado de<br />

Resistência e o Sindicato dos Servidores Municipais, porém, depois deste<br />

primeiro impulso o movimento Vergonha Rio Preto foi tomando grandes<br />

10<br />

proporções, e sendo aberto para todo cidadão rio-pretense que quisesse<br />

participar.<br />

Davi de Martini Junior e Wesley Moraes do Santos são administradores do<br />

grupo #vergonhariopreto no Facebook, mas preferem ser tratados apenas<br />

como integrantes do movimento, isso por que, de acordo com Davi, o<br />

Vergonha Rio Preto é “um movimento popular e horizontal que tem como<br />

principal objetivo enfrentar as mazelas praticadas pelos poderes executivo<br />

e judiciário”. O integrante do grupo explica que o movimento é<br />

considerado popular pois qualquer um pode participar com o objetivo de<br />

defender a população de Rio Preto, e horizontal pois não há nenhum tipo de<br />

hierarquia e todas as decisões são tomadas em consenso.


O objetivo principal do movimento, no<br />

início, era impedir o chamado “Pacotão de<br />

Maldades”, expressão criada para designar as<br />

decisões duvidosas dos vereadores na época.<br />

Depois que o Vergonha Rio Preto alcançou o<br />

objetivo, o grupo continuou se organizando<br />

para cobrar os parlamentares e o prefeito sobre os<br />

diversos problemas da cidade, bem como os<br />

casos de corrupção não resolvidos. Atualmente o<br />

grupo se mantém ativo, participando das sessões<br />

da Câmara Municipal e lutando sempre pela ética<br />

na política de São José do Rio Preto.<br />

O movimento hoje<br />

De acordo com Wesley, ativista do grupo desde<br />

fevereiro de 2012, as preocupações do movimento<br />

atualmente são o andamento das CPIs abertas na<br />

Câmara, os pedidos do Ministério Público de cassação<br />

do prefeito Valdomiro Lopes, melhorias na saúde<br />

pública, mobilidade urbana e transporte coletivo de<br />

qualidade.<br />

Ao ser perguntado se o Vergonha Rio Preto estaria<br />

agindo como uma espécie de órgão fiscalizador da<br />

prefeitura, os integrantes entrevistados afirmaram<br />

que, na verdade, o movimento atua como um órgão<br />

“cobrador”. De acordo com Davi a palavra<br />

fiscalizador pressupõe um acompanhamento das<br />

contas públicas, como quem só está olhando. “O<br />

Vergonha Rio Preto atua, cobra posição, faz<br />

denúncias, enfrenta os vereadores, ocupa as sessões<br />

legislativas, tudo para que as decisões políticas sejam<br />

em favor do povo e não dos eleitos” afirma o ativista.<br />

Demonstrando uma unidade de ideias, Wesley Moraes<br />

explica que o movimento trabalha pela construção de<br />

uma política livre da corrupção. Ele conta que o<br />

Vergonha Rio Preto está sempre acompanhando os<br />

passos políticos tanto em nível legislativo como<br />

excecutivo. “Somos um grupo de acompanhamento<br />

politico então estamos sempre presentes nas sessões<br />

da Câmara e sempre atentos aos projetos<br />

apresentados, nossas reivindicações podem se alterar<br />

constantemente de acordo com o que é apresentado<br />

como projeto” declara Wesley.<br />

O papel das redes sociais<br />

Hoje em dia o principal meio de<br />

comunicação entre os membros do<br />

Vergonha Rio Preto é a Internet,<br />

mais especificamente o Facebook,<br />

onde existe o grupo que conta com<br />

mais de 9 mil membros. Davi afirma<br />

que o grupo está sempre ativo e de lá<br />

surgem várias ideias. Além disso, a<br />

rede social é utilizada para marcar<br />

encontros e convocar os integrantes<br />

para reuniões abertas que acontecem<br />

geralmente na Represa Municipal<br />

em dias acessíveis à maioria dos<br />

membros, como nos finais de<br />

semana.<br />

Paletó de madeira<br />

Não é novidade para ninguém que os<br />

protestos do Vergonha Rio Preto são<br />

caracterizados por manifestantes vestidos de<br />

preto, caixões e cruzes com o nome dos<br />

políticos, além de cartazes direcionados aos<br />

governantes da cidade. Mas o que para muitos<br />

pode ser considerado ofensivo, para os<br />

11<br />

ativistas do grupo tem outro significado.<br />

Wesley que existe um propósito no uso da<br />

simbologia fúnebre e pesada durante as<br />

manifestações. O ativista conta que caixões e<br />

cruzes simbolizam a morte da moral e da ética na<br />

política, assim, durante os protestos é feito um<br />

enterro simbólico dos políticos que estão matando<br />

esses valores.


Seria hora de parar?<br />

O movimento Vergonha Rio Preto está ativo há três anos, e os ativistas, ao serem perguntados se<br />

haverá um dia em que o movimento estará satisfeito, concordaram ao dizer que não. Não que não<br />

haja a esperança de que Rio Preto chegará a um patamar onde não serão necessários mais protestos,<br />

mas o grupo continurá ativo, cobrando uma postura ética dos governantes, e buscando sempre o<br />

bem comum da população rio-pretense.<br />

Davi faz questão de deixar claro que não se trata apenas de fazer oposição ao governo, até porque o<br />

movimento não está ligado a nenhum<br />

partido político, logo, a principal vitória<br />

do grupo é alcançar o máximo da<br />

população de Rio Preto, e impedir que<br />

os vereadores e prefeito abusem de seus<br />

cargos.<br />

Wesley finaliza dizendo que o<br />

movimento, como um grupo de<br />

acompanhamento político, estará<br />

sempre cobrando as autoridades e<br />

buscando o melhor para a população,<br />

conscientizando os cidadãos sobre o<br />

andamento da política rio-pretense.<br />

4º Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais<br />

conferencistas participantes terão vez e voz<br />

internacionais para relatar suas experiências<br />

participarão e participar dos debates. Após<br />

dos debates as desconferências, os grupos<br />

sobre mídia, voltam a se reunir para um<br />

p o d e r e debate sobre a mídia e as<br />

Nos dias 16, 17 e 18 de maio A m é r i c a eleições de 2014, seguido de<br />

e m S ã o P a u l o , s ã o Latina, seguido de um debate uma festa de confraternização.<br />

aguardados 500 ativistas s o b r e a l u t a p e l a No domingo, 18 de maio, os<br />

digitais de todo o país. A democratização da mídia no debates serão sobre a Carta de<br />

organização do encontro Brasil. São Paulo e ações do<br />

disponibilizará hospedagem No sábado, 17 de maio, a movimento de blogueir@s e<br />

para os 200 primeiros p r o p o s t a é r e t o m a r a ativistas digitais.<br />

inscritos de fora da capital experiência do primeiro As inscrições já estão abertas<br />

paulista e alimentação para os encontro nacional realizado n a p á g i n a<br />

500 participantes. em 2010 por meio das blogprog.com.br/inscricoes.<br />

12<br />

Na sexta-feira, 16 de maio, o desconferêncas. As atividades As taxas de inscrição são R$<br />

E n c o n t r o N a c i o n a l iniciam com um debate sobre 50 (cinquenta reais) para os<br />

promoverá um Seminário a juventude e a força das novas participantes em geral e R$ 20<br />

Internacional que se propõe a mídias e será seguido das (vinte reais) para estudantes,<br />

dar continuidade aos debates desconferências, em que serão sendo necessário o envio do<br />

do 1º Encontro Mundial de formados grupos de debates. comprovante de matrícula na<br />

Blogueiros realizado em Nesses grupos, o debate será instituição indicada para o<br />

outubro de 2011 em Foz do i n i c i a d o p o r a t i v i s t a s email<br />

I g u a ç u ( P R ) . S e t e convidados e todos os inscricoes@blogprog.com.br.

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