26.08.2014 Views

Sertão é mesmo lugar de cabra & ovelha

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Nº 168 - Julho - 2013<br />

<strong>Sertão</strong> <strong>é</strong> <strong>mesmo</strong> <strong>lugar</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong><br />

Diga NÃO à verminose<br />

Ceará vai a Israel para acabar com a Seca<br />

Dicas para confinamento<br />

Ovinos e Bem-Estar Animal<br />

Parto, momento <strong>de</strong>cisivo na vida do cor<strong>de</strong>iro<br />

Confinamento comunitário em SP<br />

Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> em MG<br />

Manejo <strong>de</strong> carneiros no acasalamento<br />

As crianças apren<strong>de</strong>m com as <strong>ovelha</strong>s<br />

Manejo nutricional em região semiárida<br />

Alternativa sustentável para <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong><br />

O bom exemplo do cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura<br />

O futuro passa pela<br />

Cabra & Ovelha


Editorial<br />

O futuro passa pela Cabra & Ovelha<br />

Analisando os últimos governos do<br />

Brasil percebe-se que todos foram financiados<br />

pelo Agronegócio, o setor que tem<br />

<strong>de</strong>ixado saldos que permitem investir no<br />

povo. Mesmo agora, com tantos problemas<br />

na economia mundial, a <strong>de</strong>saceleração<br />

chinesa, etc. as vendas do setor rural<br />

brasileiro continuam crescendo. Entre<br />

junho <strong>de</strong> 2012 e junho <strong>de</strong> 2013, passaram<br />

<strong>de</strong> US$ 100 bilhões pela primeira vez na<br />

História, com aumento <strong>de</strong> 4,2% sobre anterior.<br />

O saldo comercial foi <strong>de</strong> US$ 83,91<br />

bilhões a favor do Brasil. Esse dinheiro foi<br />

comido por outros setores, pois o saldo<br />

total foi <strong>de</strong> apenas US$ 9,35 bilhões.<br />

Basta ver o primeiro semestre <strong>de</strong> 2013:<br />

o setor rural teve superávit <strong>de</strong> US$ 41,3<br />

bilhões, enquanto o d<strong>é</strong>ficit comercial<br />

global foi <strong>de</strong> US$ 3,0 bilhões. Ou seja, os<br />

outros setores tiveram um d<strong>é</strong>ficit <strong>de</strong> US$<br />

44,3 bilhões.<br />

Apesar <strong>de</strong>sses números, os dois últimos<br />

governos (Lula e Dilma) têm tentado<br />

atrasar o setor rural, por meio <strong>de</strong> políticas<br />

equivocadas como: quilombolas, indígenas,<br />

terras para o MST, etc. É um incrível<br />

paradoxo num país com tantas terras<br />

disponíveis para fazer a riqueza <strong>de</strong> toda<br />

população.<br />

O avanço do setor rural vem sendo<br />

conquistado puramente pela intensa<br />

mo<strong>de</strong>rnização do campo, realizada pelos<br />

produtores. Novas t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> cultivo ou<br />

<strong>de</strong> criação, uso mais intenso <strong>de</strong> insumos,<br />

mecanização, introdução <strong>de</strong> novas varieda<strong>de</strong>s,<br />

novas formas <strong>de</strong> gestão, avanço<br />

para novas fronteiras mais produtivas<br />

vêm propiciando contínuo e rápido crescimento<br />

da produtivida<strong>de</strong> do campo.<br />

Armando Fornazier e Jos<strong>é</strong> Eustáquio<br />

Ribeiro Vieira Filho, publicaram<br />

uma pesquisa no Instituto <strong>de</strong> Pesquisa<br />

Econômica Aplicada, mostrando que<br />

o índice <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> agrícola do<br />

Brasil foi multiplicado por 3,7 (ou 370%)<br />

entre 1975 e 2010. Mais <strong>de</strong> 10% ao ano!<br />

É praticamente o dobro do observado<br />

nos Estados Unidos nesse período. A<br />

produtivida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ra o aumento do<br />

produto não explicado pelo aumento da<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insumos, mas por ganhos<br />

<strong>de</strong> eficiência, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

científico e tecnológico.<br />

O setor rural representa um processo<br />

O Berro - nº 168<br />

3


<strong>de</strong> ganho continuado e que persiste,<br />

como mostram as mais recentes projeções<br />

para a safra <strong>de</strong> grãos 2012/2013. De<br />

acordo com a Companhia Nacional <strong>de</strong><br />

Abastecimento (Conab), a produção<br />

nacional <strong>de</strong> grãos alcançará 185,05 milhões<br />

<strong>de</strong> toneladas - um novo recor<strong>de</strong>. O<br />

volume <strong>é</strong> 0,4% maior do que o estimado<br />

no levantamento anterior da Conab, feito<br />

em junho. Se confirmada essa projeção,<br />

a produção da safra 2012/2013 será<br />

11,4% maior do que a da safra anterior,<br />

<strong>de</strong> 166,17 milhões <strong>de</strong> toneladas.<br />

Tal produção será alcançada com uma<br />

área plantada <strong>de</strong> 53,23 milhões <strong>de</strong> hectares,<br />

4,6% maior do que a cultivada na<br />

safra anterior. Enorme ganho com pouca<br />

área adicionada. A produção crescerá a<br />

velocida<strong>de</strong>s mais altas do que a da expansão<br />

da área plantada, o que mostra a<br />

persistência dos ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />

do campo.<br />

Cabra & Ovelha - Se o sucesso no<br />

setor rural brasileiro vai muito bem, como<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito o cenário da caprino-<br />

-ovinocultura? Segundo os prognósticos<br />

da FAO, o crescimento <strong>de</strong>sse setor <strong>é</strong> muito<br />

importante para a alimentação mundial<br />

at<strong>é</strong> o ano 2050.<br />

At<strong>é</strong> o momento, tanto o Nor<strong>de</strong>ste<br />

(<strong>de</strong>slanados), como o Sul (lanados), o Su<strong>de</strong>ste<br />

e Centro-Oeste estão precisando <strong>de</strong><br />

uma consolidação da ativida<strong>de</strong>. O Brasil<br />

continua importando carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro,<br />

enquanto o setor não se organiza internamente.<br />

Ou seja, o País está jogando<br />

dinheiro fora, pois po<strong>de</strong>ria ter um dos<br />

maiores rebanhos do planeta, com <strong>de</strong>sfrute<br />

econômico semelhante ao da Austrália,<br />

Nova Zelândia e Estados Unidos.<br />

A gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política,<br />

pois - no Nor<strong>de</strong>ste - o melhoramento<br />

da caprino-ovinocultura passa pela mo<strong>de</strong>rnização<br />

do setor rural e isso não interessa<br />

à "Indústria da Seca" instalada <strong>de</strong>ntro dos<br />

Minist<strong>é</strong>rio e Governos. Pelo contrário, interessa<br />

manter os criadores <strong>de</strong> miúnças<br />

como "gente pobre". Negócio <strong>de</strong> gente<br />

pobre. As políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sviam-se, às claras, do<br />

<strong>Sertão</strong> semiárido, privilegiando a "Indústria<br />

da Seca" que tamb<strong>é</strong>m comanda o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento na Zona da Mata e no<br />

Litoral. A "Indústria da Seca" transfere os<br />

recursos governamentais do <strong>Sertão</strong> para<br />

as regiões que apresentam resposta rápida<br />

eleitoreira (gran<strong>de</strong>s centros urbanos<br />

nos litorais). O Governo faz <strong>de</strong> conta que<br />

não enxerga, pois - a rigor - está sempre<br />

atrelado ao esquema.<br />

Assim, lutar pela <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> manter<br />

erguida uma ban<strong>de</strong>ira que preten<strong>de</strong><br />

corrigir as fantásticas distorções que se<br />

abatem sobre milhões <strong>de</strong> pessoas que<br />

insistem em continuar produzindo nos<br />

Sertões.<br />

Os recursos que seriam da <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong><br />

acabam lubrificando as engrenagens<br />

da sórdida política que mant<strong>é</strong>m as pessoas<br />

algemadas a um esquema político <strong>de</strong><br />

maus tratos, <strong>de</strong> alta mortalida<strong>de</strong> infantil,<br />

baixa cultura, horizonte eternamente<br />

sombrio. Espera-se o surgimento <strong>de</strong> um<br />

"General" que, realmente, dê importância<br />

às pessoas e, principalmente, ao que elas<br />

produzem.<br />

A riqueza nor<strong>de</strong>stina e a riqueza dos<br />

pampas gaúchos passam necessariamente<br />

pelo crescimento sustentado da<br />

pecuária <strong>de</strong> pequenos ruminantes. Essa<br />

riqueza po<strong>de</strong> gerar acima <strong>de</strong> 10 milhões<br />

<strong>de</strong> empregos no setor rural: uma bênção<br />

num País que precisa crescer para melhor<br />

aten<strong>de</strong>r sua gente.<br />

4 O Berro - nº 168


O BERRO - nº 168 - Julho <strong>de</strong> 2013<br />

Editorial:<br />

O futuro passa pela<br />

Cabra & Ovelha..................... 3<br />

Conjuntura:<br />

<strong>Sertão</strong> <strong>é</strong> <strong>lugar</strong> <strong>de</strong> Cabra &<br />

Ovelha.................................... 8<br />

Ceará vai a Israel para acabar<br />

com a Seca..........................13<br />

Sucesso do Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong><br />

Fartura.................................42<br />

O Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura e o<br />

Confinamento...................... 50<br />

Sanida<strong>de</strong>:<br />

Diga NÃO à verminose.......10<br />

Produção:<br />

Dicas para instalação <strong>de</strong> um<br />

confinamento <strong>de</strong> ovino........24<br />

Nutrição:<br />

Manejo nutricional <strong>de</strong><br />

caprinos e ovinos em regiões<br />

semiáridas...........................76<br />

Manejo:<br />

Ovinos e o Bem<br />

Estar Animal.........................32<br />

Veterinária:<br />

Parto: momento <strong>de</strong>cisivo na<br />

vida do cor<strong>de</strong>iro...................36<br />

Mercado:<br />

Leite <strong>de</strong> Ovelha em MG......60<br />

Manejo:<br />

Alternativa sustentável para<br />

a caprino-ovinocultura do<br />

Semiárido.............................64<br />

Educação:<br />

As crianças apren<strong>de</strong>m com<br />

<strong>ovelha</strong>s.................................69<br />

Mosaico:<br />

Cabra: a primeira artista <strong>de</strong><br />

cinema do mundo................74<br />

Boa leitura:<br />

A divisão da alma<br />

dos mortos...........................81<br />

... e Mais<br />

Austrália ven<strong>de</strong> mais<br />

cor<strong>de</strong>iros...............................21<br />

Goiás apenas engatinha com<br />

cor<strong>de</strong>iros...............................21<br />

Texel julgará Melhor Progênie<br />

na Expointer..........................30<br />

Brasil duplica compras <strong>de</strong><br />

carne ovina no Uruguai........40<br />

Alto Camaquã vai entregar<br />

cor<strong>de</strong>iro e cabrito..................48<br />

Dorper tem programa <strong>de</strong><br />

certificação............................48<br />

Culinária: Feijoada light <strong>de</strong><br />

bo<strong>de</strong> - Rabada <strong>de</strong> carneiro..80<br />

BAHIA<br />

Barbeirinho............................. 71<br />

Bule-Bule................................ 55<br />

ExpoRURAL........................... 63<br />

Expo Santa Inês....................... 2<br />

CEARÁ<br />

Capril SAID............................. 71<br />

ESPÍRITO SANTO<br />

GranExpoES........................... 27<br />

Leilão Terras <strong>de</strong> Guará........... 84<br />

MARANHÃO<br />

Fábio Braga............................ 11<br />

MINAS GERAIS<br />

Livros Editora ZEBU: A Pecuária<br />

Sustentável ............................ 25<br />

MATO GROSSO<br />

Ovinos Araguaia..................... 71<br />

PATROCINADORES<br />

PARAÍBA<br />

Diassis Xavier......................... 56<br />

Tonho Vaqueiro....................... 71<br />

PERNAMBUCO<br />

Agrosom................................. 55<br />

Cacimbinha do Rafa............... 56<br />

Capril do Junco....................... 71<br />

Caroatá Gen<strong>é</strong>tica..............22-23<br />

Clovis Guimaraes Filho.......... 55<br />

Faz Alto do Cruzeiro............... 17<br />

JMB Assess Pecuária............ 55<br />

Zito Som.................................. 71<br />

PARANÁ<br />

ITC do Brasil........................... 41<br />

Makroquímica......................... 67<br />

RIO GRANDE DO NORTE<br />

JMA Assess<br />

Comunicações........................ 71<br />

RIO GRANDE DO SUL<br />

Associação do<br />

Ille-<strong>de</strong>-France............................. 35<br />

Brastexel................................. 49<br />

Cabanha Cocão..................... 49<br />

Cabanha Cordilheira.............. 49<br />

Cabanha Santa<br />

Cecília..................................... 31<br />

Cabanha São<br />

Francisco................................ 41<br />

Ren<strong>é</strong> Dal Piaz......................... 31<br />

SÃO PAULO<br />

Cabrestos Herts...................... 55<br />

Casa do Tosador.................... 67<br />

Chacara Vale Ver<strong>de</strong>............... 55<br />

Chico Borborema................... 55<br />

Elan Tra<strong>de</strong>.............................. 49<br />

Fausto D´Angieri..................... 55<br />

Vetnil ...................................... 83<br />

M M M M M M<br />

O Berro - nº 168<br />

5


Cartas<br />

Esta seção <strong>é</strong> aberta para todos os leitores<br />

Feinco na Feicorte - Li que<br />

nos próximos 10 anos o Brasil<br />

vai ganhar muito dinheiro se<br />

investir na caprino-ovinocultura<br />

(Berro-167, p. 14). Gozado<br />

<strong>é</strong> que esses "10 anos" estão<br />

durando um bocado <strong>de</strong> tempo,<br />

pois já se falava isso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1980. Passaram-se<br />

vários "10 anos" e a produção<br />

<strong>de</strong> carne continua engatinhando,<br />

sem um horizonte tranquilo.<br />

Sempre entram novos empresários<br />

e saem outros. Quando<br />

<strong>é</strong> que os "10 anos" serão "10<br />

anos", <strong>mesmo</strong>? - Adalfredo P.<br />

Andreotti, São Paulo (SP).<br />

Cartão Famacha - Gostei<br />

muito da sincerida<strong>de</strong> do início<br />

da mat<strong>é</strong>ria "Famacha i<strong>de</strong>ntifica<br />

o grau <strong>de</strong> anemia" (Berro-167,<br />

pág. 18) ao afirmar: "Não há<br />

fórmula pronta para o controle<br />

do Haemonchus contortus".<br />

Confesso que o cartão Famacha<br />

faz muito mais que certos<br />

medicamentos que acabam<br />

complicando o quadro geral<br />

sanitário da fazenda. - Lucas<br />

S. Robert, Curitiba (PR).<br />

Plantas contra vermes<br />

- A mat<strong>é</strong>ria da página 25 (Berro-167)<br />

tratando <strong>de</strong> certas<br />

plantas que po<strong>de</strong>m combater<br />

os vermes não <strong>é</strong> novida<strong>de</strong>.<br />

Nos tempos <strong>de</strong> minha avó já<br />

se tratava o verme com banana<br />

ver<strong>de</strong>. Minha avó fazia doce<br />

<strong>de</strong> tronco <strong>de</strong> bananeira contra<br />

os vermes. Achei muito bom<br />

ver que minha avó sabia das<br />

coisas. Hoje, existem muitos<br />

nomes difíceis, mas a sabedoria<br />

da avó ainda era melhor.<br />

Outras plantas cuidam dos<br />

vermes. O negócio <strong>é</strong> fazer com<br />

que os produtor <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s<br />

plante essas ervas e plantas<br />

na fazenda. - Michel O. Pontes<br />

Chaim (Campo Gran<strong>de</strong>, MS).<br />

Estrat<strong>é</strong>gia simples - O<br />

t<strong>é</strong>cnico Ta<strong>de</strong>u Vinhas Voltolini<br />

finalizou sua reportagem muito<br />

bem: "Mesmo em um período<br />

<strong>de</strong> seca, t<strong>é</strong>cnicas simples<br />

fazem gran<strong>de</strong> diferença em<br />

um sistema <strong>de</strong> produção". De<br />

fato, os sertões nor<strong>de</strong>stinos<br />

precisam <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas simples,<br />

pois a fragilida<strong>de</strong> climática<br />

não permite tecnologias complicadas.<br />

O sertanejo escapa<br />

se tiver alimentos: essa <strong>é</strong> a<br />

verda<strong>de</strong>. Se sofre com a seca<br />

<strong>é</strong> porque não tem alimentos<br />

para os bichos que, por sua<br />

vez, seriam alimentos para<br />

os humanos. Então, tudo se<br />

resume em ter alimentos estocados<br />

para enfrentar os maus<br />

momentos. Nada <strong>de</strong> esperar<br />

governos. Outros países têm<br />

secas e já resolveram o problema.<br />

- Onório S. Marques,<br />

Recife (PE).<br />

Ovelha gaúcha - Na página<br />

39 (Berro-167) está um histórico<br />

da ovinocultura gaúcha,<br />

mas <strong>de</strong> novo não diz nada<br />

sobre a <strong>ovelha</strong> do Brasil Colônia.<br />

Que a <strong>ovelha</strong> começou<br />

por lá todo mundo sabe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

os tempos dos jesuítas que<br />

foram expulsos e não levaram<br />

os animais. Ningu<strong>é</strong>m afirmou,<br />

por<strong>é</strong>m, que <strong>ovelha</strong>s eram essas.<br />

Se as <strong>ovelha</strong>s vestiam e<br />

alimentavam as pessoas, quais<br />

eram? Deviam ser preciosas.<br />

O texto parece afirmar que os<br />

animais eram das raças Merino<br />

Australiano e I<strong>de</strong>al, mas isso <strong>é</strong><br />

um equívoco, pois tais raças<br />

eram incógnitas na ocasião.<br />

A carne servia apenas para<br />

alimentar os peões. Será que<br />

existe algum escritor gaúcho<br />

interessado nessa História?<br />

Acho que valeria a pena, pois<br />

eram milhões <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s. - Joachim<br />

Silv<strong>é</strong>rio Ba<strong>de</strong>r, Florianópolis<br />

(SC).<br />

Ovelha gaúcha - A reportagem<br />

no Berro-167 diz<br />

que o rebanho gaúcho quase<br />

<strong>de</strong>sapareceu na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong><br />

1980, mas não <strong>de</strong>sapareceu,<br />

tendo se expandido para outras<br />

regiões, principalmente<br />

o Nor<strong>de</strong>ste. Acho isso muito<br />

pretensioso. A <strong>ovelha</strong> nor<strong>de</strong>stina<br />

tem quase nada a ver com<br />

a <strong>ovelha</strong> gaúcha. Nada que<br />

acontece no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul tem a ver, ou vai influenciar,<br />

a criação nor<strong>de</strong>stina. E<br />

vice-versa. Não foi a queda do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul que fomentou<br />

a ovinocultura em outras<br />

regiões. O problema gaúcho<br />

<strong>é</strong> um problema gaúcho, só<br />

<strong>de</strong>les e tem que ser resolvido<br />

por lá, aumentando <strong>de</strong> novo<br />

os rebanhos e melhorando a<br />

produtivida<strong>de</strong>. Ningu<strong>é</strong>m po<strong>de</strong><br />

ajudar a <strong>ovelha</strong> gaúcha, assim<br />

como não po<strong>de</strong> ajudar a <strong>ovelha</strong><br />

nor<strong>de</strong>stina: são realida<strong>de</strong>s diferenciadas.<br />

Cada uma tem sua<br />

História própria. A do Nor<strong>de</strong>ste<br />

consegue ser contada <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1562, quando os holan<strong>de</strong>ses<br />

fugiram levando miunças para<br />

as Ilhas da Am<strong>é</strong>rica Central e lá<br />

cultivaram raças que tamb<strong>é</strong>m<br />

estão presentes nos sertões.<br />

6 O Berro - nº 168


Uma longa história. - Am<strong>é</strong>lio<br />

Blasco, Passo Fundo (RS).<br />

Acre aposta em <strong>ovelha</strong>s -<br />

Mostrar que as <strong>ovelha</strong>s po<strong>de</strong>m<br />

levar felicida<strong>de</strong> aos proprietários<br />

<strong>de</strong> terra em regiões longínquas<br />

<strong>é</strong> muito bom (Berro-167,<br />

pág. 54). Claro que sempre<br />

haverá o "time do não", que<br />

irá acusar qualquer forma <strong>de</strong><br />

progresso. São pessoas (geralmente<br />

políticos) que vivem<br />

da ignorância do povo urbano.<br />

O Acre está <strong>de</strong> parab<strong>é</strong>ns ao<br />

apostar nas <strong>ovelha</strong>s. Vários<br />

outros estados po<strong>de</strong>riam fazer<br />

o <strong>mesmo</strong>. - Elizeu Miguel Barbieri,<br />

Rio Branco (AC).<br />

Pontos básicos para criação<br />

- Sou zootecnista e produtor<br />

rural em proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha<br />

família. Sempre estu<strong>de</strong>i fórmulas<br />

complicadas e encontrei em<br />

várias revistas Berro (edição<br />

167, pág. 58) que a fórmula po<strong>de</strong><br />

ser simplificada para "Região<br />

+ Situação". Achei uma levianda<strong>de</strong>,<br />

pretensão do escritor.<br />

Mas, <strong>de</strong>pois, comecei a meditar<br />

sobre a realida<strong>de</strong> que vivo na<br />

proprieda<strong>de</strong> e, <strong>de</strong> fato, tudo que<br />

acontece po<strong>de</strong> estar relacionado<br />

<strong>de</strong> alguma maneira a essa diferente<br />

equação (Região + Situação).<br />

At<strong>é</strong> os animais po<strong>de</strong>m ser<br />

enquadrados, biologicamente, a<br />

essa equação. Foi uma luz que<br />

brilhou. Hoje, sei enfrentar os<br />

problemas: basta ver se estão<br />

<strong>de</strong> acordo com a região, ou<br />

com a situação. - Milton Moreira<br />

Legrant, São Paulo (SP).<br />

Do Oba-oba at<strong>é</strong> o Upa-<br />

-upa - Achei muito oportuna a<br />

mat<strong>é</strong>ria <strong>de</strong> Rinaldo dos Santos:<br />

"Depois do oba-oba, do Opa-<br />

-opa e do Epa-epa, chegou a<br />

hora do Upa-upa" (Berro 167,<br />

pág. 61). Claro que <strong>é</strong> um belo<br />

texto, principalmente para quem<br />

não conhece a revista O Berro,<br />

<strong>de</strong> longa data. Para mim está<br />

muito claro que a revista Berro<br />

<strong>é</strong> culpada em todas as fases,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Oba-oba at<strong>é</strong> chegar<br />

ao Upa-upa. Foi a revista que<br />

insuflou milhares <strong>de</strong> novos empresários,<br />

novas exposições,<br />

importação <strong>de</strong> raças, criação <strong>de</strong><br />

modas, bajulando milionários,<br />

etc. Foi a revista que mostrou<br />

a caprino-ovinocultura como<br />

coisa <strong>de</strong> rico, sem ser. Hoje, a<br />

ativida<strong>de</strong> retroagiu aos tempos<br />

<strong>de</strong> antigamente e a revista diz<br />

que <strong>é</strong> o começo <strong>de</strong> novo "Upa-<br />

-upa", esclarecendo que haverá<br />

um crescimento. Será? Ou será<br />

um oba-oba para novos milionários?<br />

- Mário M. Meirelles,<br />

Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte (SP).<br />

O Berro - A revista tenta cumprir<br />

sua função que <strong>é</strong> estimular<br />

antigos e atuais proprietários.<br />

A revista já publicou milhares<br />

<strong>de</strong> textos e at<strong>é</strong> lançou a TV do<br />

Berro. A crise norte-americana,<br />

a crise gaúcha e, agora, a crise<br />

da Seca no Nor<strong>de</strong>ste, obrigam<br />

a uma reflexão. Milhões <strong>de</strong> animais<br />

<strong>de</strong>sapareceram, o culto<br />

ao campeão tamb<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> hora do<br />

Upa-upa em direção a um gran<strong>de</strong><br />

futuro que ainda não chegou. O<br />

Brasil, por<strong>é</strong>m, já <strong>de</strong>u um salto<br />

na caprino-ovinocultura que <strong>é</strong><br />

conhecida <strong>de</strong> norte a sul do país.<br />

Milhares <strong>de</strong> leitores acompanham<br />

a revista que flutua ao sabor <strong>de</strong><br />

nossa brasilida<strong>de</strong>, brasileirismos,<br />

etc. Faz parte do cenário e da<br />

evolução.<br />

O Berro Nº 168 - Julho - 2013<br />

Fundador - Rinaldo dos Santos - em 1978 (Jornal do Berro) e 1980 (O Berro).<br />

Registro INPI: 826717730 - ISSN - 0103-3344 -<br />

PABX: (34) 3312-9788 - Site: www.revistaberro.com.br<br />

Uma publicação<br />

GMBC - GRUPO DE MÍDIA BRASIL CENTRAL<br />

Direção Geral: Eduardo Jos<strong>é</strong> Lacerda do Nascimento - Direção Comercial: Fernando Martini Coor<strong>de</strong>nação<br />

Financeira: Bruno Rebello<br />

vendas.editora@gmbc.com.br – Coor<strong>de</strong>nação Editorial: Rinaldo dos Santos - zebus@zebus.com.br<br />

Revisor para assuntos t<strong>é</strong>cnicos: Paulo Roberto <strong>de</strong> Miranda Leite<br />

Atendimento ao Leitor - Polyelle <strong>de</strong> Souza Gue<strong>de</strong>s Atendimento comercial: Keyse Dayane Linhares<br />

Telemarketing: (34) 3239-5825 - e-mail: comercial@zebus.com.br - Assinaturas: sac@zebus.com.br<br />

Assinatura via site, www.revistaberro.com.br<br />

Arte e Diagramação - Osvaldo Guimarães<br />

Artigos assinados nem sempre traduzem a orientação da publicação. Autorizamos e sugerimos a publicação <strong>de</strong><br />

qualquer parte, agra<strong>de</strong>cendo a citação da fonte: “revista O Berro”.<br />

Escritório: Av Fernando Vilela, 245 - Martins - Uberlândia - MG - CEP: 38400-456 -- CNPJ: 10.301.288/0001-98<br />

Fotolitos: Registro Fotolito Digital: (34) 3239-5800 (Uberlândia, MG)<br />

Impressão: Gráfica Brasil: (34) 3239-5800 (Uberlândia, MG).<br />

O Berro - nº 168<br />

7


Conjuntura<br />

<strong>Sertão</strong> <strong>é</strong> <strong>lugar</strong> <strong>de</strong> Cabra & Ovelha<br />

Marcelo Abdon<br />

Uma simples visão sobre a região em seu pior momento <strong>de</strong> Seca mostra<br />

que o sucesso está diretamente relacionado à criação <strong>de</strong> <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s.<br />

Caprinos são muito rústicos diante da Seca.<br />

A imprensa foi clara: essa <strong>é</strong> a pior seca<br />

dos últimos 40 anos. Por enquanto só fica<br />

atrás da Gran<strong>de</strong> Seca ("a maldição dos<br />

100 anos") que atingiu o Semiárido <strong>de</strong><br />

1979 a 1983.<br />

Os <strong>de</strong>sastres estão anotados na imprensa:<br />

extinção <strong>de</strong> 50%, 60%, 80% dos<br />

rebanhos - em certas <strong>é</strong>pocas. Mortalida<strong>de</strong><br />

incrível <strong>de</strong> pessoas, no passado. Hoje,<br />

com maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento,<br />

as pessoas fogem. Mesmo os que ficam<br />

sofrem muito com a <strong>de</strong>generação da<br />

qualida<strong>de</strong> da água. Ao ser reduzida nos<br />

açu<strong>de</strong>s, avolumam-se os vermes e as<br />

crianças, velhos e animais morrem. Antigamente,<br />

as carcaças ficavam na beira<br />

das veredas, ou ao redor dos açu<strong>de</strong>s;<br />

hoje as pessoas morrem nos hospitais e<br />

o motivo po<strong>de</strong> ficar camuflado. "É proibido<br />

dizer que uma pessoa morreu <strong>de</strong>vido à<br />

Seca".<br />

No início <strong>de</strong>ssa terrível Seca, o rebanho<br />

bovino do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte era <strong>de</strong><br />

aproximadamente 1,0 milhão <strong>de</strong> cabeças.<br />

At<strong>é</strong> o dia 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, restava pouco<br />

mais <strong>de</strong> 20% do rebanho bovino no Estado.<br />

Morreram 80% dos animais.<br />

Teimosia - Não <strong>é</strong> possível que o<br />

produtor rural, que tem suas terras localizadas<br />

no Semiárido nor<strong>de</strong>stino, não<br />

aprenda que essa região não <strong>é</strong> i<strong>de</strong>al para<br />

a criação <strong>de</strong> bovinos. Afinal, bovinos são<br />

animais que necessitam <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volumoso e uma gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água. Para se dar uma<br />

i<strong>de</strong>ia, basta lembrar que uma vaca adulta<br />

bebe mais <strong>de</strong> 100 litros <strong>de</strong> água por dia.<br />

Que água?<br />

Mesmo em ano <strong>de</strong> inverno normal,<br />

o que <strong>é</strong> coisa rara, as vacas consomem<br />

muito mais do que a região po<strong>de</strong> oferecer.<br />

De cada 10 anos, um <strong>é</strong> ótimo; 2 são bons;<br />

3 são fracos; 4 são horríveis. É necessário,<br />

portanto, viver em um sistema que<br />

permita aproveitar a<strong>de</strong>quadamente os<br />

recursos naturais.<br />

O Sertanejo, antes <strong>de</strong> tudo <strong>é</strong> um forte<br />

... e teimoso. Não aquela teimosia "burra",<br />

mas a teimosia dos que querem continuar<br />

enfrentando a vida, com as ferramentas<br />

que têm nas mãos. Sertanejo não foge<br />

à luta. Se ele tivesse as ferramentas<br />

<strong>de</strong> convivência com a Seca, o Nor<strong>de</strong>ste<br />

seria uma região próspera, feliz, gerando<br />

8 O Berro - nº 168


A criação <strong>de</strong> caprinos torna o<br />

<strong>Sertão</strong> muito alegre.<br />

milhões <strong>de</strong> empregos. Isso, por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong><br />

questão <strong>de</strong> política e não <strong>de</strong> ecologia.<br />

Região boa - A região do Semiárido<br />

<strong>é</strong> i<strong>de</strong>al para a criação <strong>de</strong> animais <strong>de</strong><br />

pequeno porte, principalmente caprinos,<br />

que suportam todas as adversida<strong>de</strong>s do<br />

clima seco.<br />

É muito fácil conferir: at<strong>é</strong> o momento,<br />

ningu<strong>é</strong>m ouviu falar <strong>de</strong> uma <strong>cabra</strong> ou<br />

um bo<strong>de</strong> que tenha morrido <strong>de</strong> fome ou<br />

<strong>de</strong> se<strong>de</strong> nesta ou qualquer outra seca. A<br />

<strong>cabra</strong>, ou bo<strong>de</strong>, só cai para morrer, quando<br />

todas as vacas e bois já sumiram na<br />

poeira das caatingas. Antes da <strong>de</strong>solação<br />

completa, restarão <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s no<br />

Semiárido.<br />

Os rebanhos somem, claro, porque<br />

as pessoas - sem outra chance - acabam<br />

consumindo suas miunças, ou ven<strong>de</strong>ndo,<br />

Com tecnologia básica, po<strong>de</strong>-se ter<br />

animais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor.<br />

ou levando consigo enquanto fogem em<br />

busca do ver<strong>de</strong>.<br />

A região Semiárida <strong>é</strong> muito boa: ruim<br />

são as políticas escolhidas para ela.<br />

Antes, na <strong>é</strong>poca das políticas fracas e<br />

magras, era comum ver as Frentes <strong>de</strong><br />

Emergência realizando serviços públicos<br />

e <strong>de</strong>ntro das proprieda<strong>de</strong>s. Era uma<br />

maneira <strong>de</strong> "preparar a região" para as<br />

próximas Secas. Agora, tudo piorou: o Governo<br />

distribui "bolsas" e nada <strong>de</strong> emprego<br />

e serviço. Nada <strong>de</strong> preparar a região<br />

para as futuras Secas. O produtor rural,<br />

o que gera empregos e riquezas, fica<br />

abandonado, pois não preten<strong>de</strong> contrair<br />

dívidas. As medidas políticas, portanto,<br />

são favoráveis às famílias <strong>de</strong> povoados<br />

e cida<strong>de</strong>s, mas não às famílias que possuem<br />

proprieda<strong>de</strong>s e que geram riqueza<br />

e emprego nos tempos bons. Miopia que<br />

se repetem há d<strong>é</strong>cadas.<br />

Conclusão - O pecuarista precisa<br />

repensar sua criação daqui por diante,<br />

uma vez que 95% do território do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Norte está localizado no Semiárido<br />

nor<strong>de</strong>stino, on<strong>de</strong> a Seca não admite<br />

conversa-fiada: ela mata os rebanhos <strong>de</strong><br />

animais ina<strong>de</strong>quados. Para tirar proveito<br />

do clima, o produtor rural precisa ter uma<br />

infraestrutura que suporte, no mínimo,<br />

dois anos <strong>de</strong> Seca e que tenha animais<br />

específicos: <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s. Principalmente<br />

<strong>cabra</strong>s.<br />

Todos os anos, as crias levam riqueza<br />

para a proprieda<strong>de</strong>.<br />

Marcelo Abdon, pecuarista e<br />

jornalista - Título original: "No<br />

Semiárido Nor<strong>de</strong>stino não <strong>é</strong> para<br />

se criar bovinos".<br />

O Berro - nº 168<br />

9


Sanida<strong>de</strong><br />

Diga NÃO à verminose !<br />

Quando houver notícias <strong>de</strong> chuvas <strong>é</strong> bom estar prevenido contra os vermes,<br />

pois eles são diretamente relacionados à umida<strong>de</strong>. Bom produtor <strong>de</strong><br />

ovinos lucrativos não po<strong>de</strong> dar moleza para os vermes.<br />

A verminose <strong>é</strong> a principal doença que<br />

afeta a ovinocultura do país. É responsável<br />

pela baixa produtivida<strong>de</strong> do rebanho<br />

ovino. Provoca muitos prejuízos<br />

econômicos aos produtores. Por que<br />

não <strong>é</strong> combatida? Ela <strong>é</strong> combatida, mas<br />

<strong>de</strong>vido a erros <strong>de</strong> manejo, subnutrição<br />

e pela falta <strong>de</strong> monitoramento atrav<strong>é</strong>s<br />

<strong>de</strong> exames parasitários (OPG), acaba<br />

sendo um inimigo sempre presente.<br />

Quais são as principais parasitoses<br />

do rebanho ovino?<br />

Segundo Vieira (2003) são:<br />

- no abomaso - a hemoncose (Haemonchus<br />

contortus) e a trichostrongilose<br />

(Trichostrongylus axei);<br />

- no intestino <strong>de</strong>lgado - Trichostrongylus<br />

colubriformis, Strongyloi<strong>de</strong>s<br />

papillosus, Cooperia punctata, Cooperia<br />

pectinata e Bunostomum trigonocephalum<br />

- no intestino grosso - Oesophagostomum<br />

colubianum, Trichuris ovis,<br />

Trichuris globulosa e Skrjabinema sp.<br />

Animal sofrendo com verminose aguda.<br />

Quando os vermes atacam ?<br />

Os gran<strong>de</strong>s surtos da hemoncose<br />

acontecem nos meses da primavera,<br />

verão e outono conforme as chuvas.<br />

Quanto mais umida<strong>de</strong>, maior chance<br />

<strong>de</strong> ataques por vermes.<br />

On<strong>de</strong> estão os vermes ?<br />

Segundo Bowman et al. (2003)) vale<br />

ressaltar que menos <strong>de</strong> 5% dos vermes<br />

estão no interior do animal.<br />

O resto, ou seja, 95% dos vermes<br />

encontram-se no ambiente na forma <strong>de</strong><br />

ovos e larvas.<br />

E<strong>de</strong>ma submandibular: sinal <strong>de</strong> crise.<br />

10 O Berro - nº 168


A coleta <strong>de</strong> fezes para exame<br />

<strong>de</strong> OPG <strong>é</strong> importante<br />

Como saber se o animal<br />

está infectado?<br />

As principais manifestações <strong>de</strong>ssas<br />

parasitoses são:<br />

- Perda <strong>de</strong> peso e apetite;<br />

- Diarreia;<br />

- Anemia e papeira;<br />

- Desidratação;<br />

- Morte.<br />

Como evitar a infestação <strong>de</strong> vermes?<br />

Para lidar corretamente com possível<br />

infestação <strong>de</strong> vermes, <strong>é</strong> preciso ter uma<br />

programa <strong>de</strong> manejo. Sempre fazer exames<br />

e estar observando os animais.<br />

O que <strong>é</strong> OPG ?<br />

OPG significa “ovos por grama” <strong>de</strong><br />

fezes expelidas pelo animal. É o resultado<br />

do exame das fezes. Precisa ser feito<br />

periodicamente.<br />

Basta coletar as fezes <strong>de</strong> 10% dos<br />

Pesagem individual para controle do rebanho.<br />

animais <strong>de</strong> cada lote (<strong>ovelha</strong>s adultas,<br />

borregas, cor<strong>de</strong>iros, etc.), <strong>mesmo</strong> parecendo<br />

muito saudáveis. Po<strong>de</strong> ser ao<br />

acaso, mas se houver algum animal <strong>de</strong><br />

pior aparência, conv<strong>é</strong>m sempre incluí-lo.<br />

Como <strong>é</strong> feita a coleta <strong>de</strong> fezes? Usar<br />

luvas e recolher as fezes diretamente do<br />

reto <strong>de</strong> cada animal. Embalar as fezes <strong>de</strong><br />

cada animal, individualmente. Separar os<br />

“pacotes” <strong>de</strong> acordo com as categorias<br />

(<strong>ovelha</strong>s adultas, borregas, cor<strong>de</strong>iros,<br />

etc.). Resfriar os pacotes e enviar para<br />

o laboratório.<br />

O exame precisa ser realizado novamente<br />

7 dias após a aplicação do<br />

vermífugo.<br />

Como aplicar o vermífugo ?<br />

- Pesar, individualmente, os animais<br />

para evitar a subdosagem ou a hiperdosagem<br />

na aplicação do vermífugo, a<br />

fim <strong>de</strong> evitar a resistência parasitária aos<br />

anti-helmínticos (RPAH).<br />

- Verificar a precisão da dosagem na<br />

pistola dosificadora.<br />

- Praticar jejum pr<strong>é</strong>-dosagem, a fim<br />

<strong>de</strong> maximizar o uso do anti-helmíntico.<br />

Manter o rebanho preso, logo após a<br />

dosagem, para os animais <strong>de</strong>fecarem as<br />

fezes contaminadas na mangueira e não<br />

introduzi-las novamente em sua pastagem<br />

e/ou campo nativo.<br />

- Prestar atenção aos princípios ativos<br />

dos vermífugos e não aos nomes<br />

comerciais.<br />

- Verificar as instruções <strong>de</strong> uso, indicações,<br />

vias <strong>de</strong> aplicação, período <strong>de</strong><br />

carência e a valida<strong>de</strong> do produto.<br />

- Evitar o uso <strong>de</strong> coquet<strong>é</strong>is <strong>de</strong> vermífugos.<br />

Se achar que <strong>é</strong> necessário, então<br />

conv<strong>é</strong>m chamar um veterinário competente<br />

que conheça o rebanho e a região.<br />

- Assegurar que o animal tomou toda<br />

a dose.<br />

- Realizar todo o processo com o mínimo<br />

possível <strong>de</strong> estresse. Ou seja, evitar<br />

o uso <strong>de</strong> gritos, <strong>de</strong> latidos <strong>de</strong> cachorros,<br />

<strong>de</strong> música estri<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> sons estranhos<br />

(motocicletas, pica<strong>de</strong>iras, etc.).<br />

12 O Berro - nº 168


Conjuntura<br />

Ceará vai a Israel para<br />

acabar com a Seca<br />

O calor está brabo, no Ceará, e começam as miragens, alucinações,<br />

<strong>de</strong>scarrilamento cerebral, sem ouvir a voz <strong>de</strong> quem realmente<br />

estuda e enten<strong>de</strong>. Aqui estão a notícia, os comentários populares<br />

e a voz do especialista Patrocínio Tomaz.<br />

Gotejamento em Israel.<br />

(foto: Santeno.com)<br />

É incrível, mas a reportagem está<br />

publicada no jornal "A Folha <strong>de</strong> São<br />

Paulo" (14.julho.2013). Dessa vez o<br />

Governo do Ceará preten<strong>de</strong> mostrar que<br />

vai dar certo: está fechando <strong>de</strong>talhes<br />

para implantar uma Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo<br />

seguindo as "regras utilizadas em Israel".<br />

O objetivo <strong>é</strong> transferir tecnologias<br />

<strong>de</strong>ssa proprieda<strong>de</strong> para os produtores<br />

rurais interessados. Chama isso <strong>de</strong><br />

"novida<strong>de</strong>".<br />

A intentona vai mais longe: Bahia e<br />

Ceará tamb<strong>é</strong>m estudam o uso <strong>de</strong> tecnologias<br />

israelenses para tratamento <strong>de</strong><br />

água, como estações móveis. No caso<br />

O Berro - nº 168<br />

do Ceará, a iniciativa ainda esbarra na<br />

liberação <strong>de</strong> recursos fe<strong>de</strong>rais. Claro!<br />

As explicações do Ceará são muitas:<br />

"Lá, em Israel, chove muito menos do<br />

que no Semiárido brasileiro, e a t<strong>é</strong>cnica<br />

<strong>de</strong> irrigação por gotejamento foi a solução"<br />

- diz Sheila Sztutman, consultora<br />

econômica <strong>de</strong> Israel no Brasil. De fato,<br />

há <strong>lugar</strong>es em Israel on<strong>de</strong> chove menos<br />

<strong>de</strong> 100 mm por ano, enquanto no Semiárido<br />

brasileiro as chuvas vão <strong>de</strong> 200<br />

a 800 mm/ano. Há, por<strong>é</strong>m, no <strong>Sertão</strong>,<br />

<strong>lugar</strong>es on<strong>de</strong> chove os <strong>mesmo</strong>s 100<br />

mm <strong>de</strong> Israel. O problema não está, por<br />

isso, somente nas chuvas. Há regiões<br />

13


Irrigação <strong>é</strong> importante. (foto: Santeno.com)<br />

no Nor<strong>de</strong>ste on<strong>de</strong> chove at<strong>é</strong> <strong>de</strong>mais. em todas as Exposições promovidas pelos<br />

Governos. Estufa enche os olhos e,<br />

Os "turistas nor<strong>de</strong>stinos" preten<strong>de</strong>m<br />

trazer tecnologia <strong>de</strong> gotejamento! No então, <strong>é</strong> preciso importar <strong>de</strong> bem longe!<br />

Brasil, há muito tempo, sem ningu<strong>é</strong>m Uma coisa parece estar correta: a<br />

ensinar, um camponês resolveu furar os equipe <strong>de</strong> brasileiros vai verificar a<br />

canos plásticos <strong>de</strong> irrigação, para liberar gestão das águas, pois lá - em Israel -<br />

apenas gotas do precioso líquido nas não se admite jogar uma gota <strong>de</strong> água<br />

plantas. Estava <strong>de</strong>scobrindo o m<strong>é</strong>todo no lixo. "Enquanto no Brasil há Estados<br />

<strong>de</strong> "irrigação Xixi-xique", linguajar matuto,<br />

mas explícito. Depois, o m<strong>é</strong>todo foi em Israel, quando esse índice chega a<br />

com 25% <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> água no sistema,<br />

aperfeiçoado por t<strong>é</strong>cnicos e, hoje, está 2%, aciona-se um alarme para correção",<br />

disse Sztutman. Água <strong>é</strong> negócio<br />

presente em milhares <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s,<br />

com formidável sucesso. Uma das muitas<br />

vantagens <strong>é</strong> que a água <strong>de</strong> irrigação Enfim, o Ceará <strong>de</strong>scobriu - <strong>de</strong> novo, -<br />

s<strong>é</strong>rio em Israel.<br />

já carrega os fertilizantes que chegam que o jeito <strong>é</strong> "tentar molhar o Sequeiro",<br />

somente às raízes das plantas, reduzindo<br />

os <strong>de</strong>sperdícios. Agora, vão comprar ten<strong>de</strong> resolver a questão da água e não<br />

levar água para on<strong>de</strong> não <strong>de</strong>via. Pre-<br />

a mesma coisa, com rótulo <strong>de</strong> Israel. a questão do sequeiro! Água dá mais<br />

Foi assim que o Ceará tamb<strong>é</strong>m importou<br />

sementes <strong>de</strong> Estilosantes da Austrá-<br />

a questão do Sequeiro, os sertanejos<br />

visibilida<strong>de</strong>, dá mais votos! Se resolver<br />

lia, <strong>de</strong>pois que elas foram levadas do ficarão ricos, estudarão, <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> ser<br />

Nor<strong>de</strong>ste para lá. Foi buscar na Austrália um curral eleitoral.<br />

o que nasce naturalmente no <strong>Sertão</strong>! Muito interessante <strong>é</strong> constatar que<br />

Dizem que a da Austrália <strong>é</strong> melhor no as tecnologias para uso da água existem<br />

em profusão, tanto nas agências<br />

Ceará que as naturais cearenses!<br />

A reportagem diz mais: em Israel governamentais como nas privadas. O<br />

- pasmem! - tamb<strong>é</strong>m são utilizadas estufas<br />

com ambiente controlado para cul-<br />

exploração lucrativa do Sequeiro. Muito<br />

que pouco se discute <strong>é</strong> a receita para<br />

tivo! Estufas no Semiárido - o Nor<strong>de</strong>ste estranho!<br />

está cheio <strong>de</strong> estufas.. Estão presentes Fazenda Mo<strong>de</strong>lo - A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cons-<br />

14 O Berro - nº 168


Irrigação <strong>de</strong> gotejamento com regulagem.<br />

(foto: panoramarural.com)<br />

truir uma Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo <strong>é</strong> apresentar<br />

as famosas tecnologias israelenses aos<br />

produtores brasileiros, adaptando os<br />

equipamentos à realida<strong>de</strong> local. Será<br />

a segunda Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo do tipo em<br />

todo o mundo. A primeira foi implantada<br />

na Tailândia, que não tem nada<br />

<strong>de</strong> Semiárido (!). O terreno <strong>de</strong> 1.500<br />

hectares do governo on<strong>de</strong> funcionará a<br />

Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo fica em Quixeramobim<br />

(CE), cida<strong>de</strong> do sertão a 216 km <strong>de</strong><br />

Fortaleza, on<strong>de</strong> há várias proprieda<strong>de</strong>s<br />

privadas que são exemplo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada<br />

exploração do Semiárido. Ao inv<strong>é</strong>s <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r ali <strong>mesmo</strong>, o Governo vai<br />

importar coisas <strong>de</strong> Israel.<br />

Será que Israel vai colocar água em<br />

Quixeramobim? Segundo a ADECE<br />

(Agência <strong>de</strong> Desenvolvimento do Ceará),<br />

que coor<strong>de</strong>na a parceria, outras tecnologias<br />

agrícolas israelenses tamb<strong>é</strong>m<br />

<strong>de</strong>verão estar presentes na Fazenda-<br />

-Mo<strong>de</strong>lo, como pecuária leiteira (gen<strong>é</strong>tica<br />

e alimentação) e aproveitamento<br />

<strong>de</strong> energias renováveis na produção.<br />

Ou seja, vão ven<strong>de</strong>r gado leiteiro para<br />

o Brasil, com farto cr<strong>é</strong>dito aberto nos<br />

bancos para um recomeço. O gado<br />

leiteiro do Canadá, Estados Unidos,<br />

Suíça, Inglaterra, etc. não <strong>de</strong>u certo no<br />

Brasil - nem nas regiões mais amenas<br />

- mas agora, segundo as previsões da<br />

ADECE, o gado israelense, tão taurino<br />

como os dos <strong>de</strong>mais países - irá dar certo!<br />

Estão <strong>mesmo</strong> <strong>de</strong>scobrindo a roda!<br />

Enquanto isso, a mesmíssima Quixeramobim<br />

<strong>é</strong> "berço sertanejo" da mais<br />

O Berro - nº 168<br />

Nebulizador no gotejamento.<br />

(foto: nebolizacaoeaspersao.blogspot)<br />

legítima raça Lavínia - cruzamento <strong>de</strong><br />

Guzerá (do <strong>de</strong>serto) com Pardo-Suíço<br />

- produzindo muito leite, crias, carne,<br />

couro, estrume. Uma única fazenda<br />

or<strong>de</strong>nha suas vacas produzindo mais<br />

<strong>de</strong> 3.000 litros por dia! Só o Governo do<br />

Ceará não conhece a valente pecuária<br />

<strong>de</strong> Quixeramobim, Madalena, etc.<br />

Com <strong>de</strong>cência e honestida<strong>de</strong>, a<br />

reportagem do jornal "A Folha <strong>de</strong> São<br />

Paulo" <strong>de</strong>ixou escapar: "Para Israel, a<br />

iniciativa visa elevar as vendas <strong>de</strong> suas<br />

empresas ao Brasil. E mais: "já existem<br />

companhias agrícolas israelenses no<br />

Brasil, mas com presença maior no<br />

Su<strong>de</strong>ste. Agora, o interesse está no<br />

Nor<strong>de</strong>ste: uma <strong>de</strong>ssas empresas, a<br />

NETAFIM, inaugurou fábrica <strong>de</strong> produtos<br />

<strong>de</strong> irrigação em Pernambuco em<br />

setembro". Então fica tudo explicado: o<br />

negócio não <strong>é</strong> para ajudar nor<strong>de</strong>stinos,<br />

mas sim para ajudar as empresas <strong>de</strong><br />

Israel. Ponto final.<br />

Conclusão - A i<strong>de</strong>ia <strong>é</strong> <strong>de</strong> que o<br />

projeto, <strong>de</strong> custo ainda não <strong>de</strong>finido<br />

(!), comece a ser implantado no segundo<br />

semestre <strong>de</strong> 2013 (!). Não tem<br />

custo <strong>de</strong>finido, mas já vai começar?<br />

Afinal, importar gado e equipamentos<br />

<strong>é</strong> fácil - difícil vai ser um acerto com<br />

São Pedro! O Ceará já importou dromedários!<br />

Mais valeria trazer <strong>de</strong> Israel as<br />

<strong>cabra</strong>s leiteiras, as <strong>ovelha</strong>s leiteiras e<br />

distribuí-las para os sertanejos. Eles<br />

sabem o que fazer com elas! Por que<br />

15


as <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s não estão sequer<br />

mencionadas nesse Projeto Israel?<br />

Ah! - a tal empresa israelense não<br />

ven<strong>de</strong> <strong>cabra</strong>s, nem <strong>ovelha</strong>s, nem p<strong>é</strong>s<br />

<strong>de</strong> azeitona! Tudo explicado.<br />

Comentários populares<br />

Hoje, as notícias voam, e os comentários<br />

tamb<strong>é</strong>m. No jornal "A Folha" na<br />

Internet, os comentários <strong>de</strong>ssa iniciativa<br />

do Ceará são fartos:<br />

1 - Depois <strong>de</strong> 60 anos <strong>de</strong> estudos na<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scobriram isso? On<strong>de</strong><br />

estão os milhares <strong>de</strong> estudos do IOCS,<br />

IFOCS, DNOCS, EMBRAPAS, etc.? E<br />

do BNB, Banco do Nor<strong>de</strong>ste, que fica<br />

lá <strong>mesmo</strong> em Fortaleza? Bilhões são<br />

jogados, todo ano, no <strong>Sertão</strong> nor<strong>de</strong>stino<br />

e não melhoram a triste sina dos que<br />

insistem em permanecer lá, trabalhando<br />

duro. A dinheirada, por<strong>é</strong>m, enriquece<br />

muita gente que mora na praia das<br />

capitais, ou em Brasília, ou no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro.<br />

2 - Se tem história antiga e mal con-<br />

Irrigação singular. (foto: pt.ma<strong>de</strong>-in-china).<br />

tada <strong>é</strong> essa <strong>de</strong> buscar lá fora o que não<br />

foi feito aqui. Des<strong>de</strong> os anos 80 estão<br />

dizendo que vão importar t<strong>é</strong>cnicos e<br />

tecnologia israelense para o Nor<strong>de</strong>ste.<br />

Já importaram um monte <strong>de</strong> gente. Já<br />

foram feitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> caravanas ao<br />

Exterior e o resultado sempre foi "nada".<br />

3 - Como ficariam os entendidos<br />

brasileiros da Seca que ministram aulas<br />

nas Universida<strong>de</strong>s do Nor<strong>de</strong>ste. E<br />

os da EMBRAPA Semiárido, que estão<br />

<strong>de</strong>ssalinizando água faz tempo? Cada<br />

Estado tem uma empresa <strong>de</strong> Pesquisa<br />

e at<strong>é</strong> hoje não apren<strong>de</strong>ram fazer gotejamento?<br />

Piada. Basta visitar alguma<br />

fazenda, pois at<strong>é</strong> o camponês já faz há<br />

muito tempo. Como ficam as d<strong>é</strong>cadas<br />

<strong>de</strong> SUDENE e milhares <strong>de</strong> estudos? É<br />

fácil contar os Governos, Secretarias,<br />

Empresas <strong>de</strong> Pesquisas, Autarquias,<br />

ONGs, etc. - milhares <strong>de</strong> pessoas<br />

ganhando altos salários durante os<br />

últimos 50 anos. Estes especialistas<br />

nada fizeram?<br />

4 - A tecnologia israelense não foi<br />

utilizada at<strong>é</strong> agora porque mexeria com<br />

16 O Berro - nº 168


os brios da "brasileirada" que mama nas<br />

tetas da "indústria da seca". Será isso?<br />

5 - Se o negócio <strong>é</strong> enriquecer empresas<br />

israelenses e comprar tubos<br />

plásticos, com certeza haverá <strong>de</strong>svio<br />

<strong>de</strong> verbas, licitações fraudulentas,<br />

superfaturamento, como acontece em<br />

todas as "tubulações" <strong>de</strong>sse Governo.<br />

O problema, então, não está na tecnologia,<br />

mas sim na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar<br />

mais algum dinheiro para a "indústria<br />

da Seca" que viveu e continua vivendo<br />

nos palácios dos governos. Quem<br />

entra "pela tubulação" <strong>é</strong> o sertanejo<br />

nor<strong>de</strong>stino.<br />

6 - Meu Deus! Que doidice! Ningu<strong>é</strong>m<br />

lê jornal no Ceará? A EMBRAPA tem<br />

tudo, tudo, tudo que Israel tem. Quase<br />

todo ano viajam muitos t<strong>é</strong>cnicos<br />

para Austrália, Nova Zelândia, Israel,<br />

China, etc. para trazerem tecnologias.<br />

Essa proposta cearense <strong>é</strong> trambique<br />

puro, como a Transposição do rio São<br />

Francisco, a ferrovia Transnor<strong>de</strong>stina,<br />

um Corredor <strong>de</strong> Alimentos para os<br />

ruminantes flagelados da Seca, etc.<br />

Estão sempre propondo coisas que só<br />

começam, nunca terminam e <strong>de</strong>ixam<br />

muita gente rica.<br />

7 - Buscar tecnologia anticorrupção:<br />

isso, sim, seria uma maravilha. Po<strong>de</strong>ria<br />

vir <strong>de</strong> Israel, ou <strong>de</strong> qualquer país <strong>de</strong>cente<br />

e s<strong>é</strong>rio. Por que o Ceará não traz?<br />

Seria pioneiro!<br />

8 - Parece que uma cisterna para<br />

gente e outra para animais seriam suficientes<br />

para tirar o Nor<strong>de</strong>ste da mis<strong>é</strong>ria.<br />

Por que não gastar a dinheirama com os<br />

sertanejos, diretamente? Dê o dinheiro<br />

e eles <strong>mesmo</strong>s construirão cisternas<br />

e muito mais coisas. O sertanejo sabe<br />

on<strong>de</strong> aperta o calo.<br />

9 - É a eterna lenga-lenga para esticar<br />

a esperança e paciência dos bobos<br />

sertanejos nor<strong>de</strong>stinos at<strong>é</strong> a chegada<br />

da próxima chuva, quando os dinheiros<br />

sumirão sem nada terem produzido,<br />

escoarão para os partidos políticos que<br />

dominam o cenário.<br />

10 - Que todos me <strong>de</strong>sculpem: esta<br />

iniciativa está corretíssima. É preciso<br />

enviar, <strong>mesmo</strong>, vinte, cinquenta, mil<br />

senadores, <strong>de</strong>putados, governadores,<br />

t<strong>é</strong>cnicos, chefes <strong>de</strong> autarquias, etc. - do<br />

Ceará para Israel e outras regiões áridas.<br />

Quanto mais árida, melhor. Depois,<br />

basta <strong>de</strong>ixá-los por lá. Passagem só<br />

<strong>de</strong> ida. Não farão falta ao Ceará, nem<br />

ao Brasil. Isso, sim, seria uma bruta<br />

economia.<br />

Estufas no <strong>de</strong>serto. (foto: revistagloborural)<br />

18 O Berro - nº 168


Cabras leiteiras são boa solução. (foto: jspace.com)<br />

Comentários do especialista sistema radicular, e, se a água e o solo<br />

nor<strong>de</strong>stino<br />

apresentam salinização naturais, o m<strong>é</strong>todo<br />

somente elevará a concentração<br />

Patrocínio Tomaz - "Quixeramobim <strong>de</strong> sais. A parte final da notícia veiculada<br />

em nada se assemelha em termos físicos<br />

(geologia, relevo, recursos hídricos, das intenções do projeto <strong>é</strong> aumentar<br />

na Folha <strong>de</strong> S. Paulo mostra que uma<br />

solos, cobertura vegetal, etc.) ao que o mercado <strong>de</strong> Israel no Brasil. O que<br />

existe em Israel. Nesse município cearense,<br />

a geologia <strong>é</strong> Cristalina (granitos, São absolutamente distintas as con-<br />

explica muita coisa.<br />

migmatitos e xistos, estas últimas altamente<br />

produtoras <strong>de</strong> sais), a hidrogeo-<br />

históricas entre Israel e a região semiádições<br />

fisiográficas, socioeconômicas e<br />

logia <strong>é</strong> <strong>de</strong> zonas aquíferas resultantes rida do Nor<strong>de</strong>ste. A começar pelo índice<br />

<strong>de</strong> fraturamento, <strong>de</strong> difícil recarga, <strong>de</strong> pluviom<strong>é</strong>trico que, em Israel, <strong>é</strong> menor,<br />

água pouca e ruim (2 a 4 g/L <strong>de</strong> sais). mas que não chove somente os 30 mm<br />

Os solos têm todas as restrições <strong>de</strong> anuais em seu território. Seguramente,<br />

uso em irrigação: rasos, pedregosos, com 30 mm anuais não se irrigaria um<br />

pouco f<strong>é</strong>rteis e secos, relevo ondulado, palmo <strong>de</strong> solo árido e frio do <strong>de</strong>serto. As<br />

igualmente salinizados, etc.<br />

fontes principais <strong>de</strong> recursos hídricos do<br />

Penso que, ao contrário <strong>de</strong> Israel, Estado <strong>de</strong> Israel são o Mar da Galileia<br />

on<strong>de</strong> se usa água subterrânea <strong>de</strong> aquíferos<br />

sedimentares e <strong>de</strong> reuso para mente, a água subterrânea dos aquífe-<br />

(Lago Kineret), o rio Jordão e, principal-<br />

recarga <strong>de</strong>stes <strong>mesmo</strong>s aquíferos, aqui ros <strong>de</strong>nominados Litorâneo ou Costeiro,<br />

eles terão que buscar água <strong>de</strong> açu<strong>de</strong>s, das Montanhas, do Norte e do Oeste<br />

neste caso, não vulneráveis à seca. (recursos renováveis <strong>de</strong> 1,686 bilhão/<br />

Não sei se há algum com tal condição ano, insuficientes para repor a vazão<br />

em Quixeramobim. O fato <strong>é</strong> que, acho, explorada), al<strong>é</strong>m do reuso das águas<br />

a área foi mal escolhida.<br />

e da <strong>de</strong>ssalinização. Os aquíferos, por<br />

O problema não <strong>é</strong> somente o relacionado<br />

com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água, <strong>de</strong>ssas águas do reuso e, <strong>mesmo</strong> assim,<br />

sinal, são objeto <strong>de</strong> recarga <strong>de</strong> parte<br />

mas com a qualida<strong>de</strong> física e química trabalham em regime <strong>de</strong> exaustão.<br />

da mesma. O gotejamento não gera Al<strong>é</strong>m da diferença estratosf<strong>é</strong>rica <strong>de</strong><br />

fluxo para lixiviar sais acumulados no áreas:<br />

O Berro - nº 168<br />

19


Ovelhas leiteiras da raça Awassi.<br />

(foto: hassad.com.au)<br />

Cabras <strong>de</strong> Israel para o Nor<strong>de</strong>ste.<br />

(foto: freepages.genealogy.rootsweb.ancestry.com)<br />

- Israel tem cerca <strong>de</strong> somente 20.700<br />

km 2 e o Nor<strong>de</strong>ste Semiárido tem mais<br />

<strong>de</strong> 1.000.000 <strong>de</strong> km 2 .<br />

- O problema maior <strong>de</strong> nossa região<br />

está na falta <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> suprimento<br />

hídrico da população do meio<br />

rural (mais <strong>de</strong> 12 milhões <strong>de</strong> pessoas)<br />

e das ativida<strong>de</strong>s agrícolas praticadas<br />

em mais <strong>de</strong> 40 milhões <strong>de</strong> hectares<br />

e da pecuária, em terras <strong>de</strong> rochas<br />

Cristalinas (ígneas e metamórficas) em<br />

mais <strong>de</strong> 50% da área e, portanto sem as<br />

condições <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água<br />

que existe em Israel.<br />

- Lá, as rochas são sedimentares<br />

(areias, principalmente). Estas condições<br />

existem aqui, em nosso Semiárido<br />

nos sistemas aquíferos Tucano/Jatobá<br />

(Bahia/Pernambuco), São Francisco<br />

(Bahia) e em outros menores a exemplo<br />

do Araripe e bacias sedimentares resi-<br />

Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s para muitos produtos<br />

industriais. (foto: redhilldairy.blogspot.com)<br />

duais interioranas <strong>de</strong> limitado potencial<br />

hídrico).<br />

- A área irrigável do nosso semiárido<br />

<strong>é</strong> <strong>de</strong>, apenas, 2.161.000 ha (0,22% da<br />

área do Semiárido) da qual já se irrigam<br />

1.275.000 ha (59%), sem respostas<br />

significativas ao problema <strong>de</strong>corrente<br />

das secas.<br />

- No meio rural <strong>de</strong> Israel vivem cerca<br />

<strong>de</strong> 600.000 pessoas e a ativida<strong>de</strong><br />

agrícola <strong>é</strong> praticada em um total <strong>de</strong><br />

182.000 hectares situados na região<br />

<strong>de</strong>s<strong>é</strong>rtica (ao sul) para on<strong>de</strong> são carreados<br />

os recursos hídricos necessários<br />

provenientes da meta<strong>de</strong> norte do País,<br />

on<strong>de</strong> a precipitação m<strong>é</strong>dia anual atinge<br />

os 700 mm. Ainda assim, são projetos<br />

não <strong>de</strong> todo sustentáveis, quando se<br />

relacionam recursos hídricos, tempo<br />

e <strong>de</strong>mandas crescentes. E eles, os<br />

israelenses, sabem disso. Que o digam<br />

os palestinos, os jordanienses e outros<br />

povos vizinhos.<br />

Quer dizer, não existe esta propalada<br />

ocorrência extensiva <strong>de</strong> "mananciais e/<br />

ou afloramentos <strong>de</strong> lençol freático" em<br />

nosso Semiárido, que precisem ser reflorestados,<br />

a não ser em áreas do Raso<br />

da Catarina (Bacia do Tucano/Jatobá),<br />

já que o solo da bacia sedimentar do<br />

São Francisco <strong>é</strong> quase todo irrigado<br />

com água <strong>de</strong> Sistema homônimo. Isto<br />

se reflete, negativamente, na vazão <strong>de</strong><br />

base dos afluentes do rio São Francisco<br />

que aportam em Sobradinho".<br />

20 O Berro - nº 168


Panorama<br />

Austrália ven<strong>de</strong> mais cor<strong>de</strong>iro<br />

Em 2012-13 a Austrália ven<strong>de</strong>u<br />

200.590 toneladas, o maior volume<br />

em um ano fiscal já registrado – 15%<br />

a mais que o recor<strong>de</strong> do ano anterior<br />

e 24% a mais que a m<strong>é</strong>dia dos últimos<br />

cinco anos. A Gran<strong>de</strong> China e o Oriente<br />

M<strong>é</strong>dio compraram volumes recor<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> 39.493 toneladas e 58.662 toneladas,<br />

24% e 37% a mais que no ano anterior.<br />

A maioria dos outros mercados<br />

comprou gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> carne<br />

<strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro: os Estados Unidos, totalizando<br />

37.480 toneladas (8% a mais<br />

que no ano anterior), a União Europeia<br />

(UE) comprando 12.157 toneladas (3%<br />

a mais que no ano anterior), Papua-Nova<br />

Guin<strong>é</strong> comprando 13.428 toneladas<br />

(14% a mais que no ano anterior) e as<br />

exportações ao Su<strong>de</strong>ste da Ásia totalizando<br />

9.968 toneladas (6% a mais que<br />

no ano anterior). Países que reduziram<br />

as compras: Canadá (3%), M<strong>é</strong>xico<br />

(1%), Japão (5%), Coreia do Sul (2%),<br />

África do Sul (18%) e Suíça (26%), totalizando<br />

1.702 toneladas (menos <strong>de</strong><br />

1% das exportações totais registradas<br />

no ano anterior). (Fonte: Meat and Livestock<br />

Australia-MLA).<br />

Goiás apenas engatinha com cor<strong>de</strong>iros<br />

“Se o pecuarista fizer as contas para<br />

criar, em comparação com o gado bovino,<br />

ele chora”, brinca Andr<strong>é</strong> Luís Rocha,<br />

produtor da raça White Dorper e veterinário<br />

responsável pela Cava Alimentos,<br />

que abate cerca <strong>de</strong> 500 animais por<br />

mês, número consi<strong>de</strong>rado bom por ele.<br />

“É fácil fazer contas”, afirma. Apesar das<br />

inúmeras potencialida<strong>de</strong>s do mercado e<br />

da rentabilida<strong>de</strong> da criação, o setor está<br />

apenas iniciando em Goiás, embora tenha<br />

criadores muito antigos.<br />

A análise <strong>de</strong> Andr<strong>é</strong> Rocha tem tamb<strong>é</strong>m<br />

um tom <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafo, dado o pouco<br />

aproveitamento das qualida<strong>de</strong>s do<br />

rebanho ovino e caprino, bem como da<br />

gran<strong>de</strong> procura pela carne. “Existe um<br />

gran<strong>de</strong> mercado no Brasil, com consumo<br />

per capita <strong>de</strong> 0,6 kg/ano, enquanto<br />

no Uruguai e na Argentina o consumo<br />

chega a quase 20 quilos por ano”. Comenta<br />

que o Brasil importa 60% da carne<br />

e, por falta <strong>de</strong> organização do setor,<br />

dos <strong>de</strong>mais 40% produzidos no País,<br />

90% são clan<strong>de</strong>stinos, ou seja, não passam<br />

por frigoríficos fiscalizados, e não<br />

têm certificação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ou sanida<strong>de</strong>.<br />

“Por isso, importamos cortes do<br />

Chile, do Uruguai, da Austrália e da Nova<br />

Zelândia”, adianta.<br />

Conforme dados do Instituto Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE),<br />

Goiás conta com um rebanho <strong>de</strong> 226<br />

mil ovinos, ou 18% do Centro-Oeste e<br />

1% do País. Os números <strong>de</strong> caprinos<br />

são ainda menores: apenas 40 mil cabeças,<br />

e quase não aparecem no comparativo<br />

nacional e regional.<br />

Você sabia...?<br />

... que os leões africanos<br />

têm 30 <strong>de</strong>ntes?<br />

Exatamente como seu<br />

pequeno irmão, o gato<br />

dom<strong>é</strong>stico, que tamb<strong>é</strong>m<br />

tem 30 <strong>de</strong>ntes.<br />

Você sabia...?<br />

... que, se não houvesse<br />

predadores, apenas 2<br />

moscas produziriam<br />

uma população igual<br />

ao tamanho da Terra<br />

em apenas um ano?<br />

Você sabia...?<br />

... que o imperador Júlio<br />

C<strong>é</strong>sar, <strong>de</strong> Roma, proibiu<br />

o tráfego <strong>de</strong> veículos com<br />

rodas durante o dia, para<br />

permitir que as pessoas<br />

andassem pela cida<strong>de</strong>?<br />

O Berro - nº 168<br />

21


Produção<br />

Dicas para instalação <strong>de</strong> um<br />

confinamento ovino<br />

Cledson Augusto Garcia<br />

O Confinamento <strong>é</strong> uma boa maneira <strong>de</strong> encurtar o tempo, obter mais lucros,<br />

controlar a sanida<strong>de</strong>, sendo uma ferramenta que será cada vez mais utilizada.<br />

Confinamento ao ar livre em Araxá (MG), AC Mercantil. (foto: Berro)<br />

ao bom nível nutricional oferecido para<br />

Qual a vantagem em os <strong>mesmo</strong>s. A área utilizada <strong>é</strong> restrita,<br />

(aproximadamente 1 a 1,5 m 2 por<br />

confinar ovinos?<br />

animal) fazendo com que os animais<br />

No Brasil são adotados vários sistemas<br />

<strong>de</strong> produção, sendo que na região energ<strong>é</strong>tico.<br />

an<strong>de</strong>m menos e tenham menor gasto<br />

Sul a maioria dos cor<strong>de</strong>iros são terminada<br />

em pastejo, <strong>de</strong>vido ao bom valor o <strong>de</strong>smame os cor<strong>de</strong>iros ficam estres-<br />

Outro ponto fundamental <strong>é</strong> que após<br />

nutritivo das pastagens predominantes sados <strong>de</strong>vido à separação da <strong>ovelha</strong><br />

<strong>de</strong> inverno como o azev<strong>é</strong>m, a aveia, o e da ausência do leite como alimento.<br />

trevo, entre outras, resultando na redução<br />

dos custos <strong>de</strong> produção.<br />

orgânica, aumentando a pr<strong>é</strong> disposição<br />

Por esse motivo, diminui a resistência<br />

Já na região Su<strong>de</strong>ste e Centro- para enfermida<strong>de</strong>s, principalmente à<br />

-Oeste o mais comum <strong>é</strong> a terminação verminose, pois os pastos contêm em<br />

em sistema intensivo (confinamento) e m<strong>é</strong>dia 80 a 90 % das larvas infectantes.<br />

semi-intensivo (pasto mais concentrado),<br />

que tem como principal vantagem ma <strong>de</strong> pastejo rotacionado essa infes-<br />

Entretanto, caso o criador adote o siste-<br />

antecipar o abate dos cor<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>vido tação parasitária diminui sensivelmente.<br />

24 O Berro - nº 168


Qual a alimentação básica <strong>de</strong> um<br />

confinamento e quais os alimentos<br />

normalmente usados?<br />

Numa dieta bem formulada temos<br />

que ter pelo menos uma fonte energ<strong>é</strong>tica<br />

e outra proteica , com um mínimo <strong>de</strong> 20<br />

% FDN (teor <strong>de</strong> fibra) oriundo principalmente<br />

do volumoso.<br />

Os alimentos energ<strong>é</strong>ticos convencionais<br />

são o milho, o sorgo e a polpa cítrica<br />

e as fontes proteicas, o farelo <strong>de</strong> soja<br />

e o farelo <strong>de</strong> algodão, entre outros. Os<br />

volumosos utilizados são geralmente as<br />

capineiras trituradas (napier ou cana),<br />

silagem ou feno.<br />

Os subprodutos po<strong>de</strong>m ser usados,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estejam num preço atrativo.<br />

Devem ser analisados minuciosamente<br />

quanto ao seu valor nutricional para o<br />

produtor saber a quantida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rá<br />

substituir as fontes convencionais da<br />

dieta total. Primeiramente os órgãos <strong>de</strong><br />

pesquisa <strong>de</strong>vem testá-lo para averiguarem<br />

a confiabilida<strong>de</strong> do seu uso, pois<br />

os criadores não po<strong>de</strong>m correr riscos<br />

usando em quantida<strong>de</strong>s ina<strong>de</strong>quadas<br />

ou não sabendo da existência <strong>de</strong> algum<br />

fator antinutricional.<br />

Quais os distúrbios que po<strong>de</strong>m<br />

ocorrer? Quais são as vacinas mais<br />

recomendadas para os cor<strong>de</strong>iros<br />

confinados?<br />

Para evitar distúrbios no trato digestivo,<br />

<strong>de</strong>vemos ter o cuidado <strong>de</strong> balancear<br />

Confinamento em Araxá (MG),<br />

AC Mercantil. (foto: Berro)<br />

uma dieta com níveis a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong><br />

proteína, energia, vitaminas e minerais,<br />

al<strong>é</strong>m do teor <strong>de</strong> fibra, pois qualquer erro<br />

na formulação po<strong>de</strong>rá acarretar em perda<br />

<strong>de</strong> ganho <strong>de</strong> peso, perda econômica<br />

e resultar na morte do cor<strong>de</strong>iro. Para<br />

isso <strong>é</strong> necessário um t<strong>é</strong>cnico especializado<br />

para evitar maiores prejuízos na<br />

criação.<br />

As primeiras doses <strong>de</strong> vacina geralmente<br />

são realizadas na fase lactente,<br />

ou seja, quando os animais apresentam<br />

Confinamento em Penápolis (SP) <strong>de</strong> Lucas<br />

Wan<strong>de</strong>rley. (foto: Berro)<br />

Confinamento em Rancharia (SP) <strong>de</strong> Marco<br />

Vidotti. (foto: Berro)<br />

26 O Berro - nº 168


Confinamento da cabanha Unimar, com piso concretado (Marília/SP).<br />

<strong>de</strong> 20 a 30 dias <strong>de</strong> vida, e a segunda<br />

dose quase sempre <strong>é</strong> feita no <strong>de</strong>smame.<br />

As mais comuns e recomendadas são<br />

aquelas contra clostridioses, pasteurelose,<br />

ectima contagioso e conjuntivite.<br />

Qual a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrada e ganho<br />

m<strong>é</strong>dio diário dos cor<strong>de</strong>iros no<br />

confinamento e qual lotação<br />

m<strong>é</strong>dia por m 2 ?<br />

Geralmente os cor<strong>de</strong>iros são encaminhados<br />

para o confinamento com<br />

ida<strong>de</strong> m<strong>é</strong>dia <strong>de</strong> 60 a 80 dias (data do<br />

<strong>de</strong>smame), com expectativa que os<br />

<strong>mesmo</strong>s tenham peso vivo variando<br />

<strong>de</strong> 15 e 20 kg. Os cor<strong>de</strong>iros mais pesados<br />

indicam maior produção <strong>de</strong> leite<br />

e melhor habilida<strong>de</strong> materna da <strong>ovelha</strong><br />

e consequentemente menos tempo <strong>de</strong><br />

confinamento.<br />

O ganho m<strong>é</strong>dio esperado nessa fase<br />

<strong>de</strong> terminação <strong>é</strong> <strong>de</strong> 200 a 250 g/dia, e,<br />

quanto melhor a gen<strong>é</strong>tica e a nutrição,<br />

maior será o ganho m<strong>é</strong>dio diário do<br />

animal.A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da área por cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>é</strong> <strong>de</strong> 1 m 2 para confinamentos <strong>de</strong> piso<br />

concretado. Para aqueles parcialmente<br />

cobertos (os <strong>de</strong> chão batido) - 1,5 a 2<br />

m 2 e para aqueles a c<strong>é</strong>u aberto com<br />

chão batido a área <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong> 2 a<br />

2,5 m 2 , esse último <strong>de</strong>vido ao excesso<br />

<strong>de</strong> lama em <strong>é</strong>pocas <strong>de</strong> chuva.<br />

Confinamento do Instituto <strong>de</strong> Zootecnia<br />

em Gália.<br />

Confinamento da Unesp <strong>de</strong> Araçatuba.<br />

28 O Berro - nº 168


Confinamento com piso suspenso<br />

(Itamonte/MG).<br />

O sal mineral <strong>mesmo</strong> que faça parte<br />

da dieta total <strong>de</strong>ve estar disponível nos<br />

saleiros para que atenda as exigências<br />

minerais dos animais.<br />

A água <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong><br />

e os bebedouros <strong>de</strong>vem ser limpos<br />

<strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong>, geralmente<br />

uma a duas vezes por semana,<br />

colaborando para a melhor saú<strong>de</strong> dos<br />

animais.<br />

Quando um confinamento com cobertura<br />

for construído, o <strong>mesmo</strong> <strong>de</strong>ve<br />

ser direcionado no sentido leste-oeste,<br />

garantindo sombra ao longo do dia<br />

(bem estar animal), pois os animais<br />

permanecerão na sua zona <strong>de</strong> conforto<br />

t<strong>é</strong>rmico, resultando em incrementos no<br />

ganho <strong>de</strong> peso.<br />

Confinamento c/ chão batido<br />

(João Ramalho/SP).<br />

Qual os custo para a implantação<br />

<strong>de</strong> um confinamento?<br />

Os custos para implantação <strong>de</strong> um<br />

confinamento vão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma s<strong>é</strong>rie<br />

<strong>de</strong> fatores, pois se a proprieda<strong>de</strong> já possui<br />

uma instalação <strong>de</strong>sativada, esta po<strong>de</strong><br />

ser adaptada, reduzindo drasticamente<br />

os custos da implantação. Se o produtor<br />

optar por fazer uma instalação totalmente<br />

concretada e parcialmente coberta, os<br />

custos são maiores, entretanto resultará<br />

em maior higiene no momento do abate,<br />

<strong>de</strong>vido a menor sujida<strong>de</strong> na lã e nos pelos.<br />

Cledson Augusto Garcia -<br />

Professor da Unimar, Marília (SP).<br />

(Tamb<strong>é</strong>m publicado no Farmpoint).<br />

Carne <strong>de</strong> caprinos e ovinos<br />

na merenda escolar<br />

As Escolas Municipais <strong>de</strong> Governador<br />

Valadares vão ter carne <strong>de</strong> caprinos<br />

e ovinos na merenda escolar. O Projeto<br />

<strong>de</strong> Lei nº 075, processo nº 663/13, que<br />

dispõe sobre a obrigatorieda<strong>de</strong> da inclusão<br />

da carne <strong>de</strong> caprinos e/ou ovinos na<br />

merenda escolar das escolas do município<br />

foi aprovada por unanimida<strong>de</strong> na<br />

Câmara Municipal na 7ª Reunião Ordinária<br />

<strong>de</strong> Julho. A Comissão <strong>de</strong> Serviços<br />

Públicos Municipais (CSPM) e a Comissão<br />

<strong>de</strong> Fiscalização Financeira e Orçamentária<br />

(CFFO) tamb<strong>é</strong>m opinaram pela<br />

aprovação da mat<strong>é</strong>ria. O Projeto <strong>de</strong><br />

Lei <strong>é</strong> <strong>de</strong> autoria do vereador Dr. Marcílio<br />

(PMDB).<br />

O Berro - nº 168<br />

29


Panorama<br />

O Texel julgará Melhor<br />

Progênie na Expointer<br />

A partir da Expointer-2013, a Brastexel<br />

institui o julgamento <strong>de</strong> progênie <strong>de</strong><br />

mãe e progênie <strong>de</strong> pai, com premiação<br />

diferenciada. Desta forma a Brastexel<br />

valoriza os reprodutores <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<br />

na raça. No Nor<strong>de</strong>ste, todas as raças já<br />

realizam esse julgamento há d<strong>é</strong>cadas.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> homenagear criadores<br />

que marcaram a trajetória da Brastexel,<br />

os prêmios receberão os nomes <strong>de</strong> dois<br />

importantes criadores: Progenie <strong>de</strong> Mãe<br />

- Premio Ines Bove Vi<strong>de</strong>; Progenie <strong>de</strong><br />

Pai - Premio Matheus Jos<strong>é</strong> Schmidt Filho.<br />

A criadora uruguaia Ines Bove Vi<strong>de</strong>,<br />

Cabanha La Cachimba,Depto <strong>de</strong> Flores,<br />

adquiriu animais no 1º Mercotexel<br />

(jan/1999) e em junho daquele ano concretizou<br />

a primeira exportação <strong>de</strong> Texel<br />

gaúcho para o Uruguai. No ano seguinte<br />

ela adquiriu mais um lote <strong>de</strong> animais<br />

ingressando em solo uruguaio em fevereiro<br />

<strong>de</strong> 2000. Ela integrou diretoria da<br />

Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Criadores <strong>de</strong> Texel do<br />

Uruguai. Com muitos amigos no Brasil<br />

era uma gran<strong>de</strong> entusiasta da raça.<br />

Matheus Jos<strong>é</strong> Schmidt Filho político<br />

<strong>de</strong> projeção no cenário nacional,do<br />

PDT, foi presi<strong>de</strong>nte da Brastexel em<br />

2008. Era criador na Cabanha Engenho<br />

Velho, em Boqueirão do Leão (RS), on<strong>de</strong><br />

atualmente seu filho Tito Fábio Schmidt<br />

e seu neto Matheus Schmidt Neto<br />

estão à frente da criação.<br />

Bo<strong>de</strong> que dá leite vira<br />

atração em Itamaracá<br />

Joselito Duda da Silva, <strong>de</strong> 50 anos,<br />

cria caprinos na ilha <strong>de</strong> Itamaracá, no litoral<br />

norte <strong>de</strong> Pernambuco. Há três meses,<br />

um dos seus bo<strong>de</strong>s - o caprino Rubinho<br />

- começou a dar leite e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então,<br />

as visitas ao Sítio Olho D’Água têm<br />

sido constantes.<br />

Rubinho, quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>é</strong><br />

mestiço das raças Boer com Anglo-Nubiana.<br />

O animal foi examinado pelo doutor<br />

em medicina veterinária da UFRPE,<br />

Fábio Mendonça, que atestou condições<br />

corporais normais, indicando que<br />

o bo<strong>de</strong> não <strong>é</strong> hermafrodita.<br />

A hipótese <strong>é</strong> <strong>de</strong> distúrbio hormonal,<br />

com conversão <strong>de</strong> testosterona em estrógeno,<br />

ou <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cromossômica,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser hereditário. As características<br />

do leite do bo<strong>de</strong>, segundo estudos,<br />

O proprietário do bo<strong>de</strong> Rubinho<br />

chega a tirar um copo <strong>de</strong> leite por dia<br />

são idênticas ao do leite produzido por<br />

uma <strong>cabra</strong>, o que, em tese, não seria<br />

suficiente para <strong>de</strong>smotivar o consumo.<br />

(Fonte: Diário <strong>de</strong> Pernambuco)<br />

30 O Berro - nº 168


<strong>de</strong> Luiz Claudio Pereira<br />

e Fernanda Scardoelli e Filhos<br />

Seus Produtos se <strong>de</strong>stacaram novamente na<br />

XXV FENOVINOS EM JULIO DE CASTILHOS 2013<br />

ESTAREMOS PRESENTES NA EXPOINTER 2013<br />

EXPONDO AS RAÇAS DE OVINOS CORRIEDALE E IDEAL, ALÉM DE CAVALOS CRIOULOS.<br />

Corriedale<br />

GRANDE CAMPEÃ P.O<br />

JEP 234<br />

Nasc. 21/08/2011, <strong>de</strong> Jep 73 e Tabola 01339<br />

I<strong>de</strong>al<br />

Campeã Ovino Jovem<br />

GRANDE CAMPEÃO P.O<br />

SETE LUAS 207<br />

Nasc. 06/08/2011, <strong>de</strong> Abascal <strong>de</strong><br />

Santa Lúcia 653 e Sete Luas 122<br />

Campeão Ovino Jovem<br />

Av. General Osório, 1052 - T<strong>é</strong>rreo - Fones: (53) 3241- 1166 / (53) 99 721 224 - CEP. 96400-100 - Bag<strong>é</strong> - RS<br />

claudinho@estanciasantacecilia.com.br / www.estanciasantacecilia.com.br<br />

O Berro - nº 168<br />

31


Manejo<br />

Ovinos e o Bem Estar animal<br />

Norma Centeno Rodrigues<br />

Os pequenos ruminantes são entida<strong>de</strong>s vivas, mas não são iguais aos seres<br />

humanos; eles po<strong>de</strong>n ter reações inusitadas, sendo importante conhecer seu<br />

comportamento para melhor traçar um programa <strong>de</strong> manejo.<br />

O Bem-Estar Animal (BEA) como<br />

ciência tomou um impulso muito gran<strong>de</strong><br />

nas últimas d<strong>é</strong>cadas, tornando-se uma<br />

peça importante na produção animal.<br />

Cada vez mais a maneira como os<br />

animais são criados <strong>é</strong> levada em consi<strong>de</strong>ração,<br />

seja para o consumidor final<br />

ou para as diferentes etapas da ca<strong>de</strong>ia<br />

produtiva como, por exemplo, a exportação<br />

dos animais.<br />

O BEA necessitou <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição<br />

para ser utilizado <strong>de</strong> modo específico,<br />

<strong>de</strong>finindo assim parâmetros para serem<br />

<strong>de</strong>batidos e avaliados em situações diversas,<br />

como discussões e <strong>de</strong>clarações<br />

públicas ou documentação legal. As<br />

cinco liberda<strong>de</strong>s do BEA, <strong>de</strong>fendidas<br />

pelo Conselho <strong>de</strong> Bem-Estar <strong>de</strong> Animais<br />

<strong>de</strong> Produção (Farm Animal Welfare<br />

Council) do Reino Unido, vêm sendo<br />

utilizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então como balizadores,<br />

pois incluem diferentes aspectos e<br />

<strong>de</strong>finições do BEA.<br />

Quando as <strong>de</strong>finições das cinco<br />

liberda<strong>de</strong>s são observadas na sua totalida<strong>de</strong>,<br />

verifica-se que elas dão uma<br />

indicação inicial sobre os aspectos relevantes<br />

que precisam ser consi<strong>de</strong>rados<br />

em qualquer estudo sobre o bem-estar,<br />

sendo um bom ponto <strong>de</strong> partida para<br />

avaliação do BEA. Ainda, po<strong>de</strong>-se inferir<br />

sobre o sistema <strong>de</strong> criação e sobre<br />

as consequências <strong>de</strong>les nos animais.<br />

Ou seja, o bem-estar po<strong>de</strong> basear-se<br />

na avaliação do que <strong>é</strong> proporcionado<br />

aos animais (dados do sistema) ou na<br />

avaliação das consequências <strong>de</strong>ssas<br />

O manejo <strong>é</strong> muito importante,<br />

para garantir rendimento.<br />

características do sistema sobre o animal<br />

(efeitos).<br />

As Cinco Liberda<strong>de</strong>s são:<br />

1 - Livre <strong>de</strong> fome e <strong>de</strong> se<strong>de</strong> - por<br />

meio do livre acesso à água fresca e<br />

<strong>de</strong> uma dieta que garanta plena saú<strong>de</strong><br />

e pleno vigor físico.<br />

2 - Livre <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto - por<br />

meio <strong>de</strong> um ambiente apropriado,<br />

inclusive abrigo e área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso<br />

confortáveis.<br />

3 - Livre <strong>de</strong> dor, lesões e doenças<br />

- por meio da prevenção, ou <strong>de</strong> rápido<br />

diagnóstico e tratamento.<br />

4 - Livre para expressar comportamento<br />

natural - atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> espaço<br />

suficiente, instalações apropriadas e<br />

companhia da própria esp<strong>é</strong>cie.<br />

5 - Livre <strong>de</strong> medo e estresse -<br />

assegurando condições e tratamento<br />

que evitem o sofrimento mental.<br />

Os ovinos, particularmente, são mais<br />

susceptíveis ao estresse que outros<br />

animais <strong>de</strong> produção. Ações específicas<br />

32 O Berro - nº 168


distinguir visualmente faces, apresentam<br />

a tendência <strong>de</strong> permanecerem com sua<br />

própria raça e segregar <strong>de</strong> acordo com a<br />

ida<strong>de</strong> e o sexo. Ten<strong>de</strong>m a fazer as mesmas<br />

coisas juntos, como se alimentar ou<br />

<strong>de</strong>scansar, pois imitam o comportamento<br />

ao seu redor.<br />

Maneira correta <strong>de</strong> “sentar” uma<br />

<strong>ovelha</strong> para manejo.<br />

<strong>de</strong> manejo <strong>de</strong>vem ser adotadas com<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se diminua o estresse<br />

na rotina <strong>de</strong> uma criação. Para tanto <strong>é</strong><br />

imprescindível o conhecimento do comportamento<br />

e das particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />

esp<strong>é</strong>cie animal. A interação homem-animal<br />

<strong>é</strong> extremamente importante, pois os<br />

ovinos recebem mensagens conflitantes<br />

dos humanos. Nessa relação temos as<br />

interações físicas (tocar, acariciar, bater)<br />

e as não-físicas, como voz, movimentação<br />

do corpo, cheiro e ruído.<br />

Essas interações irão <strong>de</strong>finir como<br />

será o manejo <strong>de</strong>sses animais e consequentemente<br />

po<strong>de</strong>rão servir como<br />

indicadores <strong>de</strong> Bem Estar Animal.<br />

As reações aversivas, caracterizadas<br />

por elevação <strong>de</strong> voz, pancadas e utilização<br />

<strong>de</strong> ferrão, vacinação, marcação<br />

e castração se traduzem em respostas<br />

negativas que vão aumentar o nível <strong>de</strong><br />

medo dos animais pelos humanos o que<br />

po<strong>de</strong>rá dificultar o manejo <strong>de</strong> alimentação,<br />

cuidados sanitários, or<strong>de</strong>nhas e<br />

práticas zoot<strong>é</strong>cnicas.<br />

Todos esses fatores po<strong>de</strong>rão resultar<br />

em situações <strong>de</strong> estresse agudo ou<br />

crônico.<br />

Gregários - Os ovinos são animais<br />

gregários, - programados para seguir<br />

um ao outro. Estar com outros <strong>de</strong> sua<br />

própria esp<strong>é</strong>cie e raça <strong>é</strong> uma parte instintiva<br />

<strong>de</strong> sua natureza. Deve-se evitar<br />

juntar animais <strong>de</strong> categorias diferentes.<br />

Ovinos quando misturados levam<br />

certo tempo para se sentirem parte do<br />

rebanho. Como tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Olfato - O olfato nos ovinos <strong>é</strong> mais <strong>de</strong>senvolvido<br />

que nos humanos e utilizam o<br />

olfato na sua interação com o meio ambiente.<br />

Atrav<strong>é</strong>s do olfato reconhecem outros<br />

ovinos em distâncias relativamente<br />

curtas; mães reconhecem seus filhotes<br />

e machos reconhecem fêmeas em cio.<br />

São capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar a presença <strong>de</strong><br />

um cão e o cheiro <strong>de</strong> um ser humano a<br />

300 metros, sob condições favoráveis.<br />

Memória - Como os ovinos têm excelente<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem<br />

e memória, no manejo <strong>de</strong>sses animais<br />

<strong>de</strong>ve-se evitar qualquer associação que<br />

possa trazer a lembrança <strong>de</strong> eventos<br />

<strong>de</strong>sagradáveis. O manejo geralmente<br />

produz uma resposta <strong>de</strong> fuga e tratadores<br />

e cães são vistos como uma ameaça<br />

significativa.<br />

Visão - Em relação à visão, os ovinos<br />

possuem a pupila maior e <strong>de</strong> formato<br />

mais retangular que a pupila humana; o<br />

globo ocular localiza-se lateralmente na<br />

cabeça, o que confere a esses animais<br />

um campo visual mais amplo. Ovinos<br />

diferentemente dos humanos têm uma<br />

maior visão monocular, on<strong>de</strong> a imagem<br />

captada por cada um dos olhos forma<br />

imagens in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.. Com apenas<br />

um leve movimento da cabeça, os ovinos<br />

po<strong>de</strong>m visualizar inteiramente os<br />

arredores. No caso <strong>de</strong> uma ameaça, a<br />

percepção <strong>é</strong> rápida e a resposta comportamental<br />

geralmente <strong>é</strong> fugir. Já a<br />

visão binocular, on<strong>de</strong> a as informações<br />

captadas pelos dois olhos são combinadas,<br />

formando uma só imagem, o que<br />

confere noção <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> <strong>é</strong> bem<br />

pequena nos ovinos. Essa característica<br />

O Berro - nº 168<br />

33


Visão monocular, enxergando para<br />

os lados, <strong>mesmo</strong> com cabeça baixa.<br />

Animal estressado cria problema,<br />

sendo importante tratá-lo com carinho.<br />

anatômica dos olhos dos ovinos faz com<br />

que tenham pouca visão vertical o que<br />

dificulta a visualização para cima; ovinos<br />

se sentem menos ameaçados quando os<br />

humanos estão no <strong>mesmo</strong> nível para que<br />

possam observar seus rostos.<br />

Circulação - Devemos utilizar o manejo<br />

como ferramenta a favor do Bem<br />

Estar Animal. Os sistemas <strong>de</strong> manejo<br />

mais bem-sucedidos <strong>de</strong> ovinos incluem<br />

recursos para incentivar a circulação <strong>de</strong><br />

animais na direção necessária. A visão<br />

<strong>é</strong> o fator comportamental mais importante.<br />

Dê aos ovinos uma visão clara e<br />

<strong>de</strong>sobstruída para algo atraente na área<br />

para on<strong>de</strong> são obrigados a ir.<br />

Os ovinos são atraídos pela visão <strong>de</strong><br />

outros ovinos e o movimento estimula<br />

a circulação, enquanto que a visão <strong>de</strong><br />

animais parados fará com que eles parem<br />

<strong>de</strong> circular. Ovinos movem-se mais<br />

rápido em subidas do que em <strong>de</strong>scidas,<br />

em superfícies planas, largas, em linha<br />

reta. Não se distraem, se as laterais das<br />

mangueiras e brete são cobertas, olham<br />

para baixo para ver on<strong>de</strong> estão indo e<br />

param em grelhas ou pisos falsos.<br />

Deve-se fazer pouco barulho ao manejar<br />

os animais e movimentar-se lentamente<br />

quando perto dos <strong>mesmo</strong>s para<br />

evitar reações <strong>de</strong> fuga. Os cães sem o<br />

<strong>de</strong>vido treinamento <strong>de</strong> pastoreio <strong>de</strong>vem<br />

ser evitados bem como manejar muitos<br />

animais em áreas pequenas.<br />

Visão binocular, enxergando<br />

pouco para cima.<br />

Área coberta para o manejo <strong>é</strong> importante.<br />

Fonte - Norma Centeno Rodrigues.<br />

M<strong>é</strong>dica Veterinária, CRMVRS 2221,<br />

Mestre em Ciências Veterinárias pela<br />

UFRGS, Doutora em Ciencias Veterinárias<br />

pela Universidad<br />

<strong>de</strong> Murcia/Espanha.<br />

34 O Berro - nº 168


Veterinária<br />

Parto: momento <strong>de</strong>cisivo<br />

na vida do cor<strong>de</strong>iro<br />

Alice Del<strong>é</strong>o Rodrigues<br />

A parição <strong>é</strong> um momento cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes que garantem a lucrativida<strong>de</strong><br />

do empreendimento, pois <strong>é</strong> a hora da multiplicação do rebanho.<br />

O dia do parto e os primeiros dias <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong> um cor<strong>de</strong>iro são essenciais para<br />

a sua sobrevivência e a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O manejo apropriado nessa<br />

fase, portanto, <strong>é</strong> fundamental.<br />

● A primeira providência que <strong>de</strong>ve<br />

ser tomada, entretanto, <strong>é</strong> em relação às<br />

<strong>ovelha</strong>s prenhes. O i<strong>de</strong>al <strong>é</strong> separar as<br />

<strong>ovelha</strong>s prenhes das <strong>de</strong>mais <strong>ovelha</strong>s<br />

em baia ou piquete específico para elas,<br />

fornecendo alimentação diferenciada.<br />

● Consi<strong>de</strong>rando que o cor<strong>de</strong>iro tem<br />

seu maior <strong>de</strong>senvolvimento no terço final<br />

da gestação, a melhoria na qualida<strong>de</strong><br />

da dieta das <strong>ovelha</strong>s po<strong>de</strong> começar a<br />

ser feita faltando 45-30 dias antes da<br />

"data prevista para o parto" (DPP). Essa<br />

estrat<strong>é</strong>gia permite minimizar a doenças<br />

metabólicas típicas da fase <strong>de</strong> prenhez<br />

e tamb<strong>é</strong>m possibilitar o nascimento <strong>de</strong><br />

cor<strong>de</strong>iros mais pesados.<br />

(Figura 1)<br />

Ovelha parindo em p<strong>é</strong>. (Foto: arquivo pessoal).<br />

(Figura 2)<br />

Aparecimento <strong>de</strong> muco na região vaginal da<br />

<strong>ovelha</strong>. (Foto: arquivo pessoal).<br />

● Não <strong>é</strong> recomendado colocar muitas<br />

<strong>ovelha</strong>s prenhes em uma baia, pois a<br />

<strong>ovelha</strong> em processo <strong>de</strong> parição normalmente<br />

procura se afastar das <strong>de</strong>mais<br />

do lote, ou seja, a instalação <strong>de</strong>ve ter<br />

espaço suficiente para proporcionar esse<br />

distanciamento. Em baias superlotadas<br />

a competição pelo cor<strong>de</strong>iro neonato e o<br />

pisoteamento <strong>de</strong> crias po<strong>de</strong> ocorrer com<br />

maior frequência, o que não <strong>é</strong> <strong>de</strong>sejado.<br />

● Quando estiver faltando uma semana<br />

para a DPP, a <strong>ovelha</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

observada com mais frequência e <strong>de</strong>ve<br />

ser o menos manejada possível.<br />

● Ao entrar em trabalho <strong>de</strong> parto a <strong>ovelha</strong><br />

apresenta diversos comportamentos<br />

típicos, que variam em frequência (número<br />

<strong>de</strong> vezes que a <strong>ovelha</strong> realiza uma ativida<strong>de</strong><br />

em relação ao total <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

realizadas) e em intensida<strong>de</strong> (duração da<br />

ativida<strong>de</strong>), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> fatores como<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área, condições climá-<br />

36 O Berro - nº 168


(Figura 3) (Figura 4)<br />

Ovelha parindo <strong>de</strong>itada. (Foto: arquivo pessoal).<br />

ticas, habilida<strong>de</strong> e experiência materna,<br />

entre outros.<br />

● Os principais comportamentos observados<br />

são:<br />

- Isolamento das <strong>de</strong>mais <strong>ovelha</strong>s rebanho;<br />

- Inquietação;<br />

- Vocalização espaçada;<br />

- Movimentos com as patas <strong>de</strong> raspar<br />

o solo (como se estivesse fazendo um<br />

ninho).<br />

● Ao longo do processo, será verificada<br />

a presença <strong>de</strong> muco espesso<br />

na região vaginal da <strong>ovelha</strong> (Fig. 1),<br />

intumescimento da vulva, aparecimento<br />

<strong>de</strong> anexos, aumento na frequência das<br />

vocalizações e a repetição frequente<br />

<strong>de</strong> do comportamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar-se e<br />

levantar-se.<br />

● A <strong>ovelha</strong> po<strong>de</strong> parir tanto em p<strong>é</strong><br />

como <strong>de</strong>itada (Fig. 2 e 3). A intensida<strong>de</strong><br />

e a frequência das contrações tamb<strong>é</strong>m<br />

aumentarão significativamente. Entre 30<br />

minutos e duas horas, na maior parte das<br />

vezes, as patas dianteiras do cor<strong>de</strong>iro<br />

apontarão e ele será completamente<br />

expulso. Caso a <strong>ovelha</strong> esteja prenhe<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um cor<strong>de</strong>iro, o tempo entre<br />

a expulsão <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro varia entre<br />

cinco e trinta minutos, em m<strong>é</strong>dia.<br />

● Se o cor<strong>de</strong>iro estiver mal posicionado<br />

ou for muito gran<strong>de</strong>, a <strong>ovelha</strong> <strong>de</strong>ve<br />

ser auxiliada no processo <strong>de</strong> parição.<br />

Ovelha Santa Inês com duas cor<strong>de</strong>iras rec<strong>é</strong>m-<br />

-nascidas e parte da placenta já expulsa.<br />

(Foto: arquivo pessoal).<br />

As patas <strong>de</strong>vem ser reposicionadas e<br />

a cabeça colocada acima das patas<br />

dianteiras. Em hipótese alguma o procedimento<br />

po<strong>de</strong> ser feito sem luvas e sem<br />

a <strong>de</strong>vida assepsia (<strong>de</strong>ve-se lavar bem<br />

as mãos com água e sabão e as luvas<br />

com solução clorada). O momento i<strong>de</strong>al<br />

para puxar o cor<strong>de</strong>iro <strong>é</strong> quando a <strong>ovelha</strong><br />

apresentar uma contração, para que não<br />

se faça mais força do que o necessário.<br />

● A observação do comportamento da<br />

<strong>ovelha</strong> no dia do parto <strong>é</strong> uma ferramenta<br />

que permite i<strong>de</strong>ntificar a formação do<br />

vínculo com o cor<strong>de</strong>iro e, inferir sobre a<br />

sobrevivência do <strong>mesmo</strong>.<br />

● Após a expulsão do cor<strong>de</strong>iro a<br />

<strong>ovelha</strong> realizará uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

como limpar e estimular o cor<strong>de</strong>iro.<br />

Com a língua, a <strong>ovelha</strong> lambe a cria<br />

<strong>de</strong>ixando-a seca (Fig. 4). Nesse processo,<br />

as vias respiratórias do cor<strong>de</strong>iro são<br />

<strong>de</strong>sobstruídas e a circulação sanguínea <strong>é</strong><br />

estimulada. O estímulo ocorre quando a<br />

<strong>ovelha</strong> ajuda o cor<strong>de</strong>iro a realizar alguma<br />

ativida<strong>de</strong>, como levantar-se e tamb<strong>é</strong>m<br />

quando o cor<strong>de</strong>iro mama e a <strong>ovelha</strong> coloca<br />

seu focinho na parte traseira da cria.<br />

● A <strong>ovelha</strong> po<strong>de</strong> simplesmente <strong>de</strong>ixar<br />

o cor<strong>de</strong>iro mamar, ou facilitar ou dificultar<br />

a mamada do <strong>mesmo</strong>. Na primeira<br />

situação, a <strong>ovelha</strong> permite que o cor<strong>de</strong>iro<br />

mame com maior facilida<strong>de</strong>, arqueando<br />

o posterior ou erguendo uma das patas<br />

traseiras e na segunda, a <strong>ovelha</strong> não<br />

<strong>de</strong>ixa a cria mamar, movimentando-se ou<br />

O Berro - nº 168<br />

37


(Figura 5)<br />

Ovelha White Dorper com sua cria. (Foto: arquivo pessoal).<br />

afastando-se do cor<strong>de</strong>iro. e para o cor<strong>de</strong>iro,<br />

respectivamente. Algumas <strong>ovelha</strong>s<br />

tamb<strong>é</strong>m ingerem anexos e membranas.<br />

● O cor<strong>de</strong>iro neonato, por sua vez,<br />

fará o seguinte:<br />

- tentará levantar-se - tentativa do cor<strong>de</strong>iro<br />

em colocar-se na postura em p<strong>é</strong>. O<br />

cor<strong>de</strong>iro não consegue ficar com os quatro<br />

membros no solo <strong>de</strong> maneira estável;<br />

- procurar o úbere;<br />

- tentar mamar - o cor<strong>de</strong>iro já está na região<br />

inguinal da <strong>ovelha</strong> e tenta apreen<strong>de</strong>r<br />

o teto para realizar a mamada;<br />

- mamar - o cor<strong>de</strong>iro ingere colostro, o<br />

que <strong>é</strong> verificado pela passagem do leite<br />

no trato digestório e em alguns casos,<br />

abano <strong>de</strong> cauda e presença <strong>de</strong> espuma<br />

na boca.<br />

● Em condições normais, o cor<strong>de</strong>iro<br />

neonato será limpo e secado pela <strong>ovelha</strong>,<br />

ficará em p<strong>é</strong> e realizará a primeira mamada<br />

<strong>de</strong> colostro na primeira hora <strong>de</strong> vida. A<br />

Figura 5 mostra <strong>ovelha</strong> com sua cria <strong>de</strong><br />

um dia em perfeitas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

● A placenta e os <strong>de</strong>mais anexos embrionários<br />

<strong>de</strong>vem ser expelidos em at<strong>é</strong><br />

12 horas após o parto, sendo necessário<br />

suporte medicamentoso caso isso não<br />

ocorra. Normalmente, esse processo <strong>de</strong><br />

expulsão ocorre em at<strong>é</strong> três horas após o<br />

nascimento do último cor<strong>de</strong>iro, po<strong>de</strong>ndo<br />

ser expulsas uma ou mais placentas.<br />

Caso a <strong>ovelha</strong> não ingira os anexos, <strong>é</strong><br />

preciso que estes sejam recolhidos e<br />

<strong>de</strong>scartados corretamente.<br />

● É fundamental que a ingestão do<br />

colostro tamb<strong>é</strong>m ocorra nas primeiras 12<br />

horas <strong>de</strong> vida do cor<strong>de</strong>iro, pois após esse<br />

período a absorção das imunoglobulinas<br />

não ocorrerá <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada,<br />

<strong>de</strong>vido à redução da permeabilida<strong>de</strong> da<br />

pare<strong>de</strong> intestinal do cor<strong>de</strong>iro. Como a<br />

placenta dos ruminantes <strong>é</strong> do tipo sin<strong>de</strong>smocorial<br />

(não permite a passagem<br />

<strong>de</strong> anticorpos para o feto), a imunida<strong>de</strong>,<br />

e consequentemente a resistência aos<br />

microrganismos, será passada <strong>de</strong> mãe<br />

para filho por via oral, ou seja, via ingestão<br />

<strong>de</strong> colostro. A ingestão <strong>de</strong> colostro<br />

<strong>é</strong>, portanto, fundamental para a sobrevivência<br />

dos cor<strong>de</strong>iros nos primeiros<br />

38 O Berro - nº 168


(Figura 6)<br />

Cor<strong>de</strong>ira mestiça Santa Inês Dorper sendo pesada. (Foto: arquivo pessoal).<br />

dias <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>ve ser verificada pelo<br />

produtor. Se a <strong>ovelha</strong> não produzir colostro<br />

em volume a<strong>de</strong>quado, rejeitar a cria<br />

ou morrer, <strong>de</strong>ve-se administrar colostro<br />

artificial ou colostro bovino aos cor<strong>de</strong>iros<br />

(três vezes ao dia, por três dias o volume<br />

<strong>de</strong> entre 250-300 mL sempre à mesma<br />

temperatura).<br />

● Caso o nascimento do cor<strong>de</strong>iro<br />

ocorra em condições climáticas pouco<br />

favoráveis (muito frio, chuvas intensas),<br />

<strong>de</strong>ve-se colocar lâmpadas nas baias maternida<strong>de</strong>s,<br />

preferencialmente nos cantos<br />

das instalações (são recomendadas lâmpadas<br />

<strong>de</strong> 60 watts a 1,5 metros do chão).<br />

● A primeira pesagem do cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong>ve ocorrer no dia em que ele nasce,<br />

e se, possível, quinzenalmente, para<br />

ser verificado o ganho <strong>de</strong> peso (Fig. 6).<br />

Eventuais problemas serão <strong>de</strong>tectados e<br />

corrigidos o mais rápido possível: não <strong>é</strong><br />

aceitável perda <strong>de</strong> peso. A pesagem <strong>é</strong> importante<br />

como ferramenta para seleção<br />

dos animais com melhor <strong>de</strong>sempenho.<br />

● No primeiro dia <strong>de</strong> vida do cor<strong>de</strong>iro,<br />

tamb<strong>é</strong>m <strong>de</strong>ve ser feita a cura/queima do<br />

umbigo. Caso o comprimento do cordão<br />

umbilical seja comprido, <strong>de</strong>ve-se cortá-lo<br />

com tesoura bem limpa e afiada. Deve<br />

ser <strong>de</strong>ixado pedaço <strong>de</strong> 2-3 cm ou no<br />

máximo dois <strong>de</strong>dos a partir do abdômen.<br />

A queima propriamente dita <strong>de</strong>ve ser<br />

realizada com solução <strong>de</strong> iodo a 5%,<br />

comprada em casas agropecuárias, por<br />

tantos dias quanto forem necessários at<strong>é</strong><br />

a completa secagem do tecido. O tecido<br />

<strong>de</strong>ve ser mergulhado completamente na<br />

solução ou totalmente borrifado por ela<br />

(estrat<strong>é</strong>gia mais higiênica).<br />

● Tomando todas as medidas necessárias<br />

<strong>é</strong> possível reduzir significativamente<br />

a mortalida<strong>de</strong> dos cor<strong>de</strong>iros<br />

rec<strong>é</strong>m-nascidos, atingido o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

menos <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>.<br />

Alice Del<strong>é</strong>o Rodrigues - Zootecnista<br />

(FZEA/USP), Mestre e Doutoranda em<br />

Zootecnia pela Unesp/Jaboticabal.<br />

O Berro - nº 168<br />

39


Panorama<br />

Brasil duplica compras<br />

<strong>de</strong> carne ovina uruguaia<br />

O Brasil <strong>é</strong> o principal comprador <strong>de</strong><br />

carne ovina do Uruguai e sua <strong>de</strong>manda<br />

crescente tem cada vez mais importância<br />

na <strong>de</strong>terminação do preço pago ao<br />

produtor uruguaio, tanto <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iros,<br />

como das categorias adultas. Essa tendência<br />

se acentuou nos primeiros cinco<br />

meses <strong>de</strong> 2013, quando, segundo<br />

dados do Instituto Nacional <strong>de</strong> Carnes<br />

do Uruguai (INAC), o Brasil mais que<br />

duplicou as compras com relação ao<br />

<strong>mesmo</strong> período do ano anterior.<br />

As vendas <strong>de</strong> carne ovina ao Brasil<br />

entre janeiro e maio passado alcançaram<br />

3.116 toneladas, ou 45% das<br />

exportações totais expressas em peso<br />

carcaça, com um faturamento <strong>de</strong><br />

US$ 13,4 milhões. Segundo a publicação<br />

“El mercado <strong>de</strong> la carne ovina”, do<br />

Secretariado Uruguaio <strong>de</strong> Lã (SUL), o<br />

Brasil já <strong>é</strong> o principal comprador em volume<br />

e tamb<strong>é</strong>m reporta um valor m<strong>é</strong>dio<br />

por tonelada que está entre os mais altos,<br />

segundo países <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino. (Fonte:<br />

El Observador).<br />

No total, o Uruguai exportou 9.080<br />

toneladas, 40,75% a mais do que no<br />

<strong>mesmo</strong> período anterior, quando foram<br />

exportadas 6.451 toneladas. Os principais<br />

mercados foram, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância,<br />

Mercosul, China e União Europeia<br />

(UE), concentrando 91% do total.<br />

Total <strong>de</strong> US$ 33,49 milhões, 23,5%<br />

a mais que no <strong>mesmo</strong> período anterior,<br />

quando foram exportados US$ 27,10<br />

milhões. O valor gerado pelos países<br />

que formam a UE, o Mercosul, junto<br />

com China, representa 91% do total<br />

exportado em dólares.<br />

O número <strong>de</strong> cabeças abatidas nos<br />

estabelecimentos habilitados foi <strong>de</strong><br />

565.725 com as <strong>ovelha</strong>s representando<br />

35% do total, os capões 13% do total<br />

e os cor<strong>de</strong>iros, 42% do total<br />

Cor<strong>de</strong>iro no prato do Hotel Deville<br />

Mais um prato saboroso e bem a cara<br />

da capital baiana <strong>é</strong> a aposta do chef<br />

Eminídio Silva, o ‘Novinho’, do Hotel<br />

Deville Salvador, e promete ser o maior<br />

sucesso no cardápio estrelado que<br />

compõe a “Coleção do Chef” do mês <strong>de</strong><br />

julho. O prato? Carr<strong>é</strong> <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>iro com<br />

Perfume <strong>de</strong> Cardamono, preparado a<br />

partir <strong>de</strong> um dos cortes mais apreciados<br />

<strong>de</strong> carne. Por estar junto ao osso, o corte<br />

escolhido pelo chef <strong>é</strong> macio e saboroso,<br />

al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar por seu alto valor<br />

nutritivo. Rica em fonte <strong>de</strong> proteínas,<br />

vitaminas do complexo B, ferro, cálcio<br />

e potássio, a carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro tem um<br />

sabor diferenciado. Para finalizar o prato,<br />

uma pequena porção <strong>de</strong> cardamomo<br />

- semente aromática originária da Índia<br />

Cor<strong>de</strong>iro no prato do Hotel Deville<br />

(foto: Marcello Fontes).<br />

- <strong>é</strong> acrescentada à receita, agregando<br />

perfume e aroma. Preço: R$ 63,00.<br />

40 O Berro - nº 168


O Berro - nº 168<br />

41


(Parte 1)<br />

Conjuntura<br />

Sucesso do Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura<br />

Leandro Ranolfi Girardi<br />

Como garantir que a produção <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro po<strong>de</strong> dar certo em<br />

pequenas proprieda<strong>de</strong>s? Esse era o <strong>de</strong>safio que foi enfrentado e resolvido,<br />

com sucesso, servindo hoje <strong>de</strong> exemplo para qualquer região do Brasil.<br />

Promover fartura <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fartura (SP) como geração<br />

<strong>de</strong> renda alternativa.<br />

Situada no sudoeste do Estado <strong>de</strong><br />

São Paulo, Fartura <strong>é</strong> conhecida pela<br />

gran<strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> da terra roxa <strong>de</strong> seus<br />

429 km 2 . A vocação agropecuária do<br />

município <strong>é</strong> inquestionável. Al<strong>é</strong>m da<br />

cruz que mostra a f<strong>é</strong> <strong>de</strong> seu povo, o<br />

brasão da cida<strong>de</strong> cont<strong>é</strong>m figuras <strong>de</strong><br />

peixes, do vale f<strong>é</strong>rtil e do arado, circundados<br />

por ramos <strong>de</strong> milho e caf<strong>é</strong>. Com<br />

uma população <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> 15 mil<br />

habitantes em 2000, quase 1/4 residia<br />

na zona rural, segundo dados <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 2007, da prefeitura.<br />

No final <strong>de</strong> 2003, os agricultores<br />

locais ainda se <strong>de</strong>dicavam às culturas<br />

herdadas dos seus antepassados, mas<br />

enfrentavam as incertezas do setor. Os<br />

investimentos na ovinocultura estavam<br />

basicamente nas mãos <strong>de</strong> pequenos<br />

produtores. Pouco a pouco a criação <strong>de</strong><br />

<strong>ovelha</strong>s acabou se tornando a ativida<strong>de</strong><br />

principal do município.<br />

Dos peixes para as <strong>ovelha</strong>s<br />

No final do s<strong>é</strong>culo XIX, uma pequena<br />

proprieda<strong>de</strong> chamada Fazenda do Ribeirão<br />

Fartura <strong>de</strong>u o nome ao município,<br />

em razão do curso d’água que cortava o<br />

vale, ao p<strong>é</strong> da serra que tinha a mesma<br />

<strong>de</strong>nominação. Ningu<strong>é</strong>m sabe quem batizou<br />

o ribeirão com o nome <strong>de</strong> Fartura,<br />

mas <strong>é</strong> certo que, ao fazer isso, traçou o<br />

<strong>de</strong>stino da cida<strong>de</strong> e do seu povo.<br />

Em 1870, o município era marcado<br />

pela fartura <strong>de</strong> peixes como cascudo,<br />

42 O Berro - nº 168


Indicadores sociais <strong>de</strong> Fartura (SP)<br />

Indicadores Fartura Estado, São Paulo<br />

Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH)(1) 0,772 0,822<br />

Ranking da localida<strong>de</strong> no IDH (São Paulo) 383 o. -<br />

Ranking da localida<strong>de</strong> no Brasil 1.525 o. -<br />

Renda per capita R$ 245,15 R$ 13.725,00<br />

População total 15.010 40.442.795<br />

Fonte: IBGE/PNUD. - (1) Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH): <strong>é</strong> um comparativo<br />

dos níveis <strong>de</strong> pobreza, alfabetização, educação, esperança <strong>de</strong> vida, natalida<strong>de</strong> e outros<br />

fatores entre os diversos países do mundo. O índice vem sendo usado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993 pelo<br />

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).<br />

piaba, bagre, lambari e mandi, que habitavam<br />

o ribeirão. “Loquear” no Fartura<br />

era buscar as locas dos cascudos, que<br />

rendiam saborosas sopas e fritadas. No<br />

vale privilegiado pela natureza, com solo<br />

extremamente generoso, cercado por<br />

serras ver<strong>de</strong>jantes e águas abundantes,<br />

proliferavam tamb<strong>é</strong>m a amiza<strong>de</strong>,<br />

a cordialida<strong>de</strong> e a hospitalida<strong>de</strong>. Muito<br />

mais que uma cida<strong>de</strong>, os <strong>de</strong>sbravadores<br />

e fundadores, italianos e espanhóis em<br />

sua maioria, moldaram o perfil <strong>de</strong> um<br />

povo i<strong>de</strong>alizador, que <strong>de</strong>monstrava muito<br />

apego à educação, à cultura, às artes,<br />

aos esportes, à agricultura e à pecuária.<br />

Al<strong>é</strong>m do excelente <strong>de</strong>sempenho das<br />

suas escolas, que eram ponto <strong>de</strong> referência<br />

na área da educação, Fartura<br />

se orgulhava <strong>de</strong> possuir uma das mais<br />

completas bibliotecas públicas do interior<br />

do Estado. O quadro acima resume<br />

seus principais indicadores econômicos<br />

e sociais em comparação com os válidos<br />

para o Estado <strong>de</strong> São Paulo:<br />

O município contava em 2000 com<br />

cinco vias <strong>de</strong> acesso rodoviário, o que<br />

lhe dava imensa vantagem logística<br />

para o escoamento <strong>de</strong> produtos. Fartura<br />

está a poucas horas <strong>de</strong> distância <strong>de</strong><br />

municípios da região Sul do Brasil com<br />

Primeiro barracão construído em Fartura.<br />

O Berro - nº 168<br />

43


tradição em ovinocultura <strong>de</strong> alta tecnologia,<br />

como Castro (PR), Curitibanos<br />

(SC), e Santana do Livramento (RS).<br />

Talvez essa proximida<strong>de</strong> tenha sido um<br />

dos motivos para os agricultores locais<br />

recorrerem à ovinocultura quando procuraram<br />

uma forma <strong>de</strong> complementar<br />

suas rendas.<br />

Rebanho original - O Brasil <strong>de</strong>tinha,<br />

em 2003, segundo a Associação <strong>de</strong><br />

Criadores <strong>de</strong> Ovinos, um rebanho <strong>de</strong><br />

14,5 milhões <strong>de</strong> ovinos, por<strong>é</strong>m continuava<br />

importando carne <strong>de</strong> outros países.<br />

Mesmo sendo um negócio economicamente<br />

rentável, a produção/ oferta <strong>de</strong><br />

carne ovina não aumentara na mesma<br />

proporção da <strong>de</strong>manda em todo o País.<br />

Esses dados justificavam a importância<br />

da ovinocultura como estrat<strong>é</strong>gia para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento rural, visto que essa<br />

era uma ativida<strong>de</strong> chave e po<strong>de</strong>ria gerar<br />

um gran<strong>de</strong> impulso na economia, caso<br />

a sua integração agroindustrial fosse<br />

a<strong>de</strong>quadamente localizada, conduzida<br />

e estimulada.<br />

No início <strong>de</strong> 2003, por meio da parceria<br />

entre Sebrae/SP, a Associação Paulista<br />

dos Criadores <strong>de</strong> Ovinos (Aspaco),<br />

o Sindicato Rural <strong>de</strong> Piraju, a Prefeitura<br />

Municipal <strong>de</strong> Fartura e a Casa da Agricultura,<br />

foi realizado um curso para o<br />

setor, que culminou com a formalização<br />

do Núcleo <strong>de</strong> Produtores <strong>de</strong> Ovinos<br />

Várias origens, buscando homogeneização.<br />

Primeiros lotes <strong>de</strong> ovinos no experimento.<br />

<strong>de</strong> Fartura, registrado posteriormente<br />

na Aspaco com 12 integrantes, participando<br />

do Projeto Cor<strong>de</strong>iro Paulista e<br />

tendo como presi<strong>de</strong>nte o produtor Willen<br />

Alexandre Garcia Bortotti.<br />

Em 2005, os produtores <strong>de</strong> Piraju<br />

a<strong>de</strong>riram ao Núcleo <strong>de</strong> Fartura, totalizando<br />

17 produtores. Após algumas<br />

reuniões, formalizou-se no Sebrae o<br />

grupo <strong>de</strong> ovinos <strong>de</strong> Piraju, que passou<br />

pelo programa <strong>de</strong> capacitação oferecido<br />

pelo Serviço Nacional <strong>de</strong> Aprendizagem<br />

Rural (Senar).<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 2006, por iniciativa<br />

<strong>de</strong> Bortotti, iniciaram-se reuniões <strong>de</strong><br />

trabalho com parceiros locais e representantes<br />

do Sebrae, pois os produtores<br />

tinham interesse em participar <strong>de</strong> um<br />

projeto audacioso, já que sabiam da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhoria sistêmica dos<br />

rebanhos. Então, criaram um projeto<br />

com prazo at<strong>é</strong> agosto <strong>de</strong> 2008.<br />

Levantamentos primários em junho<br />

<strong>de</strong> 2006 (tempo zero) que possibilitassem<br />

a apuração <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> referência<br />

foram efetuados no início do projeto.<br />

Como não po<strong>de</strong>ria ser diferente, as<br />

ações estabelecidas para o aprimoramento<br />

dos rebanhos foram compatíveis<br />

com a qualida<strong>de</strong> que os produtores<br />

vinham preconizando. A <strong>de</strong>scrição simplificada<br />

das metas zoot<strong>é</strong>cnicas po<strong>de</strong><br />

ser visualizada no quadro a seguir.<br />

No <strong>mesmo</strong> mês, por orientações do<br />

44 O Berro - nº 168


Evolução do Controle Zoot<strong>é</strong>cnico<br />

Descrição 2006 2008 Variação<br />

Matrizes, total 1400 3500 46%<br />

Animais connados (por mês) 69 158 129%<br />

Animais connados (ano) 828 1896 129%<br />

Fonte: Projeto Cor<strong>de</strong>iro Paulista<br />

Sebrae, foi realizado um diagnóstico<br />

com cada produtor para que fossem propostas<br />

ações baseadas em informações<br />

reais. Detectou-se que:<br />

- 70,6% dos produtores eram donos <strong>de</strong><br />

sua própria terra;<br />

- 64,7% haviam completado o ensino<br />

m<strong>é</strong>dio;<br />

- 29,4% estavam na ativida<strong>de</strong> havia<br />

mais <strong>de</strong> cinco anos;<br />

- 47% tinham controle parcial da proprieda<strong>de</strong>;<br />

- 47% tinham apenas um empregado.<br />

A partir <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006, o grupo<br />

foi inserido e monitorado pelo Sistema<br />

<strong>de</strong> Gestão Estrat<strong>é</strong>gica Orientada para<br />

Resultados (Sigeor), do Sebrae. Ações,<br />

por<strong>é</strong>m, vinham sendo <strong>de</strong>senvolvidas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 pelo Programa <strong>de</strong>nominado<br />

Sistema Agroindustrial Integrado (SAI),<br />

do Sebrae.<br />

Ovelhas - Bortotti havia incentivado<br />

junto com seu amigo, Júlio Mazetto,<br />

a profissionalização do setor porque<br />

acreditava no potencial da ovinocultura<br />

no Brasil, pois o País ainda importava<br />

ovinos para aten<strong>de</strong>r ao consumo interno,<br />

principalmente do Uruguai.<br />

Em julho <strong>de</strong> 2006, existia uma gran<strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong> a ser aproveitada. Se ele<br />

conseguisse melhorar a sua criação,<br />

não teria nenhuma dificulda<strong>de</strong> para<br />

comercializá-la com um excelente resultado<br />

financeiro. Ao <strong>mesmo</strong> tempo,<br />

havia ovinocultores que <strong>de</strong>sistiam da ativida<strong>de</strong>,<br />

porque ela não rendia o mínimo<br />

É necessário subir <strong>de</strong>grau por <strong>de</strong>grau para obter sucesso.<br />

O Berro - nº 168<br />

45


Hoje, cor<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> em carcaça.<br />

necessário para compensar os riscos.<br />

Bortotti sabia que precisava tomar<br />

uma <strong>de</strong>cisão e procurar convencer os<br />

outros criadores a seguirem o <strong>mesmo</strong><br />

caminho. Só não sabia ainda qual seria<br />

esse caminho. Havia uma margem muito<br />

gran<strong>de</strong> para a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />

da criação, o que po<strong>de</strong>ria ser conseguido<br />

por meio da incorporação <strong>de</strong> novas<br />

matrizes ao rebanho e da introdução<br />

<strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> manejo. Cada<br />

criador investiria tanto quanto os seus<br />

recursos pessoais permitissem.<br />

Ele vislumbrava tamb<strong>é</strong>m racionalizar<br />

custos por meio <strong>de</strong> uma parceria entre<br />

os ovinocultores. Essa não era uma<br />

tarefa trivial, por razões culturais. Nunca<br />

<strong>é</strong> fácil criar o associativismo efetivo<br />

on<strong>de</strong> não há exemplos anteriores bem<br />

sucedidos.<br />

Caso essa fosse a sua sugestão, e<br />

<strong>de</strong>sse errado, ele seria consi<strong>de</strong>rado<br />

responsável. Bortotti po<strong>de</strong>ria seguir<br />

o caminho da solução individual. Resolveria<br />

o seu problema pessoal <strong>de</strong><br />

ovinocultor, correndo os riscos <strong>de</strong> trilhar<br />

uma rota ainda <strong>de</strong>sconhecida, sozinho.<br />

Tendo sucesso nessa estrada ou não,<br />

serviria como farol para seus colegas,<br />

mostrando o caminho a ser seguido, ou<br />

a ser evitado. Po<strong>de</strong>ria, por outro lado,<br />

investir sua energia na formação <strong>de</strong><br />

uma parceria entre todos os produtores,<br />

procurando formas <strong>de</strong> racionalizar o<br />

processo. Para que isso acontecesse,<br />

precisaria convencê-los <strong>de</strong> que a associativismo<br />

traria menos in<strong>de</strong>pendência<br />

individual nas <strong>de</strong>cisões, mas criaria vantagens<br />

amplamente compensadoras.<br />

Avaliações - A avaliação do rebanho,<br />

antes do apoio da entida<strong>de</strong>, indicou<br />

que os animais apresentavam baixo<br />

<strong>de</strong>sempenho. Dos 178 ovinos avaliados<br />

no início da ativida<strong>de</strong>, 70% foram classificados<br />

entre regular e muito ruim e<br />

os restantes, 30%, foram consi<strong>de</strong>rados<br />

bons ou muito bons. Essas avaliações<br />

46 O Berro - nº 168


eferiam-se a características raciais<br />

e produtivas. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da<br />

raça, levou-se em consi<strong>de</strong>ração a ida<strong>de</strong>,<br />

estrutura óssea, conformação, úbere,<br />

<strong>de</strong>feitos e condição corporal. Com<br />

base nesses quesitos, os ovinos foram<br />

classificados <strong>de</strong> 1 a 10, sendo que <strong>de</strong><br />

9 a 10 eram consi<strong>de</strong>rados muito bons,<br />

<strong>de</strong> 7 a 8, bons, <strong>de</strong> 5 a 6, regulares, <strong>de</strong><br />

3 a 4, ruins e <strong>de</strong> s1 a 2, muito ruins. Os<br />

animais muito ruins foram <strong>de</strong>scartados<br />

imediatamente, os ruins foram avaliados<br />

em termos reprodutivos.<br />

Já as outras categorias foram avaliadas<br />

quanto à produção. Al<strong>é</strong>m da melhoria<br />

na qualida<strong>de</strong> da carcaça dos animais<br />

por meio do aprimoramento gen<strong>é</strong>tico<br />

que vinha sendo realizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999,<br />

os produtores logo perceberam que<br />

precisavam evoluir como associação organizada,<br />

para que pu<strong>de</strong>ssem apren<strong>de</strong>r<br />

a colaborar entre si e, quem sabe, at<strong>é</strong><br />

comercializar a produção em conjunto.<br />

Isso tudo, aliado ao medo <strong>de</strong> continuar<br />

fracassando na ativida<strong>de</strong>, levou Willen<br />

Bortotti a buscar o apoio do Sebrae.<br />

Afirmou, na ocasião: “Os resultados<br />

não eram suficientes para garantir a sustentabilida<strong>de</strong><br />

da ativida<strong>de</strong> (828 animais<br />

confinados por ano). Os custos (R$ 0,60<br />

por animal/dia) eram elevados para o<br />

nível econômico-social dos produtores<br />

que apresentavam renda per capita <strong>de</strong><br />

pouco mais <strong>de</strong> R$ 215,00”.<br />

Embora a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda -<br />

aliada à falta <strong>de</strong> recursos para o investimento<br />

- tivesse tornado a ovinocultura<br />

o foco principal <strong>de</strong> atuação, a comercialização<br />

individual ainda não garantia<br />

a sobrevivência da ativida<strong>de</strong>. Alguns<br />

produtores chegaram a <strong>de</strong>sistir com o<br />

<strong>de</strong>correr dos anos. A questão a <strong>de</strong>cidir<br />

era qual seria a maneira mais rápida <strong>de</strong><br />

reduzir custos antes que mais produtores<br />

<strong>de</strong>sistissem da ativida<strong>de</strong>.<br />

O gargalo estava na comercialização;<br />

na forma <strong>de</strong> chegar at<strong>é</strong> uma lucrativa<br />

comercialização - que servisse para<br />

todos os interessados <strong>de</strong> Fartura. Foi<br />

nesse momento que surgiu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

cooperativar, <strong>de</strong> produzir comunitariamente.<br />

(ver Parte 2, a seguir).<br />

Leandro Ranolfi Girardi - Coleção<br />

Histórias <strong>de</strong> Sucesso - Sebrae,<br />

Brasília (DF), 2007.<br />

Panorama<br />

Expovinos <strong>de</strong> Araçatuba<br />

paga aos apresentadores<br />

Em julho acontece a XVI EXPOVI-<br />

NOS no Recinto <strong>de</strong> Exposições Clibas<br />

<strong>de</strong> Almeida Prado, Araçatuba/SP, fazendo<br />

parte do ranking “Cabanha do Ano” da<br />

ASPACO para todas as raças presentes.<br />

Este ano o Siran - Sindicato Rural da Alta<br />

Noroeste, que realiza a Exposição Agropecuária<br />

<strong>de</strong> Araçatuba, estará novamente<br />

oferecendo prêmios em dinheiro aos<br />

apresentadores <strong>de</strong> animais. Os valores<br />

são: R$ 10,00 (aos 3os. <strong>lugar</strong>es), R$<br />

15,00 (aos 2os. <strong>lugar</strong>es) e R$ 20,00 (aos<br />

1os. <strong>lugar</strong>es) nas categorias individuais<br />

<strong>de</strong> todas as raças ovinas presentes.<br />

Você sabia...?<br />

... que a música rock<br />

faz que as t<strong>é</strong>rmitas<br />

mastiguem duas vezes<br />

mais rapidamente?<br />

Você sabia...?<br />

... que um camaleão,<br />

<strong>mesmo</strong> cego, muda<br />

suas cores para combinar<br />

com o meio ambiente?<br />

Você sabia...?<br />

... que as <strong>cabra</strong>s em<br />

pastoreio, po<strong>de</strong>m gastar<br />

<strong>de</strong> 7 a 10 horas<br />

por dia nesta ativida<strong>de</strong>?<br />

O Berro - nº 168<br />

47


Panorama<br />

Alto Camaquã vai entregar<br />

cor<strong>de</strong>iro e cabrito<br />

Dentro <strong>de</strong> uma parceria que iniciou,<br />

efetivamente, em abril, o Shopping da<br />

Carne, em Porto Alegre, passou a comercializar<br />

carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro proce<strong>de</strong>nte<br />

da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Produtores e Empreen<strong>de</strong>dores<br />

do Alto Camaquã. Já em<br />

agosto, a carne será enviada por produtores<br />

vinculados à Associação Comunitária<br />

<strong>de</strong> Moradores e Pequenos<br />

Produtores Rurais da Toca, Lixiguana,<br />

Coxilha das Flores, Pedreira e Cerro<br />

do Malcriado. A presi<strong>de</strong>nte da associação,<br />

Gilda Mara Soares Carvalho, comenta<br />

que cada associação <strong>de</strong> produtores<br />

repassará a carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro a<br />

cada mês. A <strong>de</strong>manda mínima <strong>é</strong> <strong>de</strong> 15<br />

cor<strong>de</strong>iros por semana para cada associação.<br />

Outro assunto <strong>de</strong>batido na reunião<br />

foi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comercialização<br />

da carne <strong>de</strong> cabrito. Ativida<strong>de</strong> tradicional<br />

nas localida<strong>de</strong>s abrangidas pela<br />

associação, a caprinocultura tamb<strong>é</strong>m<br />

<strong>é</strong> valorizada <strong>de</strong>ntro das ações do Alto<br />

Camaquã. A presi<strong>de</strong>nte da associação<br />

informa que, no mês <strong>de</strong> agosto, haverá<br />

uma reunião específica para discutir a<br />

comercialização <strong>de</strong>sse produto.<br />

Dorper tem Programa <strong>de</strong> Certificação<br />

A ABCDorper possui um programa<br />

<strong>de</strong> certificação para carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>. Esta certificação<br />

<strong>é</strong> a primeira das raças Dorper e White<br />

Dorper, um marco para ovinocultura, e<br />

origem do programa pioneiro <strong>de</strong> certificação<br />

<strong>de</strong> carnes <strong>de</strong> Cruza Dorper da<br />

VPJ Alimentos, marca lí<strong>de</strong>r em carnes<br />

nobres <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro. O programa adotado<br />

pela VPJ consiste em um formato<br />

atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> parcerias com produtores<br />

<strong>de</strong> todo o País, on<strong>de</strong> a empresa disponibiliza<br />

t<strong>é</strong>cnicos para a orientação do<br />

manejo, reprodutores melhoradores<br />

a preços acessíveis e a garantia <strong>de</strong><br />

compra da produção atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> contrato<br />

firmado.<br />

Todos os procedimentos são avaliados<br />

em um padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que, se<br />

atendido pelo produtor, paga-se premiações<br />

pelo produto. O resultado <strong>de</strong> todo<br />

esse processo <strong>é</strong> uma carne com origem<br />

e qualida<strong>de</strong> garantidas, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> manter<br />

todas as suas proprieda<strong>de</strong>s e sabor,<br />

certificados pelo Selo Cor<strong>de</strong>iro Dorper<br />

Certificado que será auditado pela Aus-<br />

-Qual atrav<strong>é</strong>s da Genesis Inspeções<br />

– Brasil Certificação, com o apoio da<br />

ABCDorper. Este <strong>é</strong> o primeiro passo rumo<br />

a uma nova realida<strong>de</strong> para a raça<br />

Dorper e a ovinocultura no Brasil. Um<br />

momento histórico e <strong>de</strong> reconhecimento<br />

ao trabalho dos criadores e toda a ca<strong>de</strong>ia<br />

produtiva.<br />

Você sabia...?<br />

... que os caprinos<br />

geralmente dormem<br />

em duplas, encostandose<br />

uns aos outros pelos<br />

flancos? Normalmente<br />

adotam essa posição<br />

em <strong>de</strong>cúbito esternal.<br />

Você sabia...?<br />

... que os caprinos<br />

bebem pouca água? O<br />

volume ingerido<br />

<strong>é</strong> aproximadamente<br />

<strong>de</strong> 188 cc/kg/24 horas?<br />

Só o camelo bebe menos<br />

água, 185cc/kg/24horas.<br />

Você sabia...?<br />

... que na <strong>é</strong>poca do rei<br />

Davi o queijo era muito<br />

valioso? Ele premiou<br />

seu capitão vitorioso<br />

em batalhas contra Saul<br />

com <strong>de</strong>z queijos?<br />

(1 Samuel 17:18).<br />

48 O Berro - nº 168


TOSQUIADEIRAS<br />

PARA OVINOS<br />

TELEVENDAS: (19) 3233-5370<br />

LOJA VIRTUAL:www.elantra<strong>de</strong>.com.br<br />

Leilão transmitido pelo Canal C Rural<br />

O Berro - nº 168<br />

49


(Parte 2)<br />

Conjuntura<br />

O Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura e o<br />

confinamento comunitário<br />

Leandro Ranolfi Girardi<br />

A união <strong>de</strong> produtores com objetivos comuns <strong>é</strong> uma força incrível no setor<br />

rural e po<strong>de</strong> transformar a pobreza e a dificulda<strong>de</strong> em<br />

riqueza e facilida<strong>de</strong>.<br />

Os pioneiros instalaram o primeiro confinamento comunitário.<br />

Uma <strong>de</strong>cisão aparentemente óbvia<br />

em termos <strong>de</strong> associativismo foi tomada<br />

em julho <strong>de</strong> 2006 pelo grupo: a realização<br />

<strong>de</strong> um confinamento comunitário.<br />

Essa iniciativa traria a vantagem <strong>de</strong><br />

aproximar ainda mais os produtores,<br />

proporcionando o fortalecimento da<br />

ovinocultura na região e garantindo o<br />

sustento não só das famílias dos 17<br />

empresários rurais como tamb<strong>é</strong>m das<br />

outras 14 famílias que forneciam a<br />

mão-<strong>de</strong>-obra necessária para o setor.<br />

Gran<strong>de</strong>s entusiastas locais incentivados<br />

por Bortotti apoiaram a iniciativa, como<br />

o prefeito <strong>de</strong> Fartura, Jos<strong>é</strong> da Costa, o<br />

prefeito <strong>de</strong> Piraju, Francisco Rodrigues,<br />

e os presi<strong>de</strong>ntes dos sindicatos rurais,<br />

Jos<strong>é</strong> Rubens <strong>de</strong> Oliveira e Ronieri Jos<strong>é</strong><br />

Mazetto.<br />

Implantação - A implantação do confinamento<br />

comunitário tornava possível<br />

a busca por um padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

regional para aten<strong>de</strong>r ao mercado<br />

consumidor e aumentar o faturamento<br />

dos produtores, tornando a ativida<strong>de</strong><br />

compensadora. Consistia em um galpão<br />

com divisórias para que os animais fossem<br />

separados <strong>de</strong> acordo com as faixas<br />

etárias e os níveis <strong>de</strong> terminação.<br />

50 O Berro - nº 168


Cada produtor acompanhava o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

dos seus animais e era<br />

responsável pela sua i<strong>de</strong>ntificação no<br />

lote. Essa ação, por sua vez, serviu<br />

como estímulo para uma continuida<strong>de</strong><br />

nas ativida<strong>de</strong>s em conjunto <strong>de</strong> todos os<br />

produtores, sempre baseadas em <strong>de</strong>cisões<br />

coletivas. Um aspecto interessante<br />

era que o confinamento comunitário proporcionava<br />

um associativismo voluntário.<br />

A participação no confinamento não<br />

exigiu meios legais para que os produtores<br />

se mantivessem comprometidos.<br />

Houve um corporativismo espontâneo.<br />

Os produtores percebiam que se<br />

fortaleciam a cada conquista, agregando<br />

tamb<strong>é</strong>m novos integrantes e o respeito<br />

<strong>de</strong> empresários locais.<br />

Com os produtores organizando-se,<br />

surgiu a <strong>de</strong>manda pelo aumento da<br />

produção, mas poucos tinham conhecimento<br />

dos caminhos para atingir esse<br />

objetivo. Utilizavam práticas que haviam<br />

aprendido com seus antepassados, e<br />

que já não levavam mais a resultados<br />

satisfatórios. Ao <strong>mesmo</strong> tempo em que<br />

o "como aumentar o rebanho" preocupava,<br />

a busca pelo volume <strong>de</strong> produção<br />

motivava cada vez mais a utilizar novas<br />

t<strong>é</strong>cnicas. No final do primeiro semestre<br />

<strong>de</strong> 2006, foi estruturado o Projeto<br />

Desenvolvimento da Ovinocultura em<br />

Confinamento Comunitário na Região<br />

<strong>de</strong> Fartura e Piraju (SP). Nessa <strong>é</strong>poca<br />

a preocupação com a renda e a produtivida<strong>de</strong><br />

era tamanha que os resultados<br />

intermediários e finais esperados seriam<br />

mensurados por três fatores:<br />

- pelo aumento do faturamento;<br />

- pelo aumento do ganho diário <strong>de</strong> peso<br />

na recria;<br />

- e pelo aumento no número <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iros<br />

vendidos at<strong>é</strong> agosto <strong>de</strong> 2008.<br />

A carência <strong>de</strong> informações por parte<br />

dos produtores fez com que a maioria<br />

das ações realizadas ou em estruturação<br />

tivesse foco em inovação e<br />

tecnologia. A situação dos rebanhos e<br />

a falta <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> dos animais não<br />

permitiram que os ovinocultores fossem<br />

muito longe. Previa-se um árduo<br />

trabalho para a<strong>de</strong>quá-los ao mercado o<br />

mais rápido possível. Exercendo o seu<br />

papel <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r, Bortotti solicitou o apoio<br />

No início, surgiam animais <strong>de</strong> várias tendências.<br />

O Berro - nº 168<br />

51


coletiva. Essas capacitações eram<br />

necessárias, mas não suficientes para<br />

garantir o sucesso financeiro. Os custos<br />

do confinamento eram altos para os<br />

produtores (R$ 0,60 por animal/dia),<br />

<strong>mesmo</strong> quando rateados entre eles. O<br />

produtor sempre sentia a tentação <strong>de</strong><br />

voltar a trabalhar sozinho, como seus<br />

pais e avós haviam feito no passado.<br />

A ativida<strong>de</strong> corria novamente o risco<br />

<strong>de</strong> não <strong>de</strong>slanchar. Depois <strong>de</strong> todo o<br />

Cada dia <strong>é</strong> um novo aprendizado.<br />

esforço conjunto, a capacitação e a<br />

preparação para o mercado po<strong>de</strong>riam<br />

ter sido em vão.<br />

Parcerias: alicerce do<br />

empreen<strong>de</strong>dorismo<br />

O apoio das entida<strong>de</strong>s parceiras –<br />

Prefeitura <strong>de</strong> Fartura, Prefeitura <strong>de</strong> Piraju,<br />

Sindicato Rural <strong>de</strong> Fartura, Sindicato<br />

Rural <strong>de</strong> Piraju e Associação Paulista<br />

Custo <strong>de</strong> Prodição M<strong>é</strong>dio (R$/Animal/Dia)<br />

R$<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0,60<br />

Individual -<br />

Parceiras<br />

Fonte: Projeto Cor<strong>de</strong>iro Paulista.<br />

0,41<br />

Coletivo +<br />

Parceiras<br />

0,19<br />

Economia<br />

Coletiva<br />

52 O Berro - nº 168


dos Criadores <strong>de</strong> Ovinos (Aspaco) – foi<br />

significativo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do projeto e<br />

<strong>de</strong>cisivo a partir <strong>de</strong> 2007. As ações para<br />

aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s dos produtores<br />

iam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a reforma da infraestrutura<br />

do confinamento e do recinto <strong>de</strong> exposições<br />

(para a divulgação do grupo) at<strong>é</strong> o<br />

custeio parcial do confinamento, já que<br />

apenas parte dos custos com a alimentação<br />

era rateada pelos produtores. O<br />

restante, como água, energia, alimentação<br />

e mão-<strong>de</strong>-obra do confinamento,<br />

era custeado por parcerias locais, como<br />

forma <strong>de</strong> apoio e incentivo.<br />

Apesar da realização do confinamento<br />

comunitário, a base do rebanho ainda<br />

era precária e a mão-<strong>de</strong>-obra, na sua<br />

maioria, <strong>de</strong>spreparada ou inexistente.<br />

Os ovinocultores <strong>de</strong>cepcionavam-se<br />

com a produtivida<strong>de</strong> baixa, provocada<br />

pela falta <strong>de</strong> conhecimento e pelo <strong>de</strong>spreparo.<br />

Era importante buscar novos<br />

parceiros que pu<strong>de</strong>ssem preparar trabalhadores<br />

para o setor.<br />

Como <strong>de</strong> costume, o pioneirismo foi<br />

novamente característica marcante do<br />

grupo. Com o apoio da Prefeitura <strong>de</strong><br />

Fartura, conseguiram construir um laboratório<br />

para exame andrológico e <strong>de</strong><br />

OPG (verminose) próximo ao confinamento<br />

comunitário, o que proporcionou<br />

economia na realização <strong>de</strong> exames<br />

vitais para a melhoria do rebanho.<br />

A luta para o grupo se manter na<br />

ativida<strong>de</strong> sempre foi árdua e constante,<br />

mas ainda era necessário mostrar para o<br />

mercado o resultado <strong>de</strong> tanto empenho<br />

e <strong>de</strong>dicação. Como Bortotti relembrou:<br />

“A ovinocultura na nossa região sempre<br />

existiu, mas, como em todos os <strong>lugar</strong>es,<br />

não havia uma regularida<strong>de</strong> em produção<br />

<strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iros e, principalmente,<br />

um manejo a<strong>de</strong>quado com o rebanho<br />

e união entre os produtores. Depois <strong>de</strong><br />

algumas reuniões entre os produtores<br />

do município e a Aspaco, formamos o<br />

Núcleo <strong>de</strong> Criadores <strong>de</strong> Ovinos <strong>de</strong> Fartura,<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possuirmos uma<br />

união maior e, com um apoio da prefeitura,<br />

nos foi cedido um barracão, no qual<br />

fizemos um confinamento comunitário<br />

para cor<strong>de</strong>iros. A partir daí, começamos<br />

a observar que o trabalho ia muito bem,<br />

mas apresentava uma dificulda<strong>de</strong>: a<br />

qualida<strong>de</strong> dos animais abatidos e o manejo<br />

do rebanho <strong>de</strong> nossos produtores”.<br />

Nesse período, a nova preocupação era<br />

como se promover para o mercado.<br />

A solução que originou<br />

novas oportunida<strong>de</strong>s<br />

Com o tempo, al<strong>é</strong>m do confinamento<br />

comunitário, e tamb<strong>é</strong>m fruto <strong>de</strong> parcerias,<br />

novas oportunida<strong>de</strong>s e novos<br />

nichos <strong>de</strong> mercado começaram a aparecer.<br />

A participação exitosa do grupo<br />

em concursos <strong>de</strong> avaliações <strong>de</strong> carcaça<br />

fez com que a região começasse a ficar<br />

conhecida. Bortotti reconheceu: “Após<br />

muitas reuniões com profissionais do<br />

Sebrae e SAI, elaboramos um projeto<br />

<strong>de</strong> longo prazo, com o doutor Francisco<br />

Manoel Nogueira Fernan<strong>de</strong>s, t<strong>é</strong>cnico<br />

da Aspaco, com o objetivo <strong>de</strong> melhorar<br />

as carcaças <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro, o manejo dos<br />

nossos rebanhos e <strong>de</strong> ajudar os produtores<br />

a se tecnificarem cada vez mais”.<br />

Como fruto da maior visibilida<strong>de</strong>,<br />

surgiram os leilões durante as feiras<br />

agropecuárias regionais, alavancando<br />

as negociações. Outras ações executadas<br />

foram a realização <strong>de</strong> eventos<br />

gastronômicos e leilões comerciais, que<br />

acabaram por <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma maior<br />

divulgação do projeto e estimular o consumo<br />

da carne ovina, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> promover<br />

o fortalecimento do grupo <strong>de</strong> produtores.<br />

O mercado já não assustava tanto os<br />

empresários rurais, pois a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

O Berro - nº 168<br />

53


do Sebrae/SP e, com isso, teve início<br />

a capacitação sobre aspectos básicos<br />

<strong>de</strong> sanida<strong>de</strong> e nutrição. Foi um período<br />

difícil, pois alguns produtores não visualizavam<br />

uma saída para as armadilhas<br />

da ativida<strong>de</strong> rural, já que não entendiam<br />

o porquê <strong>de</strong> o mercado não aceitar os<br />

seus produtos.<br />

Muita atenção à alimentação.<br />

Novida<strong>de</strong>s - O grau <strong>de</strong> participação<br />

do grupo nas capacitações foi surpreen<strong>de</strong>nte.<br />

Aproveitando o entusiasmo,<br />

outros itens foram agregados ao curso,<br />

como o aprimoramento dos processos<br />

<strong>de</strong>ntro da porteira e o domínio <strong>de</strong> novas<br />

tecnologias produtivas, pois eram tão<br />

importantes quanto as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> ovinocultura.<br />

De fato, o grupo tinha muito<br />

que melhorar, por<strong>é</strong>m os caminhos apareciam<br />

mais claros, porque agora todos<br />

conseguiam perceber on<strong>de</strong> estavam os<br />

seus pontos fracos.<br />

Foi durante uma das capacitações<br />

oferecidas pelo Sebrae que o consultor<br />

Francisco Manoel Nogueira Fernan<strong>de</strong>s<br />

esclareceu sobre as características <strong>de</strong><br />

adaptabilida<strong>de</strong> e rusticida<strong>de</strong> do animal<br />

ao clima tropical que po<strong>de</strong>riam ser convertidas<br />

em lucrativida<strong>de</strong>, caso fossem<br />

bem exploradas.<br />

Mostrou que o mercado <strong>de</strong> carne<br />

ovina <strong>é</strong> crescente tanto no Brasil como<br />

no exterior e que a tendência <strong>é</strong> que aumente<br />

o seu consumo per capita anual<br />

(<strong>de</strong> 657 gramas, em 2005, para 810<br />

gramas, em 2006). Assim, os efetivos <strong>de</strong><br />

ovinos precisariam ser aumentados rapidamente<br />

para diminuir as importações<br />

e cobrir as ociosida<strong>de</strong>s existentes nos<br />

abatedouros e frigoríficos. De acordo<br />

com o especialista, existia <strong>de</strong>manda no<br />

País para todo tipo <strong>de</strong> mercado: frigoríficos,<br />

abatedouros e leilões <strong>de</strong> elite.<br />

A<strong>de</strong>quação - A iniciativa sofreu durante<br />

anos para melhorar a qualida<strong>de</strong><br />

dos animais, já que os envolvidos <strong>de</strong>sconheciam<br />

a tecnologia apropriada para<br />

tal realização.<br />

Não era simplesmente juntar os<br />

animais, tratar <strong>de</strong> qualquer forma e<br />

ven<strong>de</strong>r. As experiências mostravam que<br />

as racionalizações <strong>de</strong> custos e <strong>de</strong> produção<br />

continuariam a ser necessárias,<br />

por<strong>é</strong>m não mais <strong>de</strong> forma individual e<br />

sim coletiva.<br />

54 O Berro - nº 168


O Berro - nº 168<br />

55


ASPACO com nova Diretoria<br />

Após a aprovação do balanço e resultados<br />

econômicos, os sócios presentes<br />

votaram por aclamação na única<br />

chapa inscrita na secretaria da associação,<br />

sob protocolo em 05/11/2012.<br />

Assim, a nova Diretoria da ASPACO<br />

conta com: Bruno Garcia Moreira (Presi<strong>de</strong>nte),<br />

Alexandre Pinto C<strong>é</strong>sar (1° Vice<br />

Presi<strong>de</strong>nte), Fábio Cotrin Rodrigues<br />

(2° Vice Presi<strong>de</strong>nte), Bolivar Figueiredo<br />

Silva Filho (1° Secretário), Giselle<br />

Par<strong>de</strong>lli (2° Secretário), Francisco<br />

Panorama<br />

Manoel N. Fernan<strong>de</strong>s (1° Tesoureiro),<br />

Carmen Cecília Sicherle (2° Tesoureiro),<br />

Márcio Armando G. <strong>de</strong> Oliveira (Diretor<br />

T<strong>é</strong>cnico), Renato Mantovani (Diretor<br />

<strong>de</strong> Eventos) e Jos<strong>é</strong> Maurício L. V.<br />

Guimarães (Diretor <strong>de</strong> Núcleos Regionais).<br />

Arnaldo dos Santos Vieira Filho,<br />

Andr<strong>é</strong> <strong>de</strong> Camargo Assumpção e Claudia<br />

Boucinhas são os membros efetivos<br />

do Conselho Fiscal. Seus suplentes<br />

são D<strong>é</strong>cio Ribeiro dos Santos, Jos<strong>é</strong><br />

<strong>de</strong> Agrela e Thiago C<strong>é</strong>sar Ribeiro.<br />

Piauí terá mais seis unida<strong>de</strong>s na Rota do Cor<strong>de</strong>iro<br />

As instalações serão construídas em Jacobina,<br />

Paulistana e Dom Inocêncio. Nos<br />

dois últimos anos, meio milhão <strong>de</strong> reais foram<br />

investidos no estado. A ovinocaprinocultura<br />

ganha novo incentivo com ações da Rota<br />

do Cor<strong>de</strong>iro. Seis unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transferência<br />

<strong>de</strong> tecnologia <strong>de</strong> ovino e caprino serão<br />

construídas nessas regiões. Segundo Octávio<br />

Rossi, pesquisador da Embrapa, o programa<br />

Rota do Cor<strong>de</strong>iro <strong>é</strong> um projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da caprinocultura e ovinocultura.<br />

No Piauí, trabalha-se a capacitação <strong>de</strong><br />

t<strong>é</strong>cnicos e produtores, al<strong>é</strong>m todo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da ca<strong>de</strong>ia produtiva, referente à<br />

parte <strong>de</strong> comercialização e beneficiamento<br />

da carne <strong>de</strong> caprinos e ovinos.<br />

“Uma parte da capacitação <strong>é</strong> feita na Embrapa,<br />

são os t<strong>é</strong>cnicos que vão a campo para<br />

terem contato direto com os produtores. A<br />

segunda parte e feita entre esses t<strong>é</strong>cnicos e<br />

produtores já <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s”,<br />

explica. Diz Romualdo Ramos, analista da<br />

Co<strong>de</strong>vasf, que a Companhia, “al<strong>é</strong>m da construção<br />

<strong>de</strong> seis unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong><br />

tecnologia <strong>de</strong> caprinos e ovinos, irá montar<br />

tamb<strong>é</strong>m uma central <strong>de</strong> terminação, que beneficiará<br />

os municípios <strong>de</strong> Jacobina, Paulistana<br />

e Dom Inocêncio”.<br />

REBANHOS: RAFA NETO –FRC & CACIMBINHA DA RAFA<br />

Gen<strong>é</strong>tica <strong>de</strong> Peso e Campeões<br />

Carpa Te Imperator<br />

Gran<strong>de</strong> Campeão<br />

Sertânia/PE 2012<br />

Gran<strong>de</strong> Campeão<br />

Parnamirim/PE 2012<br />

Jonas 003 (Cigano)<br />

Campeão Nacional Bo<strong>de</strong> Jovem<br />

Sertânia/PE 2012<br />

Gran<strong>de</strong> Campeão<br />

Dormentes/PE 2012<br />

Gran<strong>de</strong> Campeão Santa Maria<br />

da Boa Vista/PE 2012<br />

Arcôncio Lins <strong>de</strong> A. Filho / Arcôncio Lins <strong>de</strong> A. Neto - Sertânia-Pe<br />

arconcioneto@gmail.com<br />

(87) 9105-4343 - 3841-1162<br />

56 O Berro - nº 168


A busca <strong>de</strong> carcaças homogêneas<br />

aumenta a lucrativida<strong>de</strong>.<br />

Já que todos os animais preenchiam<br />

o <strong>mesmo</strong> espaço (confinamento) e a<br />

chance <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> doenças nesse<br />

tipo <strong>de</strong> manejo aumentaria, buscou-<br />

-se então a qualida<strong>de</strong> do manejo e dos<br />

animais.<br />

Mercado - Outra oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectada<br />

a partir <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007 estava<br />

relacionada com o mercado. Os produtores<br />

não tinham informações suficientes<br />

para enten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas existentes<br />

e assim po<strong>de</strong>r i<strong>de</strong>ntificar os melhores<br />

negócios regionais. Não sabiam ainda<br />

em quais nichos po<strong>de</strong>riam atuar.<br />

Para Willen Bortotti e <strong>de</strong>mais produtores,<br />

a falta <strong>de</strong> padronização da carcaça<br />

ovina dificultava a comercialização.<br />

Dessa forma, a utilização <strong>de</strong> uma gestão<br />

competitiva era necessária para atingir<br />

o mercado consumidor, os frigoríficos.<br />

Tamb<strong>é</strong>m era fundamental que se reunissem<br />

com freqüência para controlar a realização<br />

do projeto e <strong>de</strong>finir as mudanças<br />

necessárias em <strong>de</strong>corrência do mercado.<br />

Entusiasmado, o grupo dos 17 produtores<br />

começou a utilizar tecnologias <strong>de</strong><br />

produção e t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> gestão em seus<br />

criatórios. Ficou claro que 2007 seria<br />

mais um ano <strong>de</strong> transformações.<br />

Meses <strong>de</strong>pois, o grupo já tinha alcançado<br />

gran<strong>de</strong> evolução em termos<br />

qualitativos quando comparado ao início<br />

da ativida<strong>de</strong>.<br />

O salto na qualida<strong>de</strong> era notável,<br />

principalmente quando se comparava<br />

a porcentagem <strong>de</strong> animais muito ruins<br />

e bons <strong>de</strong> 1999 (27% e 28%, respectivamente)<br />

com os valores <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />

2007 (3% e 55%, respectivamente). A<br />

cada dia que passava o produtor sentia<br />

no bolso o resultado positivo da mudança<br />

em suas proprieda<strong>de</strong>s e no manejo dos<br />

seus animais. Ainda assim, a ativida<strong>de</strong><br />

continuava correndo riscos <strong>de</strong> não ser<br />

compensadora, porque o custo <strong>de</strong> produção<br />

era alto <strong>de</strong>mais.<br />

A única saída para se manterem<br />

competitivos e permanecerem no ramo<br />

era se capacitarem cada vez mais em<br />

gestão <strong>de</strong> negócios e buscarem novos<br />

produtores que unissem forças e<br />

se comprometessem a agir <strong>de</strong> forma<br />

%<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Evolução Qualitativa dos Rebanhos<br />

55<br />

28<br />

29 27 27<br />

14<br />

2<br />

9<br />

6<br />

3<br />

Muito bom Bom Regular Ruim Muito ruim<br />

1999<br />

2007<br />

O Berro - nº 168<br />

57


seus animais havia melhorado. Nesse<br />

momento, os produtores enten<strong>de</strong>ram<br />

que a busca pela quantida<strong>de</strong> era essencial<br />

para abastecer o mercado regional.<br />

Por essa razão, os leilões comerciais<br />

se tornaram estrat<strong>é</strong>gicos, incentivando<br />

a entrada <strong>de</strong> mais produtores rurais<br />

na ativida<strong>de</strong> e consolidando uma nova<br />

opção <strong>de</strong> mercado.<br />

De Fartura para o<br />

estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

Com o apoio do Sebrae e <strong>de</strong> parceiros,<br />

o confinamento comunitário <strong>de</strong><br />

Fartura foi o primeiro a ser implantado<br />

em todo o Estado <strong>de</strong> São Paulo e serviu<br />

como referência para multiplicar tecnologias.<br />

Criadores da região levaram a<br />

iniciativa para outros grupos <strong>de</strong> produtores<br />

em diferentes municípios.<br />

Novos confinamentos comunitários<br />

foram formados no Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo. A competitivida<strong>de</strong> do grupo <strong>de</strong><br />

produtores aumentou. As parcerias locais<br />

se fortaleceram e novos parceiros<br />

se aproximaram.<br />

Animais <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> na região.<br />

O pensar em conjunto e o associativismo<br />

foram a razão do seu sucesso. Os<br />

treinamentos, as consultorias tecnológicas<br />

e a participação em feiras e eventos<br />

tamb<strong>é</strong>m foram ressaltados pelo grupo.<br />

Realizaram-se novas ações com foco<br />

em corporativismo, gestão, mercado e<br />

tecnologia. Com elas, houve aumento<br />

da produtivida<strong>de</strong> por meio do melhoramento<br />

gen<strong>é</strong>tico. Mais produtores da<br />

região se interessaram pelo projeto. O<br />

faturamento anual cresceu em <strong>de</strong>corrência<br />

da exploração <strong>de</strong> novos mercados e<br />

da melhoria da qualida<strong>de</strong> do rebanho.<br />

Com o apoio do Sebrae fomentou-se a<br />

presença dos ovinocultores da região<br />

em feiras agropecuárias para divulgação<br />

do projeto e dos resultados atingidos.<br />

Manter os produtores unidos, por<strong>é</strong>m,<br />

principalmente com a entrada <strong>de</strong> novos<br />

investidores no mercado, continuava<br />

sendo um <strong>de</strong>safio futuro para o sucesso<br />

do empreendimento.<br />

Todas essas conquistas ainda não<br />

bastavam e o projeto não po<strong>de</strong>ria parar<br />

por aqui. Com a experiência real e<br />

in<strong>é</strong>dita no Estado adquirida a partir do<br />

58 O Berro - nº 168


Fêmeas já em programação para o sistema <strong>de</strong> produção.<br />

ensinamento dos conceitos e t<strong>é</strong>cnicas<br />

empregados no confinamento comunitário,<br />

Willen Bortotti ressaltou: “Temos<br />

certeza <strong>de</strong> que este projeto será inovador<br />

na ovinocultura regional e, sem<br />

dúvida, muitas outras vitórias serão<br />

conquistadas”.<br />

A corrida mercadológica, sempre presente<br />

na estrat<strong>é</strong>gia do grupo, apontou<br />

para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova pesquisa<br />

<strong>de</strong> mercado regional com o apoio<br />

<strong>de</strong> parceiros, que produzissem um diagnóstico<br />

capaz <strong>de</strong> mensurar a evolução<br />

dos produtores <strong>de</strong>ntro do projeto. Em<br />

seguida, a meta seria realizar "bench-<br />

-marking" em outros confinamentos<br />

comunitários, reuniões estrat<strong>é</strong>gicas para<br />

arregimentar novos produtores e implantar<br />

mais confinamentos comunitários na<br />

região, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> realizar contato com<br />

novos frigoríficos e abatedouros, já que<br />

o aumento no consumo <strong>de</strong> carne ovina<br />

era previsto para os próximos anos e a<br />

oferta ainda era insuficiente para aten<strong>de</strong>r<br />

à <strong>de</strong>manda. Depois <strong>de</strong> superar esses<br />

novos <strong>de</strong>safios, certamente outros<br />

surgiriam. (Nota: "Benchmarking" <strong>é</strong> o<br />

"processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o que comparar;<br />

<strong>de</strong>scobrir qual <strong>é</strong> o padrão <strong>de</strong> excelência;<br />

<strong>de</strong>terminar que m<strong>é</strong>todos ou processos<br />

produzem resultados e <strong>de</strong>cidir fazer as<br />

mudanças ou melhorias da própria maneira<br />

<strong>de</strong> fazer negócios, a fim <strong>de</strong> igualar<br />

ou suplantar o padrão <strong>de</strong> referência <strong>de</strong><br />

mercado, criando um novo padrão <strong>de</strong><br />

excelência".<br />

Questões para discussão<br />

- Compare os riscos e vantagens<br />

entre assumir um empreendimento<br />

sozinho ou em socieda<strong>de</strong>, como os 17<br />

produtores <strong>de</strong> Fartura fizeram.<br />

- Caso você tivesse que montar uma<br />

capacitação em novas t<strong>é</strong>cnicas com<br />

um grupo <strong>de</strong> produtores da sua região,<br />

quais serão as preocupações que você<br />

teria para garantir um bom resultado?<br />

- Na sua opinião, que outras ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> criação po<strong>de</strong>riam se beneficiar<br />

do confinamento comum da produção<br />

<strong>de</strong> vários proprietários?<br />

Leandro Ranolfi Girardi - Coleção<br />

Histórias <strong>de</strong> Sucesso - Sebrae,<br />

Brasília (DF), 2007.<br />

O Berro - nº 168<br />

59


Mercado<br />

Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> em Minas Gerais<br />

Fonte - Dados do G1.<br />

A região da Mantiqueira já produz bastante leite, mas po<strong>de</strong> crescer muito mais,<br />

transformando-se numa “capital do leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s”, um dia.<br />

Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> muito rico em nutrientes. (foto: Ancoc, RN).<br />

Dalny Araújo Sucasas <strong>é</strong> um pioneiro<br />

na produção <strong>de</strong> leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s da raça<br />

Lacaune, no município <strong>de</strong> Soleda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Minas (MG), proprietário da Cabanha Vida,<br />

a 417 km <strong>de</strong> Belo Horizonte, na região da<br />

Mantiqueira. O leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s <strong>é</strong> bastante<br />

explorado no mundo e sua produção vem<br />

crescendo no Brasil. Al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> ser muito<br />

rico em nutrientes, não provoca alergias.<br />

Al<strong>é</strong>m disso, as <strong>ovelha</strong>s po<strong>de</strong>m ser criadas<br />

em pequenos espaços, sendo muito mais<br />

favorável que a criação <strong>de</strong> vacas.<br />

Tudo começou em 2009 e o crescimento<br />

foi vertiginoso. Hoje Dalny Araújo<br />

mant<strong>é</strong>m 700 cabeças, utilizando 11 reprodutores.<br />

Os cor<strong>de</strong>iros são terminados em<br />

confinamento e vendidos para frigoríficos.<br />

A produção segue a Lei estadual n.<br />

19.583/2011, chamada "Leite Legal", que<br />

regulamenta a manipulação e beneficiamento<br />

do leite <strong>de</strong> <strong>cabra</strong>, <strong>ovelha</strong> e seus<br />

<strong>de</strong>rivados. A orientação <strong>é</strong> da Accomig/<br />

Caprileite.<br />

Manejo - Tudo <strong>é</strong> muito simples: as<br />

<strong>ovelha</strong>s prenhes ficam no pasto, com as<br />

vazias, geralmente at<strong>é</strong> os quatro meses <strong>de</strong><br />

gestação. A proteção <strong>é</strong> feita por cães da<br />

raça Maremano. As <strong>ovelha</strong>s adultas restantes<br />

vivem confinadas, somente saindo<br />

para a or<strong>de</strong>nha mecânica.<br />

Em termos <strong>de</strong> nutrição, cada <strong>ovelha</strong><br />

recebe 4 kg <strong>de</strong> alimentos por dia. Se<br />

comparado com a vaca - que come 40<br />

kg/dia - <strong>é</strong> possível manter 10 <strong>ovelha</strong>s no<br />

<strong>lugar</strong> <strong>de</strong> cada vaca. Dalny conta que "no<br />

confinamento acontece a mesma coisa:<br />

on<strong>de</strong> caberia uma única vaca <strong>é</strong> possível<br />

colocar 10 <strong>ovelha</strong>s". Assim, em termos <strong>de</strong><br />

espaço, a criação <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s <strong>é</strong> bastante<br />

viável.<br />

Or<strong>de</strong>nha - Normalmente, uma <strong>ovelha</strong><br />

produz <strong>de</strong> 0,3 a 3,0 litros/dia no correr da<br />

lactação. Não há uma referência exata,<br />

pois cada região precisa ter seu próprio<br />

manejo. Somente com a disseminação<br />

60 O Berro - nº 168


A criação vai aumentar muito em<br />

Minas Gerais. (foto: cienciadoleite)<br />

<strong>de</strong> produtores por todos os biomas será<br />

possível obter e divulgar padrões <strong>de</strong><br />

produção. Na fazenda, Dalny pesa o leite<br />

<strong>de</strong> cada <strong>ovelha</strong>, <strong>de</strong> 15 em 15 dias. Vai<br />

montando, assim, um Banco <strong>de</strong> Dados<br />

para seu rebanho. Preten<strong>de</strong> chegar a uma<br />

m<strong>é</strong>dia diária <strong>de</strong> 2,0 kg.<br />

Na or<strong>de</strong>nha mecânica todos os cuidados<br />

são observados. As tetas são higienizadas<br />

antes e <strong>de</strong>pois da or<strong>de</strong>nha. A<br />

produção e o escoamento do leite <strong>é</strong> todo<br />

realizado <strong>de</strong>ntro das normas t<strong>é</strong>cnicas.<br />

Viabilida<strong>de</strong> - Dalny afirma que o leite<br />

<strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> já <strong>é</strong> a principal ativida<strong>de</strong> da<br />

fazenda. Está produzindo 200 litros por<br />

dia que são beneficiados em laticínio próprio,<br />

<strong>de</strong>ntro da fazenda. Segundo Dalny,<br />

o laticínio tem capacida<strong>de</strong> para processar<br />

at<strong>é</strong> 10.000 litros/dia. O problema <strong>é</strong> colocar<br />

mais gente para produzir leite e enviar<br />

para o laticínio.<br />

O seu queijeiro, Cosme Antônio Azarias,<br />

conta que "trabalhar com leite <strong>de</strong><br />

Leite saudável, <strong>de</strong> uso milenar pela<br />

civilização. (foto: br.mulher.yahoo).<br />

Nova alternativa <strong>de</strong> renda na região da<br />

Mantiqueira. (foto: portaltudoaqui).<br />

<strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> muito diferente, com rendimento<br />

surpreen<strong>de</strong>nte. A massa tem que ser<br />

trabalhada com muito carinho, com maior<br />

concentração, para que o queijo fique <strong>de</strong>ntro<br />

do esperado".<br />

São produzidos 6 tipos <strong>de</strong> queijo e tamb<strong>é</strong>m<br />

iogurte. São produtos ricos em cálcio<br />

e vitamina C, com proteínas <strong>de</strong> alto valor<br />

biológico e minerais como potássio, manganês,<br />

cobre e zinco. Por não ter problemas<br />

com lactose, tanto o leite como os produtos<br />

lácteos po<strong>de</strong>m atingir um mercado muito<br />

amplo.<br />

Dalny conta que "o mercado para leite <strong>de</strong><br />

<strong>ovelha</strong> ainda <strong>é</strong> muito pequeno, pois o povo<br />

está acostumado com leite <strong>de</strong> vaca, <strong>de</strong>pois<br />

vem o leite <strong>de</strong> <strong>cabra</strong> e, agora, tamb<strong>é</strong>m o<br />

leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>". Tudo tem seu começo e as<br />

<strong>ovelha</strong>s já produzem leite em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>s pioneiras no Brasil.<br />

No momento, Dalny vem <strong>de</strong>senvolvendo<br />

parceria com a Prefeitura <strong>de</strong> Soleda<strong>de</strong><br />

(MG), i<strong>de</strong>ntificando novos produtores,<br />

para - um dia - talvez chegar a ser conhecida<br />

como "capital do leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s no<br />

Brasil". A Accomig/Caprileite estabeleceu<br />

parceria com a Emater/MG para ampliar<br />

a ativida<strong>de</strong> na Serra da Mantiqueira. A<br />

coor<strong>de</strong>nadora estadual <strong>de</strong> pecuária da<br />

Emater/MG, Cinthya Leite Madureira <strong>de</strong><br />

Oliveira, reconhece que o mercado <strong>de</strong> leite<br />

<strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> ainda <strong>é</strong> muito novo. "Agora os<br />

produtores estão em fase <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação à<br />

nova lei, mas para que o negócio cresça, <strong>é</strong><br />

preciso produzir muito leite para o viabilizar<br />

o laticínio", explica.<br />

O Berro - nº 168<br />

61


Panorama<br />

Expansão da raça Texel<br />

pela Am<strong>é</strong>rica do Sul<br />

Depois <strong>de</strong> ter conquistado o Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul - on<strong>de</strong> já há 440 cabanhas<br />

- somando mais <strong>de</strong> 300 mil animais,<br />

o Texel conquista o Brasil, chegando<br />

a 500 mil animais e, agora, preten<strong>de</strong><br />

ganhar o mercado da Am<strong>é</strong>rica do<br />

Sul, principalmente Uruguai, Paraguai,<br />

Argentina, Chile e Bolívia .<br />

O Texel brasileiro quer conquistar a<br />

Am<strong>é</strong>rica do Sul.<br />

O assunto foi discutido no 15º Mercotexel,<br />

o maior leilão <strong>de</strong> ovinos Texel<br />

do Mercosul, realizado no final <strong>de</strong><br />

semana, em Santana do Livramento.<br />

“Acreditamos que o mercado gaúcho e<br />

brasileiro está consolidado”, comentou<br />

um dos pioneiros da raça no Brasil, David<br />

Fontoura Martins, “e agora vamos<br />

partir para o mercado sul-americano”.<br />

Os criadores vão procurar o apoio da<br />

Agência Brasileira <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong><br />

Exportações e Investimentos (Apex-<br />

-Brasil), entida<strong>de</strong> que vem tendo muito<br />

sucesso em seus objetivos e já possui<br />

programas <strong>de</strong> apoio relacionados a<br />

animais, como os das raças Hereford-<br />

-Braford. Um passo paralelo será constituir<br />

uma entida<strong>de</strong> sul-americana da<br />

raça, talvez a Associação Sul-Americana<br />

<strong>de</strong> Criadores <strong>de</strong> Texel. Outro, conseguir<br />

o interesse da Secretaria Estadual<br />

da Agricultura e do Minist<strong>é</strong>rio da<br />

Agricultura e Pecuária para obter a intervenção<br />

do Itamarati e <strong>de</strong>rrubar as<br />

barreiras que alguns países, o Uruguai,<br />

por exemplo, colocam para a exportação<br />

<strong>de</strong> animais em p<strong>é</strong>.<br />

Goiás quer estimular a criação<br />

É evi<strong>de</strong>nte a falta <strong>de</strong> organização do<br />

setor, que não conta com associação <strong>de</strong><br />

criadores. A Fe<strong>de</strong>ração Goiana da Agricultura<br />

e Pecuária (Faeg), por exemplo,<br />

não possui registros <strong>de</strong> abate no Estado.<br />

“Já houve tentativas <strong>de</strong> organizar<br />

uma ca<strong>de</strong>ia profissional, com terceirização<br />

<strong>de</strong> frigorífico próprio, mas não<br />

<strong>de</strong>u certo”, afirma a assessora t<strong>é</strong>cnica<br />

da Faeg, Christiane <strong>de</strong> Paula Rossi,<br />

que não per<strong>de</strong> o otimismo. “Quem está<br />

se profissionalizando, com investimento<br />

em gen<strong>é</strong>tica e sanida<strong>de</strong>, vai <strong>de</strong>slanchar”,<br />

prevê. Agora o MAPA criou uma<br />

planta <strong>de</strong> frigorífico que po<strong>de</strong> abater<br />

ovinos, caprinos, suínos e at<strong>é</strong> bovinos,<br />

tudo em conformida<strong>de</strong> com as legislações<br />

sanitárias e ambientais. O mo<strong>de</strong>lo<br />

está à disposição <strong>de</strong> criadores e associações.<br />

Segundo Andr<strong>é</strong> Rocha, a principal<br />

causa da falta <strong>de</strong> estímulo à criação <strong>é</strong> o<br />

pouco conhecimento, sobretudo em relação<br />

à qualida<strong>de</strong> da carne. “É uma questão<br />

<strong>de</strong> cultura, pois a carne do cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>é</strong> saudável, sem gordura trans e sem o<br />

cheiro <strong>de</strong>sagradável atribuído ao animal<br />

<strong>de</strong> forma quase que lendária. De fato, o<br />

carneiro velho po<strong>de</strong> ter cheiro estranho,<br />

mas não <strong>é</strong> produto comercial”, informa.<br />

62 O Berro - nº 168


Manejo<br />

Alternativa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável para a<br />

caprino-ovinocultura<br />

no Semiárido<br />

Texto base: Onaldo Souza<br />

Uma visão estrat<strong>é</strong>gica abrangente sobre como po<strong>de</strong>ria ser<br />

lucrativa a produção <strong>de</strong> caprinos e ovinos na região.<br />

Fixação do homem - O Nor<strong>de</strong>ste<br />

representa menos <strong>de</strong> 20% da área<br />

territorial brasileira e concentra aproximadamente<br />

91% do rebanho caprino<br />

nacional, representando cerca <strong>de</strong> 1%<br />

do total mundial. A caprinocultura, salvo<br />

algumas exceções, <strong>é</strong> geralmente<br />

<strong>de</strong>senvolvida com baixo nível tecnológico<br />

e em sistema extensivo, não oferecendo<br />

competitivida<strong>de</strong> no mercado<br />

globalizado.<br />

Sabe-se, entretanto, que a exploração<br />

<strong>de</strong> pequenos ruminantes no Semiárido<br />

tem sido motivo <strong>de</strong> fixação do<br />

homem a terra, trazendo paz social no<br />

campo, gran<strong>de</strong> contribuição à região.<br />

Ela gera empregos, ocupa farta mão-<br />

-<strong>de</strong>-obra local, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> trazer renda<br />

para a agricultura familiar.<br />

Obstáculos - As regiões do Semiárido<br />

nor<strong>de</strong>stino têm como principal<br />

obstáculo as condições adversas do<br />

meio ambiente, que limita a ativida<strong>de</strong><br />

econômica agropecuária. As forragens<br />

são escassas em <strong>é</strong>pocas secas e isto<br />

está aliado ao baixo padrão gen<strong>é</strong>tico,<br />

ao manejo ina<strong>de</strong>quado e à falta <strong>de</strong><br />

assistência t<strong>é</strong>cnica. Assim, o produto<br />

final apresenta um baixo rendimento <strong>de</strong><br />

carcaça dos animais que sobrevivem<br />

ao meio, o que leva ao <strong>de</strong>scr<strong>é</strong>dito e<br />

falta <strong>de</strong> estímulo à exploração rural.<br />

Criação extensiva - A maior parte<br />

da exploração ocorre em sistemas<br />

extensivos, on<strong>de</strong> os animais são soltos<br />

na Caatinga, sem orientação t<strong>é</strong>cnica<br />

e condições i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> manejo. Os<br />

animais ficam suscetíveis não só ao<br />

ambiente adverso, como tamb<strong>é</strong>m à infestação<br />

<strong>de</strong> endoparasitas e ectoparasitas,<br />

que causam enormes prejuízos. A<br />

realida<strong>de</strong> ocasiona perdas reais e limita<br />

a oferta <strong>de</strong> produtos nobres como a<br />

carne, pele e leite. Uma boa produção<br />

64 O Berro - nº 168


As <strong>ovelha</strong>s confun<strong>de</strong>m-se com o ambiente semiárido<br />

po<strong>de</strong>ria minimizar a situação caótica<br />

por que passa a maioria dos habitantes<br />

<strong>de</strong>stas regiões<br />

Baixo rendimento - A pecuária<br />

tradicional no Semiárido, neste contexto,<br />

<strong>é</strong> principalmente a exploração<br />

<strong>de</strong> pequenos ruminantes, cultura <strong>de</strong><br />

subsistência que fornece proteínas <strong>de</strong><br />

excelente qualida<strong>de</strong>, leite, pele, etc. O<br />

rendimento <strong>de</strong> carcaça, por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> muito<br />

baixo, principalmente na Caatinga nativa,<br />

que não chega a 3,0 kg <strong>de</strong> carne/<br />

ha. Mesmo assim, esta produção <strong>é</strong><br />

responsável por aproximadamente 40%<br />

da proteína animal consumida pela<br />

população rural. Sabe-se, por outro<br />

lado, que os pastos <strong>de</strong>vem compor a<br />

alimentação básica dos ruminantes,<br />

por<strong>é</strong>m, a produção <strong>de</strong> alimentos volumosos<br />

na <strong>é</strong>poca da seca <strong>é</strong> escassa.<br />

Programas com alimentação alternativa<br />

são indispensáveis para enfrentar este<br />

período, quando os animais per<strong>de</strong>m<br />

aproximadamente 30% <strong>de</strong> seu peso<br />

corporal.<br />

Cana-<strong>de</strong>-açúcar - A exploração<br />

da cultura da cana-<strong>de</strong>-açúcar no país<br />

produz em torno <strong>de</strong> 100.000.000 <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> bagaço <strong>de</strong> cana, que po<strong>de</strong>ria<br />

gerar alimentação para pequenos<br />

ruminantes e produzir 20.000.000 <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> carcaça. O resultado seria<br />

produtos <strong>de</strong> origem animal superiores,<br />

que po<strong>de</strong>m suprir parte da carência <strong>de</strong><br />

proteínas da população.<br />

A cana-<strong>de</strong>-açúcar <strong>é</strong> a cultura <strong>de</strong><br />

maior importância do estado <strong>de</strong> Alagoas,<br />

ocupando uma área <strong>de</strong> 420.000<br />

hectares, com uma produção <strong>de</strong><br />

25.000.000 <strong>de</strong> toneladas. Deste total,<br />

<strong>de</strong> 30 a 33% se transforma em bagaço<br />

que po<strong>de</strong> ser aproveitado pelos<br />

ruminantes. Os resíduos originados<br />

da cana-<strong>de</strong>-açúcar, após seu esmagamento<br />

nas moendas, são produzidos<br />

geralmente no período <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong><br />

forragem em <strong>de</strong>terminadas regiões, por<br />

conta das secas cíclicas e periódicas.<br />

Assim, esta enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

biomassa das usinas, com o bagaço<br />

sendo o principal resíduo fibroso, serve<br />

O Berro - nº 168<br />

65


como alimento para o rebanho, se for<br />

<strong>de</strong>vidamente tratado e administrado.<br />

Al<strong>é</strong>m dos resíduos da cana-<strong>de</strong>-<br />

-açúcar, existem outros que sobram<br />

em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s no Estado <strong>de</strong><br />

Alagoas e outras regiões brasileiras,<br />

como por exemplo, palhas <strong>de</strong> feijão,<br />

<strong>de</strong> milho, <strong>de</strong> arroz, etc.. Estes outros<br />

resíduos po<strong>de</strong>m, perfeitamente, servir<br />

como alternativa alimentar para a<br />

caprino-ovinocultura. Lembrando que<br />

a maioria <strong>de</strong>stes alimentos <strong>é</strong> produzida<br />

em <strong>é</strong>pocas <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> volumosos,<br />

durante a seca.<br />

Questão alimentar - Foi observado<br />

e comprovado em pesquisas, que o rebanho<br />

nativo do Nor<strong>de</strong>ste, quando criado<br />

em condições <strong>de</strong> manejo a<strong>de</strong>quado,<br />

apresenta <strong>de</strong>sempenho zoot<strong>é</strong>cnico<br />

acima da m<strong>é</strong>dia do rebanho regional.<br />

Um dos maiores entraves ao <strong>de</strong>sempenho<br />

zoot<strong>é</strong>cnico, por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> a<br />

escassez <strong>de</strong> alimento na seca, que<br />

po<strong>de</strong> ser contornada com a alimentação<br />

alternativa: tratamento químico <strong>de</strong><br />

resíduos lignocelulósicos com ureia,<br />

para uso na nutrição dos ruminantes.<br />

Enfim, o potencial gen<strong>é</strong>tico do rebanho<br />

<strong>de</strong> caprinos e ovinos <strong>é</strong> positivo quando<br />

se adotam m<strong>é</strong>todos a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong><br />

manejo, criação, sanida<strong>de</strong> e nutrição,<br />

principalmente. O uso <strong>de</strong> materiais lignocelulósicos<br />

tratados a<strong>de</strong>quadamente<br />

incrementa a produtivida<strong>de</strong> dos rebanhos<br />

nor<strong>de</strong>stinos, evitando <strong>de</strong>sta forma<br />

a precarieda<strong>de</strong> habitual no manejo.<br />

Durante muitos anos, entida<strong>de</strong>s governamentais<br />

e não governamentais, a<br />

exemplo da ONU, buscam soluções sistemáticas<br />

quanto ao aproveitamento e<br />

otimização dos resíduos agropecuários<br />

na alimentação animal. Na verda<strong>de</strong>,<br />

Esses materiais, na prática, quando<br />

a<strong>de</strong>quadamente tratados e tecnicamente<br />

orientados, po<strong>de</strong>m representar um<br />

enorme benefício à população mundial.<br />

Tecnologia - O <strong>de</strong>safio que compete<br />

à pesquisa e a difusão <strong>de</strong> tecnologia<br />

<strong>é</strong> encontrar soluções a<strong>de</strong>quadas e<br />

viáveis para estes problemas recorrentes<br />

e que se agravam a cada ano.<br />

As soluções, então, <strong>de</strong>vem assegurar<br />

O ambiente exige animais <strong>de</strong> alta rusticida<strong>de</strong>.<br />

66 O Berro - nº 168


O Berro - nº 168<br />

67


As miunças estão lá há s<strong>é</strong>culos<br />

a preservação da cultura, a fixação do<br />

homem a sua origem e a competitivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mercado, que vão servir para<br />

o constante fornecimento <strong>de</strong> produtos<br />

<strong>de</strong> origem animal, gerando lucros e<br />

bem-estar social.<br />

O agronegócio, <strong>de</strong>sta forma, <strong>de</strong>ve<br />

ser orientado <strong>de</strong> forma t<strong>é</strong>cnica eficaz,<br />

com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> execução possível<br />

e com credibilida<strong>de</strong> do produtor. A<br />

solução para melhorar a pobreza rural<br />

<strong>é</strong> o planejamento da diversificação<br />

do agronegócio, pois <strong>é</strong> gran<strong>de</strong> a heterogeneida<strong>de</strong><br />

entre produtores e os<br />

respectivos <strong>lugar</strong>es on<strong>de</strong> vivem.<br />

A criação no Nor<strong>de</strong>ste <strong>é</strong> rotina, familiar,<br />

faz parte da tradição.<br />

Intervenção governamental - Outro<br />

fator para a sustentabilida<strong>de</strong> do agronegócio<br />

<strong>é</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção<br />

governamental, como programas <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> empregos e garantia ao<br />

acesso <strong>de</strong> alimentos. Os grupos mais<br />

sensíveis da população rural, como<br />

anciãos, mulheres grávidas e crianças,<br />

<strong>de</strong>vem ser priorida<strong>de</strong>, como preconiza<br />

a FAO: “que as pessoas possam ter<br />

acesso a todo instante aos alimentos<br />

básicos <strong>de</strong> que necessitem...”. Assim,<br />

o governo tem que permitir e garantir<br />

uma produção constante <strong>de</strong> alimentos<br />

e, para isto, não <strong>de</strong>ve ficar atento aos<br />

impactos ambientais, para garantir a<br />

permanência dos recursos naturais.<br />

Conclusão - É fato que estas ações<br />

minimizam os efeitos da seca enfrentados<br />

pelo homem e sua família e dá<br />

uma luz <strong>de</strong> esperança para o sertanejo<br />

do Semiárido.<br />

Onaldo Souza - Pesquisador<br />

Embrapa Tabuleiros Costeiros.<br />

Doutor em produção animal.<br />

68 O Berro - nº 168


Educação<br />

As crianças apren<strong>de</strong>m<br />

com as <strong>ovelha</strong>s<br />

Cada pessoa po<strong>de</strong> transferir sua imaginação para os negócios e,<br />

assim, acabam vencendo aquelas que são mais<br />

competitivas e criativas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> crianças.<br />

Uma das gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s do<br />

setor rural <strong>é</strong> com a mão-<strong>de</strong>-obra. Tamb<strong>é</strong>m<br />

os proprietários rurais têm problemas<br />

com a sucessão, pois seus her<strong>de</strong>iros<br />

geralmente vão se diplomar em<br />

ativida<strong>de</strong>s urbanas. Por isso, a população<br />

rural chegará a apenas 6,5% no<br />

ano 2050, no Brasil. Será uma das menores<br />

do planeta. Essa pequena população,<br />

por<strong>é</strong>m, será responsável por<br />

alimentar boa parte dos 9,2 bilhões <strong>de</strong><br />

habitantes que estarão vivendo.<br />

Qualquer iniciativa para familiarizar<br />

o setor rural com as crianças <strong>é</strong> sempre<br />

louvável, pois elas po<strong>de</strong>rão ser os timoneiros<br />

do futuro. Para isso precisam<br />

gostar, antes <strong>de</strong> tudo, do que fazem.<br />

Se o negócio paterno <strong>é</strong> criação <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s,<br />

então as escolas precisam ensinar<br />

tudo sobre <strong>ovelha</strong>s para crianças.<br />

Países avançados, como os Estados<br />

Unidos, não brincam em serviço:<br />

toda ativida<strong>de</strong> rural tamb<strong>é</strong>m tem a seção<br />

<strong>de</strong>dicada às crianças. Se o pai leva<br />

bois e vacas a uma exposição, a<br />

garotada tamb<strong>é</strong>m po<strong>de</strong> comparecer,<br />

levando seus animais. Toda Associação<br />

<strong>é</strong> dividida em duas partes: a) para<br />

adultos; b) para a criançada. Des<strong>de</strong> cedo,<br />

portanto, as crianças vão gostando<br />

do que fazem, competindo com outras,<br />

na busca do que for melhor.<br />

No Brasil, a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias<br />

do Sul, realizou um Concurso <strong>de</strong> Desenhos<br />

para a gurizada: todos podiam<br />

soltar a imaginação, concorrendo aos<br />

prêmios, <strong>de</strong>senhando sua <strong>ovelha</strong> i<strong>de</strong>al.<br />

Os <strong>de</strong>senhos mais premiados são<br />

os aqui exibidos. Cada criança colocou<br />

neste <strong>de</strong>senho aquilo que julgou mais<br />

a<strong>de</strong>quado à mo<strong>de</strong>rna criação <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s.<br />

Casamento da inspiração infantil<br />

com os animais. Parab<strong>é</strong>ns.<br />

1 - Cristiane Marcante - Ovelha TREM<br />

- Mostra a importância dos cem anos da<br />

chegada do trem em Caxias do Sul. Ovelha<br />

cheia <strong>de</strong> vida e movimento. As cores vibram<br />

<strong>de</strong> forma contemporânea e divertida,<br />

mostrando um dos elementos que transformaram<br />

Caxias do Sul no maior polo metalmecânico<br />

do Estado. O trem foi o principal<br />

meio <strong>de</strong> transporte da <strong>é</strong>poca, está em movimento<br />

com seus vagões <strong>de</strong> transporte e em<br />

meio à exuberância <strong>de</strong> montes, paisagens<br />

e araucárias.<br />

O público acostumado a ter acesso a fatos<br />

históricos por meio <strong>de</strong> fotografias, livros<br />

e objetos <strong>de</strong> <strong>é</strong>poca expostos em museus,<br />

aproxima-se da obra que tamb<strong>é</strong>m se aproxima<br />

<strong>de</strong> todas as classes sociais e ida<strong>de</strong>s -<br />

com esta <strong>ovelha</strong>.<br />

O Berro - nº 168<br />

69


2 - Cristiano Dornelles dos Reis - Ovelha<br />

RETALHADA - É inspirada nos retalhos<br />

<strong>de</strong> tecido, aproveitando as sobras dos cortes.<br />

Assim, surge uma <strong>ovelha</strong> camuflada, representando<br />

as sobras <strong>de</strong> tecidos nas cores<br />

primárias e, ainda, na cor secundária ver<strong>de</strong>,<br />

lembrando a Pop Art. Mistura o sabor tradicional<br />

dos lares que sempre utilizaram mantas<br />

<strong>de</strong> retalhos com a tamb<strong>é</strong>m tradicional<br />

<strong>ovelha</strong>, sinônimo <strong>de</strong> aconchego.<br />

4 - Flávio Drum <strong>de</strong> Almeida - Ovelha<br />

MINIMAL - Atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> formas geom<strong>é</strong>tricas<br />

e abstratas, cores vivas e luminosas, a pintura<br />

da <strong>ovelha</strong> Minimal representa uma re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> retalhos coloridos on<strong>de</strong> se revelam e escon<strong>de</strong>m-se<br />

fragmentos, instigando os sentidos.<br />

A colcha <strong>de</strong> retalhos tem a ver com a<br />

história <strong>de</strong> todos os lares.<br />

3 - Cristhian Fernando Caje Rodriguez<br />

- Ovelha TRAJETÓRIA - A superfície da<br />

<strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> coberta com fotografias <strong>de</strong> pessoas<br />

que habitam a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias do<br />

Sul, criando assim uma narrativa que marca<br />

a presença dos diferentes corpos e sua velocida<strong>de</strong><br />

no espaço urbano da geografia. A<br />

“cola” que une as fotografias são fios <strong>de</strong> lã<br />

das <strong>ovelha</strong>s.<br />

5 - Greice <strong>de</strong> Barba - Ovelha GÊNESIS<br />

- Joio entre o trigo; lobo em pele <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro;<br />

<strong>de</strong>ntre tantas criações geniais, o plástico<br />

tem sido consi<strong>de</strong>rado um dos maiores vilões<br />

dos últimos tempos. Neste caso, <strong>de</strong> quem<br />

realmente <strong>é</strong> a culpa, do criador ou da criatura?<br />

Sacolas entopem bueiros, e matam animais<br />

sufocados; falta <strong>de</strong> consciência ecológica,<br />

sim. Em meio a uma trama feita em<br />

crochê com sacolas plásticas, surge uma<br />

obra que questiona a diferença entre uma<br />

criação divina e a humana.<br />

70 O Berro - nº 168


Capril<br />

SAID<br />

l Saanen l Toggenburg<br />

l Alpina<br />

l Alpina Britânica<br />

O Plantel leiteiro mais premiado<br />

do Ceará há 12 anos.<br />

TUFI SAID<br />

Aquiraz - CE<br />

(85) 8668-3110 l 9617-2131<br />

caprilsaid@hotmail.com<br />

O Berro - nº 168<br />

71


6 - Artista: Karine Perez - Ovelha PA-<br />

ESAGGIO - São elementos visuais da paisagem<br />

campestre, tais como árvores montanhas<br />

e pastos, reconstruídos atrav<strong>é</strong>s da<br />

pintura sobre o corpo <strong>de</strong> uma <strong>ovelha</strong>. O corpo<br />

expressa o local on<strong>de</strong> as <strong>ovelha</strong>s vivem<br />

e extraem seu alimento. Ao inv<strong>é</strong>s <strong>de</strong> ser um<br />

componente da paisagem, a <strong>ovelha</strong> representa<br />

a própria paisagem exterior, como se<br />

ela fosse um espelho <strong>de</strong> seu habitat.<br />

8 - Mariana Pereira - Ovelha PRINCE-<br />

SA DIANA: “A OVELHA NEGRA DA FA-<br />

MÍLIA REAL” - A Princesa Diana sempre foi<br />

um ícone <strong>de</strong> moda <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o casamento com<br />

o príncipe Charles. Descen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> nobre e<br />

filha <strong>de</strong> con<strong>de</strong>, Diana trazia já <strong>de</strong> berço sua<br />

natural beleza. Não foi feliz no casamento.<br />

A “Rainha Mãe” não a suportava, sua presença<br />

no castelo não era bem vinda. Charles<br />

pouco se importava com ela. Devido a<br />

romances “secretos” (acobertados por seu<br />

motorista), Diana cada vez mais era vista<br />

pela família real como a “<strong>ovelha</strong> negra”.<br />

7 - Leonardo Verardo Fanzelau - Ovelha<br />

A ÚLTIMA QUE FALTAVA CONTAR<br />

PARA VOCÊ DORMIR - É milenar o hábito<br />

<strong>de</strong> contar carneirinhos como m<strong>é</strong>todo para<br />

adormecer. Assim, a frase-título está fixada<br />

na região dorsal da <strong>ovelha</strong> que está pintada<br />

em azul claro. As letras são confeccionadas<br />

individualmente e presas à <strong>ovelha</strong>, acompanhando<br />

o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> seu corpo.<br />

9 - Marcos Coutinho Souza - Ovelha<br />

TECNO - Aqui a <strong>ovelha</strong> dialoga com materiais<br />

diversos como papelão, ma<strong>de</strong>ira e metal.<br />

O metal e a pintura estabelecem uma relação<br />

entre o estampado dos tecidos, coloridos<br />

e padronizados, suaves e <strong>de</strong>licados,<br />

com a robustez dos equipamentos e maquinários<br />

da indústria têxtil <strong>de</strong> Caxias do Sul.<br />

72 O Berro - nº 168


10 - Neusa Virgínia Welter Bocchese<br />

- Ovelha GUADALUPE - As primeiras malhas<br />

da região eram feitas, manualmente,<br />

com agulhas <strong>de</strong> metal ou <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e com<br />

lã aberta e torcida na “roca” ou na “molinela”.<br />

O fio era tingido com vegetais (macela,<br />

arnica ou poejo) e casca <strong>de</strong> cebola, entre<br />

outros. Com o progresso, as máquinas começaram<br />

a ser importadas e cada vez mais<br />

mo<strong>de</strong>rnizadas, possibilitando a produção <strong>de</strong><br />

malhas com estamparias geom<strong>é</strong>tricas, florais<br />

e jacards variados.<br />

12 - Ricardo Andr<strong>é</strong> Brisotto - Ovelha<br />

VIAJANTE - A serra gaúcha <strong>é</strong> mundialmente<br />

conhecida pela qualida<strong>de</strong> da produção do<br />

setor do vestuário. A fama do setor <strong>é</strong> responsável<br />

pela presença, nos quatro cantos<br />

do mundo, das roupas aqui produzidas. A<br />

<strong>ovelha</strong> Viajante <strong>é</strong> coberta por selos, representando<br />

a competência produtiva <strong>de</strong> chegar<br />

aos principais pontos <strong>de</strong> moda. O objetivo<br />

principal <strong>é</strong> chamar atenção para a valorização<br />

do vestuário, motivando as pequenas<br />

indústrias do setor.<br />

11 - Pedro Jair Alves Borges - Ovelha<br />

TRADIÇÕES DE UM POVO - Atrav<strong>é</strong>s das<br />

cores e das imagens a <strong>ovelha</strong> mostra as tradições<br />

<strong>de</strong> um povo, busca divulgar a cultura<br />

e as raízes do povo gaúcho, a raça e a saga<br />

do imigrante italiano que conquistou com<br />

garra seu <strong>lugar</strong> no chão riogran<strong>de</strong>nse.<br />

13 - Artista: Thompson Gabriel <strong>de</strong><br />

Mello - Ovelha RABISKA - A <strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> toda<br />

trabalhada em nanquim, com uma base em<br />

tinta invisível colorida. Esta base <strong>é</strong> formada<br />

por luzes negras que ao serem acionadas<br />

realçam a cor da tinta invisível.<br />

O Berro - nº 168<br />

73


Mosaico<br />

Cabra: a primeira artista <strong>de</strong> cinema do mundo<br />

Dados: Daniel Moreira <strong>de</strong> Sousa Pinna<br />

Quem foi a primeira artista <strong>de</strong> cinema na História? Foi uma <strong>cabra</strong> há 5.200<br />

anos atrás. Foi o primeiro animal “filmado” na história da humanida<strong>de</strong>.<br />

Durante uma expedição arqueológica<br />

realizada no final da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1970<br />

e início da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1980, uma equipe<br />

italiana <strong>de</strong>senterrou uma “sopeira” <strong>de</strong><br />

porcelana (tigela). Estava em um dos túmulos<br />

<strong>de</strong> Burnt City (Shahr-e Sukhta),<br />

nome que significa “cida<strong>de</strong> queimada”,<br />

no atual Irã, região <strong>de</strong> muitas raças caprinas<br />

e ovinas ancestrais.<br />

No <strong>mesmo</strong> sítio arqueológico foram<br />

encontradas outras surpresas, tais como:<br />

a prótese ocular mais antiga encontrada<br />

at<strong>é</strong> hoje e a versão mais antiga do<br />

jogo <strong>de</strong> gamão. Agora, foi encontrado o<br />

“filme” mais antigo já feito pelo Homem.<br />

A palavra “cinema” vem do grego e<br />

significa “movimento”. Um filme <strong>de</strong> cinema<br />

nada mais <strong>é</strong> que a sequência <strong>de</strong> 20<br />

a 30 quadros por segundo, cada um com<br />

pequeníssima progressão em relação<br />

ao anterior. Ao girar os quadros, em certa<br />

velocida<strong>de</strong>, o olho humano não percebe<br />

os quadros, mas apenas o movimento.<br />

Um “filme mudo” utilizava entre<br />

16 a 20 quadros por segundo (cada quadro<br />

gastava 0,05 a 0,0625 segundo). O<br />

filme sonoro mo<strong>de</strong>rno utiliza 25 quadros<br />

por segundo (sistema PAL), ou 30 (sistema<br />

NTSC). O filme 3D utiliza 48 quadros<br />

por segundo. Estão sendo testados outros<br />

sistemas <strong>de</strong> at<strong>é</strong> 60 quadros por segundo.<br />

O “cinema” continua sua história<br />

que começou há 5.200 anos, com uma<br />

<strong>cabra</strong>.<br />

Cabra em movimento - Na verda<strong>de</strong>,<br />

a sopeira tem a ilustração <strong>de</strong> uma <strong>cabra</strong><br />

em movimento. Trata-se <strong>de</strong> uma animação.<br />

São vários quadros da mesma<br />

<strong>cabra</strong>; cada quadro com um <strong>de</strong>talhe a<br />

mais. Assim, ao girar a sopeira, a pessoa<br />

Tigela <strong>de</strong> barro iraniana: <strong>é</strong> o exemplo mais<br />

antigo do mundo da animação.<br />

podia enxergar a <strong>cabra</strong> movimentando-<br />

-se. O nome <strong>de</strong> “animação” foi dado pela<br />

imprensa e autorida<strong>de</strong>s iranianas.<br />

A sopeira (tijela) me<strong>de</strong> 8 cm <strong>de</strong> diâmetro<br />

e 10 cm <strong>de</strong> altura; foi confeccionada<br />

há cerca <strong>de</strong> 5.200 anos. Ao seu redor,<br />

estão dispostas cinco imagens <strong>de</strong> uma<br />

<strong>cabra</strong> selvagem saltando para alcançar e<br />

comer as folhas do galho <strong>de</strong> uma árvore.<br />

Cada quadro tem ligeira progressão em<br />

comparação ao anterior.<br />

Pinturas semelhantes, com motivos<br />

<strong>de</strong> <strong>cabra</strong>s selvagens e peixes, são comuns<br />

em jóias e cerâmicas encontradas<br />

nas escavações realizadas no local. Foram<br />

encontrados inúmeros pratos <strong>de</strong>corados<br />

com esses <strong>mesmo</strong>s motivos, adornados<br />

com um <strong>mesmo</strong> <strong>de</strong>senho repetido<br />

diversas vezes ao longo do corpo da peça.<br />

Por isso, a sopeira ficou engavetada<br />

por vários anos.<br />

Apenas no início do s<strong>é</strong>culo XXI, alguns<br />

estudiosos perceberam que não se<br />

tratava <strong>de</strong> mera repetição da <strong>cabra</strong>, mas<br />

sim <strong>de</strong> movimentos diferentes. Era algo<br />

muito diferente <strong>de</strong> tudo que havia sido<br />

encontrado at<strong>é</strong> então. Marcava o início<br />

do cinema na história da humanida<strong>de</strong>.<br />

74 O Berro - nº 168


Desenhos mostrando as cinco imagens diferentes.<br />

Era uma tentativa <strong>de</strong> exibir o movimento<br />

da <strong>cabra</strong>, ao girar a sopeira!<br />

Para garantir o sucesso, o artista fez<br />

as ilustrações <strong>de</strong> tal maneira que o final<br />

leva ao começo. Assim, a sopeira po<strong>de</strong><br />

ficar girando e a <strong>cabra</strong> estará se movimentando,<br />

sempre, sem parar.<br />

Cabra polêmica - A organização <strong>de</strong><br />

Patrimônio Cultural, Turismo e Artesanato<br />

do Irã (CHTHO), com o cineasta Mohsen<br />

Ramezani, lançou o filme “The tree<br />

of life” (“A árvore da vida”, 2008), um documentário<br />

<strong>de</strong> 11 minutos contando a<br />

história da peça e reaquecendo duas polêmicas<br />

a seu respeito, a saber:<br />

1) O documentário <strong>de</strong> Ramezani <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

a afirmação do CHTHO <strong>de</strong> que a peça<br />

narra graficamente à história da árvore<br />

da vida, mito assírio sobre a origem do<br />

mundo. O Círculo <strong>de</strong> Estudos Ancestrais<br />

Iranianos (CAIS) - respeitável associação<br />

acadêmica do país - rejeita essa hipótese,<br />

com um argumento bastante convincente<br />

para os historiadores. Segundo o CAIS, a<br />

cerâmica fora confeccionada pelo menos<br />

1.000 anos antes do aparecimento do registro<br />

mais antigo da civilização assíria<br />

<strong>de</strong>scoberto at<strong>é</strong> hoje. A imagem representa<br />

simplesmente uma cabrita selvagem para<br />

Detalhe da <strong>cabra</strong> selvagem (Capra aegagrus)<br />

na tigela <strong>de</strong>scoberta em um túmulo com 5.200<br />

anos, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnt no Irã.<br />

os pesquisadores (Capra aegagrus, tamb<strong>é</strong>m<br />

conhecido como Ibex persa do <strong>de</strong>serto),<br />

animal comum na região e figura recorrente<br />

da iconografia <strong>de</strong> povos que habitaram<br />

o local <strong>de</strong>s<strong>de</strong>, pelo menos, 4.000 a.C.<br />

Apesar da comparação realizada no<br />

documentário ser consi<strong>de</strong>rada pelos pesquisadores<br />

do CAIS como “uma das mais<br />

absurdas afirmações da nova geração <strong>de</strong><br />

especialistas do Irã pós-revolucionário”<br />

(CAIS, 2008), <strong>é</strong> fácil notar a semelhança<br />

i<strong>de</strong>ntificada entre os grafismos e a passagem<br />

do mito em que o animal salta para<br />

comer as folhas da árvore da vida.<br />

2) A segunda gran<strong>de</strong> polêmica diz respeito<br />

à insistência da mídia — incentivada<br />

pelo CHTHO e pela ASIFA iraniana —<br />

em chamar a sopeira (tigela) <strong>de</strong> “a animação<br />

mais antiga do mundo”. A revista<br />

eletrônica Animation Magazine diz: “uma<br />

tigela <strong>de</strong> 5.200 anos, encontrada na cida<strong>de</strong><br />

queimada do Irã nos anos 1970,<br />

apresenta uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> cinco imagens<br />

que pesquisadores apenas recentemente<br />

i<strong>de</strong>ntificaram como sendo sequenciais,<br />

muito parecidas com aquelas em um zootrópio.<br />

Girando a tigela, vê-se uma <strong>cabra</strong><br />

Ibex saltando para mor<strong>de</strong>r folhas <strong>de</strong> uma<br />

árvore (...)” (Ball, 2008).<br />

Conclusão - O que interessa <strong>é</strong> que<br />

a <strong>cabra</strong> foi <strong>mesmo</strong> a primeira artista<br />

<strong>de</strong> cinema na História da Humanida<strong>de</strong>.<br />

Depois <strong>de</strong>la, foram feitos muitos “filmes”<br />

no correr da História, em “pergaminhos”,<br />

tabuletas, pap<strong>é</strong>is impressos,<br />

etc. Nas escolas mo<strong>de</strong>rnas <strong>é</strong> comum<br />

ensinar as crianças a fazerem seu “filme”,<br />

<strong>de</strong>senhando bonecos que se movimentam<br />

com o rápido virar <strong>de</strong> páginas<br />

do ca<strong>de</strong>rno. Tudo começou com a <strong>cabra</strong><br />

ancestral.<br />

O Berro - nº 168<br />

75


Nutrição<br />

Manejo nutricional <strong>de</strong> caprinos<br />

e ovinos em regiões Semiáridas<br />

Sueli Freitas dos Santos, Renan M. Me<strong>de</strong>iros Sanson, Patrícia Almeida Mapurunga,<br />

Juliete <strong>de</strong> Lima Gonçalves e Natália Lívia <strong>de</strong> Oliveira Fonteles.<br />

Uma alimentação específica para cada animal <strong>de</strong>ve ser planejada levando<br />

vários fatores em consi<strong>de</strong>ração, como a esp<strong>é</strong>cie, a realida<strong>de</strong> da região<br />

e tamb<strong>é</strong>m a fase <strong>de</strong> vida e reprodução dos animais.<br />

Cochos bem colocados para aten<strong>de</strong>r os lotes.<br />

A criação <strong>de</strong> pequenos ruminantes tem, por<strong>é</strong>m, muitas falhas no manejo<br />

sempre teve seu <strong>lugar</strong> no mercado por nutricional e alimentar <strong>de</strong>sses animais.<br />

oferecer produtos <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> Estas falhas po<strong>de</strong>m causar prejuízos<br />

como: leite, carne e pele. A exploração financeiros ao criador e tamb<strong>é</strong>m ao<br />

racional <strong>de</strong> caprinos vem se <strong>de</strong>stacando bem-estar e saú<strong>de</strong> dos animais.<br />

nos últimos anos por suas características<br />

<strong>de</strong> alta lucrativida<strong>de</strong> e rápido retorno são nutricionalmente consi<strong>de</strong>radas e<br />

Muitas vezes as <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s<br />

financeiro. Vale salientar, por<strong>é</strong>m, que a tratadas como “pequenas vacas”, especialmente<br />

as <strong>de</strong> categoria leiteiras.<br />

produtivida<strong>de</strong> <strong>é</strong> alcançada quando são<br />

consi<strong>de</strong>rados os aspectos gen<strong>é</strong>ticos, Apesar <strong>de</strong> ambas serem ruminantes e,<br />

sanitários e nutricionais do rebanho, portanto, requererem os <strong>mesmo</strong>s princípios<br />

nutritivos, as diferenças existentes<br />

sendo este último, o fator que reflete<br />

mais rapidamente sobre a produção. entre essas esp<strong>é</strong>cies são muitas: hábitos<br />

alimentares; nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físi-<br />

Novos criadores têm surgido e o número<br />

<strong>de</strong> animais tem aumentado. Ainda exiscas;<br />

exigências nutricionais e <strong>de</strong> água;<br />

76 O Berro - nº 168


Cana <strong>é</strong> um excelente ingrediente na dieta.<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seleção dos alimentos; ra leiteira, não raramente ultrapassando<br />

aceitação dos alimentos; composição essa participação, po<strong>de</strong>ndo chegar at<strong>é</strong> a<br />

do leite; composição da carcaça; <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

metabólicas e endoparasitoses. <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, certamente o <strong>de</strong>sem-<br />

80% em casos extremos. Sem alimentos<br />

Assim, a nutrição <strong>de</strong> caprinos e ovinos penho e at<strong>é</strong> <strong>mesmo</strong> a saú<strong>de</strong> dos animais<br />

<strong>de</strong>ve ser tratada com ações específicas, serão comprometidas.<br />

evitando o uso indiscriminado <strong>de</strong> experiências<br />

com outros ruminantes. <strong>de</strong> caprinos ou ovinos, <strong>de</strong>verá fazer um<br />

O produtor, ao iniciar uma criação<br />

Nutrir a<strong>de</strong>quadamente um caprino e/ planejamento <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong> levando<br />

em consi<strong>de</strong>ração alguns aspectos.<br />

ou um ovino significa fornecer todos os<br />

nutrientes necessários, em quantida<strong>de</strong> Entre eles:<br />

e proporção a<strong>de</strong>quadas que atendam 1) a área disponível para formação <strong>de</strong><br />

às suas necessida<strong>de</strong>s, com uma ração forrageiras;<br />

sem fatores tóxicos e no menor custo 2) a adaptação da área quanto ao<br />

possível. Nesta <strong>de</strong>finição está envolvida plantio;<br />

uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> conceitos e princípios que 3) a existência <strong>de</strong> água para irrigação;<br />

<strong>de</strong>vem ser muito bem conhecidos e consi<strong>de</strong>rados<br />

para a <strong>de</strong>finição do programa das forrageiras;<br />

4) produção por hectare <strong>de</strong> massa ver<strong>de</strong><br />

nutricional a<strong>de</strong>quado à proprieda<strong>de</strong> e ao 5) <strong>é</strong>poca <strong>de</strong> colheita;<br />

rebanho. Tamb<strong>é</strong>m para a escolha dos 6) digestibilida<strong>de</strong> e nutrientes que compõem<br />

a forrageira.<br />

alimentos e para alimentação propriamente<br />

dita. A alimentação inclui: 7) o número <strong>de</strong> animais que está criando<br />

1) o processamento dos alimentos, por categoria, <strong>de</strong>scartes e nascimentos<br />

sua mistura e preparação e fornecimento<br />

aos animais;<br />

Em sistemas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> peque-<br />

do ano.<br />

2) a limpeza e o manejo do cocho nos ruminantes, os aspectos importantes<br />

são resolvidos mais facilmente com<br />

3) o monitoramento do consumo e do<br />

<strong>de</strong>sempenho dos animais.<br />

a divisão dos animais em categoria <strong>de</strong><br />

Os alimentos facilmente representam produção. Os animais, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

50% das <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> uma caprinocultu-<br />

da esp<strong>é</strong>cie, ida<strong>de</strong>, sexo e do estádio<br />

O Berro - nº 168<br />

77


Sugestão <strong>de</strong> categorias <strong>de</strong> produção para o manejo alimentar <strong>de</strong> caprinos e ovinos.<br />

Categoria<br />

Animaisnafase<strong>de</strong>cria<br />

Animais<strong>de</strong>recria<br />

Ovelhase<strong>cabra</strong>s solteiras<br />

Ovelhase<strong>cabra</strong>s antesdaestação<strong>de</strong><br />

monta<br />

Ovelhase<strong>cabra</strong>s nãolactantesenas<br />

primeiras15semanas <strong>de</strong> gestação<br />

Ovelhase<strong>cabra</strong>s em terçofinal <strong>de</strong><br />

gestação<br />

Ovelhase<strong>cabra</strong>emlactação<br />

Fêmeas para reposição<br />

Reprodutores em manutençãoe<br />

reprodução<br />

Fonte: Pereira, L.G.R, ET AL. (2007)<br />

fisiológico que se encontram, apresentam<br />

hábitos alimentares, exigências<br />

nutricionais e comportamentos diferentes.<br />

Assim, po<strong>de</strong>m ser empregadas as<br />

categorias <strong>de</strong> produção apresentadas<br />

na Tabela.<br />

Os custos com concentrado tornam<br />

a produção <strong>de</strong> animais mais onerosa,<br />

portanto, <strong>é</strong> necessário a implantação<br />

<strong>de</strong> capineiras que possibilitam a diminuição<br />

<strong>de</strong>sses custos. Na alimentação<br />

animal <strong>é</strong> importante dar preferência às<br />

varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantas mais adaptáveis<br />

à região, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam bem aceitas<br />

pelos animais e tenham bom valor<br />

nutritivo. No Semiárido, geralmente<br />

estão disponíveis para alimentação <strong>de</strong><br />

caprinos e ovinos, a pastagem nativa<br />

(caatinga), a cultivada, os volumosos<br />

suplementares (palma, feno e silagem),<br />

Descrição eCuidadosEspeciais<br />

Animais rec<strong>é</strong>m-nascidos at<strong>é</strong> a<strong>de</strong>smama. Geralmente <strong>é</strong>afase mais crítica e<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> cuidados<br />

com omanejo <strong>de</strong>colostro (assegurar que os animais ingiram <strong>de</strong>0,5 a1,0 litro <strong>de</strong> colostro nas<br />

primeiras18 horas da vida) ecuradoumbigo. Omanejovaria <strong>de</strong> acordo comoobjetivo do sistema<strong>de</strong><br />

produção. Nesta fase po<strong>de</strong> ser adotado autilização do "creep-feeding" econtrole <strong>de</strong>mamadas,<br />

práticas quepo<strong>de</strong>m interferir na eficiência produtivaereprodutiva dosrebanhos.<br />

Categoria que oferece amelhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>carne. Caracterizada pelo rápido ganho <strong>de</strong> peso e<br />

elevadaexigência nutricional.<br />

Animais <strong>de</strong> menor exigência. Alimentação com volumosos <strong>de</strong> m<strong>é</strong>dia qualida<strong>de</strong> geralmente são<br />

suficientes para que estesanimais não ganhemenempercampeso.<br />

Níveis nutricionaiselevados, três semanas antes etrês<strong>de</strong>pois da estação <strong>de</strong>monta, po<strong>de</strong>maumentar<br />

onúmero<strong>de</strong>animais nascidos(flushing).<br />

Possuem exigências pouco acima da mantença, mas necessitam ganhar peso, pois vão emagrecer<br />

durante alactação. Ração abase <strong>de</strong> forrageiras <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>m as exigências <strong>de</strong>sta<br />

categoria.<br />

Possuem exigências elevadas, jáque 70% do crescimento fetal ocorre neste período. Recomenda-se<br />

melhorar oplano nutricional,com utilização <strong>de</strong> forrageira <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>econcentrado.<br />

Apresentam elevada exigência em nutrientes. Nesta fase, geralmente osanimais utilizam as reservas<br />

corporais (gordura) e per<strong>de</strong>m peso. Matrizes que pariram dois ou mais filhotes <strong>de</strong>vem receber<br />

alimentaçãodiferenciada.<br />

Adivisão dos animais <strong>de</strong>sta categoria em quatro lotes<strong>é</strong>recomendada, seja ela baseada naprodução<br />

<strong>de</strong> leite, no caso <strong>de</strong> caprinos leiteiros, ou <strong>de</strong> acordo comaor<strong>de</strong>m<strong>de</strong>parição eonúmero <strong>de</strong> crias, para<br />

caprinos eovinos<strong>de</strong>corte.<br />

Representam ofuturo produtivo eomanejo nutricional <strong>de</strong>ve permitir umbom índice <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>.<br />

Deficiências nutricionais po<strong>de</strong>m retardar aida<strong>de</strong> aoprimeiro cio ereduzir o peso àprimeira cobertura.<br />

Opeso excessivo <strong>de</strong>sses animais tamb<strong>é</strong>m não <strong>é</strong><strong>de</strong>sejável, pois po<strong>de</strong>m interferir negativamente na<br />

produção <strong>de</strong> leiteenos índicesreprodutivos.<br />

A nutrição <strong>de</strong>ve ser suficiente para garantir aprodução <strong>de</strong> sêmen <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, permitindo<br />

eficiência na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monta. Deve-se fornecer dietas enriquecidas com proteína eenergia<br />

duranteaestação <strong>de</strong> monta. Oexcesso <strong>de</strong> fósforopo<strong>de</strong>causarurolitíase.<br />

al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> alimentos concentrados, geralmente<br />

comprados <strong>de</strong> outras regiões<br />

produtoras.<br />

Animais que são carentes na nutrição<br />

<strong>de</strong>vem ter acesso à suplementação<br />

com feno ou silagem <strong>de</strong> leguminosas<br />

e/ou gramíneas, obtidas do campo <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> forragem das áreas úmidas<br />

da proprieda<strong>de</strong>. Deve ser oferecida uma<br />

mistura <strong>de</strong> sal comum e sal mineralizado<br />

nos cochos, colocados nos apriscos, à<br />

vonta<strong>de</strong>.<br />

O efeito do estado nutricional na<br />

performance reprodutiva <strong>é</strong> muito importante.<br />

Apesar que os tipos <strong>de</strong> fontes<br />

nutricionais e os problemas <strong>de</strong> manejo<br />

possam diferir entre regiões, os processos<br />

fisiológicos que comandam o <strong>de</strong>sempenho<br />

reprodutivo são os <strong>mesmo</strong>s.<br />

Os animais, sob condições nutricionais<br />

78 O Berro - nº 168


Folhas, resíduos secos, tudo <strong>é</strong> bom<br />

para alimentação.<br />

ina<strong>de</strong>quadas, agem negativamente no<br />

processo reprodutivo, afetando os índice<br />

<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> do rebanho.<br />

A alimentação <strong>é</strong> o principal fator do<br />

comportamento reprodutivo e <strong>de</strong> respostas<br />

aos tratamentos <strong>de</strong> sincronização <strong>de</strong><br />

estros em todas as esp<strong>é</strong>cies animais. A<br />

limitada disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos do<br />

Semiárido, associada à escassez das<br />

chuvas, <strong>é</strong> <strong>de</strong>terminante no estado nutricional<br />

dos rebanhos. Assim, o atraso<br />

e a ausência <strong>de</strong> cio estão estreitamente<br />

relacionados com a baixa condição corporal<br />

dos animais. A taxa <strong>de</strong> ovulação e<br />

a fertilida<strong>de</strong> são altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

da alimentação pr<strong>é</strong>-cobertura, pois<br />

em bom estado nutricional os animais<br />

apresentam excelentes respostas ao<br />

tratamento.<br />

Como já foi dito, a alimentação <strong>é</strong> o fator<br />

que mais onera o custo nos sistemas<br />

<strong>de</strong> produção animal. Esta realida<strong>de</strong> <strong>é</strong><br />

ainda mais marcante na região Semiá-<br />

O concentrado po<strong>de</strong> ser preparado em casa.<br />

rida, pois ainda há gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> na<br />

produção <strong>de</strong> alimentos. A solução está<br />

em implementar um bom planejamento<br />

alimentar, aproveitando todas as formas<br />

<strong>de</strong> alimentos que são possíveis. Muitas<br />

tecnologias já estão sendo geradas e<br />

já existem estudos para aprimorar o<br />

manejo alimentar dos caprinos e ovinos<br />

no Semiárido.<br />

O mais importante <strong>é</strong> ter consciência<br />

da realida<strong>de</strong> da criação e da proprieda<strong>de</strong>,<br />

para que possa surgir soluções<br />

importantes que gerem aumento <strong>de</strong><br />

produção e lucrativida<strong>de</strong>.<br />

O Berro - nº 168<br />

Cocho cheio para manter um<br />

rebanho lucrativo.<br />

Sueli Freitas dos Santos - Zootecnista.<br />

Patrícia Almeida Mapurunga - Graduanda<br />

em Zootecnia - Universida<strong>de</strong><br />

Estadual Vale do Acaraú-UVA; Juliete<br />

<strong>de</strong> Lima Gonçalves - Graduanda em<br />

Zootecnia - Universida<strong>de</strong> Estadual Vale<br />

do Acaraú-UVA; Natália Lívia <strong>de</strong> Oliveira<br />

Fonteles - Mestranda em Zootecnia -<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Vale do<br />

Acaraú-UVA.<br />

79


Ingredientes<br />

Feijoada light <strong>de</strong> bo<strong>de</strong><br />

Bom<br />

apetite!<br />

- 1 e ½ Kg <strong>de</strong> feijão-preto;<br />

- 500g <strong>de</strong> costela <strong>de</strong>fumada;<br />

- 300g <strong>de</strong> linguiça <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumada;<br />

- 200g <strong>de</strong> músculo <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumado;<br />

- 4 p<strong>é</strong>s <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumados;<br />

- 1 rabo <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumado;<br />

- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> or<strong>é</strong>gano;<br />

- 1 colher (sopa) alecrim;<br />

- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> cominho;<br />

- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> pimenta do reino moída<br />

- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> corante;<br />

- 1 xícara (chá) <strong>de</strong> vinagre branco;<br />

- 1 tomate;<br />

- 1 cebola;<br />

- 1 pimentão;<br />

- 1 xícara (chá) <strong>de</strong> cheiro-ver<strong>de</strong>;<br />

- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> azeite.<br />

Modo <strong>de</strong> preparo<br />

- Deixe o feijão-preto <strong>de</strong> molho por três horas,<br />

cozinhar por 20 minutos em panela <strong>de</strong> pressão<br />

e reservar. Cotar a carne <strong>de</strong>fumada em<br />

pedaços pequenos e levar em água corrente.<br />

- Cortar em pedaços pequenos a cebola, o<br />

pimentão, o tomate e o cheiro ver<strong>de</strong>, reserve-<br />

Ingredientes<br />

- Alho e sal à gosto<br />

- 1 cebola <strong>de</strong> cabeça picada<br />

- 2 sachês <strong>de</strong> tempero <strong>de</strong> sua preferência<br />

- Pimenta à gosto<br />

- 1 pitada <strong>de</strong> corante<br />

- Coentro Ver<strong>de</strong><br />

- Pele <strong>de</strong> porco<br />

- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> gordura <strong>de</strong> porco<br />

- 750 mL <strong>de</strong> água<br />

- 1 kg <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> carneiro<br />

- Macacheira e agrião, a gosto, se quiser.<br />

Rabada <strong>de</strong> carneiro<br />

-os separadamente. Use os temperos e as<br />

ervas para preparar a carne e acrescente o<br />

vinagre. Aqueça o azeite em uma panela <strong>de</strong><br />

pressão e refogue o ½ cheiro-ver<strong>de</strong>. Misture<br />

com a carne e <strong>de</strong>ixe cozinhar at<strong>é</strong> ficar macia<br />

(20 minutos); Junte a carne com feijão e <strong>de</strong>ixe<br />

cozinhar at<strong>é</strong> o caldo ficar grosso e o feijão<br />

amolecer, prove o sal, acrescente o restante<br />

do cheiro-ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ixe cozinhar por 5 minutos.<br />

Serve at<strong>é</strong> 15 pessoas.<br />

Modo <strong>de</strong> preparo<br />

Junte todos os ingredientes e <strong>de</strong>ixe no fogo 15<br />

minutos após pegar pressão.<br />

Servir com arroz branco e salada <strong>de</strong> rúcula.<br />

Se quiser, acrescentar macacheira.<br />

80 O Berro - nº 168


Boa leitura<br />

A divisão da alma<br />

dos mortos<br />

O antigo cemit<strong>é</strong>rio ainda tinha túmulos<br />

com correntes, lembrando os<br />

tempos em que todos acreditavam<br />

que as almas vagavam, levando a<br />

morte para os inocentes. As correntes<br />

eram para pren<strong>de</strong>r as almas em<br />

seu respectivo <strong>lugar</strong>: o túmulo. O terror<br />

chegou a um ponto em que ningu<strong>é</strong>m<br />

mais queria ser enterrado naquele<br />

cemit<strong>é</strong>rio que foi, então, abandonado.<br />

O mato cresceu e todos foram<br />

esquecendo as histórias <strong>de</strong> apertura.<br />

O novo cemit<strong>é</strong>rio, sim, fora benzido<br />

com água benta e ali as almas<br />

podiam <strong>de</strong>scansar em paz.<br />

Joca e Selim eram dois espertalhões<br />

que roubavam animais em um<br />

distrito e vendiam em outro. Eram<br />

roubos pequenos e, então, a culpa<br />

caía em cachorros vadios, raposas<br />

e carcarás. Agora, tinham <strong>de</strong>scoberto<br />

uma mina <strong>de</strong> ouro: roubavam os<br />

animais e iam colocando num cercadinho<br />

que construíram <strong>de</strong>ntro do velho<br />

cemit<strong>é</strong>rio. Foi assim que conseguiram<br />

juntar mais <strong>de</strong> vinte animais.<br />

Era hora <strong>de</strong> dividir.<br />

Entraram no cemit<strong>é</strong>rio, à noite e<br />

começaram a divisão:<br />

- Um para mim; um para você.<br />

- Esse para mim; esse para você.<br />

Paravam, bebiam um trago, discutiam<br />

sobre as qualida<strong>de</strong>s dos animais,<br />

para garantir uma divisão justa<br />

entre amigos da profissão.<br />

Numa distração, dois bo<strong>de</strong>tes escapuliram,<br />

correram, subiram no muro<br />

e <strong>de</strong>spencaram para o lado <strong>de</strong> fora<br />

do cemit<strong>é</strong>rio.<br />

- Não faz mal, <strong>é</strong> <strong>de</strong> noite <strong>mesmo</strong>.<br />

Depois que a gente terminar, <strong>é</strong> fácil<br />

pegar os dois que fugiram.<br />

Era sexta-feira, noite, dia <strong>de</strong> porre<br />

e um bêbado foi se encostar no muro<br />

do velho cemit<strong>é</strong>rio, para curtir a bebe<strong>de</strong>ira,<br />

quando ouviu:<br />

- Essa <strong>é</strong> para mim; você fica com<br />

aquela ali.<br />

- Esse gordinho <strong>é</strong> meu: aquele gordão<br />

<strong>é</strong> seu.<br />

O bêbado teve uma treme<strong>de</strong>ira:<br />

eram os agentes do diabo dividindo<br />

as almas dos mortos pecadores que<br />

iriam ser <strong>de</strong>spachados para o inferno.<br />

Saiu <strong>de</strong>sabalado, voando nas pernas<br />

meio entrevadas pelo álcool, chegando<br />

à <strong>de</strong>legacia, com a língua <strong>de</strong> fora:<br />

- Seu guarda, pelo amor <strong>de</strong> Deus,<br />

O Berro - nº 168<br />

81


vem comigo, já, já. Deus e o Diabo<br />

estão no cemit<strong>é</strong>rio, bem agora, dividindo<br />

as almas dos mortos.<br />

- Deixa disso, homem! - espinafrou<br />

o guarda. On<strong>de</strong> já se viu juntar Deus<br />

e o Diabo num <strong>lugar</strong> só.<br />

- Juro que <strong>é</strong> verda<strong>de</strong>. Carece <strong>de</strong><br />

ver. É pecado <strong>de</strong>ixar as pobres almas<br />

assim.<br />

Tanto falou que o guarda resolveu<br />

passar a limpo.<br />

- Pois vamos lá e vou avisando: se<br />

for mentira, você vai ficar três dias fechado<br />

no xadrez.<br />

Quando chegaram perto do muro,<br />

logo ouviram:<br />

- Mais um para mim; mais um para<br />

você.<br />

- Esse branquelo para mim: aquele<br />

escurinho para você.<br />

- Essa linda para mim; essa bonitinha<br />

para você.<br />

O guarda sentiu um calafrio; o bêbado<br />

estava boquiaberto, olhos esbugalhados,<br />

mal po<strong>de</strong>ndo falar:<br />

- É o dia da divisão das almas dos<br />

mortos. Ai, meu Deus, o que vem <strong>de</strong>pois?<br />

O guarda nem pestanejou:<br />

- Vem o dia do Apocalipse. Vai todo<br />

mundo morrer.<br />

Foi então que aconteceu o pior. As<br />

vozes <strong>de</strong>ram um gran<strong>de</strong> suspiro, <strong>de</strong>ntro<br />

do cemit<strong>é</strong>rio:<br />

- Ôxa, at<strong>é</strong> que enfim acabamos<br />

com esse cemit<strong>é</strong>rio. E agora? Que<br />

vamos fazer?<br />

A outra voz, mais cavernosa, cansada,<br />

rangendo, respon<strong>de</strong>u:<br />

- Agora a gente vai ali fora e pega<br />

os dois que estão pertinho no muro.<br />

Não po<strong>de</strong> ficar testemunha para contar<br />

história...<br />

O guarda e o bêbado nem ouviram<br />

o final, pois sabiam que eles eram os<br />

dois a serem divididos, agora, para o<br />

inferno. Ôxa! Desembestaram pela<br />

estrada, rumo ao boteco central, para<br />

tomar o último porre, já que o mundo<br />

ia acabar <strong>de</strong> vez, a qualquer momento.<br />

82 O Berro - nº 168

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!