Sertão é mesmo lugar de cabra & ovelha
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Nº 168 - Julho - 2013<br />
<strong>Sertão</strong> <strong>é</strong> <strong>mesmo</strong> <strong>lugar</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong><br />
Diga NÃO à verminose<br />
Ceará vai a Israel para acabar com a Seca<br />
Dicas para confinamento<br />
Ovinos e Bem-Estar Animal<br />
Parto, momento <strong>de</strong>cisivo na vida do cor<strong>de</strong>iro<br />
Confinamento comunitário em SP<br />
Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> em MG<br />
Manejo <strong>de</strong> carneiros no acasalamento<br />
As crianças apren<strong>de</strong>m com as <strong>ovelha</strong>s<br />
Manejo nutricional em região semiárida<br />
Alternativa sustentável para <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong><br />
O bom exemplo do cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura<br />
O futuro passa pela<br />
Cabra & Ovelha
Editorial<br />
O futuro passa pela Cabra & Ovelha<br />
Analisando os últimos governos do<br />
Brasil percebe-se que todos foram financiados<br />
pelo Agronegócio, o setor que tem<br />
<strong>de</strong>ixado saldos que permitem investir no<br />
povo. Mesmo agora, com tantos problemas<br />
na economia mundial, a <strong>de</strong>saceleração<br />
chinesa, etc. as vendas do setor rural<br />
brasileiro continuam crescendo. Entre<br />
junho <strong>de</strong> 2012 e junho <strong>de</strong> 2013, passaram<br />
<strong>de</strong> US$ 100 bilhões pela primeira vez na<br />
História, com aumento <strong>de</strong> 4,2% sobre anterior.<br />
O saldo comercial foi <strong>de</strong> US$ 83,91<br />
bilhões a favor do Brasil. Esse dinheiro foi<br />
comido por outros setores, pois o saldo<br />
total foi <strong>de</strong> apenas US$ 9,35 bilhões.<br />
Basta ver o primeiro semestre <strong>de</strong> 2013:<br />
o setor rural teve superávit <strong>de</strong> US$ 41,3<br />
bilhões, enquanto o d<strong>é</strong>ficit comercial<br />
global foi <strong>de</strong> US$ 3,0 bilhões. Ou seja, os<br />
outros setores tiveram um d<strong>é</strong>ficit <strong>de</strong> US$<br />
44,3 bilhões.<br />
Apesar <strong>de</strong>sses números, os dois últimos<br />
governos (Lula e Dilma) têm tentado<br />
atrasar o setor rural, por meio <strong>de</strong> políticas<br />
equivocadas como: quilombolas, indígenas,<br />
terras para o MST, etc. É um incrível<br />
paradoxo num país com tantas terras<br />
disponíveis para fazer a riqueza <strong>de</strong> toda<br />
população.<br />
O avanço do setor rural vem sendo<br />
conquistado puramente pela intensa<br />
mo<strong>de</strong>rnização do campo, realizada pelos<br />
produtores. Novas t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> cultivo ou<br />
<strong>de</strong> criação, uso mais intenso <strong>de</strong> insumos,<br />
mecanização, introdução <strong>de</strong> novas varieda<strong>de</strong>s,<br />
novas formas <strong>de</strong> gestão, avanço<br />
para novas fronteiras mais produtivas<br />
vêm propiciando contínuo e rápido crescimento<br />
da produtivida<strong>de</strong> do campo.<br />
Armando Fornazier e Jos<strong>é</strong> Eustáquio<br />
Ribeiro Vieira Filho, publicaram<br />
uma pesquisa no Instituto <strong>de</strong> Pesquisa<br />
Econômica Aplicada, mostrando que<br />
o índice <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> agrícola do<br />
Brasil foi multiplicado por 3,7 (ou 370%)<br />
entre 1975 e 2010. Mais <strong>de</strong> 10% ao ano!<br />
É praticamente o dobro do observado<br />
nos Estados Unidos nesse período. A<br />
produtivida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ra o aumento do<br />
produto não explicado pelo aumento da<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insumos, mas por ganhos<br />
<strong>de</strong> eficiência, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
científico e tecnológico.<br />
O setor rural representa um processo<br />
O Berro - nº 168<br />
3
<strong>de</strong> ganho continuado e que persiste,<br />
como mostram as mais recentes projeções<br />
para a safra <strong>de</strong> grãos 2012/2013. De<br />
acordo com a Companhia Nacional <strong>de</strong><br />
Abastecimento (Conab), a produção<br />
nacional <strong>de</strong> grãos alcançará 185,05 milhões<br />
<strong>de</strong> toneladas - um novo recor<strong>de</strong>. O<br />
volume <strong>é</strong> 0,4% maior do que o estimado<br />
no levantamento anterior da Conab, feito<br />
em junho. Se confirmada essa projeção,<br />
a produção da safra 2012/2013 será<br />
11,4% maior do que a da safra anterior,<br />
<strong>de</strong> 166,17 milhões <strong>de</strong> toneladas.<br />
Tal produção será alcançada com uma<br />
área plantada <strong>de</strong> 53,23 milhões <strong>de</strong> hectares,<br />
4,6% maior do que a cultivada na<br />
safra anterior. Enorme ganho com pouca<br />
área adicionada. A produção crescerá a<br />
velocida<strong>de</strong>s mais altas do que a da expansão<br />
da área plantada, o que mostra a<br />
persistência dos ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />
do campo.<br />
Cabra & Ovelha - Se o sucesso no<br />
setor rural brasileiro vai muito bem, como<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito o cenário da caprino-<br />
-ovinocultura? Segundo os prognósticos<br />
da FAO, o crescimento <strong>de</strong>sse setor <strong>é</strong> muito<br />
importante para a alimentação mundial<br />
at<strong>é</strong> o ano 2050.<br />
At<strong>é</strong> o momento, tanto o Nor<strong>de</strong>ste<br />
(<strong>de</strong>slanados), como o Sul (lanados), o Su<strong>de</strong>ste<br />
e Centro-Oeste estão precisando <strong>de</strong><br />
uma consolidação da ativida<strong>de</strong>. O Brasil<br />
continua importando carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro,<br />
enquanto o setor não se organiza internamente.<br />
Ou seja, o País está jogando<br />
dinheiro fora, pois po<strong>de</strong>ria ter um dos<br />
maiores rebanhos do planeta, com <strong>de</strong>sfrute<br />
econômico semelhante ao da Austrália,<br />
Nova Zelândia e Estados Unidos.<br />
A gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política,<br />
pois - no Nor<strong>de</strong>ste - o melhoramento<br />
da caprino-ovinocultura passa pela mo<strong>de</strong>rnização<br />
do setor rural e isso não interessa<br />
à "Indústria da Seca" instalada <strong>de</strong>ntro dos<br />
Minist<strong>é</strong>rio e Governos. Pelo contrário, interessa<br />
manter os criadores <strong>de</strong> miúnças<br />
como "gente pobre". Negócio <strong>de</strong> gente<br />
pobre. As políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sviam-se, às claras, do<br />
<strong>Sertão</strong> semiárido, privilegiando a "Indústria<br />
da Seca" que tamb<strong>é</strong>m comanda o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento na Zona da Mata e no<br />
Litoral. A "Indústria da Seca" transfere os<br />
recursos governamentais do <strong>Sertão</strong> para<br />
as regiões que apresentam resposta rápida<br />
eleitoreira (gran<strong>de</strong>s centros urbanos<br />
nos litorais). O Governo faz <strong>de</strong> conta que<br />
não enxerga, pois - a rigor - está sempre<br />
atrelado ao esquema.<br />
Assim, lutar pela <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> manter<br />
erguida uma ban<strong>de</strong>ira que preten<strong>de</strong><br />
corrigir as fantásticas distorções que se<br />
abatem sobre milhões <strong>de</strong> pessoas que<br />
insistem em continuar produzindo nos<br />
Sertões.<br />
Os recursos que seriam da <strong>cabra</strong> & <strong>ovelha</strong><br />
acabam lubrificando as engrenagens<br />
da sórdida política que mant<strong>é</strong>m as pessoas<br />
algemadas a um esquema político <strong>de</strong><br />
maus tratos, <strong>de</strong> alta mortalida<strong>de</strong> infantil,<br />
baixa cultura, horizonte eternamente<br />
sombrio. Espera-se o surgimento <strong>de</strong> um<br />
"General" que, realmente, dê importância<br />
às pessoas e, principalmente, ao que elas<br />
produzem.<br />
A riqueza nor<strong>de</strong>stina e a riqueza dos<br />
pampas gaúchos passam necessariamente<br />
pelo crescimento sustentado da<br />
pecuária <strong>de</strong> pequenos ruminantes. Essa<br />
riqueza po<strong>de</strong> gerar acima <strong>de</strong> 10 milhões<br />
<strong>de</strong> empregos no setor rural: uma bênção<br />
num País que precisa crescer para melhor<br />
aten<strong>de</strong>r sua gente.<br />
4 O Berro - nº 168
O BERRO - nº 168 - Julho <strong>de</strong> 2013<br />
Editorial:<br />
O futuro passa pela<br />
Cabra & Ovelha..................... 3<br />
Conjuntura:<br />
<strong>Sertão</strong> <strong>é</strong> <strong>lugar</strong> <strong>de</strong> Cabra &<br />
Ovelha.................................... 8<br />
Ceará vai a Israel para acabar<br />
com a Seca..........................13<br />
Sucesso do Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong><br />
Fartura.................................42<br />
O Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura e o<br />
Confinamento...................... 50<br />
Sanida<strong>de</strong>:<br />
Diga NÃO à verminose.......10<br />
Produção:<br />
Dicas para instalação <strong>de</strong> um<br />
confinamento <strong>de</strong> ovino........24<br />
Nutrição:<br />
Manejo nutricional <strong>de</strong><br />
caprinos e ovinos em regiões<br />
semiáridas...........................76<br />
Manejo:<br />
Ovinos e o Bem<br />
Estar Animal.........................32<br />
Veterinária:<br />
Parto: momento <strong>de</strong>cisivo na<br />
vida do cor<strong>de</strong>iro...................36<br />
Mercado:<br />
Leite <strong>de</strong> Ovelha em MG......60<br />
Manejo:<br />
Alternativa sustentável para<br />
a caprino-ovinocultura do<br />
Semiárido.............................64<br />
Educação:<br />
As crianças apren<strong>de</strong>m com<br />
<strong>ovelha</strong>s.................................69<br />
Mosaico:<br />
Cabra: a primeira artista <strong>de</strong><br />
cinema do mundo................74<br />
Boa leitura:<br />
A divisão da alma<br />
dos mortos...........................81<br />
... e Mais<br />
Austrália ven<strong>de</strong> mais<br />
cor<strong>de</strong>iros...............................21<br />
Goiás apenas engatinha com<br />
cor<strong>de</strong>iros...............................21<br />
Texel julgará Melhor Progênie<br />
na Expointer..........................30<br />
Brasil duplica compras <strong>de</strong><br />
carne ovina no Uruguai........40<br />
Alto Camaquã vai entregar<br />
cor<strong>de</strong>iro e cabrito..................48<br />
Dorper tem programa <strong>de</strong><br />
certificação............................48<br />
Culinária: Feijoada light <strong>de</strong><br />
bo<strong>de</strong> - Rabada <strong>de</strong> carneiro..80<br />
BAHIA<br />
Barbeirinho............................. 71<br />
Bule-Bule................................ 55<br />
ExpoRURAL........................... 63<br />
Expo Santa Inês....................... 2<br />
CEARÁ<br />
Capril SAID............................. 71<br />
ESPÍRITO SANTO<br />
GranExpoES........................... 27<br />
Leilão Terras <strong>de</strong> Guará........... 84<br />
MARANHÃO<br />
Fábio Braga............................ 11<br />
MINAS GERAIS<br />
Livros Editora ZEBU: A Pecuária<br />
Sustentável ............................ 25<br />
MATO GROSSO<br />
Ovinos Araguaia..................... 71<br />
PATROCINADORES<br />
PARAÍBA<br />
Diassis Xavier......................... 56<br />
Tonho Vaqueiro....................... 71<br />
PERNAMBUCO<br />
Agrosom................................. 55<br />
Cacimbinha do Rafa............... 56<br />
Capril do Junco....................... 71<br />
Caroatá Gen<strong>é</strong>tica..............22-23<br />
Clovis Guimaraes Filho.......... 55<br />
Faz Alto do Cruzeiro............... 17<br />
JMB Assess Pecuária............ 55<br />
Zito Som.................................. 71<br />
PARANÁ<br />
ITC do Brasil........................... 41<br />
Makroquímica......................... 67<br />
RIO GRANDE DO NORTE<br />
JMA Assess<br />
Comunicações........................ 71<br />
RIO GRANDE DO SUL<br />
Associação do<br />
Ille-<strong>de</strong>-France............................. 35<br />
Brastexel................................. 49<br />
Cabanha Cocão..................... 49<br />
Cabanha Cordilheira.............. 49<br />
Cabanha Santa<br />
Cecília..................................... 31<br />
Cabanha São<br />
Francisco................................ 41<br />
Ren<strong>é</strong> Dal Piaz......................... 31<br />
SÃO PAULO<br />
Cabrestos Herts...................... 55<br />
Casa do Tosador.................... 67<br />
Chacara Vale Ver<strong>de</strong>............... 55<br />
Chico Borborema................... 55<br />
Elan Tra<strong>de</strong>.............................. 49<br />
Fausto D´Angieri..................... 55<br />
Vetnil ...................................... 83<br />
M M M M M M<br />
O Berro - nº 168<br />
5
Cartas<br />
Esta seção <strong>é</strong> aberta para todos os leitores<br />
Feinco na Feicorte - Li que<br />
nos próximos 10 anos o Brasil<br />
vai ganhar muito dinheiro se<br />
investir na caprino-ovinocultura<br />
(Berro-167, p. 14). Gozado<br />
<strong>é</strong> que esses "10 anos" estão<br />
durando um bocado <strong>de</strong> tempo,<br />
pois já se falava isso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />
d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1980. Passaram-se<br />
vários "10 anos" e a produção<br />
<strong>de</strong> carne continua engatinhando,<br />
sem um horizonte tranquilo.<br />
Sempre entram novos empresários<br />
e saem outros. Quando<br />
<strong>é</strong> que os "10 anos" serão "10<br />
anos", <strong>mesmo</strong>? - Adalfredo P.<br />
Andreotti, São Paulo (SP).<br />
Cartão Famacha - Gostei<br />
muito da sincerida<strong>de</strong> do início<br />
da mat<strong>é</strong>ria "Famacha i<strong>de</strong>ntifica<br />
o grau <strong>de</strong> anemia" (Berro-167,<br />
pág. 18) ao afirmar: "Não há<br />
fórmula pronta para o controle<br />
do Haemonchus contortus".<br />
Confesso que o cartão Famacha<br />
faz muito mais que certos<br />
medicamentos que acabam<br />
complicando o quadro geral<br />
sanitário da fazenda. - Lucas<br />
S. Robert, Curitiba (PR).<br />
Plantas contra vermes<br />
- A mat<strong>é</strong>ria da página 25 (Berro-167)<br />
tratando <strong>de</strong> certas<br />
plantas que po<strong>de</strong>m combater<br />
os vermes não <strong>é</strong> novida<strong>de</strong>.<br />
Nos tempos <strong>de</strong> minha avó já<br />
se tratava o verme com banana<br />
ver<strong>de</strong>. Minha avó fazia doce<br />
<strong>de</strong> tronco <strong>de</strong> bananeira contra<br />
os vermes. Achei muito bom<br />
ver que minha avó sabia das<br />
coisas. Hoje, existem muitos<br />
nomes difíceis, mas a sabedoria<br />
da avó ainda era melhor.<br />
Outras plantas cuidam dos<br />
vermes. O negócio <strong>é</strong> fazer com<br />
que os produtor <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s<br />
plante essas ervas e plantas<br />
na fazenda. - Michel O. Pontes<br />
Chaim (Campo Gran<strong>de</strong>, MS).<br />
Estrat<strong>é</strong>gia simples - O<br />
t<strong>é</strong>cnico Ta<strong>de</strong>u Vinhas Voltolini<br />
finalizou sua reportagem muito<br />
bem: "Mesmo em um período<br />
<strong>de</strong> seca, t<strong>é</strong>cnicas simples<br />
fazem gran<strong>de</strong> diferença em<br />
um sistema <strong>de</strong> produção". De<br />
fato, os sertões nor<strong>de</strong>stinos<br />
precisam <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas simples,<br />
pois a fragilida<strong>de</strong> climática<br />
não permite tecnologias complicadas.<br />
O sertanejo escapa<br />
se tiver alimentos: essa <strong>é</strong> a<br />
verda<strong>de</strong>. Se sofre com a seca<br />
<strong>é</strong> porque não tem alimentos<br />
para os bichos que, por sua<br />
vez, seriam alimentos para<br />
os humanos. Então, tudo se<br />
resume em ter alimentos estocados<br />
para enfrentar os maus<br />
momentos. Nada <strong>de</strong> esperar<br />
governos. Outros países têm<br />
secas e já resolveram o problema.<br />
- Onório S. Marques,<br />
Recife (PE).<br />
Ovelha gaúcha - Na página<br />
39 (Berro-167) está um histórico<br />
da ovinocultura gaúcha,<br />
mas <strong>de</strong> novo não diz nada<br />
sobre a <strong>ovelha</strong> do Brasil Colônia.<br />
Que a <strong>ovelha</strong> começou<br />
por lá todo mundo sabe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
os tempos dos jesuítas que<br />
foram expulsos e não levaram<br />
os animais. Ningu<strong>é</strong>m afirmou,<br />
por<strong>é</strong>m, que <strong>ovelha</strong>s eram essas.<br />
Se as <strong>ovelha</strong>s vestiam e<br />
alimentavam as pessoas, quais<br />
eram? Deviam ser preciosas.<br />
O texto parece afirmar que os<br />
animais eram das raças Merino<br />
Australiano e I<strong>de</strong>al, mas isso <strong>é</strong><br />
um equívoco, pois tais raças<br />
eram incógnitas na ocasião.<br />
A carne servia apenas para<br />
alimentar os peões. Será que<br />
existe algum escritor gaúcho<br />
interessado nessa História?<br />
Acho que valeria a pena, pois<br />
eram milhões <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s. - Joachim<br />
Silv<strong>é</strong>rio Ba<strong>de</strong>r, Florianópolis<br />
(SC).<br />
Ovelha gaúcha - A reportagem<br />
no Berro-167 diz<br />
que o rebanho gaúcho quase<br />
<strong>de</strong>sapareceu na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong><br />
1980, mas não <strong>de</strong>sapareceu,<br />
tendo se expandido para outras<br />
regiões, principalmente<br />
o Nor<strong>de</strong>ste. Acho isso muito<br />
pretensioso. A <strong>ovelha</strong> nor<strong>de</strong>stina<br />
tem quase nada a ver com<br />
a <strong>ovelha</strong> gaúcha. Nada que<br />
acontece no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul tem a ver, ou vai influenciar,<br />
a criação nor<strong>de</strong>stina. E<br />
vice-versa. Não foi a queda do<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul que fomentou<br />
a ovinocultura em outras<br />
regiões. O problema gaúcho<br />
<strong>é</strong> um problema gaúcho, só<br />
<strong>de</strong>les e tem que ser resolvido<br />
por lá, aumentando <strong>de</strong> novo<br />
os rebanhos e melhorando a<br />
produtivida<strong>de</strong>. Ningu<strong>é</strong>m po<strong>de</strong><br />
ajudar a <strong>ovelha</strong> gaúcha, assim<br />
como não po<strong>de</strong> ajudar a <strong>ovelha</strong><br />
nor<strong>de</strong>stina: são realida<strong>de</strong>s diferenciadas.<br />
Cada uma tem sua<br />
História própria. A do Nor<strong>de</strong>ste<br />
consegue ser contada <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1562, quando os holan<strong>de</strong>ses<br />
fugiram levando miunças para<br />
as Ilhas da Am<strong>é</strong>rica Central e lá<br />
cultivaram raças que tamb<strong>é</strong>m<br />
estão presentes nos sertões.<br />
6 O Berro - nº 168
Uma longa história. - Am<strong>é</strong>lio<br />
Blasco, Passo Fundo (RS).<br />
Acre aposta em <strong>ovelha</strong>s -<br />
Mostrar que as <strong>ovelha</strong>s po<strong>de</strong>m<br />
levar felicida<strong>de</strong> aos proprietários<br />
<strong>de</strong> terra em regiões longínquas<br />
<strong>é</strong> muito bom (Berro-167,<br />
pág. 54). Claro que sempre<br />
haverá o "time do não", que<br />
irá acusar qualquer forma <strong>de</strong><br />
progresso. São pessoas (geralmente<br />
políticos) que vivem<br />
da ignorância do povo urbano.<br />
O Acre está <strong>de</strong> parab<strong>é</strong>ns ao<br />
apostar nas <strong>ovelha</strong>s. Vários<br />
outros estados po<strong>de</strong>riam fazer<br />
o <strong>mesmo</strong>. - Elizeu Miguel Barbieri,<br />
Rio Branco (AC).<br />
Pontos básicos para criação<br />
- Sou zootecnista e produtor<br />
rural em proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha<br />
família. Sempre estu<strong>de</strong>i fórmulas<br />
complicadas e encontrei em<br />
várias revistas Berro (edição<br />
167, pág. 58) que a fórmula po<strong>de</strong><br />
ser simplificada para "Região<br />
+ Situação". Achei uma levianda<strong>de</strong>,<br />
pretensão do escritor.<br />
Mas, <strong>de</strong>pois, comecei a meditar<br />
sobre a realida<strong>de</strong> que vivo na<br />
proprieda<strong>de</strong> e, <strong>de</strong> fato, tudo que<br />
acontece po<strong>de</strong> estar relacionado<br />
<strong>de</strong> alguma maneira a essa diferente<br />
equação (Região + Situação).<br />
At<strong>é</strong> os animais po<strong>de</strong>m ser<br />
enquadrados, biologicamente, a<br />
essa equação. Foi uma luz que<br />
brilhou. Hoje, sei enfrentar os<br />
problemas: basta ver se estão<br />
<strong>de</strong> acordo com a região, ou<br />
com a situação. - Milton Moreira<br />
Legrant, São Paulo (SP).<br />
Do Oba-oba at<strong>é</strong> o Upa-<br />
-upa - Achei muito oportuna a<br />
mat<strong>é</strong>ria <strong>de</strong> Rinaldo dos Santos:<br />
"Depois do oba-oba, do Opa-<br />
-opa e do Epa-epa, chegou a<br />
hora do Upa-upa" (Berro 167,<br />
pág. 61). Claro que <strong>é</strong> um belo<br />
texto, principalmente para quem<br />
não conhece a revista O Berro,<br />
<strong>de</strong> longa data. Para mim está<br />
muito claro que a revista Berro<br />
<strong>é</strong> culpada em todas as fases,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Oba-oba at<strong>é</strong> chegar<br />
ao Upa-upa. Foi a revista que<br />
insuflou milhares <strong>de</strong> novos empresários,<br />
novas exposições,<br />
importação <strong>de</strong> raças, criação <strong>de</strong><br />
modas, bajulando milionários,<br />
etc. Foi a revista que mostrou<br />
a caprino-ovinocultura como<br />
coisa <strong>de</strong> rico, sem ser. Hoje, a<br />
ativida<strong>de</strong> retroagiu aos tempos<br />
<strong>de</strong> antigamente e a revista diz<br />
que <strong>é</strong> o começo <strong>de</strong> novo "Upa-<br />
-upa", esclarecendo que haverá<br />
um crescimento. Será? Ou será<br />
um oba-oba para novos milionários?<br />
- Mário M. Meirelles,<br />
Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte (SP).<br />
O Berro - A revista tenta cumprir<br />
sua função que <strong>é</strong> estimular<br />
antigos e atuais proprietários.<br />
A revista já publicou milhares<br />
<strong>de</strong> textos e at<strong>é</strong> lançou a TV do<br />
Berro. A crise norte-americana,<br />
a crise gaúcha e, agora, a crise<br />
da Seca no Nor<strong>de</strong>ste, obrigam<br />
a uma reflexão. Milhões <strong>de</strong> animais<br />
<strong>de</strong>sapareceram, o culto<br />
ao campeão tamb<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> hora do<br />
Upa-upa em direção a um gran<strong>de</strong><br />
futuro que ainda não chegou. O<br />
Brasil, por<strong>é</strong>m, já <strong>de</strong>u um salto<br />
na caprino-ovinocultura que <strong>é</strong><br />
conhecida <strong>de</strong> norte a sul do país.<br />
Milhares <strong>de</strong> leitores acompanham<br />
a revista que flutua ao sabor <strong>de</strong><br />
nossa brasilida<strong>de</strong>, brasileirismos,<br />
etc. Faz parte do cenário e da<br />
evolução.<br />
O Berro Nº 168 - Julho - 2013<br />
Fundador - Rinaldo dos Santos - em 1978 (Jornal do Berro) e 1980 (O Berro).<br />
Registro INPI: 826717730 - ISSN - 0103-3344 -<br />
PABX: (34) 3312-9788 - Site: www.revistaberro.com.br<br />
Uma publicação<br />
GMBC - GRUPO DE MÍDIA BRASIL CENTRAL<br />
Direção Geral: Eduardo Jos<strong>é</strong> Lacerda do Nascimento - Direção Comercial: Fernando Martini Coor<strong>de</strong>nação<br />
Financeira: Bruno Rebello<br />
vendas.editora@gmbc.com.br – Coor<strong>de</strong>nação Editorial: Rinaldo dos Santos - zebus@zebus.com.br<br />
Revisor para assuntos t<strong>é</strong>cnicos: Paulo Roberto <strong>de</strong> Miranda Leite<br />
Atendimento ao Leitor - Polyelle <strong>de</strong> Souza Gue<strong>de</strong>s Atendimento comercial: Keyse Dayane Linhares<br />
Telemarketing: (34) 3239-5825 - e-mail: comercial@zebus.com.br - Assinaturas: sac@zebus.com.br<br />
Assinatura via site, www.revistaberro.com.br<br />
Arte e Diagramação - Osvaldo Guimarães<br />
Artigos assinados nem sempre traduzem a orientação da publicação. Autorizamos e sugerimos a publicação <strong>de</strong><br />
qualquer parte, agra<strong>de</strong>cendo a citação da fonte: “revista O Berro”.<br />
Escritório: Av Fernando Vilela, 245 - Martins - Uberlândia - MG - CEP: 38400-456 -- CNPJ: 10.301.288/0001-98<br />
Fotolitos: Registro Fotolito Digital: (34) 3239-5800 (Uberlândia, MG)<br />
Impressão: Gráfica Brasil: (34) 3239-5800 (Uberlândia, MG).<br />
O Berro - nº 168<br />
7
Conjuntura<br />
<strong>Sertão</strong> <strong>é</strong> <strong>lugar</strong> <strong>de</strong> Cabra & Ovelha<br />
Marcelo Abdon<br />
Uma simples visão sobre a região em seu pior momento <strong>de</strong> Seca mostra<br />
que o sucesso está diretamente relacionado à criação <strong>de</strong> <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s.<br />
Caprinos são muito rústicos diante da Seca.<br />
A imprensa foi clara: essa <strong>é</strong> a pior seca<br />
dos últimos 40 anos. Por enquanto só fica<br />
atrás da Gran<strong>de</strong> Seca ("a maldição dos<br />
100 anos") que atingiu o Semiárido <strong>de</strong><br />
1979 a 1983.<br />
Os <strong>de</strong>sastres estão anotados na imprensa:<br />
extinção <strong>de</strong> 50%, 60%, 80% dos<br />
rebanhos - em certas <strong>é</strong>pocas. Mortalida<strong>de</strong><br />
incrível <strong>de</strong> pessoas, no passado. Hoje,<br />
com maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento,<br />
as pessoas fogem. Mesmo os que ficam<br />
sofrem muito com a <strong>de</strong>generação da<br />
qualida<strong>de</strong> da água. Ao ser reduzida nos<br />
açu<strong>de</strong>s, avolumam-se os vermes e as<br />
crianças, velhos e animais morrem. Antigamente,<br />
as carcaças ficavam na beira<br />
das veredas, ou ao redor dos açu<strong>de</strong>s;<br />
hoje as pessoas morrem nos hospitais e<br />
o motivo po<strong>de</strong> ficar camuflado. "É proibido<br />
dizer que uma pessoa morreu <strong>de</strong>vido à<br />
Seca".<br />
No início <strong>de</strong>ssa terrível Seca, o rebanho<br />
bovino do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte era <strong>de</strong><br />
aproximadamente 1,0 milhão <strong>de</strong> cabeças.<br />
At<strong>é</strong> o dia 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, restava pouco<br />
mais <strong>de</strong> 20% do rebanho bovino no Estado.<br />
Morreram 80% dos animais.<br />
Teimosia - Não <strong>é</strong> possível que o<br />
produtor rural, que tem suas terras localizadas<br />
no Semiárido nor<strong>de</strong>stino, não<br />
aprenda que essa região não <strong>é</strong> i<strong>de</strong>al para<br />
a criação <strong>de</strong> bovinos. Afinal, bovinos são<br />
animais que necessitam <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volumoso e uma gran<strong>de</strong><br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água. Para se dar uma<br />
i<strong>de</strong>ia, basta lembrar que uma vaca adulta<br />
bebe mais <strong>de</strong> 100 litros <strong>de</strong> água por dia.<br />
Que água?<br />
Mesmo em ano <strong>de</strong> inverno normal,<br />
o que <strong>é</strong> coisa rara, as vacas consomem<br />
muito mais do que a região po<strong>de</strong> oferecer.<br />
De cada 10 anos, um <strong>é</strong> ótimo; 2 são bons;<br />
3 são fracos; 4 são horríveis. É necessário,<br />
portanto, viver em um sistema que<br />
permita aproveitar a<strong>de</strong>quadamente os<br />
recursos naturais.<br />
O Sertanejo, antes <strong>de</strong> tudo <strong>é</strong> um forte<br />
... e teimoso. Não aquela teimosia "burra",<br />
mas a teimosia dos que querem continuar<br />
enfrentando a vida, com as ferramentas<br />
que têm nas mãos. Sertanejo não foge<br />
à luta. Se ele tivesse as ferramentas<br />
<strong>de</strong> convivência com a Seca, o Nor<strong>de</strong>ste<br />
seria uma região próspera, feliz, gerando<br />
8 O Berro - nº 168
A criação <strong>de</strong> caprinos torna o<br />
<strong>Sertão</strong> muito alegre.<br />
milhões <strong>de</strong> empregos. Isso, por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong><br />
questão <strong>de</strong> política e não <strong>de</strong> ecologia.<br />
Região boa - A região do Semiárido<br />
<strong>é</strong> i<strong>de</strong>al para a criação <strong>de</strong> animais <strong>de</strong><br />
pequeno porte, principalmente caprinos,<br />
que suportam todas as adversida<strong>de</strong>s do<br />
clima seco.<br />
É muito fácil conferir: at<strong>é</strong> o momento,<br />
ningu<strong>é</strong>m ouviu falar <strong>de</strong> uma <strong>cabra</strong> ou<br />
um bo<strong>de</strong> que tenha morrido <strong>de</strong> fome ou<br />
<strong>de</strong> se<strong>de</strong> nesta ou qualquer outra seca. A<br />
<strong>cabra</strong>, ou bo<strong>de</strong>, só cai para morrer, quando<br />
todas as vacas e bois já sumiram na<br />
poeira das caatingas. Antes da <strong>de</strong>solação<br />
completa, restarão <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s no<br />
Semiárido.<br />
Os rebanhos somem, claro, porque<br />
as pessoas - sem outra chance - acabam<br />
consumindo suas miunças, ou ven<strong>de</strong>ndo,<br />
Com tecnologia básica, po<strong>de</strong>-se ter<br />
animais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor.<br />
ou levando consigo enquanto fogem em<br />
busca do ver<strong>de</strong>.<br />
A região Semiárida <strong>é</strong> muito boa: ruim<br />
são as políticas escolhidas para ela.<br />
Antes, na <strong>é</strong>poca das políticas fracas e<br />
magras, era comum ver as Frentes <strong>de</strong><br />
Emergência realizando serviços públicos<br />
e <strong>de</strong>ntro das proprieda<strong>de</strong>s. Era uma<br />
maneira <strong>de</strong> "preparar a região" para as<br />
próximas Secas. Agora, tudo piorou: o Governo<br />
distribui "bolsas" e nada <strong>de</strong> emprego<br />
e serviço. Nada <strong>de</strong> preparar a região<br />
para as futuras Secas. O produtor rural,<br />
o que gera empregos e riquezas, fica<br />
abandonado, pois não preten<strong>de</strong> contrair<br />
dívidas. As medidas políticas, portanto,<br />
são favoráveis às famílias <strong>de</strong> povoados<br />
e cida<strong>de</strong>s, mas não às famílias que possuem<br />
proprieda<strong>de</strong>s e que geram riqueza<br />
e emprego nos tempos bons. Miopia que<br />
se repetem há d<strong>é</strong>cadas.<br />
Conclusão - O pecuarista precisa<br />
repensar sua criação daqui por diante,<br />
uma vez que 95% do território do Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Norte está localizado no Semiárido<br />
nor<strong>de</strong>stino, on<strong>de</strong> a Seca não admite<br />
conversa-fiada: ela mata os rebanhos <strong>de</strong><br />
animais ina<strong>de</strong>quados. Para tirar proveito<br />
do clima, o produtor rural precisa ter uma<br />
infraestrutura que suporte, no mínimo,<br />
dois anos <strong>de</strong> Seca e que tenha animais<br />
específicos: <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s. Principalmente<br />
<strong>cabra</strong>s.<br />
Todos os anos, as crias levam riqueza<br />
para a proprieda<strong>de</strong>.<br />
Marcelo Abdon, pecuarista e<br />
jornalista - Título original: "No<br />
Semiárido Nor<strong>de</strong>stino não <strong>é</strong> para<br />
se criar bovinos".<br />
O Berro - nº 168<br />
9
Sanida<strong>de</strong><br />
Diga NÃO à verminose !<br />
Quando houver notícias <strong>de</strong> chuvas <strong>é</strong> bom estar prevenido contra os vermes,<br />
pois eles são diretamente relacionados à umida<strong>de</strong>. Bom produtor <strong>de</strong><br />
ovinos lucrativos não po<strong>de</strong> dar moleza para os vermes.<br />
A verminose <strong>é</strong> a principal doença que<br />
afeta a ovinocultura do país. É responsável<br />
pela baixa produtivida<strong>de</strong> do rebanho<br />
ovino. Provoca muitos prejuízos<br />
econômicos aos produtores. Por que<br />
não <strong>é</strong> combatida? Ela <strong>é</strong> combatida, mas<br />
<strong>de</strong>vido a erros <strong>de</strong> manejo, subnutrição<br />
e pela falta <strong>de</strong> monitoramento atrav<strong>é</strong>s<br />
<strong>de</strong> exames parasitários (OPG), acaba<br />
sendo um inimigo sempre presente.<br />
Quais são as principais parasitoses<br />
do rebanho ovino?<br />
Segundo Vieira (2003) são:<br />
- no abomaso - a hemoncose (Haemonchus<br />
contortus) e a trichostrongilose<br />
(Trichostrongylus axei);<br />
- no intestino <strong>de</strong>lgado - Trichostrongylus<br />
colubriformis, Strongyloi<strong>de</strong>s<br />
papillosus, Cooperia punctata, Cooperia<br />
pectinata e Bunostomum trigonocephalum<br />
- no intestino grosso - Oesophagostomum<br />
colubianum, Trichuris ovis,<br />
Trichuris globulosa e Skrjabinema sp.<br />
Animal sofrendo com verminose aguda.<br />
Quando os vermes atacam ?<br />
Os gran<strong>de</strong>s surtos da hemoncose<br />
acontecem nos meses da primavera,<br />
verão e outono conforme as chuvas.<br />
Quanto mais umida<strong>de</strong>, maior chance<br />
<strong>de</strong> ataques por vermes.<br />
On<strong>de</strong> estão os vermes ?<br />
Segundo Bowman et al. (2003)) vale<br />
ressaltar que menos <strong>de</strong> 5% dos vermes<br />
estão no interior do animal.<br />
O resto, ou seja, 95% dos vermes<br />
encontram-se no ambiente na forma <strong>de</strong><br />
ovos e larvas.<br />
E<strong>de</strong>ma submandibular: sinal <strong>de</strong> crise.<br />
10 O Berro - nº 168
A coleta <strong>de</strong> fezes para exame<br />
<strong>de</strong> OPG <strong>é</strong> importante<br />
Como saber se o animal<br />
está infectado?<br />
As principais manifestações <strong>de</strong>ssas<br />
parasitoses são:<br />
- Perda <strong>de</strong> peso e apetite;<br />
- Diarreia;<br />
- Anemia e papeira;<br />
- Desidratação;<br />
- Morte.<br />
Como evitar a infestação <strong>de</strong> vermes?<br />
Para lidar corretamente com possível<br />
infestação <strong>de</strong> vermes, <strong>é</strong> preciso ter uma<br />
programa <strong>de</strong> manejo. Sempre fazer exames<br />
e estar observando os animais.<br />
O que <strong>é</strong> OPG ?<br />
OPG significa “ovos por grama” <strong>de</strong><br />
fezes expelidas pelo animal. É o resultado<br />
do exame das fezes. Precisa ser feito<br />
periodicamente.<br />
Basta coletar as fezes <strong>de</strong> 10% dos<br />
Pesagem individual para controle do rebanho.<br />
animais <strong>de</strong> cada lote (<strong>ovelha</strong>s adultas,<br />
borregas, cor<strong>de</strong>iros, etc.), <strong>mesmo</strong> parecendo<br />
muito saudáveis. Po<strong>de</strong> ser ao<br />
acaso, mas se houver algum animal <strong>de</strong><br />
pior aparência, conv<strong>é</strong>m sempre incluí-lo.<br />
Como <strong>é</strong> feita a coleta <strong>de</strong> fezes? Usar<br />
luvas e recolher as fezes diretamente do<br />
reto <strong>de</strong> cada animal. Embalar as fezes <strong>de</strong><br />
cada animal, individualmente. Separar os<br />
“pacotes” <strong>de</strong> acordo com as categorias<br />
(<strong>ovelha</strong>s adultas, borregas, cor<strong>de</strong>iros,<br />
etc.). Resfriar os pacotes e enviar para<br />
o laboratório.<br />
O exame precisa ser realizado novamente<br />
7 dias após a aplicação do<br />
vermífugo.<br />
Como aplicar o vermífugo ?<br />
- Pesar, individualmente, os animais<br />
para evitar a subdosagem ou a hiperdosagem<br />
na aplicação do vermífugo, a<br />
fim <strong>de</strong> evitar a resistência parasitária aos<br />
anti-helmínticos (RPAH).<br />
- Verificar a precisão da dosagem na<br />
pistola dosificadora.<br />
- Praticar jejum pr<strong>é</strong>-dosagem, a fim<br />
<strong>de</strong> maximizar o uso do anti-helmíntico.<br />
Manter o rebanho preso, logo após a<br />
dosagem, para os animais <strong>de</strong>fecarem as<br />
fezes contaminadas na mangueira e não<br />
introduzi-las novamente em sua pastagem<br />
e/ou campo nativo.<br />
- Prestar atenção aos princípios ativos<br />
dos vermífugos e não aos nomes<br />
comerciais.<br />
- Verificar as instruções <strong>de</strong> uso, indicações,<br />
vias <strong>de</strong> aplicação, período <strong>de</strong><br />
carência e a valida<strong>de</strong> do produto.<br />
- Evitar o uso <strong>de</strong> coquet<strong>é</strong>is <strong>de</strong> vermífugos.<br />
Se achar que <strong>é</strong> necessário, então<br />
conv<strong>é</strong>m chamar um veterinário competente<br />
que conheça o rebanho e a região.<br />
- Assegurar que o animal tomou toda<br />
a dose.<br />
- Realizar todo o processo com o mínimo<br />
possível <strong>de</strong> estresse. Ou seja, evitar<br />
o uso <strong>de</strong> gritos, <strong>de</strong> latidos <strong>de</strong> cachorros,<br />
<strong>de</strong> música estri<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> sons estranhos<br />
(motocicletas, pica<strong>de</strong>iras, etc.).<br />
12 O Berro - nº 168
Conjuntura<br />
Ceará vai a Israel para<br />
acabar com a Seca<br />
O calor está brabo, no Ceará, e começam as miragens, alucinações,<br />
<strong>de</strong>scarrilamento cerebral, sem ouvir a voz <strong>de</strong> quem realmente<br />
estuda e enten<strong>de</strong>. Aqui estão a notícia, os comentários populares<br />
e a voz do especialista Patrocínio Tomaz.<br />
Gotejamento em Israel.<br />
(foto: Santeno.com)<br />
É incrível, mas a reportagem está<br />
publicada no jornal "A Folha <strong>de</strong> São<br />
Paulo" (14.julho.2013). Dessa vez o<br />
Governo do Ceará preten<strong>de</strong> mostrar que<br />
vai dar certo: está fechando <strong>de</strong>talhes<br />
para implantar uma Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo<br />
seguindo as "regras utilizadas em Israel".<br />
O objetivo <strong>é</strong> transferir tecnologias<br />
<strong>de</strong>ssa proprieda<strong>de</strong> para os produtores<br />
rurais interessados. Chama isso <strong>de</strong><br />
"novida<strong>de</strong>".<br />
A intentona vai mais longe: Bahia e<br />
Ceará tamb<strong>é</strong>m estudam o uso <strong>de</strong> tecnologias<br />
israelenses para tratamento <strong>de</strong><br />
água, como estações móveis. No caso<br />
O Berro - nº 168<br />
do Ceará, a iniciativa ainda esbarra na<br />
liberação <strong>de</strong> recursos fe<strong>de</strong>rais. Claro!<br />
As explicações do Ceará são muitas:<br />
"Lá, em Israel, chove muito menos do<br />
que no Semiárido brasileiro, e a t<strong>é</strong>cnica<br />
<strong>de</strong> irrigação por gotejamento foi a solução"<br />
- diz Sheila Sztutman, consultora<br />
econômica <strong>de</strong> Israel no Brasil. De fato,<br />
há <strong>lugar</strong>es em Israel on<strong>de</strong> chove menos<br />
<strong>de</strong> 100 mm por ano, enquanto no Semiárido<br />
brasileiro as chuvas vão <strong>de</strong> 200<br />
a 800 mm/ano. Há, por<strong>é</strong>m, no <strong>Sertão</strong>,<br />
<strong>lugar</strong>es on<strong>de</strong> chove os <strong>mesmo</strong>s 100<br />
mm <strong>de</strong> Israel. O problema não está, por<br />
isso, somente nas chuvas. Há regiões<br />
13
Irrigação <strong>é</strong> importante. (foto: Santeno.com)<br />
no Nor<strong>de</strong>ste on<strong>de</strong> chove at<strong>é</strong> <strong>de</strong>mais. em todas as Exposições promovidas pelos<br />
Governos. Estufa enche os olhos e,<br />
Os "turistas nor<strong>de</strong>stinos" preten<strong>de</strong>m<br />
trazer tecnologia <strong>de</strong> gotejamento! No então, <strong>é</strong> preciso importar <strong>de</strong> bem longe!<br />
Brasil, há muito tempo, sem ningu<strong>é</strong>m Uma coisa parece estar correta: a<br />
ensinar, um camponês resolveu furar os equipe <strong>de</strong> brasileiros vai verificar a<br />
canos plásticos <strong>de</strong> irrigação, para liberar gestão das águas, pois lá - em Israel -<br />
apenas gotas do precioso líquido nas não se admite jogar uma gota <strong>de</strong> água<br />
plantas. Estava <strong>de</strong>scobrindo o m<strong>é</strong>todo no lixo. "Enquanto no Brasil há Estados<br />
<strong>de</strong> "irrigação Xixi-xique", linguajar matuto,<br />
mas explícito. Depois, o m<strong>é</strong>todo foi em Israel, quando esse índice chega a<br />
com 25% <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> água no sistema,<br />
aperfeiçoado por t<strong>é</strong>cnicos e, hoje, está 2%, aciona-se um alarme para correção",<br />
disse Sztutman. Água <strong>é</strong> negócio<br />
presente em milhares <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s,<br />
com formidável sucesso. Uma das muitas<br />
vantagens <strong>é</strong> que a água <strong>de</strong> irrigação Enfim, o Ceará <strong>de</strong>scobriu - <strong>de</strong> novo, -<br />
s<strong>é</strong>rio em Israel.<br />
já carrega os fertilizantes que chegam que o jeito <strong>é</strong> "tentar molhar o Sequeiro",<br />
somente às raízes das plantas, reduzindo<br />
os <strong>de</strong>sperdícios. Agora, vão comprar ten<strong>de</strong> resolver a questão da água e não<br />
levar água para on<strong>de</strong> não <strong>de</strong>via. Pre-<br />
a mesma coisa, com rótulo <strong>de</strong> Israel. a questão do sequeiro! Água dá mais<br />
Foi assim que o Ceará tamb<strong>é</strong>m importou<br />
sementes <strong>de</strong> Estilosantes da Austrá-<br />
a questão do Sequeiro, os sertanejos<br />
visibilida<strong>de</strong>, dá mais votos! Se resolver<br />
lia, <strong>de</strong>pois que elas foram levadas do ficarão ricos, estudarão, <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> ser<br />
Nor<strong>de</strong>ste para lá. Foi buscar na Austrália um curral eleitoral.<br />
o que nasce naturalmente no <strong>Sertão</strong>! Muito interessante <strong>é</strong> constatar que<br />
Dizem que a da Austrália <strong>é</strong> melhor no as tecnologias para uso da água existem<br />
em profusão, tanto nas agências<br />
Ceará que as naturais cearenses!<br />
A reportagem diz mais: em Israel governamentais como nas privadas. O<br />
- pasmem! - tamb<strong>é</strong>m são utilizadas estufas<br />
com ambiente controlado para cul-<br />
exploração lucrativa do Sequeiro. Muito<br />
que pouco se discute <strong>é</strong> a receita para<br />
tivo! Estufas no Semiárido - o Nor<strong>de</strong>ste estranho!<br />
está cheio <strong>de</strong> estufas.. Estão presentes Fazenda Mo<strong>de</strong>lo - A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cons-<br />
14 O Berro - nº 168
Irrigação <strong>de</strong> gotejamento com regulagem.<br />
(foto: panoramarural.com)<br />
truir uma Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo <strong>é</strong> apresentar<br />
as famosas tecnologias israelenses aos<br />
produtores brasileiros, adaptando os<br />
equipamentos à realida<strong>de</strong> local. Será<br />
a segunda Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo do tipo em<br />
todo o mundo. A primeira foi implantada<br />
na Tailândia, que não tem nada<br />
<strong>de</strong> Semiárido (!). O terreno <strong>de</strong> 1.500<br />
hectares do governo on<strong>de</strong> funcionará a<br />
Fazenda-Mo<strong>de</strong>lo fica em Quixeramobim<br />
(CE), cida<strong>de</strong> do sertão a 216 km <strong>de</strong><br />
Fortaleza, on<strong>de</strong> há várias proprieda<strong>de</strong>s<br />
privadas que são exemplo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada<br />
exploração do Semiárido. Ao inv<strong>é</strong>s <strong>de</strong><br />
apren<strong>de</strong>r ali <strong>mesmo</strong>, o Governo vai<br />
importar coisas <strong>de</strong> Israel.<br />
Será que Israel vai colocar água em<br />
Quixeramobim? Segundo a ADECE<br />
(Agência <strong>de</strong> Desenvolvimento do Ceará),<br />
que coor<strong>de</strong>na a parceria, outras tecnologias<br />
agrícolas israelenses tamb<strong>é</strong>m<br />
<strong>de</strong>verão estar presentes na Fazenda-<br />
-Mo<strong>de</strong>lo, como pecuária leiteira (gen<strong>é</strong>tica<br />
e alimentação) e aproveitamento<br />
<strong>de</strong> energias renováveis na produção.<br />
Ou seja, vão ven<strong>de</strong>r gado leiteiro para<br />
o Brasil, com farto cr<strong>é</strong>dito aberto nos<br />
bancos para um recomeço. O gado<br />
leiteiro do Canadá, Estados Unidos,<br />
Suíça, Inglaterra, etc. não <strong>de</strong>u certo no<br />
Brasil - nem nas regiões mais amenas<br />
- mas agora, segundo as previsões da<br />
ADECE, o gado israelense, tão taurino<br />
como os dos <strong>de</strong>mais países - irá dar certo!<br />
Estão <strong>mesmo</strong> <strong>de</strong>scobrindo a roda!<br />
Enquanto isso, a mesmíssima Quixeramobim<br />
<strong>é</strong> "berço sertanejo" da mais<br />
O Berro - nº 168<br />
Nebulizador no gotejamento.<br />
(foto: nebolizacaoeaspersao.blogspot)<br />
legítima raça Lavínia - cruzamento <strong>de</strong><br />
Guzerá (do <strong>de</strong>serto) com Pardo-Suíço<br />
- produzindo muito leite, crias, carne,<br />
couro, estrume. Uma única fazenda<br />
or<strong>de</strong>nha suas vacas produzindo mais<br />
<strong>de</strong> 3.000 litros por dia! Só o Governo do<br />
Ceará não conhece a valente pecuária<br />
<strong>de</strong> Quixeramobim, Madalena, etc.<br />
Com <strong>de</strong>cência e honestida<strong>de</strong>, a<br />
reportagem do jornal "A Folha <strong>de</strong> São<br />
Paulo" <strong>de</strong>ixou escapar: "Para Israel, a<br />
iniciativa visa elevar as vendas <strong>de</strong> suas<br />
empresas ao Brasil. E mais: "já existem<br />
companhias agrícolas israelenses no<br />
Brasil, mas com presença maior no<br />
Su<strong>de</strong>ste. Agora, o interesse está no<br />
Nor<strong>de</strong>ste: uma <strong>de</strong>ssas empresas, a<br />
NETAFIM, inaugurou fábrica <strong>de</strong> produtos<br />
<strong>de</strong> irrigação em Pernambuco em<br />
setembro". Então fica tudo explicado: o<br />
negócio não <strong>é</strong> para ajudar nor<strong>de</strong>stinos,<br />
mas sim para ajudar as empresas <strong>de</strong><br />
Israel. Ponto final.<br />
Conclusão - A i<strong>de</strong>ia <strong>é</strong> <strong>de</strong> que o<br />
projeto, <strong>de</strong> custo ainda não <strong>de</strong>finido<br />
(!), comece a ser implantado no segundo<br />
semestre <strong>de</strong> 2013 (!). Não tem<br />
custo <strong>de</strong>finido, mas já vai começar?<br />
Afinal, importar gado e equipamentos<br />
<strong>é</strong> fácil - difícil vai ser um acerto com<br />
São Pedro! O Ceará já importou dromedários!<br />
Mais valeria trazer <strong>de</strong> Israel as<br />
<strong>cabra</strong>s leiteiras, as <strong>ovelha</strong>s leiteiras e<br />
distribuí-las para os sertanejos. Eles<br />
sabem o que fazer com elas! Por que<br />
15
as <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s não estão sequer<br />
mencionadas nesse Projeto Israel?<br />
Ah! - a tal empresa israelense não<br />
ven<strong>de</strong> <strong>cabra</strong>s, nem <strong>ovelha</strong>s, nem p<strong>é</strong>s<br />
<strong>de</strong> azeitona! Tudo explicado.<br />
Comentários populares<br />
Hoje, as notícias voam, e os comentários<br />
tamb<strong>é</strong>m. No jornal "A Folha" na<br />
Internet, os comentários <strong>de</strong>ssa iniciativa<br />
do Ceará são fartos:<br />
1 - Depois <strong>de</strong> 60 anos <strong>de</strong> estudos na<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scobriram isso? On<strong>de</strong><br />
estão os milhares <strong>de</strong> estudos do IOCS,<br />
IFOCS, DNOCS, EMBRAPAS, etc.? E<br />
do BNB, Banco do Nor<strong>de</strong>ste, que fica<br />
lá <strong>mesmo</strong> em Fortaleza? Bilhões são<br />
jogados, todo ano, no <strong>Sertão</strong> nor<strong>de</strong>stino<br />
e não melhoram a triste sina dos que<br />
insistem em permanecer lá, trabalhando<br />
duro. A dinheirada, por<strong>é</strong>m, enriquece<br />
muita gente que mora na praia das<br />
capitais, ou em Brasília, ou no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro.<br />
2 - Se tem história antiga e mal con-<br />
Irrigação singular. (foto: pt.ma<strong>de</strong>-in-china).<br />
tada <strong>é</strong> essa <strong>de</strong> buscar lá fora o que não<br />
foi feito aqui. Des<strong>de</strong> os anos 80 estão<br />
dizendo que vão importar t<strong>é</strong>cnicos e<br />
tecnologia israelense para o Nor<strong>de</strong>ste.<br />
Já importaram um monte <strong>de</strong> gente. Já<br />
foram feitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> caravanas ao<br />
Exterior e o resultado sempre foi "nada".<br />
3 - Como ficariam os entendidos<br />
brasileiros da Seca que ministram aulas<br />
nas Universida<strong>de</strong>s do Nor<strong>de</strong>ste. E<br />
os da EMBRAPA Semiárido, que estão<br />
<strong>de</strong>ssalinizando água faz tempo? Cada<br />
Estado tem uma empresa <strong>de</strong> Pesquisa<br />
e at<strong>é</strong> hoje não apren<strong>de</strong>ram fazer gotejamento?<br />
Piada. Basta visitar alguma<br />
fazenda, pois at<strong>é</strong> o camponês já faz há<br />
muito tempo. Como ficam as d<strong>é</strong>cadas<br />
<strong>de</strong> SUDENE e milhares <strong>de</strong> estudos? É<br />
fácil contar os Governos, Secretarias,<br />
Empresas <strong>de</strong> Pesquisas, Autarquias,<br />
ONGs, etc. - milhares <strong>de</strong> pessoas<br />
ganhando altos salários durante os<br />
últimos 50 anos. Estes especialistas<br />
nada fizeram?<br />
4 - A tecnologia israelense não foi<br />
utilizada at<strong>é</strong> agora porque mexeria com<br />
16 O Berro - nº 168
os brios da "brasileirada" que mama nas<br />
tetas da "indústria da seca". Será isso?<br />
5 - Se o negócio <strong>é</strong> enriquecer empresas<br />
israelenses e comprar tubos<br />
plásticos, com certeza haverá <strong>de</strong>svio<br />
<strong>de</strong> verbas, licitações fraudulentas,<br />
superfaturamento, como acontece em<br />
todas as "tubulações" <strong>de</strong>sse Governo.<br />
O problema, então, não está na tecnologia,<br />
mas sim na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar<br />
mais algum dinheiro para a "indústria<br />
da Seca" que viveu e continua vivendo<br />
nos palácios dos governos. Quem<br />
entra "pela tubulação" <strong>é</strong> o sertanejo<br />
nor<strong>de</strong>stino.<br />
6 - Meu Deus! Que doidice! Ningu<strong>é</strong>m<br />
lê jornal no Ceará? A EMBRAPA tem<br />
tudo, tudo, tudo que Israel tem. Quase<br />
todo ano viajam muitos t<strong>é</strong>cnicos<br />
para Austrália, Nova Zelândia, Israel,<br />
China, etc. para trazerem tecnologias.<br />
Essa proposta cearense <strong>é</strong> trambique<br />
puro, como a Transposição do rio São<br />
Francisco, a ferrovia Transnor<strong>de</strong>stina,<br />
um Corredor <strong>de</strong> Alimentos para os<br />
ruminantes flagelados da Seca, etc.<br />
Estão sempre propondo coisas que só<br />
começam, nunca terminam e <strong>de</strong>ixam<br />
muita gente rica.<br />
7 - Buscar tecnologia anticorrupção:<br />
isso, sim, seria uma maravilha. Po<strong>de</strong>ria<br />
vir <strong>de</strong> Israel, ou <strong>de</strong> qualquer país <strong>de</strong>cente<br />
e s<strong>é</strong>rio. Por que o Ceará não traz?<br />
Seria pioneiro!<br />
8 - Parece que uma cisterna para<br />
gente e outra para animais seriam suficientes<br />
para tirar o Nor<strong>de</strong>ste da mis<strong>é</strong>ria.<br />
Por que não gastar a dinheirama com os<br />
sertanejos, diretamente? Dê o dinheiro<br />
e eles <strong>mesmo</strong>s construirão cisternas<br />
e muito mais coisas. O sertanejo sabe<br />
on<strong>de</strong> aperta o calo.<br />
9 - É a eterna lenga-lenga para esticar<br />
a esperança e paciência dos bobos<br />
sertanejos nor<strong>de</strong>stinos at<strong>é</strong> a chegada<br />
da próxima chuva, quando os dinheiros<br />
sumirão sem nada terem produzido,<br />
escoarão para os partidos políticos que<br />
dominam o cenário.<br />
10 - Que todos me <strong>de</strong>sculpem: esta<br />
iniciativa está corretíssima. É preciso<br />
enviar, <strong>mesmo</strong>, vinte, cinquenta, mil<br />
senadores, <strong>de</strong>putados, governadores,<br />
t<strong>é</strong>cnicos, chefes <strong>de</strong> autarquias, etc. - do<br />
Ceará para Israel e outras regiões áridas.<br />
Quanto mais árida, melhor. Depois,<br />
basta <strong>de</strong>ixá-los por lá. Passagem só<br />
<strong>de</strong> ida. Não farão falta ao Ceará, nem<br />
ao Brasil. Isso, sim, seria uma bruta<br />
economia.<br />
Estufas no <strong>de</strong>serto. (foto: revistagloborural)<br />
18 O Berro - nº 168
Cabras leiteiras são boa solução. (foto: jspace.com)<br />
Comentários do especialista sistema radicular, e, se a água e o solo<br />
nor<strong>de</strong>stino<br />
apresentam salinização naturais, o m<strong>é</strong>todo<br />
somente elevará a concentração<br />
Patrocínio Tomaz - "Quixeramobim <strong>de</strong> sais. A parte final da notícia veiculada<br />
em nada se assemelha em termos físicos<br />
(geologia, relevo, recursos hídricos, das intenções do projeto <strong>é</strong> aumentar<br />
na Folha <strong>de</strong> S. Paulo mostra que uma<br />
solos, cobertura vegetal, etc.) ao que o mercado <strong>de</strong> Israel no Brasil. O que<br />
existe em Israel. Nesse município cearense,<br />
a geologia <strong>é</strong> Cristalina (granitos, São absolutamente distintas as con-<br />
explica muita coisa.<br />
migmatitos e xistos, estas últimas altamente<br />
produtoras <strong>de</strong> sais), a hidrogeo-<br />
históricas entre Israel e a região semiádições<br />
fisiográficas, socioeconômicas e<br />
logia <strong>é</strong> <strong>de</strong> zonas aquíferas resultantes rida do Nor<strong>de</strong>ste. A começar pelo índice<br />
<strong>de</strong> fraturamento, <strong>de</strong> difícil recarga, <strong>de</strong> pluviom<strong>é</strong>trico que, em Israel, <strong>é</strong> menor,<br />
água pouca e ruim (2 a 4 g/L <strong>de</strong> sais). mas que não chove somente os 30 mm<br />
Os solos têm todas as restrições <strong>de</strong> anuais em seu território. Seguramente,<br />
uso em irrigação: rasos, pedregosos, com 30 mm anuais não se irrigaria um<br />
pouco f<strong>é</strong>rteis e secos, relevo ondulado, palmo <strong>de</strong> solo árido e frio do <strong>de</strong>serto. As<br />
igualmente salinizados, etc.<br />
fontes principais <strong>de</strong> recursos hídricos do<br />
Penso que, ao contrário <strong>de</strong> Israel, Estado <strong>de</strong> Israel são o Mar da Galileia<br />
on<strong>de</strong> se usa água subterrânea <strong>de</strong> aquíferos<br />
sedimentares e <strong>de</strong> reuso para mente, a água subterrânea dos aquífe-<br />
(Lago Kineret), o rio Jordão e, principal-<br />
recarga <strong>de</strong>stes <strong>mesmo</strong>s aquíferos, aqui ros <strong>de</strong>nominados Litorâneo ou Costeiro,<br />
eles terão que buscar água <strong>de</strong> açu<strong>de</strong>s, das Montanhas, do Norte e do Oeste<br />
neste caso, não vulneráveis à seca. (recursos renováveis <strong>de</strong> 1,686 bilhão/<br />
Não sei se há algum com tal condição ano, insuficientes para repor a vazão<br />
em Quixeramobim. O fato <strong>é</strong> que, acho, explorada), al<strong>é</strong>m do reuso das águas<br />
a área foi mal escolhida.<br />
e da <strong>de</strong>ssalinização. Os aquíferos, por<br />
O problema não <strong>é</strong> somente o relacionado<br />
com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água, <strong>de</strong>ssas águas do reuso e, <strong>mesmo</strong> assim,<br />
sinal, são objeto <strong>de</strong> recarga <strong>de</strong> parte<br />
mas com a qualida<strong>de</strong> física e química trabalham em regime <strong>de</strong> exaustão.<br />
da mesma. O gotejamento não gera Al<strong>é</strong>m da diferença estratosf<strong>é</strong>rica <strong>de</strong><br />
fluxo para lixiviar sais acumulados no áreas:<br />
O Berro - nº 168<br />
19
Ovelhas leiteiras da raça Awassi.<br />
(foto: hassad.com.au)<br />
Cabras <strong>de</strong> Israel para o Nor<strong>de</strong>ste.<br />
(foto: freepages.genealogy.rootsweb.ancestry.com)<br />
- Israel tem cerca <strong>de</strong> somente 20.700<br />
km 2 e o Nor<strong>de</strong>ste Semiárido tem mais<br />
<strong>de</strong> 1.000.000 <strong>de</strong> km 2 .<br />
- O problema maior <strong>de</strong> nossa região<br />
está na falta <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> suprimento<br />
hídrico da população do meio<br />
rural (mais <strong>de</strong> 12 milhões <strong>de</strong> pessoas)<br />
e das ativida<strong>de</strong>s agrícolas praticadas<br />
em mais <strong>de</strong> 40 milhões <strong>de</strong> hectares<br />
e da pecuária, em terras <strong>de</strong> rochas<br />
Cristalinas (ígneas e metamórficas) em<br />
mais <strong>de</strong> 50% da área e, portanto sem as<br />
condições <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água<br />
que existe em Israel.<br />
- Lá, as rochas são sedimentares<br />
(areias, principalmente). Estas condições<br />
existem aqui, em nosso Semiárido<br />
nos sistemas aquíferos Tucano/Jatobá<br />
(Bahia/Pernambuco), São Francisco<br />
(Bahia) e em outros menores a exemplo<br />
do Araripe e bacias sedimentares resi-<br />
Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s para muitos produtos<br />
industriais. (foto: redhilldairy.blogspot.com)<br />
duais interioranas <strong>de</strong> limitado potencial<br />
hídrico).<br />
- A área irrigável do nosso semiárido<br />
<strong>é</strong> <strong>de</strong>, apenas, 2.161.000 ha (0,22% da<br />
área do Semiárido) da qual já se irrigam<br />
1.275.000 ha (59%), sem respostas<br />
significativas ao problema <strong>de</strong>corrente<br />
das secas.<br />
- No meio rural <strong>de</strong> Israel vivem cerca<br />
<strong>de</strong> 600.000 pessoas e a ativida<strong>de</strong><br />
agrícola <strong>é</strong> praticada em um total <strong>de</strong><br />
182.000 hectares situados na região<br />
<strong>de</strong>s<strong>é</strong>rtica (ao sul) para on<strong>de</strong> são carreados<br />
os recursos hídricos necessários<br />
provenientes da meta<strong>de</strong> norte do País,<br />
on<strong>de</strong> a precipitação m<strong>é</strong>dia anual atinge<br />
os 700 mm. Ainda assim, são projetos<br />
não <strong>de</strong> todo sustentáveis, quando se<br />
relacionam recursos hídricos, tempo<br />
e <strong>de</strong>mandas crescentes. E eles, os<br />
israelenses, sabem disso. Que o digam<br />
os palestinos, os jordanienses e outros<br />
povos vizinhos.<br />
Quer dizer, não existe esta propalada<br />
ocorrência extensiva <strong>de</strong> "mananciais e/<br />
ou afloramentos <strong>de</strong> lençol freático" em<br />
nosso Semiárido, que precisem ser reflorestados,<br />
a não ser em áreas do Raso<br />
da Catarina (Bacia do Tucano/Jatobá),<br />
já que o solo da bacia sedimentar do<br />
São Francisco <strong>é</strong> quase todo irrigado<br />
com água <strong>de</strong> Sistema homônimo. Isto<br />
se reflete, negativamente, na vazão <strong>de</strong><br />
base dos afluentes do rio São Francisco<br />
que aportam em Sobradinho".<br />
20 O Berro - nº 168
Panorama<br />
Austrália ven<strong>de</strong> mais cor<strong>de</strong>iro<br />
Em 2012-13 a Austrália ven<strong>de</strong>u<br />
200.590 toneladas, o maior volume<br />
em um ano fiscal já registrado – 15%<br />
a mais que o recor<strong>de</strong> do ano anterior<br />
e 24% a mais que a m<strong>é</strong>dia dos últimos<br />
cinco anos. A Gran<strong>de</strong> China e o Oriente<br />
M<strong>é</strong>dio compraram volumes recor<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> 39.493 toneladas e 58.662 toneladas,<br />
24% e 37% a mais que no ano anterior.<br />
A maioria dos outros mercados<br />
comprou gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> carne<br />
<strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro: os Estados Unidos, totalizando<br />
37.480 toneladas (8% a mais<br />
que no ano anterior), a União Europeia<br />
(UE) comprando 12.157 toneladas (3%<br />
a mais que no ano anterior), Papua-Nova<br />
Guin<strong>é</strong> comprando 13.428 toneladas<br />
(14% a mais que no ano anterior) e as<br />
exportações ao Su<strong>de</strong>ste da Ásia totalizando<br />
9.968 toneladas (6% a mais que<br />
no ano anterior). Países que reduziram<br />
as compras: Canadá (3%), M<strong>é</strong>xico<br />
(1%), Japão (5%), Coreia do Sul (2%),<br />
África do Sul (18%) e Suíça (26%), totalizando<br />
1.702 toneladas (menos <strong>de</strong><br />
1% das exportações totais registradas<br />
no ano anterior). (Fonte: Meat and Livestock<br />
Australia-MLA).<br />
Goiás apenas engatinha com cor<strong>de</strong>iros<br />
“Se o pecuarista fizer as contas para<br />
criar, em comparação com o gado bovino,<br />
ele chora”, brinca Andr<strong>é</strong> Luís Rocha,<br />
produtor da raça White Dorper e veterinário<br />
responsável pela Cava Alimentos,<br />
que abate cerca <strong>de</strong> 500 animais por<br />
mês, número consi<strong>de</strong>rado bom por ele.<br />
“É fácil fazer contas”, afirma. Apesar das<br />
inúmeras potencialida<strong>de</strong>s do mercado e<br />
da rentabilida<strong>de</strong> da criação, o setor está<br />
apenas iniciando em Goiás, embora tenha<br />
criadores muito antigos.<br />
A análise <strong>de</strong> Andr<strong>é</strong> Rocha tem tamb<strong>é</strong>m<br />
um tom <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafo, dado o pouco<br />
aproveitamento das qualida<strong>de</strong>s do<br />
rebanho ovino e caprino, bem como da<br />
gran<strong>de</strong> procura pela carne. “Existe um<br />
gran<strong>de</strong> mercado no Brasil, com consumo<br />
per capita <strong>de</strong> 0,6 kg/ano, enquanto<br />
no Uruguai e na Argentina o consumo<br />
chega a quase 20 quilos por ano”. Comenta<br />
que o Brasil importa 60% da carne<br />
e, por falta <strong>de</strong> organização do setor,<br />
dos <strong>de</strong>mais 40% produzidos no País,<br />
90% são clan<strong>de</strong>stinos, ou seja, não passam<br />
por frigoríficos fiscalizados, e não<br />
têm certificação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ou sanida<strong>de</strong>.<br />
“Por isso, importamos cortes do<br />
Chile, do Uruguai, da Austrália e da Nova<br />
Zelândia”, adianta.<br />
Conforme dados do Instituto Brasileiro<br />
<strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE),<br />
Goiás conta com um rebanho <strong>de</strong> 226<br />
mil ovinos, ou 18% do Centro-Oeste e<br />
1% do País. Os números <strong>de</strong> caprinos<br />
são ainda menores: apenas 40 mil cabeças,<br />
e quase não aparecem no comparativo<br />
nacional e regional.<br />
Você sabia...?<br />
... que os leões africanos<br />
têm 30 <strong>de</strong>ntes?<br />
Exatamente como seu<br />
pequeno irmão, o gato<br />
dom<strong>é</strong>stico, que tamb<strong>é</strong>m<br />
tem 30 <strong>de</strong>ntes.<br />
Você sabia...?<br />
... que, se não houvesse<br />
predadores, apenas 2<br />
moscas produziriam<br />
uma população igual<br />
ao tamanho da Terra<br />
em apenas um ano?<br />
Você sabia...?<br />
... que o imperador Júlio<br />
C<strong>é</strong>sar, <strong>de</strong> Roma, proibiu<br />
o tráfego <strong>de</strong> veículos com<br />
rodas durante o dia, para<br />
permitir que as pessoas<br />
andassem pela cida<strong>de</strong>?<br />
O Berro - nº 168<br />
21
Produção<br />
Dicas para instalação <strong>de</strong> um<br />
confinamento ovino<br />
Cledson Augusto Garcia<br />
O Confinamento <strong>é</strong> uma boa maneira <strong>de</strong> encurtar o tempo, obter mais lucros,<br />
controlar a sanida<strong>de</strong>, sendo uma ferramenta que será cada vez mais utilizada.<br />
Confinamento ao ar livre em Araxá (MG), AC Mercantil. (foto: Berro)<br />
ao bom nível nutricional oferecido para<br />
Qual a vantagem em os <strong>mesmo</strong>s. A área utilizada <strong>é</strong> restrita,<br />
(aproximadamente 1 a 1,5 m 2 por<br />
confinar ovinos?<br />
animal) fazendo com que os animais<br />
No Brasil são adotados vários sistemas<br />
<strong>de</strong> produção, sendo que na região energ<strong>é</strong>tico.<br />
an<strong>de</strong>m menos e tenham menor gasto<br />
Sul a maioria dos cor<strong>de</strong>iros são terminada<br />
em pastejo, <strong>de</strong>vido ao bom valor o <strong>de</strong>smame os cor<strong>de</strong>iros ficam estres-<br />
Outro ponto fundamental <strong>é</strong> que após<br />
nutritivo das pastagens predominantes sados <strong>de</strong>vido à separação da <strong>ovelha</strong><br />
<strong>de</strong> inverno como o azev<strong>é</strong>m, a aveia, o e da ausência do leite como alimento.<br />
trevo, entre outras, resultando na redução<br />
dos custos <strong>de</strong> produção.<br />
orgânica, aumentando a pr<strong>é</strong> disposição<br />
Por esse motivo, diminui a resistência<br />
Já na região Su<strong>de</strong>ste e Centro- para enfermida<strong>de</strong>s, principalmente à<br />
-Oeste o mais comum <strong>é</strong> a terminação verminose, pois os pastos contêm em<br />
em sistema intensivo (confinamento) e m<strong>é</strong>dia 80 a 90 % das larvas infectantes.<br />
semi-intensivo (pasto mais concentrado),<br />
que tem como principal vantagem ma <strong>de</strong> pastejo rotacionado essa infes-<br />
Entretanto, caso o criador adote o siste-<br />
antecipar o abate dos cor<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>vido tação parasitária diminui sensivelmente.<br />
24 O Berro - nº 168
Qual a alimentação básica <strong>de</strong> um<br />
confinamento e quais os alimentos<br />
normalmente usados?<br />
Numa dieta bem formulada temos<br />
que ter pelo menos uma fonte energ<strong>é</strong>tica<br />
e outra proteica , com um mínimo <strong>de</strong> 20<br />
% FDN (teor <strong>de</strong> fibra) oriundo principalmente<br />
do volumoso.<br />
Os alimentos energ<strong>é</strong>ticos convencionais<br />
são o milho, o sorgo e a polpa cítrica<br />
e as fontes proteicas, o farelo <strong>de</strong> soja<br />
e o farelo <strong>de</strong> algodão, entre outros. Os<br />
volumosos utilizados são geralmente as<br />
capineiras trituradas (napier ou cana),<br />
silagem ou feno.<br />
Os subprodutos po<strong>de</strong>m ser usados,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estejam num preço atrativo.<br />
Devem ser analisados minuciosamente<br />
quanto ao seu valor nutricional para o<br />
produtor saber a quantida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rá<br />
substituir as fontes convencionais da<br />
dieta total. Primeiramente os órgãos <strong>de</strong><br />
pesquisa <strong>de</strong>vem testá-lo para averiguarem<br />
a confiabilida<strong>de</strong> do seu uso, pois<br />
os criadores não po<strong>de</strong>m correr riscos<br />
usando em quantida<strong>de</strong>s ina<strong>de</strong>quadas<br />
ou não sabendo da existência <strong>de</strong> algum<br />
fator antinutricional.<br />
Quais os distúrbios que po<strong>de</strong>m<br />
ocorrer? Quais são as vacinas mais<br />
recomendadas para os cor<strong>de</strong>iros<br />
confinados?<br />
Para evitar distúrbios no trato digestivo,<br />
<strong>de</strong>vemos ter o cuidado <strong>de</strong> balancear<br />
Confinamento em Araxá (MG),<br />
AC Mercantil. (foto: Berro)<br />
uma dieta com níveis a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong><br />
proteína, energia, vitaminas e minerais,<br />
al<strong>é</strong>m do teor <strong>de</strong> fibra, pois qualquer erro<br />
na formulação po<strong>de</strong>rá acarretar em perda<br />
<strong>de</strong> ganho <strong>de</strong> peso, perda econômica<br />
e resultar na morte do cor<strong>de</strong>iro. Para<br />
isso <strong>é</strong> necessário um t<strong>é</strong>cnico especializado<br />
para evitar maiores prejuízos na<br />
criação.<br />
As primeiras doses <strong>de</strong> vacina geralmente<br />
são realizadas na fase lactente,<br />
ou seja, quando os animais apresentam<br />
Confinamento em Penápolis (SP) <strong>de</strong> Lucas<br />
Wan<strong>de</strong>rley. (foto: Berro)<br />
Confinamento em Rancharia (SP) <strong>de</strong> Marco<br />
Vidotti. (foto: Berro)<br />
26 O Berro - nº 168
Confinamento da cabanha Unimar, com piso concretado (Marília/SP).<br />
<strong>de</strong> 20 a 30 dias <strong>de</strong> vida, e a segunda<br />
dose quase sempre <strong>é</strong> feita no <strong>de</strong>smame.<br />
As mais comuns e recomendadas são<br />
aquelas contra clostridioses, pasteurelose,<br />
ectima contagioso e conjuntivite.<br />
Qual a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrada e ganho<br />
m<strong>é</strong>dio diário dos cor<strong>de</strong>iros no<br />
confinamento e qual lotação<br />
m<strong>é</strong>dia por m 2 ?<br />
Geralmente os cor<strong>de</strong>iros são encaminhados<br />
para o confinamento com<br />
ida<strong>de</strong> m<strong>é</strong>dia <strong>de</strong> 60 a 80 dias (data do<br />
<strong>de</strong>smame), com expectativa que os<br />
<strong>mesmo</strong>s tenham peso vivo variando<br />
<strong>de</strong> 15 e 20 kg. Os cor<strong>de</strong>iros mais pesados<br />
indicam maior produção <strong>de</strong> leite<br />
e melhor habilida<strong>de</strong> materna da <strong>ovelha</strong><br />
e consequentemente menos tempo <strong>de</strong><br />
confinamento.<br />
O ganho m<strong>é</strong>dio esperado nessa fase<br />
<strong>de</strong> terminação <strong>é</strong> <strong>de</strong> 200 a 250 g/dia, e,<br />
quanto melhor a gen<strong>é</strong>tica e a nutrição,<br />
maior será o ganho m<strong>é</strong>dio diário do<br />
animal.A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da área por cor<strong>de</strong>iro<br />
<strong>é</strong> <strong>de</strong> 1 m 2 para confinamentos <strong>de</strong> piso<br />
concretado. Para aqueles parcialmente<br />
cobertos (os <strong>de</strong> chão batido) - 1,5 a 2<br />
m 2 e para aqueles a c<strong>é</strong>u aberto com<br />
chão batido a área <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong> 2 a<br />
2,5 m 2 , esse último <strong>de</strong>vido ao excesso<br />
<strong>de</strong> lama em <strong>é</strong>pocas <strong>de</strong> chuva.<br />
Confinamento do Instituto <strong>de</strong> Zootecnia<br />
em Gália.<br />
Confinamento da Unesp <strong>de</strong> Araçatuba.<br />
28 O Berro - nº 168
Confinamento com piso suspenso<br />
(Itamonte/MG).<br />
O sal mineral <strong>mesmo</strong> que faça parte<br />
da dieta total <strong>de</strong>ve estar disponível nos<br />
saleiros para que atenda as exigências<br />
minerais dos animais.<br />
A água <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong><br />
e os bebedouros <strong>de</strong>vem ser limpos<br />
<strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong>, geralmente<br />
uma a duas vezes por semana,<br />
colaborando para a melhor saú<strong>de</strong> dos<br />
animais.<br />
Quando um confinamento com cobertura<br />
for construído, o <strong>mesmo</strong> <strong>de</strong>ve<br />
ser direcionado no sentido leste-oeste,<br />
garantindo sombra ao longo do dia<br />
(bem estar animal), pois os animais<br />
permanecerão na sua zona <strong>de</strong> conforto<br />
t<strong>é</strong>rmico, resultando em incrementos no<br />
ganho <strong>de</strong> peso.<br />
Confinamento c/ chão batido<br />
(João Ramalho/SP).<br />
Qual os custo para a implantação<br />
<strong>de</strong> um confinamento?<br />
Os custos para implantação <strong>de</strong> um<br />
confinamento vão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma s<strong>é</strong>rie<br />
<strong>de</strong> fatores, pois se a proprieda<strong>de</strong> já possui<br />
uma instalação <strong>de</strong>sativada, esta po<strong>de</strong><br />
ser adaptada, reduzindo drasticamente<br />
os custos da implantação. Se o produtor<br />
optar por fazer uma instalação totalmente<br />
concretada e parcialmente coberta, os<br />
custos são maiores, entretanto resultará<br />
em maior higiene no momento do abate,<br />
<strong>de</strong>vido a menor sujida<strong>de</strong> na lã e nos pelos.<br />
Cledson Augusto Garcia -<br />
Professor da Unimar, Marília (SP).<br />
(Tamb<strong>é</strong>m publicado no Farmpoint).<br />
Carne <strong>de</strong> caprinos e ovinos<br />
na merenda escolar<br />
As Escolas Municipais <strong>de</strong> Governador<br />
Valadares vão ter carne <strong>de</strong> caprinos<br />
e ovinos na merenda escolar. O Projeto<br />
<strong>de</strong> Lei nº 075, processo nº 663/13, que<br />
dispõe sobre a obrigatorieda<strong>de</strong> da inclusão<br />
da carne <strong>de</strong> caprinos e/ou ovinos na<br />
merenda escolar das escolas do município<br />
foi aprovada por unanimida<strong>de</strong> na<br />
Câmara Municipal na 7ª Reunião Ordinária<br />
<strong>de</strong> Julho. A Comissão <strong>de</strong> Serviços<br />
Públicos Municipais (CSPM) e a Comissão<br />
<strong>de</strong> Fiscalização Financeira e Orçamentária<br />
(CFFO) tamb<strong>é</strong>m opinaram pela<br />
aprovação da mat<strong>é</strong>ria. O Projeto <strong>de</strong><br />
Lei <strong>é</strong> <strong>de</strong> autoria do vereador Dr. Marcílio<br />
(PMDB).<br />
O Berro - nº 168<br />
29
Panorama<br />
O Texel julgará Melhor<br />
Progênie na Expointer<br />
A partir da Expointer-2013, a Brastexel<br />
institui o julgamento <strong>de</strong> progênie <strong>de</strong><br />
mãe e progênie <strong>de</strong> pai, com premiação<br />
diferenciada. Desta forma a Brastexel<br />
valoriza os reprodutores <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<br />
na raça. No Nor<strong>de</strong>ste, todas as raças já<br />
realizam esse julgamento há d<strong>é</strong>cadas.<br />
Com o intuito <strong>de</strong> homenagear criadores<br />
que marcaram a trajetória da Brastexel,<br />
os prêmios receberão os nomes <strong>de</strong> dois<br />
importantes criadores: Progenie <strong>de</strong> Mãe<br />
- Premio Ines Bove Vi<strong>de</strong>; Progenie <strong>de</strong><br />
Pai - Premio Matheus Jos<strong>é</strong> Schmidt Filho.<br />
A criadora uruguaia Ines Bove Vi<strong>de</strong>,<br />
Cabanha La Cachimba,Depto <strong>de</strong> Flores,<br />
adquiriu animais no 1º Mercotexel<br />
(jan/1999) e em junho daquele ano concretizou<br />
a primeira exportação <strong>de</strong> Texel<br />
gaúcho para o Uruguai. No ano seguinte<br />
ela adquiriu mais um lote <strong>de</strong> animais<br />
ingressando em solo uruguaio em fevereiro<br />
<strong>de</strong> 2000. Ela integrou diretoria da<br />
Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Criadores <strong>de</strong> Texel do<br />
Uruguai. Com muitos amigos no Brasil<br />
era uma gran<strong>de</strong> entusiasta da raça.<br />
Matheus Jos<strong>é</strong> Schmidt Filho político<br />
<strong>de</strong> projeção no cenário nacional,do<br />
PDT, foi presi<strong>de</strong>nte da Brastexel em<br />
2008. Era criador na Cabanha Engenho<br />
Velho, em Boqueirão do Leão (RS), on<strong>de</strong><br />
atualmente seu filho Tito Fábio Schmidt<br />
e seu neto Matheus Schmidt Neto<br />
estão à frente da criação.<br />
Bo<strong>de</strong> que dá leite vira<br />
atração em Itamaracá<br />
Joselito Duda da Silva, <strong>de</strong> 50 anos,<br />
cria caprinos na ilha <strong>de</strong> Itamaracá, no litoral<br />
norte <strong>de</strong> Pernambuco. Há três meses,<br />
um dos seus bo<strong>de</strong>s - o caprino Rubinho<br />
- começou a dar leite e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então,<br />
as visitas ao Sítio Olho D’Água têm<br />
sido constantes.<br />
Rubinho, quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>é</strong><br />
mestiço das raças Boer com Anglo-Nubiana.<br />
O animal foi examinado pelo doutor<br />
em medicina veterinária da UFRPE,<br />
Fábio Mendonça, que atestou condições<br />
corporais normais, indicando que<br />
o bo<strong>de</strong> não <strong>é</strong> hermafrodita.<br />
A hipótese <strong>é</strong> <strong>de</strong> distúrbio hormonal,<br />
com conversão <strong>de</strong> testosterona em estrógeno,<br />
ou <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cromossômica,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser hereditário. As características<br />
do leite do bo<strong>de</strong>, segundo estudos,<br />
O proprietário do bo<strong>de</strong> Rubinho<br />
chega a tirar um copo <strong>de</strong> leite por dia<br />
são idênticas ao do leite produzido por<br />
uma <strong>cabra</strong>, o que, em tese, não seria<br />
suficiente para <strong>de</strong>smotivar o consumo.<br />
(Fonte: Diário <strong>de</strong> Pernambuco)<br />
30 O Berro - nº 168
<strong>de</strong> Luiz Claudio Pereira<br />
e Fernanda Scardoelli e Filhos<br />
Seus Produtos se <strong>de</strong>stacaram novamente na<br />
XXV FENOVINOS EM JULIO DE CASTILHOS 2013<br />
ESTAREMOS PRESENTES NA EXPOINTER 2013<br />
EXPONDO AS RAÇAS DE OVINOS CORRIEDALE E IDEAL, ALÉM DE CAVALOS CRIOULOS.<br />
Corriedale<br />
GRANDE CAMPEÃ P.O<br />
JEP 234<br />
Nasc. 21/08/2011, <strong>de</strong> Jep 73 e Tabola 01339<br />
I<strong>de</strong>al<br />
Campeã Ovino Jovem<br />
GRANDE CAMPEÃO P.O<br />
SETE LUAS 207<br />
Nasc. 06/08/2011, <strong>de</strong> Abascal <strong>de</strong><br />
Santa Lúcia 653 e Sete Luas 122<br />
Campeão Ovino Jovem<br />
Av. General Osório, 1052 - T<strong>é</strong>rreo - Fones: (53) 3241- 1166 / (53) 99 721 224 - CEP. 96400-100 - Bag<strong>é</strong> - RS<br />
claudinho@estanciasantacecilia.com.br / www.estanciasantacecilia.com.br<br />
O Berro - nº 168<br />
31
Manejo<br />
Ovinos e o Bem Estar animal<br />
Norma Centeno Rodrigues<br />
Os pequenos ruminantes são entida<strong>de</strong>s vivas, mas não são iguais aos seres<br />
humanos; eles po<strong>de</strong>n ter reações inusitadas, sendo importante conhecer seu<br />
comportamento para melhor traçar um programa <strong>de</strong> manejo.<br />
O Bem-Estar Animal (BEA) como<br />
ciência tomou um impulso muito gran<strong>de</strong><br />
nas últimas d<strong>é</strong>cadas, tornando-se uma<br />
peça importante na produção animal.<br />
Cada vez mais a maneira como os<br />
animais são criados <strong>é</strong> levada em consi<strong>de</strong>ração,<br />
seja para o consumidor final<br />
ou para as diferentes etapas da ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva como, por exemplo, a exportação<br />
dos animais.<br />
O BEA necessitou <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição<br />
para ser utilizado <strong>de</strong> modo específico,<br />
<strong>de</strong>finindo assim parâmetros para serem<br />
<strong>de</strong>batidos e avaliados em situações diversas,<br />
como discussões e <strong>de</strong>clarações<br />
públicas ou documentação legal. As<br />
cinco liberda<strong>de</strong>s do BEA, <strong>de</strong>fendidas<br />
pelo Conselho <strong>de</strong> Bem-Estar <strong>de</strong> Animais<br />
<strong>de</strong> Produção (Farm Animal Welfare<br />
Council) do Reino Unido, vêm sendo<br />
utilizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então como balizadores,<br />
pois incluem diferentes aspectos e<br />
<strong>de</strong>finições do BEA.<br />
Quando as <strong>de</strong>finições das cinco<br />
liberda<strong>de</strong>s são observadas na sua totalida<strong>de</strong>,<br />
verifica-se que elas dão uma<br />
indicação inicial sobre os aspectos relevantes<br />
que precisam ser consi<strong>de</strong>rados<br />
em qualquer estudo sobre o bem-estar,<br />
sendo um bom ponto <strong>de</strong> partida para<br />
avaliação do BEA. Ainda, po<strong>de</strong>-se inferir<br />
sobre o sistema <strong>de</strong> criação e sobre<br />
as consequências <strong>de</strong>les nos animais.<br />
Ou seja, o bem-estar po<strong>de</strong> basear-se<br />
na avaliação do que <strong>é</strong> proporcionado<br />
aos animais (dados do sistema) ou na<br />
avaliação das consequências <strong>de</strong>ssas<br />
O manejo <strong>é</strong> muito importante,<br />
para garantir rendimento.<br />
características do sistema sobre o animal<br />
(efeitos).<br />
As Cinco Liberda<strong>de</strong>s são:<br />
1 - Livre <strong>de</strong> fome e <strong>de</strong> se<strong>de</strong> - por<br />
meio do livre acesso à água fresca e<br />
<strong>de</strong> uma dieta que garanta plena saú<strong>de</strong><br />
e pleno vigor físico.<br />
2 - Livre <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto - por<br />
meio <strong>de</strong> um ambiente apropriado,<br />
inclusive abrigo e área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso<br />
confortáveis.<br />
3 - Livre <strong>de</strong> dor, lesões e doenças<br />
- por meio da prevenção, ou <strong>de</strong> rápido<br />
diagnóstico e tratamento.<br />
4 - Livre para expressar comportamento<br />
natural - atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> espaço<br />
suficiente, instalações apropriadas e<br />
companhia da própria esp<strong>é</strong>cie.<br />
5 - Livre <strong>de</strong> medo e estresse -<br />
assegurando condições e tratamento<br />
que evitem o sofrimento mental.<br />
Os ovinos, particularmente, são mais<br />
susceptíveis ao estresse que outros<br />
animais <strong>de</strong> produção. Ações específicas<br />
32 O Berro - nº 168
distinguir visualmente faces, apresentam<br />
a tendência <strong>de</strong> permanecerem com sua<br />
própria raça e segregar <strong>de</strong> acordo com a<br />
ida<strong>de</strong> e o sexo. Ten<strong>de</strong>m a fazer as mesmas<br />
coisas juntos, como se alimentar ou<br />
<strong>de</strong>scansar, pois imitam o comportamento<br />
ao seu redor.<br />
Maneira correta <strong>de</strong> “sentar” uma<br />
<strong>ovelha</strong> para manejo.<br />
<strong>de</strong> manejo <strong>de</strong>vem ser adotadas com<br />
finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se diminua o estresse<br />
na rotina <strong>de</strong> uma criação. Para tanto <strong>é</strong><br />
imprescindível o conhecimento do comportamento<br />
e das particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />
esp<strong>é</strong>cie animal. A interação homem-animal<br />
<strong>é</strong> extremamente importante, pois os<br />
ovinos recebem mensagens conflitantes<br />
dos humanos. Nessa relação temos as<br />
interações físicas (tocar, acariciar, bater)<br />
e as não-físicas, como voz, movimentação<br />
do corpo, cheiro e ruído.<br />
Essas interações irão <strong>de</strong>finir como<br />
será o manejo <strong>de</strong>sses animais e consequentemente<br />
po<strong>de</strong>rão servir como<br />
indicadores <strong>de</strong> Bem Estar Animal.<br />
As reações aversivas, caracterizadas<br />
por elevação <strong>de</strong> voz, pancadas e utilização<br />
<strong>de</strong> ferrão, vacinação, marcação<br />
e castração se traduzem em respostas<br />
negativas que vão aumentar o nível <strong>de</strong><br />
medo dos animais pelos humanos o que<br />
po<strong>de</strong>rá dificultar o manejo <strong>de</strong> alimentação,<br />
cuidados sanitários, or<strong>de</strong>nhas e<br />
práticas zoot<strong>é</strong>cnicas.<br />
Todos esses fatores po<strong>de</strong>rão resultar<br />
em situações <strong>de</strong> estresse agudo ou<br />
crônico.<br />
Gregários - Os ovinos são animais<br />
gregários, - programados para seguir<br />
um ao outro. Estar com outros <strong>de</strong> sua<br />
própria esp<strong>é</strong>cie e raça <strong>é</strong> uma parte instintiva<br />
<strong>de</strong> sua natureza. Deve-se evitar<br />
juntar animais <strong>de</strong> categorias diferentes.<br />
Ovinos quando misturados levam<br />
certo tempo para se sentirem parte do<br />
rebanho. Como tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Olfato - O olfato nos ovinos <strong>é</strong> mais <strong>de</strong>senvolvido<br />
que nos humanos e utilizam o<br />
olfato na sua interação com o meio ambiente.<br />
Atrav<strong>é</strong>s do olfato reconhecem outros<br />
ovinos em distâncias relativamente<br />
curtas; mães reconhecem seus filhotes<br />
e machos reconhecem fêmeas em cio.<br />
São capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar a presença <strong>de</strong><br />
um cão e o cheiro <strong>de</strong> um ser humano a<br />
300 metros, sob condições favoráveis.<br />
Memória - Como os ovinos têm excelente<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem<br />
e memória, no manejo <strong>de</strong>sses animais<br />
<strong>de</strong>ve-se evitar qualquer associação que<br />
possa trazer a lembrança <strong>de</strong> eventos<br />
<strong>de</strong>sagradáveis. O manejo geralmente<br />
produz uma resposta <strong>de</strong> fuga e tratadores<br />
e cães são vistos como uma ameaça<br />
significativa.<br />
Visão - Em relação à visão, os ovinos<br />
possuem a pupila maior e <strong>de</strong> formato<br />
mais retangular que a pupila humana; o<br />
globo ocular localiza-se lateralmente na<br />
cabeça, o que confere a esses animais<br />
um campo visual mais amplo. Ovinos<br />
diferentemente dos humanos têm uma<br />
maior visão monocular, on<strong>de</strong> a imagem<br />
captada por cada um dos olhos forma<br />
imagens in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.. Com apenas<br />
um leve movimento da cabeça, os ovinos<br />
po<strong>de</strong>m visualizar inteiramente os<br />
arredores. No caso <strong>de</strong> uma ameaça, a<br />
percepção <strong>é</strong> rápida e a resposta comportamental<br />
geralmente <strong>é</strong> fugir. Já a<br />
visão binocular, on<strong>de</strong> a as informações<br />
captadas pelos dois olhos são combinadas,<br />
formando uma só imagem, o que<br />
confere noção <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> <strong>é</strong> bem<br />
pequena nos ovinos. Essa característica<br />
O Berro - nº 168<br />
33
Visão monocular, enxergando para<br />
os lados, <strong>mesmo</strong> com cabeça baixa.<br />
Animal estressado cria problema,<br />
sendo importante tratá-lo com carinho.<br />
anatômica dos olhos dos ovinos faz com<br />
que tenham pouca visão vertical o que<br />
dificulta a visualização para cima; ovinos<br />
se sentem menos ameaçados quando os<br />
humanos estão no <strong>mesmo</strong> nível para que<br />
possam observar seus rostos.<br />
Circulação - Devemos utilizar o manejo<br />
como ferramenta a favor do Bem<br />
Estar Animal. Os sistemas <strong>de</strong> manejo<br />
mais bem-sucedidos <strong>de</strong> ovinos incluem<br />
recursos para incentivar a circulação <strong>de</strong><br />
animais na direção necessária. A visão<br />
<strong>é</strong> o fator comportamental mais importante.<br />
Dê aos ovinos uma visão clara e<br />
<strong>de</strong>sobstruída para algo atraente na área<br />
para on<strong>de</strong> são obrigados a ir.<br />
Os ovinos são atraídos pela visão <strong>de</strong><br />
outros ovinos e o movimento estimula<br />
a circulação, enquanto que a visão <strong>de</strong><br />
animais parados fará com que eles parem<br />
<strong>de</strong> circular. Ovinos movem-se mais<br />
rápido em subidas do que em <strong>de</strong>scidas,<br />
em superfícies planas, largas, em linha<br />
reta. Não se distraem, se as laterais das<br />
mangueiras e brete são cobertas, olham<br />
para baixo para ver on<strong>de</strong> estão indo e<br />
param em grelhas ou pisos falsos.<br />
Deve-se fazer pouco barulho ao manejar<br />
os animais e movimentar-se lentamente<br />
quando perto dos <strong>mesmo</strong>s para<br />
evitar reações <strong>de</strong> fuga. Os cães sem o<br />
<strong>de</strong>vido treinamento <strong>de</strong> pastoreio <strong>de</strong>vem<br />
ser evitados bem como manejar muitos<br />
animais em áreas pequenas.<br />
Visão binocular, enxergando<br />
pouco para cima.<br />
Área coberta para o manejo <strong>é</strong> importante.<br />
Fonte - Norma Centeno Rodrigues.<br />
M<strong>é</strong>dica Veterinária, CRMVRS 2221,<br />
Mestre em Ciências Veterinárias pela<br />
UFRGS, Doutora em Ciencias Veterinárias<br />
pela Universidad<br />
<strong>de</strong> Murcia/Espanha.<br />
34 O Berro - nº 168
Veterinária<br />
Parto: momento <strong>de</strong>cisivo<br />
na vida do cor<strong>de</strong>iro<br />
Alice Del<strong>é</strong>o Rodrigues<br />
A parição <strong>é</strong> um momento cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes que garantem a lucrativida<strong>de</strong><br />
do empreendimento, pois <strong>é</strong> a hora da multiplicação do rebanho.<br />
O dia do parto e os primeiros dias <strong>de</strong><br />
vida <strong>de</strong> um cor<strong>de</strong>iro são essenciais para<br />
a sua sobrevivência e a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
O manejo apropriado nessa<br />
fase, portanto, <strong>é</strong> fundamental.<br />
● A primeira providência que <strong>de</strong>ve<br />
ser tomada, entretanto, <strong>é</strong> em relação às<br />
<strong>ovelha</strong>s prenhes. O i<strong>de</strong>al <strong>é</strong> separar as<br />
<strong>ovelha</strong>s prenhes das <strong>de</strong>mais <strong>ovelha</strong>s<br />
em baia ou piquete específico para elas,<br />
fornecendo alimentação diferenciada.<br />
● Consi<strong>de</strong>rando que o cor<strong>de</strong>iro tem<br />
seu maior <strong>de</strong>senvolvimento no terço final<br />
da gestação, a melhoria na qualida<strong>de</strong><br />
da dieta das <strong>ovelha</strong>s po<strong>de</strong> começar a<br />
ser feita faltando 45-30 dias antes da<br />
"data prevista para o parto" (DPP). Essa<br />
estrat<strong>é</strong>gia permite minimizar a doenças<br />
metabólicas típicas da fase <strong>de</strong> prenhez<br />
e tamb<strong>é</strong>m possibilitar o nascimento <strong>de</strong><br />
cor<strong>de</strong>iros mais pesados.<br />
(Figura 1)<br />
Ovelha parindo em p<strong>é</strong>. (Foto: arquivo pessoal).<br />
(Figura 2)<br />
Aparecimento <strong>de</strong> muco na região vaginal da<br />
<strong>ovelha</strong>. (Foto: arquivo pessoal).<br />
● Não <strong>é</strong> recomendado colocar muitas<br />
<strong>ovelha</strong>s prenhes em uma baia, pois a<br />
<strong>ovelha</strong> em processo <strong>de</strong> parição normalmente<br />
procura se afastar das <strong>de</strong>mais<br />
do lote, ou seja, a instalação <strong>de</strong>ve ter<br />
espaço suficiente para proporcionar esse<br />
distanciamento. Em baias superlotadas<br />
a competição pelo cor<strong>de</strong>iro neonato e o<br />
pisoteamento <strong>de</strong> crias po<strong>de</strong> ocorrer com<br />
maior frequência, o que não <strong>é</strong> <strong>de</strong>sejado.<br />
● Quando estiver faltando uma semana<br />
para a DPP, a <strong>ovelha</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />
observada com mais frequência e <strong>de</strong>ve<br />
ser o menos manejada possível.<br />
● Ao entrar em trabalho <strong>de</strong> parto a <strong>ovelha</strong><br />
apresenta diversos comportamentos<br />
típicos, que variam em frequência (número<br />
<strong>de</strong> vezes que a <strong>ovelha</strong> realiza uma ativida<strong>de</strong><br />
em relação ao total <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
realizadas) e em intensida<strong>de</strong> (duração da<br />
ativida<strong>de</strong>), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> fatores como<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área, condições climá-<br />
36 O Berro - nº 168
(Figura 3) (Figura 4)<br />
Ovelha parindo <strong>de</strong>itada. (Foto: arquivo pessoal).<br />
ticas, habilida<strong>de</strong> e experiência materna,<br />
entre outros.<br />
● Os principais comportamentos observados<br />
são:<br />
- Isolamento das <strong>de</strong>mais <strong>ovelha</strong>s rebanho;<br />
- Inquietação;<br />
- Vocalização espaçada;<br />
- Movimentos com as patas <strong>de</strong> raspar<br />
o solo (como se estivesse fazendo um<br />
ninho).<br />
● Ao longo do processo, será verificada<br />
a presença <strong>de</strong> muco espesso<br />
na região vaginal da <strong>ovelha</strong> (Fig. 1),<br />
intumescimento da vulva, aparecimento<br />
<strong>de</strong> anexos, aumento na frequência das<br />
vocalizações e a repetição frequente<br />
<strong>de</strong> do comportamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar-se e<br />
levantar-se.<br />
● A <strong>ovelha</strong> po<strong>de</strong> parir tanto em p<strong>é</strong><br />
como <strong>de</strong>itada (Fig. 2 e 3). A intensida<strong>de</strong><br />
e a frequência das contrações tamb<strong>é</strong>m<br />
aumentarão significativamente. Entre 30<br />
minutos e duas horas, na maior parte das<br />
vezes, as patas dianteiras do cor<strong>de</strong>iro<br />
apontarão e ele será completamente<br />
expulso. Caso a <strong>ovelha</strong> esteja prenhe<br />
<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um cor<strong>de</strong>iro, o tempo entre<br />
a expulsão <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro varia entre<br />
cinco e trinta minutos, em m<strong>é</strong>dia.<br />
● Se o cor<strong>de</strong>iro estiver mal posicionado<br />
ou for muito gran<strong>de</strong>, a <strong>ovelha</strong> <strong>de</strong>ve<br />
ser auxiliada no processo <strong>de</strong> parição.<br />
Ovelha Santa Inês com duas cor<strong>de</strong>iras rec<strong>é</strong>m-<br />
-nascidas e parte da placenta já expulsa.<br />
(Foto: arquivo pessoal).<br />
As patas <strong>de</strong>vem ser reposicionadas e<br />
a cabeça colocada acima das patas<br />
dianteiras. Em hipótese alguma o procedimento<br />
po<strong>de</strong> ser feito sem luvas e sem<br />
a <strong>de</strong>vida assepsia (<strong>de</strong>ve-se lavar bem<br />
as mãos com água e sabão e as luvas<br />
com solução clorada). O momento i<strong>de</strong>al<br />
para puxar o cor<strong>de</strong>iro <strong>é</strong> quando a <strong>ovelha</strong><br />
apresentar uma contração, para que não<br />
se faça mais força do que o necessário.<br />
● A observação do comportamento da<br />
<strong>ovelha</strong> no dia do parto <strong>é</strong> uma ferramenta<br />
que permite i<strong>de</strong>ntificar a formação do<br />
vínculo com o cor<strong>de</strong>iro e, inferir sobre a<br />
sobrevivência do <strong>mesmo</strong>.<br />
● Após a expulsão do cor<strong>de</strong>iro a<br />
<strong>ovelha</strong> realizará uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
como limpar e estimular o cor<strong>de</strong>iro.<br />
Com a língua, a <strong>ovelha</strong> lambe a cria<br />
<strong>de</strong>ixando-a seca (Fig. 4). Nesse processo,<br />
as vias respiratórias do cor<strong>de</strong>iro são<br />
<strong>de</strong>sobstruídas e a circulação sanguínea <strong>é</strong><br />
estimulada. O estímulo ocorre quando a<br />
<strong>ovelha</strong> ajuda o cor<strong>de</strong>iro a realizar alguma<br />
ativida<strong>de</strong>, como levantar-se e tamb<strong>é</strong>m<br />
quando o cor<strong>de</strong>iro mama e a <strong>ovelha</strong> coloca<br />
seu focinho na parte traseira da cria.<br />
● A <strong>ovelha</strong> po<strong>de</strong> simplesmente <strong>de</strong>ixar<br />
o cor<strong>de</strong>iro mamar, ou facilitar ou dificultar<br />
a mamada do <strong>mesmo</strong>. Na primeira<br />
situação, a <strong>ovelha</strong> permite que o cor<strong>de</strong>iro<br />
mame com maior facilida<strong>de</strong>, arqueando<br />
o posterior ou erguendo uma das patas<br />
traseiras e na segunda, a <strong>ovelha</strong> não<br />
<strong>de</strong>ixa a cria mamar, movimentando-se ou<br />
O Berro - nº 168<br />
37
(Figura 5)<br />
Ovelha White Dorper com sua cria. (Foto: arquivo pessoal).<br />
afastando-se do cor<strong>de</strong>iro. e para o cor<strong>de</strong>iro,<br />
respectivamente. Algumas <strong>ovelha</strong>s<br />
tamb<strong>é</strong>m ingerem anexos e membranas.<br />
● O cor<strong>de</strong>iro neonato, por sua vez,<br />
fará o seguinte:<br />
- tentará levantar-se - tentativa do cor<strong>de</strong>iro<br />
em colocar-se na postura em p<strong>é</strong>. O<br />
cor<strong>de</strong>iro não consegue ficar com os quatro<br />
membros no solo <strong>de</strong> maneira estável;<br />
- procurar o úbere;<br />
- tentar mamar - o cor<strong>de</strong>iro já está na região<br />
inguinal da <strong>ovelha</strong> e tenta apreen<strong>de</strong>r<br />
o teto para realizar a mamada;<br />
- mamar - o cor<strong>de</strong>iro ingere colostro, o<br />
que <strong>é</strong> verificado pela passagem do leite<br />
no trato digestório e em alguns casos,<br />
abano <strong>de</strong> cauda e presença <strong>de</strong> espuma<br />
na boca.<br />
● Em condições normais, o cor<strong>de</strong>iro<br />
neonato será limpo e secado pela <strong>ovelha</strong>,<br />
ficará em p<strong>é</strong> e realizará a primeira mamada<br />
<strong>de</strong> colostro na primeira hora <strong>de</strong> vida. A<br />
Figura 5 mostra <strong>ovelha</strong> com sua cria <strong>de</strong><br />
um dia em perfeitas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
● A placenta e os <strong>de</strong>mais anexos embrionários<br />
<strong>de</strong>vem ser expelidos em at<strong>é</strong><br />
12 horas após o parto, sendo necessário<br />
suporte medicamentoso caso isso não<br />
ocorra. Normalmente, esse processo <strong>de</strong><br />
expulsão ocorre em at<strong>é</strong> três horas após o<br />
nascimento do último cor<strong>de</strong>iro, po<strong>de</strong>ndo<br />
ser expulsas uma ou mais placentas.<br />
Caso a <strong>ovelha</strong> não ingira os anexos, <strong>é</strong><br />
preciso que estes sejam recolhidos e<br />
<strong>de</strong>scartados corretamente.<br />
● É fundamental que a ingestão do<br />
colostro tamb<strong>é</strong>m ocorra nas primeiras 12<br />
horas <strong>de</strong> vida do cor<strong>de</strong>iro, pois após esse<br />
período a absorção das imunoglobulinas<br />
não ocorrerá <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada,<br />
<strong>de</strong>vido à redução da permeabilida<strong>de</strong> da<br />
pare<strong>de</strong> intestinal do cor<strong>de</strong>iro. Como a<br />
placenta dos ruminantes <strong>é</strong> do tipo sin<strong>de</strong>smocorial<br />
(não permite a passagem<br />
<strong>de</strong> anticorpos para o feto), a imunida<strong>de</strong>,<br />
e consequentemente a resistência aos<br />
microrganismos, será passada <strong>de</strong> mãe<br />
para filho por via oral, ou seja, via ingestão<br />
<strong>de</strong> colostro. A ingestão <strong>de</strong> colostro<br />
<strong>é</strong>, portanto, fundamental para a sobrevivência<br />
dos cor<strong>de</strong>iros nos primeiros<br />
38 O Berro - nº 168
(Figura 6)<br />
Cor<strong>de</strong>ira mestiça Santa Inês Dorper sendo pesada. (Foto: arquivo pessoal).<br />
dias <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>ve ser verificada pelo<br />
produtor. Se a <strong>ovelha</strong> não produzir colostro<br />
em volume a<strong>de</strong>quado, rejeitar a cria<br />
ou morrer, <strong>de</strong>ve-se administrar colostro<br />
artificial ou colostro bovino aos cor<strong>de</strong>iros<br />
(três vezes ao dia, por três dias o volume<br />
<strong>de</strong> entre 250-300 mL sempre à mesma<br />
temperatura).<br />
● Caso o nascimento do cor<strong>de</strong>iro<br />
ocorra em condições climáticas pouco<br />
favoráveis (muito frio, chuvas intensas),<br />
<strong>de</strong>ve-se colocar lâmpadas nas baias maternida<strong>de</strong>s,<br />
preferencialmente nos cantos<br />
das instalações (são recomendadas lâmpadas<br />
<strong>de</strong> 60 watts a 1,5 metros do chão).<br />
● A primeira pesagem do cor<strong>de</strong>iro<br />
<strong>de</strong>ve ocorrer no dia em que ele nasce,<br />
e se, possível, quinzenalmente, para<br />
ser verificado o ganho <strong>de</strong> peso (Fig. 6).<br />
Eventuais problemas serão <strong>de</strong>tectados e<br />
corrigidos o mais rápido possível: não <strong>é</strong><br />
aceitável perda <strong>de</strong> peso. A pesagem <strong>é</strong> importante<br />
como ferramenta para seleção<br />
dos animais com melhor <strong>de</strong>sempenho.<br />
● No primeiro dia <strong>de</strong> vida do cor<strong>de</strong>iro,<br />
tamb<strong>é</strong>m <strong>de</strong>ve ser feita a cura/queima do<br />
umbigo. Caso o comprimento do cordão<br />
umbilical seja comprido, <strong>de</strong>ve-se cortá-lo<br />
com tesoura bem limpa e afiada. Deve<br />
ser <strong>de</strong>ixado pedaço <strong>de</strong> 2-3 cm ou no<br />
máximo dois <strong>de</strong>dos a partir do abdômen.<br />
A queima propriamente dita <strong>de</strong>ve ser<br />
realizada com solução <strong>de</strong> iodo a 5%,<br />
comprada em casas agropecuárias, por<br />
tantos dias quanto forem necessários at<strong>é</strong><br />
a completa secagem do tecido. O tecido<br />
<strong>de</strong>ve ser mergulhado completamente na<br />
solução ou totalmente borrifado por ela<br />
(estrat<strong>é</strong>gia mais higiênica).<br />
● Tomando todas as medidas necessárias<br />
<strong>é</strong> possível reduzir significativamente<br />
a mortalida<strong>de</strong> dos cor<strong>de</strong>iros<br />
rec<strong>é</strong>m-nascidos, atingido o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />
menos <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>.<br />
Alice Del<strong>é</strong>o Rodrigues - Zootecnista<br />
(FZEA/USP), Mestre e Doutoranda em<br />
Zootecnia pela Unesp/Jaboticabal.<br />
O Berro - nº 168<br />
39
Panorama<br />
Brasil duplica compras<br />
<strong>de</strong> carne ovina uruguaia<br />
O Brasil <strong>é</strong> o principal comprador <strong>de</strong><br />
carne ovina do Uruguai e sua <strong>de</strong>manda<br />
crescente tem cada vez mais importância<br />
na <strong>de</strong>terminação do preço pago ao<br />
produtor uruguaio, tanto <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iros,<br />
como das categorias adultas. Essa tendência<br />
se acentuou nos primeiros cinco<br />
meses <strong>de</strong> 2013, quando, segundo<br />
dados do Instituto Nacional <strong>de</strong> Carnes<br />
do Uruguai (INAC), o Brasil mais que<br />
duplicou as compras com relação ao<br />
<strong>mesmo</strong> período do ano anterior.<br />
As vendas <strong>de</strong> carne ovina ao Brasil<br />
entre janeiro e maio passado alcançaram<br />
3.116 toneladas, ou 45% das<br />
exportações totais expressas em peso<br />
carcaça, com um faturamento <strong>de</strong><br />
US$ 13,4 milhões. Segundo a publicação<br />
“El mercado <strong>de</strong> la carne ovina”, do<br />
Secretariado Uruguaio <strong>de</strong> Lã (SUL), o<br />
Brasil já <strong>é</strong> o principal comprador em volume<br />
e tamb<strong>é</strong>m reporta um valor m<strong>é</strong>dio<br />
por tonelada que está entre os mais altos,<br />
segundo países <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino. (Fonte:<br />
El Observador).<br />
No total, o Uruguai exportou 9.080<br />
toneladas, 40,75% a mais do que no<br />
<strong>mesmo</strong> período anterior, quando foram<br />
exportadas 6.451 toneladas. Os principais<br />
mercados foram, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância,<br />
Mercosul, China e União Europeia<br />
(UE), concentrando 91% do total.<br />
Total <strong>de</strong> US$ 33,49 milhões, 23,5%<br />
a mais que no <strong>mesmo</strong> período anterior,<br />
quando foram exportados US$ 27,10<br />
milhões. O valor gerado pelos países<br />
que formam a UE, o Mercosul, junto<br />
com China, representa 91% do total<br />
exportado em dólares.<br />
O número <strong>de</strong> cabeças abatidas nos<br />
estabelecimentos habilitados foi <strong>de</strong><br />
565.725 com as <strong>ovelha</strong>s representando<br />
35% do total, os capões 13% do total<br />
e os cor<strong>de</strong>iros, 42% do total<br />
Cor<strong>de</strong>iro no prato do Hotel Deville<br />
Mais um prato saboroso e bem a cara<br />
da capital baiana <strong>é</strong> a aposta do chef<br />
Eminídio Silva, o ‘Novinho’, do Hotel<br />
Deville Salvador, e promete ser o maior<br />
sucesso no cardápio estrelado que<br />
compõe a “Coleção do Chef” do mês <strong>de</strong><br />
julho. O prato? Carr<strong>é</strong> <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>iro com<br />
Perfume <strong>de</strong> Cardamono, preparado a<br />
partir <strong>de</strong> um dos cortes mais apreciados<br />
<strong>de</strong> carne. Por estar junto ao osso, o corte<br />
escolhido pelo chef <strong>é</strong> macio e saboroso,<br />
al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar por seu alto valor<br />
nutritivo. Rica em fonte <strong>de</strong> proteínas,<br />
vitaminas do complexo B, ferro, cálcio<br />
e potássio, a carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro tem um<br />
sabor diferenciado. Para finalizar o prato,<br />
uma pequena porção <strong>de</strong> cardamomo<br />
- semente aromática originária da Índia<br />
Cor<strong>de</strong>iro no prato do Hotel Deville<br />
(foto: Marcello Fontes).<br />
- <strong>é</strong> acrescentada à receita, agregando<br />
perfume e aroma. Preço: R$ 63,00.<br />
40 O Berro - nº 168
O Berro - nº 168<br />
41
(Parte 1)<br />
Conjuntura<br />
Sucesso do Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura<br />
Leandro Ranolfi Girardi<br />
Como garantir que a produção <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro po<strong>de</strong> dar certo em<br />
pequenas proprieda<strong>de</strong>s? Esse era o <strong>de</strong>safio que foi enfrentado e resolvido,<br />
com sucesso, servindo hoje <strong>de</strong> exemplo para qualquer região do Brasil.<br />
Promover fartura <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fartura (SP) como geração<br />
<strong>de</strong> renda alternativa.<br />
Situada no sudoeste do Estado <strong>de</strong><br />
São Paulo, Fartura <strong>é</strong> conhecida pela<br />
gran<strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> da terra roxa <strong>de</strong> seus<br />
429 km 2 . A vocação agropecuária do<br />
município <strong>é</strong> inquestionável. Al<strong>é</strong>m da<br />
cruz que mostra a f<strong>é</strong> <strong>de</strong> seu povo, o<br />
brasão da cida<strong>de</strong> cont<strong>é</strong>m figuras <strong>de</strong><br />
peixes, do vale f<strong>é</strong>rtil e do arado, circundados<br />
por ramos <strong>de</strong> milho e caf<strong>é</strong>. Com<br />
uma população <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> 15 mil<br />
habitantes em 2000, quase 1/4 residia<br />
na zona rural, segundo dados <strong>de</strong> maio<br />
<strong>de</strong> 2007, da prefeitura.<br />
No final <strong>de</strong> 2003, os agricultores<br />
locais ainda se <strong>de</strong>dicavam às culturas<br />
herdadas dos seus antepassados, mas<br />
enfrentavam as incertezas do setor. Os<br />
investimentos na ovinocultura estavam<br />
basicamente nas mãos <strong>de</strong> pequenos<br />
produtores. Pouco a pouco a criação <strong>de</strong><br />
<strong>ovelha</strong>s acabou se tornando a ativida<strong>de</strong><br />
principal do município.<br />
Dos peixes para as <strong>ovelha</strong>s<br />
No final do s<strong>é</strong>culo XIX, uma pequena<br />
proprieda<strong>de</strong> chamada Fazenda do Ribeirão<br />
Fartura <strong>de</strong>u o nome ao município,<br />
em razão do curso d’água que cortava o<br />
vale, ao p<strong>é</strong> da serra que tinha a mesma<br />
<strong>de</strong>nominação. Ningu<strong>é</strong>m sabe quem batizou<br />
o ribeirão com o nome <strong>de</strong> Fartura,<br />
mas <strong>é</strong> certo que, ao fazer isso, traçou o<br />
<strong>de</strong>stino da cida<strong>de</strong> e do seu povo.<br />
Em 1870, o município era marcado<br />
pela fartura <strong>de</strong> peixes como cascudo,<br />
42 O Berro - nº 168
Indicadores sociais <strong>de</strong> Fartura (SP)<br />
Indicadores Fartura Estado, São Paulo<br />
Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH)(1) 0,772 0,822<br />
Ranking da localida<strong>de</strong> no IDH (São Paulo) 383 o. -<br />
Ranking da localida<strong>de</strong> no Brasil 1.525 o. -<br />
Renda per capita R$ 245,15 R$ 13.725,00<br />
População total 15.010 40.442.795<br />
Fonte: IBGE/PNUD. - (1) Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH): <strong>é</strong> um comparativo<br />
dos níveis <strong>de</strong> pobreza, alfabetização, educação, esperança <strong>de</strong> vida, natalida<strong>de</strong> e outros<br />
fatores entre os diversos países do mundo. O índice vem sendo usado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993 pelo<br />
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).<br />
piaba, bagre, lambari e mandi, que habitavam<br />
o ribeirão. “Loquear” no Fartura<br />
era buscar as locas dos cascudos, que<br />
rendiam saborosas sopas e fritadas. No<br />
vale privilegiado pela natureza, com solo<br />
extremamente generoso, cercado por<br />
serras ver<strong>de</strong>jantes e águas abundantes,<br />
proliferavam tamb<strong>é</strong>m a amiza<strong>de</strong>,<br />
a cordialida<strong>de</strong> e a hospitalida<strong>de</strong>. Muito<br />
mais que uma cida<strong>de</strong>, os <strong>de</strong>sbravadores<br />
e fundadores, italianos e espanhóis em<br />
sua maioria, moldaram o perfil <strong>de</strong> um<br />
povo i<strong>de</strong>alizador, que <strong>de</strong>monstrava muito<br />
apego à educação, à cultura, às artes,<br />
aos esportes, à agricultura e à pecuária.<br />
Al<strong>é</strong>m do excelente <strong>de</strong>sempenho das<br />
suas escolas, que eram ponto <strong>de</strong> referência<br />
na área da educação, Fartura<br />
se orgulhava <strong>de</strong> possuir uma das mais<br />
completas bibliotecas públicas do interior<br />
do Estado. O quadro acima resume<br />
seus principais indicadores econômicos<br />
e sociais em comparação com os válidos<br />
para o Estado <strong>de</strong> São Paulo:<br />
O município contava em 2000 com<br />
cinco vias <strong>de</strong> acesso rodoviário, o que<br />
lhe dava imensa vantagem logística<br />
para o escoamento <strong>de</strong> produtos. Fartura<br />
está a poucas horas <strong>de</strong> distância <strong>de</strong><br />
municípios da região Sul do Brasil com<br />
Primeiro barracão construído em Fartura.<br />
O Berro - nº 168<br />
43
tradição em ovinocultura <strong>de</strong> alta tecnologia,<br />
como Castro (PR), Curitibanos<br />
(SC), e Santana do Livramento (RS).<br />
Talvez essa proximida<strong>de</strong> tenha sido um<br />
dos motivos para os agricultores locais<br />
recorrerem à ovinocultura quando procuraram<br />
uma forma <strong>de</strong> complementar<br />
suas rendas.<br />
Rebanho original - O Brasil <strong>de</strong>tinha,<br />
em 2003, segundo a Associação <strong>de</strong><br />
Criadores <strong>de</strong> Ovinos, um rebanho <strong>de</strong><br />
14,5 milhões <strong>de</strong> ovinos, por<strong>é</strong>m continuava<br />
importando carne <strong>de</strong> outros países.<br />
Mesmo sendo um negócio economicamente<br />
rentável, a produção/ oferta <strong>de</strong><br />
carne ovina não aumentara na mesma<br />
proporção da <strong>de</strong>manda em todo o País.<br />
Esses dados justificavam a importância<br />
da ovinocultura como estrat<strong>é</strong>gia para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento rural, visto que essa<br />
era uma ativida<strong>de</strong> chave e po<strong>de</strong>ria gerar<br />
um gran<strong>de</strong> impulso na economia, caso<br />
a sua integração agroindustrial fosse<br />
a<strong>de</strong>quadamente localizada, conduzida<br />
e estimulada.<br />
No início <strong>de</strong> 2003, por meio da parceria<br />
entre Sebrae/SP, a Associação Paulista<br />
dos Criadores <strong>de</strong> Ovinos (Aspaco),<br />
o Sindicato Rural <strong>de</strong> Piraju, a Prefeitura<br />
Municipal <strong>de</strong> Fartura e a Casa da Agricultura,<br />
foi realizado um curso para o<br />
setor, que culminou com a formalização<br />
do Núcleo <strong>de</strong> Produtores <strong>de</strong> Ovinos<br />
Várias origens, buscando homogeneização.<br />
Primeiros lotes <strong>de</strong> ovinos no experimento.<br />
<strong>de</strong> Fartura, registrado posteriormente<br />
na Aspaco com 12 integrantes, participando<br />
do Projeto Cor<strong>de</strong>iro Paulista e<br />
tendo como presi<strong>de</strong>nte o produtor Willen<br />
Alexandre Garcia Bortotti.<br />
Em 2005, os produtores <strong>de</strong> Piraju<br />
a<strong>de</strong>riram ao Núcleo <strong>de</strong> Fartura, totalizando<br />
17 produtores. Após algumas<br />
reuniões, formalizou-se no Sebrae o<br />
grupo <strong>de</strong> ovinos <strong>de</strong> Piraju, que passou<br />
pelo programa <strong>de</strong> capacitação oferecido<br />
pelo Serviço Nacional <strong>de</strong> Aprendizagem<br />
Rural (Senar).<br />
Em janeiro <strong>de</strong> 2006, por iniciativa<br />
<strong>de</strong> Bortotti, iniciaram-se reuniões <strong>de</strong><br />
trabalho com parceiros locais e representantes<br />
do Sebrae, pois os produtores<br />
tinham interesse em participar <strong>de</strong> um<br />
projeto audacioso, já que sabiam da<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhoria sistêmica dos<br />
rebanhos. Então, criaram um projeto<br />
com prazo at<strong>é</strong> agosto <strong>de</strong> 2008.<br />
Levantamentos primários em junho<br />
<strong>de</strong> 2006 (tempo zero) que possibilitassem<br />
a apuração <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> referência<br />
foram efetuados no início do projeto.<br />
Como não po<strong>de</strong>ria ser diferente, as<br />
ações estabelecidas para o aprimoramento<br />
dos rebanhos foram compatíveis<br />
com a qualida<strong>de</strong> que os produtores<br />
vinham preconizando. A <strong>de</strong>scrição simplificada<br />
das metas zoot<strong>é</strong>cnicas po<strong>de</strong><br />
ser visualizada no quadro a seguir.<br />
No <strong>mesmo</strong> mês, por orientações do<br />
44 O Berro - nº 168
Evolução do Controle Zoot<strong>é</strong>cnico<br />
Descrição 2006 2008 Variação<br />
Matrizes, total 1400 3500 46%<br />
Animais connados (por mês) 69 158 129%<br />
Animais connados (ano) 828 1896 129%<br />
Fonte: Projeto Cor<strong>de</strong>iro Paulista<br />
Sebrae, foi realizado um diagnóstico<br />
com cada produtor para que fossem propostas<br />
ações baseadas em informações<br />
reais. Detectou-se que:<br />
- 70,6% dos produtores eram donos <strong>de</strong><br />
sua própria terra;<br />
- 64,7% haviam completado o ensino<br />
m<strong>é</strong>dio;<br />
- 29,4% estavam na ativida<strong>de</strong> havia<br />
mais <strong>de</strong> cinco anos;<br />
- 47% tinham controle parcial da proprieda<strong>de</strong>;<br />
- 47% tinham apenas um empregado.<br />
A partir <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006, o grupo<br />
foi inserido e monitorado pelo Sistema<br />
<strong>de</strong> Gestão Estrat<strong>é</strong>gica Orientada para<br />
Resultados (Sigeor), do Sebrae. Ações,<br />
por<strong>é</strong>m, vinham sendo <strong>de</strong>senvolvidas<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 pelo Programa <strong>de</strong>nominado<br />
Sistema Agroindustrial Integrado (SAI),<br />
do Sebrae.<br />
Ovelhas - Bortotti havia incentivado<br />
junto com seu amigo, Júlio Mazetto,<br />
a profissionalização do setor porque<br />
acreditava no potencial da ovinocultura<br />
no Brasil, pois o País ainda importava<br />
ovinos para aten<strong>de</strong>r ao consumo interno,<br />
principalmente do Uruguai.<br />
Em julho <strong>de</strong> 2006, existia uma gran<strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong> a ser aproveitada. Se ele<br />
conseguisse melhorar a sua criação,<br />
não teria nenhuma dificulda<strong>de</strong> para<br />
comercializá-la com um excelente resultado<br />
financeiro. Ao <strong>mesmo</strong> tempo,<br />
havia ovinocultores que <strong>de</strong>sistiam da ativida<strong>de</strong>,<br />
porque ela não rendia o mínimo<br />
É necessário subir <strong>de</strong>grau por <strong>de</strong>grau para obter sucesso.<br />
O Berro - nº 168<br />
45
Hoje, cor<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> em carcaça.<br />
necessário para compensar os riscos.<br />
Bortotti sabia que precisava tomar<br />
uma <strong>de</strong>cisão e procurar convencer os<br />
outros criadores a seguirem o <strong>mesmo</strong><br />
caminho. Só não sabia ainda qual seria<br />
esse caminho. Havia uma margem muito<br />
gran<strong>de</strong> para a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />
da criação, o que po<strong>de</strong>ria ser conseguido<br />
por meio da incorporação <strong>de</strong> novas<br />
matrizes ao rebanho e da introdução<br />
<strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> manejo. Cada<br />
criador investiria tanto quanto os seus<br />
recursos pessoais permitissem.<br />
Ele vislumbrava tamb<strong>é</strong>m racionalizar<br />
custos por meio <strong>de</strong> uma parceria entre<br />
os ovinocultores. Essa não era uma<br />
tarefa trivial, por razões culturais. Nunca<br />
<strong>é</strong> fácil criar o associativismo efetivo<br />
on<strong>de</strong> não há exemplos anteriores bem<br />
sucedidos.<br />
Caso essa fosse a sua sugestão, e<br />
<strong>de</strong>sse errado, ele seria consi<strong>de</strong>rado<br />
responsável. Bortotti po<strong>de</strong>ria seguir<br />
o caminho da solução individual. Resolveria<br />
o seu problema pessoal <strong>de</strong><br />
ovinocultor, correndo os riscos <strong>de</strong> trilhar<br />
uma rota ainda <strong>de</strong>sconhecida, sozinho.<br />
Tendo sucesso nessa estrada ou não,<br />
serviria como farol para seus colegas,<br />
mostrando o caminho a ser seguido, ou<br />
a ser evitado. Po<strong>de</strong>ria, por outro lado,<br />
investir sua energia na formação <strong>de</strong><br />
uma parceria entre todos os produtores,<br />
procurando formas <strong>de</strong> racionalizar o<br />
processo. Para que isso acontecesse,<br />
precisaria convencê-los <strong>de</strong> que a associativismo<br />
traria menos in<strong>de</strong>pendência<br />
individual nas <strong>de</strong>cisões, mas criaria vantagens<br />
amplamente compensadoras.<br />
Avaliações - A avaliação do rebanho,<br />
antes do apoio da entida<strong>de</strong>, indicou<br />
que os animais apresentavam baixo<br />
<strong>de</strong>sempenho. Dos 178 ovinos avaliados<br />
no início da ativida<strong>de</strong>, 70% foram classificados<br />
entre regular e muito ruim e<br />
os restantes, 30%, foram consi<strong>de</strong>rados<br />
bons ou muito bons. Essas avaliações<br />
46 O Berro - nº 168
eferiam-se a características raciais<br />
e produtivas. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da<br />
raça, levou-se em consi<strong>de</strong>ração a ida<strong>de</strong>,<br />
estrutura óssea, conformação, úbere,<br />
<strong>de</strong>feitos e condição corporal. Com<br />
base nesses quesitos, os ovinos foram<br />
classificados <strong>de</strong> 1 a 10, sendo que <strong>de</strong><br />
9 a 10 eram consi<strong>de</strong>rados muito bons,<br />
<strong>de</strong> 7 a 8, bons, <strong>de</strong> 5 a 6, regulares, <strong>de</strong><br />
3 a 4, ruins e <strong>de</strong> s1 a 2, muito ruins. Os<br />
animais muito ruins foram <strong>de</strong>scartados<br />
imediatamente, os ruins foram avaliados<br />
em termos reprodutivos.<br />
Já as outras categorias foram avaliadas<br />
quanto à produção. Al<strong>é</strong>m da melhoria<br />
na qualida<strong>de</strong> da carcaça dos animais<br />
por meio do aprimoramento gen<strong>é</strong>tico<br />
que vinha sendo realizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999,<br />
os produtores logo perceberam que<br />
precisavam evoluir como associação organizada,<br />
para que pu<strong>de</strong>ssem apren<strong>de</strong>r<br />
a colaborar entre si e, quem sabe, at<strong>é</strong><br />
comercializar a produção em conjunto.<br />
Isso tudo, aliado ao medo <strong>de</strong> continuar<br />
fracassando na ativida<strong>de</strong>, levou Willen<br />
Bortotti a buscar o apoio do Sebrae.<br />
Afirmou, na ocasião: “Os resultados<br />
não eram suficientes para garantir a sustentabilida<strong>de</strong><br />
da ativida<strong>de</strong> (828 animais<br />
confinados por ano). Os custos (R$ 0,60<br />
por animal/dia) eram elevados para o<br />
nível econômico-social dos produtores<br />
que apresentavam renda per capita <strong>de</strong><br />
pouco mais <strong>de</strong> R$ 215,00”.<br />
Embora a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda -<br />
aliada à falta <strong>de</strong> recursos para o investimento<br />
- tivesse tornado a ovinocultura<br />
o foco principal <strong>de</strong> atuação, a comercialização<br />
individual ainda não garantia<br />
a sobrevivência da ativida<strong>de</strong>. Alguns<br />
produtores chegaram a <strong>de</strong>sistir com o<br />
<strong>de</strong>correr dos anos. A questão a <strong>de</strong>cidir<br />
era qual seria a maneira mais rápida <strong>de</strong><br />
reduzir custos antes que mais produtores<br />
<strong>de</strong>sistissem da ativida<strong>de</strong>.<br />
O gargalo estava na comercialização;<br />
na forma <strong>de</strong> chegar at<strong>é</strong> uma lucrativa<br />
comercialização - que servisse para<br />
todos os interessados <strong>de</strong> Fartura. Foi<br />
nesse momento que surgiu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
cooperativar, <strong>de</strong> produzir comunitariamente.<br />
(ver Parte 2, a seguir).<br />
Leandro Ranolfi Girardi - Coleção<br />
Histórias <strong>de</strong> Sucesso - Sebrae,<br />
Brasília (DF), 2007.<br />
Panorama<br />
Expovinos <strong>de</strong> Araçatuba<br />
paga aos apresentadores<br />
Em julho acontece a XVI EXPOVI-<br />
NOS no Recinto <strong>de</strong> Exposições Clibas<br />
<strong>de</strong> Almeida Prado, Araçatuba/SP, fazendo<br />
parte do ranking “Cabanha do Ano” da<br />
ASPACO para todas as raças presentes.<br />
Este ano o Siran - Sindicato Rural da Alta<br />
Noroeste, que realiza a Exposição Agropecuária<br />
<strong>de</strong> Araçatuba, estará novamente<br />
oferecendo prêmios em dinheiro aos<br />
apresentadores <strong>de</strong> animais. Os valores<br />
são: R$ 10,00 (aos 3os. <strong>lugar</strong>es), R$<br />
15,00 (aos 2os. <strong>lugar</strong>es) e R$ 20,00 (aos<br />
1os. <strong>lugar</strong>es) nas categorias individuais<br />
<strong>de</strong> todas as raças ovinas presentes.<br />
Você sabia...?<br />
... que a música rock<br />
faz que as t<strong>é</strong>rmitas<br />
mastiguem duas vezes<br />
mais rapidamente?<br />
Você sabia...?<br />
... que um camaleão,<br />
<strong>mesmo</strong> cego, muda<br />
suas cores para combinar<br />
com o meio ambiente?<br />
Você sabia...?<br />
... que as <strong>cabra</strong>s em<br />
pastoreio, po<strong>de</strong>m gastar<br />
<strong>de</strong> 7 a 10 horas<br />
por dia nesta ativida<strong>de</strong>?<br />
O Berro - nº 168<br />
47
Panorama<br />
Alto Camaquã vai entregar<br />
cor<strong>de</strong>iro e cabrito<br />
Dentro <strong>de</strong> uma parceria que iniciou,<br />
efetivamente, em abril, o Shopping da<br />
Carne, em Porto Alegre, passou a comercializar<br />
carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro proce<strong>de</strong>nte<br />
da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Produtores e Empreen<strong>de</strong>dores<br />
do Alto Camaquã. Já em<br />
agosto, a carne será enviada por produtores<br />
vinculados à Associação Comunitária<br />
<strong>de</strong> Moradores e Pequenos<br />
Produtores Rurais da Toca, Lixiguana,<br />
Coxilha das Flores, Pedreira e Cerro<br />
do Malcriado. A presi<strong>de</strong>nte da associação,<br />
Gilda Mara Soares Carvalho, comenta<br />
que cada associação <strong>de</strong> produtores<br />
repassará a carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro a<br />
cada mês. A <strong>de</strong>manda mínima <strong>é</strong> <strong>de</strong> 15<br />
cor<strong>de</strong>iros por semana para cada associação.<br />
Outro assunto <strong>de</strong>batido na reunião<br />
foi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comercialização<br />
da carne <strong>de</strong> cabrito. Ativida<strong>de</strong> tradicional<br />
nas localida<strong>de</strong>s abrangidas pela<br />
associação, a caprinocultura tamb<strong>é</strong>m<br />
<strong>é</strong> valorizada <strong>de</strong>ntro das ações do Alto<br />
Camaquã. A presi<strong>de</strong>nte da associação<br />
informa que, no mês <strong>de</strong> agosto, haverá<br />
uma reunião específica para discutir a<br />
comercialização <strong>de</strong>sse produto.<br />
Dorper tem Programa <strong>de</strong> Certificação<br />
A ABCDorper possui um programa<br />
<strong>de</strong> certificação para carne <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro<br />
<strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>. Esta certificação<br />
<strong>é</strong> a primeira das raças Dorper e White<br />
Dorper, um marco para ovinocultura, e<br />
origem do programa pioneiro <strong>de</strong> certificação<br />
<strong>de</strong> carnes <strong>de</strong> Cruza Dorper da<br />
VPJ Alimentos, marca lí<strong>de</strong>r em carnes<br />
nobres <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro. O programa adotado<br />
pela VPJ consiste em um formato<br />
atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> parcerias com produtores<br />
<strong>de</strong> todo o País, on<strong>de</strong> a empresa disponibiliza<br />
t<strong>é</strong>cnicos para a orientação do<br />
manejo, reprodutores melhoradores<br />
a preços acessíveis e a garantia <strong>de</strong><br />
compra da produção atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> contrato<br />
firmado.<br />
Todos os procedimentos são avaliados<br />
em um padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que, se<br />
atendido pelo produtor, paga-se premiações<br />
pelo produto. O resultado <strong>de</strong> todo<br />
esse processo <strong>é</strong> uma carne com origem<br />
e qualida<strong>de</strong> garantidas, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> manter<br />
todas as suas proprieda<strong>de</strong>s e sabor,<br />
certificados pelo Selo Cor<strong>de</strong>iro Dorper<br />
Certificado que será auditado pela Aus-<br />
-Qual atrav<strong>é</strong>s da Genesis Inspeções<br />
– Brasil Certificação, com o apoio da<br />
ABCDorper. Este <strong>é</strong> o primeiro passo rumo<br />
a uma nova realida<strong>de</strong> para a raça<br />
Dorper e a ovinocultura no Brasil. Um<br />
momento histórico e <strong>de</strong> reconhecimento<br />
ao trabalho dos criadores e toda a ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva.<br />
Você sabia...?<br />
... que os caprinos<br />
geralmente dormem<br />
em duplas, encostandose<br />
uns aos outros pelos<br />
flancos? Normalmente<br />
adotam essa posição<br />
em <strong>de</strong>cúbito esternal.<br />
Você sabia...?<br />
... que os caprinos<br />
bebem pouca água? O<br />
volume ingerido<br />
<strong>é</strong> aproximadamente<br />
<strong>de</strong> 188 cc/kg/24 horas?<br />
Só o camelo bebe menos<br />
água, 185cc/kg/24horas.<br />
Você sabia...?<br />
... que na <strong>é</strong>poca do rei<br />
Davi o queijo era muito<br />
valioso? Ele premiou<br />
seu capitão vitorioso<br />
em batalhas contra Saul<br />
com <strong>de</strong>z queijos?<br />
(1 Samuel 17:18).<br />
48 O Berro - nº 168
TOSQUIADEIRAS<br />
PARA OVINOS<br />
TELEVENDAS: (19) 3233-5370<br />
LOJA VIRTUAL:www.elantra<strong>de</strong>.com.br<br />
Leilão transmitido pelo Canal C Rural<br />
O Berro - nº 168<br />
49
(Parte 2)<br />
Conjuntura<br />
O Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Fartura e o<br />
confinamento comunitário<br />
Leandro Ranolfi Girardi<br />
A união <strong>de</strong> produtores com objetivos comuns <strong>é</strong> uma força incrível no setor<br />
rural e po<strong>de</strong> transformar a pobreza e a dificulda<strong>de</strong> em<br />
riqueza e facilida<strong>de</strong>.<br />
Os pioneiros instalaram o primeiro confinamento comunitário.<br />
Uma <strong>de</strong>cisão aparentemente óbvia<br />
em termos <strong>de</strong> associativismo foi tomada<br />
em julho <strong>de</strong> 2006 pelo grupo: a realização<br />
<strong>de</strong> um confinamento comunitário.<br />
Essa iniciativa traria a vantagem <strong>de</strong><br />
aproximar ainda mais os produtores,<br />
proporcionando o fortalecimento da<br />
ovinocultura na região e garantindo o<br />
sustento não só das famílias dos 17<br />
empresários rurais como tamb<strong>é</strong>m das<br />
outras 14 famílias que forneciam a<br />
mão-<strong>de</strong>-obra necessária para o setor.<br />
Gran<strong>de</strong>s entusiastas locais incentivados<br />
por Bortotti apoiaram a iniciativa, como<br />
o prefeito <strong>de</strong> Fartura, Jos<strong>é</strong> da Costa, o<br />
prefeito <strong>de</strong> Piraju, Francisco Rodrigues,<br />
e os presi<strong>de</strong>ntes dos sindicatos rurais,<br />
Jos<strong>é</strong> Rubens <strong>de</strong> Oliveira e Ronieri Jos<strong>é</strong><br />
Mazetto.<br />
Implantação - A implantação do confinamento<br />
comunitário tornava possível<br />
a busca por um padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
regional para aten<strong>de</strong>r ao mercado<br />
consumidor e aumentar o faturamento<br />
dos produtores, tornando a ativida<strong>de</strong><br />
compensadora. Consistia em um galpão<br />
com divisórias para que os animais fossem<br />
separados <strong>de</strong> acordo com as faixas<br />
etárias e os níveis <strong>de</strong> terminação.<br />
50 O Berro - nº 168
Cada produtor acompanhava o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
dos seus animais e era<br />
responsável pela sua i<strong>de</strong>ntificação no<br />
lote. Essa ação, por sua vez, serviu<br />
como estímulo para uma continuida<strong>de</strong><br />
nas ativida<strong>de</strong>s em conjunto <strong>de</strong> todos os<br />
produtores, sempre baseadas em <strong>de</strong>cisões<br />
coletivas. Um aspecto interessante<br />
era que o confinamento comunitário proporcionava<br />
um associativismo voluntário.<br />
A participação no confinamento não<br />
exigiu meios legais para que os produtores<br />
se mantivessem comprometidos.<br />
Houve um corporativismo espontâneo.<br />
Os produtores percebiam que se<br />
fortaleciam a cada conquista, agregando<br />
tamb<strong>é</strong>m novos integrantes e o respeito<br />
<strong>de</strong> empresários locais.<br />
Com os produtores organizando-se,<br />
surgiu a <strong>de</strong>manda pelo aumento da<br />
produção, mas poucos tinham conhecimento<br />
dos caminhos para atingir esse<br />
objetivo. Utilizavam práticas que haviam<br />
aprendido com seus antepassados, e<br />
que já não levavam mais a resultados<br />
satisfatórios. Ao <strong>mesmo</strong> tempo em que<br />
o "como aumentar o rebanho" preocupava,<br />
a busca pelo volume <strong>de</strong> produção<br />
motivava cada vez mais a utilizar novas<br />
t<strong>é</strong>cnicas. No final do primeiro semestre<br />
<strong>de</strong> 2006, foi estruturado o Projeto<br />
Desenvolvimento da Ovinocultura em<br />
Confinamento Comunitário na Região<br />
<strong>de</strong> Fartura e Piraju (SP). Nessa <strong>é</strong>poca<br />
a preocupação com a renda e a produtivida<strong>de</strong><br />
era tamanha que os resultados<br />
intermediários e finais esperados seriam<br />
mensurados por três fatores:<br />
- pelo aumento do faturamento;<br />
- pelo aumento do ganho diário <strong>de</strong> peso<br />
na recria;<br />
- e pelo aumento no número <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iros<br />
vendidos at<strong>é</strong> agosto <strong>de</strong> 2008.<br />
A carência <strong>de</strong> informações por parte<br />
dos produtores fez com que a maioria<br />
das ações realizadas ou em estruturação<br />
tivesse foco em inovação e<br />
tecnologia. A situação dos rebanhos e<br />
a falta <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> dos animais não<br />
permitiram que os ovinocultores fossem<br />
muito longe. Previa-se um árduo<br />
trabalho para a<strong>de</strong>quá-los ao mercado o<br />
mais rápido possível. Exercendo o seu<br />
papel <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r, Bortotti solicitou o apoio<br />
No início, surgiam animais <strong>de</strong> várias tendências.<br />
O Berro - nº 168<br />
51
coletiva. Essas capacitações eram<br />
necessárias, mas não suficientes para<br />
garantir o sucesso financeiro. Os custos<br />
do confinamento eram altos para os<br />
produtores (R$ 0,60 por animal/dia),<br />
<strong>mesmo</strong> quando rateados entre eles. O<br />
produtor sempre sentia a tentação <strong>de</strong><br />
voltar a trabalhar sozinho, como seus<br />
pais e avós haviam feito no passado.<br />
A ativida<strong>de</strong> corria novamente o risco<br />
<strong>de</strong> não <strong>de</strong>slanchar. Depois <strong>de</strong> todo o<br />
Cada dia <strong>é</strong> um novo aprendizado.<br />
esforço conjunto, a capacitação e a<br />
preparação para o mercado po<strong>de</strong>riam<br />
ter sido em vão.<br />
Parcerias: alicerce do<br />
empreen<strong>de</strong>dorismo<br />
O apoio das entida<strong>de</strong>s parceiras –<br />
Prefeitura <strong>de</strong> Fartura, Prefeitura <strong>de</strong> Piraju,<br />
Sindicato Rural <strong>de</strong> Fartura, Sindicato<br />
Rural <strong>de</strong> Piraju e Associação Paulista<br />
Custo <strong>de</strong> Prodição M<strong>é</strong>dio (R$/Animal/Dia)<br />
R$<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0<br />
0,60<br />
Individual -<br />
Parceiras<br />
Fonte: Projeto Cor<strong>de</strong>iro Paulista.<br />
0,41<br />
Coletivo +<br />
Parceiras<br />
0,19<br />
Economia<br />
Coletiva<br />
52 O Berro - nº 168
dos Criadores <strong>de</strong> Ovinos (Aspaco) – foi<br />
significativo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do projeto e<br />
<strong>de</strong>cisivo a partir <strong>de</strong> 2007. As ações para<br />
aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s dos produtores<br />
iam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a reforma da infraestrutura<br />
do confinamento e do recinto <strong>de</strong> exposições<br />
(para a divulgação do grupo) at<strong>é</strong> o<br />
custeio parcial do confinamento, já que<br />
apenas parte dos custos com a alimentação<br />
era rateada pelos produtores. O<br />
restante, como água, energia, alimentação<br />
e mão-<strong>de</strong>-obra do confinamento,<br />
era custeado por parcerias locais, como<br />
forma <strong>de</strong> apoio e incentivo.<br />
Apesar da realização do confinamento<br />
comunitário, a base do rebanho ainda<br />
era precária e a mão-<strong>de</strong>-obra, na sua<br />
maioria, <strong>de</strong>spreparada ou inexistente.<br />
Os ovinocultores <strong>de</strong>cepcionavam-se<br />
com a produtivida<strong>de</strong> baixa, provocada<br />
pela falta <strong>de</strong> conhecimento e pelo <strong>de</strong>spreparo.<br />
Era importante buscar novos<br />
parceiros que pu<strong>de</strong>ssem preparar trabalhadores<br />
para o setor.<br />
Como <strong>de</strong> costume, o pioneirismo foi<br />
novamente característica marcante do<br />
grupo. Com o apoio da Prefeitura <strong>de</strong><br />
Fartura, conseguiram construir um laboratório<br />
para exame andrológico e <strong>de</strong><br />
OPG (verminose) próximo ao confinamento<br />
comunitário, o que proporcionou<br />
economia na realização <strong>de</strong> exames<br />
vitais para a melhoria do rebanho.<br />
A luta para o grupo se manter na<br />
ativida<strong>de</strong> sempre foi árdua e constante,<br />
mas ainda era necessário mostrar para o<br />
mercado o resultado <strong>de</strong> tanto empenho<br />
e <strong>de</strong>dicação. Como Bortotti relembrou:<br />
“A ovinocultura na nossa região sempre<br />
existiu, mas, como em todos os <strong>lugar</strong>es,<br />
não havia uma regularida<strong>de</strong> em produção<br />
<strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iros e, principalmente,<br />
um manejo a<strong>de</strong>quado com o rebanho<br />
e união entre os produtores. Depois <strong>de</strong><br />
algumas reuniões entre os produtores<br />
do município e a Aspaco, formamos o<br />
Núcleo <strong>de</strong> Criadores <strong>de</strong> Ovinos <strong>de</strong> Fartura,<br />
com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possuirmos uma<br />
união maior e, com um apoio da prefeitura,<br />
nos foi cedido um barracão, no qual<br />
fizemos um confinamento comunitário<br />
para cor<strong>de</strong>iros. A partir daí, começamos<br />
a observar que o trabalho ia muito bem,<br />
mas apresentava uma dificulda<strong>de</strong>: a<br />
qualida<strong>de</strong> dos animais abatidos e o manejo<br />
do rebanho <strong>de</strong> nossos produtores”.<br />
Nesse período, a nova preocupação era<br />
como se promover para o mercado.<br />
A solução que originou<br />
novas oportunida<strong>de</strong>s<br />
Com o tempo, al<strong>é</strong>m do confinamento<br />
comunitário, e tamb<strong>é</strong>m fruto <strong>de</strong> parcerias,<br />
novas oportunida<strong>de</strong>s e novos<br />
nichos <strong>de</strong> mercado começaram a aparecer.<br />
A participação exitosa do grupo<br />
em concursos <strong>de</strong> avaliações <strong>de</strong> carcaça<br />
fez com que a região começasse a ficar<br />
conhecida. Bortotti reconheceu: “Após<br />
muitas reuniões com profissionais do<br />
Sebrae e SAI, elaboramos um projeto<br />
<strong>de</strong> longo prazo, com o doutor Francisco<br />
Manoel Nogueira Fernan<strong>de</strong>s, t<strong>é</strong>cnico<br />
da Aspaco, com o objetivo <strong>de</strong> melhorar<br />
as carcaças <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro, o manejo dos<br />
nossos rebanhos e <strong>de</strong> ajudar os produtores<br />
a se tecnificarem cada vez mais”.<br />
Como fruto da maior visibilida<strong>de</strong>,<br />
surgiram os leilões durante as feiras<br />
agropecuárias regionais, alavancando<br />
as negociações. Outras ações executadas<br />
foram a realização <strong>de</strong> eventos<br />
gastronômicos e leilões comerciais, que<br />
acabaram por <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma maior<br />
divulgação do projeto e estimular o consumo<br />
da carne ovina, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> promover<br />
o fortalecimento do grupo <strong>de</strong> produtores.<br />
O mercado já não assustava tanto os<br />
empresários rurais, pois a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
O Berro - nº 168<br />
53
do Sebrae/SP e, com isso, teve início<br />
a capacitação sobre aspectos básicos<br />
<strong>de</strong> sanida<strong>de</strong> e nutrição. Foi um período<br />
difícil, pois alguns produtores não visualizavam<br />
uma saída para as armadilhas<br />
da ativida<strong>de</strong> rural, já que não entendiam<br />
o porquê <strong>de</strong> o mercado não aceitar os<br />
seus produtos.<br />
Muita atenção à alimentação.<br />
Novida<strong>de</strong>s - O grau <strong>de</strong> participação<br />
do grupo nas capacitações foi surpreen<strong>de</strong>nte.<br />
Aproveitando o entusiasmo,<br />
outros itens foram agregados ao curso,<br />
como o aprimoramento dos processos<br />
<strong>de</strong>ntro da porteira e o domínio <strong>de</strong> novas<br />
tecnologias produtivas, pois eram tão<br />
importantes quanto as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> ovinocultura.<br />
De fato, o grupo tinha muito<br />
que melhorar, por<strong>é</strong>m os caminhos apareciam<br />
mais claros, porque agora todos<br />
conseguiam perceber on<strong>de</strong> estavam os<br />
seus pontos fracos.<br />
Foi durante uma das capacitações<br />
oferecidas pelo Sebrae que o consultor<br />
Francisco Manoel Nogueira Fernan<strong>de</strong>s<br />
esclareceu sobre as características <strong>de</strong><br />
adaptabilida<strong>de</strong> e rusticida<strong>de</strong> do animal<br />
ao clima tropical que po<strong>de</strong>riam ser convertidas<br />
em lucrativida<strong>de</strong>, caso fossem<br />
bem exploradas.<br />
Mostrou que o mercado <strong>de</strong> carne<br />
ovina <strong>é</strong> crescente tanto no Brasil como<br />
no exterior e que a tendência <strong>é</strong> que aumente<br />
o seu consumo per capita anual<br />
(<strong>de</strong> 657 gramas, em 2005, para 810<br />
gramas, em 2006). Assim, os efetivos <strong>de</strong><br />
ovinos precisariam ser aumentados rapidamente<br />
para diminuir as importações<br />
e cobrir as ociosida<strong>de</strong>s existentes nos<br />
abatedouros e frigoríficos. De acordo<br />
com o especialista, existia <strong>de</strong>manda no<br />
País para todo tipo <strong>de</strong> mercado: frigoríficos,<br />
abatedouros e leilões <strong>de</strong> elite.<br />
A<strong>de</strong>quação - A iniciativa sofreu durante<br />
anos para melhorar a qualida<strong>de</strong><br />
dos animais, já que os envolvidos <strong>de</strong>sconheciam<br />
a tecnologia apropriada para<br />
tal realização.<br />
Não era simplesmente juntar os<br />
animais, tratar <strong>de</strong> qualquer forma e<br />
ven<strong>de</strong>r. As experiências mostravam que<br />
as racionalizações <strong>de</strong> custos e <strong>de</strong> produção<br />
continuariam a ser necessárias,<br />
por<strong>é</strong>m não mais <strong>de</strong> forma individual e<br />
sim coletiva.<br />
54 O Berro - nº 168
O Berro - nº 168<br />
55
ASPACO com nova Diretoria<br />
Após a aprovação do balanço e resultados<br />
econômicos, os sócios presentes<br />
votaram por aclamação na única<br />
chapa inscrita na secretaria da associação,<br />
sob protocolo em 05/11/2012.<br />
Assim, a nova Diretoria da ASPACO<br />
conta com: Bruno Garcia Moreira (Presi<strong>de</strong>nte),<br />
Alexandre Pinto C<strong>é</strong>sar (1° Vice<br />
Presi<strong>de</strong>nte), Fábio Cotrin Rodrigues<br />
(2° Vice Presi<strong>de</strong>nte), Bolivar Figueiredo<br />
Silva Filho (1° Secretário), Giselle<br />
Par<strong>de</strong>lli (2° Secretário), Francisco<br />
Panorama<br />
Manoel N. Fernan<strong>de</strong>s (1° Tesoureiro),<br />
Carmen Cecília Sicherle (2° Tesoureiro),<br />
Márcio Armando G. <strong>de</strong> Oliveira (Diretor<br />
T<strong>é</strong>cnico), Renato Mantovani (Diretor<br />
<strong>de</strong> Eventos) e Jos<strong>é</strong> Maurício L. V.<br />
Guimarães (Diretor <strong>de</strong> Núcleos Regionais).<br />
Arnaldo dos Santos Vieira Filho,<br />
Andr<strong>é</strong> <strong>de</strong> Camargo Assumpção e Claudia<br />
Boucinhas são os membros efetivos<br />
do Conselho Fiscal. Seus suplentes<br />
são D<strong>é</strong>cio Ribeiro dos Santos, Jos<strong>é</strong><br />
<strong>de</strong> Agrela e Thiago C<strong>é</strong>sar Ribeiro.<br />
Piauí terá mais seis unida<strong>de</strong>s na Rota do Cor<strong>de</strong>iro<br />
As instalações serão construídas em Jacobina,<br />
Paulistana e Dom Inocêncio. Nos<br />
dois últimos anos, meio milhão <strong>de</strong> reais foram<br />
investidos no estado. A ovinocaprinocultura<br />
ganha novo incentivo com ações da Rota<br />
do Cor<strong>de</strong>iro. Seis unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transferência<br />
<strong>de</strong> tecnologia <strong>de</strong> ovino e caprino serão<br />
construídas nessas regiões. Segundo Octávio<br />
Rossi, pesquisador da Embrapa, o programa<br />
Rota do Cor<strong>de</strong>iro <strong>é</strong> um projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da caprinocultura e ovinocultura.<br />
No Piauí, trabalha-se a capacitação <strong>de</strong><br />
t<strong>é</strong>cnicos e produtores, al<strong>é</strong>m todo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da ca<strong>de</strong>ia produtiva, referente à<br />
parte <strong>de</strong> comercialização e beneficiamento<br />
da carne <strong>de</strong> caprinos e ovinos.<br />
“Uma parte da capacitação <strong>é</strong> feita na Embrapa,<br />
são os t<strong>é</strong>cnicos que vão a campo para<br />
terem contato direto com os produtores. A<br />
segunda parte e feita entre esses t<strong>é</strong>cnicos e<br />
produtores já <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s”,<br />
explica. Diz Romualdo Ramos, analista da<br />
Co<strong>de</strong>vasf, que a Companhia, “al<strong>é</strong>m da construção<br />
<strong>de</strong> seis unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong><br />
tecnologia <strong>de</strong> caprinos e ovinos, irá montar<br />
tamb<strong>é</strong>m uma central <strong>de</strong> terminação, que beneficiará<br />
os municípios <strong>de</strong> Jacobina, Paulistana<br />
e Dom Inocêncio”.<br />
REBANHOS: RAFA NETO –FRC & CACIMBINHA DA RAFA<br />
Gen<strong>é</strong>tica <strong>de</strong> Peso e Campeões<br />
Carpa Te Imperator<br />
Gran<strong>de</strong> Campeão<br />
Sertânia/PE 2012<br />
Gran<strong>de</strong> Campeão<br />
Parnamirim/PE 2012<br />
Jonas 003 (Cigano)<br />
Campeão Nacional Bo<strong>de</strong> Jovem<br />
Sertânia/PE 2012<br />
Gran<strong>de</strong> Campeão<br />
Dormentes/PE 2012<br />
Gran<strong>de</strong> Campeão Santa Maria<br />
da Boa Vista/PE 2012<br />
Arcôncio Lins <strong>de</strong> A. Filho / Arcôncio Lins <strong>de</strong> A. Neto - Sertânia-Pe<br />
arconcioneto@gmail.com<br />
(87) 9105-4343 - 3841-1162<br />
56 O Berro - nº 168
A busca <strong>de</strong> carcaças homogêneas<br />
aumenta a lucrativida<strong>de</strong>.<br />
Já que todos os animais preenchiam<br />
o <strong>mesmo</strong> espaço (confinamento) e a<br />
chance <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> doenças nesse<br />
tipo <strong>de</strong> manejo aumentaria, buscou-<br />
-se então a qualida<strong>de</strong> do manejo e dos<br />
animais.<br />
Mercado - Outra oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectada<br />
a partir <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007 estava<br />
relacionada com o mercado. Os produtores<br />
não tinham informações suficientes<br />
para enten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas existentes<br />
e assim po<strong>de</strong>r i<strong>de</strong>ntificar os melhores<br />
negócios regionais. Não sabiam ainda<br />
em quais nichos po<strong>de</strong>riam atuar.<br />
Para Willen Bortotti e <strong>de</strong>mais produtores,<br />
a falta <strong>de</strong> padronização da carcaça<br />
ovina dificultava a comercialização.<br />
Dessa forma, a utilização <strong>de</strong> uma gestão<br />
competitiva era necessária para atingir<br />
o mercado consumidor, os frigoríficos.<br />
Tamb<strong>é</strong>m era fundamental que se reunissem<br />
com freqüência para controlar a realização<br />
do projeto e <strong>de</strong>finir as mudanças<br />
necessárias em <strong>de</strong>corrência do mercado.<br />
Entusiasmado, o grupo dos 17 produtores<br />
começou a utilizar tecnologias <strong>de</strong><br />
produção e t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> gestão em seus<br />
criatórios. Ficou claro que 2007 seria<br />
mais um ano <strong>de</strong> transformações.<br />
Meses <strong>de</strong>pois, o grupo já tinha alcançado<br />
gran<strong>de</strong> evolução em termos<br />
qualitativos quando comparado ao início<br />
da ativida<strong>de</strong>.<br />
O salto na qualida<strong>de</strong> era notável,<br />
principalmente quando se comparava<br />
a porcentagem <strong>de</strong> animais muito ruins<br />
e bons <strong>de</strong> 1999 (27% e 28%, respectivamente)<br />
com os valores <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />
2007 (3% e 55%, respectivamente). A<br />
cada dia que passava o produtor sentia<br />
no bolso o resultado positivo da mudança<br />
em suas proprieda<strong>de</strong>s e no manejo dos<br />
seus animais. Ainda assim, a ativida<strong>de</strong><br />
continuava correndo riscos <strong>de</strong> não ser<br />
compensadora, porque o custo <strong>de</strong> produção<br />
era alto <strong>de</strong>mais.<br />
A única saída para se manterem<br />
competitivos e permanecerem no ramo<br />
era se capacitarem cada vez mais em<br />
gestão <strong>de</strong> negócios e buscarem novos<br />
produtores que unissem forças e<br />
se comprometessem a agir <strong>de</strong> forma<br />
%<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Evolução Qualitativa dos Rebanhos<br />
55<br />
28<br />
29 27 27<br />
14<br />
2<br />
9<br />
6<br />
3<br />
Muito bom Bom Regular Ruim Muito ruim<br />
1999<br />
2007<br />
O Berro - nº 168<br />
57
seus animais havia melhorado. Nesse<br />
momento, os produtores enten<strong>de</strong>ram<br />
que a busca pela quantida<strong>de</strong> era essencial<br />
para abastecer o mercado regional.<br />
Por essa razão, os leilões comerciais<br />
se tornaram estrat<strong>é</strong>gicos, incentivando<br />
a entrada <strong>de</strong> mais produtores rurais<br />
na ativida<strong>de</strong> e consolidando uma nova<br />
opção <strong>de</strong> mercado.<br />
De Fartura para o<br />
estado <strong>de</strong> São Paulo<br />
Com o apoio do Sebrae e <strong>de</strong> parceiros,<br />
o confinamento comunitário <strong>de</strong><br />
Fartura foi o primeiro a ser implantado<br />
em todo o Estado <strong>de</strong> São Paulo e serviu<br />
como referência para multiplicar tecnologias.<br />
Criadores da região levaram a<br />
iniciativa para outros grupos <strong>de</strong> produtores<br />
em diferentes municípios.<br />
Novos confinamentos comunitários<br />
foram formados no Estado <strong>de</strong> São<br />
Paulo. A competitivida<strong>de</strong> do grupo <strong>de</strong><br />
produtores aumentou. As parcerias locais<br />
se fortaleceram e novos parceiros<br />
se aproximaram.<br />
Animais <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> na região.<br />
O pensar em conjunto e o associativismo<br />
foram a razão do seu sucesso. Os<br />
treinamentos, as consultorias tecnológicas<br />
e a participação em feiras e eventos<br />
tamb<strong>é</strong>m foram ressaltados pelo grupo.<br />
Realizaram-se novas ações com foco<br />
em corporativismo, gestão, mercado e<br />
tecnologia. Com elas, houve aumento<br />
da produtivida<strong>de</strong> por meio do melhoramento<br />
gen<strong>é</strong>tico. Mais produtores da<br />
região se interessaram pelo projeto. O<br />
faturamento anual cresceu em <strong>de</strong>corrência<br />
da exploração <strong>de</strong> novos mercados e<br />
da melhoria da qualida<strong>de</strong> do rebanho.<br />
Com o apoio do Sebrae fomentou-se a<br />
presença dos ovinocultores da região<br />
em feiras agropecuárias para divulgação<br />
do projeto e dos resultados atingidos.<br />
Manter os produtores unidos, por<strong>é</strong>m,<br />
principalmente com a entrada <strong>de</strong> novos<br />
investidores no mercado, continuava<br />
sendo um <strong>de</strong>safio futuro para o sucesso<br />
do empreendimento.<br />
Todas essas conquistas ainda não<br />
bastavam e o projeto não po<strong>de</strong>ria parar<br />
por aqui. Com a experiência real e<br />
in<strong>é</strong>dita no Estado adquirida a partir do<br />
58 O Berro - nº 168
Fêmeas já em programação para o sistema <strong>de</strong> produção.<br />
ensinamento dos conceitos e t<strong>é</strong>cnicas<br />
empregados no confinamento comunitário,<br />
Willen Bortotti ressaltou: “Temos<br />
certeza <strong>de</strong> que este projeto será inovador<br />
na ovinocultura regional e, sem<br />
dúvida, muitas outras vitórias serão<br />
conquistadas”.<br />
A corrida mercadológica, sempre presente<br />
na estrat<strong>é</strong>gia do grupo, apontou<br />
para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova pesquisa<br />
<strong>de</strong> mercado regional com o apoio<br />
<strong>de</strong> parceiros, que produzissem um diagnóstico<br />
capaz <strong>de</strong> mensurar a evolução<br />
dos produtores <strong>de</strong>ntro do projeto. Em<br />
seguida, a meta seria realizar "bench-<br />
-marking" em outros confinamentos<br />
comunitários, reuniões estrat<strong>é</strong>gicas para<br />
arregimentar novos produtores e implantar<br />
mais confinamentos comunitários na<br />
região, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> realizar contato com<br />
novos frigoríficos e abatedouros, já que<br />
o aumento no consumo <strong>de</strong> carne ovina<br />
era previsto para os próximos anos e a<br />
oferta ainda era insuficiente para aten<strong>de</strong>r<br />
à <strong>de</strong>manda. Depois <strong>de</strong> superar esses<br />
novos <strong>de</strong>safios, certamente outros<br />
surgiriam. (Nota: "Benchmarking" <strong>é</strong> o<br />
"processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o que comparar;<br />
<strong>de</strong>scobrir qual <strong>é</strong> o padrão <strong>de</strong> excelência;<br />
<strong>de</strong>terminar que m<strong>é</strong>todos ou processos<br />
produzem resultados e <strong>de</strong>cidir fazer as<br />
mudanças ou melhorias da própria maneira<br />
<strong>de</strong> fazer negócios, a fim <strong>de</strong> igualar<br />
ou suplantar o padrão <strong>de</strong> referência <strong>de</strong><br />
mercado, criando um novo padrão <strong>de</strong><br />
excelência".<br />
Questões para discussão<br />
- Compare os riscos e vantagens<br />
entre assumir um empreendimento<br />
sozinho ou em socieda<strong>de</strong>, como os 17<br />
produtores <strong>de</strong> Fartura fizeram.<br />
- Caso você tivesse que montar uma<br />
capacitação em novas t<strong>é</strong>cnicas com<br />
um grupo <strong>de</strong> produtores da sua região,<br />
quais serão as preocupações que você<br />
teria para garantir um bom resultado?<br />
- Na sua opinião, que outras ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> criação po<strong>de</strong>riam se beneficiar<br />
do confinamento comum da produção<br />
<strong>de</strong> vários proprietários?<br />
Leandro Ranolfi Girardi - Coleção<br />
Histórias <strong>de</strong> Sucesso - Sebrae,<br />
Brasília (DF), 2007.<br />
O Berro - nº 168<br />
59
Mercado<br />
Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> em Minas Gerais<br />
Fonte - Dados do G1.<br />
A região da Mantiqueira já produz bastante leite, mas po<strong>de</strong> crescer muito mais,<br />
transformando-se numa “capital do leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s”, um dia.<br />
Leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> muito rico em nutrientes. (foto: Ancoc, RN).<br />
Dalny Araújo Sucasas <strong>é</strong> um pioneiro<br />
na produção <strong>de</strong> leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s da raça<br />
Lacaune, no município <strong>de</strong> Soleda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Minas (MG), proprietário da Cabanha Vida,<br />
a 417 km <strong>de</strong> Belo Horizonte, na região da<br />
Mantiqueira. O leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s <strong>é</strong> bastante<br />
explorado no mundo e sua produção vem<br />
crescendo no Brasil. Al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> ser muito<br />
rico em nutrientes, não provoca alergias.<br />
Al<strong>é</strong>m disso, as <strong>ovelha</strong>s po<strong>de</strong>m ser criadas<br />
em pequenos espaços, sendo muito mais<br />
favorável que a criação <strong>de</strong> vacas.<br />
Tudo começou em 2009 e o crescimento<br />
foi vertiginoso. Hoje Dalny Araújo<br />
mant<strong>é</strong>m 700 cabeças, utilizando 11 reprodutores.<br />
Os cor<strong>de</strong>iros são terminados em<br />
confinamento e vendidos para frigoríficos.<br />
A produção segue a Lei estadual n.<br />
19.583/2011, chamada "Leite Legal", que<br />
regulamenta a manipulação e beneficiamento<br />
do leite <strong>de</strong> <strong>cabra</strong>, <strong>ovelha</strong> e seus<br />
<strong>de</strong>rivados. A orientação <strong>é</strong> da Accomig/<br />
Caprileite.<br />
Manejo - Tudo <strong>é</strong> muito simples: as<br />
<strong>ovelha</strong>s prenhes ficam no pasto, com as<br />
vazias, geralmente at<strong>é</strong> os quatro meses <strong>de</strong><br />
gestação. A proteção <strong>é</strong> feita por cães da<br />
raça Maremano. As <strong>ovelha</strong>s adultas restantes<br />
vivem confinadas, somente saindo<br />
para a or<strong>de</strong>nha mecânica.<br />
Em termos <strong>de</strong> nutrição, cada <strong>ovelha</strong><br />
recebe 4 kg <strong>de</strong> alimentos por dia. Se<br />
comparado com a vaca - que come 40<br />
kg/dia - <strong>é</strong> possível manter 10 <strong>ovelha</strong>s no<br />
<strong>lugar</strong> <strong>de</strong> cada vaca. Dalny conta que "no<br />
confinamento acontece a mesma coisa:<br />
on<strong>de</strong> caberia uma única vaca <strong>é</strong> possível<br />
colocar 10 <strong>ovelha</strong>s". Assim, em termos <strong>de</strong><br />
espaço, a criação <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s <strong>é</strong> bastante<br />
viável.<br />
Or<strong>de</strong>nha - Normalmente, uma <strong>ovelha</strong><br />
produz <strong>de</strong> 0,3 a 3,0 litros/dia no correr da<br />
lactação. Não há uma referência exata,<br />
pois cada região precisa ter seu próprio<br />
manejo. Somente com a disseminação<br />
60 O Berro - nº 168
A criação vai aumentar muito em<br />
Minas Gerais. (foto: cienciadoleite)<br />
<strong>de</strong> produtores por todos os biomas será<br />
possível obter e divulgar padrões <strong>de</strong><br />
produção. Na fazenda, Dalny pesa o leite<br />
<strong>de</strong> cada <strong>ovelha</strong>, <strong>de</strong> 15 em 15 dias. Vai<br />
montando, assim, um Banco <strong>de</strong> Dados<br />
para seu rebanho. Preten<strong>de</strong> chegar a uma<br />
m<strong>é</strong>dia diária <strong>de</strong> 2,0 kg.<br />
Na or<strong>de</strong>nha mecânica todos os cuidados<br />
são observados. As tetas são higienizadas<br />
antes e <strong>de</strong>pois da or<strong>de</strong>nha. A<br />
produção e o escoamento do leite <strong>é</strong> todo<br />
realizado <strong>de</strong>ntro das normas t<strong>é</strong>cnicas.<br />
Viabilida<strong>de</strong> - Dalny afirma que o leite<br />
<strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> já <strong>é</strong> a principal ativida<strong>de</strong> da<br />
fazenda. Está produzindo 200 litros por<br />
dia que são beneficiados em laticínio próprio,<br />
<strong>de</strong>ntro da fazenda. Segundo Dalny,<br />
o laticínio tem capacida<strong>de</strong> para processar<br />
at<strong>é</strong> 10.000 litros/dia. O problema <strong>é</strong> colocar<br />
mais gente para produzir leite e enviar<br />
para o laticínio.<br />
O seu queijeiro, Cosme Antônio Azarias,<br />
conta que "trabalhar com leite <strong>de</strong><br />
Leite saudável, <strong>de</strong> uso milenar pela<br />
civilização. (foto: br.mulher.yahoo).<br />
Nova alternativa <strong>de</strong> renda na região da<br />
Mantiqueira. (foto: portaltudoaqui).<br />
<strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> muito diferente, com rendimento<br />
surpreen<strong>de</strong>nte. A massa tem que ser<br />
trabalhada com muito carinho, com maior<br />
concentração, para que o queijo fique <strong>de</strong>ntro<br />
do esperado".<br />
São produzidos 6 tipos <strong>de</strong> queijo e tamb<strong>é</strong>m<br />
iogurte. São produtos ricos em cálcio<br />
e vitamina C, com proteínas <strong>de</strong> alto valor<br />
biológico e minerais como potássio, manganês,<br />
cobre e zinco. Por não ter problemas<br />
com lactose, tanto o leite como os produtos<br />
lácteos po<strong>de</strong>m atingir um mercado muito<br />
amplo.<br />
Dalny conta que "o mercado para leite <strong>de</strong><br />
<strong>ovelha</strong> ainda <strong>é</strong> muito pequeno, pois o povo<br />
está acostumado com leite <strong>de</strong> vaca, <strong>de</strong>pois<br />
vem o leite <strong>de</strong> <strong>cabra</strong> e, agora, tamb<strong>é</strong>m o<br />
leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>". Tudo tem seu começo e as<br />
<strong>ovelha</strong>s já produzem leite em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong>s pioneiras no Brasil.<br />
No momento, Dalny vem <strong>de</strong>senvolvendo<br />
parceria com a Prefeitura <strong>de</strong> Soleda<strong>de</strong><br />
(MG), i<strong>de</strong>ntificando novos produtores,<br />
para - um dia - talvez chegar a ser conhecida<br />
como "capital do leite <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s no<br />
Brasil". A Accomig/Caprileite estabeleceu<br />
parceria com a Emater/MG para ampliar<br />
a ativida<strong>de</strong> na Serra da Mantiqueira. A<br />
coor<strong>de</strong>nadora estadual <strong>de</strong> pecuária da<br />
Emater/MG, Cinthya Leite Madureira <strong>de</strong><br />
Oliveira, reconhece que o mercado <strong>de</strong> leite<br />
<strong>de</strong> <strong>ovelha</strong> ainda <strong>é</strong> muito novo. "Agora os<br />
produtores estão em fase <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação à<br />
nova lei, mas para que o negócio cresça, <strong>é</strong><br />
preciso produzir muito leite para o viabilizar<br />
o laticínio", explica.<br />
O Berro - nº 168<br />
61
Panorama<br />
Expansão da raça Texel<br />
pela Am<strong>é</strong>rica do Sul<br />
Depois <strong>de</strong> ter conquistado o Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Sul - on<strong>de</strong> já há 440 cabanhas<br />
- somando mais <strong>de</strong> 300 mil animais,<br />
o Texel conquista o Brasil, chegando<br />
a 500 mil animais e, agora, preten<strong>de</strong><br />
ganhar o mercado da Am<strong>é</strong>rica do<br />
Sul, principalmente Uruguai, Paraguai,<br />
Argentina, Chile e Bolívia .<br />
O Texel brasileiro quer conquistar a<br />
Am<strong>é</strong>rica do Sul.<br />
O assunto foi discutido no 15º Mercotexel,<br />
o maior leilão <strong>de</strong> ovinos Texel<br />
do Mercosul, realizado no final <strong>de</strong><br />
semana, em Santana do Livramento.<br />
“Acreditamos que o mercado gaúcho e<br />
brasileiro está consolidado”, comentou<br />
um dos pioneiros da raça no Brasil, David<br />
Fontoura Martins, “e agora vamos<br />
partir para o mercado sul-americano”.<br />
Os criadores vão procurar o apoio da<br />
Agência Brasileira <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong><br />
Exportações e Investimentos (Apex-<br />
-Brasil), entida<strong>de</strong> que vem tendo muito<br />
sucesso em seus objetivos e já possui<br />
programas <strong>de</strong> apoio relacionados a<br />
animais, como os das raças Hereford-<br />
-Braford. Um passo paralelo será constituir<br />
uma entida<strong>de</strong> sul-americana da<br />
raça, talvez a Associação Sul-Americana<br />
<strong>de</strong> Criadores <strong>de</strong> Texel. Outro, conseguir<br />
o interesse da Secretaria Estadual<br />
da Agricultura e do Minist<strong>é</strong>rio da<br />
Agricultura e Pecuária para obter a intervenção<br />
do Itamarati e <strong>de</strong>rrubar as<br />
barreiras que alguns países, o Uruguai,<br />
por exemplo, colocam para a exportação<br />
<strong>de</strong> animais em p<strong>é</strong>.<br />
Goiás quer estimular a criação<br />
É evi<strong>de</strong>nte a falta <strong>de</strong> organização do<br />
setor, que não conta com associação <strong>de</strong><br />
criadores. A Fe<strong>de</strong>ração Goiana da Agricultura<br />
e Pecuária (Faeg), por exemplo,<br />
não possui registros <strong>de</strong> abate no Estado.<br />
“Já houve tentativas <strong>de</strong> organizar<br />
uma ca<strong>de</strong>ia profissional, com terceirização<br />
<strong>de</strong> frigorífico próprio, mas não<br />
<strong>de</strong>u certo”, afirma a assessora t<strong>é</strong>cnica<br />
da Faeg, Christiane <strong>de</strong> Paula Rossi,<br />
que não per<strong>de</strong> o otimismo. “Quem está<br />
se profissionalizando, com investimento<br />
em gen<strong>é</strong>tica e sanida<strong>de</strong>, vai <strong>de</strong>slanchar”,<br />
prevê. Agora o MAPA criou uma<br />
planta <strong>de</strong> frigorífico que po<strong>de</strong> abater<br />
ovinos, caprinos, suínos e at<strong>é</strong> bovinos,<br />
tudo em conformida<strong>de</strong> com as legislações<br />
sanitárias e ambientais. O mo<strong>de</strong>lo<br />
está à disposição <strong>de</strong> criadores e associações.<br />
Segundo Andr<strong>é</strong> Rocha, a principal<br />
causa da falta <strong>de</strong> estímulo à criação <strong>é</strong> o<br />
pouco conhecimento, sobretudo em relação<br />
à qualida<strong>de</strong> da carne. “É uma questão<br />
<strong>de</strong> cultura, pois a carne do cor<strong>de</strong>iro<br />
<strong>é</strong> saudável, sem gordura trans e sem o<br />
cheiro <strong>de</strong>sagradável atribuído ao animal<br />
<strong>de</strong> forma quase que lendária. De fato, o<br />
carneiro velho po<strong>de</strong> ter cheiro estranho,<br />
mas não <strong>é</strong> produto comercial”, informa.<br />
62 O Berro - nº 168
Manejo<br />
Alternativa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável para a<br />
caprino-ovinocultura<br />
no Semiárido<br />
Texto base: Onaldo Souza<br />
Uma visão estrat<strong>é</strong>gica abrangente sobre como po<strong>de</strong>ria ser<br />
lucrativa a produção <strong>de</strong> caprinos e ovinos na região.<br />
Fixação do homem - O Nor<strong>de</strong>ste<br />
representa menos <strong>de</strong> 20% da área<br />
territorial brasileira e concentra aproximadamente<br />
91% do rebanho caprino<br />
nacional, representando cerca <strong>de</strong> 1%<br />
do total mundial. A caprinocultura, salvo<br />
algumas exceções, <strong>é</strong> geralmente<br />
<strong>de</strong>senvolvida com baixo nível tecnológico<br />
e em sistema extensivo, não oferecendo<br />
competitivida<strong>de</strong> no mercado<br />
globalizado.<br />
Sabe-se, entretanto, que a exploração<br />
<strong>de</strong> pequenos ruminantes no Semiárido<br />
tem sido motivo <strong>de</strong> fixação do<br />
homem a terra, trazendo paz social no<br />
campo, gran<strong>de</strong> contribuição à região.<br />
Ela gera empregos, ocupa farta mão-<br />
-<strong>de</strong>-obra local, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> trazer renda<br />
para a agricultura familiar.<br />
Obstáculos - As regiões do Semiárido<br />
nor<strong>de</strong>stino têm como principal<br />
obstáculo as condições adversas do<br />
meio ambiente, que limita a ativida<strong>de</strong><br />
econômica agropecuária. As forragens<br />
são escassas em <strong>é</strong>pocas secas e isto<br />
está aliado ao baixo padrão gen<strong>é</strong>tico,<br />
ao manejo ina<strong>de</strong>quado e à falta <strong>de</strong><br />
assistência t<strong>é</strong>cnica. Assim, o produto<br />
final apresenta um baixo rendimento <strong>de</strong><br />
carcaça dos animais que sobrevivem<br />
ao meio, o que leva ao <strong>de</strong>scr<strong>é</strong>dito e<br />
falta <strong>de</strong> estímulo à exploração rural.<br />
Criação extensiva - A maior parte<br />
da exploração ocorre em sistemas<br />
extensivos, on<strong>de</strong> os animais são soltos<br />
na Caatinga, sem orientação t<strong>é</strong>cnica<br />
e condições i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> manejo. Os<br />
animais ficam suscetíveis não só ao<br />
ambiente adverso, como tamb<strong>é</strong>m à infestação<br />
<strong>de</strong> endoparasitas e ectoparasitas,<br />
que causam enormes prejuízos. A<br />
realida<strong>de</strong> ocasiona perdas reais e limita<br />
a oferta <strong>de</strong> produtos nobres como a<br />
carne, pele e leite. Uma boa produção<br />
64 O Berro - nº 168
As <strong>ovelha</strong>s confun<strong>de</strong>m-se com o ambiente semiárido<br />
po<strong>de</strong>ria minimizar a situação caótica<br />
por que passa a maioria dos habitantes<br />
<strong>de</strong>stas regiões<br />
Baixo rendimento - A pecuária<br />
tradicional no Semiárido, neste contexto,<br />
<strong>é</strong> principalmente a exploração<br />
<strong>de</strong> pequenos ruminantes, cultura <strong>de</strong><br />
subsistência que fornece proteínas <strong>de</strong><br />
excelente qualida<strong>de</strong>, leite, pele, etc. O<br />
rendimento <strong>de</strong> carcaça, por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> muito<br />
baixo, principalmente na Caatinga nativa,<br />
que não chega a 3,0 kg <strong>de</strong> carne/<br />
ha. Mesmo assim, esta produção <strong>é</strong><br />
responsável por aproximadamente 40%<br />
da proteína animal consumida pela<br />
população rural. Sabe-se, por outro<br />
lado, que os pastos <strong>de</strong>vem compor a<br />
alimentação básica dos ruminantes,<br />
por<strong>é</strong>m, a produção <strong>de</strong> alimentos volumosos<br />
na <strong>é</strong>poca da seca <strong>é</strong> escassa.<br />
Programas com alimentação alternativa<br />
são indispensáveis para enfrentar este<br />
período, quando os animais per<strong>de</strong>m<br />
aproximadamente 30% <strong>de</strong> seu peso<br />
corporal.<br />
Cana-<strong>de</strong>-açúcar - A exploração<br />
da cultura da cana-<strong>de</strong>-açúcar no país<br />
produz em torno <strong>de</strong> 100.000.000 <strong>de</strong><br />
toneladas <strong>de</strong> bagaço <strong>de</strong> cana, que po<strong>de</strong>ria<br />
gerar alimentação para pequenos<br />
ruminantes e produzir 20.000.000 <strong>de</strong><br />
toneladas <strong>de</strong> carcaça. O resultado seria<br />
produtos <strong>de</strong> origem animal superiores,<br />
que po<strong>de</strong>m suprir parte da carência <strong>de</strong><br />
proteínas da população.<br />
A cana-<strong>de</strong>-açúcar <strong>é</strong> a cultura <strong>de</strong><br />
maior importância do estado <strong>de</strong> Alagoas,<br />
ocupando uma área <strong>de</strong> 420.000<br />
hectares, com uma produção <strong>de</strong><br />
25.000.000 <strong>de</strong> toneladas. Deste total,<br />
<strong>de</strong> 30 a 33% se transforma em bagaço<br />
que po<strong>de</strong> ser aproveitado pelos<br />
ruminantes. Os resíduos originados<br />
da cana-<strong>de</strong>-açúcar, após seu esmagamento<br />
nas moendas, são produzidos<br />
geralmente no período <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong><br />
forragem em <strong>de</strong>terminadas regiões, por<br />
conta das secas cíclicas e periódicas.<br />
Assim, esta enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
biomassa das usinas, com o bagaço<br />
sendo o principal resíduo fibroso, serve<br />
O Berro - nº 168<br />
65
como alimento para o rebanho, se for<br />
<strong>de</strong>vidamente tratado e administrado.<br />
Al<strong>é</strong>m dos resíduos da cana-<strong>de</strong>-<br />
-açúcar, existem outros que sobram<br />
em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s no Estado <strong>de</strong><br />
Alagoas e outras regiões brasileiras,<br />
como por exemplo, palhas <strong>de</strong> feijão,<br />
<strong>de</strong> milho, <strong>de</strong> arroz, etc.. Estes outros<br />
resíduos po<strong>de</strong>m, perfeitamente, servir<br />
como alternativa alimentar para a<br />
caprino-ovinocultura. Lembrando que<br />
a maioria <strong>de</strong>stes alimentos <strong>é</strong> produzida<br />
em <strong>é</strong>pocas <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> volumosos,<br />
durante a seca.<br />
Questão alimentar - Foi observado<br />
e comprovado em pesquisas, que o rebanho<br />
nativo do Nor<strong>de</strong>ste, quando criado<br />
em condições <strong>de</strong> manejo a<strong>de</strong>quado,<br />
apresenta <strong>de</strong>sempenho zoot<strong>é</strong>cnico<br />
acima da m<strong>é</strong>dia do rebanho regional.<br />
Um dos maiores entraves ao <strong>de</strong>sempenho<br />
zoot<strong>é</strong>cnico, por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> a<br />
escassez <strong>de</strong> alimento na seca, que<br />
po<strong>de</strong> ser contornada com a alimentação<br />
alternativa: tratamento químico <strong>de</strong><br />
resíduos lignocelulósicos com ureia,<br />
para uso na nutrição dos ruminantes.<br />
Enfim, o potencial gen<strong>é</strong>tico do rebanho<br />
<strong>de</strong> caprinos e ovinos <strong>é</strong> positivo quando<br />
se adotam m<strong>é</strong>todos a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong><br />
manejo, criação, sanida<strong>de</strong> e nutrição,<br />
principalmente. O uso <strong>de</strong> materiais lignocelulósicos<br />
tratados a<strong>de</strong>quadamente<br />
incrementa a produtivida<strong>de</strong> dos rebanhos<br />
nor<strong>de</strong>stinos, evitando <strong>de</strong>sta forma<br />
a precarieda<strong>de</strong> habitual no manejo.<br />
Durante muitos anos, entida<strong>de</strong>s governamentais<br />
e não governamentais, a<br />
exemplo da ONU, buscam soluções sistemáticas<br />
quanto ao aproveitamento e<br />
otimização dos resíduos agropecuários<br />
na alimentação animal. Na verda<strong>de</strong>,<br />
Esses materiais, na prática, quando<br />
a<strong>de</strong>quadamente tratados e tecnicamente<br />
orientados, po<strong>de</strong>m representar um<br />
enorme benefício à população mundial.<br />
Tecnologia - O <strong>de</strong>safio que compete<br />
à pesquisa e a difusão <strong>de</strong> tecnologia<br />
<strong>é</strong> encontrar soluções a<strong>de</strong>quadas e<br />
viáveis para estes problemas recorrentes<br />
e que se agravam a cada ano.<br />
As soluções, então, <strong>de</strong>vem assegurar<br />
O ambiente exige animais <strong>de</strong> alta rusticida<strong>de</strong>.<br />
66 O Berro - nº 168
O Berro - nº 168<br />
67
As miunças estão lá há s<strong>é</strong>culos<br />
a preservação da cultura, a fixação do<br />
homem a sua origem e a competitivida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mercado, que vão servir para<br />
o constante fornecimento <strong>de</strong> produtos<br />
<strong>de</strong> origem animal, gerando lucros e<br />
bem-estar social.<br />
O agronegócio, <strong>de</strong>sta forma, <strong>de</strong>ve<br />
ser orientado <strong>de</strong> forma t<strong>é</strong>cnica eficaz,<br />
com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> execução possível<br />
e com credibilida<strong>de</strong> do produtor. A<br />
solução para melhorar a pobreza rural<br />
<strong>é</strong> o planejamento da diversificação<br />
do agronegócio, pois <strong>é</strong> gran<strong>de</strong> a heterogeneida<strong>de</strong><br />
entre produtores e os<br />
respectivos <strong>lugar</strong>es on<strong>de</strong> vivem.<br />
A criação no Nor<strong>de</strong>ste <strong>é</strong> rotina, familiar,<br />
faz parte da tradição.<br />
Intervenção governamental - Outro<br />
fator para a sustentabilida<strong>de</strong> do agronegócio<br />
<strong>é</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção<br />
governamental, como programas <strong>de</strong><br />
geração <strong>de</strong> empregos e garantia ao<br />
acesso <strong>de</strong> alimentos. Os grupos mais<br />
sensíveis da população rural, como<br />
anciãos, mulheres grávidas e crianças,<br />
<strong>de</strong>vem ser priorida<strong>de</strong>, como preconiza<br />
a FAO: “que as pessoas possam ter<br />
acesso a todo instante aos alimentos<br />
básicos <strong>de</strong> que necessitem...”. Assim,<br />
o governo tem que permitir e garantir<br />
uma produção constante <strong>de</strong> alimentos<br />
e, para isto, não <strong>de</strong>ve ficar atento aos<br />
impactos ambientais, para garantir a<br />
permanência dos recursos naturais.<br />
Conclusão - É fato que estas ações<br />
minimizam os efeitos da seca enfrentados<br />
pelo homem e sua família e dá<br />
uma luz <strong>de</strong> esperança para o sertanejo<br />
do Semiárido.<br />
Onaldo Souza - Pesquisador<br />
Embrapa Tabuleiros Costeiros.<br />
Doutor em produção animal.<br />
68 O Berro - nº 168
Educação<br />
As crianças apren<strong>de</strong>m<br />
com as <strong>ovelha</strong>s<br />
Cada pessoa po<strong>de</strong> transferir sua imaginação para os negócios e,<br />
assim, acabam vencendo aquelas que são mais<br />
competitivas e criativas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> crianças.<br />
Uma das gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s do<br />
setor rural <strong>é</strong> com a mão-<strong>de</strong>-obra. Tamb<strong>é</strong>m<br />
os proprietários rurais têm problemas<br />
com a sucessão, pois seus her<strong>de</strong>iros<br />
geralmente vão se diplomar em<br />
ativida<strong>de</strong>s urbanas. Por isso, a população<br />
rural chegará a apenas 6,5% no<br />
ano 2050, no Brasil. Será uma das menores<br />
do planeta. Essa pequena população,<br />
por<strong>é</strong>m, será responsável por<br />
alimentar boa parte dos 9,2 bilhões <strong>de</strong><br />
habitantes que estarão vivendo.<br />
Qualquer iniciativa para familiarizar<br />
o setor rural com as crianças <strong>é</strong> sempre<br />
louvável, pois elas po<strong>de</strong>rão ser os timoneiros<br />
do futuro. Para isso precisam<br />
gostar, antes <strong>de</strong> tudo, do que fazem.<br />
Se o negócio paterno <strong>é</strong> criação <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s,<br />
então as escolas precisam ensinar<br />
tudo sobre <strong>ovelha</strong>s para crianças.<br />
Países avançados, como os Estados<br />
Unidos, não brincam em serviço:<br />
toda ativida<strong>de</strong> rural tamb<strong>é</strong>m tem a seção<br />
<strong>de</strong>dicada às crianças. Se o pai leva<br />
bois e vacas a uma exposição, a<br />
garotada tamb<strong>é</strong>m po<strong>de</strong> comparecer,<br />
levando seus animais. Toda Associação<br />
<strong>é</strong> dividida em duas partes: a) para<br />
adultos; b) para a criançada. Des<strong>de</strong> cedo,<br />
portanto, as crianças vão gostando<br />
do que fazem, competindo com outras,<br />
na busca do que for melhor.<br />
No Brasil, a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias<br />
do Sul, realizou um Concurso <strong>de</strong> Desenhos<br />
para a gurizada: todos podiam<br />
soltar a imaginação, concorrendo aos<br />
prêmios, <strong>de</strong>senhando sua <strong>ovelha</strong> i<strong>de</strong>al.<br />
Os <strong>de</strong>senhos mais premiados são<br />
os aqui exibidos. Cada criança colocou<br />
neste <strong>de</strong>senho aquilo que julgou mais<br />
a<strong>de</strong>quado à mo<strong>de</strong>rna criação <strong>de</strong> <strong>ovelha</strong>s.<br />
Casamento da inspiração infantil<br />
com os animais. Parab<strong>é</strong>ns.<br />
1 - Cristiane Marcante - Ovelha TREM<br />
- Mostra a importância dos cem anos da<br />
chegada do trem em Caxias do Sul. Ovelha<br />
cheia <strong>de</strong> vida e movimento. As cores vibram<br />
<strong>de</strong> forma contemporânea e divertida,<br />
mostrando um dos elementos que transformaram<br />
Caxias do Sul no maior polo metalmecânico<br />
do Estado. O trem foi o principal<br />
meio <strong>de</strong> transporte da <strong>é</strong>poca, está em movimento<br />
com seus vagões <strong>de</strong> transporte e em<br />
meio à exuberância <strong>de</strong> montes, paisagens<br />
e araucárias.<br />
O público acostumado a ter acesso a fatos<br />
históricos por meio <strong>de</strong> fotografias, livros<br />
e objetos <strong>de</strong> <strong>é</strong>poca expostos em museus,<br />
aproxima-se da obra que tamb<strong>é</strong>m se aproxima<br />
<strong>de</strong> todas as classes sociais e ida<strong>de</strong>s -<br />
com esta <strong>ovelha</strong>.<br />
O Berro - nº 168<br />
69
2 - Cristiano Dornelles dos Reis - Ovelha<br />
RETALHADA - É inspirada nos retalhos<br />
<strong>de</strong> tecido, aproveitando as sobras dos cortes.<br />
Assim, surge uma <strong>ovelha</strong> camuflada, representando<br />
as sobras <strong>de</strong> tecidos nas cores<br />
primárias e, ainda, na cor secundária ver<strong>de</strong>,<br />
lembrando a Pop Art. Mistura o sabor tradicional<br />
dos lares que sempre utilizaram mantas<br />
<strong>de</strong> retalhos com a tamb<strong>é</strong>m tradicional<br />
<strong>ovelha</strong>, sinônimo <strong>de</strong> aconchego.<br />
4 - Flávio Drum <strong>de</strong> Almeida - Ovelha<br />
MINIMAL - Atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> formas geom<strong>é</strong>tricas<br />
e abstratas, cores vivas e luminosas, a pintura<br />
da <strong>ovelha</strong> Minimal representa uma re<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> retalhos coloridos on<strong>de</strong> se revelam e escon<strong>de</strong>m-se<br />
fragmentos, instigando os sentidos.<br />
A colcha <strong>de</strong> retalhos tem a ver com a<br />
história <strong>de</strong> todos os lares.<br />
3 - Cristhian Fernando Caje Rodriguez<br />
- Ovelha TRAJETÓRIA - A superfície da<br />
<strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> coberta com fotografias <strong>de</strong> pessoas<br />
que habitam a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias do<br />
Sul, criando assim uma narrativa que marca<br />
a presença dos diferentes corpos e sua velocida<strong>de</strong><br />
no espaço urbano da geografia. A<br />
“cola” que une as fotografias são fios <strong>de</strong> lã<br />
das <strong>ovelha</strong>s.<br />
5 - Greice <strong>de</strong> Barba - Ovelha GÊNESIS<br />
- Joio entre o trigo; lobo em pele <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro;<br />
<strong>de</strong>ntre tantas criações geniais, o plástico<br />
tem sido consi<strong>de</strong>rado um dos maiores vilões<br />
dos últimos tempos. Neste caso, <strong>de</strong> quem<br />
realmente <strong>é</strong> a culpa, do criador ou da criatura?<br />
Sacolas entopem bueiros, e matam animais<br />
sufocados; falta <strong>de</strong> consciência ecológica,<br />
sim. Em meio a uma trama feita em<br />
crochê com sacolas plásticas, surge uma<br />
obra que questiona a diferença entre uma<br />
criação divina e a humana.<br />
70 O Berro - nº 168
Capril<br />
SAID<br />
l Saanen l Toggenburg<br />
l Alpina<br />
l Alpina Britânica<br />
O Plantel leiteiro mais premiado<br />
do Ceará há 12 anos.<br />
TUFI SAID<br />
Aquiraz - CE<br />
(85) 8668-3110 l 9617-2131<br />
caprilsaid@hotmail.com<br />
O Berro - nº 168<br />
71
6 - Artista: Karine Perez - Ovelha PA-<br />
ESAGGIO - São elementos visuais da paisagem<br />
campestre, tais como árvores montanhas<br />
e pastos, reconstruídos atrav<strong>é</strong>s da<br />
pintura sobre o corpo <strong>de</strong> uma <strong>ovelha</strong>. O corpo<br />
expressa o local on<strong>de</strong> as <strong>ovelha</strong>s vivem<br />
e extraem seu alimento. Ao inv<strong>é</strong>s <strong>de</strong> ser um<br />
componente da paisagem, a <strong>ovelha</strong> representa<br />
a própria paisagem exterior, como se<br />
ela fosse um espelho <strong>de</strong> seu habitat.<br />
8 - Mariana Pereira - Ovelha PRINCE-<br />
SA DIANA: “A OVELHA NEGRA DA FA-<br />
MÍLIA REAL” - A Princesa Diana sempre foi<br />
um ícone <strong>de</strong> moda <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o casamento com<br />
o príncipe Charles. Descen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> nobre e<br />
filha <strong>de</strong> con<strong>de</strong>, Diana trazia já <strong>de</strong> berço sua<br />
natural beleza. Não foi feliz no casamento.<br />
A “Rainha Mãe” não a suportava, sua presença<br />
no castelo não era bem vinda. Charles<br />
pouco se importava com ela. Devido a<br />
romances “secretos” (acobertados por seu<br />
motorista), Diana cada vez mais era vista<br />
pela família real como a “<strong>ovelha</strong> negra”.<br />
7 - Leonardo Verardo Fanzelau - Ovelha<br />
A ÚLTIMA QUE FALTAVA CONTAR<br />
PARA VOCÊ DORMIR - É milenar o hábito<br />
<strong>de</strong> contar carneirinhos como m<strong>é</strong>todo para<br />
adormecer. Assim, a frase-título está fixada<br />
na região dorsal da <strong>ovelha</strong> que está pintada<br />
em azul claro. As letras são confeccionadas<br />
individualmente e presas à <strong>ovelha</strong>, acompanhando<br />
o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> seu corpo.<br />
9 - Marcos Coutinho Souza - Ovelha<br />
TECNO - Aqui a <strong>ovelha</strong> dialoga com materiais<br />
diversos como papelão, ma<strong>de</strong>ira e metal.<br />
O metal e a pintura estabelecem uma relação<br />
entre o estampado dos tecidos, coloridos<br />
e padronizados, suaves e <strong>de</strong>licados,<br />
com a robustez dos equipamentos e maquinários<br />
da indústria têxtil <strong>de</strong> Caxias do Sul.<br />
72 O Berro - nº 168
10 - Neusa Virgínia Welter Bocchese<br />
- Ovelha GUADALUPE - As primeiras malhas<br />
da região eram feitas, manualmente,<br />
com agulhas <strong>de</strong> metal ou <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e com<br />
lã aberta e torcida na “roca” ou na “molinela”.<br />
O fio era tingido com vegetais (macela,<br />
arnica ou poejo) e casca <strong>de</strong> cebola, entre<br />
outros. Com o progresso, as máquinas começaram<br />
a ser importadas e cada vez mais<br />
mo<strong>de</strong>rnizadas, possibilitando a produção <strong>de</strong><br />
malhas com estamparias geom<strong>é</strong>tricas, florais<br />
e jacards variados.<br />
12 - Ricardo Andr<strong>é</strong> Brisotto - Ovelha<br />
VIAJANTE - A serra gaúcha <strong>é</strong> mundialmente<br />
conhecida pela qualida<strong>de</strong> da produção do<br />
setor do vestuário. A fama do setor <strong>é</strong> responsável<br />
pela presença, nos quatro cantos<br />
do mundo, das roupas aqui produzidas. A<br />
<strong>ovelha</strong> Viajante <strong>é</strong> coberta por selos, representando<br />
a competência produtiva <strong>de</strong> chegar<br />
aos principais pontos <strong>de</strong> moda. O objetivo<br />
principal <strong>é</strong> chamar atenção para a valorização<br />
do vestuário, motivando as pequenas<br />
indústrias do setor.<br />
11 - Pedro Jair Alves Borges - Ovelha<br />
TRADIÇÕES DE UM POVO - Atrav<strong>é</strong>s das<br />
cores e das imagens a <strong>ovelha</strong> mostra as tradições<br />
<strong>de</strong> um povo, busca divulgar a cultura<br />
e as raízes do povo gaúcho, a raça e a saga<br />
do imigrante italiano que conquistou com<br />
garra seu <strong>lugar</strong> no chão riogran<strong>de</strong>nse.<br />
13 - Artista: Thompson Gabriel <strong>de</strong><br />
Mello - Ovelha RABISKA - A <strong>ovelha</strong> <strong>é</strong> toda<br />
trabalhada em nanquim, com uma base em<br />
tinta invisível colorida. Esta base <strong>é</strong> formada<br />
por luzes negras que ao serem acionadas<br />
realçam a cor da tinta invisível.<br />
O Berro - nº 168<br />
73
Mosaico<br />
Cabra: a primeira artista <strong>de</strong> cinema do mundo<br />
Dados: Daniel Moreira <strong>de</strong> Sousa Pinna<br />
Quem foi a primeira artista <strong>de</strong> cinema na História? Foi uma <strong>cabra</strong> há 5.200<br />
anos atrás. Foi o primeiro animal “filmado” na história da humanida<strong>de</strong>.<br />
Durante uma expedição arqueológica<br />
realizada no final da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1970<br />
e início da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1980, uma equipe<br />
italiana <strong>de</strong>senterrou uma “sopeira” <strong>de</strong><br />
porcelana (tigela). Estava em um dos túmulos<br />
<strong>de</strong> Burnt City (Shahr-e Sukhta),<br />
nome que significa “cida<strong>de</strong> queimada”,<br />
no atual Irã, região <strong>de</strong> muitas raças caprinas<br />
e ovinas ancestrais.<br />
No <strong>mesmo</strong> sítio arqueológico foram<br />
encontradas outras surpresas, tais como:<br />
a prótese ocular mais antiga encontrada<br />
at<strong>é</strong> hoje e a versão mais antiga do<br />
jogo <strong>de</strong> gamão. Agora, foi encontrado o<br />
“filme” mais antigo já feito pelo Homem.<br />
A palavra “cinema” vem do grego e<br />
significa “movimento”. Um filme <strong>de</strong> cinema<br />
nada mais <strong>é</strong> que a sequência <strong>de</strong> 20<br />
a 30 quadros por segundo, cada um com<br />
pequeníssima progressão em relação<br />
ao anterior. Ao girar os quadros, em certa<br />
velocida<strong>de</strong>, o olho humano não percebe<br />
os quadros, mas apenas o movimento.<br />
Um “filme mudo” utilizava entre<br />
16 a 20 quadros por segundo (cada quadro<br />
gastava 0,05 a 0,0625 segundo). O<br />
filme sonoro mo<strong>de</strong>rno utiliza 25 quadros<br />
por segundo (sistema PAL), ou 30 (sistema<br />
NTSC). O filme 3D utiliza 48 quadros<br />
por segundo. Estão sendo testados outros<br />
sistemas <strong>de</strong> at<strong>é</strong> 60 quadros por segundo.<br />
O “cinema” continua sua história<br />
que começou há 5.200 anos, com uma<br />
<strong>cabra</strong>.<br />
Cabra em movimento - Na verda<strong>de</strong>,<br />
a sopeira tem a ilustração <strong>de</strong> uma <strong>cabra</strong><br />
em movimento. Trata-se <strong>de</strong> uma animação.<br />
São vários quadros da mesma<br />
<strong>cabra</strong>; cada quadro com um <strong>de</strong>talhe a<br />
mais. Assim, ao girar a sopeira, a pessoa<br />
Tigela <strong>de</strong> barro iraniana: <strong>é</strong> o exemplo mais<br />
antigo do mundo da animação.<br />
podia enxergar a <strong>cabra</strong> movimentando-<br />
-se. O nome <strong>de</strong> “animação” foi dado pela<br />
imprensa e autorida<strong>de</strong>s iranianas.<br />
A sopeira (tijela) me<strong>de</strong> 8 cm <strong>de</strong> diâmetro<br />
e 10 cm <strong>de</strong> altura; foi confeccionada<br />
há cerca <strong>de</strong> 5.200 anos. Ao seu redor,<br />
estão dispostas cinco imagens <strong>de</strong> uma<br />
<strong>cabra</strong> selvagem saltando para alcançar e<br />
comer as folhas do galho <strong>de</strong> uma árvore.<br />
Cada quadro tem ligeira progressão em<br />
comparação ao anterior.<br />
Pinturas semelhantes, com motivos<br />
<strong>de</strong> <strong>cabra</strong>s selvagens e peixes, são comuns<br />
em jóias e cerâmicas encontradas<br />
nas escavações realizadas no local. Foram<br />
encontrados inúmeros pratos <strong>de</strong>corados<br />
com esses <strong>mesmo</strong>s motivos, adornados<br />
com um <strong>mesmo</strong> <strong>de</strong>senho repetido<br />
diversas vezes ao longo do corpo da peça.<br />
Por isso, a sopeira ficou engavetada<br />
por vários anos.<br />
Apenas no início do s<strong>é</strong>culo XXI, alguns<br />
estudiosos perceberam que não se<br />
tratava <strong>de</strong> mera repetição da <strong>cabra</strong>, mas<br />
sim <strong>de</strong> movimentos diferentes. Era algo<br />
muito diferente <strong>de</strong> tudo que havia sido<br />
encontrado at<strong>é</strong> então. Marcava o início<br />
do cinema na história da humanida<strong>de</strong>.<br />
74 O Berro - nº 168
Desenhos mostrando as cinco imagens diferentes.<br />
Era uma tentativa <strong>de</strong> exibir o movimento<br />
da <strong>cabra</strong>, ao girar a sopeira!<br />
Para garantir o sucesso, o artista fez<br />
as ilustrações <strong>de</strong> tal maneira que o final<br />
leva ao começo. Assim, a sopeira po<strong>de</strong><br />
ficar girando e a <strong>cabra</strong> estará se movimentando,<br />
sempre, sem parar.<br />
Cabra polêmica - A organização <strong>de</strong><br />
Patrimônio Cultural, Turismo e Artesanato<br />
do Irã (CHTHO), com o cineasta Mohsen<br />
Ramezani, lançou o filme “The tree<br />
of life” (“A árvore da vida”, 2008), um documentário<br />
<strong>de</strong> 11 minutos contando a<br />
história da peça e reaquecendo duas polêmicas<br />
a seu respeito, a saber:<br />
1) O documentário <strong>de</strong> Ramezani <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
a afirmação do CHTHO <strong>de</strong> que a peça<br />
narra graficamente à história da árvore<br />
da vida, mito assírio sobre a origem do<br />
mundo. O Círculo <strong>de</strong> Estudos Ancestrais<br />
Iranianos (CAIS) - respeitável associação<br />
acadêmica do país - rejeita essa hipótese,<br />
com um argumento bastante convincente<br />
para os historiadores. Segundo o CAIS, a<br />
cerâmica fora confeccionada pelo menos<br />
1.000 anos antes do aparecimento do registro<br />
mais antigo da civilização assíria<br />
<strong>de</strong>scoberto at<strong>é</strong> hoje. A imagem representa<br />
simplesmente uma cabrita selvagem para<br />
Detalhe da <strong>cabra</strong> selvagem (Capra aegagrus)<br />
na tigela <strong>de</strong>scoberta em um túmulo com 5.200<br />
anos, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnt no Irã.<br />
os pesquisadores (Capra aegagrus, tamb<strong>é</strong>m<br />
conhecido como Ibex persa do <strong>de</strong>serto),<br />
animal comum na região e figura recorrente<br />
da iconografia <strong>de</strong> povos que habitaram<br />
o local <strong>de</strong>s<strong>de</strong>, pelo menos, 4.000 a.C.<br />
Apesar da comparação realizada no<br />
documentário ser consi<strong>de</strong>rada pelos pesquisadores<br />
do CAIS como “uma das mais<br />
absurdas afirmações da nova geração <strong>de</strong><br />
especialistas do Irã pós-revolucionário”<br />
(CAIS, 2008), <strong>é</strong> fácil notar a semelhança<br />
i<strong>de</strong>ntificada entre os grafismos e a passagem<br />
do mito em que o animal salta para<br />
comer as folhas da árvore da vida.<br />
2) A segunda gran<strong>de</strong> polêmica diz respeito<br />
à insistência da mídia — incentivada<br />
pelo CHTHO e pela ASIFA iraniana —<br />
em chamar a sopeira (tigela) <strong>de</strong> “a animação<br />
mais antiga do mundo”. A revista<br />
eletrônica Animation Magazine diz: “uma<br />
tigela <strong>de</strong> 5.200 anos, encontrada na cida<strong>de</strong><br />
queimada do Irã nos anos 1970,<br />
apresenta uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> cinco imagens<br />
que pesquisadores apenas recentemente<br />
i<strong>de</strong>ntificaram como sendo sequenciais,<br />
muito parecidas com aquelas em um zootrópio.<br />
Girando a tigela, vê-se uma <strong>cabra</strong><br />
Ibex saltando para mor<strong>de</strong>r folhas <strong>de</strong> uma<br />
árvore (...)” (Ball, 2008).<br />
Conclusão - O que interessa <strong>é</strong> que<br />
a <strong>cabra</strong> foi <strong>mesmo</strong> a primeira artista<br />
<strong>de</strong> cinema na História da Humanida<strong>de</strong>.<br />
Depois <strong>de</strong>la, foram feitos muitos “filmes”<br />
no correr da História, em “pergaminhos”,<br />
tabuletas, pap<strong>é</strong>is impressos,<br />
etc. Nas escolas mo<strong>de</strong>rnas <strong>é</strong> comum<br />
ensinar as crianças a fazerem seu “filme”,<br />
<strong>de</strong>senhando bonecos que se movimentam<br />
com o rápido virar <strong>de</strong> páginas<br />
do ca<strong>de</strong>rno. Tudo começou com a <strong>cabra</strong><br />
ancestral.<br />
O Berro - nº 168<br />
75
Nutrição<br />
Manejo nutricional <strong>de</strong> caprinos<br />
e ovinos em regiões Semiáridas<br />
Sueli Freitas dos Santos, Renan M. Me<strong>de</strong>iros Sanson, Patrícia Almeida Mapurunga,<br />
Juliete <strong>de</strong> Lima Gonçalves e Natália Lívia <strong>de</strong> Oliveira Fonteles.<br />
Uma alimentação específica para cada animal <strong>de</strong>ve ser planejada levando<br />
vários fatores em consi<strong>de</strong>ração, como a esp<strong>é</strong>cie, a realida<strong>de</strong> da região<br />
e tamb<strong>é</strong>m a fase <strong>de</strong> vida e reprodução dos animais.<br />
Cochos bem colocados para aten<strong>de</strong>r os lotes.<br />
A criação <strong>de</strong> pequenos ruminantes tem, por<strong>é</strong>m, muitas falhas no manejo<br />
sempre teve seu <strong>lugar</strong> no mercado por nutricional e alimentar <strong>de</strong>sses animais.<br />
oferecer produtos <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> Estas falhas po<strong>de</strong>m causar prejuízos<br />
como: leite, carne e pele. A exploração financeiros ao criador e tamb<strong>é</strong>m ao<br />
racional <strong>de</strong> caprinos vem se <strong>de</strong>stacando bem-estar e saú<strong>de</strong> dos animais.<br />
nos últimos anos por suas características<br />
<strong>de</strong> alta lucrativida<strong>de</strong> e rápido retorno são nutricionalmente consi<strong>de</strong>radas e<br />
Muitas vezes as <strong>cabra</strong>s e <strong>ovelha</strong>s<br />
financeiro. Vale salientar, por<strong>é</strong>m, que a tratadas como “pequenas vacas”, especialmente<br />
as <strong>de</strong> categoria leiteiras.<br />
produtivida<strong>de</strong> <strong>é</strong> alcançada quando são<br />
consi<strong>de</strong>rados os aspectos gen<strong>é</strong>ticos, Apesar <strong>de</strong> ambas serem ruminantes e,<br />
sanitários e nutricionais do rebanho, portanto, requererem os <strong>mesmo</strong>s princípios<br />
nutritivos, as diferenças existentes<br />
sendo este último, o fator que reflete<br />
mais rapidamente sobre a produção. entre essas esp<strong>é</strong>cies são muitas: hábitos<br />
alimentares; nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físi-<br />
Novos criadores têm surgido e o número<br />
<strong>de</strong> animais tem aumentado. Ainda exiscas;<br />
exigências nutricionais e <strong>de</strong> água;<br />
76 O Berro - nº 168
Cana <strong>é</strong> um excelente ingrediente na dieta.<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seleção dos alimentos; ra leiteira, não raramente ultrapassando<br />
aceitação dos alimentos; composição essa participação, po<strong>de</strong>ndo chegar at<strong>é</strong> a<br />
do leite; composição da carcaça; <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />
metabólicas e endoparasitoses. <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, certamente o <strong>de</strong>sem-<br />
80% em casos extremos. Sem alimentos<br />
Assim, a nutrição <strong>de</strong> caprinos e ovinos penho e at<strong>é</strong> <strong>mesmo</strong> a saú<strong>de</strong> dos animais<br />
<strong>de</strong>ve ser tratada com ações específicas, serão comprometidas.<br />
evitando o uso indiscriminado <strong>de</strong> experiências<br />
com outros ruminantes. <strong>de</strong> caprinos ou ovinos, <strong>de</strong>verá fazer um<br />
O produtor, ao iniciar uma criação<br />
Nutrir a<strong>de</strong>quadamente um caprino e/ planejamento <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong> levando<br />
em consi<strong>de</strong>ração alguns aspectos.<br />
ou um ovino significa fornecer todos os<br />
nutrientes necessários, em quantida<strong>de</strong> Entre eles:<br />
e proporção a<strong>de</strong>quadas que atendam 1) a área disponível para formação <strong>de</strong><br />
às suas necessida<strong>de</strong>s, com uma ração forrageiras;<br />
sem fatores tóxicos e no menor custo 2) a adaptação da área quanto ao<br />
possível. Nesta <strong>de</strong>finição está envolvida plantio;<br />
uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> conceitos e princípios que 3) a existência <strong>de</strong> água para irrigação;<br />
<strong>de</strong>vem ser muito bem conhecidos e consi<strong>de</strong>rados<br />
para a <strong>de</strong>finição do programa das forrageiras;<br />
4) produção por hectare <strong>de</strong> massa ver<strong>de</strong><br />
nutricional a<strong>de</strong>quado à proprieda<strong>de</strong> e ao 5) <strong>é</strong>poca <strong>de</strong> colheita;<br />
rebanho. Tamb<strong>é</strong>m para a escolha dos 6) digestibilida<strong>de</strong> e nutrientes que compõem<br />
a forrageira.<br />
alimentos e para alimentação propriamente<br />
dita. A alimentação inclui: 7) o número <strong>de</strong> animais que está criando<br />
1) o processamento dos alimentos, por categoria, <strong>de</strong>scartes e nascimentos<br />
sua mistura e preparação e fornecimento<br />
aos animais;<br />
Em sistemas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> peque-<br />
do ano.<br />
2) a limpeza e o manejo do cocho nos ruminantes, os aspectos importantes<br />
são resolvidos mais facilmente com<br />
3) o monitoramento do consumo e do<br />
<strong>de</strong>sempenho dos animais.<br />
a divisão dos animais em categoria <strong>de</strong><br />
Os alimentos facilmente representam produção. Os animais, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
50% das <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> uma caprinocultu-<br />
da esp<strong>é</strong>cie, ida<strong>de</strong>, sexo e do estádio<br />
O Berro - nº 168<br />
77
Sugestão <strong>de</strong> categorias <strong>de</strong> produção para o manejo alimentar <strong>de</strong> caprinos e ovinos.<br />
Categoria<br />
Animaisnafase<strong>de</strong>cria<br />
Animais<strong>de</strong>recria<br />
Ovelhase<strong>cabra</strong>s solteiras<br />
Ovelhase<strong>cabra</strong>s antesdaestação<strong>de</strong><br />
monta<br />
Ovelhase<strong>cabra</strong>s nãolactantesenas<br />
primeiras15semanas <strong>de</strong> gestação<br />
Ovelhase<strong>cabra</strong>s em terçofinal <strong>de</strong><br />
gestação<br />
Ovelhase<strong>cabra</strong>emlactação<br />
Fêmeas para reposição<br />
Reprodutores em manutençãoe<br />
reprodução<br />
Fonte: Pereira, L.G.R, ET AL. (2007)<br />
fisiológico que se encontram, apresentam<br />
hábitos alimentares, exigências<br />
nutricionais e comportamentos diferentes.<br />
Assim, po<strong>de</strong>m ser empregadas as<br />
categorias <strong>de</strong> produção apresentadas<br />
na Tabela.<br />
Os custos com concentrado tornam<br />
a produção <strong>de</strong> animais mais onerosa,<br />
portanto, <strong>é</strong> necessário a implantação<br />
<strong>de</strong> capineiras que possibilitam a diminuição<br />
<strong>de</strong>sses custos. Na alimentação<br />
animal <strong>é</strong> importante dar preferência às<br />
varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantas mais adaptáveis<br />
à região, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam bem aceitas<br />
pelos animais e tenham bom valor<br />
nutritivo. No Semiárido, geralmente<br />
estão disponíveis para alimentação <strong>de</strong><br />
caprinos e ovinos, a pastagem nativa<br />
(caatinga), a cultivada, os volumosos<br />
suplementares (palma, feno e silagem),<br />
Descrição eCuidadosEspeciais<br />
Animais rec<strong>é</strong>m-nascidos at<strong>é</strong> a<strong>de</strong>smama. Geralmente <strong>é</strong>afase mais crítica e<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> cuidados<br />
com omanejo <strong>de</strong>colostro (assegurar que os animais ingiram <strong>de</strong>0,5 a1,0 litro <strong>de</strong> colostro nas<br />
primeiras18 horas da vida) ecuradoumbigo. Omanejovaria <strong>de</strong> acordo comoobjetivo do sistema<strong>de</strong><br />
produção. Nesta fase po<strong>de</strong> ser adotado autilização do "creep-feeding" econtrole <strong>de</strong>mamadas,<br />
práticas quepo<strong>de</strong>m interferir na eficiência produtivaereprodutiva dosrebanhos.<br />
Categoria que oferece amelhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>carne. Caracterizada pelo rápido ganho <strong>de</strong> peso e<br />
elevadaexigência nutricional.<br />
Animais <strong>de</strong> menor exigência. Alimentação com volumosos <strong>de</strong> m<strong>é</strong>dia qualida<strong>de</strong> geralmente são<br />
suficientes para que estesanimais não ganhemenempercampeso.<br />
Níveis nutricionaiselevados, três semanas antes etrês<strong>de</strong>pois da estação <strong>de</strong>monta, po<strong>de</strong>maumentar<br />
onúmero<strong>de</strong>animais nascidos(flushing).<br />
Possuem exigências pouco acima da mantença, mas necessitam ganhar peso, pois vão emagrecer<br />
durante alactação. Ração abase <strong>de</strong> forrageiras <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>m as exigências <strong>de</strong>sta<br />
categoria.<br />
Possuem exigências elevadas, jáque 70% do crescimento fetal ocorre neste período. Recomenda-se<br />
melhorar oplano nutricional,com utilização <strong>de</strong> forrageira <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>econcentrado.<br />
Apresentam elevada exigência em nutrientes. Nesta fase, geralmente osanimais utilizam as reservas<br />
corporais (gordura) e per<strong>de</strong>m peso. Matrizes que pariram dois ou mais filhotes <strong>de</strong>vem receber<br />
alimentaçãodiferenciada.<br />
Adivisão dos animais <strong>de</strong>sta categoria em quatro lotes<strong>é</strong>recomendada, seja ela baseada naprodução<br />
<strong>de</strong> leite, no caso <strong>de</strong> caprinos leiteiros, ou <strong>de</strong> acordo comaor<strong>de</strong>m<strong>de</strong>parição eonúmero <strong>de</strong> crias, para<br />
caprinos eovinos<strong>de</strong>corte.<br />
Representam ofuturo produtivo eomanejo nutricional <strong>de</strong>ve permitir umbom índice <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>.<br />
Deficiências nutricionais po<strong>de</strong>m retardar aida<strong>de</strong> aoprimeiro cio ereduzir o peso àprimeira cobertura.<br />
Opeso excessivo <strong>de</strong>sses animais tamb<strong>é</strong>m não <strong>é</strong><strong>de</strong>sejável, pois po<strong>de</strong>m interferir negativamente na<br />
produção <strong>de</strong> leiteenos índicesreprodutivos.<br />
A nutrição <strong>de</strong>ve ser suficiente para garantir aprodução <strong>de</strong> sêmen <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, permitindo<br />
eficiência na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monta. Deve-se fornecer dietas enriquecidas com proteína eenergia<br />
duranteaestação <strong>de</strong> monta. Oexcesso <strong>de</strong> fósforopo<strong>de</strong>causarurolitíase.<br />
al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> alimentos concentrados, geralmente<br />
comprados <strong>de</strong> outras regiões<br />
produtoras.<br />
Animais que são carentes na nutrição<br />
<strong>de</strong>vem ter acesso à suplementação<br />
com feno ou silagem <strong>de</strong> leguminosas<br />
e/ou gramíneas, obtidas do campo <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> forragem das áreas úmidas<br />
da proprieda<strong>de</strong>. Deve ser oferecida uma<br />
mistura <strong>de</strong> sal comum e sal mineralizado<br />
nos cochos, colocados nos apriscos, à<br />
vonta<strong>de</strong>.<br />
O efeito do estado nutricional na<br />
performance reprodutiva <strong>é</strong> muito importante.<br />
Apesar que os tipos <strong>de</strong> fontes<br />
nutricionais e os problemas <strong>de</strong> manejo<br />
possam diferir entre regiões, os processos<br />
fisiológicos que comandam o <strong>de</strong>sempenho<br />
reprodutivo são os <strong>mesmo</strong>s.<br />
Os animais, sob condições nutricionais<br />
78 O Berro - nº 168
Folhas, resíduos secos, tudo <strong>é</strong> bom<br />
para alimentação.<br />
ina<strong>de</strong>quadas, agem negativamente no<br />
processo reprodutivo, afetando os índice<br />
<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> do rebanho.<br />
A alimentação <strong>é</strong> o principal fator do<br />
comportamento reprodutivo e <strong>de</strong> respostas<br />
aos tratamentos <strong>de</strong> sincronização <strong>de</strong><br />
estros em todas as esp<strong>é</strong>cies animais. A<br />
limitada disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos do<br />
Semiárido, associada à escassez das<br />
chuvas, <strong>é</strong> <strong>de</strong>terminante no estado nutricional<br />
dos rebanhos. Assim, o atraso<br />
e a ausência <strong>de</strong> cio estão estreitamente<br />
relacionados com a baixa condição corporal<br />
dos animais. A taxa <strong>de</strong> ovulação e<br />
a fertilida<strong>de</strong> são altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
da alimentação pr<strong>é</strong>-cobertura, pois<br />
em bom estado nutricional os animais<br />
apresentam excelentes respostas ao<br />
tratamento.<br />
Como já foi dito, a alimentação <strong>é</strong> o fator<br />
que mais onera o custo nos sistemas<br />
<strong>de</strong> produção animal. Esta realida<strong>de</strong> <strong>é</strong><br />
ainda mais marcante na região Semiá-<br />
O concentrado po<strong>de</strong> ser preparado em casa.<br />
rida, pois ainda há gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> na<br />
produção <strong>de</strong> alimentos. A solução está<br />
em implementar um bom planejamento<br />
alimentar, aproveitando todas as formas<br />
<strong>de</strong> alimentos que são possíveis. Muitas<br />
tecnologias já estão sendo geradas e<br />
já existem estudos para aprimorar o<br />
manejo alimentar dos caprinos e ovinos<br />
no Semiárido.<br />
O mais importante <strong>é</strong> ter consciência<br />
da realida<strong>de</strong> da criação e da proprieda<strong>de</strong>,<br />
para que possa surgir soluções<br />
importantes que gerem aumento <strong>de</strong><br />
produção e lucrativida<strong>de</strong>.<br />
O Berro - nº 168<br />
Cocho cheio para manter um<br />
rebanho lucrativo.<br />
Sueli Freitas dos Santos - Zootecnista.<br />
Patrícia Almeida Mapurunga - Graduanda<br />
em Zootecnia - Universida<strong>de</strong><br />
Estadual Vale do Acaraú-UVA; Juliete<br />
<strong>de</strong> Lima Gonçalves - Graduanda em<br />
Zootecnia - Universida<strong>de</strong> Estadual Vale<br />
do Acaraú-UVA; Natália Lívia <strong>de</strong> Oliveira<br />
Fonteles - Mestranda em Zootecnia -<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual Vale do<br />
Acaraú-UVA.<br />
79
Ingredientes<br />
Feijoada light <strong>de</strong> bo<strong>de</strong><br />
Bom<br />
apetite!<br />
- 1 e ½ Kg <strong>de</strong> feijão-preto;<br />
- 500g <strong>de</strong> costela <strong>de</strong>fumada;<br />
- 300g <strong>de</strong> linguiça <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumada;<br />
- 200g <strong>de</strong> músculo <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumado;<br />
- 4 p<strong>é</strong>s <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumados;<br />
- 1 rabo <strong>de</strong> caprino <strong>de</strong>fumado;<br />
- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> or<strong>é</strong>gano;<br />
- 1 colher (sopa) alecrim;<br />
- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> cominho;<br />
- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> pimenta do reino moída<br />
- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> corante;<br />
- 1 xícara (chá) <strong>de</strong> vinagre branco;<br />
- 1 tomate;<br />
- 1 cebola;<br />
- 1 pimentão;<br />
- 1 xícara (chá) <strong>de</strong> cheiro-ver<strong>de</strong>;<br />
- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> azeite.<br />
Modo <strong>de</strong> preparo<br />
- Deixe o feijão-preto <strong>de</strong> molho por três horas,<br />
cozinhar por 20 minutos em panela <strong>de</strong> pressão<br />
e reservar. Cotar a carne <strong>de</strong>fumada em<br />
pedaços pequenos e levar em água corrente.<br />
- Cortar em pedaços pequenos a cebola, o<br />
pimentão, o tomate e o cheiro ver<strong>de</strong>, reserve-<br />
Ingredientes<br />
- Alho e sal à gosto<br />
- 1 cebola <strong>de</strong> cabeça picada<br />
- 2 sachês <strong>de</strong> tempero <strong>de</strong> sua preferência<br />
- Pimenta à gosto<br />
- 1 pitada <strong>de</strong> corante<br />
- Coentro Ver<strong>de</strong><br />
- Pele <strong>de</strong> porco<br />
- 1 colher (sopa) <strong>de</strong> gordura <strong>de</strong> porco<br />
- 750 mL <strong>de</strong> água<br />
- 1 kg <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> carneiro<br />
- Macacheira e agrião, a gosto, se quiser.<br />
Rabada <strong>de</strong> carneiro<br />
-os separadamente. Use os temperos e as<br />
ervas para preparar a carne e acrescente o<br />
vinagre. Aqueça o azeite em uma panela <strong>de</strong><br />
pressão e refogue o ½ cheiro-ver<strong>de</strong>. Misture<br />
com a carne e <strong>de</strong>ixe cozinhar at<strong>é</strong> ficar macia<br />
(20 minutos); Junte a carne com feijão e <strong>de</strong>ixe<br />
cozinhar at<strong>é</strong> o caldo ficar grosso e o feijão<br />
amolecer, prove o sal, acrescente o restante<br />
do cheiro-ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ixe cozinhar por 5 minutos.<br />
Serve at<strong>é</strong> 15 pessoas.<br />
Modo <strong>de</strong> preparo<br />
Junte todos os ingredientes e <strong>de</strong>ixe no fogo 15<br />
minutos após pegar pressão.<br />
Servir com arroz branco e salada <strong>de</strong> rúcula.<br />
Se quiser, acrescentar macacheira.<br />
80 O Berro - nº 168
Boa leitura<br />
A divisão da alma<br />
dos mortos<br />
O antigo cemit<strong>é</strong>rio ainda tinha túmulos<br />
com correntes, lembrando os<br />
tempos em que todos acreditavam<br />
que as almas vagavam, levando a<br />
morte para os inocentes. As correntes<br />
eram para pren<strong>de</strong>r as almas em<br />
seu respectivo <strong>lugar</strong>: o túmulo. O terror<br />
chegou a um ponto em que ningu<strong>é</strong>m<br />
mais queria ser enterrado naquele<br />
cemit<strong>é</strong>rio que foi, então, abandonado.<br />
O mato cresceu e todos foram<br />
esquecendo as histórias <strong>de</strong> apertura.<br />
O novo cemit<strong>é</strong>rio, sim, fora benzido<br />
com água benta e ali as almas<br />
podiam <strong>de</strong>scansar em paz.<br />
Joca e Selim eram dois espertalhões<br />
que roubavam animais em um<br />
distrito e vendiam em outro. Eram<br />
roubos pequenos e, então, a culpa<br />
caía em cachorros vadios, raposas<br />
e carcarás. Agora, tinham <strong>de</strong>scoberto<br />
uma mina <strong>de</strong> ouro: roubavam os<br />
animais e iam colocando num cercadinho<br />
que construíram <strong>de</strong>ntro do velho<br />
cemit<strong>é</strong>rio. Foi assim que conseguiram<br />
juntar mais <strong>de</strong> vinte animais.<br />
Era hora <strong>de</strong> dividir.<br />
Entraram no cemit<strong>é</strong>rio, à noite e<br />
começaram a divisão:<br />
- Um para mim; um para você.<br />
- Esse para mim; esse para você.<br />
Paravam, bebiam um trago, discutiam<br />
sobre as qualida<strong>de</strong>s dos animais,<br />
para garantir uma divisão justa<br />
entre amigos da profissão.<br />
Numa distração, dois bo<strong>de</strong>tes escapuliram,<br />
correram, subiram no muro<br />
e <strong>de</strong>spencaram para o lado <strong>de</strong> fora<br />
do cemit<strong>é</strong>rio.<br />
- Não faz mal, <strong>é</strong> <strong>de</strong> noite <strong>mesmo</strong>.<br />
Depois que a gente terminar, <strong>é</strong> fácil<br />
pegar os dois que fugiram.<br />
Era sexta-feira, noite, dia <strong>de</strong> porre<br />
e um bêbado foi se encostar no muro<br />
do velho cemit<strong>é</strong>rio, para curtir a bebe<strong>de</strong>ira,<br />
quando ouviu:<br />
- Essa <strong>é</strong> para mim; você fica com<br />
aquela ali.<br />
- Esse gordinho <strong>é</strong> meu: aquele gordão<br />
<strong>é</strong> seu.<br />
O bêbado teve uma treme<strong>de</strong>ira:<br />
eram os agentes do diabo dividindo<br />
as almas dos mortos pecadores que<br />
iriam ser <strong>de</strong>spachados para o inferno.<br />
Saiu <strong>de</strong>sabalado, voando nas pernas<br />
meio entrevadas pelo álcool, chegando<br />
à <strong>de</strong>legacia, com a língua <strong>de</strong> fora:<br />
- Seu guarda, pelo amor <strong>de</strong> Deus,<br />
O Berro - nº 168<br />
81
vem comigo, já, já. Deus e o Diabo<br />
estão no cemit<strong>é</strong>rio, bem agora, dividindo<br />
as almas dos mortos.<br />
- Deixa disso, homem! - espinafrou<br />
o guarda. On<strong>de</strong> já se viu juntar Deus<br />
e o Diabo num <strong>lugar</strong> só.<br />
- Juro que <strong>é</strong> verda<strong>de</strong>. Carece <strong>de</strong><br />
ver. É pecado <strong>de</strong>ixar as pobres almas<br />
assim.<br />
Tanto falou que o guarda resolveu<br />
passar a limpo.<br />
- Pois vamos lá e vou avisando: se<br />
for mentira, você vai ficar três dias fechado<br />
no xadrez.<br />
Quando chegaram perto do muro,<br />
logo ouviram:<br />
- Mais um para mim; mais um para<br />
você.<br />
- Esse branquelo para mim: aquele<br />
escurinho para você.<br />
- Essa linda para mim; essa bonitinha<br />
para você.<br />
O guarda sentiu um calafrio; o bêbado<br />
estava boquiaberto, olhos esbugalhados,<br />
mal po<strong>de</strong>ndo falar:<br />
- É o dia da divisão das almas dos<br />
mortos. Ai, meu Deus, o que vem <strong>de</strong>pois?<br />
O guarda nem pestanejou:<br />
- Vem o dia do Apocalipse. Vai todo<br />
mundo morrer.<br />
Foi então que aconteceu o pior. As<br />
vozes <strong>de</strong>ram um gran<strong>de</strong> suspiro, <strong>de</strong>ntro<br />
do cemit<strong>é</strong>rio:<br />
- Ôxa, at<strong>é</strong> que enfim acabamos<br />
com esse cemit<strong>é</strong>rio. E agora? Que<br />
vamos fazer?<br />
A outra voz, mais cavernosa, cansada,<br />
rangendo, respon<strong>de</strong>u:<br />
- Agora a gente vai ali fora e pega<br />
os dois que estão pertinho no muro.<br />
Não po<strong>de</strong> ficar testemunha para contar<br />
história...<br />
O guarda e o bêbado nem ouviram<br />
o final, pois sabiam que eles eram os<br />
dois a serem divididos, agora, para o<br />
inferno. Ôxa! Desembestaram pela<br />
estrada, rumo ao boteco central, para<br />
tomar o último porre, já que o mundo<br />
ia acabar <strong>de</strong> vez, a qualquer momento.<br />
82 O Berro - nº 168