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SP João Gabriel Thomaz Queluz - Unesp

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E<strong>SP</strong>ACIALIZAÇÃO DA VULNERABILIDADE DO AQUÍFERO GUARANI NO<br />

MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO BONITO – <strong>SP</strong><br />

<strong>João</strong> <strong>Gabriel</strong> <strong>Thomaz</strong> <strong>Queluz</strong> 1 , José Ricardo Sturaro 2<br />

1<br />

Engenheiro Ambiental, IGCE, UNE<strong>SP</strong> Campus Rio Claro/DGA, queluz13@terra.com.br<br />

2<br />

Geólogo, Professor Adjunto do IGCE, UNE<strong>SP</strong> Campus Rio Claro/DGA, sturaro@rc.unesp.br<br />

Resumo - Nas áreas de recarga o aquífero Guarani é livre e, portanto, sujeito à contaminação de efluentes<br />

e rejeitos depositados sobre os solos que o cobrem. Assim, é de extrema importância não apenas sua<br />

proteção em todos os níveis, como o conhecimento do seu grau de vulnerabilidade natural. Este trabalho<br />

utilizou técnicas de modelagem geoestatística, de ampla aplicação nos estudos de avaliação de depósitos<br />

minerais e reservatórios de petróleo, para estudar a vulnerabilidade do Aquífero Guarani no município de<br />

Ribeirão Bonito - <strong>SP</strong>, local onde o aquífero encontra-se exposto. Estas técnicas foram adaptadas para<br />

elaborar uma classificação espacial dos índices de vulnerabilidade em termos probabilísticos. Utilizou-se a<br />

Krigagem ordinária para obtenção de mapas classificatórios de vulnerabilidade. A vulnerabilidade do<br />

aquífero foi determinada pelo Índice de Vulnerabilidade do Aqüífero (AVI), que requer o conhecimento da<br />

espessura da zona insaturada e da permeabilidade da mesma. O produto final gerado foi um mapa<br />

probabilístico do índice de vulnerabilidade do aquífero Guarani, que apresentou valores entre 0 a 0,33 anos,<br />

enquadrando a área estudada na classe AVI de vulnerabilidade Extremamente Alta.<br />

Palavras-chave: krigagem ordinária; índice AVI.<br />

<strong>SP</strong>ATIALIZATION OF GUARANI AQUIFER VULNERABILITY IN THE MUNICIPALITY<br />

OF RIBEIRÃO BONITO-<strong>SP</strong><br />

Abstract - In recharge areas the aquifer is free and, therefore, subject to contamination of effluents and<br />

tailings deposited on soils that cover it. Thus, it becomes crucial not only its protection at all levels, as the<br />

knowledge of its degree of natural vulnerability. The present work used geostatistics modeling techniques to<br />

study the natural vulnerability of the Guaraní aquifer in the city of Rio Bonito, State of São Paulo, Brazil,<br />

where the Guarani aquifer is exposed. These techniques were adapted to develop a spatial classification of<br />

vulnerability indices in probabilistic terms. By ordinary kriging method maps of vulnerability classification<br />

were obtained. To determine the vulnerability of the aquifer was used the Aquifer Vulnerability Index (AVI),<br />

which requires knowledge of unsaturated zone thickness and permeability. The final product was a map with<br />

probabilistic index of vulnerability of the Guaraní aquifer, which presented values between 0 to 0.33 years,<br />

framing the area studied in the extremely high vulnerability AVI class.<br />

Key words: ordinary kriging; aquifer vulnerability index.<br />

Introdução<br />

O abastecimento de água doce é realizado em sua maior parte, através da utilização das águas<br />

superficiais e com o aumento das populações houve um acréscimo exagerado na demanda pelos recursos<br />

hídricos superficiais, porém a falta de planejamento, o uso inadequado e o lançamento de esgotos sem<br />

tratamento acabou afetando negativamente a qualidade desse recurso essencial à vida. Nesse contexto é<br />

possível perceber a importância atual dos aquíferos como fonte de abastecimento de água doce para a<br />

crescente população mundial.<br />

Entretanto, nas áreas de recarga o aquífero é livre e, portanto está sujeito a contaminações. Assim,<br />

torna-se fundamental não apenas sua proteção em todos os níveis, como o conhecimento do seu grau de<br />

vulnerabilidade natural.<br />

A vulnerabilidade natural de um aquífero está em função de duas condições primárias e lógicas: 1)<br />

Acessibilidade dos fluxos de contaminantes a zona saturada; 2) Capacidade de atenuação da zona<br />

insaturada, através de reações químicas e detenção física dos contaminantes (FOSTER; HIRATA, 1988).<br />

Nas últimas duas décadas, alguns métodos de avaliação de vulnerabilidade de aqüíferos foram<br />

desenvolvidos e aprimorados por pesquisadores de diferentes países, merecendo destaque aqueles que<br />

II Simpósio de Geoestatística em Ciências Agrárias ISSN: 2236-2118 1


fazem uso de índices empíricos e semi-empíricos consagrados na literatura, como o DRASTIC (ALLER et<br />

al., 1987), o GOD (FOSTER; HIRATA, 1988) e o Índice de Vulnerabilidade do Aquífero/AVI, desenvolvido<br />

pelo National Hidrology Research Institute (NHRI), no Canadá (VON STEMPVOORT et al., 1992)<br />

Neste projeto foi utilizado o método AVI, pois diferentemente dos outros que exigem o conhecimento e a<br />

ponderação de diversas variáveis, o método AVI baseia-se apenas em dois parâmetros físicos: (1) di –<br />

espessura de cada camada litológica sedimentar acima da zona saturada; (2) Ki – condutividade hidráulica<br />

estimada de cada uma destas camadas. De posse destes dois parâmetros, calcula-se a resistência<br />

hidráulica C, ou seja, a vulnerabilidade do aquífero, conforme C = (di / Ki) .<br />

A área estudada está localizada na confluência das bacias hidrográficas dos rios Jacaré-Guaçu e<br />

Jacaré-Pepira, também denominada de “Sistema Jacaré”, na região centro-norte do Estado de São Paulo e<br />

foi selecionada por situar-ser em uma porção aflorante do Aquífero Guarani.<br />

Material e Métodos<br />

A área de estudo, situa-se próxima aos municípios de Araraquara, São Carlos e Ribeirão Bonito que<br />

estão localizados na porção central da confluência das bacias hidrográficas dos rios Jacaré-Guaçu e<br />

Jacaré-Pepira, também denominada de “Sistema Jacaré”. O referido sistema estende-se por 140 Km de<br />

comprimento (noroeste – sudeste) e 70Km de largura (norte – sul), drenando uma área correspondente a<br />

6.748Km 2 e com 447Km de perímetro. A região localiza-se na porção central do Estado de São Paulo, entre<br />

os paralelos 21º37’ e 22º31’ de latitude sul e os meridianos 47º43’ e 49º02’ de longitude oeste.<br />

Os rios Jacaré-Guaçu e Jacaré-Pepira deságuam na região do curso médio do Rio Tietê e pertencem à<br />

Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré, a qual compõe uma das 22 Unidades Hidrográficas de Gerenciamento de<br />

Recursos Hídricos (UGRHIs) do Estado de São Paulo, mais precisamente a UGRHI-13. A localização<br />

espacial da área estudada pode ser observada na Figura 1.<br />

Figura 1. Localização da área de estudo<br />

Como dito, o método AVI baseia-se em dois parâmetros físicos: (1) di – espessura de cada camada<br />

litológica sedimentar acima da zona saturada; (2) Ki – condutividade hidráulica estimada de cada uma<br />

destas camadas e a relação entre a vulnerabilidade e a resistência hidráulica é apresentada na Tabela 1.<br />

II Simpósio de Geoestatística em Ciências Agrárias ISSN: 2236-2118 2


Tabela 1. Classes de vulnerabilidade do índice AVI<br />

Resistência<br />

hidráuica<br />

(anos)<br />

log C<br />

Vulnerabilidade<br />

0 - 10 < 1 Extremamente alta<br />

10 -100 1 e 2 Alta<br />

100 - 1000 2 a 3 Moderada<br />

1000 - 10.000 3 a 4 Baixa<br />

> 10.000 > 4 Extremamente baixa<br />

Para a caracterização da espessura das camadas litológicas acima da zona saturada foram<br />

realizadas 3 etapas:<br />

1 a etapa - Caracterização da cota topográfica<br />

Nesta etapa foi elaborado um mapa da cota topográfica da área de estudo utilizando uma imagem de<br />

satélite no formato SRTM, o software Global Mapper® e técnicas geoestatísticas.<br />

Com o auxílio do software Global Mapper a imagem de satélite foi transformada em uma malha de<br />

pontos digital com o espaçamento de 100 metros entre cada ponto; após a elaboração dessa malha de<br />

pontos foram utilizadas técnicas geoestatísticas no software Surfer 8.0® para a confecção do mapa da cota<br />

topográfica.<br />

2 a etapa - Determinação da altitude do nível estático<br />

Para a caracterização da altitude do nível estático (lençol freático) foram utilizados conceitos de<br />

hidrologia e hidrogeologia. Com a utilização de cartas topográficas da área estudada na escala de 1:10000<br />

foram elaboradas tabelas com as coordenadas e as cotas dos cursos de água. Para complementar os<br />

dados extraídos das cartas topográficas, foram realizadas nas etapas de campo leituras da profundidade do<br />

nível d’água com um medidor de nível d’água. Com essas informações e a utilização das técnicas<br />

geoestatísticas foi confeccionado o mapa do nível d’água.<br />

3 a etapa - Elaboração do mapa de espessura da zona insaturada<br />

Com os dados gerados nas duas etapas anteriores e sabendo que a espessura da zona insaturada em<br />

cada ponto é a diferença entre a cota topográfica e a cota do nível d’água, o mapa da cota do nível d’água<br />

foi subtraído do mapa da cota topográfica gerando o mapa da espessura média da zona insaturada.<br />

Para a determinação da Condutividade Hidráulica (K) da área de estudo foram realizados 49 ensaios de<br />

campo em locais escolhidos aleatoriamente utilizando o Permeâmetro de Guelph.<br />

A análise geoestatítica seguiu as etapas definidas por Sturaro (1994) sendo executadas da seguinte<br />

maneira: a partir da definição da área de estudo é elaborado um levantamento das amostras<br />

georreferênciadas; é construido o histograma da(s) variável(eis) para se conhecer a forma da distribuição<br />

das mesmas; em seguida, é realizada uma análise da variabilidade espacial por meio de uma análise<br />

variográfica, ou seja, são construídos semivariogramas experimentais e, em seguida, são selacionados<br />

modelos variográficos que representem a variabilidade espacial dos dados; essas informações serão<br />

utilizadas posteriormente na análise geoestatítica usando a estimativa por krigagem ordinária.<br />

II Simpósio de Geoestatística em Ciências Agrárias ISSN: 2236-2118 3


Resultados e Discussão<br />

Para a confecção do mapa da Espessura da Zona Insaturada foram elaboradas duas superfícies<br />

distintas, uma superfície da Cota Topográfica e outra do Nível Estático. Essas duas superfícies foram<br />

subtraídas uma da outra para a confecção do mapa da Espessura da Zona Insaturada (Figura 2).<br />

7580000<br />

7575000<br />

Espessura da Zona Insaturada (m)<br />

0 to 23<br />

23 to 35<br />

35 to 46<br />

46 to 62<br />

62 to 142<br />

7570000<br />

7565000<br />

7560000<br />

7555000<br />

7550000<br />

7545000<br />

Figura 2. Superfície da espessura da zona insaturada.<br />

775000 780000 785000 790000 795000 800000 805000<br />

No mapa da Espessura da Zona Insaturada a espessura variou de 0 a 142 metros e pode-se observar na<br />

Figura 2 que os locais com a menor espessura estão relacionados com aqueles onde estão localizadas as<br />

principais drenagens.<br />

O mapa da Condutividade Hidráulica (Figura 3) foi elaborado com base em 49 ensaios realizados em<br />

campo com o Permeâmetro de Guelph. O mapa gerado apresenta valores variando entre 0,58 a 3,4 m/d.<br />

7580000<br />

7575000<br />

Permeabilidade (m/d)<br />

0.58 to 1.53<br />

1.53 to 1.681<br />

1.681 to 1.682<br />

1.682 to 1.84<br />

1.84 to 3.4<br />

7570000<br />

7565000<br />

7560000<br />

7555000<br />

7550000<br />

7545000<br />

Figura 3. Superfície da permebilidade<br />

775000 780000 785000 790000 795000 800000 805000<br />

II Simpósio de Geoestatística em Ciências Agrárias ISSN: 2236-2118 4


Uma limitação deste trabalho é a ausência do perfil estratigráfico do solo, que forneceria diferentes níveis<br />

de permeabilidade. Entretanto, os furos de 1,5 metros de profundidade realizados para os ensaios de<br />

condutividade hidráulica refletiram um solo arenoso, bem selecionado e homogêneo. Portanto, a elevada<br />

condutividade hidráulica da área estudada é reflexo da grande porcentagem de arenitos porosos<br />

relacionados às Formações Botucatu e Pirambóia.<br />

Deve-se destacar que a condutividade hidráulica é muito sensível às variações do material testado, bem<br />

como, na operação do permeâmetro para a obtenção do seu valor. Assim com uma malha relativamente<br />

rarefeita é muito difícil elaborar um mapa que represente adequadamente a condutividade hidráulica para<br />

toda área.<br />

Após a caracterização das variáveis Espessura da Zona Insaturada e Condutividade Hidráulica foi<br />

possível calcular a Resistência Hidráulica C segundo o método AVI. O cálculo foi realizado através de<br />

ferramentas de softwares gráficos como o Surfer 8.0 ® , nesse cálculo a superfície da Zona Insaturada foi<br />

dividida pela superfície da Condutividade Hidráulica gerando o mapa do índice AVI (Figura 4).<br />

O Índice AVI é medido em anos e na área de estudo variou de 0 a 0,33 anos enquadrando a área<br />

estudada na classe de vulnerabilidade do índice AVI Extremamente Alta (para valores entre 0 a 10 anos).<br />

7580000<br />

7575000<br />

7570000<br />

Índice AVI (anos)<br />

0 to 0.06<br />

0.06 to 0.12<br />

0.12 to 0.18<br />

0.18 to 0.24<br />

0.24 to 0.33<br />

7565000<br />

7560000<br />

7555000<br />

7550000<br />

7545000<br />

Figura 4. Mapa do Índice AVI.<br />

775000 780000 785000 790000 795000 800000 805000<br />

Comparando a superfície da Resistência Hidráulica com a superfície da Espessura da zona Insaturada é<br />

possível notar uma grande semelhança entre as duas. Essa semelhança demonstra a importância que a<br />

variável Espessura da Zona Insaturada apresenta em relação à Vulnerabilidade do Aquífero Guarani na<br />

área estudada.<br />

Observa-se que no mapa do Índice AVI (Figura 4) as áreas mais vulneráveis estão sobre os locais de<br />

menor espessura, ou seja, sobre as drenagens e que os locais com a maior espessura também apresentam<br />

alta vulnerabilidade devido à alta condutividade hidráulica do solo.<br />

Conclusão<br />

Os valores de vulnerabilidade do Aquífero Guarani nos entornos do município de Ribeirão Bonito, <strong>SP</strong>,<br />

determinada pelo método AVI, variaram entre 0 a 0,33 anos, alocando-a na classe de vulnerabilidade<br />

Extremamente Alta.<br />

Em grande parte da área estudada, essa alta vulnerabilidade está relacionada com a pequena espessura<br />

da zona insaturada. Nos locais com espessura mais elevada, a alta vulnerabilidade está relacionada com a<br />

alta permeabilidade da região, devido às grandes taxas de arenitos porosos das Formações Botucatu e<br />

Pirambóia.<br />

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Estes resultados sugerem que para proteger as águas do Sistema Aquífero Guarani na área estudada é<br />

de essencial importância a elaboração de planos diretores para o uso e ocupação do solo e para o uso dos<br />

recursos hídricos subterrâneos com base na vulnerabilidade do Aquífero Guarani.<br />

Referências<br />

ALLER, L.; BENNET, T.; LEHR, J. H.; PETTY, R. J.. DRASTIC: a standardized system for evaluating<br />

groundwater pollution potential using hydrogeologic settings. E.U.A.: EPA, EPA/600/2-85/018, 1987.<br />

FOSTER, S. S. D.; HIRATA, R. C. A. Groundwater pollution risk assessment: a methodology using<br />

available data. WHO-PAHO/HPE-CEPIS Technical Manual, Lima, Peru. 81pp, 1988.<br />

STURARO, J. R. Mapeamento Geoestatístico de propriedades Geológico – Geotécnicas obtidas em<br />

Sondagens de Simples Reconhecimento. Tese de Doutorado – U<strong>SP</strong> - São Carlos – <strong>SP</strong>, 1994, 183p.<br />

VON STEMPVOORT, D.; EWERT, L.; WASSENAAR, L. Aquifer Vulnerability Index : a GIS compatible<br />

method for groundwater vulnerability mapping. Canadian Water Resources Journal, vol. 18, n. 1, p. 25-<br />

37, 1992.<br />

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