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Estudos de síntese e relação estrutura-atividade (SAR) - UFRJ

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Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia<br />

Departamento <strong>de</strong> Medicamentos<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas<br />

Marcela Jaqueline Braga <strong>de</strong> Paiva<br />

ESTUDOS DE SÍNTESE E RELAÇÃO<br />

ESTRUTURA-ATIVIDADE (<strong>SAR</strong>) DE NOVAS<br />

BENZILTIOUREIAS DERIVADAS DO<br />

ISOTIOCIANATO DE BENZILA (BITC) COM<br />

ATIVIDADE LARVICIDA FRENTE AO<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2011


ii<br />

Marcela Jaqueline Braga <strong>de</strong> Paiva<br />

ESTUDOS DE SÍNTESE E RELAÇÃO ESTRUTURA-<br />

ATIVIDADE (<strong>SAR</strong>) DE NOVAS BENZILTIOUREIAS<br />

DERIVADAS DO ISOTIOCIANATO DE BENZILA (BITC)<br />

COM ATIVIDADE LARVICIDA FRENTE AO<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada ao Programa<br />

<strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas,<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, como um dos requisitos parciais<br />

necessários à obtenção do Título <strong>de</strong> Mestre em<br />

Ciências Farmacêuticas.<br />

Orientador: Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues (FF – <strong>UFRJ</strong>)<br />

Co-orientador: Prof. Dr. Lucio Men<strong>de</strong>s Cabral (FF – <strong>UFRJ</strong>)<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2011


iii<br />

FICHA CATALOGRÁFICA<br />

P149e<br />

Paiva, Marcela Jaqueline Braga <strong>de</strong>.<br />

<strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> Síntese e Relação Estrutura-Ativida<strong>de</strong> (<strong>SAR</strong>) <strong>de</strong><br />

Novas Benziltioureias Derivadas do Isotiocianato <strong>de</strong> Benzila<br />

(BITC) com Ativida<strong>de</strong> Larvicida frente a Ae<strong>de</strong>s aegypti / Marcela<br />

Jaqueline Braga <strong>de</strong> Paiva. Orientador: Carlos Rangel<br />

Rodrigues; co-orientador: Lucio Men<strong>de</strong>s Cabral. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

<strong>UFRJ</strong>, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia, 2011.<br />

xx, 128f.: il.; 30 cm<br />

Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) –<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Farmácia, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2011.<br />

Inclui bibliografia.<br />

1. Ae<strong>de</strong>s aegypti. 2. BITC 3. Tioureias. 4.<strong>SAR</strong>. I. Rodrigues,<br />

Carlos Rangel II. Cabral, Lucio Men<strong>de</strong>s<br />

CDD 615.19


iv<br />

Marcela Jaqueline Braga <strong>de</strong> Paiva<br />

ESTUDOS DE SÍNTESE E RELAÇÃO ESTRUTURA-<br />

ATIVIDADE (<strong>SAR</strong>) DE NOVAS BENZILTIOUREIAS<br />

DERIVADAS DO ISOTIOCIANATO DE BENZILA (BITC) COM<br />

ATIVIDADE LARVICIDA FRENTE AO<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada ao Programa<br />

<strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas,<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, como um dos requisitos parciais<br />

necessários à obtenção do Título <strong>de</strong> Mestre em<br />

Ciências Farmacêuticas.<br />

Aprovada em 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2011.<br />

_____________________________________________<br />

Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues – FF - <strong>UFRJ</strong><br />

_____________________________________________<br />

Prof. Dr. Lucio Men<strong>de</strong>s Cabral – FF – <strong>UFRJ</strong><br />

_____________________________________________<br />

Profa. Dra. Estela Maris Freitas Muri – FF - UFF<br />

_____________________________________________<br />

Profa. Dra. Luiza Rosaria Sousa Dias – FF - UFF<br />

_____________________________________________<br />

Profa. Dra. Valéria Pereira <strong>de</strong> Sousa – FF - <strong>UFRJ</strong>


v<br />

Aos meus anjos protetores, encarnados<br />

e <strong>de</strong>sencarnados, <strong>de</strong>dico esse trabalho.


vi<br />

“Conce<strong>de</strong>i-me, Senhor, a serenida<strong>de</strong> necessária para aceitar o que não posso<br />

modificar, a coragem para modificar o que posso, e a sabedoria para distinguir<br />

um do outro, vivendo um dia <strong>de</strong> cada vez, <strong>de</strong>sfrutando um momento <strong>de</strong> cada<br />

vez, aceitando as dificulda<strong>de</strong>s como um caminho para alcançar a paz...”<br />

Reinhold Niebuhr


vii<br />

AGRADECIMENTOS<br />

A Deus, a Jesus e a toda a espiritualida<strong>de</strong> amiga, que me levantaram nas<br />

quedas e que me sustentaram durante toda a minha vida e que, nos períodos em que<br />

mais precisei, me carregaram no colo amorosamente, agra<strong>de</strong>ço infinitamente.<br />

A minha mãe, meu pai, meus irmãos e sobrinhos, pelo ombro amigo e pelo<br />

colo nas horas mais difíceis, registro aqui minha gratidão, que muitas vezes não<br />

verbalizei.<br />

Ao meu marido que, mesmo achando que tudo era muito fácil, nunca <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> estar ao meu lado quando o <strong>de</strong>sânimo e a <strong>de</strong>scrença vinham me visitar, agra<strong>de</strong>ço<br />

<strong>de</strong> coração. Sua simplicida<strong>de</strong> fez acreditar que as coisas não eram tão difíceis assim.<br />

Aos meus orientadores, Carlos Rangel e Lucio Cabral, pela paciência e<br />

compreensão e por não <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> acreditar na capacida<strong>de</strong> que, muitas vezes, eu<br />

não sabia que existia em mim, serei eternamente grata.<br />

Aos meus amigos queridos, Gil Viana e Lívia Rubatino, por toda ajuda e pelo<br />

tempo dispendido ao meu lado, ajudando-me, dando-me forças e, até mesmo, me<br />

carregando nos braços, sempre dizendo: “Vamos lá, você consegue”. Amo vocês<br />

amigos, e não conheço palavras capazes <strong>de</strong> expressar todo o meu amor e gratidão.<br />

Aos queridos companheiros do LabModMol, Uiaran, Ilídio e Ana Carolina por<br />

tudo o que fizeram por mim e pelas minhas tioureias. Sem a ajuda <strong>de</strong> vocês, esse<br />

trabalho não teria sido possível. Muito, muito obrigada.<br />

À querida professora e, muitas vezes, orientadora, Lucia Sequeira, por sua<br />

boa vonta<strong>de</strong> ao esclarecer minhas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> dúvidas, pelo carinho e pelas palavras<br />

<strong>de</strong> apoio e coragem, <strong>de</strong>ixo aqui registrada minha gratidão.<br />

À professora Glória Braz, e à Larissa Rezen<strong>de</strong>, do Laboratório <strong>de</strong> Vetores <strong>de</strong><br />

Doenças, por todo o auxílio, pela presteza e por possibilitarem a realização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>de</strong>sse trabalho, meus sinceros agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

À professora Gisela Dellamora, por sua compreensão, atenção e<br />

benevolência <strong>de</strong> sempre: muito obrigada.


viii<br />

Ao meu chefe e amigo, Luiz Eduardo Ghetti, por acreditar em mim e na minha<br />

capacida<strong>de</strong>, serei sempre grata.<br />

Aos colaboradores da Secretaria <strong>de</strong> Pós-Graduação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Farmácia, Thiago e Marcelo, pela presteza, sorriso e boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sempre, <strong>de</strong>ixo<br />

meu sincero agra<strong>de</strong>cimento.<br />

Aos colegas do Laboratório <strong>de</strong> Tecnologia Farmacêutica, pela camaradagem<br />

e pela ajuda sempre que foi necessário. Valeu, galera!<br />

À bibliotecária Flor, pela Ficha Catalográfica.<br />

A todos os meus amigos e familiares, que nunca me abandonaram, mesmo<br />

quando nem eu mais acreditava em mim, minha profunda gratidão.<br />

A todos aqueles que, seja em oração, gestos, olhares, palavras e<br />

pensamentos, estiveram ao meu lado: muito, muito, muito obrigada.


ix<br />

RESUMO<br />

PAIVA, Marcela Jaqueline Braga. <strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> <strong>síntese</strong> e <strong>relação</strong> <strong>estrutura</strong>-ativida<strong>de</strong><br />

(<strong>SAR</strong>) <strong>de</strong> novas benziltioureias <strong>de</strong>rivadas do isotiocianato <strong>de</strong> benzila (BITC) com<br />

ativida<strong>de</strong> larvicida frente ao Ae<strong>de</strong>s aegypti. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2011. Dissertação<br />

(Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia, Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2011.<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti é o vetor <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> doenças negligenciadas<br />

como Febre Amarela, Febre do Chikungunya e Dengue. Consi<strong>de</strong>rando-se que ainda<br />

não foram <strong>de</strong>senvolvidos medicamentos eficientes para o combate à Dengue; que se<br />

faz necessário intensificarem-se as ações <strong>de</strong> prevenção e combate ao vetor; que a<br />

resistência dos insetos aos inseticidas aumenta a cada dia e que o combate se torna<br />

mais efetivo quando realizado na fase larvar do inseto, o presente trabalho visa a<br />

<strong>de</strong>monstrar a ativida<strong>de</strong> do BITC e <strong>de</strong> suas tioureias <strong>de</strong>rivadas frente a larvas <strong>de</strong><br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti. Foram utilizadas larvas <strong>de</strong> 3º estádio (L 3 ) obtidas a partir <strong>de</strong> ovos <strong>de</strong><br />

fêmeas sadias <strong>de</strong> uma criação cíclica. Foi avaliada a estabilida<strong>de</strong> do BITC frente a<br />

diferentes excipientes, que po<strong>de</strong>riam compor uma futura formulação inseticida <strong>de</strong><br />

BITC ou benziltioureia. Além disso, as moléculas foram estudadas quanto à <strong>relação</strong><br />

<strong>estrutura</strong>-ativida<strong>de</strong>. Foram obtidos parâmetros <strong>estrutura</strong>is e estereoeletrônicos e os<br />

mesmos correlacionados com a ativida<strong>de</strong>. O efeito dos substituintes no anel fenila da<br />

substituição R 1 das N-benzil,N’-feniltioureias na ativida<strong>de</strong> também foi avaliado. Os<br />

resultados <strong>de</strong>monstraram que as tioureias, embora possuam maior estabilida<strong>de</strong><br />

química que o BITC são menos ativas. As benziltioureias mais ativas foram as<br />

moléculas 24 (N-benzil,N’-(2,6-dimetilfenil)tioureia) e 27 (N-benzil,N’-(α-naftil) tioureia),<br />

ambas com R 1<br />

= aromático dissubstituído. As análises <strong>de</strong> <strong>SAR</strong> e mo<strong>de</strong>lagem


x<br />

molecular <strong>de</strong>monstraram não haver cor<strong>relação</strong> clara e direta com os valores <strong>de</strong> HBD,<br />

HBA, momento dipolo molecular e energia dos orbitais <strong>de</strong> fronteira HOMO e LUMO<br />

com a ativida<strong>de</strong> larvicida. Por outro lado, os valores <strong>de</strong> pKa, clogP, distribuição das<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO e <strong>de</strong> LUMO, presença <strong>de</strong> substituintes nas posições 2, 4 e 6 do<br />

anel fenila da substituição R 1 das N-benzil,N’-feniltioureias parecem estar<br />

relacionados à maior ativida<strong>de</strong> larvicida, mostrando que valores <strong>de</strong> pKa e clogP em<br />

torno <strong>de</strong> 15 e 3, respectivamente, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO sobre o anel aromático,<br />

restrição conformacional orto,orto, presença <strong>de</strong> substituinte em para doador <strong>de</strong><br />

elétrons com baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar ligações hidrogênio levariam a uma<br />

benziltioureia mais atival, que po<strong>de</strong>ria ser o composto 24b (N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-<br />

metóxifenil)tioureia), ainda não sintetizado.<br />

Palavras-chave: Ae<strong>de</strong>s aegypti, BITC, tioureias, <strong>SAR</strong>.


xi<br />

ABSTRACT<br />

PAIVA, Marcela Jaqueline Braga. <strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> <strong>síntese</strong> e <strong>relação</strong> <strong>estrutura</strong>-ativida<strong>de</strong><br />

(<strong>SAR</strong>) <strong>de</strong> novas benziltioureias <strong>de</strong>rivadas do isotiocianato <strong>de</strong> benzila (BITC) com<br />

ativida<strong>de</strong> larvicida frente ao Ae<strong>de</strong>s aegypti. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2011. Dissertação<br />

(Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia, Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2011.<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti is the transmission vector of neglected diseases like<br />

Yellow Fever, Chikungunya Fever and Dengue. Consi<strong>de</strong>ring that are no effective<br />

drugs to combat Dengue; that is necessary to intensify the prevention and vector<br />

control; that the insects resistance to insectici<strong>de</strong>s increases every day and that the<br />

fight becomes more effective when performed in the larval stage of the insect, this<br />

work studies the activity of benzyl isothiocyanate (BITC) and its thiourea <strong>de</strong>rivatives<br />

against Ae<strong>de</strong>s aegypti larvae. Third instar larvae (L 3 ) obtained from healthy eggs from<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti females of a breeding cycle were used. The BITC stability against<br />

different excipients, which might constitute a future formulation<br />

for BITC or<br />

benzilthiourea insectici<strong>de</strong> was evalueted. In addition, the molecules were studied on<br />

their structure-activity relationship. The structural and stereoelectronic parameters<br />

obtained were correlated with the activity. The effect of substituents of phenyl ring of<br />

the R 1 substitution of the N-benzyl,N'-phenylthioureas on activity was also evaluated.<br />

The results showed that the thioureas, although have greater chemical stability that<br />

BITC, are less active. The molecules 24 (N-benzyl,N’-(2,6-dimethylphenyl)thiourea)<br />

and 27 (N-benzyl,N’-(α-naphthyl)thiourea), were the most active benzyllthiourea, both<br />

with R 1<br />

= aromatic ring disubstituted. The <strong>SAR</strong> analysis and molecular mo<strong>de</strong>ling<br />

showed no clear and direct correlation between the values of HBD, HBA, molecular


xii<br />

dipole moment and energy of the frontier orbitals HOMO and LUMO and the larvicidal<br />

activity. On the other hand, the pKa and clogP values, the distribution of <strong>de</strong>nsities of<br />

HOMO and LUMO, the presence of substituents in positions 2, 4 and 6 of phenyl ring<br />

of <strong>de</strong> substitution of the R 1 substitution of N-benzyl,N'-phenylthioureas seem to be<br />

related to higher larvicidal activity, indicating that pKa and clogP values next to 15 and<br />

3, respectively, HOMO <strong>de</strong>nsity on the aromatic ring, ortho,ortho conformational<br />

restriction and presence of para substituent electron donor with low ability to form<br />

hydrogen bonds would lead to an more active benzylthiourea, that could be the 24b<br />

(N-benzyl, N'-(2,6-dimethyl ,4-methoxyphenyl)thiourea), not synthesized yet.<br />

Keywords: Ae<strong>de</strong>s aegypti, BITC, thiourea, <strong>SAR</strong>.


xiii<br />

ÍNDICE DE FIGURAS<br />

Figura 1.<br />

Mapa <strong>de</strong> distribuição das doenças tropicais negligenciadas (DTN) no<br />

mundo............................................................................................................. 22<br />

Figura 2. Comportamento do mercado farmacêutico mundial frente às doenças......... 24<br />

Figura 3. Estádios evolutivos do Ae<strong>de</strong>s aegypti – fase aquática................................... 26<br />

Figura 4. Distribuição global do vírus Chikungunya em 2007........................................ 31<br />

Figura 5.<br />

Distribuição mundial <strong>de</strong> países ou áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong><br />

Dengue, 2008................................................................................................. 34<br />

Figura 6. Classificação das áreas <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> à Dengue no Brasil, 2010/2011. 34<br />

Figura 7.<br />

Áreas <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> à Dengue em bairros do município do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro............................................................................................................ 35<br />

Figura 8. Taxa <strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> Dengue. Brasil e gran<strong>de</strong>s regiões, 1990-2010.......... 38<br />

Figura 9. Mortes confirmadas por Dengue <strong>de</strong> 1990 a 2010.......................................... 38<br />

Figura 10. Inseticidas reguladores do crescimento do inseto (IGR)................................ 41<br />

Figura 11. Estruturas químicas <strong>de</strong> alguns inseticidas organoclorados............................ 44<br />

Figura 12. Estruturas químicas <strong>de</strong> alguns inseticidas organofosforados......................... 45<br />

Figura 13. Estruturas químicas <strong>de</strong> alguns inseticidas carbamatos.................................. 46<br />

Figura 14. Piretrinas naturais........................................................................................... 47<br />

Figura 15. Estruturas químicas das diferentes gerações <strong>de</strong> inseticidas piretrói<strong>de</strong>s........ 49<br />

Figura 16.<br />

Hidrólise do glicosinolato <strong>de</strong> benzila catalisada pela mirosinase,<br />

produzindo BITC............................................................................................. 56<br />

Figura 17. Molécula <strong>de</strong> ureia........................................................................................... 56<br />

Figura 18. Formas tautoméricas das tioureias................................................................. 57<br />

Figura 19. Estrutura geral das tioureias e padrões <strong>de</strong> substituição................................. 58<br />

Figura 20. Obtenção <strong>de</strong> tioureia a partir <strong>de</strong> isotiocianato................................................ 59


xiv<br />

Figura 21.<br />

Figura 22.<br />

Ilustração do afunilamento <strong>de</strong> candidatos a um novo fármaco na fase <strong>de</strong><br />

P&D................................................................................................................ 60<br />

Representação <strong>de</strong> uma molécula utilizando princípios <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem<br />

molecular........................................................................................................ 62<br />

Figura 23. Posição <strong>de</strong> substituição das benziltioureias estudadas.................................. 74<br />

Figura 24. Método <strong>de</strong> obtenção das benziltioureias estudadas....................................... 78<br />

Figura 25. Estrutura geral das benziltioureias estudadas................................................ 78<br />

Figura 26. Soluções utilizadas na avaliação da ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC................... 89<br />

Figura 27. Ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC............................................................................ 90<br />

Figura 28. Mo<strong>de</strong>los gráficos para a molécula <strong>de</strong> BITC.................................................... 100<br />

Figura 29. Conformações <strong>de</strong> menor energia das benziltioureias estudadas................... 101<br />

Figura 30. Conformação mais estável das benziltioureias mais ativas........................... 102<br />

Figura 31. Mapas <strong>de</strong> potencial eletrostático molecular (MEP) das<br />

benziltioureias estudadas............................................................................... 103<br />

Figura 32.<br />

Figura 33.<br />

Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO das benziltioureias estudadas codificadas sobre<br />

uma superfície <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals................................................................... 105<br />

Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO das benziltioureias estudadas, geradas em uma<br />

superfície <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica constante <strong>de</strong> 0,002 e/ua 3 ........................ 107<br />

Figura 34. Conformações <strong>de</strong> menor energia das benziltioureias propostas.................... 110<br />

Figura 35.<br />

Figura 36.<br />

Figura 37.<br />

Mapas <strong>de</strong> potencial eletrostático molecular (MEP) das benziltioureias<br />

propostas........................................................................................................ 111<br />

Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO das benziltioureias propostas codificadas sobre<br />

uma superfície <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals................................................................... 112<br />

Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO das benziltioureias propostas, geradas em uma<br />

superfície <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica constante <strong>de</strong> 0,002 e/ua 3 ........................ 113


xv<br />

ÍNDICE DE QUADROS<br />

Quadro 1. Histórico da Febre Amarela no Brasil <strong>de</strong> 1685 a 1998.................................. 29<br />

Quadro 2. Ativida<strong>de</strong>s biológicas das tioureias e <strong>de</strong>rivados............................................ 58<br />

Quadro 3. Benziltioureias com R 1 alifático..................................................................... 79<br />

Quadro 4. Benziltioureias com R 1 saturado alicíclico ou heterocíclico.......................... 79<br />

Quadro 5. Benziltioureias com R 1 aromático não-substituído........................................ 80<br />

Quadro 6. Benziltioureias com R 1 aromático orto-substituído........................................ 80<br />

Quadro 7. Benziltioureias com R 1 aromático meta-substituído...................................... 80<br />

Quadro 8. Benziltioureias com R 1 aromático para-substituído....................................... 81<br />

Quadro 9. Benziltioureias com R 1 aromático dissubstituído........................................... 81<br />

Quadro 10. Diferenças entre o protocolo OMS e a metodologia utilizada....................... 83<br />

ÍNDICE DE ESPECTROS DE RMN 1 H<br />

Espectro 1. BITC............................................................................................................ 87<br />

Espectro 2. Polyquart H ® em DMSO.............................................................................. 87<br />

Espectro 3. Polyquart H ® + BITC.................................................................................... 88


xvi<br />

ÍNDICE DE TABELAS<br />

Tabela 1. Excipientes testados com o BITC................................................................. 86<br />

Tabela 2.<br />

Comparação entre ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias e suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s físico-químicas........................................................................ 95<br />

Tabela 3.<br />

Comparação entre ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias e suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s eletrônicas moleculares teóricas............................................. 96<br />

Tabela 4. Proprieda<strong>de</strong>s moleculares teóricas das benziltioureias propostas............... 109<br />

Tabela 5. Teste larvicida para a benziltioureia 24a'...................................................... 115<br />

ÍNDICE DE EQUAÇÕES<br />

Equação 1. Energia total do sistema................................................................................ 63<br />

Equação 2. Coeficiente <strong>de</strong> Partição................................................................................. 71<br />

Equação 3. Fórmula <strong>de</strong> Abbot.......................................................................................... 84


xvii<br />

LISTA DE ABREVIATURAS<br />

AChE - Acetilcolinesterase<br />

AHJ - Análogo do Hormônio Juvenil<br />

AM1 - Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Austin 1 (Austin Mo<strong>de</strong>l 1)<br />

AMBER - Mo<strong>de</strong>lo assistido <strong>de</strong> construção e refinamento energético (Assisted Mo<strong>de</strong>l<br />

Building and Energy Refinement)<br />

BHC - Benzeno Hexacloro<br />

BITC - Isotiocianato <strong>de</strong> Benzila (Benzyl Isotiocyanate)<br />

BPU - Benzoil Fenil Ureias (Benzoyl Phenyl Urheas)<br />

Bs - Bacillus sphaericus<br />

Bti - Bacillus thuringiensis var israelensis<br />

CADD - Design <strong>de</strong> Fármacos Auxiliado por Computador (Computer-Ai<strong>de</strong>d Drug Design)<br />

CCF - Cromatografia em Camada Fina<br />

CDC - Centros Americanos <strong>de</strong> Controle e Prevenção <strong>de</strong> Doenças (Centers for Disease<br />

Control and Prevention)<br />

CHIKV - Vírus Chikungunya<br />

CL 50 - Concentração Letal para 50% da população<br />

CL 99 - Concentração Letal para 99% da população<br />

CLAE - Cromatografia Líquida <strong>de</strong> Alta Eficiência<br />

clogP - logP calculado (Calculated logP)<br />

DDT - Dicloro-Difenil-Tricloroetano<br />

DENV - Virus Dengue<br />

DTN - Doenças Tropicais Negligenciadas<br />

ELISA - Teste ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay)<br />

FAO - Organização Mundial <strong>de</strong> Alimentos e Agricultura (Food and Agriculture<br />

Organization)<br />

FDA - Agência Americana <strong>de</strong> Alimentos e Drogas (Food and Drugs Agency)<br />

FHD - Febre Hemorrágica da Dengue<br />

GABA - Ácido Gama Amino Butírico (Gamma Amino Butyric Acid)<br />

GCDPPH - Grupo <strong>de</strong> Colaboração para o Desenvolvimento <strong>de</strong> Pesticidas para Saú<strong>de</strong><br />

Pública (Global Colaboration for Development of Pestici<strong>de</strong>s for Public Health)<br />

GSH - Glutation reduzido<br />

HBA - Aceptor <strong>de</strong> Ligação Hidrogênio (Hydrogen Bond Acceptor)<br />

HBD - Doador <strong>de</strong> Ligação Hidrogênio (Hydrogen Bond Donnor)<br />

HIV - Vírus da Imuno<strong>de</strong>ficiência Humana (Human Immuno<strong>de</strong>ficiency Virus)<br />

HOMO - Orbital Molecular Ocupado <strong>de</strong> Maior Energia (Highest Occupied Molecular<br />

Orbital)


IDH - Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano<br />

IGR - Regulador <strong>de</strong> Crescimento do Inseto (Insect Growth Regulator)<br />

L3 - Larva <strong>de</strong> 3º estádio<br />

LUMO - Orbital molecular não-ocupado (Lowest Unoccupied Molecular Orbital)<br />

MEP - Potencial Eletrostático Molecular (Molecular Eletrostatic Potential)<br />

MM - Mecânica Molecular<br />

MNDO - Negligência modificada da sobreposição diferencial (Modified Neglect of<br />

Differential Overlap)<br />

xviii<br />

MoReNAa - Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Monitoramento da Resistência do Ae<strong>de</strong>s aegypti a Inseticidas<br />

MW - Massa Molecular (Molecular Weight)<br />

NAS - Aca<strong>de</strong>mia nacional <strong>de</strong> ciências (National Aca<strong>de</strong>my of Sciences – USA)<br />

OMS - Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

OPAS - Organização Pan-Americana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento<br />

PEAa - Programa <strong>de</strong> Erradicação do Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

PhRMA - Pesquisadores e fabricantes farmacêuticos da América (Pharmaceutical<br />

Research and Manufaturers of America)<br />

PIACD - Plano <strong>de</strong> Intensificação das Ações <strong>de</strong> Controle da Dengue<br />

pKa - - log Ka (Parâmetro para Grau <strong>de</strong> Ionização)<br />

PM3 - Método Paramétrico 3 (Parametric Method 3)<br />

PNCD - Programa Nacional <strong>de</strong> Controle da Dengue<br />

PNH - Primatas Não Humanos<br />

Q<strong>SAR</strong> - Relação Quantitativa Estrutura-Ativida<strong>de</strong> (Quantitative Structure-Activity<br />

Relationship)<br />

QSPR - Relação Quantitativa Estrutura-Proprieda<strong>de</strong> (Quantitative Structure-Property<br />

Relationship)<br />

<strong>SAR</strong> - Relação Estrutura-Ativida<strong>de</strong> (Structure-Activity Relationship)<br />

SCF - Campo auto-consistente (Self-Consistent Field)<br />

STO - Orbitais tipo Slater (Slater Type Orbitals)<br />

TMS - Tetrametilsilano<br />

WDI - Índice Mundial <strong>de</strong> Drogas (World Drug In<strong>de</strong>x)<br />

WHO - Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (World Health Organization)<br />

WHOPES - Esquema <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> pesticidas da Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (WHO<br />

Pestici<strong>de</strong> Evaluation Shemme)<br />

YFV - Vírus da Febre Amarela (Yellow Fever Virus)


xix<br />

SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO 22<br />

1.1 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS 22<br />

1.2 ARBOVIROSES E Ae<strong>de</strong>s aegypti 24<br />

1.2.1 Febre Amarela 28<br />

1.2.2 Febre do Chikungunya 31<br />

1.2.3 Dengue 32<br />

1.3 CONTROLE DE VETORES 39<br />

1.3.1 Controle Biológico 40<br />

1.3.2 Controle Químico 42<br />

1.3.2.1 Organoclorados 42<br />

1.3.2.2 Organofosforados 44<br />

1.3.2.3 Carbamatos 45<br />

1.3.2.4 Piretrói<strong>de</strong>s 46<br />

1.4 RESISTÊNCIA A INSETICIDAS 50<br />

1.4.1 Redução na Taxa <strong>de</strong> Penetração 50<br />

1.4.2 Resistência Metabólica 51<br />

1.4.3 Alteração do Sítio-Alvo 51<br />

1.5 ESTRATÉGIAS BRASILEIRAS DE COMBATE À DENGUE 52<br />

1.6 GLICOSINOLATOS E ISOTIOCIANATOS 55<br />

1.7 TIOUREIAS 56<br />

1.7.1 Método <strong>de</strong> Obtenção <strong>de</strong> Tioureias 59<br />

1.8 RELAÇÕES ESTRUTURA-ATIVIDADE 59<br />

1.9 MÉTODOS DE CÁLCULO DE MODELAGEM MOLECULAR 61<br />

1.9.1 Mecânica Molecular 62<br />

1.9.2 Mecânica Quântica 64<br />

1.9.2.1 Métodos Quânticos ab initio 64


xx<br />

1.9.2.1.1 Função <strong>de</strong> base 65<br />

1.9.2.2 Métodos Quânticos Semi-Empíricos 67<br />

1.9.3 Descritores Moleculares 68<br />

1.9.3.1 Energia dos Orbitais <strong>de</strong> Fronteira – HOMO e LUMO 68<br />

1.9.3.2 Densida<strong>de</strong> dos Orbitais <strong>de</strong> Fronteira 69<br />

1.9.3.3 Momento Dipolo Molecular 69<br />

1.9.3.4 Parâmetros Energéticos 69<br />

1.9.3.5 Mo<strong>de</strong>los Gráficos 70<br />

1.9.3.5.1 Mapa <strong>de</strong> Potencial Eletrostático Molecular (MEP) 70<br />

1.9.3.5.2 Mapa <strong>de</strong> Densida<strong>de</strong> Eletrônica do LUMO 71<br />

1.9.3.5.3 Mapa <strong>de</strong> Densida<strong>de</strong> Eletrônica do HOMO 71<br />

1.9.4 Parâmetros Farmacocinéticos in silico 71<br />

1.9.4.1 Coeficiente <strong>de</strong> Partição 71<br />

2 JUSTIFICATIVA 73<br />

3 OBJETIVOS 74<br />

3.1 OBJETIVO GERAL 74<br />

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 74<br />

4 MATERIAL E MÉTODOS 75<br />

4.1 MATERIAL 75<br />

4.2 MÉTODOS 76<br />

4.2.1 Avaliação da Estabilida<strong>de</strong> do BITC 76<br />

4.2.2 Síntese das Benziltioureias 77<br />

4.2.3 Tioureias utilizadas neste trabalho 78<br />

4.2.4 Avaliação da Ativida<strong>de</strong> Larvicida do BITC e das Benziltioureias Estudadas 82


xxi<br />

4.2.5 Análise dos Dados 84<br />

4.2.6 <strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> <strong>SAR</strong> e Mo<strong>de</strong>lagem Molecular 84<br />

4.2.7 Síntese das Benziltioureias sugeridas por <strong>SAR</strong> 85<br />

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 86<br />

5.1 ESTABILIDADE DO BITC FRENTE A DIFERENTES EXCIPIENTES 86<br />

5.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE LARVICIDA DO BITC 89<br />

5.3 ESTUDOS DE <strong>SAR</strong> E MODELAGEM MOLECULAR 93<br />

5.4 IDEALIZAÇÃO DAS NOVAS BENZILTIOUREIAS A SEREM SINTETIZADAS 108<br />

5.5 SÍNTESE DAS NOVAS BENZILTIOUREIAS 113<br />

5.6 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE LARVICIDA DA NOVA BENZILTIOUREIA 115<br />

6 CONCLUSÕES 116<br />

7 REFERÊNCIAS 117


22<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

1.1 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS<br />

Segundo a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), as doenças negligenciadas<br />

são “um conjunto <strong>de</strong> doenças associadas à situação <strong>de</strong> pobreza, às precárias<br />

condições <strong>de</strong> vida e às iniquida<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>”. Po<strong>de</strong>-se dizer que doenças<br />

negligenciadas são doenças que prevalecem em condições <strong>de</strong> pobreza, mas também<br />

são importantes para que o quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> seja mantido, visto que atrasam<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento dos países (DECIT/MS, 2010).<br />

Os principais países com os mais baixos índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

(IDH) e maior prevalência <strong>de</strong> doenças tropicais negligenciadas (DTN) estão<br />

localizados em regiões tropicais e subtropicais do mundo (Figura 1). O Brasil possui o<br />

70 o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano (IDH) do mundo. Nove das <strong>de</strong>z doenças<br />

tropicais negligenciadas estabelecidas pela OMS estão presentes no Brasil<br />

(LINDOSO e LINDOSO, 2009).<br />

Figura 1 – Mapa <strong>de</strong> distribuição das doenças tropicais negligenciadas (DTN) no mundo.<br />

Fonte: Adaptado 5 DTN <strong>de</strong> LINDOSO 6 DTN e LINDOSO, 7 DTN 2009<br />

Figura 1 – Mapa <strong>de</strong> distribuição das doenças tropicais negligenciadas (DTN) no mundo.<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> LINDOSO e LINDOSO, 2009


23<br />

Leishmaniose, tuberculose, <strong>de</strong>ngue e hanseníase estão presentes na maioria<br />

dos estados do território brasileiro. Mais <strong>de</strong> 90% dos casos <strong>de</strong> malária ocorrem na<br />

região norte do país, enquanto a filariose linfática e a oncocercose ocorrem em surtos<br />

em <strong>de</strong>terminadas regiões. As regiões norte e nor<strong>de</strong>ste do Brasil possuem o menor<br />

IDH e as maiores taxas <strong>de</strong> DTN. Malária e tuberculose po<strong>de</strong>m ser citadas como<br />

doenças negligenciadas, enquanto <strong>de</strong>ngue, doença <strong>de</strong> Chagas, esquistossomose,<br />

hanseníase, leishmaniose, doença do sono e oncocercose são exemplos <strong>de</strong> doenças<br />

conhecidas como “extremamente negligenciadas”. De acordo com dados da OMS,<br />

mais <strong>de</strong> um bilhão <strong>de</strong> pessoas estão infectadas com uma ou mais doenças<br />

negligenciadas, número este que representa cerca <strong>de</strong> um sexto da população mundial<br />

(MENDONÇA, SOUZA e DUTRA, 2009; LINDOSO e LINDOSO, 2009).<br />

Apesar do financiamento oferecido às pesquisas relacionadas às doenças<br />

negligenciadas, nem todo o conhecimento produzido é revertido em avanços<br />

terapêuticos, tais como novos métodos diagnósticos, fármacos e vacinas. Uma razão<br />

para esse quadro é o baixo interesse da indústria farmacêutica no assunto, que po<strong>de</strong><br />

ser justificado pelo baixo potencial <strong>de</strong> retorno lucrativo para a indústria, haja vista que<br />

a população atingida é, principalmente, <strong>de</strong> baixa renda e vive nos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Estes países, que representam 80% da população mundial,<br />

respon<strong>de</strong>m por apenas 20% do mercado <strong>de</strong> medicamentos. Menos <strong>de</strong> 1% dos mais<br />

<strong>de</strong> 1300 novos medicamentos <strong>de</strong>senvolvidos nos últimos vinte e cinco anos foram<br />

<strong>de</strong>stinados a essas doenças.<br />

Cerca <strong>de</strong> 90% dos recursos para pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento no setor<br />

farmacêutico são <strong>de</strong>stinados a medicamentos contra doenças que atingem 10% da<br />

população mundial, como hipertensão e diabetes (Figura 2). Para a população dos<br />

países em <strong>de</strong>senvolvimento, esse <strong>de</strong>sequilíbrio existente entre suas necessida<strong>de</strong>s e a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicamentos é muito prejudicial. A doença do sono, por exemplo,<br />

atinge quinhentas mil pessoas e ameaça outras sessenta milhões na África. Apesar<br />

disso, até pouco tempo atrás, os pacientes tinham como única alternativa <strong>de</strong> cura um<br />

tratamento à base <strong>de</strong> arsênico que, além <strong>de</strong> doloroso, matava uma a cada vinte<br />

pessoas que se submetiam a ele. Já a <strong>de</strong>ngue atinge cerca <strong>de</strong> cinquenta milhões <strong>de</strong><br />

pessoas em mais <strong>de</strong> cem países. A malária, para a qual não há cura 100% eficaz,<br />

infecta mais <strong>de</strong> trezentos milhões e mata um milhão <strong>de</strong> pessoas a cada ano<br />

(MENDONÇA, SOUZA e DUTRA, 2009; LINDOSO e LINDOSO, 2009).


24<br />

Figura 2 – Comportamento do mercado farmacêutico mundial frente às doenças<br />

Fonte: www.dndi.org.br. Acessado em 27/06/2011<br />

1.2 ARBOVIROSES E Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

O clima tropical do Brasil favorece a disseminação das chamadas arboviroses,<br />

doenças transmitidas por picadas, secreções ou contato com insetos, principalmente<br />

aqueles da família Culicidae, os mais importantes hematófagos com gran<strong>de</strong><br />

adaptabilida<strong>de</strong> biológica, fato que permite sua existência na Terra há mais <strong>de</strong> 30<br />

milhões <strong>de</strong> anos (NEVES, 2005).<br />

As arboviroses representam um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> doenças infecciosas<br />

emergentes e ressurgentes em humanos e animais. Os arbovírus, vírus transmitidos<br />

por esses insetos, po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados incomuns pelo fato <strong>de</strong> se replicarem em<br />

diferentes hospe<strong>de</strong>iros, como vertebrados e artrópo<strong>de</strong>s. Essa característica peculiar<br />

leva a uma infecção vitalícia persistente nos artrópo<strong>de</strong>s e a uma infecção aguda,<br />

usualmente <strong>de</strong> curta duração, nos vertebrados. Os 3 estágios <strong>de</strong>terminantes para a<br />

eficiência <strong>de</strong> um artrópo<strong>de</strong> como vetor para um arbovírus são: necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ingestão <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> suficiente <strong>de</strong> sangue virêmico para infectar as células<br />

intestinais; nas células intestinais, replicação suficiente dos vírus para atingirem o<br />

sistema circulatório e, por último, a infecção dos outros tecidos do inseto. O<br />

mesentério do mosquito é a maior barreira à transmissão do patógeno, sendo o<br />

ambiente <strong>de</strong> interação viral e replicação antes da disseminação para outros órgãos e<br />

Tecidos, como as glândulas salivares e ovários, entre outros (TCHANKOUO-<br />

NGUETCHEU et al., 2010).


25<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti é uma espécie do reino Animalia, filo Arthropoda, classe Insecta,<br />

or<strong>de</strong>m Diptera, subor<strong>de</strong>m Nematocera, família Culicidae, subfamília Culicinae, gênero<br />

Ae<strong>de</strong>s, subgênero Stegomyia. Menor que os mosquitos comumente conhecidos, o<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti é preto com pequenos riscos brancos no dorso, na cabeça e nas<br />

pernas. Suas asas são translúcidas e o ruído que produzem é praticamente inaudível<br />

ao ser humano (ARAÚJO, ARAÚJO-JORGE e MEIRELLES, 2011; DONALÍSIO e<br />

GLASSER, 2002).<br />

Uma fêmea po<strong>de</strong> dar origem a 1.500 mosquitos durante a sua vida. Os ovos<br />

são distribuídos por diversos criadouros – estratégia que garante a dispersão e<br />

preservação da espécie, sendo <strong>de</strong>positados pelas fêmeas alguns milímetros acima do<br />

nível d’água, ficando a<strong>de</strong>ridos às pare<strong>de</strong>s internas dos criadouros (ARAÚJO,<br />

ARAÚJO-JORGE e MEIRELLES, 2011; DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

Inicialmente, os ovos <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti possuem cor branca e, com o passar<br />

do tempo, escurecem <strong>de</strong>vido ao contato com o oxigênio. O ovo do Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

me<strong>de</strong> aproximadamente 0,4 mm <strong>de</strong> comprimento e é <strong>de</strong> difícil observação. Os ovos<br />

adquirem resistência ao ressecamento muito rapidamente, em apenas 15 horas após<br />

a postura. A partir <strong>de</strong> então, po<strong>de</strong>m resistir a longos períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssecação – até<br />

450 dias. Esta resistência representa uma gran<strong>de</strong> vantagem para o mosquito, visto<br />

que permite que os ovos sobrevivam por muitos meses em ambientes secos, até que<br />

o próximo período chuvoso e quente propicie a eclosão. A resistência à <strong>de</strong>ssecação<br />

permite também que os ovos sejam transportados a gran<strong>de</strong>s distâncias, em<br />

recipientes secos (ARAÚJO, ARAÚJO-JORGE e MEIRELLES, 2011; DONALÍSIO e<br />

GLASSER, 2002).<br />

Após a oviposição, inicia-se o período <strong>de</strong> incubação. Em condições favoráveis<br />

<strong>de</strong> temperatura e umida<strong>de</strong>, esse período dura <strong>de</strong> 2 a 3 dias, quando ocorrerá a<br />

eclosão. O <strong>de</strong>senvolvimento embrionário ocorre geralmente após a <strong>de</strong>posição dos<br />

ovos, sendo influenciado principalmente pela temperatura e umida<strong>de</strong>, sendo<br />

concluído em 48 horas. A diapausa na fase do ovo caracteriza-se pela suspensão<br />

temporária da eclosão após o término do <strong>de</strong>senvolvimento embrionário. Para<br />

interromper a diapausa, é necessário o contato do ovo com a água ou sua submersão<br />

nela. Com o aumento das chuvas e da temperatura no verão, criadouros são<br />

reabastecidos com água, possibilitando o processo <strong>de</strong> eclosão, originando as larvas,


26<br />

que passam por 4 estádios 1 (L 1 a L 4 ) até atingirem a fase <strong>de</strong> pupa (figura 3). Essas<br />

larvas têm gran<strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> e passam a maior parte <strong>de</strong>sse período alimentando-se<br />

<strong>de</strong> substâncias orgânicas existentes na água, tais com bactérias, fungos e<br />

protozoários, através da filtração, que constitui a forma mais comum <strong>de</strong> alimentação,<br />

po<strong>de</strong>ndo uma só larva filtrar até 2 litros <strong>de</strong> água por dia. Por não selecionarem<br />

alimento, durante esse período, é que se encontra a chave para a atuação dos<br />

larvicidas, que são ingeridos pelas larvas como alimento (ARAÚJO, ARAÚJO-JORGE<br />

e MEIRELLES, 2011; DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

Figura 3 - Estádios evolutivos do Ae<strong>de</strong>s aegypti – fase aquática<br />

Fonte: EMBRAPA<br />

As larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti não toleram gran<strong>de</strong>s concentrações <strong>de</strong> substâncias<br />

orgânicas na água e não se adaptam a viver na água em movimento. Mesmo as<br />

espécies encontradas em rios e riachos vivem em locais <strong>de</strong> água quase parada.<br />

Embora aquáticas, as larvas respiram oxigênio do ar, necessitando atingir a superfície<br />

da água e ligar-se através <strong>de</strong> um sifão respiratório. As fases <strong>de</strong> larva e pupa têm<br />

<strong>de</strong>senvolvimento rápido, <strong>de</strong>vido à variação no volume <strong>de</strong> líquido dos criadouros,<br />

causada pela evaporação e pelas chuvas (ARAÚJO, ARAÚJO-JORGE e<br />

MEIRELLES, 2011).<br />

O ciclo <strong>de</strong> vida do Ae<strong>de</strong>s aegypti varia <strong>de</strong> acordo com a temperatura,<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos e quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> larvas existentes no mesmo criadouro,<br />

sendo a competição <strong>de</strong> larvas por alimento um obstáculo ao amadurecimento do<br />

inseto para a fase adulta. A pupa não se alimenta, motivo pelo qual raramente é<br />

1 Estádio: Intervalo entre duas mudas, consecutivas, da larva dos insetos (Dicionário Michaelis, 2009)


27<br />

afetada pela ação <strong>de</strong> larvicidas. A duração da fase pupal é <strong>de</strong> 2 dias, em média. Em<br />

condições ambientais favoráveis, após a eclosão do ovo, o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

mosquito até a forma adulta po<strong>de</strong> levar um período <strong>de</strong> 10 dias (ARAÚJO, ARAÚJO-<br />

JORGE e MEIRELLES, 2011; DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

Machos e fêmeas do Ae<strong>de</strong>s aegypti alimentam-se <strong>de</strong> substâncias açucaradas,<br />

como néctar e seiva e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 1 a 3 dias <strong>de</strong> nascidos, os agora adultos copulam e<br />

somente a fêmea busca sua primeira refeição sanguínea – hematofagia - para a<br />

oviposição. O sangue é o alimento necessário à maturação dos ovos. Geralmente, a<br />

hematofagia é mais voraz a partir do segundo ou terceiro dia <strong>de</strong>pois da emergência<br />

da pupa e da cópula com o macho. Essas fêmeas, em busca do alimento capaz <strong>de</strong><br />

maturar seus ovos, sofrem dispersão espontânea <strong>de</strong> trinta a cinquenta metros, o que<br />

limita seu percurso a, no máximo, duas casas diferentes e vizinhas, on<strong>de</strong> picam os<br />

humanos nas regiões dos pés, tornozelos e pernas, uma vez que têm o hábito <strong>de</strong> voar<br />

à altura máxima <strong>de</strong> meio metro do solo. Uma vez infectada por um Flavivirus ou<br />

Alphavirus, a fêmea do Ae<strong>de</strong>s aegypti permanece infectada e infectante pelo resto <strong>de</strong><br />

sua vida, mesmo após repetidos repastos em humanos, copulando uma única vez,<br />

assegurando sua fecundida<strong>de</strong> até o fim <strong>de</strong> seu ciclo <strong>de</strong> vida, que leva em torno <strong>de</strong><br />

quarenta e cinco dias. Os vírus multiplicam-se no intestino médio <strong>de</strong>ssas fêmeas e<br />

infectam outros tecidos, chegando, finalmente, às glândulas salivares. Cerca <strong>de</strong> sete<br />

dias após ingerir o sangue infectado pelos vírus, a fêmea do Ae<strong>de</strong>s aegypti passa a<br />

transmitir a doença, ratificando que esta permanece infectada até sua morte<br />

(ARAÚJO, ARAÚJO-JORGE e MEIRELLES, 2011; DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

O Ae<strong>de</strong>s aegypti foi trazido da África (Ae<strong>de</strong>s = odioso; aegypti = egípcio) para a<br />

América durante a colonização e a escravidão, disseminou-se para toda a faixa<br />

tropical e, em função <strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> reprodução peculiar, é hoje consi<strong>de</strong>rado<br />

cosmopolita. A partir <strong>de</strong> 1967, tornou-se ainda mais conhecido, em vista do seu alto<br />

potencial na transmissão <strong>de</strong> Dengue e Febre Amarela (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Hoje, a espécie Ae<strong>de</strong>s aegypti apresenta-se distribuída mundialmente, sendo<br />

encontrada, geralmente, entre as latitu<strong>de</strong>s 35° Norte e 35° Sul (isotermas <strong>de</strong> inverno<br />

<strong>de</strong> 10°C em latitu<strong>de</strong>s norte e sul). Segundo Githeko e colaboradores (2000), projeções<br />

<strong>de</strong> elevação <strong>de</strong> 2ºC da temperatura no planeta para o fim do século XXI<br />

provavelmente aumentarão a distribuição mundial do Ae<strong>de</strong>s aegypti. Sua distribuição<br />

é também restrita à altitu<strong>de</strong>. Embora não seja comumente encontrado em regiões <strong>de</strong>


28<br />

altitu<strong>de</strong> superior a 1000 metros, exemplares já foram <strong>de</strong>tectados, na Índia e na<br />

Colômbia, a mais <strong>de</strong> 2000 metros acima do nível do mar (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

O Ae<strong>de</strong>s aegypti foi responsabilizado pela transmissão da Febre Amarela em<br />

1881, por Carlos J. Finlay. Os primeiros registros <strong>de</strong> A. aegypti no Brasil datam <strong>de</strong><br />

1898 (Lutz) e 1899 (Ribas). Em 1906, as primeiras evidências <strong>de</strong> que o mosquito<br />

também era o vetor <strong>de</strong> Dengue foram publicadas por Brancroft, o que foi confirmado<br />

no mesmo ano por Agramonte e em 1931 por Simmons (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Presente principalmente na América Central, América do Sul, Ásia e África, o<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti é sabidamente o vetor <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> vírus do gênero Flavivirus,<br />

agentes etiológicos <strong>de</strong> doenças como Dengue e Febre Amarela (SÁ et al., 2009), e <strong>de</strong><br />

vírus do gênero Alphavirus, agentes etiológicos da febre do Chikungunya (SVS/MS -<br />

Nota Técnica 162/2010).<br />

1.2.1 Febre Amarela<br />

A Febre Amarela, transmitida pelo Ae<strong>de</strong>s aegypti e por outras espécies do<br />

gênero Ae<strong>de</strong>s, é causada pelos vírus do gênero Flavivírus, família Flaviviridae. Esses<br />

agentes consistem em vírus RNA <strong>de</strong> fita simples e polarida<strong>de</strong> positiva, conhecidos<br />

como Vírus da Febre Amarela (YFV, do inglês Yellow Fever Virus) (VASCONCELOS,<br />

2010).<br />

A Febre Amarela apresenta-se sob duas formas epi<strong>de</strong>miologicamente distintas:<br />

Febre Amarela silvestre e Febre Amarela urbana, sendo as diferenças entre as duas<br />

formas relativas à localização geográfica, espécie vetorial e tipo <strong>de</strong> hospe<strong>de</strong>iro. A<br />

Febre Amarela silvestre é uma infecção aci<strong>de</strong>ntal, resultante da introdução do homem<br />

no ciclo enzoótico natural, constituindo uma grave ameaça às populações rurais e<br />

risco permanente à introdução do vírus nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e pequenas localida<strong>de</strong>s<br />

infestadas pelo Ae<strong>de</strong>s aegypti. Na forma silvestre, os primatas não humanos são os<br />

principais hospe<strong>de</strong>iros do vírus, principalmente os macacos dos gêneros Cebus<br />

(macaco prego), Alouatta (guariba), Ateles (macaco aranha) e Callithrix (sagui)<br />

(AGÊNCIA FIOCRUZ DE NOTÍCIAS, 2010).<br />

A Febre Amarela urbana foi consi<strong>de</strong>rada erradicada no Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1942, no<br />

entanto, a Febre Amarela silvestre não é erradicável, já que possui uma circulação


29<br />

natural entre primatas das florestas tropicais (AGÊNCIA FIOCRUZ DE NOTÍCIAS,<br />

2010).<br />

Um breve resumo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 300 anos <strong>de</strong> curso (1685 a 1998) da história da<br />

Febre Amarela e do percurso dos vetores envolvidos com essa doença no Brasil,<br />

encontra-se <strong>de</strong>scrito no Quadro 1.<br />

ANO<br />

Quadro 1 – Histórico da Febre Amarela no Brasil <strong>de</strong> 1685 a 1998<br />

FATO<br />

1685 Primeira epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Febre Amarela no Brasil (Recife/PE).<br />

1686 Epi<strong>de</strong>mia em Salvador/BA (900 óbitos).<br />

1691 Primeira campanha sanitária oficial no Brasil (Recife /PE).<br />

1849<br />

Reaparecimento da Febre Amarela em Salvador (2800 óbitos) e surgimento no estado<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro (4160 óbitos).<br />

1881 Carlos Finlay comprova que o Ae<strong>de</strong>s aegypti é transmissor da Febre Amarela.<br />

1901 Emilia Ribas inicia em Sorocaba/SP a primeira campanha contra a Febre Amarela.<br />

1903 Oswaldo Cruz cria o Serviço <strong>de</strong> Profilaxia da Febre Amarela.<br />

1909 Erradicada a Febre Amarela da capital fe<strong>de</strong>ral (Rio <strong>de</strong> Janeiro/RJ).<br />

1928<br />

Nova epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Febre Amarela no Rio <strong>de</strong> Janeiro (738 casos). Professor Clementino<br />

Fraga organiza campanha para combate ao mosquito na fase larvar.<br />

1931 Adoção <strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> combate às larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti com petróleo.<br />

1937 Surgimento da vacina anti-amarílica.<br />

1947 Adotado o uso do diclo-difenil-tricloroetano (DDT) no combate ao Ae<strong>de</strong>s aegypti.<br />

1958 A XV Conferência Sanitária Panamericana <strong>de</strong>clara o Ae<strong>de</strong>s aegypti erradicado do Brasil.<br />

1972 Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Febre Amarela silvestre em Goiás (71 casos e 44 óbitos).<br />

1978/84 Registrada a presença do Ae<strong>de</strong>s aegypti na maioria dos estados brasileiros.<br />

1993 Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Febre Amarela silvestre no Maranhão (12 óbitos).<br />

1996 Surto <strong>de</strong> Febre Amarela silvestre no Amazonas (12 óbitos).<br />

1997 Confirmada a presença do vetor em todos os estados brasileiros (2719 municípios).<br />

1998 Surto <strong>de</strong> Febre Amarela silvestre no Pará (9 óbitos).<br />

Fonte: Manual <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica em Febre Amarela. Ministério da Saú<strong>de</strong>, Brasília, 1999<br />

Os principais sintomas da Febre Amarela aparecem, geralmente, <strong>de</strong> três a seis<br />

dias após a picada do Ae<strong>de</strong>s aegypti (período <strong>de</strong> incubação) e consistem em febre<br />

alta, mal-estar, cefaleia, dor muscular, cansaço, calafrios, vômito e diarreia. Em cerca<br />

<strong>de</strong> 15% dos casos po<strong>de</strong>m ser observados sintomas graves como icterícia,<br />

hemorragias, comprometimentos renais, hepáticos, pulmonares e cardíacos, po<strong>de</strong>ndo<br />

levar à morte. Cerca <strong>de</strong> 90% dos indivíduos infectados pelo vírus da Febre Amarela


30<br />

são assintomáticos ou apresentam sintomas leves da doença, com duração <strong>de</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> dois dias. A letalida<strong>de</strong> da doença varia entre 5% a 50% (AGÊNCIA FIOCRUZ DE<br />

NOTÍCIAS, 2010).<br />

A partir <strong>de</strong> 2008, quando se observou a re-emergência do vírus da Febre<br />

Amarela nas regiões Centro Oeste, Su<strong>de</strong>ste e Sul do Brasil, o Sistema Nacional <strong>de</strong><br />

Vigilância e Controle da Febre Amarela iniciou o monitoramento dos casos humanos<br />

suspeitos e as epizootias <strong>de</strong> primatas não humanos (PNH), no período que antece<strong>de</strong><br />

o período sazonal <strong>de</strong> transmissão do vírus no Brasil, nos meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a maio.<br />

A ocorrência <strong>de</strong> casos humanos <strong>de</strong> Febre Amarela foi registrada em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

2008 e se esten<strong>de</strong>u até o final <strong>de</strong> abril, com o último registro <strong>de</strong> caso humano na<br />

região afetada dos estados <strong>de</strong> São Paulo e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Após esse período,<br />

mais três casos humanos confirmaram-se em regiões consi<strong>de</strong>radas endêmicas para a<br />

Febre Amarela nos estados <strong>de</strong> Minas Gerais e Mato Grosso, sendo, provavelmente,<br />

áreas silvestres, rurais ou <strong>de</strong> floresta (SVS/MS/BRASIL, 2009).<br />

Há uma extensa área geográfica consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> risco para Febre Amarela<br />

silvestre, on<strong>de</strong> a vacinação é adotada como procedimento <strong>de</strong> rotina para a população<br />

resi<strong>de</strong>nte, a partir <strong>de</strong> nove meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Sem periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida, e<br />

eventualmente, o vírus da Febre Amarela surge em novas áreas geográficas,<br />

po<strong>de</strong>ndo invadir áreas on<strong>de</strong> não tem sido documentado durante anos, caracterizando<br />

assim uma emergência <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> importância nacional em Febre Amarela<br />

(SVS/MS/BRASIL, 2009).<br />

Os fatores associados à emergência e dinâmica da transmissão da Febre<br />

Amarela nos estados <strong>de</strong> São Paulo e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul nos anos <strong>de</strong> 2008 e 2009<br />

são: a gran<strong>de</strong> população humana suscetível; a elevada prevalência <strong>de</strong> vetores e<br />

hospe<strong>de</strong>iros (primatas não humanos); condições climáticas favoráveis, sobretudo o<br />

excesso <strong>de</strong> chuvas no verão; a emergência <strong>de</strong> uma nova linhagem viral e a circulação<br />

<strong>de</strong> pessoas ou macacos infectados em fase virêmica (VASCONCELOS, 2010).


31<br />

1.2.2 Febre do Chikungunya<br />

A Febre do Chikungunya, causada pelo vírus CHIKV, gênero Alphavirus,<br />

família Togaviridae, é uma arbovirose emergente e tem o Ae<strong>de</strong>s aegypti como<br />

principal vetor, on<strong>de</strong> o vírus é endêmico, na África e na Ásia, além <strong>de</strong> outra espécie<br />

do gênero Ae<strong>de</strong>s (Ae<strong>de</strong>s albopictus). (SVS/MS - Nota Técnica 162/2010). A doença<br />

recebeu esse nome a partir da língua Kimakon<strong>de</strong> da Tanzânia e Moçambique, na qual<br />

a palavra chikungunya significa “aquela que contorce ou dobra”, uma alusão aos<br />

sintomas da doença (THIBOUTOT et al., 2010).<br />

O vírus circula na África, Ásia e em algumas ilhas do Oceano Pacífico (Figura<br />

4). Apesar <strong>de</strong> não haver relatos <strong>de</strong> circulação do CHIKV nas Américas, o risco <strong>de</strong> sua<br />

introdução é alto, corroborado pela presença do Ae<strong>de</strong>s aegypti e pelo intenso fluxo <strong>de</strong><br />

viagens internacionais, associados à susceptibilida<strong>de</strong> da população (SVS/MS - Nota<br />

Técnica 162/2010).<br />

Países com ativida<strong>de</strong> endêmica do CHIKV<br />

Figura 4 – Distribuição global do Vírus Chikungunya em 2007<br />

Fonte: http://www.mosquitaire.com/cms/website.php?id=/en/tigermosquitos/chikungunya.htm<br />

Acessado em 27/06/2011<br />

A Febre do Chikungunya é usualmente caracterizada, além <strong>de</strong> febre, por<br />

artralgia e mialgia, com tempo <strong>de</strong> incubação relativamente curto, requerendo somente<br />

2 a 6 dias, com os sintomas surgindo 4 a 7 dias após a infecção. É uma das seis<br />

principais doenças endêmicas transmitidas por vetor na Índia (KUMAR et al., 2010).


32<br />

Muitos viajantes foram contaminados pelo CHIKV após visitarem áreas com<br />

populações ativamente infectadas. Tais casos foram documentados em países da<br />

Europa, Austrália, Ásia e Estados Unidos. Os Estados Unidos já registraram pelo<br />

menos 12 casos <strong>de</strong> CHIVK associados a viagens, enquanto a França reporta 850<br />

casos e o Reino Unido, 93. Além disso, viajantes infectados pelo CHIKV foram<br />

também diagnosticados na Austrália, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Guiana<br />

Francesa, Alemanha, Hong Kong, Itália, Japão, Kênia, Malásia, Martinica, Noruega,<br />

Suíça e Sri Lanka (THIBOUTOT et al., 2010).<br />

No Brasil, no ano <strong>de</strong> 2010, foram diagnosticados 3 casos <strong>de</strong> viajantes<br />

infectados pelo CHIKV. Em junho <strong>de</strong> 2010, a Organização Pan-Americana da Saú<strong>de</strong><br />

(OPAS) e o Centro <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Doenças dos Estados Unidos (CDC), realizaram<br />

uma reunião no Peru para elaborarem um “Guia <strong>de</strong> Preparação e Resposta para a<br />

Introdução do Vírus Chikungunya nas Américas”. Logo após essa reunião, a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong> do Ministério da Saú<strong>de</strong> do Brasil (SVS/MS),<br />

realizou uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, visando implantar a vigilância do vírus Chikungunya<br />

no país. Dentre elas, reuniões com especialistas das áreas <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia,<br />

entomologia, controle <strong>de</strong> vetores, laboratório, atenção ao paciente e comunicação<br />

social do Ministério da Saú<strong>de</strong>, Fiocruz, Instituto Evandro Chagas, universida<strong>de</strong>s e<br />

OPAS, objetivando preparar as diretrizes do Brasil da vigilância e resposta a uma<br />

possível entrada do vírus Chikungunya no país; tradução para o português do guia<br />

elaborado pela OPAS; implantação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para realização do diagnóstico<br />

laboratorial no Instituto Evandro Chagas, entre outras (SVS/MS - Nota Técnica<br />

162/2010).<br />

1.2.3 Dengue<br />

Pertencentes à família Flaviviridae e ao gênero Flavivirus, os vírus da Dengue<br />

(DENV) apresentam-se como agentes esféricos, <strong>de</strong> 40 a 50 nm <strong>de</strong> diâmetro,<br />

envolvidos por envelope lipoproteico, com material genético consistindo em uma fita<br />

positiva <strong>de</strong> RNA (GUEDES et al., 2004). O vírus da Dengue mantém-se na natureza<br />

pela multiplicação em mosquitos hematófagos do gênero Ae<strong>de</strong>s, principalmente a<br />

espécie Ae<strong>de</strong>s aegypti (FIOCRUZ, 2011a).


33<br />

Os quatro sorotipos, DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, po<strong>de</strong>m causar<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a forma clássica da Dengue até formas mais graves (FIOCRUZ, 2011a).<br />

Há relatos <strong>de</strong> existência da Dengue <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do século XIX e início do<br />

século XX no Brasil (FIOCRUZ, 2011a).<br />

A circulação dos vírus da Dengue foi comprovada laboratorialmente no ano <strong>de</strong><br />

1982, a partir do isolamento dos sorotipos DENV-1 e DENV-4, no município <strong>de</strong> Boa<br />

Vista, Roraima. Após isso, não houve novas notificações <strong>de</strong> casos por 4 anos. No ano<br />

<strong>de</strong> 1986, o DENV-1 foi isolado no Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, após a disseminação <strong>de</strong><br />

uma gran<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia e dispersão do sorotipo DENV-1 para diversas regiões do<br />

Brasil. Com a introdução do sorotipo DENV-2, observada no estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, foi confirmado o primeiro caso <strong>de</strong> Dengue hemorrágico por esse sorotipo,<br />

com o aparecimento concomitante <strong>de</strong> formas graves da doença também em outras<br />

regiões. No início <strong>de</strong> 2001, isolou-se o sorotipo DENV-3 no município fluminense <strong>de</strong><br />

Nova Iguaçu. Em 2010, o sorotipo DENV-4 foi isolado após a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> casos em<br />

dois estados da região norte do Brasil (Roraima e Amazonas), sendo isolado em outro<br />

estado da região, o Pará, já em janeiro <strong>de</strong> 2011 (FIOCRUZ, 2011a).<br />

Atualmente, a Dengue é mundialmente consi<strong>de</strong>rada a mais importante doença<br />

transmitida por mosquito. Nos últimos 50 anos, a incidência aumentou 30 vezes.<br />

Estima-se que 2,5 bilhões <strong>de</strong> pessoas vivem em áreas on<strong>de</strong> o vírus da Dengue po<strong>de</strong><br />

ser transmitido. Mais <strong>de</strong> 50 milhões <strong>de</strong> infecções ocorrem anualmente sendo cerca <strong>de</strong><br />

500 mil o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> Dengue hemorrágica e 22 mil o número <strong>de</strong> mortes<br />

(GALLI e CHIAVARALOTTI NETO, 2008).<br />

Até 1970, somente nove países apresentaram casos <strong>de</strong> Dengue hemorrágica.<br />

Des<strong>de</strong> então, esse número aumentou quatro vezes e seu crescimento é contínuo,<br />

segundo dados da OMS (Figura 5). Entre 1986 e 1987, a Dengue atingiu os estados<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais e São Paulo e,<br />

em todos os casos, o vetor foi o Ae<strong>de</strong>s aegypti. Em 1997 e 1998, houve um aumento<br />

significativo no número <strong>de</strong> casos e, nos dias <strong>de</strong> hoje, a Dengue já é consi<strong>de</strong>rada uma<br />

epi<strong>de</strong>mia, tendo como agravante as formas hemorrágicas e letais da doença (GALLI e<br />

CHIAVARALOTTI NETO, 2008; WHO, 2010).


34<br />

Países ou áreas com risco <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue<br />

Figura 5 – Distribuição mundial <strong>de</strong> países ou áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> Dengue, 2008<br />

Fonte: WHO 2010<br />

Os estados brasileiros e os bairros do município do Rio <strong>de</strong> Janeiro i<strong>de</strong>ntificados<br />

como principais áreas <strong>de</strong> risco para o período <strong>de</strong> 2010/2011 são apresentados nas<br />

figuras 6 e 7.<br />

Figura 6 – Classificação das áreas <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> à Dengue no Brasil, 2010/2011.<br />

Fonte: MS/SVS - NOTA TÉCNICA N.º 118/2010


35<br />

Figura 7 - Áreas <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> à Dengue em bairros do município do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

2010/2011.<br />

Fonte: MS/SVS - NOTA TÉCNICA N.º 118/2010<br />

A insuficiência <strong>de</strong> serviços básicos <strong>de</strong> saneamento nos gran<strong>de</strong>s centros<br />

urbanos, principalmente, exige que a população mais carente reserve água nos<br />

domicílios, muitas vezes em recipientes sem tampas. Essa situação leva ao aumento<br />

<strong>de</strong> criadouros potenciais do Ae<strong>de</strong>s aegypti, que apresentam alta produtivida<strong>de</strong>. De<br />

maneira análoga, o serviço irregular <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> lixo leva à manutenção <strong>de</strong><br />

criadouros em diversas áreas, tornando-as gran<strong>de</strong>s focos <strong>de</strong> disseminação do vetor e<br />

áreas i<strong>de</strong>ais para a transmissão da Dengue. Por outro lado, há diversos criadouros no<br />

meio ambiente que não são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes das condições <strong>de</strong> saneamento em áreas<br />

com elevado padrão sócio-econômico. Esses criadouros, como piscinas sem<br />

tratamento a<strong>de</strong>quado, vasos <strong>de</strong> plantas com água e características arquitetônicas,<br />

favorecem igualmente a proliferação do mosquito (NT 118/CGPNCD/DEVEP/SVS/<br />

MS/BRASIL, 2010).<br />

O ciclo <strong>de</strong> transmissão da Dengue se inicia quando a fêmea do mosquito pica<br />

um indivíduo. Após a picada, inicia-se o ciclo <strong>de</strong> replicação viral nas células estriadas,<br />

lisas, fibroblastos e linfonodos locais, a seguir ocorre a viremia, com a disseminação<br />

do vírus no organismo do indivíduo. Os primeiros sintomas, como febre, dor <strong>de</strong><br />

cabeça e mal-estar, surgem após um período <strong>de</strong> incubação que po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> 2 a 10


36<br />

dias. Uma vez infectado por um dos sorotipos do vírus, o indivíduo adquire imunida<strong>de</strong><br />

àquele sorotipo específico, <strong>de</strong> forma que não existe transmissão da doença sem a<br />

presença do vetor, isto é, através do contato entre indivíduos doentes e pessoas<br />

saudáveis (ARAÚJO, ARAÚJO-JORGE e MEIRELLES, 2011).<br />

Entre os anos <strong>de</strong> 2000 e 2009, cerca <strong>de</strong> quatro milhões <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> Dengue<br />

foram notificados no Brasil, <strong>de</strong>stacando-se os anos <strong>de</strong> 2002 e 2008, quando houve as<br />

maiores epi<strong>de</strong>mias já registradas (Figuras 8 e 9). A figura 8 apresenta um histórico <strong>de</strong><br />

evolução da Dengue <strong>de</strong> 1990 a 2010 no Brasil e em suas regiões, enquanto a figura 9<br />

mostra os casos em que a doença foi fatal no mesmo período.<br />

Durante a década <strong>de</strong> 2000, os sorotipos predominantes do vírus da Dengue<br />

alternaram-se, o que resultou em ciclos <strong>de</strong> alta transmissão para cada sorotipo. O<br />

pico <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> DENV-3 ocorreu em 2002/2003, o DENV-2 em 2008. Em<br />

2009, ressurgiu o DENV1, predominando nos primeiros meses do ano <strong>de</strong> 2010, nas<br />

regiões Centro-Oeste, Su<strong>de</strong>ste e Sul do Brasil. Esta situação indica a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ocorrência <strong>de</strong> novas epi<strong>de</strong>mias causadas pelo sorotipo DENV-1, consi<strong>de</strong>rando que<br />

gran<strong>de</strong> parcela da população não teve contato com este sorotipo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da<br />

década. A alternância <strong>de</strong> circulação dos sorotipos do DENV é um sinal <strong>de</strong> alerta para<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento da circulação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado sorotipo na próxima<br />

estação <strong>de</strong> transmissão. Entretanto, <strong>de</strong>ve-se salientar que o mesmo não ocorre para<br />

o DENV-4, visto que praticamente toda a população brasileira encontra-se vulnerável<br />

a este sorotipo (NT 118/CGPNCD/DEVEP /SVS/MS/BRASIL, 2010).<br />

A Dengue, por ser a doença transmitida pelo Ae<strong>de</strong>s aegypti mais difundida no<br />

mundo, tem seu mecanismo <strong>de</strong> transmissão bastante estudado e compreendido.<br />

Sabe-se que os vírus da Dengue são transmitidos ao ser humano através da picada<br />

<strong>de</strong> fêmeas do Ae<strong>de</strong>s aegypti (transmissão horizontal). Há muito, discute-se se, uma<br />

vez infectadas, essas fêmeas são capazes <strong>de</strong> transmitir os vírus à sua progênie<br />

(transmissão transovariana ou vertical) (GUEDES et al., 2004).<br />

<strong>Estudos</strong> vêm sendo realizados com o objetivo <strong>de</strong> se esclarecer um dos gran<strong>de</strong>s<br />

mistérios acerca da epi<strong>de</strong>miologia da Dengue, que é o mecanismo <strong>de</strong> sobrevivência<br />

dos sorotipos do vírus nos períodos entre uma epi<strong>de</strong>mia e outra, não sendo ainda<br />

totalmente compreendido como o DENV mantém-se na natureza durante a ausência<br />

<strong>de</strong> hospe<strong>de</strong>iros vertebrados ou quando as condições climáticas são <strong>de</strong>sfavoráveis à<br />

ativida<strong>de</strong> do Ae<strong>de</strong>s aegypti. Embora vários autores já tenham <strong>de</strong>monstrado a


37<br />

transmissão transovariana com mosquitos artificialmente infectados com o DENV, fazse<br />

primordial o estudo do tipo <strong>de</strong> transmissão em mosquitos naturalmente infectados.<br />

Observa-se uma alta taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e diminuição da fertilida<strong>de</strong> em mosquitos<br />

infectados com o sorotipo 2 (DENV-2) (GUEDES et al., 2004).<br />

<strong>Estudos</strong> realizados em Fortaleza/CE mostram que larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

provenientes <strong>de</strong> ovos coletados em diversos bairros da região metropolitana<br />

apresentaram elevada taxa <strong>de</strong> infecção pelo vírus da Dengue, <strong>de</strong>monstrando<br />

reativida<strong>de</strong> para os três sorotipos testados DENV-1, DENV-2 e DENV-3, quando<br />

submetidas ao método <strong>de</strong> ELISA indireto, sugerindo que, quando os ovos <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s<br />

aegypti permanecem no ambiente por longos períodos, as chances <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />

transmissão vertical aumentam. O trabalho mostra que a presença do vírus nas larvas<br />

é mantida por várias gerações em condições naturais (GUEDES et al., 2004).<br />

Resultados semelhantes foram observados na Índia, on<strong>de</strong> se relatou uma<br />

elevada taxa <strong>de</strong> transmissão do sorotipo 3 (DENV-3) <strong>de</strong> mosquitos coletados no meio<br />

ambiente. Pesquisadores indianos <strong>de</strong>screveram que, embora a base molecular da<br />

entrada e subsequente replicação do vírus da Dengue nas células do mosquito,<br />

especialmente durante transmissão transovariana, não tenha sido ainda <strong>de</strong>scrita, as<br />

membranas dos ovários <strong>de</strong>ssas fêmeas parecem ser sítios alvos <strong>de</strong> internalização<br />

dos vírus no interior das células ovarianas <strong>de</strong>sses mosquitos, tendo como base o<br />

modo <strong>de</strong>scrito <strong>de</strong> invaginação para entrada e subsequente dissolução da membrana<br />

da célula hospe<strong>de</strong>ira por ácido clorídrico (HCl) e proteases, como <strong>de</strong>scrito para<br />

células humanas. A composição proteômica das células ovarianas teria um papel<br />

importante na entrada do vírus e sua subsequente replicação intracelular. No trabalho,<br />

também utilizando larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti coletadas <strong>de</strong> recipientes domésticos e<br />

peridomésticos <strong>de</strong> áreas urbanas e rurais indianas, os pesquisadores relatam uma<br />

associação <strong>de</strong>ssas proteínas ovarianas com a transmissão transovariana do DENV.<br />

Porém, na conclusão, os pesquisadores enfatizam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estudar mais<br />

profundamente a exata <strong>relação</strong> causa-efeito entre a proteína ovariana específica e a<br />

transmissão vertical do vírus (ANGEL, SHARMA e JOSHI, 2008).


38<br />

Figura 8 – Taxa <strong>de</strong> Incidência <strong>de</strong> Dengue. Brasil e Gran<strong>de</strong>s Regiões, 1990-2010.<br />

Fonte: http://portal.sau<strong>de</strong>.gov.br. Acessado em 07/04/2011<br />

Figura 9 – Mortes confirmadas por Dengue <strong>de</strong> 1990 a 2010.<br />

Fonte: http://noticias.r7.com/sau<strong>de</strong>/noticias. Publicado em 01/09/2010. Acessado em 07/04/2011


39<br />

1.3 CONTROLE DE VETORES<br />

O controle <strong>de</strong> insetos, historicamente iniciado na China, data <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 2.000<br />

anos. Esse controle consistia, basicamente, em práticas direcionadas ao<br />

enfrentamento das pragas agrícolas e utilizavam-se principalmente do controle<br />

biológico (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

No século XIX, <strong>de</strong>scobriu-se que a transmissão das mais importantes doenças<br />

conhecidas era provocada por certas espécies <strong>de</strong> insetos e artrópo<strong>de</strong>s. Consi<strong>de</strong>rando<br />

que vacinas ou medicamentos efetivos ainda não eram conhecidos ou não estavam<br />

disponíveis, o controle da transmissão era centralizado no combate ao vetor<br />

(DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

Os primeiros programas <strong>de</strong> controle baseavam-se em medidas físicas e no<br />

controle dos criadouros através da aplicação <strong>de</strong> produtos conhecidos na época, que<br />

impediam a respiração das larvas por ficarem na superfície dos criadouros aquáticos<br />

(óleo ou <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris), graças a sua menor <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, por serem oleosos<br />

(DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

Apesar da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novas vacinas e medicamentos nos dias <strong>de</strong> hoje, o<br />

controle do vetor continua sendo imprescindível para prevenir tais doenças. O papel<br />

do controle <strong>de</strong> vetores em Saú<strong>de</strong> Pública é prevenir a infecção mediante o bloqueio<br />

ou redução da transmissão. Para que essa prevenção seja efetiva, tornam-se<br />

necessárias informações sobre o hospe<strong>de</strong>iro humano, a doença, o vetor e o<br />

ambiente. Para que o controle dos vetores seja efetivo, este não <strong>de</strong>ve estar<br />

centralizado em apenas um método, <strong>de</strong>vendo dispor <strong>de</strong> alternativas que se a<strong>de</strong>quem<br />

às diferentes realida<strong>de</strong>s locais, visando possibilitar sua execução <strong>de</strong> forma integrada<br />

e seletiva. Para atingir esse objetivo, selecionam-se métodos <strong>de</strong> controle apropriados<br />

e as populações do vetor <strong>de</strong>vem ser mantidas em níveis inócuos à saú<strong>de</strong><br />

(DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

O controle seletivo do vetor, <strong>de</strong>finido pela Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>, é o<br />

controle integrado operacionalizado, consistindo em vigilância, redução da fonte (ou<br />

manejo ambiental), controle biológico, controle químico com uso <strong>de</strong> inseticidas e<br />

repelentes, armadilhas e manejo da resistência a inseticidas. No controle integrado do<br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti, as medidas preventivas direcionam-se aos criadouros, principalmente.


40<br />

Atualmente, a tecnologia disponível abrange principalmente medidas <strong>de</strong> controle<br />

biológico e químico, <strong>de</strong>scritos a seguir (DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

1.3.1 Controle Biológico<br />

As medidas <strong>de</strong> controle biológico <strong>de</strong> mosquitos consistem no uso <strong>de</strong><br />

predadores naturais, como invertebrados aquáticos (Toxorhynchites ou copépodos)<br />

ou peixes (Gambusia affinis), que se alimentam <strong>de</strong> larvas e pupas, além do uso <strong>de</strong><br />

patógenos, como os fungos Lagenedium giganteum e Metharizium anisopliae, e <strong>de</strong><br />

parasitas <strong>de</strong> mosquitos, como os nemáto<strong>de</strong>os (Romanomermis culicivorax e R.<br />

iyengari), sendo recomendação da OMS o controle das larvas do Ae<strong>de</strong>s aegypti pela<br />

em água potável, principalmente em regiões on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>tectada resistência do Ae<strong>de</strong>s<br />

aegypti a esses inseticidas. Os peixes são mais utilizados em bebedouros <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

animais, fossos <strong>de</strong> elevadores <strong>de</strong> obras, fontes ornamentais, piscinas abandonadas e<br />

<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> água não potável, tendo como vantagem sua fácil obtenção e<br />

manutenção (DONALÍSIO e GLASSER, 2002).<br />

Nos anos da década <strong>de</strong> 1970, foram <strong>de</strong>scobertas bactérias efetivas contra<br />

mosquitos e simulí<strong>de</strong>os. As bactérias Bacillus thuringiensis var israelensis (Bti) e<br />

Bacillus sphaericus (Bs) são específicas para o controle <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong> culicí<strong>de</strong>os e<br />

consistem em bacilos entomopatogênicos, cujos cristais encontrados em seus<br />

esporos produzem pró-toxinas; as larvas ingerem esses cristais e suas proteases<br />

digestivas clivam essas pró-toxinas, liberando peptí<strong>de</strong>os tóxicos que agem sobre seu<br />

epitélio intestinal, provocando diminuição do peristaltismo e, consequentemente,<br />

impossibilitando sua alimentação, o que culmina em sua morte. Produtos à base <strong>de</strong><br />

Bti têm sido usados em programas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> mosquitos e simulí<strong>de</strong>os por mais <strong>de</strong><br />

20 anos, como alternativa a inseticidas químicos sintéticos em muitos programas <strong>de</strong><br />

controle (DONALÍSIO e GLASSER, 2002; BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Hormônios miméticos (reguladores <strong>de</strong> crescimento “sintéticos” – IGR, do inglês<br />

Insect Growth Regulator) atuam no <strong>de</strong>senvolvimento e na reprodução dos insetos e<br />

têm mostrado bons resultados para controle <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong> culicí<strong>de</strong>os. Os IGR mais<br />

utilizados atualmente pertencem ao grupo das benzoil-fenil-ureias (BPU) ou são<br />

análogos do hormônio juvenil natural <strong>de</strong> insetos (AHJ) (Figura 10) (DONALÍSIO e<br />

GLASSER, 2002; BRAGA e VALLE, 2007).


41<br />

Em geral, os IGR apresentam altos níveis <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> e eficácia no controle <strong>de</strong><br />

várias espécies <strong>de</strong> insetos, em diferentes habitat. As BPU agem através da inibição<br />

da <strong>síntese</strong> <strong>de</strong> quitina nos insetos, interferindo no processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> cutícula a<br />

cada muda do inseto. O diflubenzuron e o triflumuron encontram-se entre os<br />

inibidores da <strong>síntese</strong> <strong>de</strong> quitina mais utilizados como larvicidas. Os AHJ são<br />

terpenói<strong>de</strong>s e atuam interferindo no sistema endócrino dos insetos, agindo nos<br />

processos <strong>de</strong> muda, metamorfose, <strong>de</strong>senvolvimento ovariano e aquisição da<br />

capacida<strong>de</strong> reprodutiva, inibindo, <strong>de</strong>ssa forma, a emergência dos adultos. Entre os<br />

produtos pertencentes a essa classe, a OMS recomenda o uso do metoprene e do<br />

piriproxifeno (Figura 10) (DONALÍSIO e GLASSER, 2002; BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Benzoil-Fenil-Ureias (BPU)<br />

Diflubenzuron<br />

Triflumuron<br />

Análogos do Hormônio Juvenil (AHJ)<br />

Hormônio Juvenil do Inseto<br />

Metoprene<br />

Piriproxifeno<br />

Figura 10 – Inseticidas reguladores do crescimento do inseto (IGR)<br />

Fonte: Compendium of Pestici<strong>de</strong> Common Names


42<br />

O controle genético é outro tipo <strong>de</strong> controle biológico utilizado. Exemplos <strong>de</strong><br />

controle genético são o <strong>de</strong>senvolvimento em laboratório <strong>de</strong> machos estéreis, visando<br />

reduzir a fertilida<strong>de</strong> da população local, e a produção <strong>de</strong> cepas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti não<br />

suscetíveis à infecção por vírus, visando substituir as populações locais existentes<br />

(DONALÍSIO e GLASSER, 2002; BRAGA e VALLE, 2007).<br />

1.3.2 Controle Químico<br />

O controle químico consiste na utilização <strong>de</strong> inseticidas e larvicidas <strong>de</strong> origem<br />

orgânica ou inorgânica, constituindo-se na metodologia mais adotada para o controle<br />

<strong>de</strong> vetores em Saú<strong>de</strong> Pública (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> inseticidas com ação residual, o século XX<br />

apresentou gran<strong>de</strong> evolução no controle das arboviroses. A década <strong>de</strong> 1940<br />

representa o início da era mo<strong>de</strong>rna dos pesticidas orgânicos, chamada “Revolução<br />

Pesticida” quando o dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), um composto organoclorado,<br />

foi usado pela primeira vez como inseticida. Além do organoclorado DDT, outros<br />

inseticidas orgânicos utilizados pertencem aos grupos dos organofosforados,<br />

carbamatos ou piretrói<strong>de</strong>s e têm sido usados nos programas <strong>de</strong> controle das<br />

arboviroses (EMRO/WHO, 2011; BRAGA e VALLE, 2007).<br />

1.3.2.1 Organoclorados<br />

Os inseticidas organoclorados possuem <strong>estrutura</strong> orgânica contendo átomos<br />

<strong>de</strong> cloro (Figura 11). Classificam-se em quatro grupos: difenil-alifáticos,<br />

hexaclorociclohexanos, ciclodienos e policloroterpenos (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

O DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) pertence ao grupo dos difenil-alifáticos e<br />

foi sintetizado em 1874 por Zeidler, tendo sido usado pela primeira vez como<br />

inseticida em 1939, o que <strong>de</strong>u o Prêmio Nobel <strong>de</strong> Medicina a Paul Muller em 1948,<br />

pela <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> sua utilida<strong>de</strong> no controle dos vetores <strong>de</strong> malária e Febre Amarela,<br />

entre outras. Seu mecanismo <strong>de</strong> ação ainda permanece obscuro, porém sabe-se que<br />

esse inseticida atua nos canais <strong>de</strong> sódio do vetor, impedindo a transmissão normal<br />

dos impulsos nervosos. Sabe-se que o efeito do DDT é mais pronunciado a baixas<br />

temperaturas (BRAGA e VALLE, 2007).


43<br />

O benzenohexacloro (BHC) é um ciclotrieno e o lindano é representante do<br />

grupo dos hexaclorociclohexanos. Ambos possuem ação análoga ao DDT (BRAGA e<br />

VALLE, 2007).<br />

Os ciclodienos são representados pelo clordano, aldrin e dieldrin, e têm como<br />

característica principal sua persistência e estabilida<strong>de</strong> no solo, mesmo quando<br />

expostos à luz solar ou ultravioleta, fato que permite seu uso para o controle <strong>de</strong> larvas<br />

que se alimentam nas raízes dos vegetais. Seu mecanismo <strong>de</strong> ação é através da<br />

inibição <strong>de</strong> uma superfamília <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> ácido gama-aminobutírico (GABA)<br />

presentes nas junções sinápticas do sistema nervoso central e das sinapses<br />

neuromusculares, impedindo a entrada dos íons cloreto para o interior dos neurônios<br />

dos insetos, provocando emissão <strong>de</strong> impulsos espontâneos que levam à contração<br />

muscular, convulsões, paralisia e morte dos insetos. Sua toxicida<strong>de</strong> é mais<br />

pronunciada a temperaturas mais elevadas (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Foram <strong>de</strong>senvolvidos dois policloroterpenos: o toxafeno e o estrobane cujo<br />

mecanismo <strong>de</strong> ação é semelhante ao dos ciclodienos, sendo usados mais<br />

comumente na agricultura (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Devido a sua persistência no ambiente e à facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se acumularem em<br />

tecidos humanos e animais, os organoclorados tiveram seu uso <strong>de</strong>scontinuado e<br />

foram proibidos em vários países para o uso em agricultura. O DDT possui baixo<br />

custo, sendo ainda indicado pela Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no controle <strong>de</strong><br />

vetores <strong>de</strong> malária em países com elevada taxa <strong>de</strong> transmissão da doença e que não<br />

possuem condições financeiras para implementarem o uso <strong>de</strong> outro inseticida com<br />

efeito similar (BRAGA e VALLE, 2007).


44<br />

DDT<br />

BHC<br />

Cl<br />

Cl<br />

Cl<br />

Cl<br />

Cl<br />

Cl<br />

Aldrin Lindano Toxafeno<br />

Figura 11 – Estruturas químicas <strong>de</strong> alguns inseticidas organoclorados<br />

Fonte: Compendium of Pestici<strong>de</strong> Common Names<br />

1.3.2.2 Organofosforados<br />

Os inseticidas organofosforados tiveram sua <strong>de</strong>scoberta posterior àquela dos<br />

organoclorados e po<strong>de</strong>m ser classificados em alifáticos (como malathion), <strong>de</strong>rivados<br />

fenílicos (como temephos e fenitrothion) e heterocíclicos (como clorpiriphos) (Figura<br />

12) (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Em saú<strong>de</strong> pública, esses inseticidas são preferenciais aos organoclorados por<br />

serem bio<strong>de</strong>gradáveis e não terem potencial cumulativo nos tecidos. Essas duas<br />

vantagens, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> sua instabilida<strong>de</strong> química, são responsáveis pela principal<br />

<strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> seu uso: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reaplicação periódica. Outra<br />

<strong>de</strong>svantagem é sua maior toxicida<strong>de</strong> aos organismos vertebrados, quando<br />

comparados aos organoclorados (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Os organofosforados têm seu mecanismo <strong>de</strong> ação através da inibição<br />

irreversível da enzima acetilcolinesterase (AChE), através da ligação covalente da<br />

hidroxila nucleofílica do fragmento <strong>de</strong> serina do seu sítio ativo com o fósforo do<br />

inseticida, isto é, pela fosforilação do sítio-ativo da enzima. A acetilcolina, quando<br />

presente na fenda sináptica, promove a propagação do impulso nervoso, por induzir a<br />

abertura <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> sódio na célula pós-sináptica. Ao cessar o estímulo, esse


45<br />

neurotransmissor é removido da fenda sináptica por recaptação ou por <strong>de</strong>gradação<br />

enzimática catalisada pela AChE. Graças a essa inibição, acumula-se acetilcolina nas<br />

sinapses e, consequentemente, a propagação do impulso elétrico se dá<br />

continuamente, o que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia um processo <strong>de</strong> paralisia que culminará na morte<br />

do inseto. Sua toxicida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem também inibir a AChE <strong>de</strong> outros<br />

organismos, incluindo os mamíferos (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

O temephos foi registrado na década <strong>de</strong> 1960 nos Estados Unidos, para uso na<br />

agricultura e no controle <strong>de</strong> mosquitos, sendo, atualmente, o único larvicida do grupo<br />

dos organofosforados recomendado pela OMS para uso em água potável no controle<br />

generalizado <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong> mosquitos (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Temephos<br />

Malathion<br />

Clorpiriphos<br />

Fenitrothion<br />

Figura 12 – Estruturas químicas <strong>de</strong> alguns inseticidas organofosforados<br />

Fonte: Compendium of Pestici<strong>de</strong> Common Names<br />

1.3.2.3 Carbamatos<br />

Os inseticidas conhecidos como carbamatos são, na realida<strong>de</strong>, compostos<br />

<strong>de</strong>rivados do ácido carbâmico (Figura 13).<br />

Foram inicialmente comercializados na década <strong>de</strong> 1960. O conhecido<br />

“chumbinho”, utilizado como raticida, pertence a esse grupo (Aldicarb). O carbaril é o<br />

mais utilizado como inseticida. Possuem ação letal rápida sobre insetos e curto<br />

potencial residual. Seu mecanismo <strong>de</strong> ação, assim como os organofosforados, ocorre<br />

através da inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE), porém a inibição é<br />

reversível, ocorrendo através da ligação covalente da hidroxila nucleofílica do


46<br />

fragmento do aminoácido serina do seu sítio ativo com o carbono da carbonila do<br />

inseticida, isto é, pela carbamilação do sítio-ativo da enzima. Sua toxicida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ve<br />

ao fato <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem também inibir a AChE <strong>de</strong> outros organismos, incluindo os<br />

mamíferos <strong>de</strong> pequeno e gran<strong>de</strong> porte, afetando o equilíbrio do meio ambiente<br />

(BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Aldicarb (“chumbinho”)<br />

Carbaril<br />

Figura 13 – Estruturas químicas <strong>de</strong> alguns inseticidas carbamatos<br />

Fonte: Compendium of Pestici<strong>de</strong> Common Names<br />

1.3.2.4 Piretrói<strong>de</strong>s<br />

As piretrinas naturais (Figura 14) são conhecidas <strong>de</strong>vido à sua elevada<br />

ativida<strong>de</strong> inseticida e baixa toxi<strong>de</strong>z para mamíferos, aves e peixes. Por se tratarem <strong>de</strong><br />

compostos fotossensíveis e instáveis quando expostos ao ar atmosférico, sua<br />

aplicação no controle <strong>de</strong> pragas foi inviabilizado, tendo sido iniciada a pesquisa à<br />

busca <strong>de</strong> análogos sintéticos que apresentassem maior estabilida<strong>de</strong> frente a esses<br />

dois fatores <strong>de</strong>letérios. Assim, chegou-se aos piretrói<strong>de</strong>s sintéticos. Esses piretrói<strong>de</strong>s,<br />

naturais ou sintéticos, são relevantes por apresentarem mecanismo <strong>de</strong> ação diferente<br />

<strong>de</strong> outros inseticidas (SANTOS, LOPES e LIMA, 2006).


47<br />

Cinerina I<br />

Cinerina II<br />

Jasmolina I<br />

Jasmolina II<br />

Piretrina I<br />

Piretrina II<br />

Figura 14 – Piretrinas naturais<br />

Fonte: Compendium of Pestici<strong>de</strong> Common Names<br />

Os piretrói<strong>de</strong>s sintéticos são estáveis e produzidos a partir do piretro, uma<br />

substância natural, extraída <strong>de</strong> flores do gênero Chrysanthemum, principalmente a<br />

espécie Chrysanthemum cinerariaefolium, flores <strong>de</strong> tradição <strong>de</strong> cultivo milenar nos<br />

países asiáticos, conhecidas como crisântemos (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Mantendo as vantagens do composto natural, atuam como <strong>de</strong>salojantes <strong>de</strong><br />

insetos, são bio<strong>de</strong>gradáveis, ativos em baixas concentrações, não se acumulam nos<br />

tecidos e raramente provocam intoxicações agudas em aves e mamíferos, embora


48<br />

sejam altamente tóxicos para animais aquáticos. O custo elevado <strong>de</strong> sua produção é<br />

sua <strong>de</strong>svantagem mais marcante (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

O mecanismo <strong>de</strong> ação dos piretrói<strong>de</strong>s é similar ao do organoclorado DDT.<br />

Provavelmente, agem mantendo abertos os canais <strong>de</strong> sódio das membranas dos<br />

neurônios, estimulando a produção <strong>de</strong> <strong>de</strong>scargas repetitivas por essas células do<br />

sistema nervoso periférico e central do inseto, levando à paralisia e morte, sendo seu<br />

efeito estimulante sobre os canais <strong>de</strong> sódio sensivelmente mais pronunciado que o do<br />

DDT. De acordo com o coeficiente <strong>de</strong> temperatura, isto é, a temperatura em que são<br />

mais ativos, os piretrói<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser do Tipo 1, quando esse coeficiente é negativo e<br />

são mais ativos com a diminuição da temperatura (como o DDT), ou do Tipo 2, no<br />

qual o coeficiente <strong>de</strong> temperatura é positivo, ou seja, a mortalida<strong>de</strong> dos insetos a eles<br />

expostos varia diretamente com o aumento <strong>de</strong> temperatura (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Há quatro gerações <strong>de</strong> piretrói<strong>de</strong>s (Figura 15). A primeira, representada pela<br />

aletrina, foi lançada em 1949, e sua <strong>síntese</strong> consistia em mais <strong>de</strong> 20 reações<br />

químicas. Compostos como a resmetrina e bioaletrina pertencem à segunda geração.<br />

O fenvalerato e a permetrina, <strong>de</strong>scobertos no início dos anos 1970, pertencem à<br />

terceira geração e foram os primeiros piretrói<strong>de</strong>s a serem usados na agricultura,<br />

graças à sua fotoestabilida<strong>de</strong> e elevada ativida<strong>de</strong> inseticida. Atualmente, os<br />

piretrói<strong>de</strong>s encontram-se na quarta geração, que tem como característica principal<br />

sua ainda mais elevada efetivida<strong>de</strong> em doses baixas, quando comparados àqueles<br />

das gerações anteriores e fotoestabilida<strong>de</strong>, ampliando seu leque <strong>de</strong> uso e diminuindo<br />

sua toxicida<strong>de</strong>. Dentre os representantes <strong>de</strong>ssa quarta geração po<strong>de</strong>m ser citados a<br />

cipermetrina, ciflutrina, <strong>de</strong>ltametrina, esfenvalerato, fenpropatrina e flucitrinato<br />

(EMRO/WHO, 2011; BRAGA e VALLE, 2007).


49<br />

1ª Geração <strong>de</strong> Piretrói<strong>de</strong>s<br />

Aletrina<br />

2ª Geração <strong>de</strong> Piretrói<strong>de</strong>s<br />

Bioaletrina<br />

Resmetrina<br />

3ª Geração <strong>de</strong> Piretrói<strong>de</strong>s<br />

Fenvalerato<br />

Permetrina<br />

4ª Geração <strong>de</strong> Piretrói<strong>de</strong>s<br />

Flucitrinato<br />

Cipermetrina<br />

Figura 15 – Estruturas <strong>de</strong> químicas das diferentes gerações <strong>de</strong> inseticidas piretrói<strong>de</strong>s<br />

Fonte: Compendium of Pestici<strong>de</strong> Common Names


50<br />

1.4 RESISTÊNCIA A INSETICIDAS<br />

A Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine resistência a inseticidas como a<br />

habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida por uma população <strong>de</strong> insetos para tolerar uma dose <strong>de</strong><br />

inseticida que, em condições normais, seria letal. O uso continuado e, muitas vezes,<br />

indiscriminado dos inseticidas provoca o surgimento <strong>de</strong> populações <strong>de</strong>sses insetos<br />

resistentes, constituindo um problema grave para o controle <strong>de</strong>sses vetores e uma<br />

situação séria na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

Tem-se <strong>de</strong>tectado resistência a todas as classes <strong>de</strong> inseticidas, já tendo sido<br />

registrados casos <strong>de</strong> resistência mesmo àqueles usados no controle biológico, como<br />

Bacillus sphaericus e os reguladores do crescimento do inseto (IGR) (BRAGA e<br />

VALLE, 2007).<br />

Registros da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ, 2011b) mostram que a<br />

resistência <strong>de</strong> mosquitos ao DDT foi observada pela primeira vez na Flórida e na<br />

Califórnia em 1949, tendo se disseminado amplamente a partir da década <strong>de</strong> 1950, a<br />

ponto <strong>de</strong> já haverem mais <strong>de</strong> 80 espécies <strong>de</strong> culicí<strong>de</strong>os catalogadas como<br />

resistentes, apresentando inclusive resistência simultânea a vários inseticidas.<br />

A resistência a inseticidas po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada um processo <strong>de</strong> evolução <strong>de</strong><br />

uma população <strong>de</strong> insetos frente à pressão seletiva que esses agentes exercem<br />

sobre as mesmas. O inseticida não produz a alteração genética necessária à<br />

resistência, porém seu uso continuado e indiscriminado, leva à seleção dos indivíduos<br />

resistentes. Embora haja diversos estudos sobre a resistência, os mecanismos são<br />

inespecíficos e frequentemente conferem resistência cruzada a inseticidas<br />

<strong>estrutura</strong>lmente relacionados. Alguns mecanismos <strong>de</strong> resistência a inseticidas são<br />

citados a seguir (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

1.4.1 Redução na Taxa <strong>de</strong> Penetração<br />

Propõe-se que a composição protéica do exoesqueleto dos insetos tenha papel<br />

relevante para esse mecanismo que, embora confira baixos níveis <strong>de</strong> resistência<br />

isoladamente, quando combinado a outros mecanismos <strong>de</strong> resistência, representa<br />

maior relevância no processo <strong>de</strong> resistência. Sua base bioquímica não se encontra<br />

claramente <strong>de</strong>finida (BRAGA e VALLE, 2007).


51<br />

1.4.2 Resistência Metabólica<br />

Esse mecanismo é <strong>de</strong>corrente da potencialização no metabolismo da molécula<br />

<strong>de</strong> inseticida pelo inseto, gerando metabólitos pouco ou não tóxicos, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> ativação <strong>de</strong> enzimas <strong>de</strong> <strong>de</strong>toxicação tanto <strong>de</strong> Fase 1 (monooxigenases<br />

e esterases) como <strong>de</strong> Fase 2 (glutation-S-transferases) envolvidas no metabolismo <strong>de</strong><br />

xenobióticos, ou do incremento dos mecanismos reguladores, levando ao aumento da<br />

<strong>síntese</strong> <strong>de</strong>ssas enzimas. Sabe-se que o metabolismo oxidativo acelerado, catalisado<br />

pelas monooxigenases <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do Citocromo P450, é consi<strong>de</strong>rado o principal<br />

mecanismo <strong>de</strong> resistência aos inseticidas, exceto para os ciclodienos. Analisando-se<br />

a <strong>estrutura</strong> dos principais grupos <strong>de</strong> inseticidas, observa-se a presença <strong>de</strong><br />

grupamentos éster nas moléculas. São esses grupamentos os alvos das esterases. A<br />

etapa final da <strong>de</strong>toxicação consiste na conjugação do grupamento hidrofílico SH do<br />

glutation reduzido (GSH) com o núcleo eletrofílico dos compostos lipofílicos,<br />

catalisada pela enzima glutation-S-transferase (BRAGA e VALLE, 2007).<br />

1.4.3 Alteração do Sítio-Alvo<br />

A resistência <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> insetos a <strong>de</strong>terminado inseticida po<strong>de</strong><br />

ocorrer através <strong>de</strong> uma alteração conformacional do sítio-alvo <strong>de</strong>ssas moléculas,<br />

visando impedir ou dificultar a ligação <strong>de</strong>sse sítio ao inseticida. Dessa forma, uma<br />

alteração conformacional na enzima acetilcolinesterase (AChE), sítio-alvo <strong>de</strong><br />

organofosforados e carbamatos, diminuindo sua afinida<strong>de</strong> à molécula do inseticida,<br />

torna esses insetos resistentes. No caso dos piretrói<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> alguns organoclorados,<br />

como o DDT e o BHC, os canais <strong>de</strong> sódio são os sítios-alvos. A resistência, nesse<br />

caso é resultante <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> reduzida do canal <strong>de</strong> sódio a esses compostos.<br />

Esse mecanismo é conhecido como knockdown (ou kdr) e esse tipo <strong>de</strong> resistência já<br />

foi registrado para várias espécies (MARCOMBE et al., 2009; MARTINS et al., 2009).<br />

Os organoclorados ciclodienos e policloroterpenos têm como sítios-alvos os<br />

receptores <strong>de</strong> GABA das sinapses neuromusculares e do sistema nervoso central dos<br />

insetos. A resistência, ocasionada pela insensibilização do receptor <strong>de</strong> GABA a esses<br />

inseticidas, está associada a uma mutação na molécula do receptor (BRAGA e<br />

VALLE, 2007).


52<br />

1.5 ESTRATÉGIAS BRASILEIRAS DE COMBATE À DENGUE<br />

Des<strong>de</strong> a sua criação, na década <strong>de</strong> 1980, os programas nacionais <strong>de</strong> controle<br />

à Dengue propuseram o controle integrado <strong>de</strong> vetores, com medidas <strong>de</strong> saneamento,<br />

redução na fonte, educação e participação da comunida<strong>de</strong>. No entanto, as ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> controle foram quase todas centradas em controle químico através da aplicação <strong>de</strong><br />

inseticidas para eliminar larvas e adultos (MACORIS et al., 2007).<br />

Em 1996, o Ministério da Saú<strong>de</strong> do Brasil <strong>de</strong>cidiu rever a estratégia empregada<br />

contra o Ae<strong>de</strong>s aegypti e propôs o Programa <strong>de</strong> Erradicação do Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

(PEAa). Ao longo do processo <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong>sse programa, observou-se que a<br />

erradicação do mosquito a curto e médio prazos era inviável. A implantação do PEAa<br />

resultou em um fortalecimento das ações <strong>de</strong> combate ao vetor, ainda com as ações<br />

<strong>de</strong> prevenção centradas quase que exclusivamente nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo <strong>de</strong><br />

combate ao Ae<strong>de</strong>s aegypti através do uso <strong>de</strong> inseticidas. Essa estratégia, comum aos<br />

programas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> doenças transmitidas por vetor em todo o mundo, mostrouse<br />

absolutamente incapaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à complexida<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miológica da Dengue.<br />

Em 1999, o Ministério da Saú<strong>de</strong> cria a Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Monitoramento da<br />

Resistência <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti a inseticidas (MoReNAa), um programa integrado<br />

projetado para monitorar a resistência do Ae<strong>de</strong>s aegypti aos inseticidas utilizados<br />

(MONTELLA et al., 2007).<br />

Diante da tendência <strong>de</strong> aumento da incidência já verificada e a introdução do<br />

sorotipo DENV-3, prenunciando um elevado risco <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> Dengue e aumento<br />

dos casos <strong>de</strong> Febre Hemorrágica da Dengue (FHD), o Ministério da Saú<strong>de</strong>,<br />

juntamente com a Organização Pan-Americana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OPAS), elaboraram um<br />

Plano <strong>de</strong> Intensificação das Ações <strong>de</strong> Controle da Dengue (PIACD) em 2001 e, diante<br />

da rápida disseminação <strong>de</strong>sse sorotipo no país, o Ministério da Saú<strong>de</strong> veio a criar, em<br />

julho <strong>de</strong> 2002, o Programa Nacional <strong>de</strong> Controle da Dengue (PNCD). Des<strong>de</strong> então a<br />

luta contra a Dengue tem se intensificado. Em outubro <strong>de</strong> 2003, o Governo Nacional<br />

constituiu o Comitê Nacional <strong>de</strong> Mobilização contra a Dengue através da portaria nº<br />

2001, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003. Depois disso, frequentemente são lançadas notas<br />

técnicas acerca da Dengue no país (PORTAL DA SAÚDE, 2011).


53<br />

A Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Ciências dos Estados Unidos (NAS) consi<strong>de</strong>ra que<br />

muitos avanços no controle <strong>de</strong> doenças transmitidas por vetores po<strong>de</strong>m,<br />

parcialmente, ser atribuídos aos pesticidas e inseticidas utilizados em seu combate<br />

(NT 109/CGPNCD/DEVEP/SVS/MS, 2010).<br />

Os inseticidas organofosforados têm sido a principal arma contra o vetor <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1967, sujeitando as populações do mosquito a uma intensa pressão <strong>de</strong> seleção<br />

(MONTELLA et al., 2007). Des<strong>de</strong> 1980, todos os estados brasileiros adotaram, para o<br />

combate às larvas, o organofosforado larvicida temephos em grânulos a 1% para<br />

redução <strong>de</strong> fontes criadoras do mosquito, como caixas d’água, cisternas, pneus e<br />

<strong>de</strong>pósitos diversos. Depois do surto <strong>de</strong> Dengue <strong>de</strong> 1986, o uso dos inseticidas<br />

organofosforados foi intensificado para o combate às larvas e aos insetos adultos.<br />

Fumacês e aerossóis <strong>de</strong> nuvens frias do organofosforado malathion foram utilizados<br />

<strong>de</strong> 1985 a 1999. No estado <strong>de</strong> São Paulo, além do tratamento dos focos <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s<br />

aegypti com temephos, em 1985, o tratamento dos resíduos era feito com outro<br />

organofosforado, o fenitrotion. Como adulticida, foi introduzida a cipermetrina em 1989<br />

(MACORIS et al., 2007).<br />

Populações <strong>de</strong> vetores resistentes disseminaram-se em todo o país. Os<br />

primeiros sinais <strong>de</strong> resistência incipiente ao temephos foram registrados em 1999, em<br />

populações <strong>de</strong> mosquitos do estado <strong>de</strong> São Paulo. Atualmente, sabe-se que a<br />

resistência ao temephos é generalizada na populações <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti em todo o<br />

país. Dados divulgados pela re<strong>de</strong> obtidos a partir <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s-sentinela, revelaram a<br />

existência <strong>de</strong> populações <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti resistentes também ao organofosforado<br />

malathion, usado como adulticida em 1999/2000, quando o seu uso foi interrompido e<br />

substituído pelos piretrói<strong>de</strong>s cipermetrina e <strong>de</strong>ltametrina. Três anos mais tar<strong>de</strong>, já foi<br />

registrada resistência a esses piretrói<strong>de</strong>s (LIMA et al., 2011).<br />

O trabalho da re<strong>de</strong> MoReNAa levou, no ano <strong>de</strong> 2001, à substituição do temephos<br />

pelo biolarvicida Bacillus thuringiensis var. israelensis (Bti) nas localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> foram<br />

<strong>de</strong>tectadas populações <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti resistentes ao temephos. Embora<br />

este biolarvicida seja altamente eficaz contra as larvas do mosquitos vetores e possa<br />

ser usado como alternativa ecológica aos inseticidas químicos sintéticos, existem<br />

muitas limitações ao seu uso (MITTAL, 2003).<br />

Concomitantemente, os organofosforados foram substituídos pelos piretrói<strong>de</strong>s no<br />

controle dos vetores adultos em todo o país (MONTELLA et al., 2007).


54<br />

Após a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> resistência a todos os inseticidas utilizados pelo PNCD, a<br />

re<strong>de</strong> vem realizando estudos para caracterizar os mecanismos <strong>de</strong> resistência no<br />

Brasil (MITTAL, 2003).<br />

Os inseticidas piretrói<strong>de</strong>s fotoestáveis respon<strong>de</strong>m por 40% dos inseticidas<br />

utilizados anualmente em nível global para pulverização residual contra vetores da<br />

malária e <strong>de</strong> 100% dos inseticidas recomendados pela OMS para o tratamento <strong>de</strong><br />

mosquiteiros (LIMA et al., 2011).<br />

Em razão do crescente agravamento do processo <strong>de</strong> resistência <strong>de</strong> mosquitos<br />

aos inseticidas e em virtu<strong>de</strong> do restrito número <strong>de</strong> inseticidas para uso em saú<strong>de</strong><br />

pública, uma das principais missões do Comitê <strong>de</strong> Especialistas em Praguicidas<br />

(WHO Pestici<strong>de</strong> Evaluation Schemme - WHOPES), é o estabelecimento <strong>de</strong> parcerias<br />

para a busca <strong>de</strong> novas opções <strong>de</strong> substâncias que possam ser utilizadas com<br />

segurança em saú<strong>de</strong> pública. Nesse sentido, foi estabelecido um grupo do qual<br />

participam a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) e a Organização das Nações<br />

Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), por intermédio da Colaboração Global<br />

para o Desenvolvimento <strong>de</strong> Pesticidas para Saú<strong>de</strong> Pública (Global Colaboration for<br />

Development of Pestici<strong>de</strong>s for Public Health - GCDPPH) (NT 109/CGPNCD/<br />

DEVEP/SVS/ MS, 2010).<br />

A preconização dos inseticidas para uso em saú<strong>de</strong> pública pela OMS obe<strong>de</strong>ce<br />

aos princípios <strong>de</strong> baixa toxicida<strong>de</strong>, segurança para os aplicadores e população geral e<br />

custos operacionais compatíveis. É importante consi<strong>de</strong>rar que todos os inseticidas<br />

que se utilizam em saú<strong>de</strong> pública são produtos originalmente <strong>de</strong>senvolvidos para a<br />

agricultura, não havendo nenhum inseticida em uso atualmente que tenha sido<br />

<strong>de</strong>senvolvido exclusivamente para uso em saú<strong>de</strong> pública (NT 109/CGPNCD/DEVEP<br />

/SVS/ MS, 2010).<br />

As Diretrizes Nacionais para Prevenção e Controle <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> Dengue,<br />

documento elaborado pelo SUS em 2009, preconizam a utilização racional <strong>de</strong><br />

inseticidas como forma <strong>de</strong> impactar na população <strong>de</strong> mosquitos e, <strong>de</strong>sta maneira,<br />

evitar a ocorrência <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> Dengue (NT 109/CGPNCD/DEVEP/SVS/ MS,<br />

2010).<br />

Recentemente, foram introduzidos os inseticidas reguladores do crescimento<br />

dos insetos (IGR). Atualmente o diflubenzuron é o regulador <strong>de</strong> crescimento em uso<br />

no Brasil pelo PNCD (NT 109/CGPNCD/DEVEP/SVS/ MS, 2010).


55<br />

O maior óbice ao combate ao Ae<strong>de</strong>s aegypti consiste no fato <strong>de</strong> o controle dos<br />

vetores adultos continuar restrito à utilização dos organofosforados e piretrói<strong>de</strong>s, que<br />

já <strong>de</strong>monstraram ter <strong>de</strong>senvolvido populações resistentes em vários estados<br />

brasileiros (LIMA et al., 2011; BESERRA et al., 2007; CARVALHO et al, 2004). Nos<br />

organofosforados a oferta restringe-se ao malathion (uso espacial) e o fenitrothion<br />

(uso residual). Esta limitada oferta <strong>de</strong> adulticidas reforça cada vez mais a orientação<br />

para a restrita e racional utilização <strong>de</strong>stes produtos (NT 109/CGPNCD/DEVEP/SVS/<br />

MS, 2010).<br />

A resistência <strong>de</strong>tectada aos piretrói<strong>de</strong>s é consi<strong>de</strong>rada um gran<strong>de</strong> problema <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> Pública no Brasil, uma vez que não existem substitutos químicos para os<br />

piretrói<strong>de</strong>s (HITOSHI et al., 2009).<br />

1.6 GLICOSINOLATOS E ISOTIOCIANATOS<br />

Os glicosinolatos são substâncias orgânicas aniônicas encontradas em<br />

espécies do reino vegetal, contendo unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> D-tioglicose e <strong>de</strong> oximas<br />

sulfonatadas <strong>de</strong>rivadas dos aminoácidos metionina, triptofano e fenilalanina. Os<br />

glicosinolatos são estáveis e hidrossolúveis. Quando hidrolisados pela enzima<br />

mirosinase (EC 3.2.3.1), uma β-tioglicosidase (FAHEY, ZALCMANN e TALALAY,<br />

2001), produzem produtos geralmente tóxicos como sulfatos, tiocianatos, nitrilas e<br />

isotiocianatos além <strong>de</strong> D-glicose. Esta enzima fica separada fisicamente dos<br />

glicosinolatos no interior do tecido vegetal, criando um sistema <strong>de</strong> dois componentes,<br />

no qual um <strong>de</strong>les encontra-se “inativo”, oferecendo às plantas um mecanismo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa contra o ataque <strong>de</strong> herbívoros e patógenos. As plantas armazenam assim sua<br />

substância <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, no caso o glicosinolato, em uma forma não tóxica, protegendose.<br />

Quando ocorre dano ao tecido vegetal, causado por insetos que se alimentam <strong>de</strong><br />

seu tecido ou por agentes fitopatogênicos, há rompimento celular e enzima e<br />

substrato entram em contato (MORANT et al., 2008).<br />

Dentre os produtos <strong>de</strong> hidrólise dos glicosinolatos, os isotiocianatos têm sido<br />

relatados como substâncias responsáveis pelos efeitos tóxicos <strong>de</strong> plantas frente a<br />

insetos, nematói<strong>de</strong>s, fungos, bactérias e mesmo outras plantas (BANGARWA et al.,


56<br />

2011; OLIVEIRA et al., 2011; JANG, HONG e KIM, 2010), possuindo também<br />

potencial antimutagênico (RAMPAL et al, 2010; YU, XU e TENG, 2010).<br />

A hidrólise do glicosinolato <strong>de</strong> benzila, catalisada pela enzima mirosinase,<br />

produzindo o isotiocianato <strong>de</strong> benzila (BITC) é esquematizada na Figura16.<br />

MIROSINASE<br />

Glicosinolato <strong>de</strong> Benzila<br />

BITC<br />

Figura 16 - Hidrólise do glicosinolato <strong>de</strong> benzila catalisada pela mirosinase, produzindo BITC<br />

1.7 TIOUREIAS<br />

A ureia foi <strong>de</strong>scoberta por Hilaire Rouelle em 1773 (Figura 17). Foi o primeiro<br />

composto orgânico sintetizado artificialmente em 1828 por Friedrich Woehler, obtido a<br />

partir do aquecimento do cianeto <strong>de</strong> potássio. A ureia é uma molécula funcional<br />

comumente encontrada em produtos naturais e frequentemente apresenta uma ampla<br />

gama <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s biológicas. As ureias substituídas, particularmente, há muito são<br />

utilizadas como pesticidas agrícolas e anticonvulsivantes. A molécula <strong>de</strong> ureia<br />

assimetricamente substituída é uma característica <strong>estrutura</strong>l comum a muitos<br />

compostos biologicamente ativos, tais como inibidores enzimáticos, com ativida<strong>de</strong><br />

inibitória da protease do HIV, e pseudopeptí<strong>de</strong>os. Sulfoniluréias são utilizadas como<br />

hipoglicemiantes orais e herbicidas. Derivados da molécula <strong>de</strong> ureia são ativos<br />

patenteados para uso como antimicrobianos, antifúngicos e algicidas (SURESHA et<br />

al., 2011).<br />

O<br />

2HN NH 2<br />

Figura 17 – Molécula <strong>de</strong> ureia


57<br />

Nas tioureias, o átomo <strong>de</strong> oxigênio é substituído pelo enxofre, o que faz com<br />

que as proprieda<strong>de</strong>s da ureia e da tioureia difiram significativamente em função das<br />

diferenças <strong>de</strong> eletronegativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses dois átomos. A tioureia consiste em cristais<br />

<strong>de</strong> massa molecular <strong>de</strong> 76,12; faixa <strong>de</strong> fusão 176-178 ºC e é mo<strong>de</strong>radamente solúvel<br />

em água (THE MERCK INDEX, 2001). Trata-se <strong>de</strong> uma molécula planar com<br />

distância na ligação C=S <strong>de</strong> 1.60 ± 0.1Å para uma ampla faixa <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados. Esta<br />

estreita variação indica que a ligação C=S é insensível à natureza do substituinte. A<br />

tioureia ocorre na forma <strong>de</strong> dois tautômeros: tioureia e isotioureia (Figura 18)<br />

(MERTSCHENK, BECK e BAUER, 2002).<br />

TIOUREIA<br />

ISOTIOUREIA<br />

Figura 18 - Formas tautoméricas da tioureia<br />

As tioureias são também conhecidas como tiocarbamidas, sulfoureias ou<br />

sulfocarbamidas e constituem uma importante classe <strong>de</strong> substâncias com aplicações<br />

em diversos ramos da química em função <strong>de</strong> sua versatilida<strong>de</strong>. São intermediários<br />

sintéticos para formação <strong>de</strong> heterociclos <strong>de</strong> 5 ou 6 membros (GRIFFIN, WOODS e<br />

KLAYMAN, 1975), vêm sendo extensamente utilizadas como organocatalisadores<br />

(CONNON, 2006), além <strong>de</strong> apresentarem diversas ativida<strong>de</strong>s biológicas<br />

(SCHROEDER,1955), possuindo um gran<strong>de</strong> potencial para aplicação em química<br />

medicinal. São utilizadas comercialmente na indústria farmacêutica, na indústria <strong>de</strong><br />

borrachas e na indústria <strong>de</strong> corantes. Em ratos, a DL50 oral da tioureia é <strong>de</strong> 1 g/kg <strong>de</strong><br />

massa corpórea do animal (MERTSCHENK, BECK e BAUER, 2002).<br />

Há diversos trabalhos na literatura, <strong>de</strong> diferentes países do mundo, nos quais<br />

diferentes tioureias e <strong>de</strong>rivados têm sido estudados e utilizados e, até mesmo,<br />

patenteados por sua ativida<strong>de</strong> biológica (Quadro 2).


58<br />

Quadro 2 – Ativida<strong>de</strong>s biológicas das tioureias e <strong>de</strong>rivados<br />

UTILIZAÇÃO<br />

REFERÊNCIAS<br />

Inseticida Patente BASF, 2010; Patente BAYER, 2010; PAREEK et al., 2010<br />

Fungicida e<br />

pesticida<br />

SHI e LI, 2010; YE, XIE e ZHANG, 2010; WANG, ZHONG e ZHANG, 2009<br />

Herbicida FU et al., 2010; LI et al., 2010; SOUNG,PARK e SUNG, 2010<br />

Antimicrobiano<br />

e antifúngico<br />

LIMBAN et al, 2011; SURESHA et al, 2011; JADHAV et al, 2010; DITU et al, 2010;<br />

DOGRUER et al, 2010; MAYEKAR et al, 2010; PATIL et al., 2010; STRUGA et al.,<br />

2010<br />

Antimalárico HUTINEC et al., 2011; KRAJACIC et al., 2011<br />

Antiviral<br />

(HIV e HCV)<br />

Inibidor<br />

enzimático<br />

Antitumoral<br />

Ativida<strong>de</strong> no<br />

SNC<br />

WEITMAN et al., 2011; YANG et al., 2011; CHEN et al., 2010; KANG et al., 2010;<br />

VEERASAMY, 2010; ETTARI, PINTO e MICALE, 2009<br />

MAHATO, BHATTACHARYA e SHANTHI, 2011; GHAZY e MOORE, 2010<br />

NAMMALWAR et al., 2011; THANIGAIMALAI et al, 2010;<br />

Patente <strong>de</strong> BUCHHOLZet al, 2008<br />

GUPTA et al., 2010; PATEL e SEN, 2010; WEI et al., 2010<br />

A <strong>estrutura</strong> geral das tioureias, bem como os padrões <strong>de</strong> substituição, são<br />

<strong>de</strong>monstrados na figura 19.<br />

S<br />

S<br />

S<br />

R 1 N NH 2<br />

H<br />

Monossubstituída<br />

R 1 1<br />

3<br />

N 2<br />

N<br />

R 2 R 4<br />

R 3<br />

R 1 N N<br />

R 2 R 4<br />

Tetrassubstituída<br />

R 3<br />

S<br />

TIOUREIA<br />

S<br />

R 1 N N<br />

R 2<br />

H<br />

H<br />

N,N’-dissubstituída<br />

(1,3-dissubstituída)<br />

R 1 N N<br />

S<br />

R 2 R 2<br />

H<br />

R 1 N NH2<br />

Trissubstituída<br />

N,N-dissubstituída<br />

(1,1-dissubstituída)<br />

R 3<br />

Figura 19 - Estrutura geral das tioureias e padrões <strong>de</strong> substituição


59<br />

1.7.1 Método <strong>de</strong> Obtenção <strong>de</strong> Tioureias<br />

De todos os métodos conhecidos, o mais utilizado para a obtenção <strong>de</strong> tioureias<br />

consiste na reação <strong>de</strong> uma amina primária ou secundária com o isotiocianato (Figura<br />

20). Isso se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> este método apresentar altos rendimentos e da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se obter uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tioureias pela substituição dos<br />

radicais R 1 , R 2 e R 3 .<br />

R 1<br />

N H + R 3 N C S R 1<br />

N<br />

R 2<br />

R 2<br />

N R 3<br />

H<br />

S<br />

AMINA<br />

ISOTIOCIANATO TIOUREIA<br />

1 ária ou 2 ária SIMÉTRICA OU ASSIMÉTRICA<br />

Figura 20 - Obtenção <strong>de</strong> tioureia a partir <strong>de</strong> isotiocianato<br />

1.8 RELAÇÕES ESTRUTURA-ATIVIDADE - <strong>SAR</strong><br />

O objetivo central em estudos <strong>de</strong> Q<strong>SAR</strong>/QSPR é racionalizar a pesquisa <strong>de</strong><br />

compostos bioativos candidatos a fármacos. O estudo da <strong>relação</strong> quantitativa entre a<br />

<strong>estrutura</strong> química e a ativida<strong>de</strong> biológica (Q<strong>SAR</strong>), ou entre a <strong>estrutura</strong> química e<br />

algum tipo <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> físico-química (QSPR), é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no<br />

processo <strong>de</strong> planejamento e <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos fármacos. Todo esse processo é<br />

custoso e <strong>de</strong>manda tempo além <strong>de</strong> ser altamente arriscado, visto que a probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sucesso é inferior a 20% (YU e GITTINS, 2008). <strong>Estudos</strong> revelam que os custos<br />

exce<strong>de</strong>m cerca <strong>de</strong> US$ 800 milhões (DIMASI, HANSEN e GRABOWSKI, 2003) e<br />

po<strong>de</strong> levar entre 10 a 15 anos (PhRMA, 2007) (Figura 21). De acordo com a<br />

Pharmaceutical Research and Manufacturers of America - PhRMA- <strong>de</strong>ntre 5.000-<br />

10.000 entida<strong>de</strong>s químicas candidatas a fármacos, apenas uma passa para fase <strong>de</strong><br />

testes pré-clínicos e clínicos e é submetida à aprovação da agência americana<br />

regulatória <strong>de</strong> drogas e alimentos (Food and Drugs Agency – FDA), para


60<br />

comercialização. Q<strong>SAR</strong> faz parte <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ferramentas <strong>de</strong>nominada<br />

Planejamento <strong>de</strong> fármacos auxiliado por computador (Computer-Ai<strong>de</strong>d Drug Design -<br />

CADD) (TANG et al., 2006). Q<strong>SAR</strong> possibilita a construção, visualização,<br />

manipulação e estocagem <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los moleculares tridimensionais, incluindo também<br />

análise conformacional, cálculos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s estéricas, eletrônicas, físicas entre<br />

outras. Uma vez que a cor<strong>relação</strong> entre <strong>estrutura</strong>/proprieda<strong>de</strong> e ativida<strong>de</strong> é<br />

encontrada, um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> compostos, incluindo aqueles que ainda não foram<br />

sintetizados, po<strong>de</strong>m ser facilmente examinados no computador com o objetivo <strong>de</strong><br />

selecionar <strong>estrutura</strong>s com as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sejadas. Desta forma, é possível<br />

selecionar os compostos mais promissores para <strong>síntese</strong> e ensaios <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />

biológica. Po<strong>de</strong>-se dizer que os estudos envolvendo Q<strong>SAR</strong>/QSPR são consi<strong>de</strong>rados<br />

ferramentas úteis para acelerar e obter êxito no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

novas moléculas bioativas candidatas a fármacos, materiais, aditivos e outras<br />

finalida<strong>de</strong>s. Para obter uma cor<strong>relação</strong> significativa, é crucial que <strong>de</strong>scritores<br />

apropriados sejam empregados, quer sejam teóricos, empíricos ou <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong><br />

dados experimentais. Muitos <strong>de</strong>scritores refletem proprieda<strong>de</strong>s moleculares simples<br />

bem como po<strong>de</strong>m fornecer características sobre a natureza físico-química da<br />

ativida<strong>de</strong>/proprieda<strong>de</strong> em estudo (ARROIO, HONÓRIO e SILVA, 2010).<br />

NOVO FÁRMACO<br />

Figura 21 - Ilustração do afunilamento <strong>de</strong> candidatos a um novo fármaco na fase <strong>de</strong> P&D.<br />

Adaptado <strong>de</strong> GELDENHUYS et al., 2006


61<br />

1.9 MÉTODOS DE CÁLCULO DE MODELAGEM MOLECULAR<br />

A mo<strong>de</strong>lagem molecular, bem como todas as ferramentas usadas em CADD<br />

para o planejamento <strong>de</strong> novos fármacos, baseia-se em duas categorias, no<br />

planejamento “direto” e “indireto”. O primeiro leva em consi<strong>de</strong>ração as características<br />

tridimensionais do alvo conhecido, obtidas por estudos <strong>de</strong> raios-X e ressonância<br />

magnética nuclear. Por esse método analisa-se o complexo fármaco-receptor/alvo,<br />

i<strong>de</strong>ntificando possíveis sítios <strong>de</strong> ligação e seus principais modos <strong>de</strong> interação. Isso<br />

permite sugerir modificações específicas no ligante, <strong>de</strong> tal modo a se obter um maior<br />

grau <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong> e/ou especificida<strong>de</strong> com <strong>relação</strong> ao alvo (JORGENSEN, 2004;<br />

CHAVATTE e FARCE, 2006).<br />

O método indireto é empregado quando o alvo não é <strong>estrutura</strong>lmente<br />

conhecido. Assim informações como ativida<strong>de</strong> biológica, características <strong>estrutura</strong>is e<br />

estéreo-eletrônicas dos compostos ativos e inativos <strong>de</strong>terminam proprieda<strong>de</strong>s<br />

específicas <strong>de</strong> uma molécula que po<strong>de</strong>m influenciar na interação com o receptor<br />

(JORGENSEN, 2004). Esse estudo da Relação Estrutura-Ativida<strong>de</strong> (Structure Activity<br />

Relationship, <strong>SAR</strong>) permite gerar um mo<strong>de</strong>lo que po<strong>de</strong> ser utilizado para a seleção <strong>de</strong><br />

compostos <strong>de</strong> um banco <strong>de</strong> dados ou para orientar no processo <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong><br />

novos fármacos (SOUZA, 2007; BARREIRO et al., 1997; LEACH, 1996; COHEN et<br />

al., 1990).<br />

O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da mo<strong>de</strong>lagem molecular <strong>de</strong>veu-se em gran<strong>de</strong><br />

parte ao avanço dos recursos computacionais em termos <strong>de</strong> hardware (velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cálculo) e software (programas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular) A maioria dos programas<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular é capaz <strong>de</strong> realizar os cálculos <strong>de</strong> otimização geométrica e<br />

estudos <strong>de</strong> análise conformacional. Um programa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular permite a<br />

representação, visualização, manipulação e <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> parâmetros geométricos<br />

(comprimento e ângulo <strong>de</strong> ligação) e eletrônicos (energia dos orbitais <strong>de</strong> fronteira,<br />

momento <strong>de</strong> dipolo, potencial <strong>de</strong> ionização entre outros) <strong>de</strong> uma molécula isolada,<br />

além <strong>de</strong> realizar estudos em macromoléculas (proteínas) e complexos fármaco–<br />

receptor (RODRIGUES, 2001).<br />

Existem muitas opções quanto ao método <strong>de</strong> cálculo a ser aplicado em uma<br />

<strong>de</strong>terminada estratégia <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular, a saber: mecânica molecular,<br />

mecânica quântica (métodos semi-empíricos e ab initio). A aplicação <strong>de</strong> um ou outro


62<br />

método é <strong>de</strong>terminada pelo compromisso entre tempo e precisão dos resultados e<br />

pela complexida<strong>de</strong> do sistema a ser analisado (BARREIRO et al, 1997).<br />

1.9.1 Mecânica Molecular<br />

Mecânica Molecular (MM) é um método que calcula a <strong>estrutura</strong> e a energia das<br />

moléculas com base nos movimentos dos núcleos. Os elétrons não são consi<strong>de</strong>rados<br />

explicitamente, mas, ao contrário, é assumido que eles encontrarão uma distribuição<br />

ótima, uma vez que as posições dos núcleos são conhecidas. Esta idéia é baseada<br />

na aproximação <strong>de</strong> Born-Oppenheimer. Esta aproximação estabelece que os núcleos,<br />

por serem mais pesados, movem-se mais lentamente que os elétrons. Desta forma,<br />

os movimentos nucleares, as vibrações e as rotações po<strong>de</strong>m ser estudadas<br />

separadamente, admitindo que os elétrons movem-se rapidamente, ajustando-se aos<br />

movimentos do núcleo. Assim, po<strong>de</strong>-se admitir que a mecânica molecular trata a<br />

molécula como uma coleção <strong>de</strong> esferas conectadas por molas, on<strong>de</strong> as esferas<br />

representam os núcleos e as molas representam as ligações (Figura 22). Dessa<br />

forma, baseia-se na visão clássica da <strong>estrutura</strong> molecular (RODRIGUES, 2001).<br />

Figura 22 – Representação <strong>de</strong> uma molécula utilizando princípios <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular<br />

(RODRIGUES, 2001)<br />

Esses cálculos adotam um conjunto <strong>de</strong> forças <strong>de</strong>scritas como funções <strong>de</strong><br />

energia potencial tais como comprimento <strong>de</strong> ligação, ângulo <strong>de</strong> ligação, ângulo diedro<br />

e interações não ligantes (eletrostáticas e van <strong>de</strong>r Waals). A combinação <strong>de</strong>ssas<br />

funções <strong>de</strong> potencial é o campo <strong>de</strong> força. Assim, a energia potencial total (E TOTAL ) <strong>de</strong><br />

um sistema molecular é <strong>de</strong>scrita simplificadamente pela Equação 1 (Energia Total),


63<br />

que representa o somatório dos termos <strong>de</strong> energia dos ligantes (E LIGANTES ) e dos nãoligantes<br />

(E NÃO-LIGANTES ).<br />

E TOTAL = Es + Ea + Et + EvdW<br />

Es – energia <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação axial (comprimento da ligação)<br />

Ea – energia <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação angular (ângulo <strong>de</strong> ligação)<br />

Et – energia <strong>de</strong> rotação da ligação (ângulo <strong>de</strong> torção)<br />

EvdW – energia <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals (estérica)<br />

Equação 1 - Energia total do sistema<br />

O campo <strong>de</strong> força é usado para calcular a energia e a geometria <strong>de</strong> uma<br />

molécula, sendo elaborado <strong>de</strong> forma que contenha uma coleção <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong><br />

átomos, parâmetros (para comprimento (s) e ângulos <strong>de</strong> ligação (a), ângulo <strong>de</strong> torsão<br />

(t), interações <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals (vdW) e outros) para calcular a energia <strong>de</strong> uma<br />

molécula. Cada uma das funções <strong>de</strong> energia representa a diferença <strong>de</strong> energia entre<br />

uma molécula real e uma molécula hipotética (ANDREI, 2003; SANT’ANNA, 2002). O<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mecânica molecular assume que qualquer afastamento dos parâmetros<br />

assinalados como i<strong>de</strong>ais resultam em penalida<strong>de</strong>s energéticas para a geometria<br />

molecular, em função <strong>de</strong> constantes características daquele <strong>de</strong>terminado parâmetro<br />

(SOUZA, 2007).<br />

Dessa maneira, esses parâmetros permanecem razoavelmente constantes<br />

entre <strong>estrutura</strong>s diferentes, consi<strong>de</strong>rando que os tipos <strong>de</strong> ligações e a hibridação dos<br />

átomos envolvidos sejam os mesmos (COHEN et al., 1990). Dessa forma, o método<br />

<strong>de</strong> mecânica molecular pressupõe<br />

que as funções <strong>de</strong> potencial possam ser<br />

transferidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> moléculas semelhantes.<br />

Métodos <strong>de</strong> mecânica molecular são mais simples e rápidos que os métodos<br />

<strong>de</strong> mecânica quântica, sendo capazes <strong>de</strong> calcular gran<strong>de</strong>s sistemas como as<br />

enzimas, visto que transferem valores conhecidos para outras moléculas, no entanto<br />

os resultados são limitados pela qualida<strong>de</strong> e abrangência dos parâmetros e pelas<br />

constantes usadas na construção do mo<strong>de</strong>lo. Os perfis <strong>de</strong> energia potencial obtidos<br />

com estes métodos têm significados limitados, visto que normalmente apenas pontos<br />

extremos são usados no procedimento <strong>de</strong> parametrização (COHEN et al., 1990).<br />

Assim a confiabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses cálculos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das funções <strong>de</strong> energia potencial e<br />

da qualida<strong>de</strong> dos parâmetros utilizados, sendo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância a escolha <strong>de</strong><br />

um campo <strong>de</strong> força a<strong>de</strong>quado para uma investigação (AFONSO, 2008). Comumente<br />

são empregados diferentes campos <strong>de</strong> forças nos programas computacionais, como:


64<br />

“MM1” (Molecular Mechanics 1), que tratam os hidrocarbonetos mais simples; “MM2”<br />

(Molecular Mechanics 2), para os hidrocarbonetos mais aprimorados, como os cíclicos<br />

e AMBER (Assisted Mo<strong>de</strong>l Building and Energy Refinement) usados para simulação<br />

<strong>de</strong> moléculas mais complexas como aminoácidos e proteínas, <strong>de</strong>ntre outras.<br />

1.9.2 Mecânica Quântica<br />

Os métodos <strong>de</strong> mecânica quântica, por outro lado, permitem maior precisão<br />

nos resultados, além <strong>de</strong> fornecerem dados sobre a <strong>estrutura</strong> eletrônica, que não é<br />

consi<strong>de</strong>rada na mecânica molecular. Isto implica em um custo computacional (tempo<br />

<strong>de</strong> computação) e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> memória muito maiores. Os pacotes <strong>de</strong> programas<br />

<strong>de</strong> métodos quânticos ab initio (CADPAC, GAMESS, GAUSSIAN, HONDO etc.) e<br />

semi-empíricos (AMPAC, MOPAC etc.) são baseados no formalismo <strong>de</strong> orbitais<br />

moleculares com diferentes abordagens (BARREIRO et al, 1997).<br />

Os métodos ab initio e semi-empíricos fornecem parâmetros químico-quânticos<br />

moleculares realísticos em um curto período <strong>de</strong> tempo. Cálculos químico-quânticos<br />

são uma gran<strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>scritores moleculares que po<strong>de</strong>m, em princípio, expressar<br />

muitas proprieda<strong>de</strong>s geométricas e eletrônicas das moléculas e suas interações com<br />

o alvo celular (ARROIO, HONÓRIO e SILVA, 2010).<br />

1.9.2.1 Métodos Quânticos ab initio<br />

Os métodos <strong>de</strong> Química Quântica po<strong>de</strong>m ser aplicados em Q<strong>SAR</strong> pela<br />

<strong>de</strong>rivação direta dos <strong>de</strong>scritores eletrônicos a partir das proprieda<strong>de</strong>s eletrônicas e<br />

<strong>estrutura</strong>is geradas. Em geral, o tratamento teórico mais rigoroso não utiliza<br />

parâmetros empíricos, sendo <strong>de</strong>nominado ab initio. Este tipo <strong>de</strong> método fornece<br />

informação relativamente mais precisa sobre o comportamento eletrônico, mesmo<br />

lento e utilizando muito tempo computacional (ARROIO, HONÓRIO e SILVA, 2010).<br />

O termo ab initio <strong>de</strong>riva do latim e significa “a partir do princípio”, ou seja, são<br />

cálculos realizados diretamente dos princípios da física quântica, utilizando a equação<br />

<strong>de</strong> Schrödinger completa, sem aproximações adicionais, para tratar todos os elétrons<br />

<strong>de</strong> um sistema químico. Os cálculos utilizam os chamados conjuntos <strong>de</strong> bases


65<br />

atômicas, que requerem parâmetros <strong>de</strong> constantes físicas como velocida<strong>de</strong> da luz,<br />

constante <strong>de</strong> Planck e massa das partículas elementares (AFONSO, 2008; LEACH,<br />

2001).<br />

1.9.2.1.1 Função <strong>de</strong> base<br />

A função <strong>de</strong> base mais comum em cálculos <strong>de</strong> mecânica quântica é composta<br />

<strong>de</strong> funções atômicas. Na prática, aproximações são necessárias para restringir a<br />

complexida<strong>de</strong> da função <strong>de</strong> onda eletrônica e tornar seu cálculo possível<br />

(SANT’ANNA, 2002). Assim, funções <strong>de</strong> onda muito precisas para os orbitais foram<br />

<strong>de</strong>senvolvidas por Hartree e, mais tar<strong>de</strong>, ajustadas a expressões analíticas,<br />

chamadas funções <strong>de</strong> onda atômica <strong>de</strong> Slater (conhecidas como STO). Já os<br />

métodos mais mo<strong>de</strong>rnos utilizam funções <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> Gaussianas (3-21G; 6-31G<br />

entre outros) que, apesar <strong>de</strong> não <strong>de</strong>screver as funções <strong>de</strong> onda atômicas tão bem<br />

quanto as funções <strong>de</strong> Slater, permitem que os cálculos sejam executados mais<br />

rapidamente (RODRIGUES, 2001). Uma aproximação frequentemente empregada,<br />

consi<strong>de</strong>rando a eficiência computacional, é o uso dos mesmos expoentes Gaussianos<br />

para os orbitais s e p, o que restringe a flexibilida<strong>de</strong> da função <strong>de</strong> base, porém reduz<br />

significantemente a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrais a serem calculadas. Esquemas <strong>de</strong><br />

representação que contêm somente as funções necessárias para acomodar todos os<br />

orbitais preenchidos em cada átomo têm sido utilizados nos cálculos ab initio. A<br />

função <strong>de</strong> base mínima para, por exemplo, os átomos <strong>de</strong> Hidrogênio e Hélio seria<br />

uma única função tipo s, enquanto que, para os elementos do Lítio ao Neônio, seriam<br />

funções tipo 1s, 2s e 2p. As funções <strong>de</strong> base STO-3G (em geral, STO-nG) são todas<br />

as funções <strong>de</strong> base mínima na qual n funções Gaussianas são usadas para<br />

representar cada orbital. No mínimo, três funções Gaussianas são necessárias para<br />

representar cada orbital tipo Slater e a função <strong>de</strong> base STO-3G é o mínimo absoluto<br />

que <strong>de</strong>ve ser utilizado no cálculo ab initio do orbital molecular. A utilização da função<br />

<strong>de</strong> base mínima possui <strong>de</strong>ficiências. Existem problemas particulares relacionados a<br />

compostos que contêm átomos que finalizam períodos como o Oxigênio e Flúor. Os<br />

átomos citados utilizam o mesmo número <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> base que átomos que iniciam<br />

períodos, embora aqueles tenham mais elétrons que estes. A função <strong>de</strong> base mínima<br />

não consegue <strong>de</strong>screver aspectos não-esféricos na distribuição eletrônica para


66<br />

elementos do segundo período como o Carbono, por exemplo, cuja anisotropia<br />

somente associa as funções 2p x , 2p y e 2p z , on<strong>de</strong> x, y e z não po<strong>de</strong>m ser diferenciados<br />

entre si. Estas <strong>de</strong>ficiências po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificadas se o dobro <strong>de</strong> uma função for<br />

utilizado como função <strong>de</strong> base mínima para cada orbital e é <strong>de</strong>scrita como uma base<br />

double zeta. Esta abordagem soluciona o problema da anisotropia já que permite<br />

diferentes combinações lineares para os orbitais p x , p y e p z . Uma alternativa para a<br />

abordagem double zeta é dobrar o número <strong>de</strong> funções utilizadas para <strong>de</strong>screver os<br />

elétrons <strong>de</strong> valência, mas manter uma única função para os elétrons dos orbitais do<br />

núcleo, já que estes não alteram proprieda<strong>de</strong>s químicas e não sofrem gran<strong>de</strong>s<br />

variações <strong>de</strong> uma molécula para outra. Esta valência dividida (split valence) da base<br />

double zeta é exemplificada pela função <strong>de</strong> base 6-31G on<strong>de</strong>: seis funções<br />

Gaussianas são utilizadas para <strong>de</strong>screver os orbitais do núcleo, três funções<br />

Gaussianas representam a parte contraída e uma função Gaussiana representa a<br />

parte difusa dos elétrons <strong>de</strong> valência. O simples aumento do número <strong>de</strong> funções <strong>de</strong><br />

base não necessariamente aperfeiçoa o mo<strong>de</strong>lo. O uso da valência dividida po<strong>de</strong><br />

ajudar a superar os problemas <strong>de</strong> distribuição da carga, porém não o faz totalmente.<br />

A distribuição da carga do átomo numa molécula é diferente da distribuição da carga<br />

do átomo isolado. A nuvem eletrônica em um átomo <strong>de</strong> hidrogênio é simétrica, porém,<br />

quando o Hidrogênio encontra-se em uma molécula, os elétrons são atraídos para o<br />

outro núcleo. A distorção correspon<strong>de</strong> à interação do orbital tipo p com o orbital 1s do<br />

Hidrogênio, gerando o orbital híbrido sp (LEACH, 2001).<br />

A solução mais comumente empregada para o problema é a introdução <strong>de</strong><br />

funções <strong>de</strong> polarização na função <strong>de</strong> base. Estas funções <strong>de</strong> polarização têm um<br />

número quântico angular mais elevado que correspon<strong>de</strong> aos orbitais p para o<br />

hidrogênio e aos orbitais d para os elementos do primeiro e segundo períodos. O uso<br />

das funções <strong>de</strong> base <strong>de</strong> polarização é indicado por um asterisco (*). Logo, 6-31G* se<br />

refere à base 6-31G com funções <strong>de</strong> polarização em átomos pesados (i.e., não<br />

Hidrogênio) (LEACH, 2001).<br />

Apesar dos métodos ab initio resultarem numa predição quantitativa <strong>de</strong> alta<br />

qualida<strong>de</strong> para uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sistemas, eles são <strong>de</strong>morados e <strong>de</strong> alto<br />

custo computacional. Um recurso comumente empregado é otimizar a geometria com<br />

um conjunto <strong>de</strong> base mais simples e, em seguida, executar cálculos <strong>de</strong> “ponto único”<br />

(Single Point) com um conjunto <strong>de</strong> base mais completo, permitindo <strong>de</strong>terminar a


67<br />

energia e outras proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um sistema molecular, usando uma base <strong>de</strong> cálculo<br />

mais sofisticada (MAGALHÃES, 2009).<br />

1.9.2.2 Métodos Quânticos Semi-Empíricos<br />

Os métodos semi-empíricos são baseados no mesmo formalismo dos métodos<br />

ab initio, mas parte <strong>de</strong> seus parâmetros são ajustados a dados experimentais. A<br />

parametrização dos métodos semi-empíricos com dados experimentais aumenta<br />

significativamente a acurácia química e a velocida<strong>de</strong> dos métodos dos orbitais<br />

moleculares (RODRIGUES, 2001). Esses métodos têm sido <strong>de</strong>senvolvidos no âmbito<br />

da matemática para a teoria dos orbitais moleculares e são baseados em<br />

simplificações e aproximações que reduzem o tempo do procedimento computacional<br />

(KARELSON, LOBANOV e KATRITZKY, 1996). Nesse tipo <strong>de</strong> método, os cálculos<br />

são simplificados usando parâmetros para algumas integrais ou ignorando alguns <strong>de</strong><br />

seus termos (LEACH, 2001). Estes métodos se baseiam em suposições que<br />

simplificam os cálculos e utilizam certos parâmetros obtidos dos dados experimentais.<br />

Vale ressaltar que a precisão <strong>de</strong>sses métodos está relacionada ao erro associado ao<br />

conjunto <strong>de</strong> base selecionado e no tratamento da cor<strong>relação</strong> eletrônica (ARROIO,<br />

HONÓRIO e SILVA, 2010). As diversas aproximações semi-empíricas permitem evitar<br />

o cálculo <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> integrais, o que possibilita a aplicação <strong>de</strong>stes<br />

métodos em sistemas com um número maior <strong>de</strong> átomos. Nestes métodos, os núcleos<br />

são assumidos em sucessivas posições estacionárias, sobre as quais a distribuição<br />

espacial ótima dos elétrons é calculada pela resolução da equação <strong>de</strong> Schrödinger. O<br />

processo é repetido até que a energia não mais varie <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um limite escolhido,<br />

ou seja, até se alcançar um ponto estacionário da superfície <strong>de</strong> energia<br />

(RODRIGUES, 2001). Os métodos semi-empíricos mais recentes são AM1 (Austin<br />

Mo<strong>de</strong>l 1) e PM3 (Parametric Method 3) contidos em diversos pacotes <strong>de</strong> cálculos<br />

teóricos (RODRIGUES, 2001). O AM1 foi projetado para eliminar o problema do<br />

MNDO (Modified Neglect of Differential Overlap), que superestima a repulsão entre<br />

átomos. A estratégia foi utilizar funções Gaussianas <strong>de</strong> atração e repulsão. Logo, o<br />

processo <strong>de</strong> parametrização se tornou muito mais complexo e as <strong>de</strong>ficiências<br />

associadas à repulsão do núcleo foram corrigidas (LEACH, 2001). O método AM1 tem<br />

a vantagem <strong>de</strong> ter tempo computacional relativamente curto quando comparado com


68<br />

os métodos ab initio e dispõe <strong>de</strong> parametrização para uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

átomos (todos os elementos do segundo período, halogênios, Al, Si, P, S, Sn, Hg e<br />

Pb). Este método promove ainda bons <strong>de</strong>scritores para ânions e sistemas <strong>de</strong> ligação<br />

<strong>de</strong> Hidrogênio (KARELSON, LOBANOV e KATRITZKY, 1996).<br />

1.9.3 Descritores Moleculares<br />

Os métodos <strong>de</strong> Química Quântica e as técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular<br />

permitem a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s moleculares como a<br />

reativida<strong>de</strong>, forma e modo <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> moléculas completas, fragmentos e<br />

substituintes moleculares. Devido às diversas informações contidas em muitos<br />

<strong>de</strong>scritores moleculares, sua utilização em estudos <strong>de</strong> Q<strong>SAR</strong> apresenta duas<br />

vantagens principais:<br />

a) os compostos, seus vários fragmentos e substituintes po<strong>de</strong>m ser diretamente<br />

caracterizados baseados em suas <strong>estrutura</strong>s moleculares somente;<br />

b) o mecanismo <strong>de</strong> ação proposto po<strong>de</strong> ser diretamente representado em termos da<br />

reativida<strong>de</strong> dos compostos em estudo (ARROIO, HONÓRIO e SILVA, 2010).<br />

1.9.3.1 Energia dos Orbitais <strong>de</strong> Fronteira – HOMO e LUMO<br />

As energias do HOMO (highest occupied molecular orbital) e do LUMO (lowest<br />

unoccupied molecular orbital) são muito utilizadas como <strong>de</strong>scritores em estudos <strong>de</strong><br />

Q<strong>SAR</strong>. Estes orbitais <strong>de</strong>sempenham um papel importante em reações químicas e no<br />

processo <strong>de</strong> interação fármaco-receptor. De acordo com a teoria dos orbitais<br />

moleculares <strong>de</strong> fronteira, a formação <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> transição é <strong>de</strong>vido à interação<br />

entre os orbitais <strong>de</strong> fronteira HOMO e LUMO das espécies reagentes (KARELSON,<br />

LOBANOV e KATRITZKY, 1996). A energia do HOMO me<strong>de</strong> o caráter elétron-doador<br />

<strong>de</strong> um composto e a energia do LUMO me<strong>de</strong> o caráter elétron-receptor. Destas<br />

<strong>de</strong>finições, duas características importantes po<strong>de</strong>m ser observadas: quanto maior a<br />

energia do HOMO, maior a capacida<strong>de</strong> doadora <strong>de</strong> elétrons e, quanto menor a<br />

energia do LUMO, menor será a resistência para aceitar elétrons. As energias do


69<br />

HOMO e do LUMO têm sido usadas há algumas décadas como índices <strong>de</strong> reativida<strong>de</strong><br />

química e são comumente correlacionadas com outros índices, tais como afinida<strong>de</strong><br />

eletrônica e potencial <strong>de</strong> ionização (ARROIO, HONÓRIO e SILVA, 2010).<br />

1.9.3.2 Densida<strong>de</strong> dos Orbitais <strong>de</strong> Fronteira<br />

A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica dos orbitais <strong>de</strong> fronteira nos átomos fornece uma forma<br />

útil para a caracterização <strong>de</strong>talhada das interações doador-aceptor. A maioria das<br />

reações químicas ocorre no local <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica nos orbitais <strong>de</strong><br />

fronteira, que são <strong>de</strong>finidos <strong>de</strong> acordo com o tipo <strong>de</strong> reação: numa reação eletrofílica,<br />

a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO é essencial para a transferência <strong>de</strong> elétrons, enquanto a<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> LUMO representa as áreas mais suscetíveis a ataques nucleofílicos<br />

(MAGALHÃES, 2009).<br />

1.9.3.3 Momento Dipolo Molecular<br />

Outro <strong>de</strong>scritor que também é muito utilizado em estudos da <strong>relação</strong> <strong>estrutura</strong>ativida<strong>de</strong><br />

é o momento <strong>de</strong> dipolo, ou momento dipolar. Esta é uma proprieda<strong>de</strong> que<br />

me<strong>de</strong> a magnitu<strong>de</strong> da carga <strong>de</strong>slocada quando átomos <strong>de</strong> eletronegativida<strong>de</strong>s<br />

diferentes são interligados. A direção do momento dipolar <strong>de</strong> uma molécula é<br />

baseada nas eletronegativida<strong>de</strong>s relativas dos átomos <strong>de</strong>sta molécula e o valor é<br />

obtido pelo vetor resultante dos momentos <strong>de</strong> dipolo <strong>de</strong> cada ligação presente na<br />

molécula. A presença <strong>de</strong> substituintes com eletronegativida<strong>de</strong>s diferentes altera<br />

proprieda<strong>de</strong>s moleculares como aci<strong>de</strong>z e basicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um composto, <strong>de</strong> forma que o<br />

momento dipolar está diretamente ligado à reativida<strong>de</strong> do mesmo (ARROIO,<br />

HONÓRIO e SILVA, 2010).<br />

1.9.3.4 Parâmetros Energéticos<br />

Parâmetros energéticos, como energia eletrônica, energia total e calor <strong>de</strong><br />

formação, também são muito utilizados para correlacionar <strong>estrutura</strong> química e<br />

ativida<strong>de</strong>. A energia eletrônica é <strong>de</strong>terminada mediante a aproximação <strong>de</strong> Born-


70<br />

Oppenheimer, ou seja, assumindo-se uma posição fixa dos núcleos, a equação <strong>de</strong><br />

Schrödinger é resolvida a fim <strong>de</strong> se encontrar a energia eletrônica da molécula. Este<br />

procedimento é repetido para diversas configurações fixas dos núcleos (através das<br />

interações SCF - Self-Consistent Field). A configuração nuclear que correspon<strong>de</strong> ao<br />

valor mínimo da energia eletrônica é a geometria <strong>de</strong> equilíbrio da molécula. A energia<br />

total é frequentemente utilizada para estimar a estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma espécie química,<br />

e correspon<strong>de</strong> à soma da energia <strong>de</strong> repulsão nuclear com a energia eletrônica.<br />

Assim como a energia total, o calor <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma molécula também é utilizado<br />

para estimar a estabilida<strong>de</strong> química. A partir da energia total do sistema, calcula-se a<br />

energia <strong>de</strong> atomização a partir da subtração das energias totais dos átomos em suas<br />

razões estequiométricas. O calor <strong>de</strong> formação (ΔHƒ) po<strong>de</strong> ser calculado usando-se as<br />

entalpias <strong>de</strong> atomização dos átomos e a energia <strong>de</strong> atomização (ARROIO, HONÓRIO<br />

e SILVA, 2010).<br />

1.9.3.5 Mo<strong>de</strong>los Gráficos<br />

1.9.3.5.1 Mapa <strong>de</strong> Potencial Eletrostático Molecular (MEP)<br />

O mapa <strong>de</strong> potencial eletrostático molecular (MEP) é a proprieda<strong>de</strong> mais<br />

importante e mais utilizada atualmente. Este mapa fornece a localização dos<br />

potenciais eletrostáticos na molécula e revela o tamanho molecular total. O tamanho<br />

da superfície revela o tamanho e a forma da molécula, enquanto o potencial negativo<br />

<strong>de</strong> superfície <strong>de</strong>monstra em quais regiões há o potencial eletrostático negativo. No<br />

MEP, a cor vermelha representa um potencial negativo (alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica), a<br />

cor azul representa um potencial positivo (baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica) enquanto as<br />

cores laranja, amarelo e ver<strong>de</strong> representam valores intermediários <strong>de</strong> potencial<br />

eletrostático. Os MEP, entre vários usos, servem para caracterizar várias regiões da<br />

molécula como as regiões ricas e pobres em elétrons e distinguir moléculas com<br />

cargas localizadas das moléculas com cargas <strong>de</strong>slocalizadas, assim como<br />

caracterizar estados <strong>de</strong> transição nas reações químicas (HEHRE, 2003).


71<br />

1.9.3.5.2 Mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do LUMO<br />

Os mapas <strong>de</strong> orbitais moleculares po<strong>de</strong>m conduzir a mo<strong>de</strong>los informativos. No<br />

mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do LUMO, o valor absoluto do orbital molecular mais<br />

baixo <strong>de</strong>socupado é mapeado. Este mapa mostra quais as regiões da molécula são<br />

mais <strong>de</strong>ficientes <strong>de</strong> elétrons e, portanto, mais sujeitas ao ataque nucleofílico (HEHRE,<br />

2003).<br />

1.9.3.5.3 Mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do HOMO<br />

Já nos mapas <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do HOMO, o valor absoluto do orbital<br />

molecular mais alto ocupado é mapeado. Este mapa mostra quais as regiões da<br />

molécula são mais ricas em elétrons e, portanto, mais sujeitas a reações eletrofílicas<br />

(HEHRE, 2003).<br />

1.9.4 Parâmetros Farmacocinéticos In Silico<br />

1.9.4.1 Coeficiente <strong>de</strong> Partição<br />

O coeficiente <strong>de</strong> partição <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada espécie química é <strong>de</strong>finido como<br />

sendo a razão entre as concentrações que se estabelecem nas condições <strong>de</strong><br />

equilíbrio <strong>de</strong> uma substância química, quando dissolvida em sistema constituído por<br />

uma fase orgânica e uma fase aquosa, e está associado à mudança <strong>de</strong> energia livre<br />

provocada pela substância sobre o equilíbrio termodinâmico do sistema. Esta <strong>relação</strong><br />

po<strong>de</strong> ser expressa pela Equação 2:<br />

P = [orgânica]<br />

[aquosa]<br />

On<strong>de</strong>,<br />

P: coeficiente <strong>de</strong> partição do composto analisado<br />

[orgânica]: concentração da substância na fase orgânica<br />

[aquosa]: concentração da substância na fase aquosa<br />

Equação 2 – Coeficiente <strong>de</strong> Partição<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o coeficiente <strong>de</strong> partição é um dos parâmetros físicoquímicos<br />

mais amplamente utilizados em estudos <strong>de</strong> Q<strong>SAR</strong> e que sua <strong>de</strong>terminação<br />

é frequentemente necessária, foi <strong>de</strong>finido o sistema <strong>de</strong> solventes 1-octanol/tampão


72<br />

fosfato pH 7,4 com este objetivo. As principais vantagens do uso do 1-octanol como<br />

fase orgânica na <strong>de</strong>terminação do coeficiente <strong>de</strong> partição são: (TAVARES, 2004)<br />

a) ampla capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dissolução frente a diferentes compostos químicos;<br />

b) grupo OH, capaz <strong>de</strong> agir como doador ou aceptor <strong>de</strong> elétrons na formação <strong>de</strong><br />

ligações hidrogênio;<br />

c) capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dissolver até 2,3 M <strong>de</strong> água sob condições <strong>de</strong> equilíbrio, embora<br />

imiscível em água;<br />

d) não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quebra das ligações <strong>de</strong> hidrogênio <strong>de</strong> moléculas<br />

solvatadas durante sua transferência da fase orgânica para a fase aquosa;<br />

e) coeficientes <strong>de</strong> partição <strong>de</strong>terminados em 1-octanol/tampão fosfato refletem<br />

apenas as interações hidrofóbicas;<br />

f) não volátil à temperatura ambiente;<br />

g) a<strong>de</strong>quado à medição direta na região do UV, <strong>de</strong>vido a sua absorção ocorrer em<br />

comprimento <strong>de</strong> onda muito inferior à faixa <strong>de</strong> absorção da maioria dos<br />

fármacos;<br />

h) estabilida<strong>de</strong> química;<br />

i) disponibilida<strong>de</strong> comercial.<br />

Dentre os diversos métodos disponíveis para a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> coeficientes<br />

<strong>de</strong> partição citam-se o método <strong>de</strong> “shake-flask” que, em princípio, é simples e<br />

fundamenta-se na dissolução <strong>de</strong> um composto químico em um sistema bifásico<br />

formado por um solvente polar e um solvente apolar. As técnicas <strong>de</strong> cromatografia em<br />

camada fina (CCF) e cromatografia líquida <strong>de</strong> alta eficiência (CLAE) têm sido bastante<br />

utilizadas na <strong>de</strong>terminação dos parâmetros Rf e K’, respectivamente, tendo sido<br />

aplicadas, com sucesso, na obtenção <strong>de</strong> coeficientes <strong>de</strong> partição <strong>de</strong> compostos com<br />

solubilida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ravelmente maior em uma das fases (TAVARES, 2004).


73<br />

2 JUSTIFICATIVA<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se:<br />

que ainda não foram <strong>de</strong>senvolvidos medicamentos antivirais ou vacinas<br />

eficientes para combater a Dengue;<br />

que, para se evitar a disseminação crescente da doença, faz-se necessário<br />

intensificarem-se as ações <strong>de</strong> prevenção e combate ao vetor, o Ae<strong>de</strong>s aegypti;<br />

que a resistência dos insetos aos inseticidas disponíveis vem aumentando <strong>de</strong><br />

forma assustadora por diversos mecanismos e po<strong>de</strong>m ocorrer em vários inseticidas<br />

pelo mesmo grupo <strong>de</strong> insetos; e<br />

que isotiocianato <strong>de</strong> benzila (BITC) e seus <strong>de</strong>rivados tioureia <strong>de</strong>monstram-se<br />

larvicidas eficientes,<br />

justifica-se o presente trabalho pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>rem as<br />

<strong>estrutura</strong>s e grupamentos das moléculas responsáveis pela ativida<strong>de</strong> larvicida do<br />

BITC e <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>rivados tioureia, objetivando-se o aprimoramento <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>,<br />

além <strong>de</strong> conferir maior estabilida<strong>de</strong> química a esses compostos, através do uso <strong>de</strong><br />

ferramentas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular e <strong>síntese</strong> <strong>de</strong> protótipos potencialmente mais<br />

ativos contra as larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti.


74<br />

3 OBJETIVOS<br />

3.1 OBJETIVO GERAL<br />

O objetivo principal do trabalho consistiu no estudo da <strong>relação</strong> <strong>estrutura</strong><br />

química-ativida<strong>de</strong> (<strong>SAR</strong>) <strong>de</strong> benziltioureias <strong>de</strong>rivadas do BITC com modificações<br />

<strong>estrutura</strong>is no átomo <strong>de</strong> nitrogênio N’ (figura 23), dotadas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> letal frente a<br />

larvas <strong>de</strong> terceiro estádio <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti, utilizando metodologias computacionais.<br />

As referidas tioureias foram sintetizadas por Gil Viana em sua dissertação <strong>de</strong><br />

mestrado (VIANA, 2009).<br />

S<br />

N<br />

H<br />

N<br />

R 2<br />

R 1<br />

N’<br />

Figura 23 – Posição <strong>de</strong> substituição das benziltioureias estudadas<br />

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

Obter os parâmetros <strong>estrutura</strong>is e estereoletrônicos como as conformações <strong>de</strong><br />

menor energia, mapas <strong>de</strong> potencial eletrostático molecular, coeficientes <strong>de</strong> energia <strong>de</strong><br />

HOMO e LUMO e momento <strong>de</strong> dipolo, correlacionando os mesmos com a ativida<strong>de</strong><br />

larvicida das benziltioureias <strong>de</strong>rivadas do BITC aqui estudadas frente a larvas <strong>de</strong><br />

terceiro estádio <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti.<br />

Avaliar a influência dos substituintes nas posições 2, 4 e 6 do anel fenila da<br />

substituição R 1 das N-benzil,N’-feniltioureias estudadas em termos <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong><br />

larvicida, em comparação ao BITC, frente a larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti.<br />

Sintetizar e caracterizar os novos protótipos i<strong>de</strong>alizados racionalmente após a<br />

obtenção dos resultados <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular.<br />

Determinar a ativida<strong>de</strong> larvicida frente a larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti <strong>de</strong> todas as<br />

benziltioureias estudadas, incluindo os novos compostos sintetizados.<br />

Avaliar a reativida<strong>de</strong> do BITC frente a diferentes excipientes <strong>de</strong> modo a se<br />

preverem possíveis interações em uma formulação <strong>de</strong> inseticida <strong>de</strong> ação prolongada.


75<br />

4 MATERIAL E MÉTODOS<br />

4.1 MATERIAL<br />

Os reagentes e solventes utilizados foram adquiridos das marcas Vetec, Merck<br />

e Aldrich, sendo usados diretamente, sem qualquer necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> purificação ou<br />

tratamento prévio. Foi utilizada água <strong>de</strong>stilada em todos os procedimentos em que foi<br />

necessário o uso <strong>de</strong> água.<br />

Os excipientes testados possuiam grau farmacêutico.<br />

Todos os pontos <strong>de</strong> fusão (não corrigidos) foram medidos em aparelho<br />

MelTemp II (Laboratory Devices; USA).<br />

Na técnica <strong>de</strong> cromatografia em camada fina (CCF), foram utilizadas folhas <strong>de</strong><br />

alumínio recobertas com gel <strong>de</strong> sílica com indicador fluorescente (254 nm) como<br />

suporte, corrida em acetato <strong>de</strong> etila 5% em hexano, para visualização do BITC e<br />

acetato <strong>de</strong> etila a 50% para visualização das tioureias. Para revelação, foi utilizada luz<br />

ultravioleta (254 nm) e solução 7% (p/v) <strong>de</strong> ácido fosfomolíbdico em etanol e solução<br />

5% (p/v) <strong>de</strong> vanilina em H 2 SO 4 .<br />

Os espectros <strong>de</strong> ressonância magnética nuclear <strong>de</strong> hidrogênio (RMN 1 H) foram<br />

obtidos a 200 MHz ou 400 MHz nos aparelhos Varian Gemini 200 e Bruker 400<br />

respectivamente, utilizando-se o tetrametilsilano (TMS) como referência interna, em<br />

temperatura ambiente. Os valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento químico () foram referidos em<br />

parte por milhão (ppm) em <strong>relação</strong> ao TMS e os valores das constantes <strong>de</strong><br />

acoplamento (J) foram referidos em Hertz (Hz). As multiplicida<strong>de</strong>s dos sinais estão<br />

<strong>de</strong>scritas como: s = simpleto; d = dupleto; t = tripleto; q = quarteto; m = multipleto; sl =<br />

sinal largo.<br />

As larvas utilizadas foram obtidas a partir <strong>de</strong> ovos provenientes <strong>de</strong> fêmeas<br />

sadias (não contaminadas) <strong>de</strong> criação cíclica <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti (linhagem<br />

Rockefeller), mantida no Laboratório <strong>de</strong> Bioquímica <strong>de</strong> Vetores <strong>de</strong> Doenças<br />

(IQ/<strong>UFRJ</strong>), em ambiente climatizado a 28 °C, com 80% <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> relativa e fotofase<br />

<strong>de</strong> 12 h (12/12 h <strong>de</strong> luz e escuro), alimentadas com ração para gatos durante 3 a 4<br />

dias após a eclosão dos ovos, quando atingiram seu terceiro estádio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento (L 3 ) para a realização dos bioensaios.


76<br />

4.2 MÉTODOS<br />

4.2.1 Avaliação da Reativida<strong>de</strong> do BITC<br />

A avaliação da reativida<strong>de</strong> do BITC foi conduzida seguindo-se o procedimento<br />

experimental usado para a preparação das benziltioureias, substituindo-se, todavia,<br />

as aminas empregadas como substratos da reação por excipientes que po<strong>de</strong>riam<br />

compor uma futura formulação <strong>de</strong> inseticida <strong>de</strong> BITC ou benziltioureia. Estes testes <strong>de</strong><br />

compatibilida<strong>de</strong> realizados com os possíveis excipientes consistiram em <strong>de</strong>ixar o<br />

BITC solubilizado em diclorometano em contato com os mesmos (aproximadamente<br />

1:1 p/p), sob agitação, por períodos <strong>de</strong> 24, 36 e 48 horas. Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>corrido cada<br />

intervalo <strong>de</strong> tempo, foi realizada cromatografia em camada fina, utilizando placa <strong>de</strong><br />

sílica-gel, corrida em acetato <strong>de</strong> etila 5% em hexano, visualização sob luz UV,<br />

revelação em solução alcoólica a 7% <strong>de</strong> ácido fosfomolíbdico, e aquecimento em<br />

chama, comparando-se a solução padrão <strong>de</strong> BITC em diclorometano com a solução<br />

da mistura BITC-excipiente.<br />

Os excipientes testados foram:<br />

‣ Amido <strong>de</strong> milho<br />

‣ Carboximetilcelulose<br />

‣ Celulose microcristalina<br />

‣ Estearato <strong>de</strong> magnésio<br />

‣ Etilcelulose<br />

‣ Hidroxipropilmetilcelulose<br />

‣ Lactose<br />

‣ Talco<br />

Foi testado também um polímero poliaminado e polihidroxilado, mais reativo<br />

frente ao grupamento isotiocianato, <strong>de</strong> forma a se concluir acerca da estabilida<strong>de</strong> ou<br />

não do BITC para futura formulação como inseticida e aplicação por um período <strong>de</strong><br />

tempo prolongado, que i<strong>de</strong>almente po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> 40 a 60 dias. Para tal, elegeu-se o<br />

Polyquart H ® , produzido pela Cognis Inc. um polímero obtido do óleo <strong>de</strong> coco que<br />

apresenta em sua <strong>estrutura</strong> grupos NH e OH passíveis <strong>de</strong> reação com o BITC. Após<br />

diversos testes <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong>, conseguiu-se chegar a um procedimento para<br />

avaliação da compatibilida<strong>de</strong> com o Polyquart H ® e BITC. Em balão <strong>de</strong> 100 mL, foram


77<br />

adicionados 0,6719 g <strong>de</strong> Polyquart H ® e dimetilsulfóxido (DMSO) em quantida<strong>de</strong><br />

suficiente para a solubilização. A esse balão foram adicionados 1,5074 g <strong>de</strong> BITC<br />

previamente dissolvido em diclorometano (CH 2 Cl 2 ). A mistura reacional ficou sob<br />

agitação à temperatura ambiente por 24 horas, ainda apresentando BITC no meio<br />

reacional, mas com significativa redução <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> da mancha, visualizada por<br />

constantes cromatografias em camada fina (CCF) em acetato <strong>de</strong> etila/hexano 5:95 e<br />

evi<strong>de</strong>nciadas sob luz UV e reveladas em solução alcoólica <strong>de</strong> ácido fosfomolíbdico a<br />

7% e chama. A mistura reacional foi aquecida a 120°C, temperatura inferior ao ponto<br />

<strong>de</strong> ebulição dos constituintes, por 7 horas. Por haver necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong><br />

volume da mistura reacional, foram adicionados 10 mL <strong>de</strong> terc-butanol, uma vez que a<br />

adição <strong>de</strong> mais DMSO dificultaria o processo <strong>de</strong> remoção do solvente, consi<strong>de</strong>rando<br />

que seu ponto <strong>de</strong> ebulição é <strong>de</strong> 189°C. Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>corridas 7 horas sob<br />

aquecimento e agitação, todo o BITC foi consumido. Apesar <strong>de</strong> serem as condições<br />

utilizadas mais drásticas, as mesmas servem como indicativo dos futuros problemas<br />

<strong>de</strong> processamento que po<strong>de</strong>rão ser observados com a formulação do BITC,<br />

reforçando-se a escolha das tioureias como alvo do presente estudo.<br />

4.2.2 Síntese das Benziltioureias<br />

A metodologia <strong>de</strong> <strong>síntese</strong> das 27 benziltioureias utilizadas encontra-se <strong>de</strong>scrita<br />

na dissertação <strong>de</strong> mestrado <strong>de</strong> Gil Men<strong>de</strong>s Viana (VIANA, 2009). As diferentes<br />

aminas utilizadas neste estudo foram adicionadas em excesso aproximado <strong>de</strong> 20%<br />

em moles, <strong>de</strong> modo a reagir com o BITC no solvente apropriado (água, hexano,<br />

diclorometano, acetona, etanol ou DMSO), à temperatura ambiente ou sob refluxo, em<br />

função da polarida<strong>de</strong> e da reativida<strong>de</strong> das aminas, até o total consumo do BITC<br />

(Figura 24). O consumo do BITC foi <strong>de</strong>terminado por CCF, acetato <strong>de</strong> etila em hexano<br />

5:95, revelação em solução alcoólica a 7% <strong>de</strong> ácido fosfomolíbdico e aquecimento em<br />

chama. Ao final da reação, o excesso não reagido das aminas foi removido através <strong>de</strong><br />

extração ácido-base ou evaporação, no caso das aminas com baixo ponto <strong>de</strong><br />

ebulição. Nos casos on<strong>de</strong>, mesmo com o excesso <strong>de</strong> amina, foi possível observar a<br />

presença <strong>de</strong> BITC não reagido (através <strong>de</strong> CCF), este foi facilmente removido através<br />

<strong>de</strong> cromatografia em coluna <strong>de</strong> sílica <strong>de</strong> tamanho reduzido (Silica Flash), usando<br />

hexano como eluente, permitindo a obtenção das benziltioureias puras. A fácil


78<br />

separação do isotiocianato <strong>de</strong> benzila das benziltioureias se <strong>de</strong>ve à enorme diferença<br />

<strong>de</strong> polarida<strong>de</strong> entre os dois compostos.<br />

N C S<br />

S<br />

R 1<br />

Solvente a<strong>de</strong>quado<br />

+ H N<br />

N N R 1<br />

R 2 Temperatura a<strong>de</strong>quada<br />

H<br />

R 2<br />

BITC<br />

Amina<br />

Primária ou<br />

Secundária<br />

Benziltioureia<br />

Figura 24 – Método <strong>de</strong> obtenção das benziltioureias estudadas<br />

4.2.3 Tioureias utilizadas neste trabalho<br />

Viana, em sua dissertação <strong>de</strong> mestrado, em 2009, sintetizou tioureias pelo<br />

método geral, utilizando o BITC como substrato na reação com diferentes aminas<br />

primárias e secundárias, aromáticas, alifáticas e alicíclicas, <strong>de</strong> modo a obter as 27<br />

benziltioureias utilizadas na primeira fase <strong>de</strong>sse trabalho (VIANA, 2009).<br />

A <strong>estrutura</strong> geral das benziltioureias encontra-se na Figura 25, enquanto as<br />

<strong>estrutura</strong>s das benziltioureias estudadas, encontram-se nos quadros <strong>de</strong> 3 a 9.<br />

S<br />

N<br />

H<br />

N<br />

R 2<br />

R 1<br />

Figura 25 – Estrutura geral das benziltioureias estudadas


79<br />

Quadro 3 – Benziltioureias com R 1 alifático*<br />

Composto -NR 1 R 2 Nome PF<br />

1<br />

NH 2 N-benziltioureia 160 °C<br />

2<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-metiltioureia 67-69 °C<br />

3<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-butiltioureia 42-45 °C<br />

4 N<br />

H<br />

N-benzil, N’-isopropiltioureia 122-123 °C<br />

5* N N-benzil, N’,N’-diisopropiltioureia 80-83 °C<br />

6<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-isobutiltioureia 110-111 °C<br />

7 N<br />

H<br />

OH<br />

N-benzil, N’-(2-hidroxietil)tioureia 55-56 °C<br />

8 N<br />

H<br />

8<br />

( )<br />

( )<br />

7 N-benzil, N’-oleiltioureia 60-62 °C<br />

9**<br />

N<br />

H<br />

N, N’-dibenziltioureia 147-148 °C<br />

*A benziltioureia 5 apresenta R 2 ≠ H, sendo R 1 = R 2<br />

** Embora R 1 =benzila, foi consi<strong>de</strong>rado alifático em função do C sp 3 não participar da ressonância<br />

Quadro 4 – Benziltioureias com R 1 saturado alicíclico ou heterocíclico<br />

Composto -NR 1 R 2 Nome PF<br />

10 N NH<br />

N-benzil, N’-piperaziniltioureia 132-133 °C<br />

11 N O N-benzil, N’-morfoliniltioureia 87-89 °C<br />

12 N<br />

H<br />

N-benzil, N’-ciclohexiltioureia 90-91 °C


80<br />

Quadro 5 – Benziltioureias com R 1 aromático não-substituído<br />

Composto -NR 1 R 2 Nome PF<br />

13<br />

N N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(2-piridinil)tioureia 166-168 °C<br />

14<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-feniltioureia 152-153 °C<br />

Quadro 6 – Benziltioureias com R 1 aromático orto-substituído<br />

Composto -NR 1 R 2 Nome PF<br />

15<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(2-metilfenil)tioureia 137-138 °C<br />

16 N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(2-terc-butilfenil)tioureia 160-162 °C<br />

Quadro 7 – Benziltioureias com R 1 aromático meta-substituído<br />

Composto -NR 1 R 2 Nome PF<br />

OH<br />

17<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(3-hidroxifenil)tioureia 146-148 °C<br />

O<br />

18<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(3-acetilfenil)tioureia 142-145 °C


81<br />

Quadro 8 – Benziltioureias com R 1 aromático para-substituído<br />

Composto -NR 1 R 2 Nome PF<br />

19<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(4-metilfenil)tioureia 98-100 °C<br />

OH<br />

20<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(4-hidroxifenil)tioureia 154-156 °C<br />

O<br />

21<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(4-metoxifenil)tioureia 108-109 °C<br />

22<br />

N<br />

H<br />

NO 2<br />

N-benzil, N’-(4-nitrofenil)tioureia 108-110 °C<br />

23<br />

N<br />

H<br />

H<br />

N<br />

O<br />

N-benzil, N’-(4-acetamidofenil)tioureia 199-200 °C<br />

Quadro 9 – Benziltioureias com R 1 aromático dissubstituído<br />

Composto -NR 1 R 2 Nome PF<br />

24<br />

N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(2,6-dimetilfenil)tioureia 105-107 °C<br />

25<br />

N<br />

H<br />

Cl<br />

Cl<br />

N-benzil, N’-(3,4-diclorofenil)tioureia 160-162 °C<br />

O<br />

26<br />

N<br />

H<br />

NO 2<br />

N-benzil, N’-(2-nitro,4-metoxifenil)tioureia 110-113 °C<br />

27 N<br />

H<br />

N-benzil, N’-(α-naftil)tioureia 165-166 °C


82<br />

4.2.4 Avaliação da ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC e das benziltioureias estudadas<br />

Os bioensaios realizados para a <strong>de</strong>terminação da ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC<br />

foram conduzidos no Laboratório <strong>de</strong> Bioquímica <strong>de</strong> Vetores <strong>de</strong> Doenças (IQ/<strong>UFRJ</strong>),<br />

sob supervisão da Prof.ª Dra. Glória Regina Cardoso Braz. Estes testes larvicidas<br />

foram realizados <strong>de</strong> acordo com o protocolo estabelecido pela Organização Mundial<br />

da Saú<strong>de</strong> (WHO, 2005), com algumas modificações. Este protocolo estabelece os<br />

procedimentos a serem adotados em estudos laboratoriais e em pesquisas <strong>de</strong> campo,<br />

<strong>de</strong> pequena e larga escalas, com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a eficácia e a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

substâncias larvicidas.<br />

Os estudos laboratoriais são consi<strong>de</strong>rados estudos <strong>de</strong> primeira fase, on<strong>de</strong> se<br />

tem como objetivo principal a <strong>de</strong>terminação da potência do material testado. Para a<br />

avaliação <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> biológica, larvas <strong>de</strong> mosquito, em estágio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento conhecido, são expostas em água à substância larvicida em várias<br />

concentrações. Após a eclosão dos ovos <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti em água, espera-se um<br />

período <strong>de</strong> três a quatro dias para que as larvas atinjam seu terceiro estádio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento. As larvas <strong>de</strong> terceiro estádio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (L 3 ) foram<br />

selecionadas, reunidas em grupos <strong>de</strong> 20 e armazenadas em pequenos copos<br />

plásticos <strong>de</strong>scartáveis (50 mL) com 25 mL <strong>de</strong> água <strong>de</strong>stilada até o início do ensaio.<br />

Foram usados copos plásticos <strong>de</strong>scartáveis (transparentes) <strong>de</strong> 300 mL,<br />

contendo 249 mL <strong>de</strong> água <strong>de</strong>stilada e 1 mL da solução teste em acetona. Utilizou-se a<br />

mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> larvas e água <strong>de</strong>stilada, juntamente com 1 mL <strong>de</strong> acetona,<br />

para os grupos controles negativos.<br />

Após o preparo das soluções contendo a amostra a ser investigada, copos<br />

plásticos <strong>de</strong>scartáveis (transparentes) <strong>de</strong> 300 mL <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>, contendo 224 mL <strong>de</strong><br />

água <strong>de</strong>stilada, receberam 1mL <strong>de</strong>stas soluções teste. Depois que todos os copos já<br />

haviam recebido a solução, e inclusive o controle havia recebido 1 mL <strong>de</strong> acetona,<br />

todos eles foram preenchidos com os grupos <strong>de</strong> 20 larvas em 25 mL <strong>de</strong> água<br />

<strong>de</strong>stilada, somando ao final, em cada copo, o volume <strong>de</strong> 250 mL. Nestes ensaios,<br />

cada solução analisada foi testada em quatro copos (quadriplicata), ou seja, cada um<br />

dos quatro copos recebeu 1 mL da mesma solução.<br />

Os copos teste foram então mantidos à temperatura ambiente por 24 horas.<br />

Após esse período <strong>de</strong> contato com a amostra, foi feita a contagem do número <strong>de</strong>


83<br />

larvas mortas por copo. Essas foram consi<strong>de</strong>radas “mortas” quando havia ausência<br />

total <strong>de</strong> movimentos ou quando apresentaram movimentos limitados ao serem<br />

expostas a um estímulo, como o toque da ponta <strong>de</strong> uma pipeta. A mortalida<strong>de</strong> foi<br />

registrada.<br />

Inicialmente, as larvas do mosquito foram expostas a uma ampla faixa <strong>de</strong><br />

concentração, para que pu<strong>de</strong>sse ser encontrada a faixa <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> da substância<br />

testada. Este teste inicial foi feito em duplicata, ou seja, para cada concentração<br />

foram usados dois copos. Após <strong>de</strong>terminada a faixa <strong>de</strong> concentração em que as<br />

moléculas testadas apresentaram ativida<strong>de</strong>, uma nova faixa <strong>de</strong> concentração, mais<br />

limitada, foi usada para a <strong>de</strong>terminação dos valores <strong>de</strong> CL 50 e CL 99 , <strong>de</strong> maneira que<br />

haja no mínimo quatro concentrações que levem a uma mortalida<strong>de</strong> entre 10 e 95%.<br />

Em função do trabalho ter sido realizado em conjunto com o Laboratório <strong>de</strong><br />

Vetores <strong>de</strong> Doenças, a metodologia aqui utilizada foi a mesma utilizada na rotina das<br />

pesquisas do grupo. Cabe ressaltar que essa metodologia diferiu somente em alguns<br />

pontos daquela estabelecida pela OMS (WHO, 2005). Enquanto o protocolo mundial<br />

estabelece a utilização <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> 25 larvas em recipientes contendo <strong>de</strong> 100 a 200<br />

mL <strong>de</strong> água, neste trabalho foram utilizadas 20 larvas por copo, cada um<br />

apresentando o volume <strong>de</strong> 249 mL <strong>de</strong> água (Quadro 10). O protocolo estabelece,<br />

também, a realização <strong>de</strong> quatro ou mais réplicas (quatro ou mais copos) para cada<br />

concentração testada e que o estudo seja repetido mais duas vezes em outros<br />

diferentes dias. Entretanto, na metodologia aqui utilizada foi realizado um teste para<br />

cada molécula, utilizando-se, para uma dada concentração, duas soluções<br />

preparadas <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sendo cada uma <strong>de</strong>las testada em quadriplicata.<br />

Quadro 10: Diferenças entre o protocolo OMS e a metodologia utilizada<br />

Parâmetros<br />

OMS<br />

(WHO, 2005)<br />

Metodologia<br />

utilizada<br />

Número <strong>de</strong> larvas por grupo<br />

(número <strong>de</strong> larvas por copo)<br />

25 20<br />

Volume <strong>de</strong> água por recipiente do teste (copo) 100 a 200 mL 249 mL<br />

Número <strong>de</strong> réplicas ≥ 4 4<br />

Número <strong>de</strong> soluções por concentração 1 2


84<br />

4.2.5 Análise dos Dados<br />

A mortalida<strong>de</strong> observada foi corrigida em <strong>relação</strong> à mortalida<strong>de</strong> do controle<br />

negativo segundo a fórmula <strong>de</strong> Abbott:<br />

On<strong>de</strong>,<br />

Mortalida<strong>de</strong> (%) = X – Y . 100<br />

X<br />

X = % <strong>de</strong> sobreviventes no controle negativo<br />

Y = % <strong>de</strong> sobreviventes após exposição à solução-teste<br />

Equação 3 – Fórmula <strong>de</strong> Abbot<br />

Os dados experimentais foram <strong>de</strong>scartados quando ocorreu a morte <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> larvas no controle negativo, quando foi efetuada nova execução dos<br />

testes. A análise estatística dos dados experimentais para o BITC foi realizada<br />

usando-se o programa StatPlus 2007 (AnalystSoft) para a <strong>de</strong>terminação das<br />

concentrações letais requeridas para matar 50% (CL 50 ) e 99% (CL 99 ) das larvas em<br />

24 horas, através da análise <strong>de</strong> probitos com 95% <strong>de</strong> intervalo <strong>de</strong> confiança.<br />

4.2.6 <strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> <strong>SAR</strong> e Mo<strong>de</strong>lagem Molecular<br />

As <strong>estrutura</strong>s 3D dos compostos foram construídas e otimizadas no programa<br />

Spartan’06 ® , versão 1.1.2 da Wavefunction Inc., em ambiente Windows ® , numa<br />

estação <strong>de</strong> trabalho com processador Intel Pentium ® 4, operando a 3.2 GHz <strong>de</strong><br />

freqüência e 2 Gb <strong>de</strong> memória RAM. A distribuição das conformações foi efetuada<br />

através do método AM1 empregando análise conformacional sistemática com<br />

incrementos <strong>de</strong> 30 em 30 graus. O confôrmero <strong>de</strong> menor energia foi submetido a<br />

“single point calculation” pelo mo<strong>de</strong>lo DFT-B3LYP, utilizando a base 6-31G*. A seguir<br />

foram obtidos os valores <strong>de</strong> momento <strong>de</strong> dipolo molecular, mapa <strong>de</strong> potencial<br />

eletrostático molecular (MEP), mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do HOMO, mapa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do LUMO, distribuição dos orbitais HOMO e LUMO. Todas as<br />

imagens foram capturadas diretamente da tela com o programa SnagIt ® , versão 8.2.3<br />

da TechSmith Corporation, sem edição ou correção, com exceção da i<strong>de</strong>ntificação ou<br />

legenda dos compostos. Os valores <strong>de</strong> lipofilicida<strong>de</strong> (cLogP) foram obtidos pelo<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Crippen disponível no programa Spartan’06 ® . Para obtenção dos valores<br />

<strong>de</strong> pKa foi utilizado o programa ACD Structure Design, da ACD Labs.


85<br />

4.2.7 Síntese das benziltioureias sugeridas por <strong>SAR</strong><br />

Todas as benziltioureias sintetizadas por Vianna em 2009 e <strong>de</strong>scritas nesse<br />

trabalho foram utilizadas para estudos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem molecular. Dos resultados<br />

obtidos, foi sugerida a <strong>síntese</strong> da benziltioureia que proporcionaria maior ativida<strong>de</strong><br />

larvicida, substituindo-se a posição para com substituintes <strong>de</strong> diferentes<br />

características.<br />

Assim, foi sintetizada a N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-bromofenil)tioureia (composto<br />

24a’) a partir da reação do BITC com a 2,6-dimetil,4-bromoanilina, esta obtida a partir<br />

da 2,6-dimetilanilina, <strong>de</strong> acordo com metodologia sugerida por Rajagopal e<br />

colaboradores (RAJAGOPAL et al., 2004), com exceção apenas <strong>de</strong> que na<br />

metodologia utilizada não foi utilizado catalisador. Não foi obtido o composto puro,<br />

uma vez que não houve conversão total do material <strong>de</strong> partida à benziltioureia<br />

correspon<strong>de</strong>nte, havendo ainda no meio reacional o composto N-benzil,N’-(2,6-<br />

dimetilfenil)tioureia (composto 24). A separação via CCF não foi efetuada em função<br />

da proximida<strong>de</strong> dos Rf dos respectivos compostos.<br />

Para sintetizar a N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-nitrofenil)tioureia (composto 24a"),<br />

foi utilizada também a 2,6-dimetilanilina como composto <strong>de</strong> partida para se obter a<br />

2,6-dimetil,4-nitroanilina. Esta reagiria com o BITC, produzindo o composto 24a". A<br />

<strong>síntese</strong> da 2,6-dimetil,4-nitroanilina foi executada conforme o método <strong>de</strong>scrito por<br />

Moorthy e Saha (MOORTHY e SAHA, 2009). Porém, em função da reativida<strong>de</strong> da<br />

amina estar comprometida por sua baixa nucleofilicida<strong>de</strong>, esta não reagiu com o BITC<br />

para produzir a tioureia esperada, mesmo após o meio reacional permanecer sob<br />

refluxo em tert-butanol por cerca <strong>de</strong> 30 horas.<br />

Foi proposta a <strong>síntese</strong> da N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-metoxifenil)tioureia<br />

(composto 24b). Não foi obtido método viável <strong>de</strong> obtenção da amina precursora, a<br />

2,6-dimetil,4-metoxianilina. O custo <strong>de</strong> sua obtenção foi levantado, encontrando-se na<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 500.00 / 1g (MaxChemCo, pureza 98%), dificultando a <strong>síntese</strong> do<br />

composto 24b.


86<br />

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

5.1 REATIVIDADE DO BITC FRENTE A DIFERENTES EXCIPIENTES<br />

Os testes <strong>de</strong> compatibilida<strong>de</strong> do BITC com os possíveis excipientes <strong>de</strong> uma<br />

formulação <strong>de</strong> inseticida <strong>de</strong> liberação prolongada, listados na tabela 1, <strong>de</strong>monstraram<br />

que, a partir do simples contato em solvente, não houve reação entre o BITC e os<br />

mesmos.<br />

Tabela 1 – Excipientes testados com o BITC<br />

EXCIPIENTE<br />

CATEGORIA FUNCIONAL<br />

REAÇÃO<br />

COM BITC<br />

Amido <strong>de</strong> milho diluente, aglutinante, <strong>de</strong>sintegrante NÃO<br />

Carboximetilcelulose<br />

agente <strong>de</strong> revestimento, <strong>de</strong>sintegrante,<br />

aglutinante, adsorvente<br />

NÃO<br />

Celulose microcristalina adsorvente, diluente, <strong>de</strong>sintegrante NÃO<br />

Estearato <strong>de</strong> magnésio lubrificante NÃO<br />

Etilcelulose agente <strong>de</strong> revestimento, aglutinante NÃO<br />

Hidroxipropilmetilcelulose<br />

agente <strong>de</strong> revestimento, polímero para<br />

liberação sustentada<br />

NÃO<br />

Lactose diluente NÃO<br />

Talco lubrificante NÃO<br />

Como <strong>de</strong>scrito no item 4.2.1, a reação com o Polyquart H ® , um polímero<br />

poliaminado e polihidroxilado capaz <strong>de</strong> complexar com o BITC e retardar sua<br />

liberação, ocorreu <strong>de</strong> forma diversa daquelas para os <strong>de</strong>mais excipientes, verificandose<br />

reação entre o BITC e o excipiente testado.<br />

Os espectros <strong>de</strong> RMN 1 H a seguir foram obtidos para o BITC (espectro 1), o<br />

Polyquart H ® em DMSO (espectro 2) e Polyquart H ® + BITC após refluxo (espectro 3).


87<br />

a<br />

BITC<br />

a<br />

a<br />

H aromáticos<br />

Espectro 1 – RMN 1 H [400 MHz, CDCl 3 , (ppm)]: 7,41-7,29 (m, 5H), 4,70 (s, 2H)<br />

BITC<br />

Polyquart H ®<br />

em<br />

DMSO<br />

Espectro 2 – RMN 1 H [400 MHz, CDCl 3 , (ppm)]: 3,60 (s), 3,52 (s), 2,52 (s), 1,91 (s), 1,24 (s)<br />

Polyquart H ® em DMSO


88<br />

Polyquart H ® + BITC<br />

H aromáticos<br />

CH 2<br />

H 2O<br />

N-H<br />

DMSO<br />

Espectro 3 – RMN 1 H [400 MHz, CDCl 3 , (ppm)]: 7,97 (sl), 7,29-7,23 (m), 4,68 (s), 3,50 (s),<br />

3,35 (s), 2,48 (s) – Polyquart H ® + BITC após refluxo<br />

A análise dos espectros acima revela que, diferentemente dos espectros<br />

anteriores (1 e 2), no espectro 3 observa-se um <strong>de</strong>slocamento compatível com a<br />

formação <strong>de</strong> uma ligação N-H (possivelmente <strong>de</strong> um carbamato) em = 7,97 ppm<br />

mostrando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter ocorrido reação entre o BITC e o Polyquart H ® ,<br />

através <strong>de</strong> seus grupamentos hidroxila. Tal análise evi<strong>de</strong>ncia que aspectos <strong>estrutura</strong>is<br />

dos excipientes <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados no momento da formulação, principalmente<br />

quando se utilizam excipientes com grupamentos funcionais passíveis <strong>de</strong> reação com<br />

o BITC, aminas e hidroxilas, que po<strong>de</strong>m comprometer a estabilida<strong>de</strong> da forma<br />

farmacêutica, como exemplificado pelos grupamentos amina do Polyquart H ® , que, ao<br />

reagirem com o BITC, produzem uma ligação covalente, diminuindo a ativida<strong>de</strong><br />

larvicida do composto <strong>de</strong> origem.


89<br />

Com isso, <strong>de</strong>scarta-se a utilização <strong>de</strong> excipientes aminados e polióis como<br />

base para formulação <strong>de</strong> larvicida <strong>de</strong> liberação prolongada <strong>de</strong> BITC.<br />

A compatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá ser avaliada <strong>de</strong> forma mais profunda e significativa a<br />

partir dos testes <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, após a <strong>de</strong>finição dos excipientes utilizados na forma<br />

farmacêutica escolhida.<br />

5.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE LARVICIDA DO BITC<br />

Inicialmente foi realizado o estudo da ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC (Sigma-<br />

Aldrich; 99,5% pureza). Para avaliação inicial da faixa <strong>de</strong> concentração on<strong>de</strong> o BITC<br />

se mostraria ativo contra larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti, foram preparadas as soluções-<br />

-amostra indicadas na Figura 26.<br />

BITC comercial<br />

Solução Estoque G<br />

C = 12,8mg/mL<br />

Solução Estoque H<br />

C = 12,4mg/mL<br />

Média das concentrações das<br />

soluções G e H<br />

Solução G1: 0,794mg/mL<br />

Solução G2: 0,699mg/mL<br />

Solução G3: 0,603mg/mL<br />

Solução G4: 0,508mg/mL<br />

Solução G5: 0,413mg/mL<br />

Solução G6: 0,318mg/mL<br />

Solução G7: 0,222mg/mL<br />

Solução H1: 0,826mg/mL<br />

Solução H2: 0,727mg/mL<br />

Solução H3: 0,617mg/mL<br />

Solução H4: 0,529mg/mL<br />

Solução H5: 0,429mg/mL<br />

Solução H6: 0,330mg/mL<br />

Solução H7: 0,231mg/mL<br />

Solução GH1: 0,810mg/mL<br />

Solução GH2: 0,713mg/mL<br />

Solução GH3: 0,610mg/mL<br />

Solução GH4: 0,518mg/mL<br />

Solução GH5: 0,421mg/mL<br />

Solução GH6: 0,324mg/mL<br />

Solução GH7: 0,226mg/mL<br />

Cada solução foi<br />

testada em 4 copos<br />

Cada solução foi<br />

testada em 4 copos<br />

Foi consi<strong>de</strong>rado então que,<br />

para cada solução, foram<br />

testadas 160 larvas<br />

Figura 26: Soluções utilizadas na avaliação da ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC<br />

Os resultados obtidos para a ativida<strong>de</strong> larvicida e os corrigidos pela fórmula <strong>de</strong><br />

Abbott, o gráfico <strong>de</strong> dose-resposta utilizado para a <strong>de</strong>terminação dos valores <strong>de</strong> CL 50<br />

e CL 99 pela análise <strong>de</strong> probitos encontram-se na Figura 27.


90<br />

SOLUÇÃO<br />

CONCENTRAÇÃO 1<br />

(mg/mL)<br />

CONCENTRAÇÃO<br />

FINAL NO COPO 2<br />

(ppm)<br />

MORTALIDADE<br />

OBSERVADA 3<br />

(%)<br />

MORTALIDADE<br />

CORRIGIDA 4<br />

(%)<br />

GH1 0,810 3,24 91,87 91,8<br />

GH2 0,713 2,85 89,37 89,3<br />

GH3 0,610 2,44 76,25 76,1<br />

GH4 0,518 2,07 70,00 69,8<br />

GH5 0,421 1,68 54,37 54,1<br />

GH6 0,324 1,29 50,62 50,3<br />

GH7 0,226 0,91 24,37 23,9<br />

1 Concentração média das soluções G e H em acetona<br />

2 Concentração final no copo após transferência <strong>de</strong> 1 mL da solução até volume final <strong>de</strong> 250 mL<br />

3 Percentual <strong>de</strong> larvas mortas (N=160 larvas)<br />

4 Mortalida<strong>de</strong> percentual corrigida pela fórmula <strong>de</strong> Abbott (mortalida<strong>de</strong> no controle negativo = 0,6%)<br />

ANÁLISE DE PROBITOS<br />

Curva Dose x Resposta (BITC)<br />

CL 50 = 1,44 ppm<br />

Erro padrão= 0,04<br />

CL 99 = 6,52 ppm<br />

Erro padrão= 0,60<br />

Figura 27: Ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC contra Ae<strong>de</strong>s aegypti


91<br />

O valor <strong>de</strong> CL 50 obtido para o BITC comercial foi <strong>de</strong> 1,44 ppm contra os<br />

referenciados na literatura para os inseticidas organofosforados temephos (2,3 ppm) e<br />

fenitrothion (2,1 ppm), como <strong>de</strong>scrito por Macoris e colaboradores (MACORIS et al.,<br />

2007). Dessa forma, observa-se que o BITC é mais ativo que os inseticidas<br />

comumente utilizados no combate ao Ae<strong>de</strong>s aegypti.<br />

A metodologia adotada para a avaliação da ativida<strong>de</strong> inseticida contra larvas <strong>de</strong><br />

Ae<strong>de</strong>s aegypti das diferentes tioureias obtidas anteriormente por Viana em 2009 foi a<br />

mesma utilizada no estudo do BITC. Foi realizado um estudo <strong>de</strong> triagem, no qual<br />

todas as tioureias foram testadas na concentração <strong>de</strong> 50 ppm (referente à<br />

concentração final em cada copo do teste), <strong>de</strong> maneira a se <strong>de</strong>tectarem as diferenças<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> larvicida das moléculas.<br />

Os resultados <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> obtidos para o BITC e as benziltioureias estudadas<br />

encontram-se no gráfico abaixo:<br />

(%)<br />

Percentual <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Observado<br />

BITC e número das benziltioureias<br />

Gráfico 1 - Ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC e das benziltioureias sintetizadas contra Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

Como se observa no gráfico 1, as tioureias mais ativas contra as larvas <strong>de</strong> 3º<br />

estádio <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti foram os compostos 21 (N-benzil, N’-(4-metoxifenil)tioureia -<br />

62,5% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>), 24 (N-benzil, N’-(2,6-dimetilfenil)tioureia – 97,5% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>),<br />

26 (N-benzil, N’-(2-nitro,4-metoxifenil)tioureia - 37,5% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>) e 27 (N-benzil, N’-


92<br />

(α-naftil)tioureia – 85% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>). Observa-se que as benziltioureias são bem<br />

menos ativas do que o BITC puro anteriormente testado, mesmo sendo utilizadas na<br />

concentração <strong>de</strong> 50 ppm (~50 vezes a CL 50 do BITC). Porém, a alta reativida<strong>de</strong> do<br />

BITC, conferida pelo seu grupamento isotiocianato, torna esse composto menos<br />

estável, quando comparado as suas tioureias <strong>de</strong>rivadas. Dessa forma, a vantagem<br />

comparativa <strong>de</strong>sta nova classe se refere à maior estabilida<strong>de</strong> química das tioureias<br />

quando comparadas ao BITC. Tal fato possibilitaria formular um inseticida <strong>de</strong><br />

liberação prolongada com estas novas moléculas, aumentando sua aplicabilida<strong>de</strong>. O<br />

fato <strong>de</strong> serem compostos sólidos e não líquidos, como o BITC, representa outra<br />

vantagem adicional comparativa da classe. A princípio, ainda po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que<br />

a maior reativida<strong>de</strong> do BITC o tornaria mais tóxico para humanos que suas tioureias<br />

<strong>de</strong>rivadas, observando-se assim mais uma vantagem comparativa das mesmas<br />

(MASUTOMI et al., 2001). A facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>síntese</strong> e <strong>de</strong> purificação <strong>de</strong>ssas tioureias é<br />

função da alta reativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu composto <strong>de</strong> origem, o BITC, o que também po<strong>de</strong><br />

ser avaliado como uma vantagem <strong>de</strong>ssa classe <strong>de</strong> compostos.<br />

<strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> subaguda do BITC em ratos foram realizados por<br />

Lewerenz e colaboradores em 1992, através da administração oral <strong>de</strong> 0, 50, 100 e<br />

200 mg <strong>de</strong> BITC/kg massa corporal/dia durante 4 semanas. Observou-se que o ganho<br />

<strong>de</strong> massa corporal e o consumo <strong>de</strong> alimento diminuíram com o aumento das doses <strong>de</strong><br />

BITC. O grupo que recebeu as doses mais altas, 200 mg/kg/dia mostrou alterações<br />

hematológicas no nível sérico <strong>de</strong> colesterol e triglicerí<strong>de</strong>os. Disfunção renal também<br />

foi observada pela redução no volume <strong>de</strong> urina, proteinúria e aumento da ativida<strong>de</strong> da<br />

enzima urinária lactato <strong>de</strong>sidrogenase. Efeitos renais também foram observados por<br />

Akagi e colaboradores (AKAGI et al., 2003) e por Masutomi e colaboradores<br />

(MASUTOMI et al., 2001). A exposição dos ratos estudados ao BITC também afetou a<br />

massa <strong>de</strong> vários órgãos e causou alterações histológicas no ducto colédoco, fígado,<br />

íleo e linfonodos mesentéricos (LEWERENZ et al., 1992), evi<strong>de</strong>nciando-se sua<br />

toxicida<strong>de</strong>. Quanto às tioureias, há poucos estudos publicados sobre sua toxicida<strong>de</strong>.<br />

De acordo com estudo realizado por On<strong>de</strong>rwater e colaboradores (ONDERWATER et<br />

al, 1993), a toxicida<strong>de</strong> das tioureias em hepatócitos <strong>de</strong> rato é <strong>estrutura</strong>-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e<br />

se manifesta com uma ligação com a enzima lactato-<strong>de</strong>sidrogenase (LDH) e <strong>de</strong>pleção


93<br />

das sulfidrilas não protéicas intracelulares, principalmente o glutation reduzido (GSH),<br />

seguidas por alquilação <strong>de</strong> estruras macromoleculares vitais.<br />

5.3 ESTUDOS DE <strong>SAR</strong> E MODELAGEM MOLECULAR<br />

O estudo das relações <strong>estrutura</strong>-ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um composto-protótipo e seus<br />

análogos auxilia na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> quais partes da molécula são responsáveis pela<br />

ativida<strong>de</strong> biológica, ou seja, o grupo farmacóforo. As relações <strong>estrutura</strong>-ativida<strong>de</strong><br />

geralmente são elaboradas alterando-se parte da <strong>estrutura</strong> química do protótipo e<br />

observando-se qual influência na ativida<strong>de</strong> sob os pontos <strong>de</strong> vista quali e quantitativo.<br />

Po<strong>de</strong>-se alterar a dimensão e a conformação do esqueleto <strong>de</strong> carbono, a natureza e o<br />

grau <strong>de</strong> substituição, ou ainda a estereoquímica (THOMAS, 2003).<br />

A ativida<strong>de</strong> biológica <strong>de</strong> uma molécula <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma conformação única<br />

<strong>de</strong>ntre todas aquelas possíveis <strong>de</strong> baixa energia. A busca por essa conformação<br />

bioativa é um dos objetivos principais da química medicinal. Somente esta<br />

conformação bioativa ligar-se-á ao ambiente macromolecular específico no sítio ativo<br />

do receptor (HÖLTJE et al., 2003).<br />

A mo<strong>de</strong>lagem molecular reúne todo um conjunto <strong>de</strong> técnicas computacionais<br />

que possibilitam a construção, a visualização, a manipulação e a estocagem <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>los moleculares tridimensionais, permitindo a análise conformacional, o cálculo<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s estéreo-eletrônicas e a análise <strong>de</strong> variações <strong>estrutura</strong>is que auxiliam<br />

na interpretação das correlações entre as <strong>estrutura</strong>s químicas <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

compostos com a variação da ativida<strong>de</strong> bilógica, sendo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no<br />

planejamento <strong>de</strong> moléculas bioativas. Diante disso, os estudos envolvendo a <strong>relação</strong><br />

<strong>estrutura</strong>-ativida<strong>de</strong> (Structure-Activity Relationship - <strong>SAR</strong>) <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> compostos<br />

são essenciais na avaliação da ativida<strong>de</strong> e na toxicida<strong>de</strong> seletiva, além <strong>de</strong> guiar a<br />

<strong>síntese</strong> <strong>de</strong> novas moléculas, minimizando o universo <strong>de</strong> compostos a serem testados<br />

(MAGALHÃES, 2009).<br />

A segunda estratégia, isto é, o uso do método indireto, é necessária quando a<br />

<strong>estrutura</strong> da macromolécula-alvo não é conhecida. Assim, informações sobre a<br />

ativida<strong>de</strong> e características <strong>estrutura</strong>is e estereoeletrônicas dos compostos ativos e<br />

inativos po<strong>de</strong>m ser utilizadas para <strong>de</strong>terminar proprieda<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> uma<br />

molécula que po<strong>de</strong>m influenciar na interação com o alvo, tais como calor <strong>de</strong>


94<br />

formação, potencial eletrostático molecular (Molecular Eletrostatic Potential - MEP),<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica, energia e coeficiente dos orbitais <strong>de</strong> fronteira HOMO (Highest<br />

Occupied Molecular Orbital) e do LUMO (Lowest Unoccupied Molecular Orbital),<br />

energia <strong>de</strong> ionização, or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> ligação e momento <strong>de</strong> dipolo (BARREIRO et al.,<br />

1997) grupos hidrofóbicos, grupos aceptores e doadores <strong>de</strong> ligação hidrogênio. A<br />

partir <strong>de</strong>ssas informações, gera-se um mo<strong>de</strong>lo que po<strong>de</strong> ser utilizado para a seleção<br />

<strong>de</strong> compostos <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados ou orientar o processo <strong>de</strong> planejamento (COHEN<br />

et al., 1990).<br />

Os resultados dos estudos <strong>de</strong> <strong>SAR</strong> se encontram listados nas Tabelas 2 e 3.


95<br />

Tabela 2 – Comparação entre ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias e suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s físico-químicas<br />

C R 1<br />

Ativida<strong>de</strong><br />

(%)<br />

MW 1 clogP 2 pKa 3<br />

BITC - 100 149,2 2,27 ND<br />

1 H 10,0 166,2 1,54 16,57<br />

2 CH 3 0 180,3 2,06 16,34<br />

3 (CH 2) 3CH 3 5,00 222,4 3,30 16,35<br />

4 CH(CH 3) 2 32,5 208,3 2,72 16,19<br />

5* [CH(CH 3) 2] 2* 46,0 250,4 3,75 15,33<br />

6 CH 2CH(CH 3) 2 5,00 222,4 3,29 16,42<br />

7 CH 2CH 2OH 0 210,3 1,55 16,53<br />

8 (CH 2) 8CHCH(CH 2) 7CH 3 0 416,7 8,83 16,38<br />

9 CH 2 fenil 22,5 256,4 3,80 16,11<br />

10** piperazinil** 0 235,4 1,82 15,92<br />

11** morfolinil** 5,00 236,3 2,04 15,80<br />

12 ciclohexil 22,5 248,4 3,61 16,16<br />

13 piridinil 20,0 243,3 3,11 15,29<br />

14 fenil 0 242,4 3,73 15,69<br />

15 2-CH 3 fenil 17,5 256,4 4,22 15,70<br />

16 2-CH(CH 3) 3 fenil 0 298,4 5,43 15,70<br />

17 3-OH fenil 35,0 258,3 3,34 15,93<br />

18 3-COCH 3 fenil 15,0 284,4 3,04 15,75<br />

19 4-CH 3 fenil 10,0 256,4 4,21 15,78<br />

20 4-OH fenil 0 258,3 3,34 15,86<br />

21 4-OCH 3 fenil 62,5 272,4 3,60 15,74<br />

22 4-NO 2 fenil 27,5 287,3 3,76 15,19<br />

23 4-NHCOCH 3 fenil 7,50 299,4 2,64 15,78<br />

24 2,6-CH 3 fenil 97,5 270,4 4,70 15,70<br />

25 3,4-Cl fenil 5,00 311,2 4,84 15,25<br />

26 2-NO 2,4-OCH 3 fenil 37,5 317,4 3,63 15,34<br />

27 α-naftil 85,0 292,4 4,72 15,69<br />

1 Massa Molecular;<br />

2 Constante <strong>de</strong> Lipofilicida<strong>de</strong> ; 3 pKa (= -log Ka)<br />

* Tioureia secundária (N’ dissubstituído) ** N’ faz parte do radical heterocíclico ND- Não <strong>de</strong>terminado<br />

As linhas pontilhadas divi<strong>de</strong>m os compostos <strong>de</strong> acordo com a natureza dos substituintes conforme Quadros 3-9


96<br />

Tabela 3 – Comparação entre ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias e suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s eletrônicas moleculares teóricas<br />

C R 1<br />

Ativida<strong>de</strong><br />

(%)<br />

MW 1 HBD 2 HBA 3 EHOMO4<br />

(eV)<br />

E LUMO<br />

5<br />

(eV)<br />

µ 6<br />

(Debye)<br />

BITC - 100 149,2 0 2 -6,80 -1,22 2,92<br />

1 H 10,0 166,2 2 3 -6,01 -0,22 6,78<br />

2 CH 3 0 180,3 2 3 -6,05 -0,23 6,84<br />

3 (CH 2) 3CH 3 5,00 222,4 2 3 -6,02 -0,24 6,70<br />

4 CH(CH 3) 2 32,5 208,3 2 3 -6,01 -0,22 6,71<br />

5* [CH(CH 3) 2] 2* 46,0 250,4 1 3 -5,79 -0,44 6,91<br />

6 CH 2CH(CH 3) 2 5,00 222,4 2 3 -6,02 -0,25 6,76<br />

7 CH 2CH 2OH 0 210,3 3 4 -6,01 -0,23 5,35<br />

8 (CH 2) 8CHCH(CH 2) 7CH 3 0 416,7 2 3 -5,89 -0,22 7,44<br />

9 CH 2 fenil 22,5 256,4 2 3 -6,02 -0,28 6,93<br />

10** piperazinil** 0 235,4 1 4 -5,77 -0,26 6,08<br />

11** morfolinil** 5,00 236,3 1 4 -5,99 -0,51 6,20<br />

12 ciclohexil 22,5 248,4 2 3 -5,99 -0,22 6,73<br />

13 piridinil 20,0 243,3 2 4 -6,13 -0,99 4,52<br />

14 fenil 0 242,4 2 3 -5,84 -0,82 6,69<br />

15 2-CH 3 fenil 17,5 256,4 2 3 -5,80 -0,85 6,86<br />

16 2-CH(CH 3) 3 fenil 0 298,4 2 3 -5,81 -0,86 6,87<br />

17 3-OH fenil 35,0 258,3 3 4 -5,73 -0,86 6,59<br />

18 3-COCH 3 fenil 15,0 284,4 2 4 -5,92 -1,54 9,20<br />

19 4-CH 3 fenil 10,0 256,4 2 3 -5,69 -0,79 6,62<br />

20 4-OH fenil 0 258,3 3 4 -5,40 -0,71 8,06<br />

21 4-OCH 3 fenil 62,5 272,4 2 4 -5,43 -0,73 7,81<br />

22 4-NO 2 fenil 27,5 287,3 2 6 -6,18 -2,60 11,45<br />

23 4-NHCOCH 3 fenil 7,50 299,4 3 5 -5,46 -0,84 10,52<br />

24 2,6-CH 3 fenil 97,5 270,4 2 3 -5,97 -0,72 6,25<br />

25 3,4-Cl fenil 5,00 311,2 2 3 -6,03 -1,05 7,32<br />

26 2-NO 2,4-OCH 3 fenil 37,5 317,4 2 7 -5,93 -2,79 4,05<br />

27 α-naftil 85,0 292,4 2 3 -5,38 -1,35 6,58<br />

1 Massa Molecular;<br />

2 Doador <strong>de</strong> Ligações Hidrogênio; 3 Aceptor <strong>de</strong> Ligações Hidrogênio;<br />

4 Energia <strong>de</strong> HOMO;<br />

5 Energia <strong>de</strong> LUMO; 6 Momento Dipolo Molecular<br />

* Tioureia secundária (N’ dissubstituído) ** N’ faz parte do radical heterocíclico<br />

As linhas pontilhadas divi<strong>de</strong>m os compostos <strong>de</strong> acordo com a natureza dos substituintes conforme Quadros 3-9


97<br />

Os valores <strong>de</strong> clogP (Tabela 2) representam o caráter lipofílico das<br />

benziltioureias estudadas e variaram <strong>de</strong> 1,54 a 4,84 (exceto para as benziltioureias 8<br />

e 16, com valores <strong>de</strong> 8,83 e 5,43, respectivamente, que não apresentaram ativida<strong>de</strong><br />

larvicida), mostrando que as moléculas são suficientemente lipofílicas para<br />

penetrarem as membranas biológicas das larvas, associados aos valores <strong>de</strong> massa<br />

molecular, que variaram <strong>de</strong> 149,2 - para o BITC - a 416,7 - para a maior benziltioureia<br />

analisada, estando em concordância com a Regra-dos-Cinco <strong>de</strong> Lipinski, que<br />

estabelece como condição valores <strong>de</strong> clogP < 5 e MW ≤ 500 (LIPINSKI et al., 2001).<br />

Analisando-se os valores <strong>de</strong> pKa (Tabela 2), observou-se uma variação <strong>de</strong><br />

15,19 a 16,57. Os valores elevados <strong>de</strong> pKa obtidos indicam que os compostos são<br />

dificilmente ionizáveis e, consequentemente, ultrapassam mais facilmente as barreiras<br />

biológicas das larvas.<br />

Analisando-se os dados da tabela 2, observou-se:<br />

a) para as benziltioureias com R 1 alifático (Quadro 3), que o maior volume <strong>de</strong> R 1 e<br />

R 2 (compostos 4 e 5, ativida<strong>de</strong> 32,5% e 46%, respectivamente) provocou aumento da<br />

ativida<strong>de</strong> em <strong>relação</strong> ao composto 1, não substituído (ativida<strong>de</strong> 10%); indicando a<br />

possível <strong>relação</strong> do efeito estérico dos substituintes em <strong>relação</strong> ao N’ com a ativida<strong>de</strong><br />

larvicida <strong>de</strong>sses compostos. A baixa ativida<strong>de</strong> ou mesmo sua ausência nos<br />

compostos com ca<strong>de</strong>ias alifáticas mais extensas que a metil indicou que esses grupos<br />

mais volumosos <strong>de</strong>vem estar próximos ao átomo N’, proporcionando interações do<br />

tipo π-π stacking (GRIMME, 2008); consi<strong>de</strong>rando os parâmetros <strong>de</strong> dissociação e<br />

lipofilicida<strong>de</strong>, pHa e clogP, respectivamente, observa-se que o menor valor <strong>de</strong> pKa<br />

leva ao composto mais ativo, com clogP igual a 3,75 (tioureia 5 – 46% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>).<br />

b) a análise preliminar dos substituintes das benziltioureias com R 1 saturado<br />

alicíclico ou heterocíclico (Quadro 4) <strong>de</strong>monstrou que o átomo N’ <strong>de</strong>ve estar<br />

acessível, apresentando mobilida<strong>de</strong> conformacional para proporcionar maior interação<br />

com o receptor, como observado pela maior ativida<strong>de</strong> larvicida observada para o<br />

composto 12 (22,5%); a maior ativida<strong>de</strong> relaciona-se ao composto com maior valor <strong>de</strong><br />

pKa, mostrando também a possível influência da lipofilicida<strong>de</strong> (clogP = 3,61) , maior<br />

para essa tioureia, estando na mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za daquele calculado para a<br />

tioureia 5, que apresentou 46% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> larvicida;


98<br />

c) quando o substituinte R 1 é um anel aromático não-substituído (Quadro 5),<br />

observou-se que o substituinte piridina (composto 13) foi 20 vezes mais ativa que o<br />

benzeno (composto 14), possivelmente em função da maior contribuição do par <strong>de</strong><br />

elétrons livre do átomo <strong>de</strong> N no anel piridínico, aumentando a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica no<br />

anel aromático, gerando novos sítios <strong>de</strong> interação com os prováveis receptores; o<br />

composto mais ativo tendo apresentado também menor valor <strong>de</strong> pKa;<br />

d) na comparação entre os substituintes R 1 aromáticos orto-substituídos (Quadro 6),<br />

pô<strong>de</strong>-se concluir que a natureza do substituinte na posição orto é crítica para a<br />

ativida<strong>de</strong> larvicida do composto, em função da restrição conformacional tipo π-π<br />

stacking, como observado pela maior ativida<strong>de</strong> do composto 15 (17,5%), não se<br />

observando alteração na ativida<strong>de</strong> em função do pKa, mostrando a maior influência<br />

dos fatores estéricos para explicar a maior ativida<strong>de</strong> do composto com um substituinte<br />

pouco volumoso (metila) na posição orto quando comparada a um substituinte mais<br />

volumoso (tert-butil) na mesma posição;<br />

e) quando foi analisada a substituição do R 1 aromático na posição meta (Quadro 7),<br />

observou-se uma ativida<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2 vezes maior para o composto com OH<br />

(composto 17 – 35% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>) frente àquele acetilado (composto 18 – 15% <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>), indicando que a presença <strong>de</strong> um grupamento ativador forte na posição<br />

meta do anel aromático, como o grupamento hidroxila, po<strong>de</strong> ser mais importante para<br />

a ativida<strong>de</strong> larvicida que um substituinte mo<strong>de</strong>radamente <strong>de</strong>sativador, como o<br />

grupamento acetila em função da formação <strong>de</strong> ligações hidrogênio, apresentando<br />

também maiores valores <strong>de</strong> pKa e clogP;<br />

f) a substituição do R 1 aromático na posição para (Quadro 8) revelou que o<br />

composto mais ativo foi aquele com o grupamento p-OCH 3 (composto 21- 62,5% <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>), um substituinte mo<strong>de</strong>radamente ativador do anel aromático com baixa<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar ligações hidrogênio, em total contraposição à p-OH, outro<br />

substituinte ativador do anel (composto 20 – 0% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>) e, curiosamente, um<br />

grupamento fortemente <strong>de</strong>sativador, p-NO 2 (composto 22) apresentou a segunda<br />

maior ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse grupo (27,5% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>), mostrando uma possível alteração<br />

conformacional provocada pelo grupamento NO 2 . Um substituinte p-acetamidofenila,<br />

um grupamento mo<strong>de</strong>radamente ativador do anel, levou a uma benziltioureia com<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 7,5% (composto 23). Esses dados sugeriram que a presença <strong>de</strong>


99<br />

substituintes na posição para são importantes para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong><br />

benziltioureias, sendo sua natureza relevante, bem como os valores <strong>de</strong> pKa e clogP<br />

na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 15 e 3, respectivamente. Enquanto a posição orto revela o aspecto da<br />

restrição conformacional, a substituição em para consi<strong>de</strong>ra aspectos eletrônicos do<br />

substituinte.<br />

g) as benziltioureias mais ativas <strong>de</strong>sse trabalho encontraram-se no grupo daquelas<br />

com R 1 aromático dissubstituído (Quadro 9), sendo o composto mais ativo aquele<br />

com substituição orto,orto-dimetil (composto 24 – 97,5% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>), indicando que<br />

um impedimento estérico mo<strong>de</strong>rado sobre o N’ po<strong>de</strong> ser importante para a ativida<strong>de</strong><br />

larvicida <strong>de</strong>sses compostos por reduzir a mobilida<strong>de</strong> conformacional. O segundo<br />

composto mais ativo <strong>de</strong>sse grupo (composto 27- 85% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>), com substituinte<br />

α-naftil (consi<strong>de</strong>rado uma substituição orto-meta nas posições 2 e 3 do benzeno),<br />

mostra a possibilida<strong>de</strong> do efeito eletrônico adicional (π-π stacking), exercendo efeito<br />

sinérgico. A ativida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada do composto o-NO 2 ,p-OCH 3 (composto 26 – 37,5%<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>) mostra a presença <strong>de</strong> um substituinte fortemente <strong>de</strong>sativador na posição<br />

orto e <strong>de</strong> um substituinte mo<strong>de</strong>radamente ativador no anel na posição para,<br />

reforçando a hipótese da presença <strong>de</strong> um ativador na posição para ser importante<br />

para a ativida<strong>de</strong> larvicida <strong>de</strong>ssas benziltioureias e da contribuição <strong>de</strong> um substituinte<br />

na posição orto, em termos conformacionais. A presença dos substituintes fracamente<br />

<strong>de</strong>sativadores no composto 25, Cloro nas posições meta e orto, levou aos compostos<br />

menos ativos <strong>de</strong>sse grupo (5% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>), reforçando-se a importância da<br />

substituição na posição orto e valores <strong>de</strong> pKa na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 15.<br />

Os valores <strong>de</strong> HBD variaram <strong>de</strong> 0 a 3 e HBA variaram <strong>de</strong> 2 a 7 (Tabela 3),<br />

satisfazendo também a Regra-dos-Cinco <strong>de</strong> Lipinski (HBD < 5 e HBA < 10) (LIPINSKI<br />

et al., 1997). Os dados obtidos para HBD e HBA não parecem ter nenhuma<br />

cor<strong>relação</strong> clara ou direta com a ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias estudadas.<br />

A análise total dos momentos <strong>de</strong> dipolo molecular das benziltioureias (Tabela<br />

3) mostrou uma ampla variação <strong>de</strong> 4,05 a 11,45 Debye, sem nenhuma cor<strong>relação</strong><br />

clara ou direta com a ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias estudadas.<br />

A análise total das energias <strong>de</strong> HOMO e LUMO revelou que ambas variaram<br />

amplamente (E HOMO : -6,80 a -5,38 eV, E LUMO : -2,79 a -0,22 eV), também sem


100<br />

nenhuma cor<strong>relação</strong> clara ou direta com a ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias<br />

estudadas.<br />

Os mo<strong>de</strong>los gráficos obtidos para o BITC encontram-se na Figura 28.<br />

Configuração <strong>de</strong><br />

menor energia<br />

MEP<br />

Densida<strong>de</strong><br />

HOMO<br />

Densida<strong>de</strong><br />

LUMO<br />

Figura 28 – Mo<strong>de</strong>los gráficos para a molécula <strong>de</strong> BITC<br />

A conformação <strong>de</strong> menor energia para o BITC mostra a ligação N=C=S<br />

paralela à posição assumida pelo anel aromático.<br />

O mapa <strong>de</strong> potencial eletrostático molecular (MEP) é uma abordagem<br />

alternativa para se compreen<strong>de</strong>r a contribuição eletrostática para a ligação entre a<br />

droga e o receptor. Analisando-se o MEP do BITC, observa-se uma distribuição<br />

eletrônica homogênea, com as regiões <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica localizadas no<br />

centro do anel aromático e sobre os átomos <strong>de</strong> Nitrogênio e Enxofre, enquanto as<br />

baixas <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s eletrônicas encontram-se nos átomos <strong>de</strong> Carbono do anel<br />

aromático e sobre a área <strong>de</strong> CH 2 .<br />

O mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> HOMO revela maiores <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO sobre o<br />

anel aromático.<br />

O mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> LUMO mostra altas <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s LUMO na região<br />

periférica ao anel aromático.<br />

Vale ressaltar que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO é essencial para a transferência <strong>de</strong><br />

elétrons, enquanto a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> LUMO representa áreas mais suscetíveis <strong>de</strong><br />

ataques nucleofílicos (GRANT e RICHARDS, 1996). Essa inversão observada nas<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO e LUMO das tioureias em <strong>relação</strong> ao BITC po<strong>de</strong> explicar a<br />

maior ativida<strong>de</strong> larvicida do BITC quando comparada a essa classe <strong>de</strong> compostos.<br />

A Figura 29 mostra as conformações <strong>de</strong> menor energia das benziltioureias<br />

estudadas. Os valores da ativida<strong>de</strong> larvicida frente ao Ae<strong>de</strong>s aegypti encontram-se<br />

entre parênteses ao lado do número atribuído à benziltioureia (X%), <strong>de</strong> modo a<br />

facilitar a comparação entre os compostos.


101<br />

Tioureia 1 (10%) Tioureia 2 (0%) Tioureia 3 (5%) Tioureia 4 (32,5%)<br />

Tioureia 5 (46%) Tioureia 6 (5%) Tioureia 7 (0%) Tioureia 8 (0%)<br />

Tioureia 9 (22,5%) Tioureia 10 (0%) Tioureia 11 (5%) Tioureia 12 (22,5%)<br />

Tioureia 13 (20%) Tioureia 14 (0%) Tioureia 15 (17,5%) Tioureia 16 (0%)<br />

Tioureia 17 (35%) Tioureia 18 (15%) Tioureia 19 (10%) Tioureia 20 (0%)<br />

Tioureia 21(62,5%) Tioureia 22 (27,5%) Tioureia 23 (7,5%) Tioureia 24 (97,5%)<br />

Tioureia 25 (5%) Tioureia 26 (37,5%) Tioureia 27 (85%)<br />

Figura 29 – Conformações <strong>de</strong> menor energia das benziltioureias estudadas


102<br />

Essas <strong>estrutura</strong>s (Figura 29) indicam que essas são as conformações mais<br />

estáveis para os referidos compostos e po<strong>de</strong>-se observar que o anel aromático<br />

originado do BITC assume diferentes conformações em função dos substituintes do<br />

átomo N’, <strong>de</strong> modo a conferir menores valores <strong>de</strong> energia e, consequentemente,<br />

tornar a conformação mais estável.<br />

Analisando-se as <strong>estrutura</strong>s da Figura 29, observa-se que a conformação da<br />

benziltioureia que apresentou maior ativida<strong>de</strong> larvicida difere das <strong>de</strong>mais em <strong>relação</strong> à<br />

posição assumida pelos dois anéis aromáticos que, no caso do composto 24 (mais<br />

ativo), apresentam uma posição relativamente distorcida, ocupando dois diferentes<br />

planos, mostrando o efeito estérico dos grupamentos orto-metila em <strong>relação</strong> ao átomo<br />

<strong>de</strong> nitrogênio N’ (Figura 30).<br />

N’<br />

Figura 30 – Conformação mais estável da benziltioureia mais ativa<br />

A Figura 31 mostra os mapas <strong>de</strong> potencial eletrostático molecular – MEP das<br />

benziltioureias estudadas.


103<br />

Tioureia 1 (10%) Tioureia 2 (0%) Tioureia 3 (5%) Tioureia 4 (32,5%)<br />

Tioureia 5 (46%) 6 (5%) 7 (0%) 8 (0%)<br />

9 (22,5%) Tioureia 10 (0%) Tioureia 11 (5%) Tioureia 12 (22,5%)<br />

Tioureia 13 (20%) Tioureia 14 (0%) Tioureia 15 (17,5%) Tioureia 16 (0%)<br />

Tioureia 17 (35%) Tioureia 18 (15%) Tioureia 19 (10%) Tioureia 20 (0%)<br />

Tioureia 21 (62,5%) Tioureia 22 (27,5%) Tioureia 23 (7,5%) Tioureia 24 (97,5%)<br />

Tioureia 25 (5%) Tioureia 26 (37,5%) Tioureia 27 (85%)<br />

Figura 31 – Mapas <strong>de</strong> Potencial Eletrostático Molecular (MEP) das benziltioureias estudadas


104<br />

Analisando-se os MEP para as diferentes benziltioureias, observou-se que a<br />

região mais negativa (vermelha), representando uma alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica,<br />

encontra-se na parte superior das moléculas, sobre a ligação tioureia, para a maioria<br />

dos compostos, exceto para as benziltioureias 18 (on<strong>de</strong> se encontra dividido com a<br />

carbonila), 22 (<strong>de</strong>slocado para o grupamento p-NO 2 ), 23 (dividida com o grupamento<br />

p-acetamida), 25 (minimizada pelos dois átomos <strong>de</strong> Cloro em meta e para) e 26<br />

(minimizada pela presença dos grupamentos o-NO2 e m-OCH 3 ). Esse parâmetro não<br />

parece ter cor<strong>relação</strong> com a ativida<strong>de</strong> larvicida. As tioureias mais ativas (21, 24 e 27)<br />

apresentam alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica sobre a ligação tioureia, porém as<br />

benziltioureias sem nenhuma ativida<strong>de</strong> (0% - 2, 7, 8, 10, 14, 16, 20) também têm o<br />

mesmo perfil.<br />

A figura 32 ilustra as <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO benziltioureias estudadas.


105<br />

Tioureia 1 (10%) Tioureia 2 (0%) Tioureia 3 (5%) Tioureia 4 (32,5%)<br />

Tioureia 5 (46%) Tioureia 6 (5%) Tioureia 7 (0%) Tioureia 8 (0%)<br />

Tioureia 9 (22,5%) Tioureia 10 (0%) Tioureia 11 (5%) Tioureia 12 (22,5%)<br />

Tioureia 13 (20%) Tioureia 14 (0%) Tioureia 15 (17,5%) Tioureia 16 (0%)<br />

Tioureia 17 (35%) Tioureia 18 (15%) Tioureia 19 (10%) Tioureia 20 (0%)<br />

Tioureia 21 (62,5%) Tioureia 22 (27,5%) Tioureia 23 (7,5%) Tioureia 24 (97,5%)<br />

Tioureia 25 (5%) Tioureia 26 (37,5%) Tioureia 27 (85%)<br />

Figura 32 – Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO das benzilioureias estudadas codificadas sobre uma superfície<br />

<strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals


106<br />

No mapa da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO, codificada sobre uma superficie <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r<br />

Waals (Figura 32), os valores das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong> vermelho<br />

(baixo valor <strong>de</strong> HOMO) a azul (alto valor <strong>de</strong> HOMO). Para a maioria das benziltioureias<br />

estudadas, po<strong>de</strong>-se observar a predominância da cor vermelha, isto é, baixo valor <strong>de</strong><br />

HOMO, sobre o anel aromático <strong>de</strong>rivado do BITC (anel da esquerda), diferentemente<br />

do observado para o BITC, em que o mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> HOMO revela maiores<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO sobre o anel aromático.<br />

Diferentemente do BITC, nos compostos <strong>de</strong> 1 a 12 (exceto o composto 10, que,<br />

provavelmente em função <strong>de</strong> um segundo átomo <strong>de</strong> N no anel piperazina <strong>de</strong>sloca a<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO), observa-se a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO concentrada sobre a ligação<br />

tioureia (N=C=S), o que volta a acontecer no composto 22, no qual a presença do<br />

grupamento NO 2 substituído em para parece fazer com que essa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> retorne ao<br />

seu ponto original. Um composto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada (46% - composto 5) apresenta<br />

essa alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO sobre a ligação tioureia.<br />

Nos compostos 13 a 27 (exceto o composto 22, já citado anteriormente),<br />

observa-se o <strong>de</strong>slocamento da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO para o substituinte aromático do<br />

átomo <strong>de</strong> nitrogênio N’ e seus grupamentos substituintes nas posições <strong>de</strong>scritas,<br />

mostrando variação da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 a 97,5%.<br />

Os dois compostos mais ativos – 24 (97,5% ativida<strong>de</strong>) e 27 (85% ativida<strong>de</strong>) –<br />

apresentam <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO nitidamente maior sobre o anel aromático<br />

dissubstituído, o que reproduz as <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s observadas para o BITC.<br />

Avaliando-se os compostos mais ativos, pô<strong>de</strong>-se concluir que esse<br />

<strong>de</strong>slocamento da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> do HOMO para a região do anel aromático substituído é<br />

importante para a ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias estudadas contra o Ae<strong>de</strong>s<br />

aegypti em sua fase aquática, representando áreas suscetíveis a interações com<br />

regiões <strong>de</strong> baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do sítio receptor via interação do tipo π-π<br />

stacking.<br />

A Figura 33 mostra o comportamento das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO nas<br />

benziltioureias estudadas.


107<br />

Tioureia 1 (10%) Tioureia 2 (0%) Tioureia 3 (5%) Tioureia 4 (32,5%)<br />

Tioureia 5 (46%) Tioureia 6 (5%) Tioureia 7 (0%) Tioureia 8 (0%)<br />

Tioureia 9 (22,5%) Tioureia 10 (0%) Tioureia 11 (5%) Tioureia 12 (22,5%)<br />

Tioureia 13 (20%) Tioureia 14 (0%) Tioureia 15 (17,5%) Tioureia 16 (0%)<br />

Tioureia 17 (35%) Tioureia 18 (15%) Tioureia 19 (10%) Tioureia 20 (0%)<br />

Tioureia 21 (62,5%) Tioureia 22 (27,5%) Tioureia 23 (7,5%) Tioureia 24 (97,5%)<br />

Tioureia 25 (5%) Tioureia 26 (37,5%) Tioureia 27 (85%)<br />

Figura 33 – Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO das benziltioureias estudadas, gerada numa superfície <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica constante <strong>de</strong> 0,002 e/ua 3


108<br />

O mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> LUMO <strong>de</strong>screve áreas <strong>de</strong>ficientes em elétrons que<br />

po<strong>de</strong>m ser suscetíveis à interação com regiões <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica do<br />

receptor alvo das benziltioureias. As áreas <strong>de</strong>ficientes em elétrons, ou seja, com baixos<br />

valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica ou alto valor <strong>de</strong> LUMO, são representadas pela<br />

coloração azul<br />

Analisando-se o mapa das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO das benziltioureias<br />

estudadas, observa-se que as áreas mais azuis, isto é, mais <strong>de</strong>ficientes em elétrons,<br />

encontram-se na região central da molécula, o que se observa nitidamente para o<br />

composto mais ativo da classe, a benziltioureia 24 (97,5% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>), enquanto o<br />

segundo composto mais ativo, a benziltioureia 27 (85% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>) mostra essas<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s dispersas pelo radical α-naftil.<br />

Esses dados sugerem haver influência das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO na ativida<strong>de</strong><br />

larvicida das benziltioureias estudadas, uma vez que, da mesma forma que o BITC<br />

(Figura 28), a maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> LUMO encontra-se fora do anel aromático <strong>de</strong>rivado<br />

<strong>de</strong>sse composto, isto é, na região <strong>de</strong> N’, representando áreas suscetíveis a possíveis<br />

ataques nucleofílicos do receptor.<br />

5.4 IDEALIZAÇÃO DAS NOVAS BENZILTIOUREIAS A SEREM SINTETIZADAS<br />

A partir dos resultados obtidos para ativida<strong>de</strong> larvicida das benziltioureias<br />

estudadas, foram selecionados os compostos mais ativos com substituições simples<br />

no anel aromático <strong>de</strong> R 1 para melhor avaliação <strong>de</strong> sua <strong>estrutura</strong>:<br />

a) 21 (N-benzil,N’-(4-metoxifenil)tioureia);<br />

b) 24 (N-benzil,N’-(2,6-dimetilfenil)tioureia); e<br />

c) 26 (N-benzil,N’-(2-nitro,4-metoxifenil)tioureia).<br />

Benziltioureias <strong>de</strong>rivadas das três benziltioureias mais ativas, obtidas a partir<br />

da introdução e retirada <strong>de</strong> grupamentos doadores e retiradores <strong>de</strong> elétrons do anel<br />

aromático do substituinte R 1 , como metoxila (OCH 3 ), cloro (Cl) e nitro (NO 2 ), foram<br />

sugeridas pelos estudos <strong>de</strong> <strong>SAR</strong> como potencialmente mais ativas.


109<br />

Os resultados obtidos para as proprieda<strong>de</strong>s eletrônicas e físico-químicas das<br />

moléculas estudadas encontram-se na Tabela 4.<br />

Tabela 4 – Proprieda<strong>de</strong>s moleculares teóricas das benziltioureias propostas<br />

C R 1<br />

Ativida<strong>de</strong><br />

(%)<br />

MW 1 HBD 2 HBA 3 EHOMO4<br />

(eV)<br />

E LUMO<br />

5<br />

(eV)<br />

µ 6<br />

(Debye)<br />

clogP 7<br />

21 4-OCH 3 fenil 62,5 272,4 2 4 -5,43 -0,73 7,81 3,60<br />

21a 4-Cl fenil ND 276,8 2 3 -5,86 -0,93 7,70 4,29<br />

24 2,6-CH 3 fenil 97,5 270,4 2 3 -5,97 -0,72 6,25 4,70<br />

24a 2,6-CH 3,4-Cl fenil ND 304,8 2 3 -5,99 -0,80 7,68 5,26<br />

24b 2,6-CH 3,4-OCH 3 fenil ND 300,4 2 4 -5,55 -0,65 5,47 4,58<br />

24c 2,6-Cl fenil ND 311,2 2 3 -6,13 -1,02 5,02 4,84<br />

26 2-NO 2,4-OCH 3 fenil 37,5 317,4 2 7 -5,93 -2,79 4,05 3,63<br />

26a 2,4-OCH 3 fenil ND 302,4 2 5 -5,27 -0,69 9,43 3,48<br />

26b 2-Cl,4-OCH 3 fenil ND 306,8 2 4 -5,65 -0,85 3,98 4,16<br />

1 Massa Molecular;<br />

2 Doador <strong>de</strong> Ligações Hidrogênio; 3 Aceptor <strong>de</strong> Ligações Hidrogênio; 4 Energia <strong>de</strong> HOMO; 5<br />

Energia <strong>de</strong> LUMO; 6 Momento Dipolo Molecular, 7 Lipofilicida<strong>de</strong><br />

ND – Não Determinado<br />

A análise dos dados permite concluir que houve, na maioria dos casos, um<br />

aumento na lipofilicida<strong>de</strong> (clogP) das moléculas propostas em <strong>relação</strong> ao seu<br />

protótipo, com apenas o composto 24a ultrapassando o valor <strong>de</strong> clogP <strong>de</strong> 5. Todos<br />

os <strong>de</strong>mais parâmetros para a aplicação da Regra-dos-Cinco <strong>de</strong> Lipinski foram<br />

obe<strong>de</strong>cidos, o que se observa pela avaliação <strong>de</strong> massa molecular (MW), doadores <strong>de</strong><br />

ligação hidrogênio (HBD) e aceptores <strong>de</strong> ligação hidrogênio HBA.<br />

Não houve variação significativa entre os valores <strong>de</strong> energia dos orbitais <strong>de</strong><br />

fronteira HOMO (-6,13 a -5,27 eV) e LUMO (-2,79 a -0,65 eV).<br />

Os momentos <strong>de</strong> dipolo molecular (µ) sofreram variação <strong>de</strong> 3,48 a 4,84 Debye.<br />

As conformações <strong>de</strong> menor energia encontram-se dispostas na Figura 34.


110<br />

Tioureia 21<br />

Tioureia 21a<br />

Tioureia 24 Tioureia 24a Tioureia 24b Tioureia 24c<br />

Tioureia 26 Tioureia 26a Tioureia 26b<br />

Figura 34 – Conformações <strong>de</strong> menor energia das benziltioureias propostas<br />

Avaliando-se as conformações <strong>de</strong> menos energia, isto é, as conformações<br />

mais estáveis das tioureias propostas, não foi possível observar nenhuma mudança<br />

drástica na conformação das moléculas mais ativas pela introdução ou retirada <strong>de</strong><br />

grupamentos com características eletrônicas diferentes. A exceção foi o composto 26,<br />

no qual as duas substituições propostas (26a e 26b) impossibilitaram a existência da<br />

ligação hidrogênio intramolecular entre o átomo <strong>de</strong> oxigênio da metoxila e o átomo <strong>de</strong><br />

hidrogênio <strong>de</strong> N’, que po<strong>de</strong> levar à alteração na ativida<strong>de</strong> larvicida <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>rivados.<br />

Na Figura 35 estão dispostos os mapas <strong>de</strong> potencial eletrostático das<br />

benziltioureias propostas.


111<br />

Tioureia 21 Tioureia 21a<br />

Tioureia 24 Tioureia 24a Tioureia 24b Tioureia 24c<br />

Tioureia 26 Tioureia 26a Tioureia 26 b<br />

Figura 35 – Mapas <strong>de</strong> Potencial Eletrostático Molecular (MEP) das benziltioureias propostas<br />

No composto 21a observa-se uma ligeira redução da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica<br />

sobre a ligação tioureia em <strong>relação</strong> ao composto 21, causada pela substituição <strong>de</strong> um<br />

grupamento mo<strong>de</strong>radamente ativador (OCH 3 ) por outro fracamente <strong>de</strong>sativador (Cl)<br />

na posição para do anel aromárico <strong>de</strong> R 1 .<br />

Em <strong>relação</strong> à série <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados da benziltioureia 24, observa-se maior<br />

distribuição <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica no composto 24b, o qual apresenta<br />

grupamento metóxi na posição para do anel.<br />

Quanto à série <strong>de</strong>rivada da benziltioureia 26, observa-se o contrário das duas<br />

anteriores, com a concentração da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica maior na região da ligação<br />

tioureia para os compostos 26a e 26 b.<br />

Essas alterações po<strong>de</strong>m provocar alteração na ativida<strong>de</strong> larvicida <strong>de</strong>sses<br />

compostos.<br />

A Figura 36 traz as <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO das benziltioureias propostas.


112<br />

Tioureia 21<br />

Tioureia 21a<br />

Tioureia 24 Tioureia 24a Tioureia 24b Tioureia 24c<br />

Tioureia 26 Tioureia 26a Tioureia 26b<br />

Figura 36 – Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO das benzilioureias propostas codificadas sobre uma superfície<br />

<strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals<br />

No mapa da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> HOMO, observa-se uma uniformida<strong>de</strong> levemente<br />

maior da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> HOMO na benziltioureia 21 quando comparada à 21a, ambas<br />

localizadas no anel aromático do substituinte R 1 , diferentemente do que se observa<br />

para o BITC.<br />

Comparando-se os mapas da série <strong>de</strong>rivada da benziltioureia 24, observa-se<br />

uma drástica <strong>de</strong>slocalização da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica <strong>de</strong> HOMO no composto 24c, em<br />

<strong>relação</strong> ao composto original e aos <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>rivados, provocada pela substituição das<br />

metilas por cloro nas posições 2 e 6.<br />

Não se observam alterações significativas quanto à distribuição da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> HOMO na série <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados da benziltioureia 26.<br />

Essa inversão da localização das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO po<strong>de</strong> explicar a menor<br />

ativiada<strong>de</strong> das tioureias, em geral, quando comparadas ao composto original, o BITC.<br />

Na Figura 37, po<strong>de</strong>-se observar a distribuição das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO nas<br />

benziltioureias propostas.


113<br />

Tioureia 21 Tioureia 21a<br />

Tioureia 24 Tioureia 24a Tioureia 24b Tioureia 24c<br />

Tioureia 26<br />

Tioureia 26a<br />

Tioureia 26b<br />

Figura 37 – Densida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO das benziltioureias propostas, geradas em uma superfície <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica constante <strong>de</strong> 0,002 e/ua 3<br />

As <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> LUMO dos compostos das séries <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados das<br />

benziltioureias 21 e 24 encontram-se localizadas no centro da molécula, sobre a<br />

ligação tioureia.<br />

Na benziltioureia 26, essa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> encontra-se na região do radical orto-<br />

NO 2 , na ligação hidrogênio intramolecular entre o átomo <strong>de</strong> oxigênio da metoxila e o<br />

átomo <strong>de</strong> hidrogênio <strong>de</strong> N’, distintamente dos dois <strong>de</strong>rivados, on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> se<br />

concentra no centro da molécula, sobre a ligação tioureia.<br />

Em todos os casos, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> não está concentrada sobre o anel aromático<br />

<strong>de</strong>rivado do BITC, como ocorre também com essa molécula.<br />

5.5 SÍNTESE DAS NOVAS BENZILTIOUREIAS<br />

Com a conclusão dos estudos <strong>de</strong> <strong>SAR</strong>, po<strong>de</strong> se apontar que a presença <strong>de</strong><br />

substituintes no anel aromático do radical R 1 é fundamental para a ativida<strong>de</strong> larvicida<br />

<strong>de</strong>ssas benziltioureias. Po<strong>de</strong>-se dizer que um grupamento aceptor/retirador <strong>de</strong><br />

elétrons na posição para do núcleo aromático, presente nas benziltioureias mais


114<br />

ativas, levaria a redução <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>, enquanto a inserção <strong>de</strong> grupamentos<br />

doadores <strong>de</strong> elétrons, preferencialmente, com baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

ligações hidrogênio, nesta mesma posição teria efeito inverso. A substituição do<br />

núcleo aromático benzil por outro mais volumoso, o α-naftil, levou a um expressivo<br />

aumento da ativida<strong>de</strong> larvicida <strong>de</strong>sses compostos, quando comparados ao anel não<br />

substituído, mostrando a influência <strong>de</strong> efeitos estéricos e eletrônicos na ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssa classe <strong>de</strong> compostos.<br />

As benziltioureias mais ativas, foram utilizadas para estudos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem<br />

molecular (compostos 21, 24 e 26). Foi sugerida a <strong>síntese</strong> da benziltioureia com maior<br />

ativida<strong>de</strong> larvicida (composto 24), substituindo-se a posição para com substituintes <strong>de</strong><br />

diferentes características.<br />

Embora os estudos <strong>de</strong> <strong>SAR</strong> sugerissem a <strong>síntese</strong> da N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-<br />

clorofenil)tioureia (24a), por disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> método e relativa similarida<strong>de</strong> entre os<br />

substituintes Cloro e Bromo, foi sintetizada a N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-<br />

bromofenil)tioureia (composto 24a’) (Capítulo 4 - Material e Métodos).<br />

Seguindo a mesma linha <strong>de</strong> raciocínio da <strong>estrutura</strong> do composto 24a', foi<br />

proposta a substituição do Bromo, que é um aceptor <strong>de</strong> elétrons, porém, volumoso,<br />

pelo NO 2 , que é conhecidamente um forte retirador <strong>de</strong> elétrons do anel, diminuindo<br />

sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica. Para sintetizar a N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-nitrofenil)tioureia<br />

(composto 24a"). Foi utilizada também a 2,6-dimetilanilina como composto <strong>de</strong> partida<br />

para se obter a 2,6-dimetil,4-nitroanilina. Porém, em função da reativida<strong>de</strong> da amina<br />

estar comprometida por sua baixa nucleofilicida<strong>de</strong>, causada pela presença <strong>de</strong> um<br />

grupamento fortemente retirador <strong>de</strong> elétrons do anel aromático, NO 2 , e pelo<br />

impedimento estérico à amina, causado pelas duas metilas nas posições 2 e 6 do<br />

anel, esta não reagiu com o BITC para produzir a tioureia esperada (Capítulo 4 -<br />

Material e Métodos).<br />

Buscando observar o efeito <strong>de</strong> um substiutinte fortemente ativador do anel<br />

aromático, foi proposta a <strong>síntese</strong> da N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-metoxifenil)tioureia<br />

(composto 24b). A literatura foi avaliada à busca <strong>de</strong> um método viável <strong>de</strong> obtenção da<br />

amina precursora, a 2,6-dimetil,4-metoxianilina, porém sem sucesso. O custo <strong>de</strong> sua<br />

obtenção foi levantado, encontrando-se na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 500.00 / 1g (MaxChemCo,<br />

pureza 98%), não justificando a <strong>síntese</strong> do composto 24b.


115<br />

5.6 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE LARVICIDA DA NOVA BENZILTIOUREIA<br />

Tabela 5 – Teste Larvicida para a Benziltioureia 24a'<br />

Copo<br />

Substância<br />

[ ] final<br />

(ppm)<br />

Mortalida<strong>de</strong><br />

Média Corrigida**<br />

(%)<br />

Controle<br />

Negativo 1<br />

Controle<br />

Negativo 2<br />

Acetona (1 mL) NA* 0<br />

H 2 O (1 mL) NA* 0<br />

24a'<br />

Controle<br />

Positivo (24)<br />

Com a N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-bromofenil)tioureia, composto 24a' na<br />

concentração <strong>de</strong> 75% em <strong>relação</strong> ao composto total (25% da tioureia não bromada -<br />

24), conforme <strong>de</strong>scrito no item 4.2.7 (Capítulo 4 - Material e Métodos), foram<br />

realizados os testes seguindo o protocolo utilizado para os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>scritos neste<br />

trabalho.<br />

Devido à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> purificação causada pela proximida<strong>de</strong> dos Rf das duas<br />

benziltioureias (N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-bromofenil)tioureia e N-benzil,N’-(2,6-<br />

dimetilfenil)tioureia), qualquer aumento ou diminuição da ativida<strong>de</strong> larvicida seria<br />

função da tioureia bromada. Se houvesse aumento na ativida<strong>de</strong>, utilizaríamos<br />

técnicas mais sofisticadas <strong>de</strong> separação dos dois compostos.<br />

A ativida<strong>de</strong> larvicida teve como controle positivo a benziltioureia 24 e, como<br />

controle negativo, água e acetona, como nos <strong>de</strong>mais testes.<br />

Os resultados encontram-se na Tabela 5.<br />

N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-<br />

bromofenil)tioureia<br />

N-benzil,N’-(2,6-<br />

dimetilfenil)tioureia<br />

50 97,5<br />

50 97,5<br />

*NA – Não se aplica **Mortalida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 4 copos corrigida pela fórmula <strong>de</strong> Abbott<br />

Os resultados <strong>de</strong>monstram não haver alteração da ativida<strong>de</strong> da benziltioureia<br />

<strong>de</strong> origem (24), mostrando que a inserção do grupamento Bromo na posição 6 (ou<br />

para) não provocou alterações na <strong>estrutura</strong> eletrônica e espacial capazes <strong>de</strong> interferir<br />

na ativida<strong>de</strong> larvicida da benziltioureia mais ativa contra Ae<strong>de</strong>s aegypti.


116<br />

6 CONCLUSÕES<br />

Verificou-se que as tioureias possuem maior estabilida<strong>de</strong> química, são <strong>de</strong> mais<br />

fácil utilização para uma possível formulação, <strong>de</strong>vido a sua forma sólida, e<br />

potencialmente menos tóxicas que o BITC. Os estudos aqui realizados mostraram<br />

que este apresenta ativida<strong>de</strong> letal expressivamente maior sobre as larvas <strong>de</strong> terceiro<br />

estádio <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti, porém com menor estabilida<strong>de</strong> química, em função da alta<br />

reativida<strong>de</strong> do grupamento isotiocianato.<br />

<strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> e compatibilida<strong>de</strong> do BITC com alguns excipientes<br />

possibilitaram concluir que os estudos <strong>de</strong> pré-formulação <strong>de</strong>vem evitar a utilização <strong>de</strong><br />

excipientes aminados e polióis, como o Polyquart H ® e similares, como base para<br />

formulação <strong>de</strong> larvicida <strong>de</strong> liberação prolongada <strong>de</strong> BITC.<br />

Dentre as benziltioureias estudadas, as que apresentaram maior ativida<strong>de</strong><br />

larvicida possuem o substituinte R 1 aromático dissubstituído, indicando que fatores<br />

como impedimento estérico mo<strong>de</strong>rado sobre o N’ e efeito eletrônico <strong>de</strong> substituintes<br />

no anel aromático <strong>de</strong> R 1 são possíveis <strong>de</strong>terminantes para a ativida<strong>de</strong> larvicida<br />

<strong>de</strong>sses compostos.<br />

Análises <strong>de</strong> <strong>SAR</strong> e mo<strong>de</strong>lagem molecular mostraram não haver cor<strong>relação</strong><br />

clara e direta com os valores <strong>de</strong> HBD, HBA, momento dipolo molecular e energias dos<br />

orbitais <strong>de</strong> fronteira HOMO e LUMO com a ativida<strong>de</strong> larvicida dos compostos<br />

estudados. Por outro lado, os valores <strong>de</strong> clogP, pKa da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 3 e 15,<br />

respectivamente, assim como a distribuição das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> HOMO e <strong>de</strong> LUMO na<br />

molécula parecem estar relacionados à ativida<strong>de</strong> larvicida.<br />

Avaliando-se o composto 24a', sintetizado utilizando-se o composto mais ativo<br />

como protótipo, os resultados dos testes larvicidas <strong>de</strong>monstraram que a inserção do<br />

grupamento Bromo na posição 4 (ou para) não provocou alterações na <strong>estrutura</strong><br />

eletrônica e espacial capazes <strong>de</strong> interferir na ativida<strong>de</strong> larvicida da benziltioureia mais<br />

ativa contra Ae<strong>de</strong>s aegypti. A <strong>síntese</strong> do composto 24b (N-benzil,N’-(2,6-dimetil,4-<br />

metoxifenil)tioureia) torna-se importante para verificar o efeito ativador do<br />

grupamento metoxila sobre o anel aromático do substituinte R 1 , <strong>de</strong> modo a se concluir<br />

sobre a natureza do substituinte i<strong>de</strong>al para a posição para.


117<br />

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