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discurso do prof. dr. joão mac dowell sj, paraninfo da turma ... - FaJe

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DISCURSO DO PROF. DR. JOÃO MAC DOWELL SJ, PARANINFO DA TURMA<br />

DE BACHARÉIS EM FILOSOFIA DA FAJE – FORMATURA DE 2011<br />

(02/12/2011)<br />

Meus caros forman<strong>do</strong>s<br />

Fui escolhi<strong>do</strong> para transmitir-lhes uma notícia inquietante.<br />

Peço vênia ao presidente <strong>da</strong> sessão, <strong>prof</strong>. Álvaro Pimentel, Diretor <strong>do</strong><br />

Departamento de Filosofia e representante <strong>do</strong> magnífico Reitor <strong>da</strong> FAJE,<br />

ao Secretário Geral, <strong>prof</strong>. Celso Messias de Oliveira, ao Coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Curso de Graduação em Filosofia, <strong>prof</strong>. Delmar Car<strong>do</strong>so, peço-lhes vênia<br />

para fazer em primeira mão, esta declaração: Não haverá formatura hoje.<br />

Esta cerimônia solene não passa de uma ilusão. Vocês foram reuni<strong>do</strong>s aqui<br />

justamente para receberem esta comunicação: Ninguém vai se formar. É<br />

meu dever repetir: ninguém. É importante que também suas famílias, aqui<br />

presentes, tomem conhecimento deste fato. O diploma que lhes será<br />

entregue representa apenas um prêmio de consolação pelos esforços<br />

despendi<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong>s últimos três anos. A Facul<strong>da</strong>de Jesuíta de<br />

Filosofia e Teologia não tem competência para outorgar atesta<strong>do</strong>s de<br />

conclusão <strong>do</strong> curso de filosofia.<br />

Curso significa corri<strong>da</strong>. E a corri<strong>da</strong> <strong>da</strong> filosofia não tem término. Não se<br />

conclui jamais, porque sua meta, a ver<strong>da</strong>de, ultrapassa qualquer<br />

conquista. Vocês completaram apenas uma volta no circuito <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

pensante e pensa<strong>da</strong>. Mas esta volta valeu, apresso-me a acrescentar. A<br />

chega<strong>da</strong> foi confirma<strong>da</strong> pelos árbitros e registra<strong>da</strong> nos aparelhos<br />

eletrônicos. Se ficaram assusta<strong>do</strong>s com minhas palavras anteriores,<br />

podem agora respirar alivia<strong>do</strong>s. Este resulta<strong>do</strong> é, sem dúvi<strong>da</strong>, um ganho a<br />

comemorar, desde que não se converta em fim de linha, por acidente ou<br />

por desistência. Ao contrário, ter venci<strong>do</strong> esta etapa constitui um estímulo<br />

poderoso para continuar, para avançar mais e mais na busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de.<br />

A ver<strong>da</strong>de que buscamos e ensinamos a buscar é a sabe<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, que<br />

orienta nossos passos, que dá senti<strong>do</strong> a nossas atitudes e decisões, que<br />

configura nossos projetos. Para crescer nesta sabe<strong>do</strong>ria, não basta deixar


as coisas correrem, ro<strong>da</strong>n<strong>do</strong> sem rumo. É preciso tomar firmemente a<br />

direção e fixar a meta, ain<strong>da</strong> que sem saber até onde e como se vai<br />

alcançá-la. Para não perder-se em descaminhos nem desviar-se <strong>da</strong> rota<br />

nas encruzilha<strong>da</strong>s fatais, faz-se mister a observação atenta <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos, a reflexão sobre as experiências vivi<strong>da</strong>s, à luz de<br />

parâmetros seguros, ain<strong>da</strong> que sempre reassimila<strong>do</strong>s e renova<strong>do</strong>s. Tal<br />

abertura de novos horizontes dá-se, sobretu<strong>do</strong>, por meio <strong>do</strong> diálogo com<br />

aqueles que antes de nós descobriram, ou, em nossa época, ao nosso<br />

la<strong>do</strong>, tentam descobrir pistas de acesso a uma visão mais ampla e<br />

<strong>prof</strong>un<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de no seu to<strong>do</strong>.<br />

Durante os anos de estu<strong>do</strong> nesta Facul<strong>da</strong>de, vocês aprenderam muitas<br />

lições, nas exposições e debates <strong>da</strong>s aulas, nas pesquisas e trabalhos<br />

pessoais, nas atitudes sugestivas de <strong>prof</strong>essores e colegas. Mas to<strong>da</strong>s<br />

estas lições apontam para uma lição maior, essencial e definitiva:<br />

aprender a aprender, aprender a pensar para compreender a reali<strong>da</strong>de e<br />

situar-se conscientemente diante dela, mediante o julgamento crítico, ou<br />

seja, o discernimento criterioso, <strong>da</strong>s diversas interpretações <strong>da</strong><strong>da</strong>s, bem<br />

como mediante a criativi<strong>da</strong>de para resolver os problemas emergentes e<br />

enfrentar os desafios que se apresentam.<br />

A ver<strong>da</strong>deira lição aqui aprendi<strong>da</strong> é a de continuar aprenden<strong>do</strong>, não parar.<br />

Continuar aprenden<strong>do</strong>, tanto pela experiência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, como pelo estu<strong>do</strong><br />

autêntico, não meramente como freqüência a novos cursos, em vista de<br />

outros títulos, mas pela busca honesta e perseverante <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

coisas. Nem to<strong>do</strong>s vocês seguirão a carreira filosófica, p.ex. como<br />

<strong>prof</strong>essores. Mas to<strong>do</strong>s serão pensa<strong>do</strong>res, assim o espero, não meros<br />

<strong>prof</strong>issionais ou funcionários, desta ou <strong>da</strong>quela instituição, que entram em<br />

campo, inspira<strong>do</strong>s por interesses exclusivamente pragmáticos e<br />

financeiros, mas autênticos ama<strong>do</strong>res no jogo <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, amantes <strong>da</strong><br />

sabe<strong>do</strong>ria, abertos para as surpresas <strong>do</strong> embate, mas confiantes na vitória<br />

final.<br />

No curso de filosofia <strong>da</strong> FAJE não há formatura, repito. Não se pretendeu<br />

colocá-los to<strong>do</strong>s na mesma fôrma, já pronta, imprimir-lhes uma forma,


que não respeitasse a liber<strong>da</strong>de e a peculiari<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> um. O objetivo<br />

<strong>do</strong> curso foi proporcionar recursos para que ca<strong>da</strong> um tome consciência de<br />

sua responsabili<strong>da</strong>de de formar-se; foi <strong>da</strong>r testemunho de itinerários <strong>do</strong><br />

pensamento, sempre abertos, mas que se tem a convicção de que levam a<br />

algo mais e maior; foi justificar valores nos quais se acredita. Se<br />

aproveitaram <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s ao longo <strong>do</strong> curso, como<br />

estou certo que aconteceu, segun<strong>do</strong> a medi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um, vocês serão<br />

sempre forman<strong>do</strong>s, ou seja, pessoas em formação. Assumirão, sem<br />

dúvi<strong>da</strong>, tarefas e responsabili<strong>da</strong>des na vi<strong>da</strong>. No entanto, a tarefa decisiva,<br />

que dá senti<strong>do</strong>, consistência e fecundi<strong>da</strong>de a to<strong>da</strong>s as demais é a própria<br />

formação. Trata-se de procurar crescer ca<strong>da</strong> dia na vi<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deira,<br />

desenvolven<strong>do</strong> as próprias capaci<strong>da</strong>des, cultivan<strong>do</strong> os seus talentos,<br />

consoli<strong>da</strong>n<strong>do</strong> as bases de uma existência digna de um ser humano.<br />

Mas a formação, como tal, não é um fim em si mesma. Trata-se de<br />

adquirir para <strong>da</strong>r, distribuir à nossa volta, de tantas maneiras, os <strong>do</strong>ns que<br />

recebemos. Porque, se escutamos a voz que ressoa no mais íntimo de<br />

nosso ser, ouviremos, sem dúvi<strong>da</strong>, que tu<strong>do</strong> o que somos e temos não é<br />

simplesmente nosso. A quem se abre sinceramente para a manifestação<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, a vi<strong>da</strong> se revela como um <strong>do</strong>m, um <strong>do</strong>m envolvi<strong>do</strong> em<br />

mistério. Não somos <strong>do</strong>nos de nossa existência, mas administra<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>ns recebi<strong>do</strong>s. Chama<strong>do</strong>s, portanto, a viver como servi<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de<br />

e <strong>da</strong> justiça, lúci<strong>do</strong>s, responsáveis, diligentes, agradeci<strong>do</strong>s pela confiança<br />

em nós deposita<strong>da</strong>.<br />

E é esta a ver<strong>da</strong>de última, para a qual aponta o pensar filosófico. A<br />

ver<strong>da</strong>de que liberta <strong>do</strong>s erros, <strong>do</strong>s me<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s fechamentos em nós<br />

mesmos, de nossas próprias falhas, para nos abrir no amor e no serviço ao<br />

amor que se <strong>do</strong>a sem reservas. É nesta comunhão de bens que reside a<br />

chave de nosso destino, a nossa realização. Porque, na ver<strong>da</strong>de, é <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

que se recebe, encontran<strong>do</strong> a própria felici<strong>da</strong>de na alegria de aju<strong>da</strong>r<br />

outros a serem felizes.<br />

É assim, creio eu, não só, mas também espero com confiança, que vocês,<br />

caros amigos, estarão se forman<strong>do</strong> dia a dia para a ver<strong>da</strong>deira vi<strong>da</strong>.<br />

Muito obriga<strong>do</strong>.

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