a festa - Revista ComunicaÃ§Ã£o e Cultura

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Editorial A Festa ARTUR Teodoro de Matos | Mário F. Lages | Roberto Carneiro * Entendeu o Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC), em colaboração com o Centro de Estudos de Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP), ambos da Faculdade de Ciências Humanas da UCP, consagrar este volume da revista Comunicação e Cultura à temática da «festa», dada a sua relevância no quotidiano da sociedade. A temática é, aliás, transversal a quase todos os acontecimentos da vida humana, interessando à literatura, às artes e às ciências humanas em geral. Esta simbiose encontrou expressão superlativa em obras de carácter universal. Fiesta foi, emblematicamente, o título dado por Ernest Hemingway ao seu primeiro grande romance, publicado em 1926 aos 27 anos de idade. Embora o livro tenha aparecido sob o nome comercial The Sun Also Rises, Hemingway sempre falou desta sua obra nomeando-a pelo título inicial, da clara preferência pessoal do Nobel da Literatura. Fiesta, que deve o seu nome ao relato vivo de uma colorida corrida de touros em Pamplona, é uma impactante obra literária que viria a modificar os estilos e a influenciar decisivamente as modas da época. _______________ * Professores da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa e membros da Direcção do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da mesma Faculdade.
12 | Artur Teodoro de Matos | Mário F. Lages | Roberto Carneiro A festa está indeclinavelmente associada à contingência humana e à sua incontornável pulsão comunitária. Na alegria como na tragédia, na vida como na morte, na efeméride como na elegia, a festa celebra o mistério humano da ciclicidade, o retorno geracional, o memorial do tempo e a sua inexorável passagem. Festa é, pois, o saborear dos acontecimentos determinantes da história pessoal e em sociedade: marcadora de tempos, metrónomo de ritmos, filtro de memórias, celebração de enlaces, expressão de afectos. O sabor e o aroma da vida, assim como a sua inexorável finitude, estão indissociavelmente coligados com momentos festivos. No fundo, é a certeza desta contingente condição que nos torna, a nós, humanos, adictos à festa, embriagados porventura pela ilusória convicção de que ela nos permite tocar a eternidade. A tentativa constante de introduzir a precariedade da vida num sentido mais pleno e duradouro tem sido, de resto, o propósito de todas as culturas que na festa se perpetuam, por um lado, e se refazem, por outro: na exaltação do gesto, mas na certeza de que ela é insustentável, e que ao fim do dia ou da noite de folia e esquecimento o tempo comum espreita na anodinia do trabalho cansativo e nas emoções que já não têm a sustentá-las a transgressão sem pejo nem peias. Mas o tempo reflui e logo outra festa se anuncia, e a imaginação trabalha noutras formas de evitar a rotina, sonhando que a próxima libertação será plena e definitiva, como se a felicidade fosse uma coisa que se encontrasse ao rodar da esquina, logo após o baile ou o arraial, a discoteca ou a viagem de fim de curso. De facto, estando um número cada vez maior de pessoas libertas das tarefas produtivas e dedicadas à produção cultural, têm vindo a ser disponibilizadas novas formas de festividade a todo o tempo e em qualquer lugar. E todos delas desfrutam, ricos e pobres, citadinos e rurais – embora para as classes afluentes as instâncias festivas sejam mais variadas e esplendorosas, e quase quotidianas. O mundo converteu-se num festival de desporto, de viagens e de contestação, oferecendo divertimento para todas as bolsas e gostos. Neste quadro genérico de reflexões foram agrupados no presente volume vários e valiosos estudos, elaborados por autores que ao longo dos seus percursos académicos dedicaram algum tempo à reflexão sobre o tema: Joaquim Teixeira estuda a festa como forma de identidade; Ana Isabel Buescu analisa e interpreta o seu significado simbólico e ritual nas diversas celebrações ao longo da época quinhentista; Alfredo Teixeira, numa aproximação antropológica, indaga os substratos sociais do sagrado festivo; Helena Rebelo Pinto e Maria Teresa Ribeiro posicionam e explicam a importância da festa na família; Luiz Fagundes Duarte descreve os festejos carnavalescos na ilha Terceira; Marta Araújo descreve os rituais da morte na época moderna, na perspectiva das Misericórdias portuguesas, apontando os
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