20.11.2014 Views

II. As interculturalidades da multiculturalidade

II. As interculturalidades da multiculturalidade

II. As interculturalidades da multiculturalidade

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>II</strong> AS INTERCULTURALIDADES DA MULTICULTURALIDADE<br />

<strong>da</strong> aos estudos pós-coloniais 11 , não se concebe como vazio a inscrever. A in -<br />

termediação não pode ser entendi<strong>da</strong> como uma processuali<strong>da</strong>de que anula o<br />

de limitado e o refigura como fusão, ou então, que aplana o diferente. O es -<br />

paço intermédio <strong>da</strong> interculturali<strong>da</strong>de apresenta-se antes como momento<br />

pleno, situado e fecundo de sentido, um espaço onde a identi<strong>da</strong>de se enrique<br />

ce de outro, não para se expandir, como concebe Wierlacher, mas para<br />

se desventrar, renovando-se 12 . Embora alguns autores tenham acentuado a<br />

dis tinção <strong>da</strong> relação entre culturas, descrita como intercultural, relativamen<br />

te à diversi<strong>da</strong>de no seio <strong>da</strong> própria cultura, concebi<strong>da</strong> como intracultu -<br />

ral 13 , a distinção acaba por ser pouco produtiva, já que, no mundo globalizado,<br />

as relações entre grupos no seio de uma determina<strong>da</strong> cultura não<br />

po dem ser concebi<strong>da</strong>s sem qualquer laço exterior 14 . O mundo em relação <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de em rede torna a intraculturali<strong>da</strong>de necessariamente intercultural.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, a interculturali<strong>da</strong>de exprime-se como disposição, que radica<br />

num sentimento de lacuna do outro (Carneiro, 2006, 49), isto é, como cultivo<br />

de uma humani<strong>da</strong>de essencial, que não se resume ao cultural, mas se<br />

alarga ao social e político. Homi Bhabha, discutindo como problema central<br />

do nosso tempo a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de cultural e o seu impacte na<br />

dis tribuição de riqueza, define a ambivalência como a característica marcante<br />

deste nexo global, marcado desde logo pela articulação entre a conectivi<strong>da</strong>de<br />

tecnológica e a cultura. Na ambivalência híbri<strong>da</strong> <strong>da</strong>s nações alheias<br />

<strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, é necessário o direito à narrativa, que, por um lado, configure<br />

modelos de pertença de comuni<strong>da</strong>des minoritárias, mas que torne a<br />

cultura em acto performativo, isto é, modelo terapêutico de um diálogo<br />

intercultural assente na imaginação, sem nunca descurar o exame crítico, a<br />

dúvi<strong>da</strong> e a deliberação.<br />

Bhabha, professor de Literatura Inglesa, na Universi<strong>da</strong>de de Harvard, pro -<br />

põe um modelo de resolução que passa pela abertura <strong>da</strong> narrativa própria<br />

ao alheio, ou melhor, que se fun<strong>da</strong> na reescrita <strong>da</strong> narrativa própria pelo<br />

alheio (Bhabha, 2007, 25). Redefinindo o objecto dos estudos de cultura do<br />

eixo <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, que marcou a teoria dos anos 80 e 90, para o eixo <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de, a interculturali<strong>da</strong>de inscreve-se, assim, como projecto plural,<br />

assente numa ética de desventramento, que busca na compreensão do Outro<br />

o encontro com o que lhe é próprio, como na expressão iconográfica do ar -<br />

tis ta mexicano Guillermo Gomez-Peña: «Estou a desmexicanizar-me para me -<br />

xi compreender-me» (Apud Canclini, 1993, 291). Dito de forma simples, o<br />

36

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!