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Romeu e Julieta<br />
Texto William Shakespeare Encenação João <strong>Garcia</strong> <strong>Miguel</strong><br />
Este Romeu & Julieta de W. Shakespeare, inscreve-se na investigação e criação da Companhia em torno do universo dos clássicos<br />
europeus. Esse trabalho passa pelo estudo, tradução e adaptação dos conceitos centrais das peças às linguagens performativas<br />
contemporâneas. Importa-nos, deste modo, reflectir sobre a Europa e as formas e modelos de vida que surgiram ao longo da sua<br />
história. Olhando para o passado e para os outros, torna-nos mais capazes de olhar para nós mesmos, enriquecendo a experiência do<br />
existir.<br />
Romeu e Julieta são duas vítimas, quase inexplicáveis, de um grande amor. Para eles tudo se conjugou em contrariedade, como se não<br />
existisse lugar para o seu amor no mundo em que viviam. Romeu e Julieta tiveram uma noite de amor tão extraordinária, que lhes<br />
custou a vida. A ansiedade de perder o que se tem, acabou por ser o que os conduziu à tragédia. O amor transforma-nos, lança-nos no<br />
futuro completamente despidos, nús e prontos para quase tudo.<br />
João <strong>Garcia</strong> <strong>Miguel</strong>, Director<br />
Somos todos Romeus e Julietas<br />
Sobre amor, desejo e morte, tudo parece ter sido dito, feito e irremediavelmente desfeito, mas é na aparente anacronia da escolha desta<br />
peça que reside o interesse da encenação de João <strong>Garcia</strong> <strong>Miguel</strong>. Ela insere-se na forma como algum teatro contemporâneo importante<br />
tem vindo a reinventar-se através de uma aproximação àquilo que poderíamos chamar de tecnologias culturais de sobrevivência. E há<br />
uma tecnologia em particular – o ritual – que, segundo a teórica alemã Erika Fischer-Lichte, se tornou fundamental para o paradigma<br />
performativo que se centra no "corpo fenomenal do actor" mais do que na personagem literária. E é esse corpo sacrificial que vemos<br />
realçado e depurado neste trabalho de <strong>Garcia</strong> <strong>Miguel</strong>. No final todos queremos dançar com Julieta e cantar em uníssono com Romeu.<br />
Nesta versão mediterrânica, Romeu e Julieta são xamanes contemporâneos herdeiros de lutas políticas e de legados filosóficos e éticos<br />
cheios de contradições. São xamanes tradicionais em estado de possessão mas são também xamanes pop capazes de usar o<br />
microfone como um objecto ritual. Lembram-nos um filho de santo ou um Iggy Pop, estão na pista de dança, ou no terreiro.<br />
Teresa Fradique, researcher<br />
Photos Rui Mateus