02.01.2015 Views

3a0H8cytO

3a0H8cytO

3a0H8cytO

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

4.<br />

encontrava-me baldia<br />

terra salgada de fronteiras<br />

estéreis<br />

buscava em par de olhos<br />

os sonhos desabrigados<br />

a pele vestida de miudezas frescas<br />

nua do profundo<br />

e de repente<br />

o garoto rondava<br />

meus cantos ermos<br />

minhas quinas pontudíssimas<br />

minha janela dura defeituosa<br />

sem que eu pudesse casar as mãos<br />

nas suas mechas negras<br />

violentas de vida<br />

estive então a cuspir tudo<br />

a enquadrar o mundo<br />

e arredondar as ruas<br />

estive a dançar nas bordas<br />

do risco<br />

pra fecundar meu cultivo<br />

de ramagens inexplicáveis<br />

e é a entrega uma selva que sacode o horizonte.<br />

5.<br />

dois corpos num outono movediço.<br />

(arranha na canela um vento dos penhascos sólidos,<br />

e marrons das folhas secas desidratadas)<br />

preveem juntos uma vida de estações<br />

de azuis e amarelos<br />

invernos alérgicos<br />

primaveras claras<br />

verões alquímicos<br />

vislumbram os ciclos coerentes<br />

dos astros que não veem<br />

e resistem<br />

às catástrofes que varrem os<br />

homens-cidade<br />

tempestades eruptivas<br />

terremotos de chuviscos ácidos<br />

tsunamis arenosos<br />

o caos tectônico<br />

das relações.<br />

(Pollyana Quintella é poeta, Rio de Janeiro / RJ)<br />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!