haze-3_20140615172245
haze-3_20140615172245
haze-3_20140615172245
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
EDITORIAL<br />
Nas vésperas da copa do mundo o Brasil está de parabéns. É, de parabéns mesmo. Em plena<br />
crise social o país já tem motivos para comemorar que nada tem a ver com o futebol: a Comissão<br />
de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do senado federal realizou a<br />
primeira audiência pública e interativa para debater a sugestão de lei 8/2014 apresentada<br />
por André Kiepper sobre os diferentes usos da maconha. Se bem houveram mais opiniões opostas à legalização<br />
esta foi uma só das seis audiências que vão ocorrer e o relator da Comissão, o senador Cristovam<br />
Buarque (PDT-DF) já foi claro: ¨Não estamos debatendo se vamos a regulamentar a maconha, estamos<br />
debatendo como vamos fazer isso.<br />
As mortes de Vitor Hugo Arcanjo e agora de Gustavo Guedes, crianças com epilepsia refratária, mostram<br />
como a burocracia da ANVISA dá mais valor às posturas conservadoras de certos setores da sociedade<br />
que à vida desses meninos. Parece que estão tentando apagar com gasolina um fogo que não vai parar<br />
de crescer até que a canábis seja legalizada. Por enquanto o Silvio Santos faz piadas sobre viagens ao<br />
Paraguai e a Pituconha ganha novo visual e é vendida na boa em Recife e Pernambuco á fora...<br />
Enquanto não legaliza pelo menos Normaliza...<br />
Já no final desta edição o país foi invadido por Marchas da Maconha em várias cidades incluindo quase<br />
todas as capitais e foi com esse impulso que mostramos novos cultivadores Brasileiros que bem poderiam<br />
ser você. É com essa mesma vontade de crescer que damos nossa opinião sobre a velha rivalidade entre<br />
plantas sativas e plantas índicas e explicamos um pouco como é que as variedades originais do Brasil<br />
estão se extinguindo, além de trazer muita mais informação e conteúdo para acompanhar você em sua<br />
viajem.<br />
Vamos lá Brasil. Vamos Legalizar. Vamos Plantar!<br />
2
APRESENTA<br />
02/ Editorial Por Camarón<br />
07/ Fotos dos leitores<br />
Cultiva<br />
09/ Por dentro do Indoor!<br />
Por Fabio Cerra<br />
13/ Eddy Grower Por Fabio Cerra<br />
Ficha<br />
25/ Atomical Haze<br />
Por Kaneh Bosem<br />
informa<br />
33/Indicas versus Sativas<br />
Por Demeter<br />
47/A liga da fumaça<br />
Por Camarón<br />
índice<br />
Número3<br />
ANo 1<br />
junho 2014<br />
Staff<br />
Diretor executivo:<br />
Alberto Huergo<br />
Coordenação geral Brasil:<br />
Francisco Ribeiro<br />
Pablo Serpa<br />
Editor fotográfico:<br />
Guillermo Andrés Romero<br />
Diretor de arte:<br />
Maxi Muñoz<br />
WebMaster:<br />
Andres Martinez<br />
Designers:<br />
Ezequiel Digrillo<br />
Akasha Haze<br />
Manuela Franganillo<br />
Editor:<br />
Eduardo Obeid<br />
Produção geral:<br />
Adela Kein<br />
Sol Mato<br />
Colunistas: Fabio Cerra, Mandacaru, Alberto<br />
Huergo, Camarón, Francesco Ribeiro,<br />
Albertinho, João Saveirinho, Kaneh Bosem,<br />
Demeter.<br />
Colaboração: Estefani Medeiros, Marcos<br />
Verdim e Cannabis Café Brasil - Boaconha<br />
Brasil - Jimmy, Tommy e Fórum Tricomaria<br />
- Smoke Buddies - Professor Fabio Geraldo<br />
Veloso e Comissão de Políticas sobre Drogas<br />
OAB Niterói - Programa Fume e Role - Daniel<br />
Vela - Allan e Jô (Curitiba) - Kiutiano e<br />
família - Luan, Alexandre e Ultra420 - Antonio<br />
Henrique Campello - André Barros - Kleber<br />
Franco - Rudi Moreno e Horta Urbana –<br />
Dubatak.<br />
Revista Haze Brasil é publicada cada 45<br />
dias e é propriedade da Big Plant S.A. e<br />
seu objetivo é oferecer ao público adulto<br />
informação verdadeira e imparcial sobre<br />
a planta da espécie cannabis sativa, ou<br />
comic<br />
Revisores: Frederico de Miranda e Maria dos<br />
canábis e outras plantas medicinais.<br />
53/ Hero Seeds The comic serie<br />
Solos.<br />
Os direitos ao acesso e à divulgação de<br />
Episódio 1: Alien Jack Motta ¨Kaya¨<br />
informação são garantias fundamentais<br />
Por Diego Motta<br />
Fotógrafos: Pablo Serpa, Kaneh Bosem, Eloisa<br />
incluídas no artigo 5 da Constituição<br />
Yanquelevich, Sol Mato, Maxdrumm, El Bosco.<br />
Federal, no artigo nr° 19 da Declaração<br />
SArA<br />
Tradução: Antonela Tropea, Alexis Haze.<br />
Universal dos Direitos Humanos e nos<br />
57/ Psicomedicina<br />
Por João Saveirinho<br />
artigos nr° 13.1 e 13.2 da Convenção<br />
Agradecimentos:<br />
Haze agradece a todos os novos leitores por<br />
Interamericana de Direitos Humanos. A<br />
VIAJA<br />
estar conosco e nos encorajar neste caminho<br />
publicação desta revista e seu conteúdo<br />
64/ Mamanha na aleconha<br />
que começa. Também somos eternamente<br />
não representa violação de nenhuma<br />
Por Estefani Medeiros<br />
gratos aos primeiros em trazer a semente de<br />
lei da República Federativa do Brasil e<br />
canábis ao Brasil.<br />
está amparada pelas ADI 4274 e ADPF<br />
Investiga<br />
HB agradece o apoio e consideração de:<br />
187 do STF. Haze Brasil não é responsável<br />
73/ S.O.S. Landraces Brasileiras<br />
Smoke Buddies - Mary Juana Blog - Hempadão<br />
pelo conteúdo dos websites citados<br />
Por Camarón<br />
- Verdim e CannabisCaféBrasil - Antonio<br />
Henrique Campello e MLM – Cristiano Vader<br />
nas matérias, artigos ou publicidades<br />
- Ganja Filmes - GanjahTeamRevolucionário<br />
mesmo se tratando de páginas de acesso<br />
ativa<br />
Team - Cultura Verde Niterói - Dr. João<br />
livre. O conteúdo das publicidades é<br />
79/ Marcha da Maconha São Paulo Menezes - Sérgio Vidal - Dr. André Barros - Dr.<br />
responsabilidade dos anunciantes. A<br />
2014 Por Fabio Cerra<br />
Adriano Andrade e ACP (Advogados Contra<br />
o Proibicionismo) - LEAP Brasil - Marcha<br />
reprodução das matérias e dos artigos não<br />
da Maconha - Adriano e Planta na Mente -<br />
será permitida sem autorização escrita<br />
Pinheiro Junior e todos as pessoas e coletivos<br />
da Haze Brasil. As matérias publicadas<br />
que compartilharam carinhosamente nossa<br />
edição de estreia fazendo da publicação um<br />
não refletem necessariamente a opinião<br />
sucesso. Um abraço positivo e até a próxima!<br />
desta revista e sim a de seus autores. Se<br />
escolher consumir é sua obrigação sempre<br />
se informar antes pois o consumo de<br />
qualquer substancia pode ser perigoso.<br />
4<br />
4
5<br />
presenta
O pequeno jardim de André<br />
mande suas fotos para <strong>haze</strong>brasil@revista<strong>haze</strong>.com<br />
Oscar do sul
cultiva<br />
Programas de Youtube em formatos para TV,<br />
eventos por todo o país, cada vez mais músicas<br />
e livros além de uma infinidade de investidas<br />
comerciais ou semicomerciais em torno da cultura da<br />
maconha indicam, quase como um termômetro, que o<br />
Brasil foi seriamente contagiado pelo vírus da “febre canábica”.<br />
Um efeito colateral deste fenômeno mundial é<br />
uma conscientização aguda dos entusiastas da erva que<br />
iniciam seu próprio cultivo como estratégia para fugir<br />
do tráfico. Este sintoma tem origem na disseminação<br />
do que poderíamos classificar como nossos “princípios<br />
cidadãos” que causam um impacto real direto no número<br />
de indivíduos que mesmo se sabendo sujeitos à<br />
criminalização por plantar sua própria erva assumem<br />
bravamente o risco de serem ‘tipificados’ como bandidos<br />
em alguma delegacia, colocando assim seu dever cívico<br />
em primeiro lugar: PLANTAR O QUE CONSOMEM! Os<br />
sintomas são claros e o diagnóstico é simples: estamos<br />
vivendo um growboom!<br />
Cada um dentro de suas aptidões naturais busca as alternativas<br />
mais adequadas ao seu próprio perfil pra se<br />
inserir nesta nova esfera comercial que se estabelece<br />
com as novas políticas de drogas que avançam pelo nosso<br />
continente. Nas artes, através da música, quadrinhos<br />
ou estampas de camisas por exemplo ou no outro extremo,<br />
o mundo empresarial das lojas de equipamentos e<br />
fertilizantes dentro do mercado na legalidade, seja com<br />
um perfil mais ativista ou puramente mercantil, todos<br />
acabam colaborando para mais abertura no processo<br />
de esclarecimento fundamental para qualquer<br />
avanço social-econômico.<br />
Não sei se é uma regra totalmente válida,<br />
mas para algo terminar bem parece razoável “começar<br />
bem”, na essência isso deve envolver um bom<br />
“projeto”. Pode ser extremamente desastroso e perigoso<br />
cultivar erva na modalidade Indoor * para quem não<br />
tem aptidões desenvolvidas em áreas como instalações<br />
elétricas (disjuntores, transformadores, reatores etc),<br />
aquisição dos materiais mais adequados e de especificação<br />
recomendada, além saber dar uma atenção especial<br />
no posicionamento e acabamento visual da sua<br />
“estufa de cultivo”. Negligenciar estes aspectos pode<br />
transformar seu sonho de uma noite de verão em um<br />
pesadelo na forma de “disco voador” que não decola!<br />
Sempre que ocorre uma carência em algum mercado,<br />
automaticamente surgem profissionais oferecendo serviços<br />
que supram essa demanda e F. talvez seja o primeiro<br />
profissional a vislumbrar nesse ramo uma boa<br />
aplicação de suas aptidões naturais. F. literalmente dá<br />
uma luz pra quem quer plantar em casa “não só maconha”<br />
como ele é recorrente em afirmar: “O cultivo caseiro<br />
Indoor de hortaliças e diversos alimentos tem sido<br />
uma ótima alternativa pra quem não tem espaço com<br />
sol disponível e está sujeito aos altos preços impostos<br />
pelo mercado dos orgânicos por exemplo e as baixas<br />
estações quando alguns alimentos somem das prateleiras.<br />
Com uma estufa simples é possível colher seus<br />
vegetais preferidos o ano todo. Seja por uma qualidade<br />
“Sistema de cultivo que simula artificialmente através de lâmpadas ideais,<br />
timers associados a elas, ao sistema de irrigação e de dissipação do<br />
calor, as condições ideais encontradas no ambiente natural externo,<br />
principalmente de temperatura e humidade para desenvolvimento das<br />
plantas desde a semente até o ponto de corte.”<br />
9<br />
10
cultiva<br />
“Conheço pessoas que compram materiais para mon-<br />
câncer de pele. Além disso, “com o tempo, a exposição<br />
tar quatro estufas quando ao final das contas só uma<br />
constante a níveis elevados de radiação ultravioleta e<br />
vai funcionar, o resto todo geralmente vira entulho”<br />
do infravermelho leva a danos irreparáveis nos olhos.<br />
condena F.<br />
A perda de percepção das cores, catarata, e a destrui-<br />
de vida melhor ou também por uma questão de preço<br />
cultivar em casa é uma realidade iminente”. Garante.<br />
Não vamos tapar a lâmpada com a peneira!<br />
Grande parte das pessoas que procuram os serviços<br />
de assessoria de F. está interessada mesmo é na criação<br />
de camarões da Jamaica, e ele sabe! ”Muitas vezes<br />
eu tenho sim ciência de que o cara está interessado em<br />
plantar sua erva, mas meu trabalho se encerra definitivamente<br />
com a entrega do projeto funcionando e<br />
quando dou algumas dicas de funcionamento. Não indico<br />
nem forneço contatos para aquisição de sementes<br />
e explico todos os riscos que ele assume ao praticar o<br />
cultivo doméstico de maconha. A partir daí é com ele<br />
já que eu não posso fiscalizar o fim que ele vai dar para<br />
a estufa após instalação. Eu vejo a questão dentro da<br />
esfera da redução de danos uma vez que ele vai obter<br />
uma erva muito mais saudável que a oferecida pelo<br />
mercado negro e sem fortalecer instituições criminosas<br />
que não merecem investimentos. Além disso, uma boa<br />
instalação elétrica é fundamental pra reduzir também<br />
os riscos de torrar a estufa com a casa junto! Eletricidade<br />
e desleixo não combinam!” incendeia o “personal<br />
grower” que ficou famoso após expor no Pot in Rio 1<br />
em 2012 onde ele lançou ao mundo sua proposta profissional<br />
de criação de projetos personalizados para o<br />
cultivo indoor que até então tinha apenas como hobby<br />
e terminou como o xodó daquela edição do evento:<br />
um aplicativo para smartfone que dá acesso remoto<br />
ao ambiente possibilitando controlar toda a estufa e<br />
manter assim rega, temperatura e iluminação ao seu<br />
alcance mesmo a distância! E você pode “viajar”: a<br />
parada tem câmera que permite ser alertado pelo sensor<br />
de movimento no caso de alguém importunar suas<br />
meninas! Meses depois uma edição da Hightimes apresentava<br />
“com exclusividade” o mesmo dispositivo. “Na<br />
realidade eu já comecei nessa atividade bem antes do<br />
PotinRio, ali foi mais uma consequência dos tempos<br />
que passei ajudando a galera nos fóruns de cultivo<br />
como o Cannabis Café dando dicas e fazendo projetos<br />
pra eles, mas sempre na camaradagem. Minha experiência<br />
mercantil começou mesmo foi lá!” ...a nave<br />
decolou bonito!<br />
Um “barato” que sai caro!<br />
Pode sair muito mais caro (geralmente sai) impulsivamente<br />
comprar produtos e equipamentos sem conhecer<br />
boas fontes no mercado e saber exatamente como<br />
cada um deve funcionar de modo independente bem<br />
como em situações mais extremas como por exemplo<br />
quando acionados em conjunto. Deve-se pensar numa<br />
estufa de cultivo como algo onde existir uma sinergia.<br />
Otimização de espaços e camuflagem estilizada!<br />
“Transformar algo fixo que sempre serviu para abrigar<br />
roupas e não plantas sem fazer grandes modificações<br />
demanda inspiração” afirma F. que sob o lema de que<br />
“não há espaço que não possa ser aproveitado” tem<br />
sempre o capricho no acabamento uma identidade<br />
e o requinte nos detalhes enchem os olhos de quem<br />
vê...”sem ver”.<br />
Olho bem aberto na redução de danos!<br />
Passar bronzeador para olhar as a plantas pode parecer<br />
exagero mas manter um pequeno sol cheio de raios<br />
nocivos aos humanos no seu armário pode acarretar<br />
problemas de saúde caso não sejam respeitados determinados<br />
aspectos do funcionamento das lâmpadas.<br />
Entre as inúmeras funções da resina rica em THC secretada<br />
pelas plantas fêmeas estão algumas que são<br />
lógicas como captar o pólen das plantas machos para<br />
produzir sementes ou mesmo desencorajar animais de<br />
grande porte, através de seu sabor amargo, a se alimentar<br />
delas. Uma outra função da resina é trabalhar<br />
como protetor de raios UV uma vez que a maconha tem<br />
sua origem nas altas montanhas do Afeganistão, onde<br />
os níveis de radiação pelo ar rarefeito são muito altos<br />
logo, quanto mais radiação, mais resina! As lâmpadas<br />
de vapor de sódio, as famosas HPS para floração emitem<br />
inúmeras radiações no campo do visível, mas também<br />
no do invisível Algumas delas são as radiações<br />
chamadas” ionizantes” que energizam nossas células<br />
podendo causar em seu DNA mutações perigosas como<br />
ção da visão noturna são algumas das consequências<br />
possíveis. Nosso globo ocular capta todos os comprimentos<br />
de onda invisíveis nocivos (UVA, UVB, UVC e<br />
infravermelho) e suas plantas requerem estes comprimentos<br />
de onda para florescer, seus olhos certamente<br />
não” esclarece F. que indica uma linha de óculos próprios<br />
pra quem trabalha com cultivo Indoor.<br />
“Algo que me incomoda no trabalho dentro de um ambiente<br />
de cultivo é a distorção de cores, isso dificulta<br />
a leitura dos medidores e na identificação de deficiências,<br />
os óculos escuros comuns acabam acentuando<br />
isso ainda mais. Segundo o fabricante destes óculos<br />
específicos para cultivo, suas lentes filtram os principais<br />
comprimentos de ondas nocivos à nossa visão e<br />
ainda compensam as distorções de cores. Recomendo<br />
para meus clientes o que encontro de melhor pra dar<br />
qualidade de vida. Estar atento às informações ao nosso<br />
redor é sempre importante, todos nós somos alunos<br />
e professores de nós mesmos.” diagnostica.<br />
Legal F. Obrigado pelo papo e pela entrevista! Agora<br />
maconheiro só toma choque mesmo na marcha da maconha!<br />
A Haze Brasil entende que plantar sua própria<br />
erva consiste em uma atividade completamente benéfica<br />
para o seu consumidor e para a sociedade em que<br />
ele está inserido. Na medida em que o uso individual<br />
da maconha não é mais considerado crime, cultivar sua<br />
erva não deveria nunca, em uma sociedade esclarecida<br />
e justa, levar alguém para a cadeia. Nos resta crer<br />
e lutar firmemente em tempos melhores para todos e<br />
que nenhum plantador de maconha seja capturado por<br />
produzir seu próprio medicamento no Brasil.<br />
11<br />
12
cultiva<br />
Eddy<br />
Grower<br />
A fruta nunca cai<br />
longe do pé!<br />
Por Fabio Cerra<br />
Aquele dia começou bem cedo pra mim, afinal eu<br />
tinha uma boa distância para percorrer, até encontrar<br />
meu anfitrião da vez: Eddy, que reside em<br />
uma cidade do interior do Rio, cerca de 150 quilômetros<br />
de distância de minha morada! Aquele que seria<br />
nosso entrevistado foi mais uma feliz indicação de um<br />
amigo cultivador em comum, que o recomendava tanto<br />
pela sua positividade e energia vital contagiante,<br />
quanto pela qualidade superior de suas flores — São<br />
doces como mel! — insistia em afirmar esse o “olheiro”<br />
da Haze Brasil. E ele, mais uma vez, não estava nem de<br />
longe enganado.<br />
Durante uma tarde tranquila e agradável pude avaliar<br />
algumas das genéticas deliciosas cultivadas pelo<br />
Eddy, conhecer um pouco de sua história, o processo<br />
de construção do cultivador dessa espécie de “somellier”<br />
da maconha. Atrás de um ótimo papo sobre<br />
suas técnicas, polícia, livros e muito mais, lá fomos<br />
nós.<br />
Os elementos contidos nesta entrevista não só reforçaram<br />
todos os meus conceitos sobre a falência da guerra<br />
as drogas e suas políticas de repressão bélica, mas<br />
também me ofereceram uma excelente oportunidade<br />
de edificação pessoal, pela paz interior que Eddy irradia<br />
para a gente. Espero que reverbere um pouco para<br />
cada um de vocês.<br />
13<br />
14
cultiva<br />
Plantando com Eddy!<br />
Começando pela raiz…<br />
“Prefiro o método mais simples de germinação.<br />
Furar um pequeno copo plástico no fundo e colocar<br />
até a metade um pouco de terra ‘cansada’<br />
dos últimos cultivos foi o que deu melhores resultados<br />
pra mim. Essa terra, obtida de vasos onde<br />
colhi a última safra, e por isso mesmo está com<br />
suas taxas de nutrientes esgotada, é ideal para<br />
semeadura, pois a plântula necessitará somente<br />
de água nas primeiras semanas de vida. Só iniciarei<br />
a fertilização após este período, quando já<br />
será a hora de fazer o primeiro transplante pois<br />
as raízes já ocuparam todo o volume disponível<br />
no pequeno copo.”<br />
“Embora as pessoas tenham bons resultados germinando<br />
no papel toalha, a radícula assim que<br />
eclode libera ‘micro pelos’ que aderem na superfície<br />
irregular do papel. Assim, ao retirar a semente<br />
germinada do papel, você pode, dependendo do<br />
momento em que isso for feito, causar danos irreversíveis<br />
a estrutura. O que levará a um desenvolvimento<br />
fraco ou mesmo a uma posterior<br />
“morte súbita”. Isso consta no livro do Soma, que<br />
foi um dos primeiros que tive oportunidade de ler<br />
e até hoje é um dos meus preferidos.” Afirma.<br />
Capítulo 1: Não seja preso!<br />
“Sempre gostei muito de maconha” afirma Eddy,<br />
que completa: “A minha realidade é essa. Se eu<br />
faço uso medicinal ou não, não posso nem afirmar<br />
com certeza. Pois hoje já se fala muito do uso<br />
recreativo ser uma espécie de caso particular de<br />
uso medicinal. Que a erva me faz bem, realmente<br />
faz. Se não fosse assim, dificilmente eu continuaria<br />
fazendo uso por tanto tempo. Acho que ninguém<br />
recorre a uma substância com efeitos psicoativos<br />
se dela não obtiver benefícios, às vezes<br />
inconscientes. Acredito que devo boa parte da minha<br />
reconhecida paciência e tranquilidade a essa<br />
medicação milenar poderosa” autodiagnostica.<br />
Sempre foi algo que me incomodava muito, ser obrigado<br />
pelo estado a uma ou duas vezes por mês, me arriscar<br />
a mergulhar no mercado negro da erva. Pra diminuir<br />
essa frequência, eu costumava ir cada vez menos<br />
vezes e trazer uma quantidade maior, o que de certa<br />
maneira aumentava o meu risco de forma diretamente<br />
proporcional. Isso era antes de 2006 quando, a lei do<br />
usuário, a 11343, foi promulgada.<br />
“Apesar de não ter nenhuma anotação policial, foram<br />
muitas as vezes em que ‘rodei’ nessa atividade, porém<br />
sempre fiz meu ”dever de casa” e nunca deixava<br />
de levar um bom dinheiro a mais, do que necessário<br />
para comprar a maconha, para o caso de qualquer<br />
“acerto” com os homens da lei. Sempre foi o do traficante<br />
em um bolso e o da polícia no outro.” Condena.<br />
Eddy se diz maconheiro desde criancinha, “porque<br />
sempre gostei muito de maconha acho que já disse<br />
isso(risos)” brinca. “Desde quando peguei minhas primeiras<br />
paranguinhas, eu já catava as sementinhas<br />
para tentar plantar, porém nunca obtive muito êxito<br />
em produzir algo fumável. Somente quando lá pelos<br />
anos de 2000 me vi diante do computador que pesquisei,<br />
aliás como bom maconheiro, minha primeira<br />
pesquisa no google foi “como plantar maconha” e daí a<br />
coisa começou a andar.”<br />
“Logo a seguir tomei meu primeiro susto. Como sempre<br />
plantei na modalidade outdoor, uma vez recebemos<br />
em nossa residência a indesejável visita da polícia, por<br />
conta de uma suposta denúncia. Graças a muita sagacidade<br />
e agilidade minha, nada foi encontrado*. Depois<br />
disso fiquei uns bons anos sem plantar, até morar em<br />
um local mais propício para o cultivo doméstico.”<br />
15<br />
*É importante lembrar que a maioria dos cultivadores<br />
presos com a “mão na horta” é composta por<br />
“outsiders”. Dificultar ao máximo a visibilidade e o<br />
16
cultiva<br />
acesso de pessoas, e manter as plantas em vasos que<br />
possibilitem qualquer movimentação de emergência<br />
são algumas dicas vitais. Escolher variedades de flora<br />
curta também podem diminuir os riscos de perdas<br />
por fatores climáticos ou denúncias!<br />
Regra #2 – Menos é mais!<br />
Os ditados populares constituem muitas vezes<br />
fontes confiáveis de sabedoria. Armazenada<br />
através dos tempos, através do empirismo, parece<br />
existir em todos os segmentos profissionais<br />
e das vidas das pessoas em geral. No universo<br />
grower não é diferente! “O segredo é o segredo”<br />
(máxima de um autor desconhecido) certamente<br />
já salvou muita gente da derrota para a polícia e<br />
o “menos é mais” também protege as plantinhas<br />
das mãos de cultivadores mais ansiosos. ”Na realidade<br />
são poucos os ciclos em que necessito de<br />
fertilizantes químicos. Depois de anos testando<br />
várias formas de fertilização, orgânica, química<br />
ou “pegada”(combinada), eu tenho convicção de<br />
que se o solo for bem preparado e estabilizado,<br />
e você der boas borrifadas e algumas regas de<br />
chás orgânicos, os resultados são bem próximos<br />
aos resultados com químicos em relação ao<br />
rendimento (com alguma perda para o cultivo<br />
natural), mas muito mais compensador do ponto<br />
de vista do sabor. Dez dias antes da colheita, eu<br />
adiciono, por algumas vezes, um pouco de melaço<br />
de cana dissolvido em água para “ativar”<br />
mais os organismos vivos presentes no solo, para<br />
que possam liberar mais alimento para as raízes<br />
absorverem. Acredito que deixar os nutrientes<br />
no solo disponíveis durante todo o ciclo é menos<br />
trabalhoso e permite um livre desenvolvimento<br />
da planta, mas o ideal é que todos possam comparar<br />
os métodos de nutrição e praticar aquele<br />
que mais atende seu gosto, e seu bolso.”<br />
Maconha é como fruta!<br />
Maconha é como manga, banana ou abacaxi!<br />
Tem variedades com características diferentes, de<br />
acordo com seu estado de maturação e conservação<br />
por exemplo. Essas características chamadas<br />
de características organolépticas (sabor, cheiro,<br />
aparência, tônus), podem nos servir para optar<br />
uma fruta mais verde a uma outra, semelhante,<br />
só que mais madura. Tem ainda aqueles<br />
que prefiram as frutas “de vez”. No mundo das<br />
frutas, elas invariavelmente convertem seus aminoácidos<br />
em açúcar quando estão na fase mais<br />
madura do seu desenvolvimento. Assim, alguns<br />
preferem laranja de sabor doce mais pronunciado<br />
e outro com um mais ácido. Inclusive são<br />
os mesmos compostos presentes nas frutas que<br />
conferem às variedades de maconha as denominações<br />
“lemon” ,” grape” etc. Os “terpenos”<br />
são hidrocarbonetos, por isso combustíveis, que<br />
também desempenham inúmeras atividades<br />
fisiológicas no corpo humano, exercendo inclusive<br />
um efeito sinérgico bastante estudado pelos<br />
cientistas atuais.<br />
Na cozinha com Eddy<br />
A gente joga muita coisa boa fora. Na cozinha<br />
por exemplo, as cascas de frutas carregam consigo<br />
uma infinidade de nutrientes que as plantas<br />
adoram. A receita do chá orgânico é muito conhecida<br />
já, então vou dar outra dica: a água de<br />
arroz. Ao lavar o arroz, aquela primeira água de<br />
cor branca que sai, carrega amido e outras vitaminas.<br />
Recolher essa água e diluir na proporção<br />
de 1:10 forma uma solução nutritiva bastante<br />
interessante e barata. Uso junto com Calcário Dolomítico<br />
para buscar atingir uma absorção mais<br />
completa de nutrientes, uma vez que cada um é<br />
absorvido em uma certa faixa ideal de pH.<br />
17<br />
18
cultiva<br />
Eddy e seus tricomas!<br />
Na maconha, existem observações visuais que<br />
permitem uma ideia aproximada, de quão próximo<br />
se apresenta o momento de corte. Porém<br />
existe um consenso entre os plantadores, de que o<br />
monitoramento dos tricomas, através de microscópio<br />
com 100X de capacidade de aumento, é o<br />
método mais eficiente para determinar o momento<br />
certo de serrar a pequena árvore.<br />
“Os tricomas são as projeções da camada mais externa<br />
da planta, onde está presente a mistura de aproximadamente<br />
66 canabinóides responsáveis pelos efeitos psicoativos<br />
da maconha. Fico de olho nos tricomas que se<br />
apresentam inicialmente de aparência leitosa, para logo<br />
após tornarem-se cristalinos. Mas eles possuem concentração<br />
máxima dos efeitos que me interessam, ao tornarem-se<br />
dourados ou âmbar . O meu ponto ideal de corte é<br />
quando a “cabeça” desse tricoma dourado cai.” professa<br />
Eddy, que completa: “Também existem outras formas de<br />
determinar o ponto de corte da maconha: Os camarões<br />
são inflorescências, ou seja, um aglomerado de cálix, cada<br />
cálix é um ovário com dois pistilos, quando esses pistilos<br />
escurecem significa que aquela flor está madura.<br />
Existe um linha que preconiza o ponto de corte ideal<br />
como aquele em que o bud se encontra com cerca de<br />
50% dos pistilos escuros e 50% claros. Em comparação<br />
as frutas, colher com 100% dos pistilos escurecidos<br />
seria como colher a fruta quando ela cai do pé. Cada<br />
fruta colhida em diferentes pontos de maturação tem<br />
um gosto mais peculiar, um aspecto especial e uma<br />
diferente potência. Esta observação macroscópica dos<br />
pistilos é muito usada pra determinar o ponto correto<br />
da colheita, porém existem discrepâncias nos dois resultados.<br />
O importante é cada um saber como prefere<br />
colher baseado em seu gosto particular.”<br />
“Prefiro a maconha, assim como as frutas, bem maduras.<br />
Normalmente, ainda deixo passar alguns dias, do<br />
que alguns considerariam ideal para eles. Só não faço<br />
isso quando os fatores climáticos colocam a saúde da<br />
planta em risco, pois nesta fase final, com alta umidade<br />
por exemplo, o risco de mofo nos buds mais densos<br />
aumenta muito. Vida de cultivador é assim: cheia<br />
de riscos!” alerta Eddy.<br />
19<br />
20
cultiva<br />
A guerra dos clones!<br />
Já tive muitas plantas boas nesses 10 anos de cultivo,<br />
em que meu primeiro pack de sementes gringas foi de<br />
skunk #1 Dutch Passion . Acho mais apropriado o cultivador<br />
começar por essas variedades mais ‘clássicas’,<br />
antes de se aventurar em multi híbridas mais complexas.<br />
Além de lhe dar uma boa bagagem através da experimentação,<br />
acumulando uma experiência de forma<br />
progressiva, são plantas bem resistentes aos erros que<br />
podem rolar em todo início de carreira, e além disso<br />
uma” skunk” ou “afegã” bem cultivada, nunca deixa<br />
ninguém na mão.<br />
De três em três meses tenho um grupo de amigos, que<br />
se reúnem e trocam seus ‘cortes’ preferidos, é a “guerra<br />
dos clones”. Onde as pequenas plantas prontas<br />
para vegetar são dispostas em uma mesa e cada um<br />
leva o que mais lhe agradar, no final da sessão todos<br />
são só sorrisos, declara o estimulado<br />
Eddy.<br />
Minhas queridinhas do pomar atualmente<br />
são as Bublegum e Lemom <strong>haze</strong>,<br />
porém tenho um feno de uma mazar,<br />
que é absurdamente frutado, fresco e<br />
doce, que impressiona a todos no primeiro<br />
toque. Esse é sempre um dos clones<br />
mais requisitados pela galera nos<br />
nossos encontros.<br />
O aroma das meninas pela manhã é<br />
muito intenso e é quando costumo colher<br />
minhas plantas: junto aos primeiros<br />
raios de sol! É justamente quando<br />
as concentrações da medicina atingem<br />
o seu ápice.<br />
21<br />
Olhando bem dentro do<br />
bud!<br />
A fase da colheita da erva pode não se<br />
iniciar exatamente no afiar das facas.<br />
Eddy dá exemplo disso. Ele interrompe<br />
o fornecimento de água para as<br />
plantas, dias antes do ponto ideal:<br />
“Essa ‘secura’ é importante, senão,<br />
ela ‘cristaliza’ menos”, sentencia a<br />
cerca de uma possível maior formação<br />
de tricomas por toda a planta. Neste<br />
momento uma pré manicure permite a<br />
entrada de luz nas partes mais íntimas<br />
da planta, além de garantir uma boa<br />
economia no trabalho pós-colheita.<br />
“Antes de colher, sempre dou 24h de<br />
fase escura ininterrupta nas meninas.<br />
A resina é fabricada na ausência de<br />
luz. Esta prática vem sendo utilizada<br />
com sucesso por vários cultivadores<br />
amigos meus.“<br />
Recomendo também, que não se coloque<br />
a erva nos potes antes de ouvir a<br />
“clicada” do galho central de dentro<br />
dos buds. Se você se orientar somente<br />
pelos galhos externos, que estão à<br />
mostra, como indicador de secagem,<br />
pode vir a iniciar o processo de cura<br />
ainda com muita água, mais água até<br />
do que perderá nos dias seguintes,<br />
abrindo os potes regularmente. Às vezes<br />
o galho da planta está seco, porém<br />
DENTRO DO BUD ainda tem muita umidade,<br />
assim o resultado não fica 100%.<br />
Garante Eddy.<br />
22
cultiva<br />
SENSI SEEDS<br />
23<br />
24
FICHA<br />
IMPRESSÃO VISUAL 10<br />
VARIEDADE: Atomical HAZE<br />
GENÉTICA: HAZE x afegã<br />
CRIADOR: PARADISE SEEDS<br />
CULTIVADOR: KANEH BOSEM<br />
Quando uma planta tem um crescimento<br />
vigoroso com grande estrutura de ramificações<br />
em vegetativo, o tempo de flora é<br />
esperado com muitas expectativas. Atomical<br />
Haze parece ao tempo de ser cortada<br />
uma deusa alaranjada. Estrutura de árvore<br />
de Natal, com enormes belotas nevadas. Os<br />
cachos de flores mudan de cores branco e<br />
creme para cores laranja e cenoura. O resultado<br />
é enormes laranjas embebidas em<br />
açúcar. Meu sentimento de cultivador ao<br />
ter cultivado três exemplares de semente<br />
é que aquela afegã doce mencionada no<br />
cruzamento podería ser uma Sensi Star.<br />
Nenhum dos fenos obtidos tem tanta influência<br />
sativa como para dizer que é principalmente<br />
uma planta sativa, em geral<br />
encontro um equilíbrio bastante uniforme<br />
entre seus parentais sativa e índica.<br />
TRICOMAS VISÍVEIS: 9<br />
25<br />
A partir da terceira semana de flora. A<br />
planta começa a desenvolver suas flores e<br />
a resina aparece gradualmente, as folhas<br />
mais ligadas às flores são cobertas por um<br />
tapete branco, no final do seu ciclo de floração<br />
aproximado a nove semanas, pode<br />
ser vista em toda a sua dimensão açucarada.<br />
As três plantas resinaram fortemente,<br />
muito similares entre elas, sua curta flora<br />
que não excede os 63 dias, fala sobre a paridade<br />
de dominância deste belo híbrido<br />
de Paradise.<br />
26
FICHA<br />
AROMAS: 9<br />
Desde pequenos os caules destas plantas fediam<br />
a terpenos bem doces. Definitivamente floral e<br />
doce, enquanto esta viva. Lembra o aroma floral<br />
da nébula, só que muito mais doce. Realmente<br />
não percebi em nenhum dos três indivíduos a<br />
dominância Haze daquela lendária sativa, como<br />
também não o leve cheiro ácido de afegã. A combinação<br />
entretanto criou esta variedade perfumada<br />
que produz nas narinas uma sensação de<br />
cheirar (quando está bem curada para fumar)<br />
um doce tipo bala ou tipo chiclete, típico cheiro<br />
de tutti frutti.<br />
Tutti fruti 70%<br />
Rosas doces 25%<br />
Peppermint 5%<br />
SABORES: 9, 5<br />
O sabor desta doçura é incrível. Tem mais refinamentos<br />
ao fuma-la dos esperados que quando<br />
é cheirada viva. O gosto a chiclete tutti frutti<br />
também continua a dominar no sabor, mas a este<br />
se adiciona o pinheiro, a menta, semelhante ao<br />
líquido para corrigir os dentes que os dentistas<br />
aplicam, e um retrogosto a thinner frutal, diria a<br />
morangos com creme chantilly com muita açucar.<br />
Não fumar durante todo o dia, porque que é um<br />
pouco enjoativa.<br />
Tutti fruti 50%<br />
Pinheiro mentolado 20%<br />
Pasta de dentista 15%<br />
Morangos doces com thinner 15%<br />
27<br />
28
FICHA<br />
POTÊNCIA: 9<br />
A resina que se deixa ver em toda a investidura desta<br />
planta se torna um turbilhão de energia Atomical.<br />
Começa com um bom brilho no cérebro que faz elevar,<br />
rir e querer amar, e em isso pode se explicar que<br />
se chama Haze.<br />
EFEITTO: 9.5<br />
Para começar o dia fumando este chiclete deve-se ter<br />
coragem. Já que é muito forte sua elevação, e se você<br />
fuma todo um baseado inteiro, fica girando como<br />
as agulhas de um relógio quebrado. Muito boa para<br />
inspirar a escrita e atividades esportivas, ter sexo, ir<br />
trabalhar com energia. Talvez depois de todo o gene<br />
original Haze sim esteja presente, porque esta erva<br />
jamais puxa você para baixo.<br />
29<br />
30
EXAME FÍSICO presenta<br />
SUPRESSOR DE ANSIEDADE:8<br />
SUPRESSOR DA DOR: 8<br />
PERCEPÇÃO AUDITIVA: 9<br />
CONTROLE MOTRIZ: 7<br />
CONTROLE VISUAL 8<br />
AUMENTO DO BOM HUMOR: 10<br />
AUMENTO DO APETITE: 9<br />
AUMENTO DA LÍBIDO: 9<br />
IMAGINAÇÃO / CRIATIVIDADE: 9<br />
RELAX FÍSICO: 7<br />
31<br />
32
INFORMA<br />
Por Demeter<br />
33<br />
34
INFORMA<br />
Foram as sativas puras, as flowers que<br />
lhe deram o power a toda uma geração<br />
nos anos 60.<br />
Quando foi a última vez que você teve uma<br />
ideia interessante fumando uma índica<br />
Exporemos aqui um olhar visionário, contra<br />
a moda de plantar índicas que se instaurou<br />
nos anos 80 e como esta tendência tem deixado<br />
às sativas puras bastante fora da cena do cultivo<br />
e criação.<br />
Hoje, 30 anos depois, a situação piorou: são contados<br />
com os dedos de uma mão os bancos de<br />
sementes que vendem variedades 100% sativas.<br />
Mesmo que nos façam acreditar que vendem genéticas<br />
“sativas”, na prática todos tem um toque de<br />
índica em seus genes, basicamente para fazê-las<br />
cultiváveis em indoors (diminuir tempos de flora,<br />
aumentar produção e tolerância à luz artificial).<br />
Frente a esta situação tentarei transmitir certas<br />
questões ao respeito de índicas e sativas, que com<br />
sorte ajudarão a reverter, embora seja um pouco,<br />
o panorama atual e futuro do que plantamos os<br />
atuais cultivadores. Para que exista originalidade<br />
na hora de degustar nas copas e não tanto mix da<br />
mesma coisa com outros nomes.<br />
A primeira classificação taxonómica moderna do<br />
género Cannabis foi realizada por Carolous Linnaeus<br />
a meados do século XVIII, quem o considerou<br />
monotípico, contendo somente a espécie<br />
que ele denominou Cannabis Sativa L. (L. por Linnaeus).<br />
Este se baseou para sua classificação no<br />
cânhamo cultivado na Europa para obter fibras. No<br />
ano 1785, outro famoso taxónomo, Jean-Baptiste<br />
de Lamarck, publica a descrição de uma segunda<br />
espécie de Cannabis a qual denominou Cannabis<br />
Indica Lam., baseando sua análise em espécimes<br />
obtidos na Índia.<br />
Segundo Lamarck a Cannabis índica possuía menos<br />
utilidade como fontes de fibras, contudo<br />
maiores qualidades embriagantes. Na década de<br />
20, botânicos russos propõem uma terceira espécie,<br />
ou uma subespécie de sativa que denominam<br />
Ruderalis. Plantas auto-florescentes que crescem<br />
silvestres em grande parte da Ex União Soviética,<br />
de psicoatividade baixa ou nula.<br />
Esta denominação de três espécies dentro do género<br />
Cannabis, é a mais aceitada na atualidade<br />
pelos cultivadores, e foi confirmada logo depois<br />
pela equipe de Richard Evans Schultes na década<br />
de 70, quando esta classificação foi tema de debate<br />
nas cortes norte-americanas já que a lei proibia<br />
expressamente a Cannabis Sativa e alguns pensaram<br />
que plantar Cannabis Indica poderia ser legal,<br />
o que em parte ajudou à expansão desta espécie<br />
dentro dos jardins de muitos cultivadores quando<br />
ainda se sabia pouco sobre cultivar cannabis em<br />
casa.<br />
Como começou tudo<br />
A era moderna de auto-cultivo de cannabis tem<br />
a sua origem nos anos 60, com os (denominados<br />
pela mídia) “hippies” quem começaram plantando<br />
sementes das ervas comerciais importadas de<br />
México (Michoacana, Oaxaqueña, Acapulco Gold),<br />
Colombia (Santa Marta Gold, Punto Rojo ou Punta<br />
Roja, Panamá Red), e da Tailândia, que conseguiam<br />
por esses dias. Dessas sementes se obtinham<br />
plantas sativas de longas florações e com<br />
efeitos claramente psicodélicos: era uma experiência<br />
iluminadora, excitante, sociável e muito divertida.<br />
Foram as sativas puras, as flowers que lhe<br />
deram o power a toda uma geração para se ativar,<br />
entrar em conexão com a natureza e se opor<br />
a um sistema falso e bélico. O cultivo caseiro de<br />
Cannabis foi-se expandindo ao longo das décadas<br />
seguintes, como também cresceu a repressão<br />
por parte do estado e a consequente paranoia dos<br />
cultivadores, que da mão da tecnologia foram<br />
aprendendo a cultivar escondidos, sem precisar<br />
do sol, nem da terra. Parece ficção científica. Caso<br />
35<br />
36
INFORMA<br />
contassem para um fazendeiro de princípios do<br />
século passado, ele dificilmente acreditaria.<br />
Porém, cultivar indoors traz certas limitações. As<br />
sativas selvagens não se adaptavam facilmente<br />
à luz artificial e ao espaço limitado. Esticam-<br />
-se demais, não respondem às mudanças de foto<br />
período e não produzem bem. Neste momento<br />
é quando se introduzem variedades índicas que<br />
os mesmos “hippies” tinham trazido de volta de<br />
suas viagens pelo mundo, maiormente de lugares<br />
como Afganistão, Pakistão, ou Líbano, famosos<br />
por suas milenárias tradições de produção de<br />
hashish.<br />
Segundo o especialista Robert Connel Clarke, autor<br />
de Marijuana Botany: “Ainda que as variedades<br />
índicas parecessem bem adaptadas para<br />
o cultivo em ocidente, são nativas de uma área<br />
muito limitada do Oriente Médio, e consequentemente<br />
contém só uma pequena percentagem de<br />
características possivelmente favoráveis encontradas<br />
no cannabis ao redor do mundo”. Com respeito<br />
à produção/qualidade nos diz: “uma índica<br />
pura costuma ter uma produção decepcionante.<br />
A diferença das sativas, as índicas tem menos cálices<br />
nas inflorescências e folhas mais pequenas e<br />
largas. As folhas pesam mais do que os cálices<br />
e como resultado geralmente as plantas índicas<br />
produzem menos cálices sem semente. As índicas<br />
também produzem mais resina nas folhas interiores<br />
que as sativas, porém as sativas tem uma con-<br />
37<br />
Genótipo Indica de grande<br />
produção e efeitos medicinais.<br />
A Ketama é uma indica pura<br />
que é cultivada no Marrocos.<br />
38
INFORMA<br />
centração de resina em seus mais numerosos cálices.<br />
A maior robustez das índicas, junto com seu<br />
distinguido sabor, pequena estatura e maduração<br />
precoce, tem ajudado a aumentar a popularidade<br />
das índicas em ocidente”.<br />
A índica não se fuma<br />
Afirmar que a índica não se fuma, hoje em dia<br />
parece errado, porém foi um fato até antes dos<br />
anos 70, pois estas variedades de Cannabis foram<br />
cultivadas e selecionadas exclusivamente para a<br />
produção de Hashish ao longo de sua milenária<br />
história. Os paises originários destas raças têm climas<br />
muito secos, onde as plantas produzem muita<br />
resina, mas logo que colhidas as flores não podem<br />
ser conservadas para ser utilizadas como maconha<br />
graças às condições climáticas que o tornam<br />
impossível. A transformação das colheitas em<br />
hash permitiu aos cultivadores poder armazena-<br />
-las por grandes períodos de tempo, não só sem<br />
perder a qualidade, mas aumentando-a com o<br />
passo do tempo.<br />
Não é até a década de 80 com o estabelecimento<br />
dos primeiros bancos de sementes, que a “ loucura<br />
índica” aparece em ocidente para nunca voltar<br />
atrás.<br />
Inicialmente, as índicas causaram sensação entre<br />
os cultivadores e maconheiros. Não só eram flores<br />
sorprendentemente fortes e embrutecedoras, mas<br />
também muito sensuais e belas. Logo depois de<br />
alguns anos, as pessoas se esqueceram das sutis<br />
satisfações das antigas sativas. Esqueceram da<br />
sensualidade cerebral, da viagem, as atrações<br />
provocativas do efeito das sativas. Tudo o que se<br />
ouvia (e se ouve) entre os fumadores e cultivadores<br />
era “ Essa Afgana chapa demais, te paralisa!”,<br />
“ Esse Skunk te mata!”, ou “A Moby te leva ao nocaute!”.<br />
E em um sentido é verdade, estão sendo<br />
paralisados, nocautedos, seus cérebros apagados<br />
pelas índicas. Neste sentido, o Cannabis pasou de<br />
39<br />
algo que aclara a mente e o espírito, a algo que o<br />
escurece. A tendência então foi tratar de unir o<br />
melhor dos dois mundos em um híbrido índica/<br />
sativa, e foi nisso que os seedbanks capricharam.<br />
Sativas mágicas como Acapulco e Colombian Gold<br />
foram cruzadas com índicas Afganas para resumir<br />
as melhores qualidades dos dois mundos no<br />
Skunk: efeito cerebral psicodélico e estrutura das<br />
sativas, com o cheiro impactante, belotas compactas<br />
e rápida maduraçao das índicas, o que o<br />
converteu em um híbrido muito completo, sendo<br />
o modelo que definiria o Cannabis moderno e no<br />
que está baseada grande parte da identidade genética<br />
cannábica que se oferece comercialmente<br />
há décadas atrás.<br />
Mas citando novamente o experto Clarke que nos<br />
diz: “ No entanto, o delicado aroma e efeito cerebral<br />
das sativas é continuamente coberto pelo<br />
aroma de gambá e o efeito físico da índica. Como<br />
resultado desta hibridização, muitas das melhores<br />
sativas se perderam para sempre em uma só temporada,<br />
quando talvez hajam levado anos para<br />
se desenvolver”. Parece haver uma relação entre<br />
os tempos de floração e o perfil químico de uma<br />
variedade estável ou chemovar. As sativas equatoriais<br />
que praticamente carecem de CBD levam<br />
períodos que vão de um mínimo de três até seis<br />
meses de floração, enquanto que as índicas mais<br />
rápidas podem estar prontas incluso antes dos 45<br />
dias. Mesmo que se tenha conseguido híbridos<br />
notáveis como Cinderella99 que expressam quimiotipos<br />
sativa em períodos breves de floração,<br />
esta versão “fast-food” de sativa nunca alcançará<br />
igualar a vibração ancestral de uma landrace selvagem<br />
como por exemplo as mesmas Mexicanas<br />
que a C99 leva oculta no fundo do seu código genético.<br />
THC vs. CBD<br />
A índica simplesmente não é maconha. É uma raça<br />
C99 quimiotipo sativa de<br />
floracão rápida.<br />
40
INFORMA<br />
diferente de Canábis, com efeitos diferentes graças<br />
a seu perfil de cannabinoides, gerealmente<br />
ricos em cannabidiol(CBD), com diferença das sativas<br />
em que algumas variedades puras chegam a<br />
níveis virtualmente nulos desta substância.<br />
Dos 60 compostos cannabinoides que produz a<br />
planta, somente três têm ação sobre o sistema<br />
nervoso central: o tetrahidrocannabinol (THC), o<br />
tetrahidrocannabivarin (THCV) y el cannabidiol<br />
(CBD).<br />
Da relação entre os níveis destas substâncias vai<br />
depender principalmente o efeito que tenha cada<br />
planta, além da influência de outros compostos<br />
como certos terpenos, responsáveis dos cheiros<br />
presentes na resina, que tem demonstrado ser<br />
psicoativos e modificam o efeito global de cada<br />
planta para determinar seu caráter único como<br />
indivíduo.<br />
THC e CBD tem efeitos em muitos sentidos opostos.<br />
O CBD é um ansiolítico natural, com propriedades<br />
antipsicóticas, enquanto que o THC (ao igual que<br />
o THCV), pelo contrário pode ser classificado como<br />
“psicomimetico”, isto é que seus efeitos podem<br />
imitar ou induzir temporariamente uma psicose<br />
além de causar ansiedade.<br />
Em um interessante estudo, comprovou-se que<br />
administrando CBD anteriormente a uma injeção<br />
de THC, prevêem-se os possíveis efeitos psicóticos<br />
provocados por este último. Esta simples conclusão<br />
científica serve para explicar porque algumas<br />
sativas puras têm efeito “sem limite”, que permite<br />
continuar fumando e aumentando a viagem<br />
tornando-se cada vez mais psicodélica, enquanto<br />
que as índicas chegam facilmente a um ponto<br />
O CBD presente em<br />
variedades Indicas modula<br />
os efeitos do THC.<br />
41
INFORMA<br />
Sativa "Punto Rojo" de longa<br />
floracão e efeitos psicodélicos.<br />
43<br />
de saturação onde o único resultado<br />
possível é adormecer. Poderia dizer-<br />
-se que quanto maior o nível de CBD,<br />
menor é o “limite” para o efeito da variedade,<br />
e mais físico o efeito, o que<br />
faz às variedades índicas ideais para o<br />
uso medicinal onde se destacam com<br />
muitíssimo potencial no alívio da dor,<br />
entre outras variadas aplicações.<br />
O CBD presente em variedades índicas<br />
puras ou híbridos índica-sativa, ocupa<br />
(embora com menos afinidade) os<br />
mesmos receptores CB1 e CB2 no cérebro<br />
que o THC, desta maneira modula<br />
e em certa medida bloqueia seus efeitos.<br />
Embora esta ação agobiante pode<br />
ser beneficiável para seus usuários<br />
medicinais que necessitam da ação<br />
terapêutica do Cannabis sem sofrer<br />
seus efeitos psíquicos, na prática do<br />
uso recreativo, ritual ou espiritual da<br />
planta, pode nos impedir de acessar<br />
esse privilégio que é a “loucura divina”<br />
proporcionada por algumas sativas<br />
mágicas. É por isto que certas<br />
chemovars sativas cuja mística combinação<br />
alquímica pode levar-nos às<br />
portas do céu, são guardadas ciosamente<br />
como tesouros tanto por auténticos<br />
rastafaris africanos como por alguns<br />
criadores antigos que têm vivido<br />
a época dourada das sativas puras e<br />
têm reproduzido e conservado esas<br />
jóias para o deleite de quem se atreva<br />
a cultivar a mística em seus espíritos.<br />
Tomara que na próxima primavera,<br />
nós os leitores da Haze, continuemos<br />
com esta tradição às vezes oculta e<br />
em processo de extinção, de cultivar,<br />
conservar e disfrutar das sativas.<br />
44
45<br />
46
INFORMA<br />
A Liga da<br />
Fumaça<br />
Por Camarón<br />
Se acham que o beque salvou vocês<br />
de muitos perigos e ameaças, esperem<br />
para conhecer o Diego Motta,<br />
responsável por HeroSeeds, quadrinhos<br />
cannábicos e banco de sementes que vai<br />
mudar a sua maneira de ver os super-<br />
-heróis.<br />
Imaginem fusionar em um só ser, um<br />
super-herói e uma variedade de cannabis.<br />
Imaginem que cada genética de um<br />
catálogo corresponde com um personagem<br />
de uma aventura, onde lutar pela<br />
legalização e os direitos dos cultivadores<br />
e usuários parece ser a grande meta.<br />
Pronto, agora não imaginen mais porque<br />
Diego Motta já fez isso e imaginou<br />
muito além.<br />
Sentado à frente da tela do meu computador,<br />
vejo através do Skype um jovem<br />
espanhol, de olhar calmo e atitude muito<br />
gentil, ele sabe que tenho muitas perguntas<br />
anotadas, mas meu entrevistado<br />
dá sinais imediatos de que tem muita<br />
paciência e de que está a fim de un bom<br />
papo.<br />
O que veio primeiro Os quadrinhos ou o banco<br />
- Foram duas coisas que cresceram ao mesmo tempo, mas o que<br />
veio primeiro foram os quadrinhos. Tinha na minha cabeça há<br />
muito tempo a ideia de contar uma história onde os super-heróis<br />
eram verdadeiros defensores do povo e os seus interesses,<br />
não os guardiões do status quo que geralmente são. Um día<br />
perguntei a mim mesmo, o que aconteceria se os protagonistas<br />
fumassem erva e não fossem tão conservadores. E aí foi que<br />
comecei a trabalhar.<br />
E o seedbank<br />
- O banco é o resultado de ter trabalhado testando e desenvolvolvendo<br />
plantas para outras empresas e para nós mesmos<br />
desde o ano 2000. Enquanto surgiam os primeiros personagens<br />
da história percebemos que já tínhamos uma coleção de variedades<br />
próprias e já eramos capazes de vender as sementes.<br />
Então não houve mais tempo de trabalhar para os outros.<br />
E como surgiu a ideia de combinar os dois conceitos<br />
- Foi uma coisa natural, eu cultivo plantas e conto histórias.<br />
O cannabis está muito presente em todos os aspectos dos quadrinhos.<br />
No começo havia apenas três ou quatro personagens, mas<br />
quiz ter tantos quanto variadedes havia no nosso catálogo,<br />
por isso decidi por meio da sátira e/ou crítica<br />
reversionar super-heróis conhecidos, dando-lhes<br />
uma nova missão e personalidade.<br />
48
INFORMA<br />
Com tom ideológico irrepreensível Diego tenta ao longo de vários capítulos,<br />
nos seduzir com as aventuras de seus personagens que só por ter superpoderes<br />
não deixam de sofrer as mesmas dificuldades que afligem aos espanhóis<br />
e cidadãos de todo o mundo a cada dia. Assim, podemos ver esses<br />
campeões do cultivo e da legalização defender ¨desahuciados¨ (despejados),<br />
combater skinheads e todos os tipos de criminosos e, especialmente,<br />
dinamitar as bases da ameaça reptiliana, a verdadeira razão da maldade<br />
do homem. Atravessando constantemente o fantástico mundo dos quadrinhos<br />
com fatos da realidade cotidiana, o autor consegue fazer o leitor se<br />
identificar com o que acontece lá e sonhar com um mundo melhor, onde a<br />
maconha é legal e não há nem nações ou religiões ou corporações ou qualquer<br />
coisa que divida as pessoas. Cada edição da Hero Seeds é ilustrada<br />
por vários artistas que se alternam o que lhe confere um apelo especial e ar<br />
de comic de culto aos dois capítulos<br />
que inclui cada revista. Artistas<br />
como Jordi Pérez, Rafa Sandoval ou<br />
Alfonso Azpiri, entre muitos outros,<br />
se esforçam para dar forma às criaturas<br />
loucas emergentes da mente<br />
do Sr. Motta, juntandose a experiência<br />
dos mais aclamados com os<br />
ares da nova geração dos cuadrinhos<br />
ibéricos.<br />
Fica agora para cada leitor a divertida<br />
tarefa de procurar no perfil de<br />
cada personagem, características<br />
da planta que lhe dá seu nome.<br />
modificar os sabores e outras qualidades das plantas<br />
que deram origem às cruzas.<br />
E como fizeram isso<br />
- Bom, começamos com alguns clássicos que caíram em<br />
nossas mãos e os cruzamos com uma planta especial<br />
(cruza de Northern Lights + Ortega + Afganhi S.A.+ Hash<br />
Plant), que tem a distinção de ter genes tipo dominante<br />
que transmitem estes caracteres desejados dos que já<br />
falamos, fazendo que todas as nossas plantas tenham<br />
buds grandes e saborosos, e que não tenham problemas<br />
com a umidade na fase final da floração.<br />
Pretendem acrescentar variedades autoflorescentes<br />
à sua coleção<br />
- Em princípio não. Já temos trabalhado e desenvolvido<br />
variedades que não nos deixaram satisfeitos e no entanto,<br />
outros bancos decidiram comercializá-las. Nós<br />
não gostamos de trabalhar em algo que não podemos<br />
estabilizar em um 100%, isso é o que acontece com todas<br />
as chamadas automáticas. Não existindo mães é<br />
impossível fazer um trabalho onde se consiga prever<br />
os resultados com sucesso e, assim, dar segurança aos<br />
50<br />
Falando de plantas<br />
Pequena, mas sedutora é a lista<br />
de plantas que compõem o catálogo<br />
do HersoSeeds. Resultado de<br />
12 anos de trabalho, polyhibridos<br />
que reversionam alguns dos clássicos<br />
da canabicultura compoem um<br />
desfile de combinações genéticas<br />
que convidam ao teste.<br />
Como está formada a coleção<br />
- Basicamente o que fizemos foi escolher<br />
as nossas plantas favoritas e<br />
melhorá-las. As fomos selecionando<br />
e cruzando por muitos anos e o que<br />
fizemos, foi aumentar a produção e<br />
a resistência aos fungos quase sem
INFORMA<br />
cultivadores. Definitivamente não gostamos e achamos<br />
que de alguma forma contribui para a perda de genéticas<br />
mais interessantes, que perdem espaço para este<br />
novo tipo de plantas.<br />
¿Que dicas você daría aos cultivadores brasileiros<br />
- Principalmente para quem cultiva em exterior uma<br />
boa é começar a planta com iluminação artificial (há<br />
varias opções) completando as horas de luz que a<br />
planta precisa para continuar no crecimento vegetativo<br />
e nao entrar em flora. Fazer isto por um ou dois<br />
meses fará que a planta cresça mais do que se fosse<br />
criada ao sol desde o começo. Para estes cultivadores<br />
recomendo plantas mais do tipo sativa como a Blue<br />
Monster Holk, que é uma planta que produz muito e<br />
tem níveis muito altos de THC ou a Alien Jack Motta<br />
que é planta de efeito mais cerebral do nosso catálogo,<br />
além de ser uma boa amiga do outdoor também.<br />
¿Outras variedades de exterior para nos recomendar<br />
- A Amazing Spider Skunk é, sem dúvida, a planta<br />
mais resistente que temos desenvolvido até agora,<br />
muito recomendada para cultivo outdoor. Outra poderia<br />
ser a Iron Flow porque é uma planta fácil de cultivar,<br />
que não tem muitas exigências e também resiste<br />
muito na intempérie. É uma planta que recomendamos<br />
para iniciantes.<br />
¿Algo que queiram dizer aos leitores de Haze<br />
- Espero que vocês gostem de nosso comic e recomendo<br />
experimentar nossas variedades que com<br />
certeza vão ser do agrado de vocês.<br />
Goste ou não dos quadrinhos sem dúvida os personagens<br />
de Motta, farão você se sentir identificado<br />
pelo menos por seu amor pela maconha e vão fazer<br />
você acreditar que um mundo melhor é possível<br />
(nem que seja num gibi).<br />
Mais uma vez temos a oportunidade de conhecer um<br />
breeder (profissão com a que sonham muitos leitores<br />
da Haze), mas desta vez, também conseguimos conhecer<br />
um sonhador que com suas histórias vem para<br />
contar como a maconha pode nos ajudar e muito.<br />
Esperamos que vocês gostem da primeira parte do<br />
episódio 1 da Hero Seeds The Comic Series: Alien Jack<br />
Motta ¨KAYA” e que nao duvidem em testar estas<br />
variedades com as quais com certeza ficarão superamigos...
SARA<br />
INVENÇÃO DE DOENÇAS<br />
Por João Saveirinho<br />
Estamos frente a um processo de redefinição da<br />
saúde humana que vem sendo levado a diante<br />
a partir dos interesses criados pela indústria<br />
farmacêutica. O que se encontra na origem dessa<br />
proposta é a construção social da normalidade; em<br />
outras palavras, o que é “o normal” e o que é “o patológico”.<br />
Como construção histórica, as ideias de<br />
normalidade, doença e não doença foram variando.<br />
Quem são os que se constituem como atores desse<br />
processo Para nos aproximarmos de uma resposta,<br />
devemos analisar o papel desenvolvido pelos laboratórios,<br />
pela indústria farmacêutica e pelos profissionais<br />
da medicina. Observar como as falsas necessidades<br />
são criadas, como o marketing exerce sua ação,<br />
como os conceitos de normalidade e de anormalidade<br />
vão mudando e como a saúde humana constantemente<br />
é redefinida ao “mudar” ininterrompidamente<br />
os parâmetros de diagnóstico (um exemplo disso são<br />
os flutuantes índices do normal e do patológico no<br />
colesterol e na hipertensão).<br />
Os psicofármacos são consumidos por sujeitos não<br />
doentes, porém, desconfortáveis, insuficientes. Ao<br />
não existir doença e sim mal-estar, o que se busca<br />
não é a cura, senão o bem-estar. Partindo desse enfoque,<br />
tudo aquilo que produz incomodidade e nos<br />
distancia do bem-estar é redefinido como anormal<br />
ou patológico, mesmo que essa incomodidade seja<br />
uma resposta tradicionalmente entendida como<br />
“normal” frente a um processo ou estímulo. Nesse<br />
contexto, a pílula responde a um “círculo perfeito”<br />
entre um sujeito impaciente com seu mal-estar e um<br />
sistema sanitário que não tem tempo para oferecer.<br />
A mídia permite o autodiagnóstico por intermédio da<br />
publicidade, da TV e da internet. O resultado desses<br />
relatos é o surgimento de um “paciente autodidata”<br />
que – através de uma rede de informação informal<br />
construída a partir de diversas fontes (jornais, revistas,<br />
televisão, Internet, conhecidos) – elabora seu<br />
autodiagnóstico e seu tratamento. A visita ao médico<br />
então se produz em um âmbito de “luta de saberes”<br />
no qual o paciente espera do médico uma legitimação<br />
de seu autodiagnóstico e da pílula que busca. A<br />
banalização da medicação se completa com um marketing<br />
dos laboratórios que, em muitos casos, cumpre<br />
com os mesmos parâmetros de sedução ao cliente<br />
que o de qualquer produto de consumo massivo, sem<br />
levar em consideração a especificidade de um produto<br />
médico. Do mesmo modo como a ¨Coca-louca¨<br />
nos vende sua bebida de cor escura e sabor incerto<br />
mediante campanhas que enganam o inconsciente,<br />
apelando a valores que nada têm a ver com um refresco,<br />
instalando-se em algum lugar de nosso pensamento<br />
e criando uma necessidade; os laboratórios<br />
dissimulam os psicofármacos como uma solução mágica<br />
e inócua. As estratégias de marketing utilizam o<br />
mesmo lineamento. O que não fica claro é por e para<br />
quê. São produtos de venda sob prescrição médica.<br />
Um profissional da saúde deve considerar que essa<br />
ferramenta é útil para tratar seu paciente, indicá-la<br />
e dessa maneira se vende o produto. Sob nenhum<br />
ponto de vista um medicamento deveria contar com<br />
campanhas publicitárias dirigidas à população.<br />
Outra perspectiva põe o foco na ideia de “medicamentos<br />
para o estilo de vida” (lifestyle medicines)<br />
fazendo referência ao processo apresentado com respeito<br />
a considerar os psicotrópicos como substâncias<br />
reguladoras do estilo de vida em vez de medicamentos<br />
para curar sujeitos doentes.<br />
Esse enfoque é fundamental para a compreensão do<br />
processo. A relação que se estabelece entre o consumo<br />
de psicotrópicos e a qualidade de vida supõe<br />
o traslado da ideia de enfermidade à ideia de mal-<br />
-estar, incomodidade, moléstia, insuficiência. Este<br />
traslado da enfermidade ao mal-estar leva a uma alteração,<br />
uma mudança de perspectiva ao substituir a<br />
ideia de cura pela ideia de qualidade de vida. A ideia<br />
de moléstia e de mal-estar se impõe no campo da<br />
medicina. Isso, por um lado, gera efeitos positivos ao<br />
promover o surgimento de novas correntes centradas<br />
no atendimento primário, mas, por outro lado, corre-<br />
-se o risco de medicalizar qualquer transtorno vital<br />
que produza incomodidade, redefinindo-o como<br />
enfermidade, paradoxalmente ao mesmo tempo em<br />
que a patologia entra em crise frente ao avanço da<br />
ideia de mal-estar e qualidade de vida.<br />
PÍLULAS PARA O ESTILO DE VIDA<br />
Quando a natureza humana e suas necessidades ficam<br />
adiadas pelas exigências de moda, a vida se torna<br />
incômoda.<br />
Não fomos criados para trabalhar 9 horas por dia. Em<br />
muitos casos confinados no mesmo habitat a jornada<br />
inteira, com a possibilidade de sair para fumar<br />
um cigarro para melhorar nossa permanência no lugar.<br />
Cinco dias trabalhando, dois de descanso. 350<br />
dias de trabalho, 14 de férias. A cultura desmedida<br />
de consumo e a voracidade do sistema econômico<br />
fizeram com que a sociedade adotasse esse tipo de<br />
57<br />
58
SARA<br />
condutas como normais. O estilo de vida atual não<br />
atende questões fundamentais inerentes à natureza<br />
humana: respeitar as horas de descanso, alimentar-<br />
-se de maneira consciente, fazer exercícios físicos,<br />
explorar a sexualidade. Referimo-nos a necessidades<br />
básicas, próprias do corpo físico. Elas são tão elementares<br />
que é incompreensível o distanciamento da<br />
raça humana de sua fonte.<br />
Talvez se o ser humano viesse com uma etiqueta –<br />
como uma camiseta de algodão – com instruções<br />
precisas para seu cuidado, cuidar-nos seria mais<br />
simples.<br />
Se consideramos essa forma de nos comportar dia<br />
a dia como natural, qualquer alarme que o corpo<br />
ou a mente dispare é interpretado como uma falha,<br />
um defeito. Aprendemos muito bem a silenciar esses<br />
alarmes indo a um centro de saúde em busca de<br />
ajuda.<br />
Hipotecamos a natureza humana para afiliar-nos a<br />
um sistema voraz. Um sistema de exigências crescentes<br />
e desproporcionadas. A chegada da era do “sujeito<br />
proativo” requer explicitamente características<br />
individuais irreais. A época da cooperação é uma foto<br />
em branco e preto. As exigências sociais de performance<br />
e de crescimento pessoal desgastam as bases<br />
da personalidade. Não existe distinção entre mães<br />
de primeira viagem, estudantes, profissionais ou desempregados.<br />
Todos devem cumprir com determinados<br />
requisitos básicos para serem valiosos. As características<br />
requeridas deixam completamente de lado<br />
as necessidades de nosso veículo. Falamos do corpo<br />
físico. Nossa mente, com sua moeda desvalorizada,<br />
paga um preço muito alto para manter esse sistema<br />
em funcionamento: pressão, medo, incerteza, “não<br />
estar à altura”, permanente sensação de insuficiência,<br />
tristeza, solidão. A lista é interminável.<br />
O SILÊNCIO PSÍQUICO<br />
Frente ao avanço da ideia de qualidade de vida e<br />
bem-estar, a patologia perde terreno no campo da<br />
medicina. Ao mesmo tempo, começam a ser “medicalizáveis”<br />
uma série de mal-estares que afligem<br />
o sujeito em sua vida cotidiana. Sentir-se nervoso<br />
perante uma entrevista de trabalho, ter decaimento<br />
ante uma perda afetiva ou sentir cansaço depois de<br />
longas jornadas de trabalho são situações que merecem<br />
ser medicadas<br />
As crescentes pressões no âmbito do trabalho apresentaram<br />
um desafio à medicina. Como na Segunda<br />
Guerra Mundial, a Alemanha disponibiliza a seus soldados<br />
uma novidade; uma pílula que aliviava uma<br />
quantidade variada de afecções, a “psicomedicina”<br />
provê uma nova “aspirina” à população capaz de<br />
aliviar a incomodidade gerada pelo estilo de vida<br />
que desejam sustentar.<br />
Novas entidades clínicas substituem as velhas doenças.<br />
Surgem conglomerados de sinais e sintomas<br />
próprios de uma forma de vida antinatural que são<br />
agrupados e tratados por profissionais do ramo ou<br />
por alguma tia cheia de pílulas que frente à insônia<br />
de um próximo não vacila em recomendar uma metade<br />
de uma das redondinhas para dormir melhor.<br />
Estamos silenciando psiquicamente o ser humano.<br />
Imaginemos com um animal. Pode ser qualquer um.<br />
Várias circunstâncias inerentes a sua forma de vida o<br />
incomodam bastante. Ao longo do tempo, esse animal<br />
tem duas possibilidades: continuar nesse quadro<br />
de mal-estar, deprimir-se e morrer ou modificar sua<br />
situação e seguir adiante. A evolução nos ensina que<br />
a natureza escolhe o segundo caminho. Agora, imaginemos<br />
como outro animal, desta vez: um humano.<br />
A mesma situação, incomodidade e desprazer em sua<br />
vida, prolongados no tempo. O humano moderno<br />
conta com uma terceira opção: pode silenciar psiquicamente<br />
sua incomodidade e não modificar esses<br />
hábitos que lhe produzem dano.<br />
Quando um bebê nasce, ele conta com uma série de<br />
reflexos que garantem sua sobrevivência. Um deles<br />
é o reflexo de sucção. Um recém-nascido não sabe<br />
que tem duas mãos, mas sabe alimentar-se. A evolu-<br />
ção tem um plano para nós que é garantir a sobrevivência.<br />
Frente a ameaças modernas que pouco põem<br />
em risco nossa estada na terra, o corpo dispara uma<br />
série de respostas hormonais que confundem o cérebro<br />
primitivo. Ele interpreta que a sobrevivência está<br />
em xeque e ativa um conjunto de ações que tentarão<br />
afastar o indivíduo dessa situação potencialmente<br />
lesiva.<br />
Se colocarmos a mão muito perto do fogo, a retiraremos<br />
rapidamente de maneira involuntária. Isso é<br />
conhecido como um reflexo medular. Nesse tipo de<br />
reflexos a consciência não participa, quer dizer, existe<br />
um circuito automático que ativa uma resposta<br />
efetiva contra a ameaça antes que possamos pensar<br />
se estamos por queimar um braço ou se estamos<br />
brincando de passá-lo pertinho de um queimador de<br />
fogão.<br />
A resposta hormonal é a mesma, tanto se somos perseguidos<br />
por um leão na selva como se passamos por<br />
uma situação de grande tensão. Pode ser uma discussão<br />
no trabalho, um engarrafamento ou um exame.<br />
Diante dessas circunstâncias, nosso corpo começará<br />
a falar, tentando nos proteger.<br />
Então, um belo dia, a natureza envia um sinal: começamos<br />
a ter dificuldade para dormir ou sentimos<br />
medo em diferentes momentos, e como não percebemos<br />
o que está acontecendo pois é mais importante<br />
seguir andando rápido, de repente acabamos caindo<br />
no choro, um choro tão forte que faz com que experimentemos<br />
um momento muito escuro, de morte.<br />
Ao sentir o dano, o corpo utiliza sintomas e sinais<br />
para que nós modifiquemos nosso comportamento.<br />
Se continuarmos fazendo as mesmas coisas enquanto<br />
distraímos a mente com psicofármacos, o corpo<br />
inevitavelmente ficará doente e teremos aliviado somente<br />
o que entendemos como sintomas, aqueles sinais<br />
de nosso corpo físico que conta com a sabedoria<br />
ancestral da evolução. Há mais de 8000 anos que a<br />
raça humana vem fazendo réplicas exatas e perfeitas<br />
de si mesma.<br />
FARMACOLOGICAMENTE CORRETOS<br />
DE QUE ESTAMOS FALANDO QUANDO<br />
NOS REFERIMOS A PSICOFÁRMACOS<br />
Trata-se de fármacos que atuam fundamentalmente<br />
sobre as funções nervosas do cérebro,<br />
modificando de maneira mais ou menos transitória<br />
o estado psíquico e o comportamento do<br />
sujeito. Os efeitos terapêuticos são utilizados<br />
para tratar afecções tais como a ansiedade,<br />
insônia ou depressão.<br />
Os BENZODIAZEPÍNICOS são um grupo de psicofármacos<br />
cujo mecanismo de ação é mediado<br />
pelo aumento na frequência de abertura de<br />
canais de cloro nos neurônios. Dessa forma,<br />
ocorre uma hiperpolarização das células cerebrais<br />
que ACABAM TORNANDO MAIS LENTA A<br />
CONDUTÂNCIA NERVOSA.<br />
Esses fármacos têm nome e sobrenome: Alprazolam<br />
(nome comercial: Apraz, Frontal, Tranquinal), Clonazepam<br />
(Rivotril), Diazepam (Valium), Lorazepam<br />
(Lorax, Lorium, Mesmerin), Flunitrazepam (Rohypnol),<br />
Bromazepam (Lexotam, Brozepax, Deptran,<br />
Nervium, Novazepam, Somalium, Sulpam).<br />
Os BZD são muito úteis para o tratamento agudo, de<br />
2 a 4 semanas de duração, de certas afecções psíquicas.<br />
Apesar de não estarem indicados para períodos<br />
superiores a 6 meses, os BZD são consumidos em<br />
terapias indefinidas durante períodos amplamente<br />
maiores. Com essa frequência de uso, a lista de efeitos<br />
adversos é realmente preocupante.<br />
O uso prolongado acomete significativamente a memória<br />
e a aquisição de novos conhecimentos, provocando<br />
alterações cognitivas. Os BZD geram tolerância,<br />
provocando o aumento gradativo da dose para<br />
obter o mesmo efeito. Ao tentar descontinuar seu<br />
uso, os usuários habituais podem sofrer a síndrome<br />
de abstinência, visto que esses fármacos desenvolvem<br />
dependência física.<br />
São fármacos cujo metabolismo hepático acontece<br />
em um, dois e três passos. Isso significa que o corpo<br />
tem muito trabalho para eliminá-los. Além disso,<br />
eles circulam de forma ativa no sangue por mais de<br />
24 horas. É por esse motivo que a descrição feita na<br />
59<br />
60
SARA<br />
manhã posterior ao consumo é a do efeito ressaca<br />
(hangover), semelhante ao efeito de uma grande<br />
bebedeira.<br />
Apesar de serem fármacos com elevada margem<br />
terapêutica, combinados com outros<br />
depressores do sistema nervoso central<br />
como o álcool, o risco de parada cardiorrespiratória<br />
é muito elevado.<br />
Alteração do sono:<br />
Os benzodiazepínicos prolongam as fases I e II do<br />
sono NÃO REM (NREM) e diminuem a duração das<br />
fases III e IV, BLOQUEANDO O SONO PROFUNDO. A<br />
fase IV do sono de ondas lentas é importantíssima<br />
devido ao fato que é nesta fase do sono que se libera<br />
o hormônio do crescimento, o qual garante<br />
a imunidade celular e a reparação dos tecidos. É<br />
também nesta fase quando os núcleos da vigília<br />
descansam. Eles têm uma função importante na<br />
área cognitiva (reflexão, concentração, memória,<br />
atenção e intelecto).<br />
Nas fases de sono profundo é onde o descanso<br />
realmente acontece. Este tipo de fármaco<br />
é indicado para aliviar a insônia, porém, ele<br />
realmente deteriora de maneira significativa<br />
a qualidade do sono e suas funções sobre<br />
o organismo.<br />
PROBLEMA MAIS GRAVE<br />
Ao fazer referência ao consumo de psicofármacos,<br />
um reconhecido médico especialista em toxicologia<br />
exemplificava a questão contando o caso da<br />
sua própria mãe, usuária vitalícia de clonazepam,<br />
quem enfrentava o mesmo problema todas as noites:<br />
ela não lembrava se tinha tomado a pílula para<br />
dormir.<br />
Sua mãe morava sozinha, não tinha ninguém em<br />
casa que pudesse alertá-la sobre o fato de ter tomado<br />
ou não a pílula. Nesse contexto, a dúvida fazia<br />
com que ela fosse buscar uma pílula ‒ ou talvez<br />
outra pílula ‒ para dormir na caixa de primeiros<br />
socorros.<br />
O problema não colocava sua vida imediatamente<br />
em risco; no entanto, prolongava e intensificava<br />
desnecessariamente os efeitos da droga. A mulher<br />
pagava juros muito altos por causa do perigoso<br />
esquecimento. Aumentava o risco de quedas e<br />
acidentes domésticos. Seu corpo devia metabolizar<br />
quantidades desnecessárias de um fármaco<br />
muito potente, e isso sim implicava um perigo<br />
para seu organismo no médio prazo.<br />
A sorte dela é ter filho o filho que tem. Ao ver a<br />
saia justa pela qual a mãe estava passando, aquele<br />
doutor pensou numa estratégia e lhe disse: “assim<br />
que tomar a pílula, a senhora vai colocar esta<br />
pulseira no pulso. Cada vez que tiver dúvida, é só<br />
olhar para seu pulso e decidir com sabedoria. Pode<br />
olhar todas as vezes que quiser. Ao acordar, a senhora<br />
tira a pulseira.” Fim da questão.<br />
Além de compartilhar uma ideia muito boa para<br />
regular a dosagem de fármacos em caso de pessoas<br />
com problemas de memória, este simpático relato<br />
tenta colocar em evidência uma situação não<br />
menor em sua gravidade.<br />
É necessário estabelecer um controle estrito, regulado<br />
e rigoroso sobre o consumo de psicofármacos<br />
por parte de idosos. A eficácia de seu corpo<br />
para metabolizar e eliminar as drogas é menor. Por<br />
outro lado, o efeito das drogas em pessoas idosas<br />
se potencializa ainda mais, além de ser mais<br />
prolongado, do que em indivíduos mais jovens.<br />
O aumento desnecessário da dose é<br />
um problema realmente grave.<br />
‒ Vó, como é que a senhora tem 6 caixas<br />
de “sonolex” no banheiro<br />
‒ É que andei fazendo uns exames<br />
médicos. Vi o cardiologista, o angiologista,<br />
o gastrenterologista, o<br />
neurologista, minha ginecologista e<br />
um traumatologista. E comentei a todos<br />
eles que estava com um pouco de<br />
dificuldade para dormir.<br />
A medicina ocidental é embasada na<br />
fragmentação do indivíduo. Especialistas e superespecialistas<br />
trabalhando sobre um órgão ou<br />
sistema isolado.<br />
É FUNDAMENTAL mudar o modo de pensar,<br />
viver e sentir para então mudar o estilo<br />
de vida. Enquanto isso não for possível,<br />
é de vital importância encontrar uma ferramenta<br />
menos potente para substituir o<br />
alívio que os psicofármacos produzem.<br />
FARMACOLOGICAMENTE<br />
INCORRETOS<br />
A medicina ocidental é articulada pelos cordeis<br />
da indústria farmacêutica. Curiosamente,<br />
fármacos potentes de relativa eficácia e com<br />
muitos efeitos adversos são prescritos de olhos<br />
fechados. Outros, enquanto suas formulações<br />
sintéticas são autorizadas, seu extrato natural<br />
é proibido. Esse é o chamativo caso de Sativex,<br />
fármaco elaborado a base de TCH e CBD (princípios<br />
ativos da cannabis) e comercializado legalmente<br />
em forma de spray. Não obstante isso,<br />
a planta - cuja cultura e colheita poderiam ser<br />
feitas de maneira natural - é proibida.<br />
A sugestão de substituir um psicotrópico natural<br />
por um equivalente químico é uma falta de<br />
respeito. A falsa ideia de que os produtos sintéticos<br />
supõem uma melhoria no cuidado da saúde<br />
e o inconsciente coletivo repleto de argumentos<br />
arquitetados levam a pensar que prescrever<br />
cannabis seja considerado um insulto.<br />
CANNABIS:<br />
Indicada para o alívio da insônia<br />
Os cannabinoides são obtidos da resina<br />
encontrada nas folhas e flores<br />
da planta. Eles surgem como uma<br />
ferramenta natural com escassos efeitos<br />
adversos. O CBD (canabidiol) é um<br />
cannabinoide com propriedades sedativas<br />
e analgésicas. As variedades INDICAS de<br />
maconha possuem uma porcentagem maior de<br />
CBD comparadas com as Sativas.<br />
Não só estamos falando de um fármaco de origem<br />
vegetal, mas também de um que não possui<br />
os efeitos tóxicos mencionados para os benzodiazepínicos.<br />
A concentração estável e prolongada que a ingesta<br />
de maconha oferece é útil para a insônia de<br />
manutenção, pois permite diminuir o número de<br />
despertares noturnos. Por sua vez, a via inalatória<br />
alcança um pico plasmático elevado (altas<br />
concentrações sanguíneas) e produz uma suave<br />
porém repentina sedação, sendo útil para favorecer<br />
a conciliação sono.<br />
A administração em forma de óleo (extrato com<br />
alta concentração do princípio ativo) 3 a 4 horas<br />
antes da hora de dormir, combinada com medidas<br />
gerais para favorecer a conciliação do sono<br />
(medidas higiênico-dietéticas), é uma alternativa<br />
natural para aliviar a insônia. O efeito da cannabis<br />
poderia ser potencializada administrando<br />
uma dose de carga via inalatória 45 minutos antes<br />
de se deitar para dormir.<br />
CONCLUSÃO<br />
É claro que nenhuma ferramenta farmacológica<br />
poderá remediar o dano que uma forma de vida<br />
inconsciente e dissociada causa ao organismo.<br />
Também é verdade que mudar o paradigma no<br />
qual uma sociedade se estabelece leva tempo,<br />
além de um esforço conjunto. Até então, a tarefa<br />
dos médicos é prescrever fármacos de baixa<br />
toxicidade que favoreçam a mudança de comportamentos<br />
não saudáveis. A cannabis pode<br />
ser utilizada como uma ferramenta de primeira<br />
escolha para a insônia de conciliação e de manutenção.<br />
Deixar de comprar verdades absolutas estabelecidas<br />
por interesses que não têm nada a ver<br />
conosco é elementar. Escutar o corpo em que<br />
moramos abrirá as portas para uma nova era.<br />
61<br />
62
VIAJA<br />
Por Estefani Medeiros<br />
Peregrino do ativismo canábico, Steffen Geyer trabalha há quatorze dos<br />
seus 34 anos a favor da educação e da legalização da maconha na Alemanha.<br />
Responsável por organizar a Hanf Parade, a marcha de Berlim, é o representante<br />
do Hanf Museum, a sede do movimento de legalização alemão, e<br />
ainda usa sua formação em direito para aconselhar usuários com problemas<br />
na polícia. Dividido entre a paixão pela natureza e um malabarismo da<br />
burocracia criada com leis e politicagens, Geyer é uma porta-voz inteirado<br />
sobre tudo o que tem rolado com a erva na Europa. Do pé ao primeiro pega.<br />
Com seus marcantes dreads vermelhos e vestido de cânhamo da cabeça aos pés --ele diz não comprar<br />
mais roupas de cotton (algodão) --, o ativista recebeu a Haze em seu QG em Berlim para um papo sobre<br />
cultivo que passou por uma comparação com a situação na América Latina e uma reflexão sobre o formato<br />
de venda adotado em Amsterdã.<br />
Geyer conta que o número de alemães plantando em seus jardins e apartamentos começou a aumentar nos<br />
últimos quinze anos, mas um evento que todos nós conhecemos criou um boom de cultivadores há pouco<br />
tempo: a Copa do Mundo de 2006. “Os traficantes descobriram que precisariam produzir em larga escala<br />
para ganhar dinheiro dos fãs de futebol. Antes disso, a maconha era limpa e verde, com algumas misturas,<br />
mas verde. Desde 2006, muitos venenos e substâncias são colocados para aumentar o lucro. Com isso,<br />
cresceu o número de cultivadores que buscam qualidade e querem continuar saudáveis. Naquela época, a<br />
maconha consumida na Alemanha vinha principalmente da Holanda. Mas agora 75% da maconha fumada<br />
em Berlim é criada em Berlim. É mais barato ter equipamentos e acessórios para plantar.”<br />
63<br />
Mão pro alto!<br />
Os dezesseis estados da Alemanha têm regras bem diferentes<br />
para apreensão. Se você estiver passeando pelo Portão<br />
de Brandenburgo, em Berlim, com mais de nove gramas,<br />
vai tomar um bom sermão do policial, perder o bagulho e<br />
receber uma carta malcriada do governo. Se você é pego<br />
pela segunda vez, paga uma taxa fiança entre 200 e 600<br />
euros. Para você ser preso por um ano, precisa estar com<br />
mais de 75 gramas de haxixe ou 78 de maconha.<br />
64
VIAJA<br />
VIAJA<br />
Assim como as punições para usuários, as penas<br />
para quem cultiva na Alemanha variam de estado<br />
para estado. “Não tem como plantar regularmente<br />
na Alemanha. Mas em Berlim é mais razoável, se<br />
você tiver menos de dois metros quadrados, ou 15<br />
plantas, eles consideram que isso é uso pessoal. Mas<br />
na Baviera (estado no sul da Alemanha), seu material<br />
será apreendido se tiver qualquer equipamento<br />
considerado profissional, porque (para eles) você<br />
vai vender. Se você usar uma luz artificial você já<br />
é considerado um profissional (risos). Mas em Berlim<br />
eles são mais realistas, eles têm muito trabalho<br />
e não podem ficar atrás de cada pequeno cultivador.<br />
E não existe paciente com permissão de cultivo,<br />
três pacientes atualmente estão na justiça contra o<br />
escritório que cuida de permissões medicinais, mas<br />
eles precisam de pelo menos três anos só para começar<br />
o processo e tentar uma conversa. Eles são<br />
presos como qualquer um.”<br />
Entre as ervas mais plantadas pelos alemães, não<br />
existem variedades ou cruzamentos específicos. “Há<br />
três anos existem alguns bons bancos de sementes<br />
espanhóis que trouxeram variedade, mas na prática<br />
as favoritas aqui são da Dinafem, Dutch Passion<br />
ou Paradise Seeds, que são as clássicas, da Holanda.<br />
Conhecemos esses caras há 20, 40 anos, eles são<br />
praticamente parte da Alemanha.”<br />
Apesar de estar inteirado no assunto, Geyer prefere<br />
ficar fora do cultivo. “Se a polícia vem na minha<br />
casa e acha algo, seria um grande assunto para a<br />
mídia dizendo que eu só quero meu próprio benefício.<br />
Eu não preciso ser uma árvore para salvar uma<br />
floresta, então porque eu preciso plantar para representar<br />
quem planta Eu fumo, eu gosto da planta,<br />
eu sei muito sobre a planta. E tudo o que eu sei<br />
sobre ela me deixa mais fascinado com a canábis, a<br />
maconha e suas possibilidades. Ninguém nunca me<br />
julgou menos ativista por não plantar.”<br />
Görlitzer Park e o projeto do primeiro<br />
coffeeshop de Berlim<br />
Se você está em Berlim e quer fumar um baseado, a<br />
primeira opção é o Görlitzer Park, que fica na região<br />
do Kreuzberg, antigo lado oriental da cidade. Ali,<br />
você é abordado por todos os tipos de traficantes<br />
enquanto desce as escadas do metrô, oferecendo<br />
pacotinhos de cinco gramas por 50 euros. A partir<br />
das 14h, os vendedores chegam no local e dividem<br />
tranquilamente o espaço com crianças e famílias de<br />
bicicleta, passeios de idosos e jovens aproveitando<br />
o fim de tarde. Em 2013, surgiu a especulação de que<br />
nasceria ali o primeiro coffeeshop de Berlim, projeto<br />
da subprefeita Monika Herrmann. Acompanhando<br />
os projetos dos partidos de perto, Steffen diz que<br />
esse tipo de manipulação midiática acontece com<br />
frequência, mas não traz resultado.<br />
“Na América do Sul, são muitas corrupções menores e<br />
na Alemanha são poucas corrupções em larga escala”<br />
65<br />
66
VIAJA<br />
“Foi um truque para conseguir mais votos. Eles criaram<br />
esse projeto de lei para atrair atenção e depois<br />
não tiveram como se livrar disso. Nós temos um<br />
governo que nem fala sobre o assunto. Então não<br />
teremos coffeshops no Kreuzberg enquanto o governo<br />
não conseguir conversar. Você pode imaginar<br />
que eles abririam dois ou três coffeshops no parque,<br />
mas existem pelo menos três milhões de usuários<br />
em Berlim. Se eles tentassem ir pelo menos uma ou<br />
duas vezes para ver se o preço vale o produto, não<br />
iria funcionar”, comenta Geyer.<br />
“Em 98, teve um grande movimento de legalização<br />
durante a eleição, pensamos: ‘os sociais democratas<br />
e os liberais querem, dessa vez vai rolar’. Eles<br />
fizeram pôsteres pró-legalização e depois de usar os<br />
votos da eleição, eles nem tocam no tema. As pessoas<br />
tentam fazer política uma vez em quarenta anos,<br />
mas uma vez eleitos, não ligam. Eles não querem<br />
que essa situação mude porque é fácil manipular<br />
ovelhas. Existe só uma diferença entre a corrupção<br />
da América Latina e da Europa, aqui é mais caro. Na<br />
América do Sul, são muitas corrupções menores e na<br />
Alemanha são poucas corrupções em larga escala”,<br />
opina. “Mas tá tudo bem, porque eles são velhos<br />
e eles vão morrer e vai surgir uma nova geração,<br />
mais liberal. A pressão está acontecendo de todos<br />
os lados, e isso deve resolver o problema em cinco<br />
ou sete anos”, complementa entre risos.<br />
“Queremos trazer a erva de volta ao mundo<br />
que ela já estava a centenas de anos atrás”<br />
67<br />
68
VIAJA<br />
VIAJA<br />
Barcelona é a nova Amsterdã<br />
Quando se pensa em Amsterdã, o que vem à cabeça<br />
são as imagens dos saborosos coffeeshops e as infinitas<br />
possibilidades das empresas de sementes. Mas<br />
ultimamente as coisas não andam tão otimistas. Steffen<br />
conta que “as coisas não estão sendo resolvidas<br />
em Amsterdã. Está muito pior do que nos últimos 10<br />
ou 20 anos, com muitas pressões de países próximos,<br />
como a própria Alemanha, que pediu para o governo<br />
evitar a venda para turistas. Os políticos estão tentando<br />
fechar os coffeeshops que já estão abertos”.<br />
Para ele, a solução está no sul do velho continente,<br />
no tempo agradável dos espanhóis. “Agora parece<br />
que a Espanha é a nova Amsterdã. Eles têm esse<br />
formato de canábis social clubes em Barcelona, sob<br />
responsabilidade dos donos de clubes, por exemplo.<br />
Mais e mais alemães desgostam do formato holandês<br />
de resolver e procuram possibilidades. Existe<br />
uma comunidade amigável na República Tcheca e<br />
na Áustria. Os holandeses têm que lutar e eles estão<br />
lutando. Existe esse grande movimento do 4e20<br />
Smoke Out, é uma demonstração, você tem pessoas<br />
políticas e de festa juntas. Não é legalizado ainda,<br />
o governo pode tirar os coffeeshops a qualquer momento.<br />
Seria como voltar aos anos 70.”<br />
“Se você consegue fazer crescer<br />
sua planta, faça algo pela<br />
legalização”<br />
O ativista acredita que a solução está na educação e<br />
politização dos usuários. “Nosso trabalho é educar as<br />
pessoas sobre o que é maconha. Se você perguntar<br />
aos alemães o que é canábis, eles responderão: droga.<br />
Então focamos nas propriedades naturais e medicinais<br />
da canábis para mostrar para as pessoas, especialmente<br />
aos mais jovens, o poder da planta. Não<br />
queremos só a legalização de produtos da canábis,<br />
mas da maconha como um todo, queremos trazê-la<br />
de volta ao mundo que ela já estava a centenas de<br />
anos atrás”.<br />
Com um time que realiza pesquisas diárias e acompanha<br />
estudos científicos sobre a planta, Steffen diz<br />
que o principal desafio é fazer as pessoas que consomem<br />
entenderem o que está acontecendo antes de<br />
ter um problema em escala pessoal. “Geralmente se<br />
a polícia te causou algum problema, agora você começa<br />
a ser um ‘legalizer’. Mas isso é errado, quando<br />
a polícia te pega você tem outros problemas além da<br />
legalização. Eu gostaria que as pessoas entendessem<br />
que você precisa se engajar no movimento mesmo<br />
se você ainda não teve um problema. Se você tem<br />
um traficante ou se você consegue fazer crescer sua<br />
planta, faça algo.”<br />
Hanf Museum:<br />
Os cinquenta metros quadrados do Hanf Museum abrigam<br />
toda a história da erva na Alemanha com desde réplicas de<br />
ferramentas das plantações de cânhamo a pôsteres do Bob<br />
Marley e Billie Holliday. Sustentado com doações, além de<br />
um espaço criado para divulgar e estudar a cultura canábica,<br />
recebe eventos de discussão e funciona como um espaço<br />
aberto para receber quem planta, quem fuma e quem quer<br />
entender o assunto. Por lá você também encontra a organização<br />
da Hanf Parade, a marcha da maconha de Berlim, e o<br />
QG do “Green Help”, aconselhamento jurídico gratuito para<br />
quem teve problemas com a polícia.<br />
69 70
VIAJA<br />
VIAJA<br />
Como fazer seu próprio protesto contra o governo<br />
Em 2012, Steffen à bordo de um carro verde<br />
cercado por placas com palavras de reflexão,<br />
viajou por todos os estados da Alemanha<br />
como um peregrino da legalização. Com microfone<br />
e argumentos como armas, ele tinha<br />
como objetivo conscientizar as pessoas do<br />
valor natural da planta e incentivar movimentos<br />
independentes por todo o país.<br />
“Eu fazia demonstrações em cada vila ou cidade<br />
que eu parava. Parava para mostrar que<br />
é possível organizar um movimento. Um rapaz<br />
me pediu para eu fazer uma marcha na<br />
cidade dele, mas ele não entendeu que ele<br />
pode começar algo, você pode começar algo.<br />
Eu faço isso em Berlim, não posso<br />
“Se você tem um traficante ou se você consegue fazer<br />
crescer sua planta, faça algo”.<br />
fazer em Dortmund, Hamburgo ou Munique.<br />
Você precisa começar a fazer isso sozinho.<br />
Mas a tour está começando a dar resultado,<br />
no ano passado tivemos mais participantes,<br />
cerca de seis mil, e agora temos 15 cidades<br />
participando da passeata e isso continua<br />
crescendo, esperamos 10 mil esse ano. É muito<br />
mais divertido ser um ‘legalizer’ do que ficar<br />
na frente do seu computador reclamando sobre<br />
a situação”, dispara.<br />
Se você se sentir motivado a apoiar qualquer<br />
movimento, Steffen dá a dica: “Se as pessoas<br />
querem festa, deem festa. Festas também<br />
podem ser políticas. Você pode fazer uma<br />
marcha, uma parada. Na primeira semana de<br />
maio é uma boa semana para você começar a<br />
organizar uma parada bem na frente da sua<br />
porta, acompanhando os movimentos pelo<br />
mundo. Comece pequeno e não tenha medo<br />
de não ficar maior. Não espere 100 mil pessoas,<br />
se divirta com 20 pessoas, melhor do que<br />
ficar deprimido porque ninguém veio.”<br />
71 72
INVESTIGA<br />
Por camarón<br />
Com mais perguntas do que respostas tentaremos explicar<br />
nesta matéria como começou a produção e distribuição<br />
de canábis no Brasil e como funciona até<br />
hoje. Além de denunciar a invasão da maconha prensada<br />
produzida no Paraguai que está substituindo o<br />
nosso soltinho no país inteiro pondo em risco a existência<br />
de variedades brasileiras ancestrais.<br />
Sabores da terra<br />
A teoria mais divulgada sobre a origem da canábis<br />
no Brasil diz que esta espécie chegou a estas<br />
terras trazida pelos escravos africanos e logo depois<br />
foi adotada no seu uso e cultivo pelos nativos<br />
daqui. Isto significa que a planta é cultivada<br />
no país pelo menos desde o século dezesseis, mas<br />
o jeito em que se espalhou pelo território ainda<br />
não está claro. Acredita-se que foi no nordeste<br />
brasileiro onde as primeiras sementes da erva<br />
tocaram este solo, e provavelmente tenha sido a<br />
semelhança entre o clima africano e o deste chão<br />
o que favoreceu o seu cultivo na área. Se bem a<br />
planta foi disseminada também pela região norte<br />
foi nos estados do nordeste onde seu uso e cultivo<br />
tornou-se mais comum e com o passar dos séculos<br />
as primeiras plantas foram se adaptando aos<br />
diferentes ambientes onde foram introduzidas<br />
originando novas variedades de maconha específicas<br />
deste território. Estas plantas acompanharam<br />
o processo de transformação da ex-colônia<br />
portuguesa em uma nova pátria onde os seus<br />
habitantes puderam durante muitas gerações<br />
aproveitar suas qualidades medicinais e espirituais<br />
até que nas primeiras décadas do século<br />
XX a erva foi proibida. A partir desse momento<br />
o uso foi coibido e o plantio punido com prisão.<br />
No começo não foi tão difícil resistir á lei e a erva<br />
continuou sendo plantada e consumida pela população<br />
numa quantidade cada vez maior. As<br />
landraces do sertão, da caatinga, da floresta e<br />
de todo o nordeste abasteciam quase todo o pais<br />
incluindo os maiores centros urbanos das regiões<br />
sul e sudeste.<br />
O começo do fim<br />
Foi durante a revolução cultural das décadas de<br />
sessenta e setenta do século passado que a situação<br />
mudou. Nessa época registraram-se os maiores<br />
índices de aumento no consumo de drogas<br />
em todo o mundo e o Brasil não foi a exceção.<br />
Usuários dá época contam que no começo aquilo<br />
o que fumavam era um delicioso bagulho solto<br />
trazido do norte que chegava até eles sem muita<br />
complicação. Já no meio da década de setenta<br />
a coisa não era tão assim. As falsas intenções de<br />
erradicar a planta manifestadas com controles e<br />
perseguição cada vez piores fizeram que aqueles<br />
que queriam dominar o tráfico nas cidades mais<br />
populosas procurassem um novo polo de produção.<br />
Agora a maconha que chegava aos maiores<br />
centros urbanos do país vinha do Paraguai e não<br />
73<br />
Antes da canábis ser Sativa, ou seja cultivada, era uma planta silvestre como todas as que<br />
hoje consumimos, como também o foram o tomate e o tabaco por exemplo. Até que,<br />
há milhares de anos atrás, em algum lugar da Ásia as primeiras populações de humanos<br />
migratórios se toparam com estes maravilhosos seres. Foi assim que no período Neolítico<br />
com o surgimento da agricultura a maconha foi uma das primeiras espécies vegetais em serem<br />
domesticadas. Desta maneira durante séculos a planta se espalhou pelo mundo inteiro levada<br />
pelos Homo Sapiens que se espalhavam á procura de novos horizontes. Cada vez que a erva era<br />
introduzida num novo ambiente devia se adaptar e gerar novas caraterísticas que fossem mais<br />
favoráveis á vida na nova paisagem. Com o passar dás gerações diferentes tipos de maconha<br />
surgiram nos diversos locais onde foi cultivada por variados grupos étnicos, dando lugar ao que<br />
chamamos hoje de landraces. Assim são chamadas as variedades que ainda hoje se encontram<br />
em todo mundo e por pertencerem a regiões específicas possuem características próprias.<br />
74
INVESTIGA<br />
era a mesma coisa. Para poder transportar maiores<br />
quantidades ocupando menor volume a erva<br />
começou a ser prensada e a qualidade decresceu<br />
enormemente. Assim surgiram o tráfico internacional<br />
e o crime organizado. Cada vez era mais<br />
difícil achar canábis nacional no sul, centro e sudeste<br />
até que no começo da década de oitenta<br />
virou quase impossível. Durante todos esses anos<br />
e os anos noventa as facções criminosas em cumplicidade<br />
com os governos cresceram enormemente<br />
gerando um terrível estado de violência.<br />
Agora o tráfico gerava muitíssimo dinheiro e não<br />
deixava lugar para outras maconhas difíceis de<br />
transportar. Aparentemente pelos mesmos motivos<br />
as variedades originais brasileiras continuaram<br />
a ser plantadas no norte e nordeste onde<br />
naquela época o prensado era uma raridade<br />
mantendo-se assim a genética das plantas que<br />
cresceram e se desenvolveram nestas terras para<br />
trazer alegria ao seu povo. A região mais pobre<br />
do país não era lucrativa para os grandes chefes<br />
do crime e o tráfico por ali era coisa mais leve.<br />
Quem fosse pegar a erva na rua ou favela de<br />
qualquer capital nordestina dificilmente acharia<br />
um bandido (pelo menos os que faziam a entrega)<br />
armado como acontecia nas principais capitais<br />
do país.<br />
Segundo Round<br />
Até o começo da década de dois mil em algum<br />
lugar entre as cidades de Porto Seguro e Salvador<br />
existiu uma fronteira imaginaria que com meus<br />
amigos gostávamos de chamar de fronteira norte<br />
ou fronteira fantasma. Era um lugar onde o prensado<br />
deixava de ser o protagonista e começava<br />
o território do bom fumo solto. Neste paraíso a<br />
porcaria vinda das terras do Paraguai era considerada<br />
uma coisa esquisita e até existiam malucos<br />
que achavam que era melhor e a tratavam<br />
como uma iguaria. No ano de dois mil e três morando<br />
em Buenos Aires (Argentina) fui passar seis<br />
meses na capital da Bahia. Naquela época o cultivo<br />
caseiro era pouco difundido no país do Maradona<br />
e tendo fumado escassas vezes as flores<br />
que alguns poucos amigos argentinos colhiam<br />
estava acostumado a consumir prensado. Não<br />
posso explicar o que senti na primeira vez que<br />
tive em minhas mãos um bagulho de maconha<br />
soteropolitana. Não podia acreditar que lá fosse<br />
comum fumar o que era um luxo na cidade onde<br />
eu residia. Isto, sem dúvidas, foi um dos acontecimentos<br />
que mais me incentivou á começar a<br />
cultivar, de fato foi lá que por primeira vez na<br />
vida germinei sementes de canábis sativa, foram<br />
duas mudinhas que ficaram na casa de um amigo<br />
de quem infelizmente perdi o contato.<br />
Dez anos depois tudo mudou tragicamente. Colaboradores<br />
de Salvador tem asseverado que hoje<br />
em dia acontece o contrário do que naquela época.<br />
Se bem ainda podem-se arranjar camarões da<br />
área de boa qualidade é cada vez mais difícil e o<br />
prensado está espalhado por toda a cidade. Junto<br />
com outros colaboradores temos constatado<br />
que a mesma coisa acontece em toda a região,<br />
até na Amazônia local onde a erva é cultivada<br />
pelos índios á muito tempo hoje em dia e dificílimo<br />
achar maconha cultivada no Brasil. Parece<br />
que com exceção do estado de Pernambuco (tal<br />
vez o maior produtor do país) e algumas áreas<br />
da Paraíba e Alagoas é cada vez mais complicado<br />
achar um bom beque nativo. Mas o que aconteceu<br />
Como é que ficou mais lucrativo trazer maconha<br />
de pior qualidade que vem de tão longe<br />
havendo tantas plantações tão perto Tal vez<br />
uma resposta seja que, ao contrario do que a mídia<br />
tenta demostrar a produção de uma maconha<br />
não tem relação com a da outra. Ou seja, que as<br />
gigantescas plantações do Paraguai pertencem a<br />
outros grupos criminosos diferentes e mais poderosos<br />
que os do Nordeste, e que estão se apropriando<br />
do mercado e se expandindo com o seu<br />
produto. Mas como se explica que nos jornais e<br />
noticiários da televisão e da radio de todos os estados<br />
do Nordeste sempre se mostram enormes<br />
apreensões de Maconha Observando as matérias<br />
disponíveis sobre o assunto surgem mais dúvidas<br />
ainda: Porque sempre se fala de milhares<br />
de pés de maconha e as imagens aéreas e feitas<br />
desde a terra (na maioria dos casos pertencentes<br />
á polícia) mostram plantações nas quais somente<br />
podemos observar umas poucas centenas<br />
de plantas. Sem duvidar do fim comercial destes<br />
cultivos podemos ver que o mesmo acontece com<br />
o peso das apreensões, sempre se fala de varias<br />
toneladas da “Droga” e se vem poucos sacões<br />
nos quais se sabe que cabe muita erva que pesa<br />
muito pouco. Seria interessante estabelecer a<br />
porcentagem de maconha confiscada em relação<br />
á produzida de cada tipo para poder saber se na<br />
“tentativa de erradicar” as roças do país não estão<br />
se ¨esquecendo¨ (tal vez, intencionalmente)<br />
de apreender o prensado que vem do Paraguai.<br />
Segundo o departamento de comunicações da<br />
Polícia Federal de dois mil e oito até agora já foi<br />
reduzido em um quarenta por cento o volume do<br />
replantio na região, só no ano de dois mil e onze<br />
mais de quinhentas lavouras ilegais foram destruídas<br />
e em dois mil e dez cerca de dois milhões<br />
de pés e mudas da planta tiveram a mesma sina.<br />
Será que essas plantações são tão grandes assim<br />
O centro geográfico desta questão é uma área<br />
do estado de Pernambuco conhecida como o polígono<br />
da maconha. Até faz pouco tempo atrás<br />
as cidades de Salgueiro, Floresta, Belém de São<br />
Francisco, Cabrobó, Orocó, Santa Maria da Boa<br />
Vista e Petrolina,(entre outras), além de Juazeiro,<br />
Curaçá, Glória e Paulo Afonso ao norte da Bahia<br />
formavam parte deste distrito de produção que<br />
abastecia os estados de Bahia, Sergipe, Alagoas,<br />
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará,<br />
Piauí, e parte de Maranhão. Nos últimos anos<br />
produtores dessas cidades tem se deslocado para<br />
os estados de Piauí, Maranhão e Pará fugindo da<br />
perseguição dá polícia numa tentativa de manter<br />
suas plantações. O mais alarmante do caso é que<br />
se nada for feito os brasileiros que não tenham<br />
acesso ao cultivo caseiro só poderão fumar prensado<br />
que além de ser nocivo á saúde é produto do<br />
tráfico internacional e vem do crime organizado.<br />
Desse jeito maravilhosas plantas que estão a crescer<br />
nesta terra mesmo antes de se chamar Brasil<br />
sumirão sem que sejam avaliados seu potencial<br />
medicinal e outros tipos de aproveitamento.<br />
Salvem a Diamba<br />
Para entender melhor a importância das landraces<br />
é necessário saber que foi graças á elas que<br />
surgiram as variedades que pacientes e usuários<br />
recreativos vem utilizando á algumas décadas.<br />
Nas suas viagens pelo mundo os primeiros criadores<br />
foram coletando sementes das plantas que<br />
iam experimentando e que logo cruzavam para<br />
gerar novas variedades que cumprissem com ás<br />
exigências dos climas de seus lares. Dessas cruzas<br />
surgiram os primeiros híbridos que hoje são mais<br />
conhecidos do que seus pais. Foi assim que no<br />
75<br />
76
INVESTIGA<br />
ano de 1987 sem suspeitar do que aconteceria<br />
o famoso Breeder Ingemar decidiu<br />
cruzar uma bela planta fêmea trazida da<br />
Índia com um belo macho brasileiro e assim<br />
surgiu a famosíssima White Widow,<br />
batizada assim pelas siglas do verdadeiro<br />
nome do jardineiro: William Wonders.<br />
Hoje em dia ainda há dúvidas sobre o tipo<br />
de maconha ao que este célebre macho<br />
pertencia e ter acesso á essa informação<br />
é quase tão difícil como fumar em baixo<br />
da agua. O que sabemos com certeza é<br />
que alguns outros cultivadores e criadores<br />
têm conservado varias plantas brasileiras<br />
ao longo dás décadas e que a possibilidade<br />
de construir uma coleção de variedades<br />
landraces do Brasil ainda é possível.<br />
Quem sabe quantos tipos diferentes de<br />
plantas existiram e existem ainda Onde<br />
estão sendo cultivados Um estudo sobre<br />
as origens no Paraguai ajudaria a estabelecer<br />
se essas sementes foram levadas do<br />
nordeste do Brasil ou se seriam landraces<br />
originais desse país e além disso se ouve<br />
ou não hibridação entre elas. Incentivando<br />
investigações na área de genética e etnografia<br />
poderemos responder varias das<br />
perguntas que foram feitas neste texto e<br />
colaborar com a preservação destes seres<br />
mágicos. Evite entrar em contato com<br />
o prensado paraguaio e se tiver acesso a<br />
alguma das landraces brasileiras (manga<br />
rosa, cabeça de negro, rabo de macaco,<br />
etc...) tente colecionar e manter pura a<br />
variedade. Essas sementes foram testemunha<br />
da história de um povo e guardam<br />
dentro de si mistérios que ainda esperam<br />
por ser revelados. Nosso dever é guarda-<br />
-las até o dia em que a maconha volte a<br />
crescer livre por todo o país. Esperamos<br />
que seja logo. Até a próxima!<br />
FLASH<br />
BACK<br />
SWEET SEEDS<br />
77<br />
78
ATIVA<br />
Por Fabio Cerra<br />
N<br />
o<br />
último dia 26 de abril a Marcha<br />
da Maconha de São Paulo<br />
foi um sucesso absoluto arrastando<br />
para as ruas aproximadamente<br />
15 mil marchadores. Momentos que<br />
com certeza se tornarão história<br />
capturados no olhar atento de Natasha<br />
Montier* que sempre carrega<br />
de muita sensibilidade seus registros<br />
fotográficos. No exercício de<br />
sua documentação, toda a dimensão<br />
expressiva da fotografia vem<br />
79<br />
80
FICHA<br />
envolvida de muito significado para<br />
encher nossos olhos de cores a emoção<br />
e nossos corações de esperança<br />
em um “por vir” mais justo e feliz pra<br />
todos. Aproveite essa grande festa da<br />
democracia paulistana!<br />
*Natasha é enviada do Hempadão que gentilmente<br />
cedeu sua galeria para esta edição da<br />
HAZE Brasil.<br />
81<br />
82
ATIVA<br />
FICHA<br />
83<br />
84