08.01.2015 Views

AJIN em ação para evitar transtornos na temporada - Ajin.org.br

AJIN em ação para evitar transtornos na temporada - Ajin.org.br

AJIN em ação para evitar transtornos na temporada - Ajin.org.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

12 Folha de Jurerê<<strong>br</strong> />

ARTIGO<<strong>br</strong> />

Ponto de vista do qual compartilhamos<<strong>br</strong> />

Será que o baixo crescimento da economia não seria o resultado do excesso de barulho<<strong>br</strong> />

Transcrev<strong>em</strong>os aos leitores um texto do economista Cláudio de Moura Castro, editado <strong>na</strong><<strong>br</strong> />

Revista Veja <strong>em</strong> 1º de fevereiro de 2006, so<strong>br</strong>e o probl<strong>em</strong>a da poluição sonora <strong>em</strong> nosso país.<<strong>br</strong> />

No País dos Decibéis<<strong>br</strong> />

“Ao fazer as malas <strong>para</strong> o Brasil, após<<strong>br</strong> />

quinze anos <strong>na</strong> Suíça e nos Estados Unidos,<<strong>br</strong> />

assaltava-me o t<strong>em</strong>or de um choque<<strong>br</strong> />

cultural. Como a Batalha de Itararé,<<strong>br</strong> />

o choque não ocorreu, foi ajustamento<<strong>br</strong> />

instantâneo. Mas houve uma<<strong>br</strong> />

exceção: o choque dos decibéis.<<strong>br</strong> />

Eu vinha de uma Suíça onde <strong>em</strong><<strong>br</strong> />

muitos edifícios é proibido tomar banho<<strong>br</strong> />

e puxar a descarga<<strong>br</strong> />

após as 10 horas da noite.<<strong>br</strong> />

Os ônibus são silenciosos,<<strong>br</strong> />

e aviões barulhentos não<<strong>br</strong> />

pousam lá. Os cachorros<<strong>br</strong> />

não lat<strong>em</strong>, e as crianças<<strong>br</strong> />

não berram. É proibido cortar<<strong>br</strong> />

grama aos domingos, por<<strong>br</strong> />

causa do barulho das máqui<strong>na</strong>s.<<strong>br</strong> />

Lá eclodiu um célere processo<<strong>br</strong> />

judicial contra o cincerros das vaquinhas<<strong>br</strong> />

que incomodavam um vizinho.<<strong>br</strong> />

Fiquei mal acostumado, adquiri hábitos<<strong>br</strong> />

alie<strong>na</strong>dos.<<strong>br</strong> />

Aqui estou, depositado no país dos<<strong>br</strong> />

decibéis. Ônibus e caminhões urram<<strong>br</strong> />

dentro da lei dos 88 decibéis máximos,<<strong>br</strong> />

quando <strong>na</strong> Europa a norma é 74<<strong>br</strong> />

(sendo a escala de decibéis logarítmica,<<strong>br</strong> />

o volume de sons é muito maior!).<<strong>br</strong> />

Muitos urram fora da lei. Uivam<<strong>br</strong> />

motos s<strong>em</strong> silenciosos. Os pneus cantam<<strong>br</strong> />

<strong>na</strong>s curvas. A cachorrada da vizinhança<<strong>br</strong> />

t<strong>em</strong> cordas vocais de açomolibdênio.<<strong>br</strong> />

As igrejas e os cultos confund<strong>em</strong><<strong>br</strong> />

decibéis com fé.<<strong>br</strong> />

A o<strong>br</strong>a-prima da agressão sonora<<strong>br</strong> />

são uns automóveis cujos porta-malas<<strong>br</strong> />

se a<strong>br</strong><strong>em</strong> revelando uma bateria de<<strong>br</strong> />

alto-falantes, terrível usi<strong>na</strong> de decibéis.<<strong>br</strong> />

Felizmente, algumas cidades turísticas<<strong>br</strong> />

“Manifesto minha<<strong>br</strong> />

revolta auditiva<<strong>br</strong> />

contra um povo<<strong>br</strong> />

que confunde<<strong>br</strong> />

alegria com<<strong>br</strong> />

barulho”<<strong>br</strong> />

estão comprando decibelímetros, <strong>para</strong><<strong>br</strong> />

não perder clientes antiquados como eu.<<strong>br</strong> />

As salas de aula não têm tratamento<<strong>br</strong> />

acústico. Parece até que foram planejadas<<strong>br</strong> />

<strong>para</strong> maximizar a refletância<<strong>br</strong> />

ambiente (as piores são as dos Cieps).<<strong>br</strong> />

A norma da ABNT <strong>para</strong> salas de aula<<strong>br</strong> />

estipula um máximo de 40 a 50 decibéis,<<strong>br</strong> />

mas o nível de ruído atinge 75<<strong>br</strong> />

<strong>em</strong> casos comprovados. O<<strong>br</strong> />

ruído impede a atenção ou<<strong>br</strong> />

mesmo impede de ouvir o<<strong>br</strong> />

professor. Em quantos pontos<<strong>br</strong> />

faz cair o rendimento<<strong>br</strong> />

dos alunos <strong>br</strong>asileiros<<strong>br</strong> />

Nos restaurantes, a barulheira<<strong>br</strong> />

não está no cardápio,<<strong>br</strong> />

mas é parte do serviço. É<<strong>br</strong> />

como se o objetivo de manter uma conversação<<strong>br</strong> />

relaxada e inteligente fosse<<strong>br</strong> />

coisa subversiva, a ser impedida pelas<<strong>br</strong> />

múltiplas ressonâncias – amplificadas<<strong>br</strong> />

pelas superfícies lisas e <strong>para</strong>lelas. Um<<strong>br</strong> />

proprietário experiente disse que restaurante<<strong>br</strong> />

silencioso espanta clientes.<<strong>br</strong> />

Parece que o choque de gerações se<<strong>br</strong> />

concentra nos decibéis. Na música, são o<<strong>br</strong> />

sonho de consumo, indo muito além dos<<strong>br</strong> />

níveis máximos das normas de saúde ocupacio<strong>na</strong>l.<<strong>br</strong> />

E, diante dos que reclamam, a<<strong>br</strong> />

polícia candidamente confessa não saber<<strong>br</strong> />

b<strong>em</strong> o que fazer e n<strong>em</strong> qual unidade<<strong>br</strong> />

cuida do assunto. Ou, então, vai inspecio<strong>na</strong>r<<strong>br</strong> />

no dia seguinte ao da festa.<<strong>br</strong> />

O que menos me incomoda é a música<<strong>br</strong> />

das boates, apesar de ensurdecedora.<<strong>br</strong> />

É que, após uma experiência traumatizante,<<strong>br</strong> />

aprendi minha lição. Não entro<<strong>br</strong> />

nelas <strong>em</strong> hipótese alguma. Se lá dentro<<strong>br</strong> />

estivesse, de bom grado pagaria <strong>para</strong> sair.<<strong>br</strong> />

Segundo os padrões da Organização<<strong>br</strong> />

Mundial da Saúde (OMS), 65 decibéis<<strong>br</strong> />

marcam o limiar do que faz mal<<strong>br</strong> />

à saúde - dependendo do t<strong>em</strong>po de<<strong>br</strong> />

exposição. Verificou-se que ruído excessivo<<strong>br</strong> />

aumenta a adre<strong>na</strong>li<strong>na</strong>, provocando<<strong>br</strong> />

a alta pressão, stress, insônia e<<strong>br</strong> />

(<strong>em</strong> Berlim) aumenta <strong>em</strong> 20% a probabilidade<<strong>br</strong> />

de infarto.<<strong>br</strong> />

Nos Estados unidos, 10 milhões<<strong>br</strong> />

de pessoas perderam a audição (ou<<strong>br</strong> />

parte dela) por excesso de ruído – e<<strong>br</strong> />

parece que os números aumentam.<<strong>br</strong> />

Lá, o seguro-saúde é mais caro <strong>para</strong><<strong>br</strong> />

qu<strong>em</strong> trabalha <strong>em</strong> lugares barulhentos.<<strong>br</strong> />

Entre nós, quantos milhões conviv<strong>em</strong><<strong>br</strong> />

com muito mais decibéis que<<strong>br</strong> />

a lei permite <strong>em</strong> fá<strong>br</strong>icas Uma banda<<strong>br</strong> />

de rock <strong>em</strong>ite tantos malditos<<strong>br</strong> />

decibéis quanto uma turbi<strong>na</strong> de avião<<strong>br</strong> />

(130 decibéis).<<strong>br</strong> />

O ruído <strong>na</strong>s ruas, <strong>na</strong>s escolas e nos<<strong>br</strong> />

hospitais costuma estar acima do máximo<<strong>br</strong> />

da OMS. Será possível aprender<<strong>br</strong> />

<strong>em</strong> salas de aula tão ruidosas Por que<<strong>br</strong> />

ignorar os males que faz à saúde Será<<strong>br</strong> />

que o baixo crescimento da economia<<strong>br</strong> />

não seria o resultado do excesso de<<strong>br</strong> />

barulho A sociedade não estaria sendo<<strong>br</strong> />

anestesiada ou hipnotizada por uma<<strong>br</strong> />

forma sinistra de conspiração sonora<<strong>br</strong> />

Manifesto a minha revolta auditiva<<strong>br</strong> />

contra um povo que confunde alegria<<strong>br</strong> />

com barulho. Parece que a música<<strong>br</strong> />

alta libera hormônios, dando um<<strong>br</strong> />

“barato”. Que seja. Mas o prazer de<<strong>br</strong> />

uns poucos não pode ser à custa do<<strong>br</strong> />

incômodo de outros. O som que me<<strong>br</strong> />

incomoda invadiu ilegalmente. T<strong>em</strong>os<<strong>br</strong> />

direito ao silêncio.”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!