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Prometeu Candeeiro - História - imagem e narrativas

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História, <strong>imagem</strong> e <strong>narrativas</strong><br />

N o 12, abril/2011 - ISSN 1808-9895 - http://www.historia<strong>imagem</strong>.com.br<br />

Considerações a cerca da tragédia de Ésquilo- <strong>Prometeu</strong> <strong>Candeeiro</strong>: A<br />

tragédia, entre o mito e a filosofia, como antecipação da crítica a religião 1<br />

Patrícia Marciano de Assis<br />

Aluna do curso de Graduação da Universidade Estadual do Ceará - UECE<br />

patricia_pma@hotmail.com<br />

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a tragédia ática enquanto fonte histórica, além de situá-la entre<br />

o mito e a filosofia, pois compreendemos que a filosofia pensada posteriormente fez largo uso do horizonte<br />

contextual da pólis, ainda que para fundamentações críticas. Logo, a filosofia se utilizou do horizonte da<br />

tragédia, do mesmo modo como esta se utilizou do horizonte do mito. Para tanto, opta-se por uma análise da<br />

tragédia de Ésquilo, <strong>Prometeu</strong>, como antecipação da crítica à religião. Logo, nossa proposta é destacar a tragédia<br />

enquanto precursora do posterior ateísmo verificado em filósofos por volta do século V, como principal exemplo<br />

da permanência.<br />

Palavras-chave: Tragédia, filosofia, mito, religião, <strong>Prometeu</strong><br />

1 Esse artigo foi feito sob orientação do professor da cadeira de antiga II da Universidade Estadual do Ceará MS.<br />

Tito Barros Leal. (titobarrosleal@hotmail.com)<br />

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N o 12, abril/2011 - ISSN 1808-9895 - http://www.historia<strong>imagem</strong>.com.br<br />

Introdução<br />

A despeito das especulações apontadas por Jaa torrano quanto à autoria da obra e<br />

quanto à tradução mais adequada para seu título 2 , ficamos com este autor no que concerne a<br />

tais temas. Assim, analisaremos a obra de Ésquilo: <strong>Prometeu</strong> Cadeeiro, numa perspectiva<br />

histórica, como precursora ideológica da crítica aos deuses, onde a tragédia 3 emerge como<br />

fonte imprescindível para a compreensão do período de transição 4 entre o Arcaico e o<br />

Clássico que marcou profundamente a Paidéia 5 do homem grego 6 .<br />

Nesta perspectiva deparamos com várias dificuldades, que vão além da diferença das<br />

idéias e recursos utilizados pelos gregos em relação ao pensamento e prática atual. Conforme<br />

constatou Renan Figueiredo Menezes 7 , a análise de uma tragédia está aquém de um aspecto<br />

propriamente estrutural, mas perpassa todo um conjunto de fatores concernentes ao aspecto<br />

histórico, a saber: a imparcialidade e objetividade do relato, os fatores econômicos, sociais e<br />

valores morais do autor, nos quais tais amarras permanecem indissociáveis nas <strong>narrativas</strong> dos<br />

artistas e de quaisquer outros que os visem estudar.<br />

Assim, podemos depreender, na obra analisada, várias temáticas, tais como política,<br />

sociedade, religião (entre outras) e inclusive uma antecipação da crítica aos deuses que levará<br />

a cabo a emergência de uma filosofia ateísta. Pois, de um modo geral, a tragédia emerge,<br />

nesse contexto, como uma precursora da filosofia grega, dentro de uma moral religiosa e de<br />

uma ética 8 , cujo entrechoque propicia a abertura necessária para a fundamentação posterior do<br />

ateísmo.<br />

2 Análise a partir da obra traduzida por Jaa Torrano, 2009.<br />

3 Seguindo o exemplo de Lesky, concordamos com Aristóteles quanto a definição de tragédia “Tragédia é a<br />

imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; num estilo tornado agradável pelo emprego<br />

separado de cada uma de suas formas, segundo suas partes (...)” (Lesky, 2006)<br />

4 Tito Barros sugere o século V a.c como um período de transição entre o período Arcaico e Clássico,<br />

caracterizado pelo conflito ideológico que marcou a emergência de uma nova psicologia social. ( Leal, 2004)<br />

5 Paidéia insuficientemente traduzida por “cultura”. (Jaeger, 2001)<br />

6 Segundo Carmen in: Poesia y filosofía em la poética de Aristóteles. “La paidea trágica fue posible gracias a<br />

que el drama y sus receptores pertenecían a um mundo concreto, el mundo de La polis clássica, com su lenguaje,<br />

su tradición mítica y sus valores más o menos compartidos.”<br />

7 In: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes: Um caminhar do gênero trágico, 2007.<br />

8 Como mostra Tito Barros, essa proto-ética já está presente, mas visivelmente em Sófocles: “Ademais, um dos<br />

problemas principais circunscrito à Ética é o das escolhas — o escolher bem. Sófocles (e estende-se essa<br />

afirmação aos demais tragediógrafos) traz em suas obras uma reflexão concernente à escolha, ou seja, sobre a<br />

ação humana, escolha essa que é permeada por variantes e condicionantes sociais.” (Leal, 2004)(grifo meu).<br />

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Tragédia e mito<br />

Como Fonte Histórica<br />

Diante das dificuldades apontadas por Maria Helena 9 no estudo da cultura clássica o<br />

mito emerge como solução para preencher algumas lacunas, embora outras permaneçam.<br />

Utilizada nas diferentes formas de literatura, este aparece particularmente no gênero em<br />

estudo: a tragédia. Esta nasceu 10 dos cultos dionisíacos, a fim de saudar esse e outros deuses e<br />

provocar sentimentos no público, através da apresentação de um espetáculo mítico. Para isso<br />

o autor escolhe um mito, a fim de impor problemas sem soluções, uma vez que as <strong>narrativas</strong><br />

não encontram fim, como a estudada, que termina com o objetivo de gerar deliberações. Além<br />

do êxito proporcionado pelo mito, compreendendo todo o povo, ao determinar o perigo e a<br />

afirmação da existência humana, “traços essenciais da humanidade trágica”( LESKY, 2006),<br />

que já o eram dele.<br />

O mito, segundo alguns acreditam, surge da tentativa de explicar o que o homem não<br />

entende. Nessa tentativa o homem parte de um apriopri para um aposteriori que aos poucos<br />

vão encontrando explicações dita “cientificas” que se ratificam em leis e teorias, posteriores.<br />

Assim, o mito foi um questionamento, mas por ter sido elementar perguntou-se sobre temas<br />

“imediatos” que figuravam “visíveis” na natureza, daí sua primeira preocupação com a vida e<br />

relacioná-la a efeitos naturais e toda uma infinidade de associações que inicialmente foram<br />

religiosas. O que não significou, entretanto, que não tivesse havido algo de racional, assim é<br />

que:<br />

Na perspectiva de Aristóteles, reconhecer que há no mito um elemento de divina verdade é<br />

dizer que ele prefigura a filosofia. (...). O mito seria então uma espécie de esboço do<br />

discurso racional: através de suas fábulas, perceber-se-ia o primeiro balbucio do logos.<br />

(grifo meu) (VERNANT, 1999).<br />

Logo, o mito emerge com um esboço de um logos. Este que condiz com características<br />

de seu período, pois para existir, o mito sofreu um conjunto de influências de seu contexto.<br />

Além das modificações e (re)significações provenientes de seu uso e difusão, por outros,<br />

através da oralidade e da escrita. Como exemplo, temos a tragédia que ao fazer uso dele,<br />

9 Devido à complexidade do problema das fontes da Cultura Grega, propõe o exame da origem dos documentos<br />

a partir de duas vias consideradas por ela principais: a literária e a arqueológica, que estão de certo modo<br />

imbricadas. In: Estudos de cultura clássica, 1980.<br />

10 Sua origem é associada à existência da tirania como forma de governo. In: A Tragédia Grega. (Romilly, 2008).<br />

Além de ser apontada também como originada a partir do mito. (Lesky, 2006)<br />

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procurou, no seu próprio contexto, um público receptivo que o aceitasse, ao mesmo tempo em<br />

que o adequou ao gênero. Assim como, antes dela utilizar o mito, também participou dessa<br />

criação a priori que parte sempre de uma conjuntura da qual o indivíduo faz parte e que por<br />

isso denuncia o seu contexto, conseqüentemente expõe elementos da sociedade em questão:<br />

“O saber do homem não parte do zero, mas de um horizonte, ou seja, de um conjunto de<br />

conhecimentos implícitos que permanecem atemáticos nas diversas perguntas do homem. Toda<br />

ação humana se faz dentro de determinada perspectiva e é, exatamente, esta perspectiva, que<br />

constitui o que se chama o Horizonte do conhecimento e da ações humanas. Este horizonte, um<br />

a priori necessário, é em primeiro lugar, um horizonte contextual determinado, contudo<br />

enquanto contexto todo horizonte é uma Totalidade, uma totalidade parcial ou regional,<br />

porque, precisamente, determinada” (grifo no original) (OLIVEIRA, 1997).<br />

Trocando o todo pela parte, temos que a tragédia para existir enquanto drama, capaz<br />

de provocar interesse num público, utiliza-se de um horizonte próprio que mantém<br />

permanências do horizonte do mito. Deste modo, o horizonte da tragédia seria<br />

especificamente o choque de horizonte (entendido como conjunto de conhecimento) do<br />

período Arcaico e do Clássico. Pois,<br />

(...) as adaptações das peças variam de espírito e de inspiração segundo o momento ou a moda,<br />

também cada época e cada família de espírito é levada a privilegiar na própria noção de trágico<br />

um, ou outro, aspecto; e o reflexo das tendências contemporâneas aclara esta noção com uma,<br />

ou com outra, luminosidade. (ROMILLY, 2008).<br />

Assim, como as representações das tragédias ditas modernas, só são compreensíveis<br />

em seus respectivos contextos, as representações das tragédias gregas só são inteligíveis se<br />

levarmos em conta todo um conjunto de pensamentos e acontecimentos da pólis, resultado do<br />

entrechoque desse período, que, por sua vez, são denunciados na narrativa. Logo, esta emerge<br />

enquanto fonte histórica, ou seja, é um meio de apreender essa realidade. Assim, “a<br />

“tragédia”, dentro da cultura a que este fenômeno deve sua origem, pode ser compreendida<br />

como um fenômeno histórico bem concreto”. ( LESKY, 2006).<br />

A relação do mito na tragédia<br />

O mito tem em si o aspecto oral, mas posteriormente passa a ser escrito. Com essa<br />

escrita ganha um aspecto literário e com a tragédia ganha representação 11 , acompanhado com<br />

músicas e artes de representação corporal. Angariando, a partir daí, outra dimensão que<br />

ultrapassa a arte e abrangem vários outros setores, próprios da tragédia: religioso, social,<br />

11 A originalidade da tragédia “vinha do facto de o actor tornar pública uma emoção, uma explicação, um<br />

significado que não tinham sido veiculados antes dele” In: A tragédia Grega. (Romilly, 2008).<br />

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lingüístico, político, ensino, comunicação entre outros. Todos com certa organização dentro<br />

da estrutura deste gênero 12 .<br />

Dito de outro modo, as tragédias gregas tratam temas que afectam emoções essenciais no<br />

homem; e podem valer-se disso para tocar com mais segurança os espectadores ou leitores.<br />

Mas tratam-nos dentro de um certo espírito que não é o nosso. Podem extrair dos grandes<br />

temas míticos uma capacidade maior para comover; mas transpuseram-nos, modificaram-nos,<br />

elaboraram-nos em função de outros problemas (...). (ROMILLY, 2008).<br />

Assim, a tragédia tem algumas características específicas, como por exemplo, o<br />

objetivo de gerar uma Khartásis 13 , purificação, através da exposição da hýbris, desmedida,<br />

que leva o personagem principal, geralmente um herói, à hamartía, erro. Outras<br />

características mais gerais é o fato dela ter um teor universalista, que expõe ações humanas<br />

através do diálogo, deliberação, sobre o erro, harmatía e a hýbris, entre outros elementos<br />

próprios do pensamento grego encontrados em voga; além do uso de máscaras, prósopon 14 ,<br />

por conta dos personagens, numa alusão aos ritos originários (do culto a Dionísio).<br />

Ésquilo exemplifica bem isso em suas obras, embora fuja algumas outras “regras”.<br />

Ainda assim, optamos pela utilização desse autor e de sua obra: <strong>Prometeu</strong> <strong>Candeeiro</strong>. Onde<br />

através de ambos vemos notadamente aspectos que ratificam a utilização do mito, pela<br />

tragédia. “Para nós, mitologia e história são duas coisas nitidamente separadas, mas não o<br />

eram para os gregos daquele tempo em que o próprio mito significava história”. ( LESKY,<br />

2006).<br />

Assim, acreditamos que há uma dialética de ambos neste período, tragédia e mito, a<br />

partir do qual dá origem a filosofia, ainda que indiretamente. Inclusive serve como precursora<br />

da filosofia aqui proposta: a ateísta. Pois, a despeito dos pensamentos de que não há<br />

continuidade entre o mito e a filosofia; vemos claramente aquém: que o mito foi uma primeira<br />

forma de filosofar sobre a vida, tal qual constatou Aristóteles 15 . Porém a filosofia para ganhar<br />

ares de ciência impulsionou uma dessacralização do saber, sem, no entanto, retirar a<br />

contribuição pega inicialmente deste e das problematizações provenientes da tragédia, e<br />

“Somente com Ésquilo nos encontramos no resplendor da grande época da Ática na arte e na<br />

história”. ( LESKY, 2006).<br />

12 Sobre a discussão da tragédia enquanto gênero, ou da estrutura desse gênero ver Jacqueline de Romilly, 2008.<br />

13 In: ”Sobre a cartase na tragédia grega”: “a catarse, uma espécie de prazer próprio da tragédia, resultado da<br />

purgação do terror e da piedade suscitados por aquele espetáculo teatral. A avaliação positiva de uma tragédia<br />

depende exatamente de sua capacidade de levar à catarse.” (Bocayuva, 2008)<br />

14 Vide RAMOS, In: Teatro e o feminino na Atenas Clássica, 2001<br />

15 Veja citação de Vernant, in: Mito e Sociedade na Grécia Antiga, 1999, na página II.<br />

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Análise da tragédia 16<br />

O autor: Ésquilo 17<br />

Falar sobre a vida, ou o período em que Ésquilo, um dos mais importantes<br />

tragediógrafos (ao lado de Sófocles e Eurípedes), viveu não é fácil, devido a vários fatores,<br />

tais como: escassez e precariedade da documentação, a perda da maioria de suas obras,<br />

distância temporal, além da permanência de um imaginário mítico em torno do próprio autor,<br />

entre outros. Então o que nos propomos aqui é somente abordar algumas informações,<br />

necessárias para a compreensão de sua obra<br />

Nascido em Elêusis (525 a.c), filho do nobre proprietário de terras Euforion, faleceu<br />

na Sicília (456 a.c); é considerado atualmente autor de noventa dramas, dos quais somente<br />

sete foram integralmente conservados, os demais nos chegaram fragmentados 18 . Ele viu ainda<br />

garoto a passagem da tirania à República, que antes de fixar-se, deparou-se com várias<br />

tentativas de retomada do poder, conflitos sutilmente relatados em suas obras. Estes conflitos<br />

se deram até a organização de Clístenes, a partir da qual a Ática dividiu-se em dez phylal,<br />

rompendo com os laços de sangria da antiga organização; foi a partir desse organizador que os<br />

concursos trágicos tiveram a forma que nós conhecemos 19 .<br />

Influenciado pelo ambiente em que viveu até a instalação da democracia, onde o<br />

indivíduo seria apenas uma parte igualmente importante do outro, Ésquilo era homem quando<br />

o povo grego acreditou que a Ática estava sob proteção dos poderes dos deuses e acreditavam<br />

que:<br />

O que ameaçava a Grécia, no caso de uma submissão voluntária, não era uma cruel tirania,<br />

porque o regime persa em geral nunca exerceu contra os povos submetidos, nem era a<br />

destruição da vida econômica, já que precisamente esta não era das piores no grande império,<br />

mas tratava-se daquela liberdade que foi a única coisa que assegurou a vida espiritual dos<br />

gregos nas décadas seguintes. (ROMILLY, 2008).<br />

Parece ter começado a escrever tragédias com vinte e cinco anos, por volta de 500,<br />

porém sua primeira vitória teria ocorrido apenas em 484, entre as duas guerras médicas. Sua<br />

16 Utilizamos a obra de Ésquilo, Ca 525-456ª. A.c Tragédias / Ésquilo; Estudos e tradução Jaa Torrano – São<br />

Paulo: Illuminuras, 2009; assim usaremos apenas a referencia dos versos e página presente nessa obra<br />

17 De acordo com Jaeger, In: Paidéia: A formação do homem grego, 2001.<br />

18 Conforme dito anteriormente, aceitamos <strong>Prometeu</strong> como sendo de sua autoria. Então suas tragédias que<br />

permaneceram foram: Os Persas, As suplicantes, <strong>Prometeu</strong> Agrilhoado, Sete contra Tebas, Agamêmnon, As<br />

coéforas e As Euménides. Estas três últimas teriam feito parte da trilogia intitulada de A Oresteia, e os demais de<br />

outras trilogias perdidas, exceto a primeira, que não teria pertencido a nenhuma trilogia. (Romilly, 2008)<br />

19 Ésquilo aparece como inovador do gênero ao colocar atores onde só existia o coro. Ver: Romilly, 2008.<br />

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tragédia mais antiga, segundo alguns autores, foi representada em 472 intitulada de Os<br />

Persas. A carreira de Ésquilo teria se desenrolado entre 472 e 458, onde “Atenas ainda<br />

orgulhosa da sua glória recente e onde a evolução democrática começa a marcar-se pela<br />

conduta do jovem Péricles (...). (ROMILLY, 2008).<br />

Assim, no contexto de disputas em que viveu o autor (por esta época a Grécia cairia<br />

sob o domínio da Pérsia), participou em 490 da Batalha de Maratona 20 , entre outras 21 , que<br />

acabaram marcando-o consideravelmente. Ao longo da escrita de suas obras, viu-se acusado<br />

de denunciar aspectos secretos 22 , então em voga na religião, fato por ele remediado de acordo<br />

com sua inocência. Alguns apontam desde já um interesse pela religião, as leis, entre outros.<br />

De uma maneira geral:<br />

A tragédia esquiliana representará uma nova leitura do mito na nova concepção do mundo e<br />

do homem áticos, que a partir de Sólon se desenvolveram. Sólon vai demonstrar o valor da<br />

legislação para a formação do novo homem político, que como legislador encarnará a força<br />

educativa da lei. (RAMOS, 2001).<br />

Duas correntes atuaram no período: um inspirado na aristocracia, eunomia de Sólon:<br />

escalas de poderes de acordo com o mérito; e outra no espírito de democracia: isonomia como<br />

igualdade plena e total com relação à arché, poder – nas reformas de Clístenes. Ambas<br />

influenciaram o autor. Assim, além dessas influências em suas obras, encontramos<br />

referencias, em vários autores, sobre seu interesse pelos cultos dos mistérios das deusas<br />

Elêusis, a metáfora da liberdade humana, entre outros temas presente em suas obras. De fato,<br />

vemos imbricados em suas <strong>narrativas</strong> os deuses e os homens; quanto às demais informações<br />

sobre sua vida, nada mais temos a declarar, pois ela mesma tornou-se um mito 23 .<br />

Interpretações possíveis da tragédia: <strong>Prometeu</strong> Cadeeiro.<br />

Propormo-nos expor o viés de contradição do religioso presente na obra, para depois<br />

mostrar como tal fato serviu como precursor do ateísmo. Para tal, indicaremos alguns dos<br />

aspectos religiosos presentes na obra, porém temos que considerar inicialmente, que não há<br />

uma distinção exata entre estes, os temas políticos, cívicos e outros, como o vemos na<br />

20 Em sua lápide ele remete a essa batalha como fato de suma importância a ser lembrado pela posteridade:<br />

“Sobre o seu valor podemos acreditar no famoso recinto de Maratona: ele conheceu-o suficientemente”<br />

(Romilly, 2008).<br />

21 Ele teria tido participação no combate em Salamina em 480, já com quarenta e cinco anos.<br />

22 Há controvérsia, aqui como me boa parte do que concerne a sua vida, sobre a existência desse fato.<br />

23 E aqui concordamos com Jacqueline Romilly: “Ninguém, depois de Ésquilo, se coloca ao nível de<br />

Ésquilo”.(Romilly, 2008)<br />

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atualidade; logo não o diferenciaremos indistintamente aqui. Tudo isso pode parecer, de<br />

inicio, contraditório, mas veremos como o simples fato da introdução de deliberações acerca<br />

das ações humanas nessa, e noutras tragédias, abriu o espaço necessário para as posteriores<br />

fundamentações contra a crença nos deuses.<br />

O mito de <strong>Prometeu</strong> está narrado em duas das obras do poeta Hesíodo, Teogonia e Os<br />

trabalhos e os Dias, desde o inicio quando <strong>Prometeu</strong> e Zeus principiam o conflito, que faz<br />

este último ordenar a prisão de <strong>Prometeu</strong>, de onde começa a narrativa de Ésquilo, que é a<br />

única que utilizaremos aqui.<br />

O "<strong>Prometeu</strong> <strong>Candeeiro</strong>" é possivelmente o primeiro episódio de uma trilogia da<br />

mitologia grega, da qual as outras partes se perderam 24 . Propomos nesse tópico um resumo<br />

breve da obra para melhor compreensão das idéias aqui propostas. No entanto ver-se-á tal<br />

explanação insuficiente para compreender o que significa a tragédia enquanto encenação,<br />

drama do rito 25 , ausente nessa narrativa.<br />

Ela é composta por oito personagens, onde todos são imortais, (exceto Io): Poder,<br />

Violência, Hefestos, Oceaninas (Coro 26 ), Io, Oceano, Hermes e <strong>Prometeu</strong>. Este último, deus<br />

titã que sofre as conseqüências de sua ação, é o personagem principal e, portanto, portador do<br />

exemplo a ser seguido e pensado ao longo do texto diante da sua relação com os demais<br />

personagens.<br />

Na história as deliberações 27 feitas dizem respeito ao personagem principal que<br />

lamenta seu destino imposto por Zeus por conta do roubo do fogo sagrado. Além de não<br />

aceitar os desígnios desse deus, <strong>Prometeu</strong>, ainda o acusa de injustiça, ratificando tal idéia a<br />

cada diálogo que se segue com os demais personagens. Estes, por sua vez, aconselham-no a<br />

ser prudente. O que ele não concorda, pois diz ter feito muitos benefícios, inclusive para<br />

outros deuses, e possuir um segredo que tirará Zeus do trono, quando da sua libertação.<br />

Analisando a tragédia de <strong>Prometeu</strong>, vemos que o Zeus de Ésquilo representa<br />

perfeitamente o tirano de sua época e o herói Titã um conselheiro em favor do povo, portador,<br />

pois, do ideal de democracia, querendo no fundo salvar toda a humanidade da fúria de Zeus.<br />

Embora as tragédias possuam um fundo universalista, no sentido da abrangência de suas<br />

24 Além da existência e de sua autoria, ainda há discussões a cerca da ordem desta na suposta trilogia. Vide: A<br />

tragédia Grega. (Romilly, 2008)<br />

25 Vide Raquel Gazolla: Para não ler ingenuamente uma tragédia grega, 2003.<br />

26 Nessa tragédia o coro perdeu seu papel central, não sendo mais do que simpatizante, em relação às outras<br />

tragédias. Porém é “Graças à sua amplitude, este canto pode elevar-se até uma filosofia que dá sentido ao que se<br />

vai seguir (...) filosofia contribui largamente para a grandeza do teatro de Ésquilo” (Romilly, 2008).<br />

27 Lesky acredita que a contradição é característica do homem grego: “A tragédia nasceu do espírito grego e , por<br />

isso, a prestação de contas, o λογον διδοναι, é um dos seus elementos constitutivos.” (Lesky, 2006)<br />

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ações e ensinamentos 28 , podemos tomar particularmente a salvação como direcionada a<br />

sociedade emergente da pólis 29 , a partir da qual o povo é detentor do poder. A pólis<br />

compreende a cidade e seu território, assim a salvação seria para a população dessa nova<br />

organização do período clássico, em oposição ao governo característico do arcaico<br />

(democracia versus tirania).<br />

Vemos, ao longo da narrativa, que o orgulho de <strong>Prometeu</strong> vem das artes por ele<br />

concedidas, que se tornaram bastantes úteis, aos ditos mortais. Vendo-o como o mediador do<br />

povo, ele pode ser caracterizado pela busca do saber sobre novas bases, através da construção<br />

de uma nova areté (essência) social, que deixa de ser a do guerreiro para ser, paulatinamente,<br />

a do sábio. Assim, ele simbolizaria o eterno combate pela civilização e a cultura, ou vista de<br />

outra forma, a luta pela liberdade e o conhecimento.<br />

Além disso, observamos uma importância do fogo nos rituais micênicos, e posteriores;<br />

o que torna compreensível a fama desse personagem ao longo dos anos, como o antecipador<br />

de algo que viria a posteriori: a religião e os ritos. Ou se tomados como o fogo da sabedoria, o<br />

que ele nos traz é o fogo do conhecimento, que anteciparia outros fatores: a filosofia e as<br />

ciências. Pois, segundo Jacqueline Romilly:<br />

Esta confiança no homem, que ilumina, do interior, todas as tragédias, mesmo as mais<br />

sombrias, corresponde perfeitamente ao espírito grego do século V a.c (...) poderíamos<br />

acrescentar que este elogio do progresso e da civilização humana, que normalmente nada tinha<br />

que fazer numa tragédia, se encontra, de facto, na obra dos três tragediógrafos gregos: Ésquilo<br />

consagrou-lhe uma cena do <strong>Prometeu</strong>, (...) O século V tinha confiança no homem.<br />

(ROMILLY, 2008).<br />

Vemos na narrativa que por causa de seu saber, <strong>Prometeu</strong>, é designado de sofista (v<br />

944, 1011), o que remete a visão arcaica do sábio como destruidor da tradição. Isso porque a<br />

palavra sofista, a exemplo do que ocorreu após Platão, tinha um sentido pejorativo<br />

designando uma pseudo–sabedoria.<br />

O movimento sofista dominou por volta da segunda metade do século V, significando<br />

uma degeneração das tradições (incluindo a moral e a religião), estas se esforçavam por uma<br />

conquista de uma nova areté, através da deliberação. A partir dele há uma constatação de que<br />

28 Jacqueline Romilly acredita em uma transcendência dos interesses do momento, transpondo-o para os<br />

interesses humanos; seriam esses aspectos intemporais que dariam o verdadeiro alcance e a real interpretação do<br />

trágico: “É precisamente por isso que, quando escrevemos sobre a tragédia grega, somos obrigados a dedicarmonos<br />

aos desenvolvimentos sobre a filosofia dos autores ou a fala dos deuses e dos homens” (Romilly, 2008) E<br />

Lesky também afirma que “O efeito da grande arte trágica rege-se por outras leis e subtrai-se, em larga medida,<br />

do tempo” (Lesky, 2006)<br />

29 Pois ainda que ganhe esse caráter intemporal, não deixa de estar espacialmente e temporalmente determinado,<br />

e por tanto também sendo determinante.<br />

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tudo é incerto. Nómos (costume e lei) passa a compor a phýsis (filosofia natural do devir),<br />

sendo esta um componente do kosmos e aquela uma convenção humana e por isto mutável.<br />

Com esse afastamento do nómos, fundamental para a religião ela passa a ser ameaçada 30 .<br />

Então o personagem com sua suposta “pseudo-sabedoria”, já emergia como um prelúdio do<br />

aparecimento das indagações religiosas.<br />

Contexto da obra e suas contribuições contextuais<br />

Sobre o contexto de tal obra, observamos que o grego do sec. V, ainda tem o<br />

pensamento mítico, apesar da emergência na pólis de uma tentativa de um logos não-mítico.<br />

Essas reminiscências dizem respeito às permanências do arcaico, conforme visto acima na<br />

relação entre mito e tragédia.<br />

O mítico percorre principalmente o que concerne à religião, que é baseada no<br />

politeísmo, ou seja, acreditavam em vários deuses, cujo conjunto regulava o mundo, o<br />

kosmos, e de acordo com este suas relações seriam articuladas e especializadas. Compreender<br />

tal religião é entender tal crença, pois esta só ganha inteligibilidade dentro do sistema<br />

organizado de funções de cada deus.<br />

O problema de tal concepção são as trocas inerentes que vão se dando ao longo do<br />

tempo, o que, entretanto, não impossibilita, visto a grande quantidade de referencia nas obras<br />

que nos chegaram. Diante dessa especialização, há uma hierarquia de poderes entre tais<br />

deuses, donde emerge Zeus como o deus dos deuses (ou ”Pai”, como abaixo):<br />

Poder e violência, as ordens de Zeus<br />

vós cumpristes, e nada mais vos retém,<br />

mas eu não ouso prender, com Violência,<br />

congênere Deus a princípio tempestuoso.<br />

Mas isto é de toda necessidade que ouse,<br />

pois descuidar das palavras do Pai é grave.<br />

(V.12 -17. P. 361).<br />

Observamos nesta passagem, além da hierarquia existente entre Hefestos e <strong>Prometeu</strong><br />

(que ele tem por obrigação agrilhoar), há uma entre o Pai de todos os deuses, Zeus, e o<br />

personagem, do qual é impossível “descuidar”; o que representa o modo como a sociedade vê<br />

importante acatar as ordens dos deuses, principalmente daquele que é o superior. Outra forma<br />

aí mostrada é a atribuição de sentimentos humanos aos deuses (fala “tempestuoso” para<br />

30 Vide Burkert, Religião Grega da época Clássica e Arcaica (tradução de M. J. Simões Loureiro), 1993<br />

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designar o caráter de <strong>Prometeu</strong>), observada ao longo de toda a narrativa, conforme reclama<br />

nosso herói (um deus):<br />

Pheû pheû, a presente e a vindoura<br />

dor lamento! Como deve, afinal<br />

dar-se o termo destes tormentos<br />

Mas que digo Bem sei de antemão<br />

todo o futuro, nenhuma dor para mim<br />

imprevista virá. A parte cabida se deve<br />

suportar o mais bem, sabendo-se que<br />

a força da Necessidade é inelutável.<br />

(V.98-105. P.367).<br />

Um dos valores e crenças bastante presente na obra é o destino, Moira, comum nas<br />

obras que fazem com que os heróis aceitem os desígnios dos deuses, “a força da Necessidade<br />

é inelutável”, ou seja, não se pode escapar da Moira (<strong>Prometeu</strong> acredita poder fugir). Outro<br />

aspecto, presente nesse trecho é a representação da crença nos oráculos (previsão do futuro)<br />

bastante comum para os gregos.<br />

A partir do contexto de mudança na relação deus/homem, ocorridos na pólis, <strong>Prometeu</strong><br />

pode igualar-se a Zeus, falando suportar sua sorte até ele amainar a ira (v.375-76), ou analisar<br />

sua situação, para melhor compreender o ocorrido, expondo a idéia do pensamento do sábio e<br />

do futuro filósofo.<br />

Nem debochado nem obstinado vos pareça<br />

que me calo, e a cismar devoro o coração,<br />

ao me ver a mim mesmo assim ultrajado.<br />

Todavia, a esses novos Deuses, privilégio,<br />

quem mais senão eu de todo os definiu (grifo meu)<br />

(V. 436 - 440. P. 385).<br />

Esse trecho ilustra sua não aceitação de sua condição, mantendo-se “a cismar” com tal<br />

acontecimento. Suas deliberações revelam-se através do constante questionamento na obra de<br />

Zeus, isto precede os questionamentos do sagrado, que passa a ser questionável pelos sábios<br />

que vão debater inclusive seus segredos, apesar das resistências que surgem. Deliberações<br />

como esta dele (com o Coro):<br />

Venera, implora, adula ao rei da vez.<br />

Eu de Zeus cuido menos que de nada.<br />

Faça, domine, por este breve tempo,<br />

como queira. Não terão longo poder<br />

os Deuses (...) (V. 937 – 941, P. 413).<br />

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Desta passagem, percebemos que Zeus não tem o poder moral - característico do<br />

período, que submete tudo aos deuses - sobre <strong>Prometeu</strong>, que inclusive aguarda a perda de<br />

poder dos deuses, quando fala da pouca longevidade deste domínio. Afirma ainda:<br />

Hefestos: Pareces que debochas esta situação.<br />

<strong>Prometeu</strong>: Debocho Debocharem assim visse eu<br />

os meus inimigos e entre eles te incluo.<br />

Hefestos: Até a mim me acusas pelo infortúnio<br />

<strong>Prometeu</strong>: Falando simples, odeio a todos os Deuses<br />

que bem tratados afligem-me sem justiça.(grifo meu)<br />

(V. 971 - 976. P. 415).<br />

Assim, além das deliberações feitas, <strong>Prometeu</strong>, segue construindo uma visão de deus<br />

como passível de erro, assim como ratifica sua falta de medo e insubordinação a Zeus, devido<br />

à crença da falta de justiça por parte deste. Conforme fala abaixo:<br />

Bulhas em vão a falar-me como à onda.<br />

Entenda-se que eu nunca por temer<br />

ânimo de Zeus me tornarei feminino<br />

nem suplicarei ao detestado inimigo,<br />

imitando mulher, com mãos supinas,<br />

livrar-me destas cadeias. Longe disso!<br />

( V.1001 - 1006 P. 417).<br />

Isto por causa de seus feitos. Falando sobre eles ao longo dos diálogos, <strong>Prometeu</strong><br />

mostra os benefícios cedidos por ele que vão além do fogo, que figura antes como o ponto<br />

ápice da sua obra, principalmente pela forma como ele o consegue (furtando). Isso passa,<br />

ainda, uma visão do conflito entre o desejo aristocrático tradicional de exaltação do prestígio<br />

individual e o dever na pólis de submeter-se à philia, ao espírito de comunidade.<br />

Essa busca de resposta ás dúvidas, sucinta questões quanto ao lugar de Zeus. Tais<br />

questões resultam numa dúvida quanto o caráter benéfico dos deuses e acaba deixando a<br />

sensação de que o homem pode, através da sabedoria representada na tragédia pela<br />

deliberação e pelo diálogo entre personagens, remediar tal fim. Como <strong>Prometeu</strong> que parece<br />

guardar a resposta para o poder de Zeus:<br />

Coro: Quem é o timoneiro da necessidade<br />

<strong>Prometeu</strong>: Partes triformes e memores Erínies.<br />

Coro: Ora, Zeus pode menos do que elas<br />

<strong>Prometeu</strong>: Não escaparia à parte que lhe cabe.<br />

Coro: Que cabe a Zeus além de poder sempre<br />

<strong>Prometeu</strong>: Isso não ainda saberias, nem insistas. (grifo nosso)<br />

(V. 515 - 520. P. 389).<br />

Marcado com falas entrecortadas, cuja finalidade é provocar uma maior tensão, vemos<br />

a insinuação do herói, de novo, quanto à imprevisibilidade e possível finitude do poder de<br />

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Zeus. Embora essa certeza passada pelo herói fique sem soluções ao término desta obra, que<br />

termina com a idéia de que os atos dos heróis não são isentos pelo destino. Pois, a tragédia<br />

não possui um final 31 , o oposto das epopéias, mostrando que o homem já não está tão seguro<br />

de seu fim, como nos tempos Homéricos.<br />

Conforme podemos ver, a religião grega possui várias particularidades que podem ser<br />

depreendidas, não somente dessa, mas das várias tragédias existentes. Uma dessas<br />

singularidades para Burkert 32 é que a religião encontrava-se legitimada enquanto tradição,<br />

apresentando-se sob a forma dupla do ritual e do mito, assim não repousava exatamente na<br />

palavra, mas no ritual, sendo, pois, uma ordem de integração consciente num mundo dividido<br />

e limitado. De acordo com tal concepção, uma crítica direcionada ao mito ou ao rito estaria<br />

minando as bases de tal crença, assim vemos após as tragédias de Ésquilo, e posteriormente<br />

dos outros autores, uma crescente deliberação sobre tal tema. Fato que ganhou vulto nesse<br />

período dentro do choque advindo com o crescente intercâmbio, propiciado pelo aumento do<br />

comércio visto na passagem desse período para o Clássico, e caracterizado por uma laicização<br />

dos ritos, que ganham novas atribuições do estado, inclusive como um ensinamento de uma<br />

proto-ética.<br />

A filosofia presente em <strong>Prometeu</strong> <strong>Candeeiro</strong><br />

No estudo de outras tragédias do mesmo autor, Jacqueline Romilly traça-lhe algumas<br />

características, dentre as quais: “No mundo de Ésquilo, os deuses estão por todo o lado. E a<br />

justiça divina, também ela, está por todo o lado. Isto não quer dizer que se tratava de um<br />

mundo em ordem. É um mundo que aspira à ordem mas que se move no mistério e no medo”.<br />

(ROMILLY, 2008).<br />

A autora em seu trabalho, A tragédia grega, em que analisa os três relevantes<br />

tragediógrafos - além de tratar de aspectos desse gênero, afirma que “Tudo é um problema<br />

nesta tragédia. Por razões de pura forma, bem como de pensamento (...)”. (ROMILLY,<br />

2008). Isso devido ao caráter singular desta tragédia em relação com as demais, onde<br />

percebemos claramente que “ela é a única onde o princípio da justiça divina não é afirmado<br />

31 O que se observa em Ésquilo é que ele se serve de trilogias para compor toda sua narrativa, porém nós<br />

perdemos as outras duas que comporiam esta.<br />

32 In: Religião Grega da época Clássica e Arcaica, 1993.<br />

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– nem sequer confirmado”. (ROMILLY, 2008). Pelo contrário, “A tragédia de <strong>Prometeu</strong> mais<br />

não é do que um grande grito de dor, que soa como uma acusação”. (ROMILLY, 2008).<br />

Portanto, há uma percepção de uma inquietação nessa tragédia, que segundo a mesma<br />

autora está no estilo de Ésquilo “(...) inquietar-se, protestar se for preciso (...) não se<br />

contentar com um optimismo simplista, mas procurar, na desordem aparente do mundo, os<br />

traços de uma ordem.” Assim, é indubitável a existência de um questionamento, visível<br />

através do personagem principal.<br />

Em Ésquilo, Zeus ao ser nomeado como supremo e ainda ser questionado 33 , indica a<br />

abertura para o posterior ateísmo, entendido como a não crença em deuses. Logo usamos<br />

aqui, ateísmo não no sentido de que vinculava uma falta de moral religiosa capaz de submeter<br />

os homens às leis 34 , mas no sentido de que abriu espaço para que pudessem emergir<br />

questionamentos a ponto de serem negações da existência dos deuses. Pois afirmar essa<br />

inexistência moral é dizer que a pólis não existiu, pois segundo Burkert, o poder da pólis<br />

estava justamente no seu monopólio dos cultos. Ou significaria a afirmação de uma<br />

inexistência política, pois as leis foram possíveis por essa moralidade (ou pré-ética), visto que,<br />

a criação do político foi uma tentativa de vincular os homens às leis. Pois o medo de deus é<br />

um princípio de moralidade, e este só passa a ser realmente questionado devido o<br />

desenvolvimento da filosofia, quando a religião já está questionada no geral.<br />

Constata-se assim que, ao mesmo tempo em que toma a contramarcha da linguagem mítica em<br />

muitos aspectos, a filosofia grega a prolonga e transpõe para um outro plano, desembaraçandoa<br />

do que constituía seu elemento de pura ‘fábula’. A filosofia pode então aparecer como uma<br />

tentativa para formular, desmistificando-a, essa verdade que o mito já pressentia à sua maneira<br />

e que exprimia sob a forma de relatos alegóricos. (VERNANT, 1999).<br />

E esta filosofia emergiria de forma significativa posterior à tragédia, devido a sua<br />

relação dialética com o mito e com o cotidiano, ganhando ares de “ciência”. Do mesmo modo,<br />

podemos falar de uma filosofia de antecipação do ateísmo, ou seja, de uma negação dos<br />

deuses, originária da tragédia. Pois, se inicialmente o mito foi criado pelo homem na tentativa<br />

de explicar a natureza; a tragédia foi criada pelo poeta para compreender/criar a essência do<br />

(novo) homem, já à filosofia partiu de uma compreensão das temáticas desse poeta, sem se<br />

restringir a ele, para além da arte, buscando entender o porquê dessa essência. E a ciência<br />

33 Aqui me refiro apenas à tragédia de <strong>Prometeu</strong>, pois esta mesma autora tratou pouco desta tragédia, mas utilizo,<br />

ainda, suas proposições a cerca do assunto, que inclusive são de grande relevância pela abrangência do seu<br />

trabalho.<br />

34 Que vemos explícitas em várias das passagens que remetem a um possível ensinamento proveniente da<br />

religião.<br />

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parte de todas essas, a fim de angariar meios de descobrir o porquê, com o quê, quando, onde,<br />

como, e por quem, essas transformações ocorrem na natureza. O historiador servindo-se, e<br />

compondo-a, dessa ciência busca entender todos os fatores que fizeram e foram feitos pelo, e<br />

para, o homem – abrangendo aquilo que chamamos de dimensão temporal e espacial. Pois,<br />

segundo Manfredo Araújo:<br />

A história é a dimensão, que constitui, portanto, a concretude última do ser humano, onde ele<br />

se determina como homem e, portanto nada mais é do que a autogênese do homem. A história<br />

é o fazer-se do homem e por isto sua única epifania possível. Conhecer o homem, significa, por<br />

isto, captar este movimento incessante do seu fazer-se, que é, porque o homem é,<br />

essencialmente, presença pré-reflexiva da totalidade, um processo ilimitado de totalização.<br />

(OLIVEIRA, 1997).<br />

Deste modo, Vemos Ésquilo no tempo de Olímpia, em honra de Zeus, no contexto da<br />

liga Ática da época clássica, abrindo espaço, mediante uma crítica elementar através das<br />

<strong>narrativas</strong> trágicas, para a formulação teórica, posterior, de Protágoras 35 em seu livro Sobre os<br />

deuses: “Sobre os deuses não posso dizer nem que são nem que não são, nem tão-pouco como<br />

será a sua forma, pois são as coisas que impedem o conhecimento: a falta de clareza do<br />

assunto e a curta duração da vida humana”. (BURKERT, 1993).<br />

Assim como, um discípulo de Anaxágoras formulou, primeiramente, por volta de 440<br />

a.c, a antítese do justo e o injusto, entre outros 36 . Protágoras defendeu ainda o relativismo da<br />

verdade. Essa discussão abriu notadamente para críticas mais refinadas no período de 430 a<br />

400 que buscaram a partir do estado primitivo da espécie humana e do desenvolvimento da<br />

cultura a resposta para a existência/criação dos deuses 37 . Vemos inclusive o tema questionado<br />

em outras tragédias posteriores, que colocavam a religião como uma mentira, por exemplo, o<br />

drama de Eurípedes: Crítias. Além de outras idéias desse período e de períodos anteriores<br />

usados para fundamentar o ateísmo. Burkert acredita que:<br />

Com Protágoras, Pródico e Crítias surge o ateísmo teórico pelo menos como possibilidade, o<br />

qual, apesar de não ser exprimido directamente, tão – pouco pode ser ignorado ou eliminado. A<br />

descoberta do ateísmo pode ser considerada um dos acontecimentos mais importantes na<br />

história de religião. Certamente que se devem fazer distinções. O facto de a existência dos<br />

deuses poder ser posta em dúvida, está já implícito, no fundo, na exclamação devota da<br />

Odisséia: . O fato de certas pessoas agirem como se não existissem deuses em parte alguma, é<br />

afirmado nos Persas de Ésquilo, representados em 472. (grifo no original) (BURKERT, 1993).<br />

35 Protágoras, como sofista, exercia uma espécie de ensino superior, no qual os jovens bem nascidos de casas<br />

abastadas despontavam para exercer atividades de liderança na pólis. (citação in Burkert, 1993)<br />

36 Contrastes presentes inicialmente na tragédia e no espírito do homem da pólis.<br />

37 Ler Burkert, In: Religião Grega da época Clássica e Arcaica, 1993.<br />

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Deste modo, como afirmado acima, já havia alguns indícios de tais idéias nas<br />

epopéias, não que oponha o que foi dito, mas isso apenas confirma a nossa idéia, pois as<br />

idéias são continuidade/descontinuidade de pensamentos anteriores, pois “(...) a epopéia<br />

homérica não é mais do que um prelúdio à objetivação do trágico na obra de arte, ainda que<br />

seja um prelúdio muito importante (...)”. (LESKY, 2006).<br />

Assim, de Homero á esquilo vemos o emergir do mito, não mais para divertir o<br />

público através de suas alegorias, mas com vários propósitos que foram ganhando novas<br />

significações ao longo do tempo. De tal modo que já vemos, segundo esse autor, alguns<br />

indícios em epopéias como as de Homero, porém tais idéias só tornam-se digeríveis apenas no<br />

período posterior com a instituição da pólis.<br />

Deste modo, as tragédias foram o espaço que a pólis criou, antes da época dos sofistas,<br />

para deliberar sobre vários assuntos, inclusive a religião, fato que precedeu, dando elementos<br />

para as teorias sofistas, dentre elas as atéias da época posterior. Como o fato do poeta<br />

Diágoras de Melos, ter sido considerado o ateu mais proeminente do século V, por ter sido<br />

acusado, assim como Ésquilo anteriormente, de revelar os mistérios de Elêusis; fato que<br />

desencadeou a instituição de um decreto de perseguição que ocasionou uma série de<br />

julgamentos que ocorreram ao longo de 415. (BURKERT, 1993).<br />

Conclusão<br />

Ésquilo foi nesse sentido, de pioneiro na crítica aos deuses através dos dramas,<br />

precursor, de acordo com sua narração do mito de <strong>Prometeu</strong>, dos questionamentos da<br />

filosofia, que percorreu mais longo caminho alcançando uma crítica direta ao sagrado, a ponto<br />

de tais personagens (filósofos) serem rotulados de ateus. Porém temos que esclarecer,<br />

conforme ressalta Burkert, que em nenhum momento o grego se desvinculou totalmente do<br />

sagrado. Mas foi com a instituição da pólis que o homem sem deixar de ser totalmente<br />

“crente” passa a questionar os deuses, pois: “É bem antes da criação da teologia filosófica, a<br />

tragédia grega refletiu em termos os homens mortais poderiam conviver e dialogar com os<br />

Deuses imortais, de modo a contornar os impasses e impossibilidades desse convívio e a<br />

preservar-se deles.” (BURKERT, 1993).<br />

Como toda obra, <strong>Prometeu</strong> ganhou a cada período uma nova significação, ora<br />

confundido com Jesus que deu sua vida pela humanidade, ora com personagens modernos<br />

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como Frankenstein 38 ; assim vemos quão inesgotável são as interpretações. O homem através<br />

delas conseguiu tocar o divino ao fazer imortais os mitos que permearam seu imaginário. O<br />

que podemos afirmar é o papel para além da poesia desses autores, que não querendo fazê-lo,<br />

acabou revelando caracteres propriamente históricos para a posteridade e incitando novas<br />

discussões. Pois:<br />

Os poetas trágicos, e dentre eles principalmente Ésquilo, representavam o cotidiano da<br />

sociedade ateniense no cenário dos palcos no sentido de mostrar os conflitos, angústias e<br />

medos que a sociedade masculina ateniense vivia mergulhada sem uma consciência clara e<br />

responsável. (RAMOS, 2001).<br />

De acordo com o que vimos relacionados à continuidade/descontinuidade do<br />

pensamento mítico arcaico em contraste com o “novo” instituído pela pólis, podemos<br />

concluir, que a tragédia teve efeito pedagógico 39 imediato, através da Kátharsis, uma espécie<br />

de prazer próprio da tragédia; social, enquanto momento de sociabilidade e lazer 40 ; religioso<br />

tanto no conteúdo, quanto na purificação da Kátharsis; mítico, enquanto perpetuação do mito,<br />

obra e de autores; político, enquanto espaço deliberativo e de formulação de leis 41 ; e<br />

principalmente histórico, uma vez que abordou o espírito da época. Além de pioneiro de<br />

idéias filosóficas posteriores.<br />

Não que tenha querido ser tudo isso inicialmente 42 , mas da construção a priori, até a<br />

posteriori, além da compreensão final, foi ganhando aspectos tais, para que tivesse<br />

inteligibilidade para os espectadores, que também lha doavam novos aspectos a cada<br />

apresentação. E conforme essa relação autor/obra/espectador, vemos como tais elementos<br />

relacionaram-se dialeticamente influenciando e sendo influenciado para a formação da<br />

Kátharsis final, que determinou e caracterizou a tragédia com todos os elementos de que<br />

dispõe para estudo atual.<br />

38 Marília Matos “O Duplo em Frankenstein”. In: Revista Inventário. 4. Ed., jul/2005.<br />

39 Ver RAMOS, 2001: “O homem erra e paga pelos seus erros e esse sofrimento, na linguagem de Ésquilo, se<br />

traduz pelo conhecimento cuja finalidade pode ser considerada providencial e educativa.”<br />

40 Ver RAMOS, 2001.<br />

41 A lei era vista como proveniente dos sábios, pois “Ao homem era concedida uma esfera de liberdade fora das<br />

obrigações que tinham de ser satisfeita. Não ditava leis, mas obrigações a serem feitas.” Burkert, In: Religião<br />

Grega da época Clássica e Arcaica, 1993.<br />

42 Lesky, alerta, por exemplo, quanto ao caráter pedagógico, que a tragédia tem um caráter educativo, mas não<br />

objetiva em conjunto ao propósito educativo. Expressa sua “suspeita de que as “conseqüências morais” da<br />

grande e verdadeira arte se baseiam no fato de que tal arte só pode surgir em conexão com sólidas ordens de<br />

valores e por isso dá testemunho de semelhantes calores com sua mera existência. E, mais ainda, que um<br />

testemunho dessa natureza é muito mais valioso e eficaz do que o didático discurso dos sofistas (...)” (Lesky,<br />

2006)<br />

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