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A questão da literatura engajada nas filosofias de Sartre e ... - Cebela

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Literatura<br />

Paulo Domenech Oneto<br />

Qu’est-ce que la littérature (1948), sem que, em nenhum momento,<br />

Deleuze trate propriamente do fazer literário, po<strong>de</strong>mos talvez ten<strong>de</strong>r<br />

para a tese <strong>de</strong> uma influência restrita ao domínio do engajamento.<br />

O ensaio <strong>de</strong> <strong>Sartre</strong> é, acima <strong>de</strong> tudo, um texto em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma<br />

<strong>literatura</strong> engaja<strong>da</strong>. Entretanto, o mais interessante é ver que, em<br />

sua leitura, Deleuze parece se esforçar para ampliar o escopo do<br />

problema na direção do engajamento em geral. E, mais interessante<br />

ain<strong>da</strong>, é notar que ele procura fazê-lo <strong>de</strong> uma maneira que permite<br />

vincular essa questão, aparentemente pontual, com uma <strong>da</strong>s<br />

intuições essenciais <strong>de</strong> seu pensamento, que diz respeito ao próprio<br />

exercício do pensamento.<br />

Assim, por meio <strong>de</strong> um contraste entre “pensadores privados”<br />

e “professores públicos”, Deleuze aponta para uma noção que perpassa<br />

to<strong>da</strong> a sua obra: a afirmação do pensamento como enraizado<br />

na vi<strong>da</strong>, vinculado a uma esfera que escapa ao domínio <strong>da</strong> representação<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Aqui, no artigo sobre <strong>Sartre</strong>, essa esfera é<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> “sub-representativa”:<br />

“Des<strong>de</strong> o início <strong>Sartre</strong> concebeu o escritor sob a forma <strong>de</strong> um homem<br />

como os outros, se dirigindo aos outros do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> sua<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong>. To<strong>da</strong> a sua filosofia se inseria num momento especulativo<br />

que contestava a noção <strong>de</strong> representação; a própria or<strong>de</strong>m <strong>da</strong><br />

representação: a filosofia mu<strong>da</strong>va <strong>de</strong> lugar, <strong>de</strong>ixava a or<strong>de</strong>m do<br />

juízo para se instalar no mundo mais colorido do ‘pré-judicativo’,<br />

do ‘sub-representativo’.” (DELEUZE, 2002, pp. 110-111)<br />

Dentro <strong>da</strong> filosofia <strong>de</strong> Deleuze, tal como se <strong>de</strong>senvolve <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

pelo menos Diferença e repetição (1968), o “mundo do sub-representativo”<br />

na<strong>da</strong> mais é do que o domínio <strong>de</strong> um pensamento sem<br />

imagem; pensamento que não preten<strong>de</strong> começar pelos “fatos que<br />

todos <strong>de</strong>vemos reconhecer”, mas que se volta para o seu solo impensado<br />

– este solo em que ain<strong>da</strong> não sabemos bem o que é e nem<br />

como pensar. Esse ‘solo’ será chamado mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> ‘plano’ e consiste<br />

basicamente num tipo <strong>de</strong> disposição que nos permite pensar<br />

o que pensamos. A filosofia, por exemplo, consiste na criação <strong>de</strong><br />

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