FUgA: FORMA OU pROCESSO COMpOSiCiOnAl Fugue - USC
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<strong>FUgA</strong>: <strong>FORMA</strong> <strong>OU</strong> <strong>pROCESSO</strong><br />
<strong>COMpOSiCiOnAl</strong><br />
<strong>Fugue</strong>: musical for or compositional process<br />
Marcos da Cunha Lopes Virmond 1<br />
1<br />
Doutor em Música pela<br />
UNICAMP, é professor<br />
de regência orquestral<br />
do curso de música da<br />
Universidade Sagrado<br />
Coração em Bauru,<br />
SP e regente titular da<br />
Orquestra Sinfônica Municipal<br />
de Botucau<br />
virmond, marcos da Cunha Lopes. Fuga: forma ou processo composicional.<br />
Mimesis, Bauru, v. 28, n. 2, p. 39-50, 2007.<br />
RESUMO<br />
no campo da música, há discussão sobre o fato da fuga ser uma forma<br />
musical ou um processo composicional. o presente estudo procurou<br />
investigar em ambiente da rede mundial de informações, as<br />
principais percepções sobre esta questão, assim como quantificá-las.<br />
Para tal, foram examinados apenas sítios ligados a instituições educativas<br />
formais, como universidades e conservatórios. Conclui-se<br />
por uma preponderância do entendimento que a fuga é um processo<br />
composicional.<br />
Palavras-chave: música. Forma musical. Fuga. Compsição.<br />
ABSTRACT<br />
Recebido em: julho de 2007<br />
Aceito em: novembro de 2007<br />
In the field of music, there is discussion whether fugue is a musical<br />
form or a compositional process. This study has investigated the<br />
perceptions on this issue in the environment of the world web of<br />
information, as well as quantify it In this regards, we approached only<br />
39
sites linked to formal educational institutions such as universities<br />
and conservatories. It was concluded that there is a preponderance<br />
on the understanding that fugue is a compositional process.<br />
Key-words: Music. Musical Form. <strong>Fugue</strong>. Composition.<br />
virmond, marcos<br />
da Cunha Lopes. Fuga:<br />
forma ou processo<br />
composicional.<br />
Mimesis, Bauru, v. 28,<br />
n. 2, p. 39-50, 2007.<br />
inTROdUçãO<br />
A dificuldade inicial de lidar com o assunto “fuga” é localiza-<br />
-la com maior precisão entre uma forma musical ou um processo<br />
composicional. Existem argumentos para atender às duas vertentes.<br />
Entretanto, a busca de uma definição para a fuga pode auxiliar em<br />
uma discussão sobre a localização antes mencionada. Inicialmente,<br />
a própria etiologia da palavra “fuga” pode trazer alguma luz a esta<br />
questão. deriva de fuga em latim que significa fugir ou escapar de<br />
algo. Está filologicamente relacionada ao verbo alemão fugen que<br />
significa “colocar junto meticulosamente”, no sentido de estruturar,<br />
compor ajustadamente (DEPKO, 2003).<br />
A estrutura de uma fuga compreende uma exposição, um desenvolvimento<br />
e um fechamento. A primeira seção, semelhante à exposição<br />
de uma invenção, tem, como o próprio nome diz, a função<br />
de apresentar a proposta focal, expor o tema. Talvez esta seja uma<br />
das secções que mais caracterize a fuga, pois o tema sucedesse nas<br />
diversas vozes e, na primeira apresentação do tema ela é feita, usualmente,<br />
sem acompanhamento. Aparece, então uma resposta ao tema<br />
uma quinta acima ou uma quarta abaixo, o que sinaliza, em termos<br />
introdutórios, que se trata de uma fuga.<br />
As demais construções fugais se baseiam nessa característica,<br />
particularmente o fugue-tune e o fugato. o primeiro teve sua exuberância<br />
em composições sacras na nova inglaterra nos séculos 18 e 19<br />
em que se salientam William Bilings, daniell read e Andrew Law.<br />
o fugato, por sua parte, é uma opção composicional dentro da secção<br />
de desenvolvimento de uma sonata, sinfonias e quartetos e mesmo<br />
em óperas. o uso dessas construções cria um ambiente de marcado<br />
contraste dentro do contexto da obra, criando variadas expectativas<br />
ao ouvinte. Um exemplo disto é o que ocorre, de forma muito breve,<br />
quase embrionária, mas efetiva, em La Gioconda de A. Ponchielli<br />
(exp. 1). Aqui, o compositor faz uso de quatro entradas sucessivas de<br />
um curto tema sempre uma quinta acima da apresentação anterior.<br />
neste caso, o que importa é o uso do forte poder declaratório que as<br />
sucessivas entradas (sujeito e resposta) emprestam às intenções de<br />
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Poncielli em afirmar, segundo o texto do libreto a tensão dramática,<br />
que: No; Dio vuol ciò Che il popolo vuol; morte a la strega 1 .<br />
Fuga pode ser considerada como um procedimento polifônico,<br />
envolvendo um determinado número de vozes, no qual um motivo<br />
(sujeito) é exposto, em cada voz, inicialmente em uma relação<br />
tônica/dominante e depois desenvolvido por meios contrapontísticos<br />
(SMITH, 1996).<br />
Outras definições podem variar consideravelmente em seu<br />
conteúdo, dependendo da fonte utilizada e, nesse sentido, seria oportuno<br />
apresentar algumas dessas definições para que tenha uma idéia<br />
da diversidade de posicionamentos sobre o assunto. Virginia Salgado<br />
Fiúza (1953) diz tratar-se de uma composição em estilo contrapontado<br />
e imitativo, baseado num só tema.<br />
O DBG Musiklexicon (1968) a define como o ponto alto de todas<br />
as formas musicais polifônicas. Já o verbete sobre este assunto no<br />
Dicionário de Música de Borba e Lopes Graça (1962) considera a<br />
fuga como uma forma de composição musical baseada no princípio<br />
1 Este momento se encontra no 1º ato de opera de Ponchielli, na cena em que Barnaba<br />
acusa a mãe de Gioconda de ser uma feiticeira. o povo, sugestionado pela falsa<br />
trama de Barbana responde a Enzo que tenta salvar a cega: Não; a vontade de Deu<br />
é a vontade do povo; morte à feiticeira!<br />
41
da imitação insistente em todas as partes, dando a impressão de que<br />
estas vão, realmente, fugindo uma da s outras, perseguindo-se ou<br />
procurando-se.<br />
Ainda no campo dos dicionários, Dourado (2004) introduz um<br />
verbete em que fuga é uma técnica composicional que consiste em<br />
elaborar por imitação temas entre diversas vozes. Da mesma forma, o<br />
Harvard Concise Dictionary of Music (1998) diz que uma fuga é sempre<br />
escrita em estilo contrapontístico, isto é, com uma textura consistindo<br />
de um número de vozes individuais, usualmente três ou quatro.<br />
Por fim, o verbete do The New Grove Dictionary of Music and<br />
Musicians (1980) tende para o lado do processo composicional ao<br />
considerar a fuga como uma composição ou uma técnica composicional<br />
na qual o contraponto imitativo envolvendo um ou mais temas é o<br />
mais importante ou mais característico artifício para extensão formal.<br />
Nesta mesma linha, Spencer e Temko (1988) discutem com<br />
mais precisão o fato da fuga ser considerada um tipo de composição<br />
que, mais que qualquer outra, explora sistematicamente<br />
o princípio da exposição e desenvolvimento contínuo. Para estes<br />
atores a fuga é essencialmente uma composição contrapontística<br />
constituída de um dado número de vozes e que não segue um padrão<br />
formal previsível.<br />
Como pode se ver, existem variadas percepções em como abordar<br />
definição de fuga e, para melhor consubstanciar a discussão, será necessário<br />
apresentar uma seqüência de outras definições disponíveis<br />
na rede WEB, tanto provenientes de fontes musicológicas relevantes<br />
ou de sítios leigos, mas interessantes para ampliar o cenário desta<br />
revisão. Estas definições, ou tentativas, serão utilizadas posteriormente<br />
para compor o quadro de freqüências.<br />
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da Cunha Lopes. Fuga:<br />
forma ou processo<br />
composicional.<br />
Mimesis, Bauru, v. 28,<br />
n. 2, p. 39-50, 2007.<br />
Fuga é uma composição musical ou técnica na qual o compositor<br />
introduz uma melodia (o tema) enquanto outras vozes entram<br />
em diferentes tempos executando o mesmo tema em uma<br />
tonalidade mais alta ou mais baixa. Fugas são comumente escritas<br />
para duas até quatro vozes. Bach escreveu algumas das<br />
mais importantes fugas (www.empire.k12.ca.us/capistrano/<br />
Mike/capmusic/glossary%20of%20musical%20terms/glossary.htm)<br />
Uma peça contrapontística na qual duas ou mais partes são<br />
construídas ou “empilhadas” sobre um sujeito recorrente que é<br />
introduzido isoladamente e seguido de uma resposta, a qual é o<br />
sujeito (ou tema) em uma altura diferente, usualmente a quinta.<br />
(www.musicoutfitters.com/dictionary.htm)<br />
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Uma composição polifônica,geralmente para duas até quatro<br />
vozes (vocal ou instrumental) na qual os mesmos temas passam<br />
de uma voz para a outra e são combinadas em contraponto.<br />
lms.thomsonelearning.com/hbcp/glossary/glossary.taf<br />
Uma composição escrita sistematicamente em polifonia imitativa<br />
usualmente com um apenas um tema principal.<br />
(www.hypermusic.ca/hist/glossary.html)<br />
Uma composição musical em contraponto na qual uma ou duas<br />
melodias são repetidas por vozes que entram sucessivamente.<br />
As vozes se entrelaçam e as melodias são desenvolvidas em<br />
uma estrutura única em bem definida com um caráter forte ou<br />
idéia unificadora.<br />
(www.humanities.eku.edu/Glossary.htm)<br />
O entrelaçamento de vozes melódicas específicas para criar uma<br />
peça de música fortemente caracterizada pela imitação. (www.<br />
mso.com.au/edu/glossary/glossaryfull.asp)<br />
Uma composição polifônica com um ou mais temas curtos introduzidos<br />
primeiramente por uma voz e repetidos por outras<br />
vozes a cada vez. Tudo isto acontecendo com harmonização<br />
de acordo com as regras do contraponto. (dirk.meineke.free.fr/<br />
glossary.html)<br />
Uma forma que um tema ou sujeito tocado por um instrumento<br />
ou voz é seguido e imitado por outros (um ou mais)<br />
instrumentos ou vozes. (www.sasked.gov.sk.ca/docs/artsed/<br />
g8arts_ed/g8mgloae.html)<br />
Composição polifônica imitativa.<br />
(highered.mcgraw-hill.com/sites/0072491353/student_view0/<br />
glossary.html)<br />
Uma fuga é uma peça de música, contrapontística em caráter,<br />
baseada na imitação. Ela segue certas regras e envolve três ou<br />
quatro linhas ainda que posa existir mais. Algumas vezes elas<br />
são chamadas “vozes” ainda que sejam tocadas. Uma fuga começa<br />
com um tema principal chamado sujeito e este é seguido<br />
pela segunda voz tocando a resposta (esta é o sujeito transposto<br />
uma quinta acima ou uma quarta abaixo). Isto é seguido por<br />
uma outra apresentação do sujeito e, se temos quatro vozes,<br />
uma outra apresentação da resposta. Esta parte da fuga é cha-<br />
43
mada exposição e as tonalidades da tônica e da dominante são<br />
utilizadas.<br />
(www.webcastmy.com.my/unimasresearchgateway/thesis/thesis_0057/glossary.htm)<br />
Uma forma instrumental de música que apresenta quatro ou<br />
cinco linhas independentes com forte uso da imitação.<br />
(www3.uakron.edu/education/temp/glossary/)<br />
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forma ou processo<br />
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Mimesis, Bauru, v. 28,<br />
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Uma composição escrita para três ou mais linhas musicais, ou<br />
vozes. Cada voz tem música semelhante, mas entrando em diferentes<br />
momentos, criando contraponto uma com a outra.<br />
(www.faribaultcatholics.com/church/music/glossaryofmusicterms.htm)<br />
Uma obra, ou o movimento de uma obra, escrita em polifonia<br />
imitativa complexa. Fugas, populares principalmente durante a<br />
era do barroco, são geralmente obras para teclado. Cada linha<br />
de uma fuga é chamada e voz ainda que não seja escrita para a<br />
voz humana. Podemos falar de uma fuga em termos do número<br />
de vozes que ela apresente – uma “fuga a três vozes” ou uma<br />
“fuga a quatro vozes” ou mesmo uma “fuga a cinco vozes”.<br />
(www.ayiba.com/cmusic/downloads/glossary_f.htm)<br />
É uma composição em que o contraponto imitativo envolvendo<br />
um ou mais temas é o artifício mais importante ou característico<br />
para o desenvolvimento formal.<br />
(www.innvista.com/people/composers/glossary.htm)<br />
Uma forma musical constituída de um tema repetido uma quinta<br />
acima ou uma quarta abaixo de sua primeira apresentação.<br />
(www.cogsci.princeton.edu/cgi-bin/webwn)<br />
Uma composição polifônica desenvolvida a partir de um dado<br />
tema ou temas de acordo com estritas regras contrapontísticas.<br />
O tema é primeiramente apresentado por uma voz ou parte,<br />
e depois, enquanto essa voz prossegue seu caminho, o tema<br />
é repetido por outra em um intervalo de uma quinta ou uma<br />
quarta, e assim por diante até que todas as partes tenham respondido<br />
uma a cada vez, continuando suas várias melodias e<br />
entrelaçando-as em um complexo e progressivo todo, no qual<br />
o tema é freqüentemente se perde e reaparece.<br />
(www.brainydictionary.com/words/fu/fugue167408.html)<br />
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Fuga é uma composição em que os instrumentos entram um a<br />
cada vez enquanto a audiência sai um a cada vez. Ainda que<br />
esta definição sarcástica subestime a capacidade dos amantes da<br />
música, a sua primeira parte está correta.<br />
(http://members.aol.com/fuguesite/defin.htm)<br />
Um procedimento polifônico envolvendo um número específico<br />
de vozes no qual um motivo (sujeito) é exposto, em cada<br />
voz, inicialmente em uma relação tônica/dominante, e depois<br />
desenvolvido por meios contrapontísticos.<br />
(http://jan.ucc.nau.edu/~tas3/fugueanatomy.html#definition)<br />
Forma polifônica popular na era barroca na qual um ou mais<br />
temas são desenvolvidos por contraponto imitativo.<br />
(http://www.essentialsofmusic.com/glossary/f.html)<br />
Uma composição ou técnica composicional, na qual um tema<br />
(ou temas) é estendido e desenvolvido principalmente por meio<br />
de contraponto imitativo.<br />
http://w3.rz-berlin.mpg.de/cmp/g_fugue.html<br />
Uma forma contrapontística que começa com uma exposição<br />
na qual cada voz entra com o mesmo sujeito a cada vez e prossegue<br />
com imitação. Contrário ao cânon, fugas têm passagens<br />
de imitação livre e passagens sem imitação.<br />
(http://www.enjoythemusic.com/musicdefinition.htm)<br />
Uma forma musical ou composição na qual um ou mais temas<br />
são apresentados por uma voz e depois são reapresentados e modificados<br />
por contraponto em uma ordem estrita por varias vozes.<br />
(http://www.wordsmyth.net/live/home.<br />
phpcontent=wotw/102599/wotw_language)<br />
Uma composição contrapontística (relativo à habilidade de dizer<br />
duas coisas ao mesmo tempo) para um número de partes<br />
ou “vozes” independente do fato da obra ser vocal ou instrumental.<br />
Cada voz entra sucessivamente em imitação a última.<br />
(http://www.hearts-ease.org/cgi-bin/termsn.<br />
cgidata=conservatory&letter=f)<br />
Fuga é um tipo de contraponto construído em torno de um<br />
tema curto (sujeito) que é apresentado no início da peça e depois<br />
imitado e desenvolvido por uma voz ou vozes secundária<br />
(resposta).<br />
(http://pipedreams.publicradio.org/articles/artoffugue/fugue.<br />
shtml)<br />
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Fuga é um processo e não uma forma. Suas seções são definidas<br />
pela mudança de textura e/ou registro, cadências, modulações,<br />
claras entradas do sujeito ou resposta e o uso distinto de<br />
artifícios como stretto, inversão e ponto de pedal.<br />
(http://www.music.indiana.edu/som/theory/t511/form.html)<br />
Trata-se de uma técnica composicional em que o tema, chamado<br />
sujeito, é tratado por contraponto imitativo. Uma fuga verdadeira<br />
requer uma exposição, na qual o sujeito é apresentado<br />
na tônica, seguido por uma resposta em uma nova voz e em<br />
uma altura diferente (usualmente a dominante) enquanto a voz<br />
principal continua em contraponto ou com um bem definido<br />
contra-sujeito. O processo continua até que cada voz da voz<br />
tenha entrado.<br />
(http://hector.ucdavis.edu/music10/Forms/<strong>Fugue</strong>.htm)<br />
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Considerando a dificuldade de definição de fuga, pretende-se neste<br />
estudo, preliminarmente, verificar a freqüência das definições de<br />
fuga, em ambas as vertentes, em uma amostra aleatória de fontes<br />
documentais em música.<br />
MATERiAl E MéTOdO<br />
Serão identificadas as definições de fuga encontradas em um acesso<br />
ao buscador Google com o termo composto: fugue definition. dos<br />
resultados obtidos serão analisados seqüencialmente até atingir uma<br />
amostra determinada aleatoriamente em 34 definições, descartadas<br />
as eventuais repetições. Serão anotados os tipos de sítios, separando-<br />
-os em acadêmicos ou leigos. Os sítios acadêmicos serão aqueles de<br />
Universidades e dicionários musicais conhecidos. os demais serão<br />
considerados como sítios leigos.<br />
As definições serão analisadas e separadas em dois grupos. No primeiro,<br />
aquelas definições que tendem a considerar a fuga como uma<br />
forma musical e no segundo aquelas que contemplam uma percepção<br />
como processo composicional. Dentre cada grupo, as definições serão<br />
classificadas como provenientes de sítios acadêmicos ou leigos.<br />
Apenas estatística descritiva será utilizada para verificação dos<br />
resultados.<br />
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RESUlTAdOS<br />
A análise preliminar das definições selecionadas revela que a<br />
maior freqüência é para uma definição de fuga enquanto processo<br />
composicional e a distribuição das posições entre as definições<br />
em fontes acadêmicas ou leigas não apresenta diferença significante<br />
(FIGURA 1).<br />
frequência<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
11<br />
15<br />
5<br />
3<br />
0<br />
processo<br />
forma<br />
acadêmico 11 5<br />
leigo 15 3<br />
FIGURA 1 - Gráfico com as freqüências das posições das fontes sobre<br />
a definição de fuga.<br />
diSCUSSãO<br />
Das definições selecionadas, que se constituem apenas em uma<br />
amostra aleatória de um universo desconhecido, verifica-se que<br />
a maioria (76,8%) considera a fuga um processo composicional e<br />
apenas 23,52% optam por defini-la como uma forma musical. Até<br />
hoje se mantêm tendências divergentes sobre esta questão. Entretanto,<br />
concordando o resultado desse levantamento, as características<br />
da fuga lhe emprestam mais a condição de um processo do que<br />
de uma forma.<br />
de fato, a fuga pode ser considerada como o culmináculo do estudo<br />
do contraponto e um derivado direto do cânon e do ricercare.<br />
Trata-se, então, da abordagem mais elaborada de processos composicionais.<br />
Nesse sentido, o ilustre musicólogo inglês, Donald Francis<br />
Tovey concorda com esta posição, sugerindo que a fuga não é uma<br />
forma, mas um conjunto de procedimentos texturais uma vez que<br />
a decisão de um compositor em escrever uma fuga tem pouca ligação<br />
com uma forma musical, ou melhor dito, uma fórmula de amplas<br />
47
proporções, como seria o caso da sonata. revela que, mesmo em algumas<br />
fugas de Bach não se encontram obrigatoriamente todos os<br />
elementos constituintes de uma fuga. Cita o exemplo da fuga em dó<br />
maior no volume 1 e a fuga em ré menor no volume 2 do Cravo Bem<br />
Temperado, as quais não tem nenhum episódio. Uma sonata, por outro<br />
lado, a pesar da enorme flexibilidade na forma em que os detalhes<br />
podem ser realizados, impõe certos importantes pontos de referência<br />
tonal e, em certos períodos históricos, de referência temática.<br />
Mas as divergências continuam a existir. Em um texto sobre<br />
fuga (GROVEMUSIC, s.d.) discutes-se que, de fato, ainda não<br />
existe uma concordância entre os musicólogos no que tange a localização<br />
da fuga. Um fato que contribui para esta inexatidão seria<br />
que se coletássemos todas as obras chamadas de fuga e as comparássemos,<br />
nenhuma outra característica lhes seria comum além do<br />
contraponto imitativo no sentido amplo do termo. Por outro lado,<br />
desde o começo do século 19 as designações de gênero têm sido<br />
feitas largamente pela estrutura formal da proposta. Entretanto,<br />
esta estrutura formal não é uma característica facilmente aplicável<br />
para uma definição de fuga.<br />
Estas divergências ficam mais aparentes em um colóquio realizado<br />
pela McMaster University sobre Análise Musical. Na introdução,<br />
diz-se que uma definição de fuga é algo pouco concreto e que<br />
as análises de fugas levam a conclusão que escrever uma definição<br />
estável é, de fato, impossível. Isto fica mais claro se apreciarmos,<br />
dentro desde colóquio, as conclusões de Smith (2003) ao analisar o<br />
segundo movimento da Le Tombeau de Couperin de maurice ravel.<br />
Aqui o autor explora a eventual dificuldade de Ravel em utilizar um<br />
processo característico do barroco dentro de uma textura harmônica<br />
impressionista. O resultado final é perfeito nas mãos competentes<br />
desse compositor, pois ele teria respeitado a estrutura externa da<br />
fuga enquanto procedimento, digamos padronizados, mas introduzido<br />
sua visão pessoal, explorando o seu próprio processo composicional<br />
na arquitetura interna da obra. Entende-se, então, como estrutura<br />
externa o trabalho motívico e como arquitetura interna, os componentes<br />
tonais e harmônicos. Em uma visão mais detalhada do artigo,<br />
percebe-se que ravel, obedecendo aos ditames escolásticos da fuga,<br />
introduz sua rica palheta harmônica sem interferir no arcabouço padronizado<br />
de uma fuga – daí o sucesso do resultado final.<br />
Como refere Renwick (2003), no mesmo colóquio, a definição de<br />
fuga é problemática e, ainda que possa ser considerada como um<br />
processo composicional, ela inclui vários princípios formais. Para<br />
que uma obra possa ser considerada uma fuga, minimamente deve<br />
atender aos seguintes requisitos: estar baseada em uma ou mais<br />
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idéias melódicas repetidas (sujeito), que apresente pelo menos uma<br />
vez a exposição do sujeito e que continue, se desenvolva alem da<br />
exposição em uma expressão musical completa.<br />
Considerando as definições encontradas na amostra e essas<br />
opiniões abalizadas, verifica-se que, de fato, fuga cabe melhor como<br />
definição de um processo composicional do que uma forma acabada.<br />
Um forte apelo para esta condição é a possibilidade do uso, da<br />
inserção do estilo fugato em uma larga proporção de obras, como<br />
o citado inicialmente na ópera de Ponchielli. Se considerarmos a<br />
sonata como uma forma acabada, verifica-se que o inverso não é<br />
verdadeiro, isto é, não há possibilidade de utilizar-se características<br />
de uma sonata, da forma sonata, como processo composicional,<br />
ainda que se possa utilizar a forma sonata, como um todo, como<br />
opção para a construção de um ato ou cena de ópera. de fato, se<br />
formos analisar as fugas existentes, não há um fator crítico, comum,<br />
amalgamador, que possa ser utilizado como referência para defini-la<br />
como uma forma musical.<br />
Por último, não se encontra diferença, no que tange às definições,<br />
sejam elas provenientes de sítios acadêmicos ou leigos. Apesar<br />
de, em muitos casos, estes últimos apresentarem simplificações<br />
intencionais, percebe-se que eles se baseiam em fontes acadêmicas.<br />
Desta forma, não é relevante discutir-se a freqüência dos tipos de<br />
definições entre sítios ditos leigos ou acadêmicos.<br />
COnClUSãO<br />
Considerando as limitações da metodologia utilizada, pode-se<br />
afirmar que, em sítios virtuais, a fuga é mais considerada como um<br />
processo composicional do que uma forma musical.<br />
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REFERênCiAS<br />
DBG-MUSIKLEXICON – Friedrich Herzfel, editor. Deutch Buch-<br />
-Gemeinschaft, Berlin, 1968.<br />
DEPKO, T. Balancing Rectus and Inversus in J.S. Bach’s <strong>Fugue</strong> XV<br />
from WTC I. , 2003. disponível em http://www.humanities.mcmaster.ca/~mus701/macmacvol3/depko.html.<br />
Acesso em 8/10/2004.<br />
D<strong>OU</strong>RADO, H. A. Dicionário de termos e expressões da música.<br />
Editora 34. São Paulo, 2004.<br />
FIUZA,V.S. Análise musical. 2ª edição. Rio de Janeiro, 1953.<br />
HARVARD CONSICE DICTIONARY OF MUSIC. Compilado por<br />
Don Michael Randel. The Belkanp Press of Harvard University,<br />
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com/theory/fugue.htm. Acesso em 7/10/2004.<br />
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