20.01.2015 Views

FUgA: FORMA OU pROCESSO COMpOSiCiOnAl Fugue - USC

FUgA: FORMA OU pROCESSO COMpOSiCiOnAl Fugue - USC

FUgA: FORMA OU pROCESSO COMpOSiCiOnAl Fugue - USC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>FUgA</strong>: <strong>FORMA</strong> <strong>OU</strong> <strong>pROCESSO</strong><br />

<strong>COMpOSiCiOnAl</strong><br />

<strong>Fugue</strong>: musical for or compositional process<br />

Marcos da Cunha Lopes Virmond 1<br />

1<br />

Doutor em Música pela<br />

UNICAMP, é professor<br />

de regência orquestral<br />

do curso de música da<br />

Universidade Sagrado<br />

Coração em Bauru,<br />

SP e regente titular da<br />

Orquestra Sinfônica Municipal<br />

de Botucau<br />

virmond, marcos da Cunha Lopes. Fuga: forma ou processo composicional.<br />

Mimesis, Bauru, v. 28, n. 2, p. 39-50, 2007.<br />

RESUMO<br />

no campo da música, há discussão sobre o fato da fuga ser uma forma<br />

musical ou um processo composicional. o presente estudo procurou<br />

investigar em ambiente da rede mundial de informações, as<br />

principais percepções sobre esta questão, assim como quantificá-las.<br />

Para tal, foram examinados apenas sítios ligados a instituições educativas<br />

formais, como universidades e conservatórios. Conclui-se<br />

por uma preponderância do entendimento que a fuga é um processo<br />

composicional.<br />

Palavras-chave: música. Forma musical. Fuga. Compsição.<br />

ABSTRACT<br />

Recebido em: julho de 2007<br />

Aceito em: novembro de 2007<br />

In the field of music, there is discussion whether fugue is a musical<br />

form or a compositional process. This study has investigated the<br />

perceptions on this issue in the environment of the world web of<br />

information, as well as quantify it In this regards, we approached only<br />

39


sites linked to formal educational institutions such as universities<br />

and conservatories. It was concluded that there is a preponderance<br />

on the understanding that fugue is a compositional process.<br />

Key-words: Music. Musical Form. <strong>Fugue</strong>. Composition.<br />

virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional.<br />

Mimesis, Bauru, v. 28,<br />

n. 2, p. 39-50, 2007.<br />

inTROdUçãO<br />

A dificuldade inicial de lidar com o assunto “fuga” é localiza-<br />

-la com maior precisão entre uma forma musical ou um processo<br />

composicional. Existem argumentos para atender às duas vertentes.<br />

Entretanto, a busca de uma definição para a fuga pode auxiliar em<br />

uma discussão sobre a localização antes mencionada. Inicialmente,<br />

a própria etiologia da palavra “fuga” pode trazer alguma luz a esta<br />

questão. deriva de fuga em latim que significa fugir ou escapar de<br />

algo. Está filologicamente relacionada ao verbo alemão fugen que<br />

significa “colocar junto meticulosamente”, no sentido de estruturar,<br />

compor ajustadamente (DEPKO, 2003).<br />

A estrutura de uma fuga compreende uma exposição, um desenvolvimento<br />

e um fechamento. A primeira seção, semelhante à exposição<br />

de uma invenção, tem, como o próprio nome diz, a função<br />

de apresentar a proposta focal, expor o tema. Talvez esta seja uma<br />

das secções que mais caracterize a fuga, pois o tema sucedesse nas<br />

diversas vozes e, na primeira apresentação do tema ela é feita, usualmente,<br />

sem acompanhamento. Aparece, então uma resposta ao tema<br />

uma quinta acima ou uma quarta abaixo, o que sinaliza, em termos<br />

introdutórios, que se trata de uma fuga.<br />

As demais construções fugais se baseiam nessa característica,<br />

particularmente o fugue-tune e o fugato. o primeiro teve sua exuberância<br />

em composições sacras na nova inglaterra nos séculos 18 e 19<br />

em que se salientam William Bilings, daniell read e Andrew Law.<br />

o fugato, por sua parte, é uma opção composicional dentro da secção<br />

de desenvolvimento de uma sonata, sinfonias e quartetos e mesmo<br />

em óperas. o uso dessas construções cria um ambiente de marcado<br />

contraste dentro do contexto da obra, criando variadas expectativas<br />

ao ouvinte. Um exemplo disto é o que ocorre, de forma muito breve,<br />

quase embrionária, mas efetiva, em La Gioconda de A. Ponchielli<br />

(exp. 1). Aqui, o compositor faz uso de quatro entradas sucessivas de<br />

um curto tema sempre uma quinta acima da apresentação anterior.<br />

neste caso, o que importa é o uso do forte poder declaratório que as<br />

sucessivas entradas (sujeito e resposta) emprestam às intenções de<br />

40


virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional. Mimesis,<br />

Bauru, v. 28, n. 2, p. 39-<br />

50, 2007.<br />

Poncielli em afirmar, segundo o texto do libreto a tensão dramática,<br />

que: No; Dio vuol ciò Che il popolo vuol; morte a la strega 1 .<br />

Fuga pode ser considerada como um procedimento polifônico,<br />

envolvendo um determinado número de vozes, no qual um motivo<br />

(sujeito) é exposto, em cada voz, inicialmente em uma relação<br />

tônica/dominante e depois desenvolvido por meios contrapontísticos<br />

(SMITH, 1996).<br />

Outras definições podem variar consideravelmente em seu<br />

conteúdo, dependendo da fonte utilizada e, nesse sentido, seria oportuno<br />

apresentar algumas dessas definições para que tenha uma idéia<br />

da diversidade de posicionamentos sobre o assunto. Virginia Salgado<br />

Fiúza (1953) diz tratar-se de uma composição em estilo contrapontado<br />

e imitativo, baseado num só tema.<br />

O DBG Musiklexicon (1968) a define como o ponto alto de todas<br />

as formas musicais polifônicas. Já o verbete sobre este assunto no<br />

Dicionário de Música de Borba e Lopes Graça (1962) considera a<br />

fuga como uma forma de composição musical baseada no princípio<br />

1 Este momento se encontra no 1º ato de opera de Ponchielli, na cena em que Barnaba<br />

acusa a mãe de Gioconda de ser uma feiticeira. o povo, sugestionado pela falsa<br />

trama de Barbana responde a Enzo que tenta salvar a cega: Não; a vontade de Deu<br />

é a vontade do povo; morte à feiticeira!<br />

41


da imitação insistente em todas as partes, dando a impressão de que<br />

estas vão, realmente, fugindo uma da s outras, perseguindo-se ou<br />

procurando-se.<br />

Ainda no campo dos dicionários, Dourado (2004) introduz um<br />

verbete em que fuga é uma técnica composicional que consiste em<br />

elaborar por imitação temas entre diversas vozes. Da mesma forma, o<br />

Harvard Concise Dictionary of Music (1998) diz que uma fuga é sempre<br />

escrita em estilo contrapontístico, isto é, com uma textura consistindo<br />

de um número de vozes individuais, usualmente três ou quatro.<br />

Por fim, o verbete do The New Grove Dictionary of Music and<br />

Musicians (1980) tende para o lado do processo composicional ao<br />

considerar a fuga como uma composição ou uma técnica composicional<br />

na qual o contraponto imitativo envolvendo um ou mais temas é o<br />

mais importante ou mais característico artifício para extensão formal.<br />

Nesta mesma linha, Spencer e Temko (1988) discutem com<br />

mais precisão o fato da fuga ser considerada um tipo de composição<br />

que, mais que qualquer outra, explora sistematicamente<br />

o princípio da exposição e desenvolvimento contínuo. Para estes<br />

atores a fuga é essencialmente uma composição contrapontística<br />

constituída de um dado número de vozes e que não segue um padrão<br />

formal previsível.<br />

Como pode se ver, existem variadas percepções em como abordar<br />

definição de fuga e, para melhor consubstanciar a discussão, será necessário<br />

apresentar uma seqüência de outras definições disponíveis<br />

na rede WEB, tanto provenientes de fontes musicológicas relevantes<br />

ou de sítios leigos, mas interessantes para ampliar o cenário desta<br />

revisão. Estas definições, ou tentativas, serão utilizadas posteriormente<br />

para compor o quadro de freqüências.<br />

virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional.<br />

Mimesis, Bauru, v. 28,<br />

n. 2, p. 39-50, 2007.<br />

Fuga é uma composição musical ou técnica na qual o compositor<br />

introduz uma melodia (o tema) enquanto outras vozes entram<br />

em diferentes tempos executando o mesmo tema em uma<br />

tonalidade mais alta ou mais baixa. Fugas são comumente escritas<br />

para duas até quatro vozes. Bach escreveu algumas das<br />

mais importantes fugas (www.empire.k12.ca.us/capistrano/<br />

Mike/capmusic/glossary%20of%20musical%20terms/glossary.htm)<br />

Uma peça contrapontística na qual duas ou mais partes são<br />

construídas ou “empilhadas” sobre um sujeito recorrente que é<br />

introduzido isoladamente e seguido de uma resposta, a qual é o<br />

sujeito (ou tema) em uma altura diferente, usualmente a quinta.<br />

(www.musicoutfitters.com/dictionary.htm)<br />

42


virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional. Mimesis,<br />

Bauru, v. 28, n. 2, p. 39-<br />

50, 2007.<br />

Uma composição polifônica,geralmente para duas até quatro<br />

vozes (vocal ou instrumental) na qual os mesmos temas passam<br />

de uma voz para a outra e são combinadas em contraponto.<br />

lms.thomsonelearning.com/hbcp/glossary/glossary.taf<br />

Uma composição escrita sistematicamente em polifonia imitativa<br />

usualmente com um apenas um tema principal.<br />

(www.hypermusic.ca/hist/glossary.html)<br />

Uma composição musical em contraponto na qual uma ou duas<br />

melodias são repetidas por vozes que entram sucessivamente.<br />

As vozes se entrelaçam e as melodias são desenvolvidas em<br />

uma estrutura única em bem definida com um caráter forte ou<br />

idéia unificadora.<br />

(www.humanities.eku.edu/Glossary.htm)<br />

O entrelaçamento de vozes melódicas específicas para criar uma<br />

peça de música fortemente caracterizada pela imitação. (www.<br />

mso.com.au/edu/glossary/glossaryfull.asp)<br />

Uma composição polifônica com um ou mais temas curtos introduzidos<br />

primeiramente por uma voz e repetidos por outras<br />

vozes a cada vez. Tudo isto acontecendo com harmonização<br />

de acordo com as regras do contraponto. (dirk.meineke.free.fr/<br />

glossary.html)<br />

Uma forma que um tema ou sujeito tocado por um instrumento<br />

ou voz é seguido e imitado por outros (um ou mais)<br />

instrumentos ou vozes. (www.sasked.gov.sk.ca/docs/artsed/<br />

g8arts_ed/g8mgloae.html)<br />

Composição polifônica imitativa.<br />

(highered.mcgraw-hill.com/sites/0072491353/student_view0/<br />

glossary.html)<br />

Uma fuga é uma peça de música, contrapontística em caráter,<br />

baseada na imitação. Ela segue certas regras e envolve três ou<br />

quatro linhas ainda que posa existir mais. Algumas vezes elas<br />

são chamadas “vozes” ainda que sejam tocadas. Uma fuga começa<br />

com um tema principal chamado sujeito e este é seguido<br />

pela segunda voz tocando a resposta (esta é o sujeito transposto<br />

uma quinta acima ou uma quarta abaixo). Isto é seguido por<br />

uma outra apresentação do sujeito e, se temos quatro vozes,<br />

uma outra apresentação da resposta. Esta parte da fuga é cha-<br />

43


mada exposição e as tonalidades da tônica e da dominante são<br />

utilizadas.<br />

(www.webcastmy.com.my/unimasresearchgateway/thesis/thesis_0057/glossary.htm)<br />

Uma forma instrumental de música que apresenta quatro ou<br />

cinco linhas independentes com forte uso da imitação.<br />

(www3.uakron.edu/education/temp/glossary/)<br />

virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional.<br />

Mimesis, Bauru, v. 28,<br />

n. 2, p. 39-50, 2007.<br />

Uma composição escrita para três ou mais linhas musicais, ou<br />

vozes. Cada voz tem música semelhante, mas entrando em diferentes<br />

momentos, criando contraponto uma com a outra.<br />

(www.faribaultcatholics.com/church/music/glossaryofmusicterms.htm)<br />

Uma obra, ou o movimento de uma obra, escrita em polifonia<br />

imitativa complexa. Fugas, populares principalmente durante a<br />

era do barroco, são geralmente obras para teclado. Cada linha<br />

de uma fuga é chamada e voz ainda que não seja escrita para a<br />

voz humana. Podemos falar de uma fuga em termos do número<br />

de vozes que ela apresente – uma “fuga a três vozes” ou uma<br />

“fuga a quatro vozes” ou mesmo uma “fuga a cinco vozes”.<br />

(www.ayiba.com/cmusic/downloads/glossary_f.htm)<br />

É uma composição em que o contraponto imitativo envolvendo<br />

um ou mais temas é o artifício mais importante ou característico<br />

para o desenvolvimento formal.<br />

(www.innvista.com/people/composers/glossary.htm)<br />

Uma forma musical constituída de um tema repetido uma quinta<br />

acima ou uma quarta abaixo de sua primeira apresentação.<br />

(www.cogsci.princeton.edu/cgi-bin/webwn)<br />

Uma composição polifônica desenvolvida a partir de um dado<br />

tema ou temas de acordo com estritas regras contrapontísticas.<br />

O tema é primeiramente apresentado por uma voz ou parte,<br />

e depois, enquanto essa voz prossegue seu caminho, o tema<br />

é repetido por outra em um intervalo de uma quinta ou uma<br />

quarta, e assim por diante até que todas as partes tenham respondido<br />

uma a cada vez, continuando suas várias melodias e<br />

entrelaçando-as em um complexo e progressivo todo, no qual<br />

o tema é freqüentemente se perde e reaparece.<br />

(www.brainydictionary.com/words/fu/fugue167408.html)<br />

44


virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional. Mimesis,<br />

Bauru, v. 28, n. 2, p. 39-<br />

50, 2007.<br />

Fuga é uma composição em que os instrumentos entram um a<br />

cada vez enquanto a audiência sai um a cada vez. Ainda que<br />

esta definição sarcástica subestime a capacidade dos amantes da<br />

música, a sua primeira parte está correta.<br />

(http://members.aol.com/fuguesite/defin.htm)<br />

Um procedimento polifônico envolvendo um número específico<br />

de vozes no qual um motivo (sujeito) é exposto, em cada<br />

voz, inicialmente em uma relação tônica/dominante, e depois<br />

desenvolvido por meios contrapontísticos.<br />

(http://jan.ucc.nau.edu/~tas3/fugueanatomy.html#definition)<br />

Forma polifônica popular na era barroca na qual um ou mais<br />

temas são desenvolvidos por contraponto imitativo.<br />

(http://www.essentialsofmusic.com/glossary/f.html)<br />

Uma composição ou técnica composicional, na qual um tema<br />

(ou temas) é estendido e desenvolvido principalmente por meio<br />

de contraponto imitativo.<br />

http://w3.rz-berlin.mpg.de/cmp/g_fugue.html<br />

Uma forma contrapontística que começa com uma exposição<br />

na qual cada voz entra com o mesmo sujeito a cada vez e prossegue<br />

com imitação. Contrário ao cânon, fugas têm passagens<br />

de imitação livre e passagens sem imitação.<br />

(http://www.enjoythemusic.com/musicdefinition.htm)<br />

Uma forma musical ou composição na qual um ou mais temas<br />

são apresentados por uma voz e depois são reapresentados e modificados<br />

por contraponto em uma ordem estrita por varias vozes.<br />

(http://www.wordsmyth.net/live/home.<br />

phpcontent=wotw/102599/wotw_language)<br />

Uma composição contrapontística (relativo à habilidade de dizer<br />

duas coisas ao mesmo tempo) para um número de partes<br />

ou “vozes” independente do fato da obra ser vocal ou instrumental.<br />

Cada voz entra sucessivamente em imitação a última.<br />

(http://www.hearts-ease.org/cgi-bin/termsn.<br />

cgidata=conservatory&letter=f)<br />

Fuga é um tipo de contraponto construído em torno de um<br />

tema curto (sujeito) que é apresentado no início da peça e depois<br />

imitado e desenvolvido por uma voz ou vozes secundária<br />

(resposta).<br />

(http://pipedreams.publicradio.org/articles/artoffugue/fugue.<br />

shtml)<br />

45


Fuga é um processo e não uma forma. Suas seções são definidas<br />

pela mudança de textura e/ou registro, cadências, modulações,<br />

claras entradas do sujeito ou resposta e o uso distinto de<br />

artifícios como stretto, inversão e ponto de pedal.<br />

(http://www.music.indiana.edu/som/theory/t511/form.html)<br />

Trata-se de uma técnica composicional em que o tema, chamado<br />

sujeito, é tratado por contraponto imitativo. Uma fuga verdadeira<br />

requer uma exposição, na qual o sujeito é apresentado<br />

na tônica, seguido por uma resposta em uma nova voz e em<br />

uma altura diferente (usualmente a dominante) enquanto a voz<br />

principal continua em contraponto ou com um bem definido<br />

contra-sujeito. O processo continua até que cada voz da voz<br />

tenha entrado.<br />

(http://hector.ucdavis.edu/music10/Forms/<strong>Fugue</strong>.htm)<br />

virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional.<br />

Mimesis, Bauru, v. 28,<br />

n. 2, p. 39-50, 2007.<br />

Considerando a dificuldade de definição de fuga, pretende-se neste<br />

estudo, preliminarmente, verificar a freqüência das definições de<br />

fuga, em ambas as vertentes, em uma amostra aleatória de fontes<br />

documentais em música.<br />

MATERiAl E MéTOdO<br />

Serão identificadas as definições de fuga encontradas em um acesso<br />

ao buscador Google com o termo composto: fugue definition. dos<br />

resultados obtidos serão analisados seqüencialmente até atingir uma<br />

amostra determinada aleatoriamente em 34 definições, descartadas<br />

as eventuais repetições. Serão anotados os tipos de sítios, separando-<br />

-os em acadêmicos ou leigos. Os sítios acadêmicos serão aqueles de<br />

Universidades e dicionários musicais conhecidos. os demais serão<br />

considerados como sítios leigos.<br />

As definições serão analisadas e separadas em dois grupos. No primeiro,<br />

aquelas definições que tendem a considerar a fuga como uma<br />

forma musical e no segundo aquelas que contemplam uma percepção<br />

como processo composicional. Dentre cada grupo, as definições serão<br />

classificadas como provenientes de sítios acadêmicos ou leigos.<br />

Apenas estatística descritiva será utilizada para verificação dos<br />

resultados.<br />

46


virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional. Mimesis,<br />

Bauru, v. 28, n. 2, p. 39-<br />

50, 2007.<br />

RESUlTAdOS<br />

A análise preliminar das definições selecionadas revela que a<br />

maior freqüência é para uma definição de fuga enquanto processo<br />

composicional e a distribuição das posições entre as definições<br />

em fontes acadêmicas ou leigas não apresenta diferença significante<br />

(FIGURA 1).<br />

frequência<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

11<br />

15<br />

5<br />

3<br />

0<br />

processo<br />

forma<br />

acadêmico 11 5<br />

leigo 15 3<br />

FIGURA 1 - Gráfico com as freqüências das posições das fontes sobre<br />

a definição de fuga.<br />

diSCUSSãO<br />

Das definições selecionadas, que se constituem apenas em uma<br />

amostra aleatória de um universo desconhecido, verifica-se que<br />

a maioria (76,8%) considera a fuga um processo composicional e<br />

apenas 23,52% optam por defini-la como uma forma musical. Até<br />

hoje se mantêm tendências divergentes sobre esta questão. Entretanto,<br />

concordando o resultado desse levantamento, as características<br />

da fuga lhe emprestam mais a condição de um processo do que<br />

de uma forma.<br />

de fato, a fuga pode ser considerada como o culmináculo do estudo<br />

do contraponto e um derivado direto do cânon e do ricercare.<br />

Trata-se, então, da abordagem mais elaborada de processos composicionais.<br />

Nesse sentido, o ilustre musicólogo inglês, Donald Francis<br />

Tovey concorda com esta posição, sugerindo que a fuga não é uma<br />

forma, mas um conjunto de procedimentos texturais uma vez que<br />

a decisão de um compositor em escrever uma fuga tem pouca ligação<br />

com uma forma musical, ou melhor dito, uma fórmula de amplas<br />

47


proporções, como seria o caso da sonata. revela que, mesmo em algumas<br />

fugas de Bach não se encontram obrigatoriamente todos os<br />

elementos constituintes de uma fuga. Cita o exemplo da fuga em dó<br />

maior no volume 1 e a fuga em ré menor no volume 2 do Cravo Bem<br />

Temperado, as quais não tem nenhum episódio. Uma sonata, por outro<br />

lado, a pesar da enorme flexibilidade na forma em que os detalhes<br />

podem ser realizados, impõe certos importantes pontos de referência<br />

tonal e, em certos períodos históricos, de referência temática.<br />

Mas as divergências continuam a existir. Em um texto sobre<br />

fuga (GROVEMUSIC, s.d.) discutes-se que, de fato, ainda não<br />

existe uma concordância entre os musicólogos no que tange a localização<br />

da fuga. Um fato que contribui para esta inexatidão seria<br />

que se coletássemos todas as obras chamadas de fuga e as comparássemos,<br />

nenhuma outra característica lhes seria comum além do<br />

contraponto imitativo no sentido amplo do termo. Por outro lado,<br />

desde o começo do século 19 as designações de gênero têm sido<br />

feitas largamente pela estrutura formal da proposta. Entretanto,<br />

esta estrutura formal não é uma característica facilmente aplicável<br />

para uma definição de fuga.<br />

Estas divergências ficam mais aparentes em um colóquio realizado<br />

pela McMaster University sobre Análise Musical. Na introdução,<br />

diz-se que uma definição de fuga é algo pouco concreto e que<br />

as análises de fugas levam a conclusão que escrever uma definição<br />

estável é, de fato, impossível. Isto fica mais claro se apreciarmos,<br />

dentro desde colóquio, as conclusões de Smith (2003) ao analisar o<br />

segundo movimento da Le Tombeau de Couperin de maurice ravel.<br />

Aqui o autor explora a eventual dificuldade de Ravel em utilizar um<br />

processo característico do barroco dentro de uma textura harmônica<br />

impressionista. O resultado final é perfeito nas mãos competentes<br />

desse compositor, pois ele teria respeitado a estrutura externa da<br />

fuga enquanto procedimento, digamos padronizados, mas introduzido<br />

sua visão pessoal, explorando o seu próprio processo composicional<br />

na arquitetura interna da obra. Entende-se, então, como estrutura<br />

externa o trabalho motívico e como arquitetura interna, os componentes<br />

tonais e harmônicos. Em uma visão mais detalhada do artigo,<br />

percebe-se que ravel, obedecendo aos ditames escolásticos da fuga,<br />

introduz sua rica palheta harmônica sem interferir no arcabouço padronizado<br />

de uma fuga – daí o sucesso do resultado final.<br />

Como refere Renwick (2003), no mesmo colóquio, a definição de<br />

fuga é problemática e, ainda que possa ser considerada como um<br />

processo composicional, ela inclui vários princípios formais. Para<br />

que uma obra possa ser considerada uma fuga, minimamente deve<br />

atender aos seguintes requisitos: estar baseada em uma ou mais<br />

virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional.<br />

Mimesis, Bauru, v. 28,<br />

n. 2, p. 39-50, 2007.<br />

48


virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional. Mimesis,<br />

Bauru, v. 28, n. 2, p. 39-<br />

50, 2007.<br />

idéias melódicas repetidas (sujeito), que apresente pelo menos uma<br />

vez a exposição do sujeito e que continue, se desenvolva alem da<br />

exposição em uma expressão musical completa.<br />

Considerando as definições encontradas na amostra e essas<br />

opiniões abalizadas, verifica-se que, de fato, fuga cabe melhor como<br />

definição de um processo composicional do que uma forma acabada.<br />

Um forte apelo para esta condição é a possibilidade do uso, da<br />

inserção do estilo fugato em uma larga proporção de obras, como<br />

o citado inicialmente na ópera de Ponchielli. Se considerarmos a<br />

sonata como uma forma acabada, verifica-se que o inverso não é<br />

verdadeiro, isto é, não há possibilidade de utilizar-se características<br />

de uma sonata, da forma sonata, como processo composicional,<br />

ainda que se possa utilizar a forma sonata, como um todo, como<br />

opção para a construção de um ato ou cena de ópera. de fato, se<br />

formos analisar as fugas existentes, não há um fator crítico, comum,<br />

amalgamador, que possa ser utilizado como referência para defini-la<br />

como uma forma musical.<br />

Por último, não se encontra diferença, no que tange às definições,<br />

sejam elas provenientes de sítios acadêmicos ou leigos. Apesar<br />

de, em muitos casos, estes últimos apresentarem simplificações<br />

intencionais, percebe-se que eles se baseiam em fontes acadêmicas.<br />

Desta forma, não é relevante discutir-se a freqüência dos tipos de<br />

definições entre sítios ditos leigos ou acadêmicos.<br />

COnClUSãO<br />

Considerando as limitações da metodologia utilizada, pode-se<br />

afirmar que, em sítios virtuais, a fuga é mais considerada como um<br />

processo composicional do que uma forma musical.<br />

49


REFERênCiAS<br />

DBG-MUSIKLEXICON – Friedrich Herzfel, editor. Deutch Buch-<br />

-Gemeinschaft, Berlin, 1968.<br />

DEPKO, T. Balancing Rectus and Inversus in J.S. Bach’s <strong>Fugue</strong> XV<br />

from WTC I. , 2003. disponível em http://www.humanities.mcmaster.ca/~mus701/macmacvol3/depko.html.<br />

Acesso em 8/10/2004.<br />

D<strong>OU</strong>RADO, H. A. Dicionário de termos e expressões da música.<br />

Editora 34. São Paulo, 2004.<br />

FIUZA,V.S. Análise musical. 2ª edição. Rio de Janeiro, 1953.<br />

HARVARD CONSICE DICTIONARY OF MUSIC. Compilado por<br />

Don Michael Randel. The Belkanp Press of Harvard University,<br />

Cambridge, 1998.<br />

GROVEMUSIC – <strong>Fugue</strong>. Disponível em http://www.kunstderfuge.<br />

com/theory/fugue.htm. Acesso em 7/10/2004.<br />

RENWICK, W. A Precis of Fugal Form. McMaster Music Analysis<br />

Colloquium.v.3: december,2003.disponível em http://www.humanities.mcmaster.ca/%7Emus701/macmacvol3/title.html<br />

SMITH, T.A. Anatomy of a <strong>Fugue</strong>. Disponível em http://jan.ucc.nau.<br />

edu/~tas3/fugueanatomy.html. Acessado em 9/10/2004.<br />

SMITH, T. An impressive fugue:Analysis of the <strong>Fugue</strong> from Le<br />

Tombeau de Couperin by Maurice Ravel. McMaster Music Analysis<br />

Colloquium.v.3: december, 2003. disponível em http://www.humanities.mcmaster.ca/%7Emus701/macmacvol3/title.html<br />

SPENCER, P. TEMKO, P.M. A practical approach to the study of<br />

form in music. Prentice Hall, New Jersey, 1988.<br />

THE NEW GROVE DICTIONARY OF MUSIC AND MUSICIANS.<br />

V.7.p:9-20. Edited by Stanley Sadie, 1980.<br />

virmond, marcos<br />

da Cunha Lopes. Fuga:<br />

forma ou processo<br />

composicional.<br />

Mimesis, Bauru, v. 28,<br />

n. 2, p. 39-50, 2007.<br />

50

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!