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Metas para Inflação - Carta Aberta - Banco Central do Brasil

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BANCO CENTRAL DO BRASIL<br />

Presi-2002/159 Brasília, 16 de Janeiro de 2002.<br />

Senhor Ministro:<br />

Como é de conhecimento de Vossa Excelência, o regime monetário de metas<br />

<strong>para</strong> a inflação foi formalmente instituí<strong>do</strong> no <strong>Brasil</strong> por meio <strong>do</strong> Decreto n o 3.088 de 21 de junho<br />

de 1999. Nesse diploma legal, foi estabeleci<strong>do</strong> que o Conselho Monetário Nacional (CMN)<br />

fixaria, até o dia 30 de junho daquele ano, as metas de inflação inicialmente <strong>para</strong> 1999, 2000 e<br />

2001 e, a cada ano, <strong>para</strong> o terceiro ano subseqüente. O parágrafo único <strong>do</strong> artigo 4 o <strong>do</strong> referi<strong>do</strong><br />

decreto estabelece, também, que em caso de não cumprimento da meta:<br />

“O Presidente <strong>do</strong> <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> divulgará publicamente as razões <strong>do</strong><br />

descumprimento, por meio de carta aberta ao Ministro de Esta<strong>do</strong> da Fazenda,<br />

que deverá conter:<br />

I - descrição detalhada das causas <strong>do</strong> descumprimento;<br />

II - providências <strong>para</strong> assegurar o retorno da inflação aos limites<br />

estabeleci<strong>do</strong>s; e<br />

III - o prazo no qual se espera que as providências produzam efeito.”<br />

2. Em 30/6/1999, o Conselho Monetário Nacional fixou como metas os valores de<br />

8,0%, 6,0% e 4,0% <strong>para</strong> a variação <strong>do</strong> IPCA <strong>para</strong> os anos de 1999, 2000 e 2001,<br />

respectivamente, assim como os intervalos de tolerância de 2 pontos percentuais acima e abaixo<br />

das metas centrais. Nos <strong>do</strong>is primeiros anos <strong>do</strong> programa, a meta foi cumprida, com a inflação<br />

medida pelo IPCA situan<strong>do</strong>-se em 8,9% e 6,0% em 1999 e 2000, respectivamente. Já em 2001 a<br />

inflação atingiu 7,7%, situan<strong>do</strong>-se, portanto, acima <strong>do</strong> valor de 6%, que corresponde ao intervalo<br />

superior da meta inflacionária. Portanto, estou envian<strong>do</strong> esta carta aberta a Vossa Excelência<br />

com a descrição das causas que levaram ao não cumprimento da meta, as providências a serem<br />

tomadas <strong>para</strong> que a inflação retorne aos limites estabeleci<strong>do</strong>s e o prazo no qual se espera que as<br />

providências tomadas surtam efeito.


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Causas <strong>do</strong> descumprimento da meta<br />

3. A inflação encerrou o ano acima da meta estabelecida em razão <strong>do</strong>s choques<br />

externos e internos que atingiram a economia brasileira em 2001. No âmbito externo, a<br />

desaceleração da economia mundial, o contágio proveniente da crise argentina e os ataques<br />

terroristas nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s produziram forte pressão de depreciação <strong>do</strong> real em 2001. Em<br />

outubro, a cotação <strong>do</strong> real atingiu o pico de R$ 2,84 por dólar, acumulan<strong>do</strong> uma depreciação de<br />

42,6% (ver Gráfico 1). A apreciação da taxa de câmbio nos últimos <strong>do</strong>is meses <strong>do</strong> ano permitiu<br />

que a depreciação média acumulada em 12 meses até dezembro fosse de 20,9%. Essa<br />

depreciação <strong>do</strong> real pressionou significativamente os preços internos.<br />

2,9<br />

Gráfico 1<br />

Taxa de Câmbio (R$/US$) em 2001<br />

2,7<br />

2,5<br />

2,3<br />

2,1<br />

1,9<br />

1,7<br />

1,5<br />

01/<br />

12/<br />

00<br />

15/<br />

12/<br />

00<br />

29/<br />

12/<br />

00<br />

12/<br />

01/<br />

01<br />

26/<br />

01/<br />

01<br />

09/<br />

02/<br />

01<br />

23/<br />

02/<br />

01<br />

09/<br />

03/<br />

01<br />

23/<br />

03/<br />

01<br />

06/<br />

04/<br />

01<br />

20/<br />

04/<br />

01<br />

04/<br />

05/<br />

01<br />

18/<br />

05/<br />

01<br />

01/<br />

06/<br />

01<br />

15/<br />

06/<br />

01<br />

29/<br />

06/<br />

01<br />

13/<br />

07/<br />

01<br />

27/<br />

07/<br />

01<br />

10/<br />

08/<br />

01<br />

24/<br />

08/<br />

01<br />

07/<br />

09/<br />

01<br />

21/<br />

09/<br />

01<br />

05/<br />

10/<br />

01<br />

19/<br />

10/<br />

01<br />

02/<br />

11/<br />

01<br />

16/<br />

11/<br />

01<br />

30/<br />

11/<br />

01<br />

14/<br />

12/<br />

01<br />

28/<br />

12/<br />

01<br />

4. No âmbito interno, destaca-se o crescimento acentua<strong>do</strong> <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s<br />

por contrato, principalmente das tarifas de energia elétrica. A inflação desses preços atingiu<br />

10,4%, valor superior ao da inflação <strong>do</strong>s preços livres de 6,5% e da inflação <strong>do</strong> IPCA de 7,7%<br />

(ver Gráfico 2). Entende-se por preços administra<strong>do</strong>s por contrato, aqueles preços cuja<br />

sensibilidade a fatores de oferta e demanda é menor, mas não necessariamente aqueles preços<br />

que são diretamente regula<strong>do</strong>s pelo governo. 1<br />

1 A definição de preços administra<strong>do</strong>s foi alterada pelo Copom em julho de 2001 <strong>para</strong> incluir um conjunto amplia<strong>do</strong><br />

de itens com peso de 30,7% no IPCA (referência dezembro de 2001). Esse conjunto de preços inclui itens como –<br />

pesos no IPCA em parênteses – eletricidade (3,87%), gasolina (4,43%), telefone fixo (3,02%), ônibus urbano<br />

(4,61%), plano de saúde (2,55%), água e esgoto (1,64%), gás de bujão (1,35%), entre outros.


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Gráfico 2<br />

Depreciação Cambial e Inflação em 2001<br />

Percentual no Ano<br />

25<br />

20<br />

20,9<br />

15<br />

10<br />

10,4<br />

7,7<br />

6,5<br />

5<br />

0<br />

Depreciação Cambial<br />

Inflação de Administra<strong>do</strong>s<br />

por Contrato<br />

Inflação <strong>do</strong> IPCA<br />

Inflação de Preços Livres<br />

5. A inflação em 2001 pode ser decomposta de forma a destacar os efeitos da<br />

depreciação cambial (inclusive indiretamente através de seu efeito sobre certos preços<br />

administra<strong>do</strong>s por contrato, como combustíveis e energia), da inflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s<br />

por contrato e da inércia inflacionária proveniente <strong>do</strong> ano de 2000 (ver Gráfico 3).<br />

Gráfico 3<br />

Contribuições <strong>para</strong> Inflação em 2001<br />

Percentual <strong>do</strong> Total e Variação Percentual no Ano (valores internos ao círculo)<br />

Inércia 2000<br />

10%<br />

0,7<br />

Inflação Livre<br />

Excluin<strong>do</strong> Repasse<br />

Cambial e Inércia<br />

2000<br />

28%<br />

2,4<br />

2,9<br />

Repasse Cambial<br />

38%<br />

1,7<br />

Inflação Adm.<br />

Excluin<strong>do</strong> Repasse<br />

Cambial e Inércia<br />

2000<br />

24%


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6. Estima-se que o efeito da depreciação cambial sobre a inflação em 2001<br />

representou 2,9 pontos percentuais. Este cálculo foi efetua<strong>do</strong> com base no modelo estrutural <strong>do</strong><br />

<strong>Banco</strong> <strong>Central</strong>, o qual considera que o repasse <strong>para</strong> a inflação <strong>do</strong>s preços livres, em percentual da<br />

depreciação ocorrida, é de 7% no trimestre e 12% no acumula<strong>do</strong> de um ano. O repasse cambial<br />

sobre os preços livres contribuiu com 1,7 ponto percentual da inflação e o repasse cambial sobre<br />

os preços administra<strong>do</strong>s com 1,2 ponto percentual <strong>para</strong> a inflação em 2001. O repasse cambial<br />

<strong>para</strong> os preços administra<strong>do</strong>s por contrato incorpora os aumentos <strong>do</strong>s deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> petróleo e <strong>do</strong>s<br />

preços cujos contratos são indexa<strong>do</strong>s aos IGPs.<br />

7. A contribuição <strong>para</strong> a inflação <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato<br />

foi de 1,7 ponto percentual, uma vez deduzi<strong>do</strong>s o efeito <strong>do</strong> repasse cambial e da inércia da<br />

inflação em 2000. A inércia inflacionária herdada <strong>do</strong> ano de 2000 contribuiu com 0,7 ponto<br />

percentual <strong>para</strong> o IPCA de 2001.<br />

8. Na medida em que tanto a depreciação cambial quanto a magnitude <strong>do</strong> aumento<br />

de preços administra<strong>do</strong>s por contrato em 2001 podem ser interpreta<strong>do</strong>s como eventos não<br />

recorrentes, é possível avaliar qual teria si<strong>do</strong> a inflação caso: (i) a depreciação cambial <strong>do</strong> ano de<br />

2001 não tivesse ocorri<strong>do</strong> na magnitude observada e (ii) a inflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por<br />

contrato se restringisse a 4%, o centro da meta de inflação <strong>para</strong> 2001.<br />

9. Caso a taxa de câmbio tivesse se manti<strong>do</strong> no patamar de R$ 1,96, observa<strong>do</strong> no 4º<br />

trimestre de 2000 (portanto assumin<strong>do</strong>-se uma depreciação zero), a inflação teria si<strong>do</strong> de 4,8%.<br />

O exercício deixa claro que apenas o efeito da depreciação cambial sobre a inflação em 2001<br />

explica aproximadamente 2,9 pontos percentuais da inflação.<br />

10. Caso a inflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato, uma vez deduzi<strong>do</strong> o<br />

repasse cambial e a inércia sobre estes preços, se restringisse a 4%, o centro da meta de 2001, a<br />

inflação <strong>do</strong> IPCA teria si<strong>do</strong> 0,5 ponto percentual menor. Considera-se este valor como o efeito<br />

<strong>do</strong> choque advin<strong>do</strong> exclusivamente <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato. Portanto, na ausência<br />

deste choque, a inflação em 2001 teria si<strong>do</strong> de 7,2% (7,7% menos 0,5%).<br />

11. Excluin<strong>do</strong>-se da inflação <strong>do</strong> IPCA tanto as variações <strong>do</strong> câmbio, quanto o choque<br />

de preços administra<strong>do</strong>s por contrato, a inflação <strong>do</strong> IPCA em 2001 seria de 4,3%, valor próximo<br />

ao centro da meta <strong>do</strong> ano.


BANCO CENTRAL DO BRASIL<br />

Atuação <strong>do</strong> <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> em 2001<br />

12. Em 2001, o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> atuou de maneira preventiva com o objetivo de reduzir<br />

os potenciais efeitos inflacionários das novas trajetórias da taxa de câmbio e <strong>do</strong>s preços<br />

administra<strong>do</strong>s por contrato – em particular, <strong>para</strong> evitar a propagação <strong>do</strong>s choques. Caso o <strong>Banco</strong><br />

<strong>Central</strong> não tivesse agi<strong>do</strong> de forma preventiva a inflação teria si<strong>do</strong> maior que a ocorrida e o<br />

ajuste no câmbio real – elemento <strong>do</strong>minante na melhora nas contas externas – teria ocorri<strong>do</strong> em<br />

um ambiente de grande incerteza. Nesse contexto, a reversão das expectativas que permitiu a<br />

apreciação cambial, a redução <strong>do</strong> prêmio de risco e a melhora nas perspectivas da economia<br />

brasileira poderiam não ter ocorri<strong>do</strong> em 2001.<br />

13. O conjunto de choques sofri<strong>do</strong> pela economia brasileira em 2001 gerou<br />

trajetórias da taxa de câmbio e <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s diferentes das previstas no final de<br />

2000. No Relatório de Inflação de dezembro de 2000, previa-se um reajuste de preços<br />

administra<strong>do</strong>s por contrato de 6,2% em 2001 e, com base em uma taxa de câmbio média de R$<br />

2,02, uma inflação de 3,9% <strong>para</strong> o ano. As projeções <strong>do</strong> <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> eram então corroboradas<br />

pelos analistas <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> as informações coletadas pelo Grupo de Comunicação<br />

Institucional (GCI) por ocasião da última pesquisa <strong>do</strong> ano de 2000, a previsão <strong>para</strong> a taxa de<br />

câmbio era de R$ 2,00 ao final de 2001 e <strong>para</strong> a inflação de 4,3% em 2001.<br />

14. A evolução inesperada da trajetória da taxa de câmbio em 2001 – valores médios<br />

em reais de 2,01, 2,29, 2,54 e 2,56 <strong>do</strong> 1 o ao 4 o trimestre e de 2,35 no ano – pode ser atribuída a<br />

uma percepção de piora no perfil <strong>do</strong> balanço de pagamentos <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. O agravamento da<br />

situação na Argentina e a perspectiva de um desaquecimento mundial mais intenso pressionaram<br />

a taxa de câmbio, dada a necessidade de ajuste maior nas contas externas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. A crise de<br />

energia provocou pressão adicional sobre a taxa de câmbio na medida em que aumentou a<br />

incerteza sobre a evolução futura da economia brasileira. Finalmente, a incerteza na economia<br />

mundial que se seguiu aos ataques terroristas aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s provocou uma nova rodada de<br />

depreciação cambial no <strong>Brasil</strong>.<br />

15. O aumento <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato foi também superior ao<br />

espera<strong>do</strong>. Entre as principais surpresas, deve-se registrar os aumentos da eletricidade<br />

(crescimento de 18% contra uma previsão de 9%) e o da gasolina (aumento de 7,2% ante uma<br />

previsão de queda de 8%). Esses aumentos acima <strong>do</strong> previsto decorreram <strong>do</strong>s reajustes<br />

contratuais acima da inflação <strong>para</strong> a eletricidade e, no caso da gasolina, <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>s preços <strong>do</strong><br />

petróleo em reais em vigor durante a maior parte <strong>do</strong> ano.


BANCO CENTRAL DO BRASIL<br />

16. Agin<strong>do</strong> de forma preventiva e antecipan<strong>do</strong> os efeitos <strong>do</strong>s choques, o Copom, em<br />

março, efetuou a primeira elevação de 50 pontos base na taxa de juros Selic. Nos meses<br />

subsequentes, o Copom promoveu quatro novas elevações na taxa de juros básica, que passou de<br />

15,75% em março <strong>para</strong> 19,00% em julho e manteve inalterada a taxa Selic até o final <strong>do</strong> ano (ver<br />

Tabela 1).<br />

17. O merca<strong>do</strong> de câmbio exibiu em alguns momentos trajetórias instáveis,<br />

especialmente após os atenta<strong>do</strong>s de setembro. Como resposta, o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> optou por<br />

complementar a política de juros com uma elevação <strong>do</strong> percentual <strong>do</strong> recolhimento compulsório<br />

sobre depósitos a prazo e com um perío<strong>do</strong> de intervenção no merca<strong>do</strong> cambial, com resulta<strong>do</strong>s<br />

satisfatórios.<br />

18. Em mea<strong>do</strong>s de 2001, o Copom julgou que a política monetária encontrava-se<br />

adequada <strong>para</strong> evitar a propagação <strong>do</strong>s choques e assegurar o cumprimento da meta de inflação<br />

em 2002. Com base nessa avaliação, o Copom manteve a taxa de juros estável em 19% ao longo<br />

<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> semestre de 2001. Esse é um ponto importante na aplicação <strong>do</strong> sistema de metas <strong>para</strong><br />

a inflação: o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> deve procurar administrar a política monetária sempre buscan<strong>do</strong> o<br />

cumprimento da meta 12 a 18 meses adiante. Dessa forma, evita-se a propagação secundária ou<br />

inercialização de choques de oferta ou de natureza temporária.<br />

19. Em virtude da intensidade e da abrangência <strong>do</strong> conjunto de choques que atingiram<br />

a economia brasileira, o custo - em termos de redução <strong>do</strong> nível de atividade econômica - de se<br />

evitar que os impactos diretos aumentassem a inflação em 2001 <strong>para</strong> acima <strong>do</strong> intervalo de<br />

tolerância da meta teria si<strong>do</strong> significativamente maior. Um esforço da política monetária <strong>para</strong><br />

manter a inflação dentro da meta em 2001 poderia ter leva<strong>do</strong> a inflação a situar-se<br />

consideravelmente abaixo da meta em 2002, dadas as defasagens existentes no canal de<br />

transmissão da política monetária.


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Tabela 1<br />

Decisões <strong>do</strong> Copom e Meta <strong>para</strong> a Taxa Selic<br />

Percentual por Ano<br />

mês/ano<br />

taxa<br />

dez 00 15,75<br />

jan 01 15,25<br />

fev 01 15,25<br />

mar 01 15,75<br />

abr 01 16,25<br />

mai 01 16,75<br />

jun 01 18,25<br />

jul 01 19,00<br />

ago 01 19,00<br />

set 01 19,00<br />

out 01 19,00<br />

nov 01 19,00<br />

dez 01 19,00<br />

Perspectivas <strong>para</strong> inflação e Política Monetária<br />

20. As medidas de política econômica em 2001 foram dimensionadas levan<strong>do</strong>-se em<br />

consideração a magnitude e abrangência <strong>do</strong>s choques que atingiram a economia brasileira. Para<br />

2002, considera-se baixa a probabilidade que esses choques se repitam na mesma magnitude. Ao<br />

contrário, espera-se uma queda da inflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e uma<br />

trajetória da taxa de câmbio que reflita a combinação de redução <strong>do</strong> risco <strong>Brasil</strong> e menores taxas<br />

de juros internacionais.<br />

21. Projeta-se um aumento de 5,2% (contribuição direta de 1,6 pontos percentuais<br />

<strong>para</strong> a inflação) <strong>para</strong> os preços administra<strong>do</strong>s por contrato em 2002, influencia<strong>do</strong>s pelos<br />

aumentos de 19% na eletricidade <strong>para</strong> o consumi<strong>do</strong>r residencial (Gráfico 4). A inflação<br />

projetada <strong>para</strong> os preços administra<strong>do</strong>s em 2002 situa-se acima <strong>do</strong> centro da meta de inflação de<br />

3,5% <strong>para</strong> este ano.


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Gráfico 4<br />

Inflação <strong>do</strong>s Preços Administra<strong>do</strong>s por Contrato em 1999-2003<br />

Percentual no Ano<br />

14<br />

12,7<br />

12<br />

10<br />

11,4<br />

10,4<br />

8<br />

6<br />

5,2<br />

4<br />

3,1<br />

2<br />

0<br />

1999* 2000 2001 2002 2003<br />

*/Definição e peso <strong>do</strong> conjunto de preços administra<strong>do</strong>s por contrato diferem <strong>do</strong>s<br />

utiliza<strong>do</strong>s nos anos seguintes<br />

22. A projeção de inflação menor <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato neste ano<br />

deve-se, parcialmente, ao reajuste <strong>do</strong>s deriva<strong>do</strong>s de petróleo. Estes devem sofrer queda<br />

importante nos seus preços devi<strong>do</strong> à apreciação <strong>do</strong> câmbio e à queda <strong>do</strong> preço <strong>do</strong> petróleo no<br />

merca<strong>do</strong> internacional. Ao contrário da fixação de preços pelo critério da média móvel,<br />

estabelecida pela fórmula <strong>para</strong>métrica em vigor em 2001, os preços a partir deste ano estão<br />

sen<strong>do</strong> determina<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>. Na medida em que seja assegurada a concorrência no<br />

comércio de varejo <strong>do</strong>s deriva<strong>do</strong>s de petróleo, os preços ao consumi<strong>do</strong>r deverão cair refletin<strong>do</strong> as<br />

reduções de preço no merca<strong>do</strong> atacadista.<br />

23. Como resulta<strong>do</strong> das trajetórias esperadas <strong>do</strong> câmbio e <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s<br />

por contrato, mais favoráveis <strong>do</strong> que as verificadas no ano passa<strong>do</strong>, a projeção <strong>para</strong> inflação em<br />

2002 é de 3,7%, próximo <strong>do</strong> centro da meta de 3,5%, supon<strong>do</strong> juros manti<strong>do</strong>s em 19% e taxa de<br />

câmbio estável no valor da data anterior à última reunião <strong>do</strong> Copom. Para 2003 a projeção é<br />

2,5%, abaixo <strong>do</strong> centro da meta de 3,25% (ver Gráfico 5).


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Gráfico 5<br />

Projeções <strong>para</strong> Inflação em 2002 e 2003<br />

6<br />

5<br />

5,2<br />

4<br />

3,7<br />

3<br />

3,1<br />

2,5<br />

2,9<br />

2,2<br />

2<br />

2002<br />

2003<br />

2002<br />

2003<br />

2002<br />

2003<br />

1<br />

0<br />

Inflação de Administra<strong>do</strong>s por<br />

Contrato<br />

Inflação <strong>do</strong> IPCA<br />

Inflação de Preços Livres<br />

24. Deve-se observar, conforme assinala<strong>do</strong> nos Relatórios de Inflação, que as<br />

projeções <strong>para</strong> inflação não são pontuais e, portanto, são melhor representadas pelos intervalos<br />

de confiança. Os intervalos de confiança calcula<strong>do</strong>s pelo modelo <strong>do</strong> <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> <strong>para</strong> as<br />

projeções da inflação <strong>do</strong> IPCA indicam a dispersão <strong>do</strong>s valores projeta<strong>do</strong>s em torno <strong>do</strong> valor<br />

central da projeção. A projeção <strong>para</strong> o ano de 3,7% que se com<strong>para</strong> à expectativa <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de<br />

4,7%, está no centro destes intervalos.<br />

Tabela 2<br />

Intervalos de Confiança <strong>para</strong> as Projeções de Inflação em 2002 e 2003<br />

Intervalo de Confiança<br />

50%<br />

30%<br />

Perío<strong>do</strong> 10%<br />

Projeção<br />

<strong>Central</strong><br />

2002:1 6,1 6,4 6,6 6,9 7,2 7,5 6,8<br />

2002:2 5,1 5,5 6,0 6,3 6,8 7,2 6,1<br />

2002:3 3,4 4,0 4,6 5,1 5,6 6,3 4,8<br />

2002:4 2,0 2,7 3,3 4,0 4,6 5,4 3,7<br />

2003:1 1,4 2,2 3,0 3,7 4,4 5,2 3,3<br />

2003:2 0,9 1,7 2,5 3,3 4,0 4,9 2,9<br />

2003:3 0,5 1,4 2,2 3,0 3,8 4,7 2,6<br />

2003:4 0,3 1,3 2,1 2,9 3,7 4,7 2,5


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25. A projeção de inflação <strong>do</strong> IPCA <strong>para</strong> 2002 incorpora <strong>do</strong>is efeitos sobre a inflação:<br />

i) uma inflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato projetada <strong>para</strong> 2002 de 5,2%<br />

(contribuição de 1,6 pontos percentuais <strong>para</strong> o IPCA), valor correspondente a 1,7<br />

ponto percentual acima <strong>do</strong> centro da meta inflacionária de 3,5% <strong>para</strong> 2002. Essa<br />

parte da inflação que excede a meta representa um choque de preços<br />

administra<strong>do</strong>s por contrato que, quan<strong>do</strong> se exclui o efeito <strong>do</strong> câmbio e da inércia<br />

inflacionária sobre estes preços, representa um impacto de 0,2 ponto percentual.<br />

ii)<br />

Em face de a inflação em 2001 ter se situa<strong>do</strong> 3,7 pontos percentuais acima <strong>do</strong><br />

centro da meta, a inflação em 2002 tende a ser maior. Essa parte da inércia da<br />

inflação de 2001 – relativa à parte da inflação <strong>do</strong> IPCA que excedeu a meta em<br />

2001 – está estimada em 0,7 ponto percentual. 2<br />

A ausência desses choques corresponderia a uma situação em que: i) a inflação <strong>do</strong>s<br />

preços administra<strong>do</strong>s seria igual ao centro da meta de 3,5% em 2002; ii) a inflação em 2001<br />

tivesse si<strong>do</strong> igual ao centro da meta de 4%.<br />

26. O aumento <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato, uma vez excluí<strong>do</strong>s os efeitos<br />

<strong>do</strong> câmbio e inércia, deve ser considera<strong>do</strong> um novo choque <strong>para</strong> a inflação em 2002. A inércia<br />

inflacionária herdada <strong>do</strong> ano de 2001 é a propagação <strong>do</strong>s choques sofri<strong>do</strong>s pela economia em<br />

2001, constituin<strong>do</strong>-se tipicamente um efeito secundário <strong>do</strong>s choques.<br />

27. A política monetária deve ser orientada no senti<strong>do</strong> de eliminar o efeito<br />

secundário <strong>do</strong>s choques sobre a inflação, combaten<strong>do</strong> os possíveis movimentos de propagação<br />

das elevações iniciais desses preços e, ao mesmo tempo, preservan<strong>do</strong> o realinhamento inicial <strong>do</strong>s<br />

preços relativos. A política monetária deve também buscar o perío<strong>do</strong> adequa<strong>do</strong> <strong>para</strong> que a<br />

inflação volte à trajetória de suas metas, o que depende da magnitude e <strong>do</strong> grau de persistência<br />

<strong>do</strong>s choques, poden<strong>do</strong> ir além <strong>do</strong> ano calendário. Desta forma evita-se uma volatilidade<br />

excessiva <strong>do</strong> nível de atividade.<br />

28. Em suma, choques de oferta ou de natureza temporária determinaram a elevação<br />

da inflação <strong>para</strong> acima <strong>do</strong> intervalo superior da meta. O custo em termos de nível de atividade de<br />

2 É importante ressaltar que o <strong>Brasil</strong> encontra-se num processo de desinflação, onde as metas <strong>para</strong> inflação, tal como<br />

definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) até 2003, são decrescentes. Como resulta<strong>do</strong>, a cada ano é<br />

necessário atuar sobre a inércia inflacionária, mesmo que no ano anterior a meta tenha si<strong>do</strong> alcançada.


BANCO CENTRAL DO BRASIL<br />

se evitar que os impactos diretos aumentassem a inflação <strong>para</strong> acima <strong>do</strong> limite superior da meta<br />

no ano calendário de 2001 teria si<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>. Na medida em que não se vislumbra a repetição<br />

<strong>do</strong>s choques na magnitude observada no ano passa<strong>do</strong>, a tendência da inflação é declinante. As<br />

projeções geradas pelas várias especificações <strong>do</strong> modelo estrutural apontam <strong>para</strong> a convergência<br />

da inflação à trajetória de suas metas. Como sempre, o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> estará atento a<br />

des<strong>do</strong>bramentos inespera<strong>do</strong>s da conjuntura internacional e nacional. O regime macroeconômico<br />

de metas <strong>para</strong> inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal demonstrou ser capaz de lidar<br />

com uma perversa seqüência de fortes choques sobre a economia, manten<strong>do</strong> a inflação e as<br />

expectativas sob controle e preservan<strong>do</strong> uma taxa de crescimento econômico próxima da média<br />

mundial.<br />

Respeitosamente,<br />

Arminio Fraga Neto<br />

Presidente<br />

A Sua Excelência o Senhor<br />

Pedro Sampaio Malan<br />

Ministro de Esta<strong>do</strong> da Fazenda<br />

Brasília – DF

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