NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE
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35 – <strong>NOS</strong> <strong>DOMÍNIOS</strong> <strong>DA</strong> MEDIUNI<strong>DA</strong>DE<br />
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Socorro Espiritual<br />
Sob a influência de Clementino, que o envolvia inteiramente, Silva<br />
levantara-se e dirigia-se ao comunicante com bondade:<br />
— Meu amigo, tenhamos calma e roguemos o amparo divino!<br />
— Estou doente, desesperado...<br />
— Sim, todos somos enfermos, mas não nos cabe perder a confiança.<br />
Somos filhos de Nosso Pai Celestial que é sempre pródigo de amor.<br />
— É padre<br />
— Não. Sou seu irmão.<br />
— Mentira. Nem o conheço...<br />
— Somos uma só família, à frente de Deus.<br />
O interlocutor conturbado riu-se irônico e acentuou:<br />
— Deve ser algum sacerdote fanatizado para conversar nestes termos!..<br />
A paciência do doutrinador sensibilizava-nos. Não recebia Libório, qual se<br />
fora defrontado por um habitante das sombras, suscetível de acordar-lhe qualquer<br />
impulso de curiosidade menos digna. Ainda mesmo descontando o valioso concurso<br />
do mentor que o acompanhava, Raul emitia de si mesmo sincera compaixão de<br />
mistura com inequívoco interesse paternal. Acolhia o hóspede sem estranheza ou<br />
irritação, como se o fizesse a um familiar que regressasse demente ao santuário<br />
doméstico. Talvez por essa razão o obsessor a seu turno se revelava menos<br />
agastadiço. Tão logo passou a entender-se, de algum modo, com o dirigente da casa,<br />
observamos que Eugênia se revigorava no esforço assistencial que lhe competia.<br />
— Não sou um ministro religioso — continuava Raul, imperturbável —,<br />
mas desejo me aceite como seu amigo.<br />
— Que irrisão! Não existem amigos quando a miséria está conosco... Dos<br />
companheiros que conheci, todos me abandonaram. Resta-me apenas Sara! Sara,<br />
que não deixarei...<br />
Fixou a expressão de quem se detinha na lembrança da pessoa a quem se<br />
referira e acrescentou com recalcada indignação:<br />
— Ignoro por que me entravam agora os passos. É inútil. Aliás, não sei a<br />
razão pela qual me contenho. Um homem provocado, qual me vejo, decerto deveria<br />
esbofeteá-los a todos... Afinal, que fazem aqui estes cavalheiros silenciosos e estas<br />
mulheres mudas Que pretendem de mim<br />
— Estamos em prece por sua paz — falou Silva, com inflexão de bondade e<br />
carinho.<br />
— Grande novidade! Que há de comum entre nós Devo-lhes algo<br />
— Pelo contrário — exclamou o interlocutor, convicto —, nós somos quem