Tratamento cirúrgico do hemangioma hepático ... - Onco Digestiva
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elato de caso<br />
resUMo<br />
<strong>Tratamento</strong> cirúrgico <strong>do</strong> <strong>hemangioma</strong> hepático <strong>do</strong>loroso<br />
Surgical treatment of painful hepatic <strong>hemangioma</strong><br />
Sergio Renato Pais Costa 1 , Manlio Basilio Speranzini 2 , Sergio Henrique Horta 3 , Marcelo José Miotto 4 ,<br />
Adriano Myake 5 , Alexandre Cruz Henriques 6<br />
Os <strong>hemangioma</strong>s são os tumores benignos mais frequentes <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong>.<br />
Ocorrem pre<strong>do</strong>minantemente em adultos jovens <strong>do</strong> sexo feminino.<br />
O diagnóstico é radiológico e a ressonância nuclear magnética de<br />
ab<strong>do</strong>me tem si<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> de maior acurácia. Em que pese sua elevada<br />
frequência, esses tumores são habitualmente oligossintomáticos e<br />
está indica<strong>do</strong> simplesmente seu seguimento com exames de imagem<br />
periódicos. O tratamento cirúrgico deve ser indica<strong>do</strong> com restrições.<br />
A ruptura tanto espontânea quanto traumática, síndrome de<br />
Kasabach-Merritt, dúvida diagnóstica ou <strong>do</strong>r têm si<strong>do</strong> as indicações<br />
mais habituais. Os autores descrevem um caso de <strong>hemangioma</strong><br />
sintomático (<strong>do</strong>loroso) <strong>do</strong> lobo hepático esquer<strong>do</strong> trata<strong>do</strong> de maneira<br />
bem sucedida por meio de uma hepatectomia esquerda.<br />
descritores: Neoplasias hepáticas/cirurgia; Hemangioma/cirurgia;<br />
Fíga<strong>do</strong>/patologia; Relatos de casos<br />
aBstract<br />
Hemangiomas are the most common hepatic benign lesions.<br />
They occur most frequently in young female patients. These<br />
tumors are generally found by radiological imaging and, of such<br />
examinations, nuclear magnetic resonance is the best diagnostic<br />
method. Although highly frequent, it presents few symptoms.<br />
Most cases are asymptomatic and thus must be followed up by<br />
means of periodic radiological examination. Surgical treatment should<br />
be restricted to unusual situations. Spontaneous or traumatic rupture,<br />
Kasabach-Merritt syndrome, uncertain diagnosis and pain have been<br />
the most common indications. The authors describe a successfully<br />
treated case of painful <strong>hemangioma</strong> of the left hepatic lobe submitted<br />
to left hepatectomy.<br />
einstein. 2009; 7(1 Pt 1): 88-90<br />
Keywords: Liver neoplasms/surgery; Hemangioma/surgery; Liver/<br />
pathology; Case reports<br />
INtrodUÇÃo<br />
Hemangiomas são tumores hepáticos benignos frequentes.<br />
Estima-se que cerca de 20% da população em<br />
geral apresente <strong>hemangioma</strong>s hepáticos. Esses tumores<br />
geralmente afetam mais as mulheres (80%) e adultos na<br />
quarta ou quinta década de vida (1) . A maioria <strong>do</strong>s casos<br />
são assintomáticos, mas alguns pacientes podem apresentar<br />
uma ampla variedade de cursos clínicos. Entre<br />
esses, embora raro, a ruptura espontânea ou traumática<br />
é a pior complicação severa, com alta mortalidade.<br />
Portanto, as recomendações encontradas na literatura<br />
são para que tais lesões sejam acompanhadas, mesmo<br />
quan<strong>do</strong> assintomáticas (2-3) .<br />
Exceto os casos de ruptura, existem várias indicações<br />
para a ressecção cirúrgica desses tumores. As mais<br />
frequentes são diagnóstico incerto, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal ou<br />
massa palpável, embora a cirurgia possa ser considerada<br />
no caso de febre, icterícia ou síndrome de Kasabach-<br />
Merritt (4-8) . Caso seja indica<strong>do</strong> tratamento cirúrgico,<br />
pode ser lobectomia formal ou enucleação da lesão.<br />
Parece que as duas abordagens apresentam resulta<strong>do</strong>s<br />
similares (8-10) .<br />
Os autores descrevem um caso de <strong>hemangioma</strong> cavernoso<br />
<strong>do</strong>loroso <strong>do</strong> lobo esquer<strong>do</strong>. O paciente queixava-se<br />
de <strong>do</strong>r difícil de controlar, mesmo com o uso<br />
Trabalho realiza<strong>do</strong> no Serviço de Cirurgia Geral <strong>do</strong> Hospital Escola na Disciplina de Cirurgia <strong>do</strong> Trato Digestório pela Faculdade de Medicina <strong>do</strong> ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.<br />
1 Cirurgião Assistente <strong>do</strong> Serviço de Cirurgia Geral <strong>do</strong> Hospital Escola da Faculdade de Medicina <strong>do</strong> ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.<br />
2 Professor Titular de Cirurgia <strong>do</strong> Aparelho Digestivo <strong>do</strong> Hospital Escola da Faculdade de Medicina <strong>do</strong> ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.<br />
3 Cirurgião Assistente <strong>do</strong> Serviço de Cirurgia Geral <strong>do</strong> Hospital Escola da Faculdade de Medicina <strong>do</strong> ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil<br />
4 Cirurgião Assistente <strong>do</strong> Serviço de Cirurgia Geral <strong>do</strong> Hospital Escola da Faculdade de Medicina <strong>do</strong> ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.<br />
5 Cirurgião Assistente <strong>do</strong> Serviço de Cirurgia Geral <strong>do</strong> Hospital Escola da Faculdade de Medicina <strong>do</strong> ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.<br />
6 Chefe <strong>do</strong> Serviço de Cirurgia Geral <strong>do</strong> Hospital Escola da Faculdade de Medicina <strong>do</strong> ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.<br />
Autor correspondente: Sergio Renato Pais Costa – Avenida Pacaembu, 1.400 – CEP 01308-000 – São Paulo (SP), Brasil – e-mail sergiorenatopais@terra.com.br<br />
Data de submissão: 8/3/2006 – Data de aceite: 16/3/2007
crônico de opiáceos. O paciente foi submeti<strong>do</strong> à hemihepatectomia<br />
esquerda, que evoluiu sem complicações<br />
pós-operatórias. Até a presente data, <strong>do</strong>is anos após a<br />
cirurgia, o paciente apresenta-se bem, com boa qualidade<br />
de vida, e não toma analgésicos.<br />
relato de caso<br />
Paciente branca de 48 anos, com queixa de <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal<br />
no quadrante direito há quatro anos. Durante os<br />
últimos seis meses desse perío<strong>do</strong>, a <strong>do</strong>r tornou-se mais<br />
intensa e ela começou a usar analgésicos fortes, como<br />
deriva<strong>do</strong>s de opiáceos, para o controle da <strong>do</strong>r. Ela não<br />
apresentava alterações físicas ou bioquímicas. O ultrassom<br />
ab<strong>do</strong>minal revelou uma lesão que media 5 x 5 cm,<br />
com origem no IV segmento <strong>do</strong> lobo hepático esquer<strong>do</strong>.<br />
A lesão era sólida e heterogênea com sombra acústica<br />
posterior.<br />
Os marca<strong>do</strong>res tumorais (AFP, CEA, CA19-9,<br />
CA 125) e as enzimas hepáticas estavam normais. Tanto a<br />
tomografia computa<strong>do</strong>rizada quanto a ressonância magnética<br />
nuclear <strong>do</strong> ab<strong>do</strong>me confirmaram a presença de<br />
um <strong>hemangioma</strong> cavernoso medin<strong>do</strong> 5 x 5 cm (Figura 1).<br />
A paciente foi submetida a diversos exames, entre eles<br />
colonoscopia, gastroscopia, ultrassom <strong>do</strong> trato urinário,<br />
e avaliação ortopédica (clinica e radiológica), sen<strong>do</strong> que<br />
os exames não apresentaram alterações. Como não havia<br />
<strong>do</strong>ença que explicasse a síndrome <strong>do</strong>lorosa, a paciente<br />
foi submetida a uma hemi-hepatectomia esquerda (Figuras<br />
2, 3, 4). Não houve complicações no pós-operatório.<br />
A paciente não recebeu transfusão de sangue e recebeu<br />
alta <strong>do</strong> hospital cinco dias após a cirurgia. O exame histológico<br />
confirmou o diagnóstico de <strong>hemangioma</strong> cavernoso.<br />
Até o presente, nove meses após o procedimento<br />
cirúrgico, a paciente apresenta-se assintomática e não<br />
está toman<strong>do</strong> analgésicos.<br />
Figura 1. Aspecto radiológico – ressonância magnética nuclear<br />
Figura 2. Dissecção <strong>do</strong> hilo hepático<br />
Figura 3. Hepatectomia esquerda – aspecto final<br />
<strong>Tratamento</strong> cirúrgico <strong>do</strong> <strong>hemangioma</strong> hepático <strong>do</strong>loroso 89<br />
Figura 4. Lobo esquer<strong>do</strong> (segmentos hepáticos II, III e IV)<br />
dIscUssÃo<br />
Hemangiomas hepáticos podem ser dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is<br />
grupos principais: o primeiro grupo, com o tipo mais<br />
frequente, abrange os <strong>hemangioma</strong>s capilares, que são<br />
einstein. 2009; 7(1 Pt 1):88-90
90 Costa SRP, Speranzini MB, Horta SH, Miotto MJ, Myake A, Henriques AC<br />
geralmente periféricos e pequenos (de 1 a 4 cm), e, às<br />
vezes são múltiplos. O segun<strong>do</strong> grupo abrange os <strong>hemangioma</strong>s<br />
cavernosos, que são mais raros e maiores<br />
que os <strong>hemangioma</strong>s capilares. Esses tumores podem<br />
apresentar dimensões extensas, e quan<strong>do</strong> atingem mais<br />
que 4 cm são chama<strong>do</strong>s de <strong>hemangioma</strong>s gigantes (1) .<br />
Estruturalmente, são compostos por lagos venosos<br />
envoltos por teci<strong>do</strong> en<strong>do</strong>telial, no qual o sangue circula<br />
vagarosamente. Esse tipo de tumor é uma <strong>do</strong>ença<br />
congênita que não apresenta associação maligna. Crescem<br />
por ectasia vascular e nunca por hiperplasia ou<br />
hipertrofia e quase sempre são assintomáticas com um<br />
curso in<strong>do</strong>lente. Às vezes podem apresentar complicações<br />
que incluem <strong>do</strong>r, massa ab<strong>do</strong>minal, febre ou compressão<br />
de estruturas vizinhas, como o sistema biliar e<br />
o estômago. Mais raramente pode ocorrer a síndrome<br />
de Kasabach-Merritt, caracterizada pelo consumo de<br />
plaquetas, de elementos de coagulação e até mesmo da<br />
fístula arteriovenosa (1-10) .<br />
Quan<strong>do</strong> há <strong>do</strong>r, ocorre na região epigástrica ou no<br />
quadrante direito, e foi associada à trombose interna e<br />
processos inflamatórios (7-9) . Embora a <strong>do</strong>r seja um critério<br />
para a indicação de cirurgia, deve-se tomar o cuida<strong>do</strong><br />
de descartar <strong>do</strong>enças <strong>do</strong>lorosas que podem confundir o<br />
diagnóstico etiológico (7-9) . Apesar <strong>do</strong>s <strong>hemangioma</strong>s de<br />
grandes dimensões apresentarem maior risco de ruptura<br />
(alta mortalidade), não existe indicação cirúrgica se<br />
forem assintomáticos ou não apresentaram complicações.<br />
Há controvérsia com relação ao critério de tamanho<br />
na definição de um <strong>hemangioma</strong> gigante. Alguns<br />
autores consideram o <strong>hemangioma</strong> gigante como sen<strong>do</strong><br />
maior que 4 cm, outros consideram 5 cm ou mais, e,<br />
mais recentemente, consideram 10 cm como sen<strong>do</strong> o<br />
ponto de corte (7-10) . O tratamento ideal para <strong>hemangioma</strong>s<br />
cavernosos é a extirpação. Tanto a hepatectomia<br />
formal quanto a enucleação são aceitas (4-10) . O <strong>hemangioma</strong><br />
possui uma cápsula fibrosa que pode facilitar a<br />
enucleação. Apesar dessa abordagem ser possível para<br />
lesões superficiais, não deve ser encorajada no caso de<br />
einstein. 2009; 7(1 Pt 1): 88-90<br />
lesões intra-hepáticas devi<strong>do</strong> ao grande sangramento. A<br />
maior vantagem da enucleação é a melhor conservação<br />
<strong>do</strong> parênquima hepático, que pode ser vital no caso de<br />
<strong>do</strong>enças benignas (7-9) . <strong>Tratamento</strong>s alternativos, como a<br />
embolização da artéria hepática ou até mesmo a radioterapia<br />
apresentaram resulta<strong>do</strong>s piores que a ressecção,<br />
e devem ser reserva<strong>do</strong>s para os pacientes que não são<br />
candidatos ou recusam cirurgia (4-10) .<br />
Desde que corretamente indicada, a ressecção hepática<br />
de casos <strong>do</strong>lorosos de <strong>hemangioma</strong> podem apresentar<br />
bons resulta<strong>do</strong>s. Portanto, pode ter um papel fundamental<br />
nos casos de <strong>do</strong>res que são difíceis de controlar.<br />
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