Cruziana Report 79 - Geopark Naturtejo
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Olá/Hola/Ciao/Bonjour/ Γειά σου/Hallo/God<br />
Dag/Salut/Zdravo/Hello/Ahoj/Helo/Helló/ Hei<br />
Geo-stories of our places and people: Tinalhas<br />
“Ei-los, os sobreiros sanguíneos, as oliveiras torcidas, troncos que pareciam músculos<br />
depois de dissecados, (…) e os ranchos escuros do entardecer, vindos dos montados,<br />
quando uma paz vasta, sem fim, fica suspensa, tal os fumos do Inverno, sobre a terra<br />
ofegante, e as abas retalhadas da Guardunha, cerco de uma solidão estagnada, sem<br />
medida, sem tempo,…). Assim nos é descrita a paisagem plana e intemporal de<br />
Tinalhas no prólogo do romance “Casa da Malta”, escrito em 1944 por Fernando<br />
Namora, um dos maiores escritores portugueses do séc. XX e figura incontornável da<br />
corrente neorrealista. A Casa da Malta, fonte de inspiração do médico caloiro e que se<br />
situava mesmo em frente ao seu consultório, ainda lá está, imortalizada num título de<br />
uma sua obra. Mas Tinalhas é mais: é a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, datada de<br />
1576, de que se destaca a Capela do Santíssimo, jóia da arquitectura, com altar muito<br />
raro; a Capela do Espírito Santo, com cruzeiros adossados à frontaria no séc. XVIII; é a<br />
capela de S. Pedro, datada do séc. XVII; são os 16 cruzeiros que se encontravam<br />
espalhados pelas entradas da aldeia, para impedir o acesso do demónio; são as casas<br />
brasonadas dos viscondes de Tinalhas e os solares nobres dos “brasileiros” bem<br />
sucedidos; o Rossio, o “salão de visitas” da aldeia, com grande número de edifícios<br />
seculares ainda bem conservados. Tinalhas é também as suas gentes, os Sumagreiros<br />
como eram assim chamados no tempo em que o tingimento de peles era uma<br />
actividade económica do lugar. Aqui nasceu Estevão Dias Cabral, matemático da<br />
segunda metade do séc. XVIII, que deixou obra da maior importância no campo da<br />
Hidráulica, inventando métodos de cálculo de velocidades de fluxo e de medição de<br />
caudais. De regresso a Portugal, membro da Real Academia das Ciências de Lisboa,<br />
Estevão Dias Cabral estudou os problemas relacionados com a regulação dos rios Tejo e<br />
Mondego, entre outros, no interesse da agricultura e da navegabilidade dos rios.<br />
Nestes planos do Ocreza, onde por 16,2km2, na sua vasta maioria, a diferença de cotas<br />
não ultrapassa os 22 m, em plena Meseta atravessada por uma drenagem quase<br />
insignificante, historicamente escassa, Tinalhas é hoje a morada para 585 pessoas.<br />
Localizada no Campo de Castelo Branco, prevalece ainda o pomar e o olival, em solos<br />
pobres onde a produção florestal vai ganhando terreno. Só as “lincheiras” de granito<br />
porfiroide irrompem do manto verde, de que se destaca a lendária Nave Redonda e a<br />
sua moura das passas de ouro. Mas a albufeira da Marateca não anda longe, pelo que o<br />
futuro passa pela produção biológica de hortofrutícolas, que possa de novo abastecer a<br />
região e ir mais além. A aposta pode estar em novos produtos, como em espécies<br />
autóctones bem adaptadas a estes solos pobres, caso do Sumagre, que possui grande<br />
aplicabilidade nas indústrias farmacêutica (os seus taninos hidrolisáveis são um<br />
bactericida e um inibidor da replicação do vírus HIV sida) e de tinturaria, assim como na<br />
gastronomia, muito apreciada como especiaria no Médio Oriente. A existência de uma<br />
forte componente de associativismo em Tinalhas, destacando-se no caso a Sumagre –<br />
Associação de Dinamização e Salvaguarda Patrimonial, pode alavancar a valorização<br />
histórica, ecológica, etnobotânica e nutricional, assim como a produção local da espécie<br />
Rhus coriaia para uso industrial.