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A perspectiva do Género no software de iniciação à leitura

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A <strong>perspectiva</strong> <strong>do</strong> Género <strong>no</strong> <strong>software</strong><br />

<strong>de</strong> iniciação à <strong>leitura</strong><br />

Madalena Melo – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora<br />

A promoção da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género, em educação e <strong>no</strong>utros <strong>do</strong>mínios da vida das socieda<strong>de</strong>s,<br />

constitui uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção da cidadania e, consequentemente, da <strong>de</strong>mocracia. Esta<br />

necessida<strong>de</strong> é evi<strong>de</strong>nciada em numerosas orientações internacionais que dão particular relevo ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s (nacionais e internacionais) que promovam, <strong>de</strong> forma activa e intencionalizada,<br />

essa igualda<strong>de</strong> (Alvarez, 2005).<br />

O contexto educativo afigura-se como um local privilegia<strong>do</strong> para a aprendizagem <strong>do</strong>s estereótipos<br />

<strong>de</strong> género. Com efeito, a escola e os seus “utensílios” (livros, manuais,…) têm si<strong>do</strong> veículos fundamentais<br />

para a reprodução <strong>de</strong>sses estereótipos, mesmo que <strong>de</strong> forma mais ou me<strong>no</strong>s subtil ou<br />

camuflada, como é evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> pelos estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s manuais escolares (Houel, 1999; Pinto, 1999).<br />

Esses estu<strong>do</strong>s mostram, como é referi<strong>do</strong> por Alvarez (2005, p. 17), que os instrumentos escolares<br />

têm um “peso particular na veiculação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> pessoa, homem e mulher, e <strong>do</strong> grau <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong> que estes encerram, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o valor simbólico que lhes está intrinsecamente<br />

associa<strong>do</strong>”.<br />

A implementação das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> informação e comunicação, <strong>no</strong>meadamente a comunicação<br />

electrónica, coloca <strong>no</strong>vos <strong>de</strong>safios ao estu<strong>do</strong>, não apenas da forma como crianças e jovens<br />

comunicam (e que linguagem utilizam), mas também <strong>de</strong> como veiculam os estereótipos <strong>de</strong> género<br />

(Swann, 2003). Neste contexto, os materiais multimédia assumem uma relevância particular para<br />

a análise da utilização da linguagem e imagens associadas ao género e da representação <strong>de</strong> femini<strong>no</strong><br />

e masculi<strong>no</strong>.<br />

Anuncia<strong>do</strong>s muitas vezes como “auxiliares” ou “complemento” das aprendizagens formais veiculadas<br />

pela escola, e apresentan<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s curriculares <strong>de</strong> forma lúdica, os programas <strong>de</strong><br />

<strong>software</strong> educativo aparecem como um instrumento que exerce uma forte atracção sobre as crianças<br />

em ida<strong>de</strong> escolar, consolidan<strong>do</strong>-se como ferramentas preciosas para a transmissão <strong>de</strong> um vasto<br />

conjunto <strong>de</strong> valores e <strong>no</strong>rmas sociais, entre as quais avultam, como é óbvio, as relacionadas com<br />

os estereótipos <strong>de</strong> género.<br />

Os programas <strong>de</strong> <strong>software</strong> educativo relaciona<strong>do</strong>s com a aprendizagem da <strong>leitura</strong> e escrita <strong>de</strong>sempenham,<br />

a este nível, um importante papel, já que representam muitas vezes o primeiro contacto<br />

formal das crianças com a palavra escrita e as suas diferentes co<strong>no</strong>tações. Nestas activida<strong>de</strong>s iniciais<br />

<strong>de</strong> aprendizagem da <strong>leitura</strong> e escrita, as palavras e frases e sua associação a imagens consubstanciam-se<br />

como fortes elementos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação das representações <strong>de</strong> masculi<strong>no</strong> e femini<strong>no</strong><br />

e <strong>do</strong> valor simbólico <strong>do</strong>s papéis associa<strong>do</strong>s ao género.<br />

E se a linguagem nunca é neutra, o seu valor simbólico adquire um peso particular quan<strong>do</strong> surge<br />

associada às primeiras aprendizagens <strong>de</strong> <strong>leitura</strong> e escrita, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> moldar <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva as<br />

representações e interpretações que a criança faz <strong>do</strong> seu meio envolvente.<br />

É neste contexto que se torna premente a análise e avaliação <strong>do</strong> <strong>software</strong> educativo relaciona<strong>do</strong><br />

com a aprendizagem da <strong>leitura</strong> e escrita, mormente na dimensão da promoção da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

género.<br />

71


Foram analisa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is CD-ROM (selecciona<strong>do</strong>s aleatoriamente) vocaciona<strong>do</strong>s para a promoção da <strong>leitura</strong><br />

e escrita, dirigi<strong>do</strong>s a um público-alvo situa<strong>do</strong> entre os 7 e 10 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ou crianças e jovens<br />

com necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> educação. Em ambos os CD analisa<strong>do</strong>s, as diferentes activida<strong>de</strong>s são<br />

apresentadas sob a forma <strong>de</strong> jogos/exercícios relaciona<strong>do</strong>s com a escrita <strong>de</strong> palavras: completar palavras<br />

com letras, completar frases, or<strong>de</strong>nar frases, etc.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a dimensão “Género”, para a análise <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>is programas foi utilizada a Grelha <strong>de</strong><br />

Avaliação <strong>de</strong> Software Educativo (2005) 1 , com as adaptações introduzidas <strong>no</strong> Guia <strong>do</strong>/a Avalia<strong>do</strong>r/a<br />

(2006) 2 . Foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mínios Linguístico (“Utilização <strong>de</strong> uma linguagem explicitamente<br />

inclusiva <strong>do</strong> femini<strong>no</strong> e <strong>do</strong> masculi<strong>no</strong>”) e Valores e Atitu<strong>de</strong>s (“Representação equilibrada <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong><br />

e masculi<strong>no</strong>”). Foram ainda tidas em conta as indicações para análise propostas em ambos os<br />

<strong>do</strong>cumentos.<br />

Passa-se agora à apresentação sumária <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s programas e à sua análise em termos da promoção<br />

da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género.<br />

CD-ROM 1<br />

a) Breve Apresentação<br />

O CD 1 (edita<strong>do</strong> em 2000), refere-se a um <strong>software</strong> que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o seu manual, segue<br />

as linhas programáticas <strong>do</strong> programa <strong>do</strong> 1. o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong> para<br />

que “<strong>de</strong> forma lúdica a aprendizagem se realize <strong>de</strong>safian<strong>do</strong> a natural curiosida<strong>de</strong> infantil”.<br />

O programa está estrutura<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is níveis <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, que se aplicam a cada um <strong>do</strong>s<br />

“Centros <strong>de</strong> Activida<strong>de</strong>” existentes: Máquina das Letras, Máquina das Sílabas, Máquina das<br />

Palavras, Máquina das Frases e Gran<strong>de</strong> Livro <strong>de</strong> Histórias.<br />

As personagens centrais da história são um burro (Eduar<strong>do</strong>) e um robot (Valentim), representa<strong>do</strong><br />

sob a forma <strong>de</strong> uma criança <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong>, que se <strong>de</strong>sloca <strong>de</strong> carrinho pelos vários Centros<br />

<strong>de</strong> Activida<strong>de</strong>, à medida que vai resolven<strong>do</strong> os exercícios. A realização, com sucesso, <strong>do</strong>s<br />

exercícios propostos nas diferentes “máquinas”, possibilita a obtenção <strong>de</strong> envelopes com vinhetas,<br />

que dão acesso ao “Gran<strong>de</strong> Livro das Histórias”. Aqui, aparece uma pequena história<br />

(tradicional) em banda <strong>de</strong>senhada, ten<strong>do</strong> o/a joga<strong>do</strong>r/a que or<strong>de</strong>nar as vinhetas obtidas nas<br />

“máquinas” anteriores. Após completar todas as activida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>-se ace<strong>de</strong>r a um jogo final<br />

<strong>de</strong> animação, que consiste em percorrer uma pista <strong>de</strong> corridas automóveis, tentan<strong>do</strong> “agarrar”<br />

as letras que faltam às palavras apresentadas.<br />

Em todas as activida<strong>de</strong>s propostas neste programa, as letras, palavras e frases são acompanhadas<br />

da apresentação <strong>de</strong> imagens ilustrativas.<br />

Tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à aprendizagem da escrita, muitas das palavras e imagens<br />

apresentadas referem-se a substantivos “neutros”, <strong>de</strong>signativos <strong>de</strong> animais, utensílios, alimentos,<br />

elementos da Natureza, etc. As personagens centrais <strong>do</strong> jogo são <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong><br />

(o robot Valentim e o burro Eduar<strong>do</strong> 3 ), bem como a generalida<strong>de</strong> das palavras/imagens, igualb)<br />

Análise e Avaliação<br />

72<br />

1 Cf. Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s SACAUSEF, n. o 1 (Utilização e Avaliação <strong>de</strong> Software Educativo).<br />

2 Cf. Guia <strong>do</strong>/a Avalia<strong>do</strong>r/a. Documento <strong>de</strong> Trabalho. SACAUSEF, Junho <strong>de</strong> 2006.<br />

3 Refira-se, a propósito, que o Eduar<strong>do</strong> é apresenta<strong>do</strong> como o burro mais esperto <strong>do</strong> Universo.


mente apresentadas <strong>no</strong> masculi<strong>no</strong>. É, por exemplo, o caso das palavras representativas <strong>de</strong> animais<br />

(“o gato”, “o leão”), não aparecen<strong>do</strong> nunca o seu femini<strong>no</strong>. De uma forma geral, as frases<br />

repetem este padrão (“O cãozinho <strong>do</strong> André é engraça<strong>do</strong>”). A frase “A Ana está sentada à<br />

sombra da árvore” aparece como excepção (a imagem que acompanha a frase representa uma<br />

menina, <strong>de</strong> calças, sentada à sombra <strong>de</strong> uma árvore). Este programa mostra-<strong>no</strong>s, assim, um<br />

universo quase exclusivamente masculi<strong>no</strong>, com uma marcada ausência <strong>do</strong> género femini<strong>no</strong>.<br />

Quanto a profissões e ocupações, a única profissão que aparece é representada por uma pessoa<br />

<strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong> (acompanhada da frase “O pa<strong>de</strong>iro faz muitos pães”), não existin<strong>do</strong><br />

nenhuma profissão exercida por alguém <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong>. A única vez em que aparece uma<br />

figura <strong>de</strong> mulher adulta é acompanhada por uma frase que remete para as funções <strong>do</strong>mésticas<br />

e para o exercício da função maternal: “A mãe das crianças comprou laranjas”. A imagem ilustrativa<br />

acompanha este padrão, apresentan<strong>do</strong> uma mulher (a mãe) acompanhada por uma<br />

menina e por um meni<strong>no</strong>; a criança <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong>, mais pequena que o rapaz, aparece<br />

agarrada às saias da mãe, enquanto que a criança <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong> surge caminhan<strong>do</strong><br />

(“solta” e livre) ao la<strong>do</strong> da mãe. As profissões e ocupações, embora raramente apresentadas,<br />

aparecem, pois, <strong>de</strong> uma forma estereotipada.<br />

As brinca<strong>de</strong>iras das crianças são apresentadas em duas imagens. A primeira imagem mostra<br />

três crianças a saltar à corda. Num primeiro momento, esta imagem é acompanhada da<br />

frase “Os meni<strong>no</strong>s saltam à corda”, indician<strong>do</strong>, portanto, uma tentativa <strong>de</strong> mostrar activida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sempenhadas por ambos os sexos e representação mais equilibrada <strong>do</strong> femini<strong>no</strong> e <strong>do</strong> masculi<strong>no</strong>.<br />

Mas num momento seguinte esta mesma imagem é acompanhada da frase “As meninas<br />

saltam à corda”, o que, para além <strong>de</strong> contrariar a mensagem anterior, parece vir a reforçar<br />

uma representação estereotipada das activida<strong>de</strong>s lúdicas das crianças – saltar à corda como<br />

uma brinca<strong>de</strong>ira tradicionalmente feminina. A segunda imagem relacionada com activida<strong>de</strong>s<br />

lúdicas infantis é acompanhada da frase “Os meni<strong>no</strong>s brincam” e apresenta <strong>do</strong>is rapazes a<br />

jogar berlin<strong>de</strong>, na rua. Mais uma vez, frase e imagem reforçam os estereótipos <strong>de</strong> género relaciona<strong>do</strong>s<br />

com brinca<strong>de</strong>iras infantis, mostran<strong>do</strong> activida<strong>de</strong>s diferenciadas para meni<strong>no</strong>s e meninas.<br />

As brinca<strong>de</strong>iras das crianças, embora <strong>de</strong> uma forma ligeiramente mais mitigada <strong>do</strong> que<br />

as profissões e activida<strong>de</strong>s, repetem um mo<strong>de</strong>lo semelhante.<br />

Como foi já referi<strong>do</strong> anteriormente, após completar todas as activida<strong>de</strong>s é possível ace<strong>de</strong>r a<br />

um jogo final <strong>de</strong> animação – conduzin<strong>do</strong> um automóvel <strong>de</strong> corrida, a personagem principal<br />

<strong>do</strong> programa procura “agarrar” as letras que faltam às palavras apresentadas. Mais uma vez,<br />

este jogo mostra-<strong>no</strong>s um universo exclusivamente masculi<strong>no</strong>, com a presença única <strong>do</strong> robot<br />

Valentim, numa activida<strong>de</strong> (corrida <strong>de</strong> automóveis) carregada <strong>de</strong> um simbolismo <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong><br />

(Martinho, 2004).<br />

Uma análise global <strong>de</strong>ste programa permite constatar que ele <strong>no</strong>s retrata um universo exclusivamente<br />

masculi<strong>no</strong>, que prima, não apenas pela quase ausência <strong>de</strong> figuras femininas, mas também<br />

pela apresentação estereotipada <strong>de</strong> personagens e situações. Para além <strong>de</strong> não evi<strong>de</strong>nciar<br />

preocupação com uma “intencionalida<strong>de</strong> na promoção da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género <strong>no</strong> conteú<strong>do</strong><br />

e/ou forma” ou tentativa <strong>de</strong> “ultrapassar estereótipos, <strong>no</strong>meadamente as características, activida<strong>de</strong>s,<br />

funções e profissões tradicionalmente associadas a cada sexo” 4 , este programa parece<br />

antes procurar promover uma imagem estereotipada das funções <strong>de</strong> género. Assim, a avaliação<br />

<strong>de</strong>ste <strong>software</strong> na dimensão <strong>de</strong> género seria claramente negativa.<br />

4 Cf. Grelha <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Software Educativo e Guia <strong>do</strong>/a Avalia<strong>do</strong>r/a.<br />

73


CD-ROM 2<br />

a) Breve Apresentação<br />

O CD 2 (data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2003) consiste num programa composto por 21 activida<strong>de</strong>s, que, <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com o seu manual, foram “<strong>de</strong>senvolvidas para a linguagem e literacia” e “<strong>de</strong>senhadas<br />

para o reconhecimento <strong>de</strong> letras e palavras”. O programa está organiza<strong>do</strong> em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> três<br />

grupos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s (“Letras”, “Construir Palavras” e “Palavras Completas”). O programa tem<br />

ainda um Editor, que permite adicionar <strong>no</strong>vas palavras e imagens às previamente existentes.<br />

Tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> letras e palavras, é composto por diferentes<br />

activida<strong>de</strong>s que procuram proporcionar essa tarefa, quer associan<strong>do</strong> letras/palavras a imagens,<br />

quer construin<strong>do</strong> palavras a partir <strong>de</strong> conjuntos <strong>de</strong> letras ou sílabas apresentadas. O som<br />

das letras e palavras po<strong>de</strong> ser ouvi<strong>do</strong> através da voz <strong>de</strong> um narra<strong>do</strong>r.<br />

Em todas as activida<strong>de</strong>s propostas, a apresentação <strong>de</strong> imagens joga um papel fundamental, na<br />

medida em que se verifica sempre a apresentação <strong>de</strong> uma imagem facilita<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> reconhecimento<br />

da letra/palavra ou da construção das palavras.<br />

b) Análise e Avaliação<br />

As palavras e imagens apresentadas referem-se genericamente a objectos <strong>de</strong> uso quotidia<strong>no</strong><br />

(bola, sala, mesa, mala, etc.), a animais (mocho, foca, leão,…) ou a alimentos (ananás, biscoito,<br />

bolo).<br />

Parece existir uma preocupação em não apresentar figuras ou situações ligadas a vivências<br />

humanas, com o recurso a palavras e imagens “neutras” em termos <strong>de</strong> género.<br />

Numa <strong>perspectiva</strong> <strong>de</strong> género, po<strong>de</strong>r-se-á dizer que este programa prima pela ausência quase<br />

absoluta <strong>de</strong> figuras humanas, femininas ou masculinas.<br />

De uma forma geral, não se po<strong>de</strong>rá dizer que este programa apresente visões estereotipadas<br />

<strong>de</strong> género ou uma linguagem não inclusiva. Mas também não se po<strong>de</strong>rá afirmar que este<br />

programa promove a igualda<strong>de</strong> entre homens e mulheres. Utilizan<strong>do</strong> a Grelha <strong>de</strong> Avaliação,<br />

a categoria “Não se aplica” seria, talvez, a mais a<strong>de</strong>quada para a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s itens.<br />

Mas, numa outra <strong>perspectiva</strong>, não será um pouco pobre um programa assim caracteriza<strong>do</strong>?<br />

Que promoção da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género po<strong>de</strong> ser proporcionada por um programa em que<br />

o Huma<strong>no</strong> prima pela ausência? Que visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é transmitida às crianças?<br />

A análise <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>is programas parece indiciar que estamos ainda longe <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira<br />

intencionalização da promoção da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género. Tratan<strong>do</strong>-se da análise <strong>de</strong> apenas<br />

<strong>do</strong>is programas <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> <strong>leitura</strong> e escrita, não se po<strong>de</strong>rá, obviamente, fazer quaisquer<br />

inferências sobre a situação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>software</strong> educativo. No entanto, parece evi<strong>de</strong>nte<br />

que se torna premente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma avaliação cuidada <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> materiais, <strong>de</strong><br />

forma a possibilitar que a a<strong>do</strong>pção <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira política <strong>de</strong> promoção da igualda<strong>de</strong><br />

entre homens e mulheres, consagrada neste A<strong>no</strong> Europeu <strong>de</strong> Igualda<strong>de</strong> para Tod@s, possa<br />

também passar pelos materiais pedagógicos.<br />

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Referências Bibliográficas<br />

Alvarez, T., (2005). A Dimensão da Igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Género <strong>no</strong> Projecto SACAUSEF. Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s SACAUSEF, 1 – Utilização<br />

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para a Igualda<strong>de</strong> e para os Direitos das Mulheres.<br />

Martinho, T. (2004). Viver jovem, morrer <strong>de</strong>pressa: masculinida<strong>de</strong> e condução <strong>de</strong> risco. In L. Amâncio (Org.), Apren<strong>de</strong>r<br />

a Ser Homem. Construin<strong>do</strong> masculinida<strong>de</strong>s (pp. 75-90). Lisboa: Livros Horizonte.<br />

Pinto, T. (1999). A avaliação <strong>de</strong> manuais numa <strong>perspectiva</strong> <strong>de</strong> género. In Castro, R. V. et al. (Org.), Manuais Escolares.<br />

Estatuto, Funções, História. Actas <strong>do</strong> I Encontro Internacional sobre Manuais Escolares (pp. 387-398). Braga: Universida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Minho.<br />

SACAUSEF (2005). Grelha <strong>de</strong> Avaliação. Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s SACAUSEF, 1 – Utilização e Avaliação <strong>de</strong> Software Educativo.<br />

SACAUSEF (2006). Guia <strong>do</strong>/a Avalia<strong>do</strong>r/a. Documento <strong>de</strong> Trabalho. SACAUSEF.<br />

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(Eds.), The Handbook of Language and Gen<strong>de</strong>r (pp. 624-644). Oxford: Blackwell Pub.<br />

75

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