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amarelo

poesia

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os intelectuais<br />

<strong>amarelo</strong>


Nasce o amador<br />

Assim como torturasse mosquito em mim. Assim como eu era mosquito, o som<br />

e o barulho. O calor a Pernambuco latejava na maçã esquerda do meu rosto<br />

feito um soco!<br />

Era dor no dente, no osso.<br />

O corpo se retraia em uma tortura que tremia o músculo vermelho da minha<br />

fronte e eu desejasse dormir por anos.<br />

Ele seguia casa-escola-cala, televisão para cama. Sem cola, nem bola, e nem as<br />

raspadinhas que se vendiam no estacionamento do colégio: automático!<br />

Dias sim, dias não, na vã em ida, ele olhava para cima e tentava imaginar qual<br />

seria o céu na volta.<br />

Era de lhe crescer imenso o quanto cada quando fosse um outro quando.<br />

Eu só ia pela volta!<br />

Foi uma vez, ou três, no ensaio da apresentação de final de ano quando ele<br />

percebeu que todos lhe ouviam.<br />

As orelhas, ai as orelhas! Eu abrisse a boca e elas sutilmente me olhavam, se<br />

balançavam e se viravam com uma força invadida. Eu calava!<br />

E ele na vã de volta, olhava ao céu e pensava como podia ser assim daquele<br />

jeito noitinha e voltar manhãzinha no outro dia. Fingia não se lembrar do som<br />

em assombro.<br />

Tinha medo primeiro do que se ama. De talvez não se voltar mais em manhã.<br />

Formigava ele entender por que ele cantava e lhe ouviam.<br />

Não ouve outro tempo em que ele não desse passo pelas orelhas.


Rebeijo<br />

Certo dia, Iago Sanchez despertou-se transmutado em enormes lábios cor de<br />

crepúsculo.<br />

Logo ao enxergar-se, pensou: Que vou falar a Bella?<br />

Batiam na porta, era ela, será?!<br />

A massa desforme <strong>amarelo</strong>-alaranjado escorregava pela cama. O lábio superior<br />

muito bem desenhado se enruborizava em esforços em esforços de se saltar<br />

da cama.<br />

A grande boca se abria em respiração ofegante. A porta batia, batiam na porta.<br />

Iago se arrastava em desespero verso a entrada. Contraía-se e relaxava em<br />

pulsação feito um verme unidirecional.<br />

Cheguei!<br />

Em pulos, alcança a maçaneta que se destrava.<br />

Se põe de pé em beijo e, em um tropeço desordenado, engole a Anabella!


Amarelão<br />

Era uma casa tal as cinzas ao redor salvo o Ipê que se apresentava em frente<br />

uma cor que queimasse. As crianças da rua adoravam a árvore! Tanto e tanto<br />

que passaram a chama-la de Amarelão.<br />

Acontecia que na casa morava um belho senhor que de muito precioso fosse<br />

com o vegetal, expulsava os garotos rua afora em qualquer tentativa de<br />

incursão ao Amarelão.<br />

Era um ódio e ódio tamanho! E os meninos em provocação gritavam aos<br />

pulmões: Seu Amarelão Bobão!<br />

Seu Amarelão não ligava contanto que ficassem longe!<br />

Ainda, suspeitavam pelo bairro que ele já estivesse caducando e o viam passar<br />

descalço para a padaria a comprar um saco de pão e três litros de leite.<br />

Diz que foi um dia, assim, que ele desistiu dos sapatos. Ao revés, o que não se<br />

desistia, entre ele e os meninos, era a guerra intensa pela propriedade da<br />

árvore.<br />

Noitezinha ou nas manhãs pequeninas, os bem dez subiam no Ipê, agarravam<br />

as flores, balançavam-se e vibravam assim a estrutura inteira. De muito em<br />

muito, que a trupe pelas outras ruas era conhecida como a dos amarelinhos.<br />

Um certo dia cedinho, Seu Amarelão decidiu de surpresa esperar os<br />

amarelinhos em um galho no topo da árvore. Se meteu pelos galhos acima e<br />

esperou quietinho.<br />

Ah, finalmente iria conseguir pegá-los. Tinha um sorrisão tão tão aberto de<br />

ponta a ponta. Tentava se conter, mas o susto que meticulosamente previa lhe<br />

enxia gargalhadas obliquas.<br />

Ao longe, já ouvia eles. Pestes! Ficava. Na espreita. Seguia ouvindo, ao longe.<br />

Cada vez mais, longe... Quando... Respirinhos... Passando... Longe. Silêncio!<br />

Olhava 360º no topo! O sol atravessava as flores e as fazia mais amarelas. Os<br />

galhos de brilhança e sombra que lhe traziam luz. Quente! Sereno, ele olhava<br />

de novo e de novo e de novo. Dentro de si!<br />

Como o velho e o novo brigavam maneiras de possuir a árvore se ambos<br />

querem o mesmo!


Inodoro<br />

Dei uma coçadinha no saco! Bastava três para começar a sair.<br />

A face, desligada a mórbida, recebia o jato quente e amarelado. Inerte!<br />

Estava desacordado!<br />

Sentia um orgasmo visceral que me levava até o medo. Como podia sentir<br />

aquilo tão inescrupulosamente?!<br />

As pontinhas dos dedos se agudavam e eu inclinava levemente as costas para<br />

trás forçando a pélvis e abrindo o esfíncter. Aumentava a pressão do jato a<br />

ponto de deformar a bochecha e pressioná-la contra o dente e o crânio.<br />

Esvaziei-me por completo e dei uma balançadinha de fim! Bastavam três para<br />

terminar.<br />

Acordei de súbito com o rosto quente e úmido. Vi minha própria figura com um<br />

jato apontado a minha cara.


Avião baixo o sol<br />

Desde que aprendeu a falar, o menino pedia:<br />

- Omibus... Onbus... Ombu... ‘nibus<br />

Ele queria era andar de ônibus!<br />

Mais pra frente, de uns 3 meses, ele se aperfeiçoava:<br />

- ônibus amalelo<br />

Já lhe era bem conhecido o ônibus <strong>amarelo</strong> da cidade que lhe puxava os olhos<br />

ao longe! Bem mais que os carros!<br />

A felicidade se abria quando conseguia realizar seu passeio favorito! Pedia<br />

mais! Chorava ao sair! Gritava sim!<br />

Todo dia, sua mãe lhe levava à creche e ele se deleitava a trajetória inteira pela<br />

janela.<br />

Passava a cidade do extremo sul ao centro na rota do 472 e na sequência a do<br />

113, do centro ao leste.<br />

Através dos dois ônibus, em movimento, ele apontava para li e para cá e se ria<br />

todinho no chocalho.<br />

Vum. Tsss. Vum. Tsss.<br />

A cabeça sobe para o céu azul, ele vê passar um avião branco no ar.<br />

Se encantava, o olho. Sem êxito, apontava para o céu e gritava:<br />

- Ônibus!!


Vida em sol e som maior<br />

Que o nascimento era amarelin... Gema de ovo! Era uma explosão solar de<br />

som. Conflito de existência que se desabre em um entendimento de ser sol e<br />

som.<br />

Dois complementos de existência em ideia multifacetada das características<br />

vitais e físicas do som e do sol.<br />

Uma abertura para uma discussão do eterno.<br />

Tudo passou quando duas garotinhas decidem brincar de perder um dos<br />

sentidos.<br />

- Eu vou deixar de ver!<br />

- E eu vou deixar de ouvir!<br />

E era tão difícil. Tão!<br />

Eu não enxergo, mesmo! Ou vejo preto!<br />

Confundia-se assim se o preto era mesmo não ver. Todas as cores assim<br />

somadas anulando-se. Virava o rosto de um lado para o outro e não via nada<br />

além do preto.<br />

Caminhasse? Tinha então um medo enorme do chão. O pé deslizava como um<br />

calafrio e com o vento em frente. Dava-lhe medo também no peito.<br />

Parada, olhava pra cima, a face queimante do sol. O preto se convertia em<br />

<strong>amarelo</strong> alaranjado e ela se sentia mais viva.<br />

Oi! Ahm? Eu, não ouço!<br />

Mentia-se. Ouvia-se ainda mais alto ainda que apertasse as orelhas o mais<br />

forte. Era como mergulhar na piscina, os sons todos distantes.<br />

Era mais, ela entrava tanto em si quanto tão capaz fosse de não ouvir. Parecia<br />

que todo silêncio provocado, lhe mostrava um som que se encontrava oculto.<br />

Ela ouvia o próprio coração e se sentia mais vida.<br />

Ao, nesse assombro, brincarem, paravam, olhavam-se e seguiam em sol e em<br />

som, cumplices.


Valsa Junina<br />

Ele a conheceu dançando! Levando graciosamente os braços e os corpos pelo<br />

ar em plena praça central enfeitada de enjunhos.<br />

Tinha sido um péssimo dia.<br />

Ele tinha passado longe, fugido! Bandido mesmo! De si!<br />

Não aguento, nem mais desculpas. Desagua não, que passa. Desbrave-se.<br />

Retire-se dessezinho zunido algoz.<br />

Repetia-se no espelho.<br />

Retiro-me além, então.<br />

Foi assim que, subitaminho, ele se liberdade! Caiu-se no samba quadrilha da<br />

praça central. Os olhos e os cabelos, movendo-se nos seus olhos.<br />

Ele a mirava em certeiros esquecimentos da tarde esfumaçada. Queria era<br />

abrir-se, esbanjar-se.<br />

Ah, afirmava pelos ventos alto: eu posso sentir!<br />

O que ele antes baixinho não achasse que podia.<br />

Seguia assim valsinha atrás dela em trespassadas.


Mindin<br />

Mindin era pequeninin!<br />

Mas isso dizia muito pouco dele. Olha, às vezes eu me pego lembrando e vou<br />

fantasiando muito.<br />

Não se importe se eu entrar aqui em uma divagação desvairada que não se<br />

encontre.<br />

Mindin era vendedor de flores na frente do cemitério da Consolação.<br />

Das tantas, a sua preferida era o Girassol, pese que não combine assim muito<br />

bem com a morte e seu ofício.<br />

Todo dia, ele fazia um desconto para Dona Carmen e lhe dava um vasin de<br />

violeta em graça. Ah, ele bem que sabia as flores de todos!<br />

Eram já os muitos anos no cemitério que no final não deixassem nenhum de<br />

seus clientes escolherem suas flores. Elas vinham conforme ele determinasse.<br />

Ele era girassol e indicava assim qual flor te pertencia!


Na gangorra<br />

Violeta, ela lia na sua identidade. Desgostava!<br />

Não tinha cor suficiente. Não levava tesão a ninguém!<br />

- Como você chama, gata?<br />

- Rosinha... (pausa)... (pausa)... Não quer subir comigo pra eu te dar prazer?<br />

Ora se não subisse. Fazia assim, a vida. Rodando.<br />

Queria era devorar. Tinha tanta e tanta fome. Que o nome ainda não se<br />

encaixava.<br />

Nem Violeta e nem Rosa! Era mais amazona! Era?<br />

Na realidade, alternava os dias em Rosas, Vitórias, Violetas, Margaridas e<br />

Hortênsias.<br />

Como você preferir? Eu sou!<br />

Era.<br />

Com Rafael, era assim do jeito que ele aspirasse amarela e vermelha. Pegavalhe<br />

bêbado pelo pescoço e lhe mordia, os dentes de leoa. Os olhos se enxiam a<br />

caça, revirava e revirava o pescoço.<br />

Ela não era flor, era uma semente no vento.


Romeu &<br />

No canto escuro de um pequeno quarto em um apartamento do centro de São<br />

Paulo, Romeu.<br />

Pensava no que havia. No feito. No que não foi evitado.<br />

Não tinha maneira, não havia como ter evitado. Ela... ela... pedia desde<br />

sempre.<br />

A poucos metros dali, nos fundos de uma lavanderia, entre as camisas, uma<br />

mancha de sangue já desbotado emoldurava o corpo de uma mulher desnuda.<br />

Havia três cortes esfacelados que pareciam ter vindo de golpes violentos.<br />

Uma sobre o peito abrindo-lhe a costela. Uma abertura na mandíbula lhe<br />

sugava do sorriso qualquer expressão humana. Um círculo vermelho coberto<br />

por um pano que lhe roubava toda inocência.<br />

Já está ai por dias. Insuportável cheiro. Não impedia o detetive de pensar em<br />

como deveria ser linda aquela figura mórbida quando em vida. Ele se exaltava.<br />

Novamente a machadinha.<br />

Pela manhã, Romeu saia do seu pequeno apartamento no centro, corria todos<br />

os dias em volta da Praça da Republica. Seguia direto sem se banhar para sua<br />

lavanderia.<br />

Na frente um letreiro quase caído apresentava: Lavanderia Matos. Era<br />

certamente estranha sua relação com a limpeza.<br />

Era muito sozinho, e foi sempre. Não dividia com ninguém sua identidade<br />

verdadeira e todo o esquema criminoso que se passava disfarçado por sua<br />

lavanderia.<br />

Sentava-se desde a manhã e organizava toda a distribuição de crack pela<br />

cidade de São Paulo.<br />

Seguia abaixando e levantando o retrato de sua sobrinha Tina no canto de sua<br />

mesa<br />

Ela mereceu


A farsa da manhã<br />

Cena 1:<br />

Entre vários travesseiros, um menino magro dos cabelos encaracolados se<br />

esconde. Ele pula e grita fortemente pelo ar para o seu cachorro já velho que<br />

se encontra em frente. O menino desembainha um pedaço de pau do armário<br />

e o cachorro tem um lenço <strong>amarelo</strong> amarrado no pescoço.<br />

Há! Vou te pegar sua grande gosma alienígena! Você não sobreviverá ao meu<br />

cajado!<br />

Ele segue atacando o ar em frente ao cachorro enquanto o animal cansado da<br />

cena se abaixa em desabafo.<br />

Ah vai Frederico, de novo não. Levanta!<br />

O cão nem. Continua com o semblante descontente e enfadado.<br />

Cena 2:<br />

Frederico se esconde debaixo dos travesseiros enquanto sua mãe lhe procura<br />

para pedir ajuda. Ela puxa o cobertor e grita com um espanador na mão.<br />

Ah, te encontrei né seu preguiçoso. Já levanta e vai comprar uma caixa de ovos<br />

pra mim!<br />

Frederico, inerte, finge não escutar, mas ao perceber que sua mãe não desiste<br />

em perturbá-lo batendo o pé de forma frenética, ele salta da cama segurando<br />

um travesseiro:<br />

Pare de me perturbar seu gigante monstruoso!<br />

O menino dá uma travesseirada em sua mãe e sai correndo para fora do<br />

quarto.<br />

Cena 3:<br />

O menino senta ao lado de fora do lado de Frederico que segue cansado.<br />

Ambos parecem extremamente enfadados com a vida.<br />

A mãe grita:<br />

Fredericos, venham já pra dentro!


Maldições imperiais<br />

Eterno retorno, eterno retorno. Passemos de lá, subamos. Sejamos luz e arco,<br />

em terra.<br />

Um certo grupo de seres catedráticos, timidamente entoavam em uníssono.<br />

…<br />

Seguia grave<br />

…<br />

Seguia baixo<br />

…<br />

Seguia<br />

…<br />

Pulava<br />

Ela virava noites de trabalho, se demitia.<br />

Chegava a sua própria casa, se sentia só.<br />

Saía e saia, cansava.<br />

Dormia e dormia, acordava.<br />

Era a maldição de todos de insatisfazer o coração, ela. Seguia no vento e surgia<br />

baixinho em todas as manhãs.<br />

Eterno retorno, eterno retorno. Passemos de lá, subamos. Sejamos luz e arco,<br />

em terra.


Estrada ‘fusca<br />

Se meus pés seguissem deslizantes. Apenas você soubesse.<br />

O quanto o tempo é quem desliza. O quanto o retrovisor agora me mostra um<br />

mar sem fim.<br />

À frente, a luz de um dia se acabando me impede de entender para onde.<br />

Você sabe, não é mesmo? Ou pelo menos desconfia.<br />

Mas você dorme agora e nem se preocupa. Talvez dormir e não saber sejam<br />

equivalentes.<br />

Eu queria que você estivesse desperta agora dentro em mim pra entender<br />

dentro.<br />

Pra onde eu te levo e aonde vamos.<br />

O horizonte que se apaga com a caída da luz e só ao longe, um catamarã e os<br />

pescadores.<br />

E esse velho carro, quantas anda em ferrugem. Essa brisa, tanto mais.<br />

A pequena balsa atravessava o estreito entre a ilha e o continente.

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