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as competências gerenciais em contextos de mudança organizacional

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FUNDAÇÃO PEDRO LEOPOLDO<br />

Mestrado Profissional <strong>em</strong> Administração<br />

AS COMPETÊNCIAS GERENCIAIS EM CONTEXTOS DE<br />

MUDANÇA ORGANIZACIONAL<br />

Tatiana Weiss Ribeiro<br />

Pedro Leopoldo<br />

2011


Tatiana Weiss Ribeiro<br />

AS COMPETÊNCIAS GERENCIAIS EM CONTEXTOS DE<br />

MUDANÇA ORGANIZACIONAL<br />

Dissertação apresentada no Curso <strong>de</strong><br />

Mestrado da Fundação Pedro Leopoldo,<br />

como requisito parcial à obtenção do título<br />

<strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong> Administração.<br />

Área <strong>de</strong> Concentração: Gestão da<br />

Inovação e Competitivida<strong>de</strong><br />

Linha <strong>de</strong> Pesquisa: Inovação e<br />

Organizações<br />

Orientadora: Profa. Dra. Maria Celeste<br />

Reis Lobo <strong>de</strong> V<strong>as</strong>concelos<br />

Pedro Leopoldo<br />

2011


AGRADECIMENTOS<br />

É comum comparar uma dissertação <strong>de</strong> mestrado a uma gestação, e o dia da<br />

<strong>de</strong>fesa à data do parto. No c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>ste trabalho, posso afirmar que foi uma gestação<br />

g<strong>em</strong>elar, com dat<strong>as</strong> <strong>de</strong> partos separad<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> por algum<strong>as</strong> s<strong>em</strong>an<strong>as</strong>. Encerrando<br />

essa longa jornada <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ao mestrado, inicio outra jornada<br />

<strong>de</strong>nominada maternida<strong>de</strong>.<br />

Por essa razão, meu primeiro e mais especial agra<strong>de</strong>cimento é a uma pessoa que<br />

ainda não n<strong>as</strong>ceu, que neste momento ainda está sendo gestada. Agra<strong>de</strong>ço<br />

humild<strong>em</strong>ente a minha filha Laura, que me acompanhou forçosamente por<br />

exaustivos di<strong>as</strong> e noites com um único objetivo: ver o fim <strong>de</strong>sta dissertação.<br />

M<strong>as</strong> essa trilha também contou com outros viajantes, e a eles <strong>de</strong>dico meu sincero<br />

agra<strong>de</strong>cimento. Aos meus pais, Lúcia e Paulo, que s<strong>em</strong>pre me incentivaram a<br />

estudar e a não <strong>de</strong>sistir, mesmo nos momentos <strong>em</strong> que consi<strong>de</strong>rei os obstáculos<br />

intransponíveis. Aos meus irmãos, Letícia, Paula e Octávio, que, mesmo <strong>de</strong> longe,<br />

permanec<strong>em</strong> minh<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> vida e gran<strong>de</strong>s ex<strong>em</strong>plos a ser<strong>em</strong> seguidos. Às<br />

minha amig<strong>as</strong> mais especiais, Thirzá, Mariana e Fernanda, que viv<strong>em</strong> no meu<br />

coração e sab<strong>em</strong> melhor que ninguém o significado do esforço para concluir um<br />

mestrado – pois já viveram isso na carne.<br />

Também agra<strong>de</strong>ço a minha orientadora, Profa. Dra. Maria Celeste Reis Lobo <strong>de</strong><br />

V<strong>as</strong>concelos, que conseguiu me colocar no prumo e me ajudar na tarefa hercúlea <strong>de</strong><br />

organizar uma dissertação ao longo <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z. Professora, você me inspirou<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, obrigada.<br />

À equipe da Fundação Dom Cabral, <strong>em</strong> especial ao amigo Paulo Emílio L. Carreiro,<br />

s<strong>em</strong>pre disposto a conversar e a me ajudar <strong>em</strong> tudo o que foi preciso <strong>em</strong> relação ao<br />

trabalho. E às <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> participantes <strong>de</strong>sta pesquisa e aos seus executivos, que<br />

me abriram <strong>as</strong> port<strong>as</strong> e me permitiram estudar su<strong>as</strong> organizações <strong>em</strong> momentos tão<br />

únicos <strong>em</strong> su<strong>as</strong> históri<strong>as</strong>.


Finalmente, ao meu maior apoio e sustentação: meu marido e companheiro Bruno.<br />

De todos que tiveram parte nessa jornada, foi ele qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>u maior sentido a todos os<br />

meus esforços. Não sei se um dia serei capaz <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a sua presença <strong>em</strong><br />

minha vida e <strong>as</strong> su<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> constant<strong>em</strong>ente repetid<strong>as</strong>: vai dar tudo certo...


Nada do que foi será<br />

De novo do jeito que já foi um dia<br />

Tudo p<strong>as</strong>sa, tudo s<strong>em</strong>pre p<strong>as</strong>sará<br />

A vida v<strong>em</strong> <strong>em</strong> ond<strong>as</strong>, como um mar<br />

Num indo e vindo infinito<br />

Tudo o que se vê não é<br />

Igual ao que a gente viu há um segundo<br />

Tudo muda o t<strong>em</strong>po todo<br />

No mundo<br />

Não adianta fugir<br />

N<strong>em</strong> mentir pra si mesmo<br />

Agora<br />

Há tanta vida lá fora<br />

Aqui <strong>de</strong>ntro s<strong>em</strong>pre<br />

Como uma onda no mar<br />

(Como uma Onda – Nelson Motta e Lulu Santos)


RESUMO<br />

A presente dissertação teve como objetivos i<strong>de</strong>ntificar e analisar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. Visou, também, caracterizar os diferentes cenários <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> experienciados n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como investigar <strong>de</strong><br />

que forma seus gestores estão <strong>de</strong>senvolvendo <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong><br />

facilitador<strong>as</strong> aos processos <strong>de</strong> mudança. Tendo <strong>em</strong> vista tais objetivos, realizou-se<br />

um estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os múltiplos, utilizando-se como instrumentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados a<br />

pesquisa documental e uma entrevista s<strong>em</strong>iestruturada junto a quatro gestores d<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> Alpha Engenharia e Beta-Gama S.A., amb<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> e situad<strong>as</strong> <strong>em</strong> Belo<br />

Horizonte-MG. Como referencial teórico, vale salientar a utilização do conceito e <strong>as</strong><br />

tipologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> propostos por Nadler, Shaw, Walton e cols.<br />

(1995), além da abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> competência <strong>de</strong> Le Boterf (1995), os quais se<br />

constituíram marcos teóricos para a i<strong>de</strong>ntificação e análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

primordialmente requerid<strong>as</strong> dos gestores <strong>em</strong> diferentes processos <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. Como resultados, foram i<strong>de</strong>ntificados n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> dois diferentes<br />

tipos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>, sendo o da Alpha Engenharia caracterizado como<br />

uma mudança do tipo incr<strong>em</strong>ental/contínua, enquanto o da Beta-Gama S.A. como<br />

uma mudança do tipo <strong>de</strong>scontínua. Nesses <strong>contextos</strong>, os gestores d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

apontaram <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong> aos processos <strong>de</strong><br />

mudança <strong>organizacional</strong>, entre <strong>as</strong> quais se <strong>de</strong>stacaram: ser integrador, agregador e<br />

<strong>de</strong>senvolvedor <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>, ser flexível, ter capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação, ter foco <strong>em</strong><br />

resultados e ter conhecimentos técnicos da função. Em contrapartida, foram<br />

verificad<strong>as</strong> pouc<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

facilitador<strong>as</strong>, seja por parte da <strong>em</strong>presa ou do próprio gestor. Por fim, foi utilizado um<br />

instrumento compl<strong>em</strong>entar à entrevista adaptado <strong>de</strong> Le Boterf (2003), no qual os<br />

respon<strong>de</strong>ntes priorizaram os saberes necessários para um gestor <strong>em</strong> contexto <strong>de</strong><br />

mudança. De modo geral, os gestores d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> i<strong>de</strong>ntificaram o saber agir<br />

e reagir com pertinência e o saber combinar recursos e mobilizá-los <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

contexto como essencialmente requeridos para um gestor <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. Entretanto, no c<strong>as</strong>o da Alpha Engenharia, foi também selecionado o<br />

saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r, enquanto na Beta-Gama S.A. foi selecionado<br />

o saber envolver-se como prioritários aos gestores. Ainda que tenham existido os<br />

pontos <strong>de</strong> divergência citados, não é possível concluir que o fato tenha se dado <strong>em</strong><br />

razão dos diferentes tipos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>. Mesmo <strong>em</strong><br />

havendo indícios na literatura e na prática da pesquisa que apontam para uma<br />

exigência mais elevada d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> <strong>em</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> do tipo <strong>de</strong>scontínua, consi<strong>de</strong>ra-se necessária a ampliação da<br />

pesquisa para a obtenção <strong>de</strong> resultados mais conclusivos.<br />

Palavr<strong>as</strong>-chave: Mudança Organizacional. Competência. Competênci<strong>as</strong> Gerenciais.<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> Competênci<strong>as</strong>.


ABSTRACT<br />

This paper intends to i<strong>de</strong>ntify and analyze the managerial competencies required<br />

from private company managers in contexts of organizational change. It also intends<br />

to characterize the different scenarios of organizational change experienced at the<br />

companies that were part of the research <strong>as</strong> well <strong>as</strong> investigate in what ways the<br />

managers of these companies are <strong>de</strong>veloping the competencies thought of <strong>as</strong><br />

facilitating change processes. With these aims in mind, a multiple c<strong>as</strong>e study w<strong>as</strong><br />

conducted on the b<strong>as</strong>is of data collected through a document survey and a s<strong>em</strong>istructured<br />

interview with four managers of Alpha Engenharia and Beta-Gama S.A.,<br />

private companies headquartered in Belo Horizonte, Min<strong>as</strong> Gerais State. As to our<br />

theoretical b<strong>as</strong>is, it should be highlighted the use of the concept and typologies of<br />

organizational change advanced by Nadler, Shaw, Walton and <strong>as</strong>sociates (1995),<br />

and Le Boterf’s (1995) approach to competencies, which provi<strong>de</strong>d theoretical<br />

gui<strong>de</strong>lines for the i<strong>de</strong>ntification and analysis of the primary competencies required<br />

from managers in the various processes of organizational change. As a result, two<br />

different kinds of organizational change were i<strong>de</strong>ntified – an incr<strong>em</strong>ental/continuous<br />

process at Alpha Engenharia and a discontinuous process at Beta-Gama S.A. In<br />

these contexts, company managers indicated the managerial competencies regar<strong>de</strong>d<br />

<strong>as</strong> facilitating organizational change, with special <strong>em</strong>ph<strong>as</strong>is on the following: the<br />

ability to integrate, aggregate, and <strong>de</strong>velop people, flexibility, negotiation capabilities,<br />

a focus on results, and a technical knowledge of his/her work. However, it w<strong>as</strong><br />

noticed that not many initiatives were taken to <strong>de</strong>velop these facilitating<br />

competencies either by the companies or the managers. Finally, <strong>as</strong> an additional<br />

tool, an interview w<strong>as</strong> adapted from Le Boterf (2003) in which respon<strong>de</strong>nts stated the<br />

primary kinds of knowledge required from managers in a context of change.<br />

Generally, knowing how to act and respond in a pertinent way and knowing how to<br />

combine and activate resources within a context were consi<strong>de</strong>red by managers of<br />

both companies <strong>as</strong> essential requir<strong>em</strong>ents for managers in an organizational change<br />

process. However, knowing how to learn and learning how to learn were also<br />

mentioned by managers at Alpha Engenharia, while knowing how to get involved w<strong>as</strong><br />

also consi<strong>de</strong>red a priority at Beta-Gama S.A. Notwithstanding these instances of<br />

disagre<strong>em</strong>ent, one cannot say they were <strong>de</strong>termined by the different kinds of<br />

organizational change these companies were un<strong>de</strong>rgoing. Although the literature and<br />

research can both provi<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nce for managerial competencies <strong>as</strong> a major<br />

requir<strong>em</strong>ent in a discontinuous organizational change, the research should be<br />

exten<strong>de</strong>d in or<strong>de</strong>r to provi<strong>de</strong> conclusive results.<br />

Keywords: Organizational Change. Competency. Managerial Competencies.<br />

Competencies Development.


LISTA DE FIGURAS<br />

FIGURA 1 - Mudança incr<strong>em</strong>ental x <strong>de</strong>scontínua .....................................................22<br />

FIGURA 2 - Conceitos sobre competência................................................................27


LISTA DE QUADROS<br />

QUADRO 1 Característic<strong>as</strong> fundamentais d<strong>as</strong> organizações ...................................19<br />

QUADRO 2 Característic<strong>as</strong> do facilitador.................................................................23<br />

QUADRO 3 Relação entre intento estratégico, competênci<strong>as</strong> organizacionais e<br />

competênci<strong>as</strong> individuais...........................................................................................30<br />

QUADRO 4 Diferenç<strong>as</strong> <strong>de</strong> abordagens....................................................................32<br />

QUADRO 5 Saberes esperados do profissional.......................................................33<br />

QUADRO 5 Saberes esperados do profissional.......................................................34<br />

QUADRO 6 Competênci<strong>as</strong> do profissional...............................................................35<br />

QUADRO 7 Cl<strong>as</strong>sificação dos saberes e su<strong>as</strong> funções ...........................................37<br />

QUADRO 8 Competênci<strong>as</strong> para novos papéis <strong>gerenciais</strong> .......................................38<br />

QUADRO 9 Processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> ..................................41<br />

QUADRO 10 Estrutura da apresentação e discussão dos resultados da pesquisa .55<br />

QUADRO 11 Resultado da priorização dos saberes - Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio<br />

ao Negócio da Alpha Engenharia..............................................................................92<br />

QUADRO 12 Resultado da priorização dos saberes - Diretor Executivo da Alpha<br />

Engenharia................................................................................................................93<br />

QUADRO 13 Resultado da priorização dos saberes - Diretor Executivo da Beta-<br />

Gama S.A..................................................................................................................97<br />

QUADRO 14 Resultado da priorização dos saberes - Assessora da Diretoria da<br />

Beta-Gama S.A. ........................................................................................................98


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12<br />

1.1 Justificativa........................................................................................................15<br />

1.2 Objetivos............................................................................................................16<br />

2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................18<br />

2.1 As mudanç<strong>as</strong> no panorama <strong>organizacional</strong>....................................................19<br />

2.1.1 A tipologia d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais.................................................21<br />

2.2 O gestor no contexto <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>.................................................................23<br />

2.3 O estudo d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> organizacionais, individuais e <strong>gerenciais</strong>.......26<br />

2.3.1 Competênci<strong>as</strong> organizacionais estratégic<strong>as</strong>...............................................28<br />

2.3.2 Competênci<strong>as</strong> individuais .............................................................................31<br />

2.3.3 Competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> ..............................................................................36<br />

2.3.4 O <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> ........................................................41<br />

2.3.5 Contribuições do referencial teórico para a pesquisa <strong>de</strong> campo ..............44<br />

3 METODOLOGIA ....................................................................................................47<br />

3.1 Caracterização da pesquisa .............................................................................47<br />

3.2 Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação ................................................48<br />

3.3 Coleta <strong>de</strong> dados.................................................................................................50<br />

3.4 Estratégia <strong>de</strong> análise dos dados......................................................................53<br />

3.5 Limitações do método ......................................................................................55<br />

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................................56<br />

4.1 Caracterização d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> ...................................................56<br />

4.1.1 A Alpha Engenharia .......................................................................................57<br />

4.1.2 A Beta-Gama S.A............................................................................................60<br />

4.2 I<strong>de</strong>ntificação e análise dos cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> n<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>...........................................................................................64<br />

4.2.1 As mudanç<strong>as</strong> na Alpha Engenharia..............................................................64<br />

4.2.2 As mudanç<strong>as</strong> na Beta-Gama S.A. .................................................................69<br />

4.3 Análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> no processo <strong>de</strong><br />

mudança <strong>organizacional</strong>.........................................................................................74<br />

4.3.1 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> para a Alpha Engenharia ........75


4.3.2 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> para a Beta-Gama S.A.............80<br />

4.4 Investigação sobre o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong>........84<br />

4.4.1 O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> na Alpha Engenharia......................85<br />

4.4.2 O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> na Beta-Gama S.A. .........................88<br />

4.5 I<strong>de</strong>ntificação e análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> dos<br />

gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>.....91<br />

4.5.1 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> da Alpha<br />

Engenharia...............................................................................................................91<br />

4.5.2 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> da Beta-<br />

Gama S.A. ................................................................................................................96<br />

5 CONCLUSÕES ....................................................................................................102<br />

5.1 Principais resultados da pesquisa.................................................................103<br />

5.2 Contribuições da dissertação ........................................................................107<br />

5.3 Sugestões <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> .....................................................................108<br />

REFERÊNCIAS.......................................................................................................109<br />

ANEXO A ................................................................................................................114


12<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Ainda que seja um t<strong>em</strong>a com campo teórico consi<strong>de</strong>rado consolidado por alguns<br />

autores (FLEURY e FLEURY, 2001; DUTRA, 2007), o estudo d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

permanece atual e plenamente aplicável para a prática <strong>em</strong>presarial. Com o ritmo d<strong>as</strong><br />

mudanç<strong>as</strong> dos cenários organizacionais cada vez mais acelerado, a d<strong>em</strong>anda pela<br />

i<strong>de</strong>ntificação, análise e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> po<strong>de</strong> vir a ser um<br />

importante diferencial competitivo entre organizações pertencentes aos mais<br />

diferentes setores do mercado.<br />

No tocante ao ritmo d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na socieda<strong>de</strong> atual, Crawford (1994) afirma que<br />

<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> cinco décad<strong>as</strong> foram caracterizad<strong>as</strong> pelo período da mais rápida<br />

transformação nos <strong>as</strong>pectos tecnológicos, econômicos e sociais <strong>de</strong> toda a história,<br />

representando para <strong>as</strong> organizações t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> turbulência e incerteza.<br />

De forma compl<strong>em</strong>entar, Kotter (2000) afirma que a velocida<strong>de</strong> e complexida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ss<strong>as</strong> transformações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ainda crescer n<strong>as</strong> próxim<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>. O autor aponta<br />

que, <strong>em</strong> razão d<strong>as</strong> po<strong>de</strong>ros<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> macroeconômic<strong>as</strong> atuantes sobre <strong>as</strong><br />

organizações, é gerada uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhoria na qualida<strong>de</strong> dos produtos e<br />

serviços, aumento da produtivida<strong>de</strong> e redução <strong>de</strong> custos.<br />

Nesse sentido, Luz (2001) aponta que fatores como a era da informação e a<br />

globalização, a questão ecológica e o surgimento <strong>de</strong> novos valores pessoais são<br />

causadores d<strong>as</strong> transformações que têm se processado <strong>em</strong> escala global no cenário<br />

político, social e econômico mundial.<br />

Como contraponto a ess<strong>as</strong> afirmações, Grey (2004) propõe que se submeta a um<br />

minucioso exame crítico essa noção <strong>de</strong> que não há prece<strong>de</strong>ntes históricos <strong>de</strong> um<br />

período <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> tão profundo e veloz. Observa que a crença <strong>em</strong> viver t<strong>em</strong>pos<br />

<strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> s<strong>em</strong> prece<strong>de</strong>ntes é algo comum a muit<strong>as</strong> époc<strong>as</strong>, citando como<br />

ex<strong>em</strong>plos a queda do Império Romano, a colonização d<strong>as</strong> Améric<strong>as</strong>, o<br />

Ren<strong>as</strong>cimento, a Reforma Protestante, o Iluminismo, a Revolução Industrial e <strong>as</strong><br />

guerr<strong>as</strong> mundiais.


13<br />

Entretanto, Grey (2004, p.14) não questiona a realida<strong>de</strong> da mudança nos t<strong>em</strong>pos<br />

atuais, e sim como ela é percebida:<br />

Nada disso é para dizer que a mudança não ocorre. Entretanto, a questão é<br />

como essa mudança é apreendida <strong>em</strong> um cenário cultural e histórico<br />

particular. (...) É necessário, então, compreen<strong>de</strong>rmos a perspectiva natural<br />

da mudança: o que importa é como a perceb<strong>em</strong>os, e isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do<br />

nosso ponto <strong>de</strong> vista.<br />

Analisando esse contexto dinâmico, Vergara (2003) aponta que <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> no<br />

panorama mundial geram nov<strong>as</strong> d<strong>em</strong>and<strong>as</strong> para <strong>as</strong> organizações, e é a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> atendê-l<strong>as</strong> que possibilita o sucesso <strong>em</strong> ambientes complexos. Essa capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> resposta <strong>de</strong>ve ser observada tanto <strong>em</strong> relação à organização do trabalho quanto<br />

à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e novos requisitos profissionais.<br />

Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995) acrescentam que, para garantir a sobrevivência<br />

n<strong>as</strong> décad<strong>as</strong> vindour<strong>as</strong>, <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser capazes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r rápida e<br />

efetivamente às condições <strong>de</strong> constantes mudanç<strong>as</strong> ambientais às quais estão<br />

submetid<strong>as</strong>. Para esses autores, <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> pod<strong>em</strong> ser cl<strong>as</strong>sificad<strong>as</strong> como<br />

incr<strong>em</strong>entais/contínu<strong>as</strong> ou <strong>de</strong>scontínu<strong>as</strong>. O primeiro tipo refere-se a mudanç<strong>as</strong><br />

evolutiv<strong>as</strong>, que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> períodos <strong>de</strong> equilíbrio da organização, visando<br />

melhori<strong>as</strong> incr<strong>em</strong>entais no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho. Já o segundo tipo ocorre <strong>em</strong> resposta a<br />

condições <strong>de</strong>sestabilizador<strong>as</strong>, <strong>em</strong> que a organização busca uma nova configuração,<br />

envolvendo-a como um todo.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do tipo <strong>de</strong> mudança vivenciado pela <strong>em</strong>presa, Nadler, Shaw,<br />

Walton e cols. (1995) afirmam que, <strong>em</strong> um cenário <strong>de</strong> transformação, capacida<strong>de</strong>s<br />

como adaptabilida<strong>de</strong>, flexibilida<strong>de</strong> e receptivida<strong>de</strong> tornam-se essenciais para que <strong>as</strong><br />

organizações obtenham sucesso.<br />

De acordo com a organização americana American Productivity Quality Center<br />

(2010), um processo <strong>de</strong> mudança b<strong>em</strong>-sucedido é b<strong>as</strong>eado <strong>em</strong> cinco pilares<br />

fundamentais, a saber: o comprometimento e a participação ativa do lí<strong>de</strong>r, a geração<br />

<strong>de</strong> uma mudança fundamental na cultura da organização, o envolvimento ativo dos


14<br />

<strong>em</strong>pregados, a utilização <strong>de</strong> métric<strong>as</strong> e comunicação efetiv<strong>as</strong> na organização, e o<br />

alinhamento do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> recursos humanos com os objetivos da mudança.<br />

Sobre isso, Bressan (2001, p.7) faz a seguinte consi<strong>de</strong>ração <strong>em</strong> relação ao papel da<br />

li<strong>de</strong>rança <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>:<br />

(...) mudanç<strong>as</strong> organizacionais significativ<strong>as</strong> pod<strong>em</strong> necessitar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

crises e esforços para mobilizar toda a <strong>em</strong>presa quanto à sua necessida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> encontrar no lí<strong>de</strong>r a figura fundamental na condução do processo e<br />

mobilização dos indivíduos, da maneira mais transparente e com a melhor<br />

comunicação possível.<br />

Ratificando a posição da autora, Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995) consi<strong>de</strong>ram<br />

que <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> b<strong>em</strong>-sucedid<strong>as</strong> <strong>de</strong>verão apren<strong>de</strong>r e agir <strong>de</strong> maneira ainda mais<br />

rápida, e que seus lí<strong>de</strong>res não terão alternativ<strong>as</strong>, a não ser a <strong>de</strong> se mostrar<strong>em</strong><br />

capazes <strong>de</strong> se antecipar efetivamente e <strong>de</strong> gerenciar mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> larga escala.<br />

Analisando esses el<strong>em</strong>entos, po<strong>de</strong>-se afirmar que a exigência sobre os gestores <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> vêm aumentando sobr<strong>em</strong>aneira ao longo do t<strong>em</strong>po. E ess<strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong><br />

traz<strong>em</strong> consigo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constante <strong>de</strong>senvolvimento do corpo gestor, no<br />

sentido <strong>de</strong> que eles possam contribuir <strong>de</strong> forma positiva para a manutenção <strong>de</strong> uma<br />

organização competitiva.<br />

Emerge <strong>de</strong>ssa discussão a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordar a questão da gestão <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong>. Em consonância com essa afirmação, Sant’anna (2002) consi<strong>de</strong>ra<br />

que frente à ocorrência <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais significativ<strong>as</strong>, reforça-se a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> ainda mais abrangentes e<br />

sofisticad<strong>as</strong>. De maneira compl<strong>em</strong>entar, <strong>de</strong>screve Bitencourt (2001, p.25):<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> possui um papel fundamental na<br />

medida <strong>em</strong> que contribui para a formação d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e para a mudança<br />

<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação às prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho, ou mesmo para a percepção<br />

da realida<strong>de</strong>, buscando agregar valor à organização.<br />

Como um t<strong>em</strong>a complexo, a gestão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> possui diferentes camad<strong>as</strong> que<br />

pod<strong>em</strong> ser estudad<strong>as</strong> <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong>. Partindo do conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

essenciais aplicad<strong>as</strong> às organizações, <strong>de</strong>senvolvido originalmente por Prahalad e<br />

Hammel (1990), até <strong>as</strong> divers<strong>as</strong> compreensões do construto aplicado ao nível<br />

individual por autores estrangeiros como McClelland (1973), Zarifian (2001), Le


15<br />

Boterf (2003), e nacionais como Fleury e Fleury (2001) e Dutra (2007), a gestão <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> é um t<strong>em</strong>a que ganha ainda maior importância nesse período <strong>de</strong><br />

intens<strong>as</strong> transformações no âmbito <strong>em</strong>presarial.<br />

É possível observar, portanto, uma relação entre os t<strong>em</strong><strong>as</strong> mudança <strong>organizacional</strong><br />

e competênci<strong>as</strong>, especialmente quando se trata do nível gerencial, que comumente<br />

ocupa um papel fundamental como lí<strong>de</strong>r e administrador dos processos <strong>de</strong><br />

mudança. Por conseguinte, i<strong>de</strong>ntificar e analisar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong>,<br />

primordialmente requerid<strong>as</strong> <strong>em</strong> diferentes <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>, po<strong>de</strong> ser um<br />

importante fator facilitador no <strong>de</strong>curso do processo <strong>de</strong> transformação da<br />

organização.<br />

Em razão <strong>de</strong>ssa d<strong>em</strong>anda, o presente estudo foi construído buscando enfocar a<br />

análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> exigid<strong>as</strong> no cenário <strong>organizacional</strong> <strong>de</strong> du<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>em</strong> diferentes cl<strong>as</strong>ses <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>, sendo que a primeira po<strong>de</strong> ser<br />

qualificada como uma mudança incr<strong>em</strong>ental/contínua e a segunda, como<br />

<strong>de</strong>scontínua.<br />

1.1 Justificativa<br />

Nos di<strong>as</strong> atuais, <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> dos indivíduos são cada vez mais tid<strong>as</strong> como<br />

el<strong>em</strong>entos fundamentais para o alcance dos objetivos organizacionais. Na literatura<br />

acadêmica, há uma consonância no que se refere à importância d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

do nível gerencial para uma boa performance <strong>em</strong>presarial (BOYATZIZ, 1982;<br />

MERTENS, 1996; KOTTER, 2000; FLEURY; FLEURY, 2001).<br />

Ainda que exista uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> estudos que utilizam a abordag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>, é interessante promover um diálogo entre a questão d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> e <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais presentes na<br />

atualida<strong>de</strong>. Também, é oportuno analisar se diferentes categori<strong>as</strong> <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> –<br />

como é o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> – carregam consigo exigênci<strong>as</strong>


16<br />

igualmente distint<strong>as</strong> <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong>, ou se não há interferência<br />

nesse sentido.<br />

Somado a isso, a experiência prática da pesquisadora, atuando <strong>em</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

privad<strong>as</strong>, possibilitou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma d<strong>em</strong>anda real <strong>de</strong> aplicação do estudo<br />

d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> exigid<strong>as</strong> <strong>em</strong> processos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>.<br />

É à luz <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> que versará esta dissertação. Portanto, a pergunta da<br />

pesquisa é: quais são <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> <strong>em</strong> um contexto <strong>de</strong><br />

mudança <strong>organizacional</strong>, e como os gestores <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>?<br />

1.2 Objetivos<br />

Partindo da pergunta da pesquisa, po<strong>de</strong>-se estabelecer o seguinte objetivo geral:<br />

i<strong>de</strong>ntificar e analisar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> dos gestores <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>.<br />

Além do objetivo geral, preten<strong>de</strong>-se respon<strong>de</strong>r aos seguintes objetivos específicos:<br />

<br />

<br />

<br />

I<strong>de</strong>ntificar e analisar os cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

pesquisad<strong>as</strong>.<br />

Analisar quais competênci<strong>as</strong> os gestores consi<strong>de</strong>ram facilitador<strong>as</strong> nos<br />

diferentes processos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>.<br />

Investigar como os gestores <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

É importante salientar, para fins do estudo proposto, que conceitos como gerente,<br />

gestor e lí<strong>de</strong>r não serão diferenciados entre si, por não apresentar<strong>em</strong> relevância<br />

específica para esta pesquisa.<br />

A fim <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos objetivos específicos e geral supracitados, este trabalho está<br />

estruturado <strong>em</strong> cinco partes, conforme segue:


17<br />

1. O primeiro capítulo, no qual é introduzido o t<strong>em</strong>a, justifica a relevância do<br />

estudo e o os objetivos geral e específicos da pesquisa.<br />

2. O segundo capítulo constitui o referencial teórico, composto primeiramente <strong>de</strong><br />

uma breve contextualização d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais mais relevantes<br />

dos últimos anos e seu impacto sobre <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões e movimentos estratégicos<br />

d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, especialmente aqueles relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

gerencial.<br />

Após, é feita uma revisão bibliográfica do conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> – até o<br />

âmbito d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> – e do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ss<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro d<strong>as</strong> organizações.<br />

3. O terceiro capítulo trata da metodologia e técnic<strong>as</strong> utilizad<strong>as</strong> na pesquisa,<br />

b<strong>em</strong> como do <strong>de</strong>talhamento do universo pesquisado.<br />

4. O quarto capítulo refere-se ao relato, análise e discussão dos resultados<br />

obtidos na pesquisa à luz do referencial teórico estudado.<br />

5. O quinto capítulo relaciona <strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações finais da pesquisadora acerca<br />

do t<strong>em</strong>a, buscando contribuir também com recomendações para pesquis<strong>as</strong><br />

futur<strong>as</strong> na área.


18<br />

2 REFERENCIAL TEÓRICO<br />

Neste capítulo serão abordad<strong>as</strong> <strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> teóric<strong>as</strong> que sustentam o estudo<br />

sobre a gestão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> aplicad<strong>as</strong> ao conceito <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>,<br />

pertinentes aos objetivos do trabalho.<br />

Primeiramente, são analisados os <strong>as</strong>pectos relativos às mudanç<strong>as</strong> vivenciad<strong>as</strong> no<br />

âmbito d<strong>as</strong> organizações n<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como os modos <strong>de</strong><br />

internalização e resposta que ess<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> produziram ao longo do t<strong>em</strong>po. Sob<br />

essa ótica, é dada uma ênf<strong>as</strong>e ao papel e às exigênci<strong>as</strong> relacionad<strong>as</strong> aos gestores<br />

inseridos <strong>em</strong> processos <strong>de</strong> mudança. Esse estudo inicial aten<strong>de</strong> ao objetivo <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação e contextualização d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais relacionad<strong>as</strong> às<br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>.<br />

Posteriormente, faz-se um apanhado e uma articulação teórica sobre o t<strong>em</strong>a d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong>, buscando analisá-lo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua perspectiva <strong>organizacional</strong>,<br />

estreitando <strong>em</strong> direção à perspectiva individual e, finalmente, direcionando o foco<br />

para a competência gerencial.<br />

Essa trajetória <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento busca compreen<strong>de</strong>r o significado da gestão <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> tanto na visão macro-<strong>organizacional</strong> quanto individual/gerencial,<br />

através do estudo <strong>de</strong> divers<strong>as</strong> teori<strong>as</strong> e pesquis<strong>as</strong> na área. A discussão do t<strong>em</strong>a<br />

gestão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> é o ponto <strong>de</strong> maior atenção, consi<strong>de</strong>rando que fornece<br />

subsídios teóricos para a investigação tanto do objetivo geral da pesquisa quanto do<br />

objetivo específico <strong>de</strong> análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong> <strong>em</strong><br />

situações <strong>de</strong> mudança.<br />

Finalmente, o capítulo versa sobre a questão do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>,<br />

com o estudo <strong>de</strong> alguns conceitos e prátic<strong>as</strong> aplicados à realida<strong>de</strong> <strong>em</strong>presarial. Essa<br />

abordag<strong>em</strong> visa obter fundamentação para respon<strong>de</strong>r ao objetivo específico <strong>de</strong><br />

análise dos métodos utilizados pelos gestores para <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> requerid<strong>as</strong>.


19<br />

2.1 As mudanç<strong>as</strong> no panorama <strong>organizacional</strong><br />

O cenário d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>, tal qual o mundial, evi<strong>de</strong>nciou uma<br />

infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformações n<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>. De acordo com Tobi<strong>as</strong> (2004),<br />

ess<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> alteraram significativamente <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> fundamentais d<strong>as</strong><br />

organizações, conforme explicitado no QUADRO 1, oriundo <strong>de</strong> pesquisa realizada<br />

no Center for Advanced Studies in Manag<strong>em</strong>ent (SEI), da Wharton School,<br />

University of Pensilvania, que apresenta uma comparação entre <strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />

d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> dos séculos XX e XXI:<br />

QUADRO 1<br />

Característic<strong>as</strong> fundamentais d<strong>as</strong> organizações<br />

Antig<strong>as</strong> Característic<strong>as</strong><br />

Direcionada por met<strong>as</strong><br />

Focalizada <strong>em</strong> preço<br />

Voltada para a qualida<strong>de</strong> do produto<br />

Dirigida por produto<br />

Focalizada nos acionist<strong>as</strong><br />

Orientada para finanç<strong>as</strong><br />

Eficiente, estável<br />

Hierárquica<br />

B<strong>as</strong>eada <strong>em</strong> máquin<strong>as</strong><br />

Funcional<br />

Rígida, comprometida<br />

Local, regional, nacional<br />

Integrada verticalmente<br />

Característic<strong>as</strong> Emergentes<br />

Direcionada pela visão<br />

Focalizada <strong>em</strong> valor<br />

Voltada para a qualida<strong>de</strong> total<br />

Dirigida pelo cliente<br />

Focalizada <strong>em</strong> todos os interessados<br />

Orientada pela velocida<strong>de</strong><br />

Inovadora, <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dora<br />

Horizontal, <strong>em</strong>powerment dos funcionários<br />

B<strong>as</strong>eada <strong>em</strong> informações<br />

Transfuncional<br />

Flexível, aprendizado contínuo<br />

Global<br />

Organizada <strong>em</strong> re<strong>de</strong>, inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Fonte: TOBIAS, 2004, p. 18<br />

Nesse contexto turbulento e <strong>em</strong> constante transformação, é válido afirmar que<br />

situações <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> não são incomuns à realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muit<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> mo<strong>de</strong>rn<strong>as</strong>. N<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Mintzberg, Lampel e Ahlstrand (1999, p.106),<br />

“tudo muda – os ambientes <strong>de</strong>sestabilizam-se, os nichos <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong>, <strong>as</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>s banalizam-se.”<br />

Entretanto, conforme aponta Bressan (2001), na literatura acadêmica são<br />

encontrados os mais diversos conceitos e tipologi<strong>as</strong> sobre mudança <strong>organizacional</strong>.


20<br />

Porr<strong>as</strong> e Robertson (2003), por ex<strong>em</strong>plo, afirmam que a mudança <strong>organizacional</strong> é<br />

um conjunto <strong>de</strong> teori<strong>as</strong>, valores, estratégi<strong>as</strong> e técnic<strong>as</strong> que, <strong>de</strong> forma planejada,<br />

objetiva aumentar o <strong>de</strong>senvolvimento individual e melhorar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />

<strong>organizacional</strong>.<br />

Já <strong>de</strong> acordo com Wood Jr. (2000), mudança é toda e qualquer transformação <strong>de</strong><br />

natureza estrutural, cultural, tecnológica, estratégica, humana ou <strong>de</strong> outro<br />

componente que seja capaz <strong>de</strong> gerar impacto <strong>em</strong> partes ou no todo da organização.<br />

De forma compl<strong>em</strong>entar, Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995) entend<strong>em</strong> que a<br />

mudança <strong>organizacional</strong> é uma resposta às mudanç<strong>as</strong> que vigoram no ambiente<br />

externo, com o objetivo <strong>de</strong> manter a sinergia entre o trabalho, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, a<br />

estrutura e a cultura organizacionais.<br />

Em razão da compreensão integral da <strong>em</strong>presa como um organismo dinâmico, que<br />

produz mudanç<strong>as</strong> intern<strong>as</strong> como forma <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a estímulos externos,<br />

objetivando a manutenção da homeost<strong>as</strong>e entre seus componentes, sua<br />

sobrevivência e competitivida<strong>de</strong>, para este trabalho o conceito <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> utilizado é o <strong>de</strong> Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995).<br />

Apesar da diversida<strong>de</strong> dos conceitos, os autores supracitados sinalizam que esse<br />

cenário <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> constantes vivenciado pel<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> v<strong>em</strong> alterando<br />

sobr<strong>em</strong>aneira su<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong>, configurações, processos internos, tecnologi<strong>as</strong> e<br />

gestão.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que um dos objetivos específicos <strong>de</strong>sta pesquisa é a i<strong>de</strong>ntificação e<br />

análise dos cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> vivenciados pel<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, será<br />

abordado a seguir um tópico tratando dos diferentes tipos <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> constantes na literatura.


21<br />

2.1.1 A tipologia d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais<br />

Assim como ocorre com os conceitos, é possível i<strong>de</strong>ntificar na literatura algum<strong>as</strong><br />

propost<strong>as</strong> <strong>de</strong> tipologi<strong>as</strong> quanto às mudanç<strong>as</strong> organizacionais. Entretanto, <strong>de</strong><br />

maneira geral, <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong>sses tipos <strong>de</strong> mudança não apresentam gran<strong>de</strong>s<br />

distinções entre os autores analisados, sendo mais compl<strong>em</strong>entares que<br />

contraditóri<strong>as</strong>.<br />

Os autores Porr<strong>as</strong> e Robertson (2003), por ex<strong>em</strong>plo, propõ<strong>em</strong> uma distinção entre<br />

mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> primeira e <strong>de</strong> segunda ord<strong>em</strong>. O primeiro tipo refere-se a mudanç<strong>as</strong><br />

lineares e contínu<strong>as</strong>, que alteram <strong>as</strong>pectos organizacionais s<strong>em</strong> gerar ruptur<strong>as</strong> nos<br />

<strong>as</strong>pectos-chave da organização. Já o segundo tipo é <strong>de</strong>scrito como uma mudança<br />

que impacta <strong>em</strong> vári<strong>as</strong> dimensões e níveis, envolvendo ruptur<strong>as</strong> mais radicais e<br />

quebr<strong>as</strong> <strong>de</strong> paradigm<strong>as</strong> organizacionais.<br />

De forma similar, Weick e Quinn (1999) diferenciam <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> dos tipos contínua<br />

e episódica. A mudança contínua caracteriza-se por ser constante e evolutiva,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser a soma <strong>de</strong> pequenos avanços na rotina <strong>organizacional</strong> e que<br />

propiciarão mudanç<strong>as</strong> mais significativ<strong>as</strong> no longo prazo. Já a mudança episódica<br />

caracteriza-se por ser infrequente e intencional, que ocorre <strong>em</strong> períodos <strong>de</strong><br />

divergência, gerando <strong>de</strong>sequilíbrio n<strong>as</strong> condições organizacionais.<br />

Também Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995) <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> dois tipos <strong>de</strong> mudança: a<br />

incr<strong>em</strong>ental/contínua e a <strong>de</strong>scontínua. A mudança incr<strong>em</strong>ental/contínua é realizada<br />

<strong>de</strong>ntro do próprio contexto da <strong>em</strong>presa, s<strong>em</strong> representar uma mudança dos padrões<br />

vigentes. Já a mudança <strong>de</strong>scontínua altera o padrão existente na <strong>em</strong>presa,<br />

envolvendo uma ou vári<strong>as</strong> reestruturações <strong>de</strong> su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong>. Nesse tipo <strong>de</strong><br />

mudança, <strong>as</strong> organizações buscam respon<strong>de</strong>r aos eventos <strong>de</strong>sestabilizadores do<br />

ambiente através <strong>de</strong> uma reconfiguração <strong>de</strong> sua estratégia, estrutura, processos,<br />

pesso<strong>as</strong> e/ou tecnologia.<br />

Ilustrando essa diferença, a FIG. 1, adaptada <strong>de</strong> Nadler, Shaw, Walton e cols.<br />

(1995), mostra a comparação entre os dois tipos <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>:


22<br />

FIGURA 1 – Mudança incr<strong>em</strong>ental x <strong>de</strong>scontínua<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> NADLER; SHAW; WALTON e cols. 1995, p. 56<br />

Consi<strong>de</strong>rando, na FIG. 1, o eixo horizontal representando o t<strong>em</strong>po e o eixo vertical<br />

representando o impacto da mudança, é possível observar que a mudança<br />

incr<strong>em</strong>ental/contínua é construída a partir <strong>de</strong> um somatório mudanç<strong>as</strong> com menor<br />

impacto ao longo do t<strong>em</strong>po, enquanto a mudança <strong>de</strong>scontínua é caracterizada por<br />

uma mudança <strong>de</strong> forte impacto <strong>em</strong> um pequeno espaço <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. É por essa razão<br />

que os autores observam que a mudança incr<strong>em</strong>ental/contínua não gera uma<br />

ruptura n<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es da organização, ao contrário da mudança <strong>de</strong>scontínua.<br />

Visto que o conceito <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> adotado como referência para a<br />

pesquisa é o dos autores citados, também a tipologia utilizada será a <strong>de</strong>sses<br />

autores.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do tipo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> experienciada, Sant’anna<br />

(2002) <strong>de</strong>staca a importância <strong>de</strong> <strong>as</strong> organizações estar<strong>em</strong> preparad<strong>as</strong> para a<br />

competição nesses novos padrões do mundo dos negócios. E, para isso, Gonçalves<br />

(apud Sant’anna, 2002) afirma que o principal <strong>de</strong>safio nessa transformação é o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> com o perfil exigido por esse novo tipo <strong>de</strong> organização,<br />

altamente dinâmica.<br />

Portanto, para respon<strong>de</strong>r a essa difícil d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> competir <strong>em</strong> um ambiente<br />

complexo e mutável, gerenciar mudanç<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sou a ser uma d<strong>as</strong> funções prioritári<strong>as</strong><br />

dos níveis <strong>gerenciais</strong> n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>.


23<br />

2.2 O gestor no contexto <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

Com o objetivo <strong>de</strong> tratar da questão da li<strong>de</strong>rança <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> mudança, Weaver<br />

e Farrell (2001) abordam o conceito <strong>de</strong> Gerente Facilitador. Para os autores, facilitar<br />

é gerenciar mudanç<strong>as</strong>, evitando que <strong>as</strong> taref<strong>as</strong> rotineir<strong>as</strong> dos li<strong>de</strong>rados sofram<br />

ruptura <strong>em</strong> continuida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e ajudando o grupo a antecipar, criar e<br />

respon<strong>de</strong>r positivamente às mudanç<strong>as</strong> organizacionais.<br />

Deixando mais claro esse conceito, os autores propõ<strong>em</strong> uma caracterização do<br />

papel do facilitador, conforme <strong>de</strong>scrito no QUADRO 2:<br />

QUADRO 2<br />

Característic<strong>as</strong> do facilitador<br />

Facilitador<br />

Preocupa-se <strong>em</strong> auxiliar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a fazer o que é <strong>de</strong>terminado<br />

Auxilia <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a encontrar uma visão e articulá-la<br />

Auxilia <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a concentrar-se e ter<strong>em</strong> clareza quanto à realida<strong>de</strong><br />

Auxilia <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a pensar, e auxilia-<strong>as</strong> a comunicar seus pensamentos<br />

Auxilia <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a dar significado ao tom e à direção da visão, b<strong>em</strong> como a funcionar<strong>em</strong><br />

a<strong>de</strong>quadamente no ritmo a ser seguido<br />

Espera que <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> se comprometam com o processo<br />

Auxilia <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a dar significado às expectativ<strong>as</strong> e sonhos; força, apropriadamente, <strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong><br />

d<strong>em</strong>arcad<strong>as</strong><br />

Auxilia <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a criar<strong>em</strong> uma visão compartilhada, uma missão e um propósito comuns<br />

Auxilia <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a respon<strong>de</strong>r positivamente tanto a situações estáveis quanto a nov<strong>as</strong> situações<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> WEAVER; FARREL, 2001, p. 6.


24<br />

Compl<strong>em</strong>entando essa posição, Quinn (2003) <strong>de</strong>fine vinte e quatro competênci<strong>as</strong><br />

centrais, alocando-<strong>as</strong> <strong>em</strong> papéis <strong>gerenciais</strong> fundamentais, a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

modo a alcançar a maestria da prática gerencial. São el<strong>as</strong>:<br />

a) Papel diretor e produtor: competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e comunicação <strong>de</strong><br />

uma visão, estabelecimento <strong>de</strong> met<strong>as</strong> e objetivos, planejamento e<br />

organização, produtivida<strong>de</strong> do trabalho, fomento <strong>de</strong> um ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

produtivo e gerenciamento do t<strong>em</strong>po e do estresse.<br />

b) Papel monitor e coor<strong>de</strong>nador: competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> monitoramento do<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho individual, gerenciamento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e processos<br />

coletivos, análise <strong>de</strong> informações com pensamento crítico, gerenciamento <strong>de</strong><br />

projetos, planejamento do trabalho e gerenciamento multidisciplinar.<br />

c) Papel mentor e facilitador: competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> si mesmo e dos<br />

outros, comunicação eficaz, <strong>de</strong>senvolvimento dos <strong>em</strong>pregados, constituição<br />

<strong>de</strong> equipes, uso <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>cisório participativo e administração <strong>de</strong><br />

conflitos.<br />

d) Papel inovador e negociador/mediador: competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> convívio com a<br />

mudança, pensamento criativo, gerenciamento da mudança, construção e<br />

manutenção <strong>de</strong> uma b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, negociação <strong>de</strong> acordos e compromissos<br />

e apresentação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>i<strong>as</strong>.<br />

Já O´Toole (1997) enumera algum<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong>sejáveis para um lí<strong>de</strong>r nesse<br />

contexto <strong>de</strong> mudança. São el<strong>as</strong>:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

integrida<strong>de</strong>, propósitos moralmente corretos;<br />

confiança por parte dos li<strong>de</strong>rados, s<strong>em</strong> tornar-se prisioneiro d<strong>as</strong> opiniões dos<br />

mesmos;<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encorajar a exposição <strong>de</strong> opiniões divergentes;<br />

respeito pelos li<strong>de</strong>rados, saber ser um lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res.


25<br />

Também sob esse ponto <strong>de</strong> vista, autores como Collins e Porr<strong>as</strong> (2000) e Kotter<br />

(2000) buscam analisar <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> e <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> que pod<strong>em</strong><br />

facilitar e/ou dificultar o processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>.<br />

Kotter (2000), por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> seu livro “Li<strong>de</strong>rando a Mudança”, faz um apanhado<br />

<strong>de</strong> oito erros comuns <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> mudança, i<strong>de</strong>ntificados <strong>em</strong> sua<br />

prática profissional. Em contrapartida, propõe uma abordag<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>atizada <strong>de</strong><br />

gestão do processo <strong>de</strong> mudança composta por oito etap<strong>as</strong>, <strong>em</strong> que se po<strong>de</strong><br />

observar a importância do papel dos gestores na construção <strong>de</strong>ssa nova<br />

organização, conforme segue:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Etapa 1: Estabelecimento <strong>de</strong> um senso <strong>de</strong> urgência.<br />

Etapa 2: Criação <strong>de</strong> uma coalizão administrativa.<br />

Etapa 3: Desenvolvimento <strong>de</strong> uma visão e estratégia.<br />

Etapa 4: Comunicação da visão da mudança.<br />

Etapa 5: Como investir <strong>de</strong> <strong>em</strong>powerment os funcionários para ações<br />

abrangentes.<br />

Etapa 6: Realização <strong>de</strong> conquist<strong>as</strong> a curto prazo.<br />

Etapa 7: Consolidação <strong>de</strong> ganhos e produção <strong>de</strong> mais mudanç<strong>as</strong>.<br />

Etapa 8: Estabelecimento <strong>de</strong> novos métodos na cultura.<br />

Também sobre o papel do gestor <strong>de</strong>ntro do esqu<strong>em</strong>a proposto, Kotter (2000) faz<br />

uma distinção entre gerenciamento e li<strong>de</strong>rança. Na perspectiva do autor, o<br />

gerenciamento t<strong>em</strong> como responsabilida<strong>de</strong>s o planejamento, a orçamentação, a<br />

organização e o recrutamento do pessoal, além <strong>de</strong> controle e solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong><strong>as</strong>.<br />

Já à li<strong>de</strong>rança compete estabelecer a orientação ao futuro, o alinhamento, a<br />

motivação e a inspiração do pessoal. Apesar do contraponto entre os dois conceitos,<br />

o autor afirma que esses papéis e responsabilida<strong>de</strong>s, <strong>as</strong>sim como <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

relacionad<strong>as</strong> a eles, não são exclu<strong>de</strong>ntes e que ambos são necessários <strong>em</strong><br />

diferentes processos <strong>de</strong> mudança.


26<br />

Assim, <strong>de</strong> acordo com esses conceitos, po<strong>de</strong>-se observar a importância <strong>de</strong> se<br />

i<strong>de</strong>ntificar<strong>em</strong> quais são <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> essencialmente requerid<strong>as</strong> dos gestores<br />

mo<strong>de</strong>rnos envolvidos <strong>em</strong> processos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> e, não menos<br />

importante, como esses gestores estão <strong>de</strong>senvolvendo ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

Isto posto, o tópico a seguir trata dos vários tipos <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>scritos na<br />

literatura.<br />

2.3 O estudo d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> organizacionais, individuais e <strong>gerenciais</strong><br />

Consi<strong>de</strong>rado por alguns autores como um contruto já maduro (FLEURY e FLEURY,<br />

2001; DUTRA, 2007), o conceito <strong>de</strong> competência é, até os di<strong>as</strong> atuais, um <strong>de</strong>safio<br />

para teóricos e estudiosos sobre o t<strong>em</strong>a, tal a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretações e<br />

aplicações que foram utilizad<strong>as</strong> ao longo do t<strong>em</strong>po.<br />

Em termos etimológicos, a palavra competência <strong>de</strong>riva do latim competentia, <strong>de</strong><br />

competere, que significa tanto capacida<strong>de</strong>/aptidão/habilida<strong>de</strong> quanto<br />

acordo/conformida<strong>de</strong>/concordância (SILVA, 2008). Na língua portuguesa, o termo é<br />

<strong>as</strong>sociado à linguag<strong>em</strong> jurídica, tendo dupla aplicação: por um lado, significa<br />

aptidão, no sentido <strong>de</strong> ser uma faculda<strong>de</strong> <strong>as</strong>segurada por lei <strong>de</strong> exercício <strong>de</strong> um<br />

direito, e, por outro lado, significa capacida<strong>de</strong>, ou po<strong>de</strong>r, ao qual uma autorida<strong>de</strong> é<br />

outorgada para <strong>de</strong>liberar sobre <strong>de</strong>terminados <strong>as</strong>suntos (PLÁCIDO; SILVA, 1993).<br />

No que se refere ao <strong>de</strong>senvolvimento do conceito, é possível <strong>de</strong>stacar algum<strong>as</strong><br />

abordagens a respeito d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>: aquel<strong>as</strong> provenientes da escola<br />

americana <strong>de</strong> McClelland (1973), Boyatzis (1982) e Spencer e Spencer (1993), que<br />

consi<strong>de</strong>ram competência como um conjunto <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> que o indivíduo<br />

possui para executar o trabalho <strong>em</strong> um nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho superior; e a<br />

abordag<strong>em</strong> europeia <strong>de</strong> Zarifian (2001) e Le Boterf (1995), que <strong>as</strong>socia a<br />

competência à ação, ao que o indivíduo é capaz <strong>de</strong> executar, entregar, prover à<br />

socieda<strong>de</strong> através da combinação <strong>de</strong> seus recursos pessoais e da aprendizag<strong>em</strong>.


27<br />

Dutra (2007) estrutura esses conceitos <strong>de</strong> maneira esqu<strong>em</strong>ática, conforme<br />

apresentado na FIG. 2. No esqu<strong>em</strong>a, é ilustrada a linha teórica que compreen<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

um lado, <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> como um somatório <strong>de</strong> conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e<br />

atitu<strong>de</strong>s e, <strong>de</strong> outro lado, a linha que a enten<strong>de</strong> como a entrega que o indivíduo é<br />

capaz <strong>de</strong> gerar para a organização.<br />

FIGURA 2 – Conceitos sobre competência<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> DUTRA, 2007, p.30<br />

Sobre essa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretações, Sant’anna (2002) reconhece o conceito<br />

<strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> não como recente, e sim como uma i<strong>de</strong>ia (re-) conceituada e (re-)<br />

valorizada, resultado d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> n<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> do mercado do trabalho, do<br />

processo <strong>de</strong> globalização e d<strong>as</strong> instabilida<strong>de</strong>s econômic<strong>as</strong> e organizacionais.<br />

Já Dutra (2007) afirma a maturida<strong>de</strong> e validação do conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> e <strong>de</strong><br />

sua transformação <strong>em</strong> instrumento <strong>de</strong> gestão a partir da década <strong>de</strong> 90, quando foi<br />

possível sua aplicabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> sist<strong>em</strong><strong>as</strong> integrados <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>. Nessa<br />

linha, o autor aponta que os estudiosos atuais do t<strong>em</strong>a buscam pensar<br />

competênci<strong>as</strong> como um somatório d<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> americana e europeia, <strong>em</strong> que tanto <strong>as</strong><br />

característic<strong>as</strong> pessoais quanto a entrega são componentes essenciais d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong>.<br />

Mesmo não existindo um consenso quanto às origens ou ao próprio conceito <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong>, Sant’anna (2002) relata alguns pontos <strong>em</strong> comum na literatura. O


28<br />

primeiro refere-se ao entendimento da competência como uma característica ou<br />

conjunto <strong>de</strong> requisitos i<strong>de</strong>ntificados como capazes <strong>de</strong> produzir algum tipo <strong>de</strong><br />

resultado ou solucionar probl<strong>em</strong><strong>as</strong>. O segundo ponto consonante, e que possui forte<br />

relevância <strong>em</strong> relação a esse estudo, é a conformida<strong>de</strong> do conceito <strong>de</strong> competência<br />

com <strong>as</strong> d<strong>em</strong>and<strong>as</strong> oriund<strong>as</strong> dos processos <strong>de</strong> reestruturação e mo<strong>de</strong>rnização<br />

produtiv<strong>as</strong>, presentes no cenário cont<strong>em</strong>porâneo d<strong>as</strong> organizações.<br />

A partir do próximo tópico, buscar-se-á <strong>de</strong>senvolver uma análise mais aprofundada<br />

sobre a gestão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>, estreitando seu campo <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nível<br />

<strong>organizacional</strong> até o nível individual e, mais especificamente, gerencial.<br />

2.3.1 Competênci<strong>as</strong> organizacionais estratégic<strong>as</strong><br />

Albuquerque e Oliveira (2002) afirmam que o conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> encontra<br />

sintonia com a estratégia <strong>organizacional</strong> pela influência dos trabalhos sobre <strong>as</strong> core<br />

competences, ou competênci<strong>as</strong> essenciais, <strong>de</strong> Prahalad e Hammel (1990 p.129) na<br />

década <strong>de</strong> 90. Esse trabalho permitiu a aplicação do termo no nível <strong>organizacional</strong>, o<br />

que, para Fleury e Fleury (2001, p.129), reflete uma evolução <strong>em</strong> que “uma d<strong>as</strong><br />

principais característic<strong>as</strong> da nova economia é a transição da eficiência individual<br />

para a eficiência coletiva”.<br />

O mo<strong>de</strong>lo d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais <strong>de</strong> Prahalad e Hammel (1990, p.257) diz<br />

respeito às característic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> organizações que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser criad<strong>as</strong> e fortalecid<strong>as</strong><br />

com o objetivo <strong>de</strong> criar vantag<strong>em</strong> competitiva frente ao mercado. Os autores afirmam<br />

que, para que a perspectiva d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais crie raízes na<br />

organização, é necessário percorrer cinco taref<strong>as</strong>:<br />

(1) i<strong>de</strong>ntificar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais existentes; (2) <strong>de</strong>finir uma agenda<br />

<strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais; (3) <strong>de</strong>senvolver <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

essenciais; (4) distribuir <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais e (5) proteger e<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a li<strong>de</strong>rança d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais.


29<br />

Pahalad e Hammel (1990) ainda proveram uma diferenciação entre os conceitos <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> organizacionais e <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais, sendo que esse último<br />

significa a capacida<strong>de</strong> da organização <strong>em</strong> combinar, misturar e integrar recursos <strong>em</strong><br />

produtos e serviços. Afirmam também que, ao posicionar sua estratégia competitiva,<br />

a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>finir <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> essenciais que darão sustentação ao<br />

negócio. Ou seja, apesar <strong>de</strong> a <strong>em</strong>presa possuir divers<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

organizacionais situad<strong>as</strong> <strong>em</strong> sua estrutura, apen<strong>as</strong> algum<strong>as</strong> são essenciais e<br />

diferenciador<strong>as</strong>, que fornec<strong>em</strong> uma vantag<strong>em</strong> competitiva frente às organizações<br />

concorrentes.<br />

Por essa razão, organizações que estão cada vez mais circunscrit<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong><br />

repletos <strong>de</strong> transformações relevantes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> buscar enfatizar e fortalecer seu<br />

repertório <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>, pois pod<strong>em</strong> ser el<strong>em</strong>entos essenciais para a<br />

sobrevivência no mercado.<br />

Nessa perspectiva, <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> como estratégic<strong>as</strong> para a<br />

organização <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>sdobrad<strong>as</strong> e administrad<strong>as</strong>, além <strong>de</strong> direcionar tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

<strong>de</strong>cisões e processos, sejam eles produtivos, comerciais, administrativos ou <strong>de</strong><br />

recursos humanos.<br />

Sobre isso, Dutra (2007) fornece uma interessante articulação entre estratégia,<br />

competênci<strong>as</strong> organizacionais e competênci<strong>as</strong> individuais. O autor i<strong>de</strong>ntifica que o<br />

posicionamento competitivo d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> t<strong>em</strong> influência na <strong>de</strong>finição d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> organizacionais essenciais, b<strong>em</strong> como no estabelecimento d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> individuais requerid<strong>as</strong> para obtenção <strong>de</strong> melhores resultados frente ao<br />

mercado. O QUADRO 3 mostra essa relação:


30<br />

QUADRO 3<br />

Relação entre intento estratégico, competênci<strong>as</strong> organizacionais e competênci<strong>as</strong> individuais<br />

Definição d<strong>as</strong> Competênci<strong>as</strong> por Eixo<br />

Entreg<strong>as</strong> exigid<strong>as</strong> d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> <strong>em</strong> cada eixo <strong>de</strong> carreira <strong>em</strong> função da estratégia e d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> organizacionais<br />

ESTRATÉGIA<br />

Volume <strong>de</strong> Vend<strong>as</strong><br />

Excelência Operacional<br />

(bens <strong>de</strong> consumo,<br />

commodities)<br />

Custo<br />

COMPETÊNCIAS<br />

ORGANIZACIONAIS<br />

Qualida<strong>de</strong><br />

Processo produtivo<br />

Distribuição<br />

Monitoramento <strong>de</strong> mercado<br />

Comercialização<br />

Parceri<strong>as</strong> Estratégic<strong>as</strong><br />

COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS<br />

Orientação a custos e<br />

qualida<strong>de</strong>s<br />

Gestão <strong>de</strong> recursos e prazos<br />

Trabalho <strong>em</strong> equipe<br />

Planejamento<br />

Interação com sist<strong>em</strong><strong>as</strong><br />

Multifuncionalida<strong>de</strong><br />

Relacionamento interpessoal<br />

Foco na Customização<br />

Inovação <strong>em</strong> Produtos<br />

(produtos para clientes ou<br />

segmentos específicos)<br />

Inovação <strong>de</strong> produtos e<br />

processos<br />

Qualida<strong>de</strong><br />

Monitoramento tecnológico<br />

Imag<strong>em</strong><br />

Parceri<strong>as</strong> tecnológic<strong>as</strong><br />

estratégic<strong>as</strong><br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação<br />

Comunicação eficaz<br />

Articulação interna e externa<br />

Absorção e transferência <strong>de</strong><br />

conhecimentos<br />

Li<strong>de</strong>rança e trabalho <strong>em</strong> equipe<br />

Resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong><strong>as</strong><br />

Utilização <strong>de</strong> dados e<br />

informações técnic<strong>as</strong><br />

Aprimoramento <strong>de</strong><br />

processos/produtos e<br />

participação <strong>em</strong> projetos<br />

Fonte: DUTRA, 2007, p.27<br />

Portanto, <strong>de</strong> acordo com Dutra (2007), <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> que possu<strong>em</strong> posicionamentos<br />

estratégicos diferentes estabelec<strong>em</strong> competênci<strong>as</strong> organizacionais diferentes para<br />

competir no mercado, da mesma forma que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> enfatizar e <strong>de</strong>senvolver<br />

competênci<strong>as</strong> individuais diferentes na gestão <strong>de</strong> seus recursos humanos.<br />

De acordo com Lacerda (2005), é estabelecido nessa relação um processo <strong>de</strong> troca,<br />

<strong>em</strong> que a organização disponibiliza seu repertório <strong>de</strong> conhecimentos, favorecendo<br />

novos aprendizados e enriquecendo o profissional. Em contrapartida, os indivíduos<br />

<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>, multiplicam e compartilham seu conhecimento, transferindo-o para a<br />

organização, <strong>em</strong> uma espiral contínua <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> que capacita tanto a<br />

organização quanto o indivíduo.


31<br />

A partir do direcionamento fornecido nessa articulação, é possível transpor o<br />

conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> do nível <strong>organizacional</strong> para o âmbito individual, t<strong>em</strong>a do<br />

qual versará o próximo tópico.<br />

2.3.2 Competênci<strong>as</strong> individuais<br />

McClelland (1973) foi precursor na utilização do conceito <strong>de</strong> competência com o<br />

significado <strong>de</strong> aptidão pessoal e característic<strong>as</strong> distintiv<strong>as</strong>. De forma incr<strong>em</strong>ental,<br />

Isambert-Jamati (In: ROPÉ; TANGUY, 1998) afirma que <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> não são<br />

encontrad<strong>as</strong> igualmente <strong>em</strong> todos os indivíduos, po<strong>de</strong>ndo ser relacionad<strong>as</strong> ao uso<br />

<strong>de</strong> técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong>finid<strong>as</strong> que – <strong>em</strong>bora não sejam criad<strong>as</strong> pelo indivíduo – são<br />

utilizad<strong>as</strong> por ele e pod<strong>em</strong> ser adaptad<strong>as</strong> a nov<strong>as</strong> situações.<br />

Em relação às linh<strong>as</strong> teóric<strong>as</strong> do conceito <strong>de</strong> competência individual, Cardoso (2006)<br />

distingue a escola americana, <strong>em</strong> que o termo competência é apresentado como<br />

competency, da escola europeia, <strong>em</strong> que na língua inglesa t<strong>em</strong> a forma <strong>de</strong><br />

competence.<br />

Conforme <strong>de</strong>lineado anteriormente, na abordag<strong>em</strong> americana, que t<strong>em</strong> como<br />

expoentes autores como McClelland (1973), Boyatzis (1982) e Spencer e Spencer<br />

(1993), a competência é <strong>de</strong>scrita como um conjunto <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> que o<br />

indivíduo possui para executar o trabalho <strong>em</strong> um nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho superior. Já<br />

na abordag<strong>em</strong> europeia <strong>de</strong> Zarifian (2001) e Le Boterf (1995), a competência é<br />

<strong>as</strong>sociada à ação, ao que o indivíduo é capaz <strong>de</strong> executar, entregar e prover à<br />

socieda<strong>de</strong> através da combinação <strong>de</strong> seus recursos pessoais e da aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Visando sintetizar <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> escol<strong>as</strong> americana e europeia, Cardoso<br />

(2006) apresenta um comparativo adaptado <strong>de</strong> Con<strong>de</strong> (2001), <strong>em</strong> que consi<strong>de</strong>ra <strong>as</strong><br />

perspectiv<strong>as</strong> <strong>de</strong> autores como Woodruffe (1991) e Fleury e Fleury (2001), como<br />

apresentado no QUADRO 4:


32<br />

QUADRO 4<br />

Diferenç<strong>as</strong> <strong>de</strong> abordagens<br />

Competence (are<strong>as</strong> of competence)<br />

É usado no sentido relacionado com o cargo<br />

Linha <strong>de</strong> pensamento predominante na Europa<br />

Característic<strong>as</strong> do indivíduo<br />

Agregação <strong>de</strong> valor<br />

Output (resultados e produtos)<br />

Ex<strong>em</strong>plo: planejamento <strong>de</strong> campanh<strong>as</strong><br />

publicitári<strong>as</strong><br />

Competency<br />

É usado no sentido relacionado com a pessoa<br />

Mais usado nos Estados Unidos<br />

Des<strong>em</strong>penho do cargo<br />

Conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s<br />

Input<br />

Ex<strong>em</strong>plo: bom relacionamento. Ser capaz <strong>de</strong><br />

falar com pesso<strong>as</strong> <strong>de</strong> todos os níveis; receber<br />

outros para falar; formar bons relacionamentos<br />

no trabalho; ver <strong>as</strong> situações na visão dos<br />

outros.<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> CONDE 2001 apud CARDOSO 2006, p.31/32<br />

Luz (2001) compl<strong>em</strong>enta mencionando <strong>as</strong> du<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> apontad<strong>as</strong> por Barato (1998):<br />

a britânica, <strong>de</strong> raiz comportamentalista, que dá ênf<strong>as</strong>e aos fatores ou <strong>as</strong>pectos<br />

ligados ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho requerido pel<strong>as</strong> organizações produtiv<strong>as</strong>, privilegiando,<br />

<strong>as</strong>sim, os comportamentos observáveis; e a francesa, que consi<strong>de</strong>ra a competência<br />

como resultado da educação e, portanto, valoriza o enriquecimento do repertório <strong>de</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s dos indivíduos.<br />

Como representante da escola europeia, Zarifian (2001) analisa <strong>as</strong> mutações no<br />

conteúdo do trabalho a partir d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> salariais industriais no século XVIII<br />

para <strong>de</strong>finir seu conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

O autor afirma que a compreensão <strong>de</strong>sse construto exige uma análise da evolução<br />

da forma e do sentido do trabalho <strong>em</strong> nível histórico. Nesse sentido, aponta que a<br />

questão d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> na França adveio da resposta <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> às<br />

dificulda<strong>de</strong>s econômic<strong>as</strong> sob a forma da adoção <strong>de</strong> estratégi<strong>as</strong> <strong>de</strong> aumento da<br />

qualida<strong>de</strong> e diferenciação <strong>de</strong> produtos e serviços, e introdução <strong>de</strong> inovações. Em<br />

<strong>de</strong>corrência disso houve uma expressiva elevação da complexida<strong>de</strong> do trabalho e da<br />

tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, aumentando <strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong> sobre os <strong>em</strong>pregados.<br />

Visto sob essa ótica, Zarifian (2001) enten<strong>de</strong> a competência como uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> pessoal, <strong>de</strong> comprometimento que o indivíduo <strong>as</strong>sume <strong>em</strong> relação


33<br />

às situações produtiv<strong>as</strong>. O autor afirma também que a competência não é possível<br />

s<strong>em</strong> a aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Em concordância com esse posicionamento, Barros (2007) consi<strong>de</strong>ra que <strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> são s<strong>em</strong>pre contextualizad<strong>as</strong>, ou seja, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do contexto <strong>em</strong><br />

que são inserid<strong>as</strong>. Aquilo que é apreendido enquanto conhecimento não adquire o<br />

status <strong>de</strong> competência se não for evi<strong>de</strong>nciado, aplicado.<br />

Por sua vez, Le Boterf (1995) situa a competência <strong>em</strong> um cruzamento entre a<br />

pessoa (sua biografia e socialização), sua formação educacional e sua experiência<br />

profissional. Para esse autor, competência significa colocar <strong>em</strong> prática o que se<br />

conhece <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>terminada situação.<br />

S<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>finição formal do construto, pois “como <strong>de</strong>screver a competência se ela<br />

está no movimento e na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imaginar disposições?”, Le Boterf (2003,<br />

p.61) apoia-se na tría<strong>de</strong> saber, saber-fazer e saber-ser. Esses saberes são mais<br />

b<strong>em</strong> <strong>de</strong>talhados no QUADRO 5, que apresenta o que é exigido <strong>de</strong> um profissional<br />

para que possa “administrar uma situação complexa”:<br />

QUADRO 5<br />

Saberes esperados do profissional<br />

Saberes para administrar uma<br />

situação profissional complexa<br />

Detalhamento<br />

Saber agir e reagir com<br />

pertinência<br />

• saber o que fazer;<br />

• saber ir além do prescrito;<br />

• saber escolher na urgência;<br />

• saber arbitrar, negociar, <strong>de</strong>cidir;<br />

• saber enca<strong>de</strong>ar ações <strong>de</strong> acordo com uma finalida<strong>de</strong>.<br />

Saber combinar recursos e<br />

mobilizá-los <strong>em</strong> um contexto<br />

• saber construir competênci<strong>as</strong> a partir <strong>de</strong> recursos;<br />

• saber tirar partido não somente <strong>de</strong> seus recursos<br />

incorporados (saberes, saber-fazer, qualida<strong>de</strong>s), m<strong>as</strong><br />

também <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> seu meio.


34<br />

QUADRO 5<br />

Saberes esperados do profissional<br />

(Conclusão)<br />

Saberes para administrar uma<br />

situação profissional complexa<br />

Detalhamento<br />

Saber transpor<br />

• saber m<strong>em</strong>orizar múltipl<strong>as</strong> situações-tipos;<br />

• saber distanciar-se, funcionar “<strong>em</strong> dupla direção”;<br />

• saber utilizar seus metaconhecimentos para mo<strong>de</strong>lizar;<br />

• saber <strong>de</strong>terminar e interpretar indicadores <strong>de</strong> contexto;<br />

• saber criar condições <strong>de</strong> transponibilida<strong>de</strong> com auxílio <strong>de</strong><br />

esqu<strong>em</strong><strong>as</strong> transferíveis.<br />

Saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a<br />

apren<strong>de</strong>r<br />

• saber tirar lições da experiência; saber transformar sua<br />

ação <strong>em</strong> experiência;<br />

• saber <strong>de</strong>screver como se apren<strong>de</strong>;<br />

• saber agir <strong>em</strong> circuito duplo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>.<br />

• saber envolver sua subjetivida<strong>de</strong>;<br />

Saber envolver-se<br />

• saber <strong>as</strong>sumir riscos;<br />

• saber <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r;<br />

• ética profissional.<br />

Adaptado <strong>de</strong> LE BOTERF, 2003, p.92<br />

Para Le Boterf (2003), a competência não se resume aos saberes, sendo um<br />

atributo do indivíduo, incorporado a ele. A essência da competência é o saber agir,<br />

<strong>em</strong> que a ação carrega um significado para o sujeito. Além disso, a competência<br />

exige o reconhecimento do outro, um sujeito não é competente até que seja<br />

reconhecido como tal.<br />

Utilizando como b<strong>as</strong>e o arcabouço teórico <strong>de</strong> Le Boterf (1995), Fleury e Fleury<br />

(2001, p.21) sintetizam o conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>as</strong>sociando os fatores indivíduo<br />

e organização como: “um saber agir responsável e reconhecido, que implica<br />

mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilida<strong>de</strong>s, que agregu<strong>em</strong><br />

valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”.<br />

Assim, os autores (2001, p.23) apontam para uma organização formada não por um<br />

somatório <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, m<strong>as</strong> por um “portfólio <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>”. Destacam os


35<br />

significados <strong>de</strong> cada um dos verbos da <strong>de</strong>finição supracitada para <strong>de</strong>finir <strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> do profissional, como d<strong>em</strong>onstra o QUADRO 6:<br />

QUADRO 6<br />

Competênci<strong>as</strong> do profissional<br />

Verbo<br />

Significado<br />

Saber agir<br />

Saber mobilizar<br />

Saber comunicar<br />

Saber apren<strong>de</strong>r<br />

Saber comprometer-se<br />

• Saber o que e por que faz.<br />

• Saber julgar, escolher e <strong>de</strong>cidir.<br />

• Saber mobilizar recursos <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>, financeiros,<br />

materiais, criando sinergia entre eles.<br />

• Compreen<strong>de</strong>r, processar, transmitir informações e<br />

conhecimentos, <strong>as</strong>segurando o entendimento da<br />

mensag<strong>em</strong> pelos outros.<br />

• Trabalhar o conhecimento e a experiência.<br />

• Rever mo<strong>de</strong>los mentais.<br />

• Saber <strong>de</strong>senvolver-se e propiciar o <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

outros.<br />

• Saber engajar-se e comprometer com os objetivos da<br />

organização.<br />

Saber <strong>as</strong>sumir responsabilida<strong>de</strong>s<br />

• Ser responsável, <strong>as</strong>sumindo riscos e <strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong><br />

<strong>de</strong> su<strong>as</strong> ações, e ser, por isso, reconhecido.<br />

Ter visão estratégica<br />

• Conhecer e enten<strong>de</strong>r o negócio da organização, seu<br />

ambiente, i<strong>de</strong>ntificando oportunida<strong>de</strong>s, alternativ<strong>as</strong>.<br />

Fonte: FLEURY; FLEURY, 2001, p.22<br />

Analisando a trajetória do conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> ao longo <strong>de</strong>sse referencial<br />

teórico, po<strong>de</strong>-se verificar que houve um direcionamento no sentido <strong>de</strong> agregar a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização dos conhecimentos e d<strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s, b<strong>em</strong> como o<br />

seu reconhecimento pelo outro como fundamentos para a competência individual.<br />

E como parte integrante da competência individual, o tópico a seguir tratará da<br />

dimensão d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> que, <strong>de</strong> acordo com Ru<strong>as</strong> (2005),<br />

caracteriza aquel<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> individuais que colocam <strong>as</strong> propost<strong>as</strong><br />

organizacionais e funcionais <strong>em</strong> ação.


36<br />

2.3.3 Competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong><br />

Percorridos alguns conceitos <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> individuais, torna-se importante<br />

ajustar ainda mais o foco <strong>de</strong>sse referencial teórico no sentido <strong>de</strong> estreitar o campo<br />

<strong>de</strong> estudo do t<strong>em</strong>a competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> direção àquel<strong>as</strong> relacionad<strong>as</strong> aos gestores<br />

organizacionais. Isto posto, Luz (2001) cita Mertens (1996, p.33) <strong>em</strong> seu estudo<br />

sobre <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> pertinentes aos gestores organizacionais:<br />

El <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> la gerencia consiste en que para impulsionar los cambios en la<br />

organización, tiene que navegar entre li<strong>de</strong>razgo y expectativ<strong>as</strong>, entre<br />

discurso y realidad, entre inposición y participación. Los niveles <strong>de</strong><br />

interacción social difieren entre <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> y con esto también la capacidad<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />

Nesse sentido, Vergara e Branco (1995) propõ<strong>em</strong> um ciclo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong>, que <strong>as</strong>socia a mentalida<strong>de</strong> com <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> pessoais ao lado<br />

ser da gestão, enquanto <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> refer<strong>em</strong>-se ao lado fazer. O esqu<strong>em</strong>a a<br />

seguir d<strong>em</strong>onstra esse processo:<br />

Mentalida<strong>de</strong>s Característic<strong>as</strong> Pessoais Competênci<strong>as</strong><br />

Consi<strong>de</strong>ração da imag<strong>em</strong> maior Conhecimento Gerir a competitivida<strong>de</strong><br />

Aceitação d<strong>as</strong> contradições Conceitualização Gerir a complexida<strong>de</strong><br />

Confiança no processo Flexibilida<strong>de</strong> Gerir a adaptabilida<strong>de</strong><br />

Valorização da diversida<strong>de</strong> Sensibilida<strong>de</strong> Gerir equipes<br />

Flui<strong>de</strong>z na mudança Julgamento Gerir a incerteza<br />

Busca por ser aberto Reflexão Gerir o aprendizado<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> VERGARA; BRANCO, 1995.<br />

O esqu<strong>em</strong>a ressalta a importância do fluxo dinâmico entre mentalida<strong>de</strong>, prática e<br />

tarefa para o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>. Sendo <strong>as</strong>sim, <strong>de</strong> acordo com os<br />

autores, uma competência só é estabelecida na medida <strong>em</strong> que uma mentalida<strong>de</strong><br />

evolui ao ponto <strong>de</strong> traduzir-se <strong>em</strong> comportamento, visto que o ser e o fazer não<br />

pod<strong>em</strong> indissociar-se.


37<br />

Essa compreensão v<strong>em</strong> ao encontro do proposto por Le Boterf (2003), quando este<br />

afirma que é através da realização do que se conhece <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado contexto<br />

que a competência é <strong>de</strong>senvolvida. Ou seja, a competência não existe apen<strong>as</strong> no<br />

campo do conhecimento e da habilida<strong>de</strong>, necessitando realizar-se na ação.<br />

Ainda, Le Boterf (2003) propõe uma cl<strong>as</strong>sificação dos saberes <strong>em</strong> relação aos tipos<br />

e funções, conforme sintetizado no QUADRO 7:<br />

QUADRO 7<br />

Cl<strong>as</strong>sificação dos saberes e su<strong>as</strong> funções<br />

Saberes Tipos Funções<br />

Os saberes<br />

• Saberes teóricos<br />

• Saberes do meio<br />

• Saberes procedimentais<br />

• Saber compreen<strong>de</strong>r<br />

• Saber adaptar-se, agir conforme a<br />

situação<br />

• Saber como proce<strong>de</strong>r<br />

Os saber-fazer<br />

• Os saber-fazer formalizados<br />

• Os saber-fazer <strong>em</strong>píricos<br />

• Os saber-fazer relacionais<br />

• Os saber-fazer cognitivos<br />

• Saber proce<strong>de</strong>r e operar<br />

• Saber agir <strong>em</strong> função <strong>de</strong> algo<br />

• Saber cooperar e conduzir-se<br />

• Saber tratar a informação e raciocinar<br />

Os saber-ser<br />

• As aptidões ou qualida<strong>de</strong>s<br />

pessoais<br />

• Os recursos fisiológicos<br />

• Os recursos <strong>em</strong>ocionais<br />

• Saber comportar-se <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

contexto<br />

• Capacida<strong>de</strong>s fisiológic<strong>as</strong> e saber sentir<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> LE BOTERF, 2003, p.124<br />

De forma similar, Fleury e Fleury (2001) categorizam <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> três<br />

blocos, envolvendo sist<strong>em</strong>icamente a relação do indivíduo com a <strong>em</strong>presa: <strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> do negócio, <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> técnico-profissionais e <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

sociais.<br />

<br />

<br />

<br />

As competênci<strong>as</strong> do negócio relacionam-se com a compreensão do negócio,<br />

objetivos <strong>em</strong> relação ao mercado, b<strong>em</strong> como seu ambiente político e social.<br />

As competênci<strong>as</strong> técnico-profissionais são <strong>as</strong> específic<strong>as</strong> para <strong>de</strong>terminada<br />

tarefa, ocupação ou ativida<strong>de</strong>.<br />

As competênci<strong>as</strong> sociais são aquel<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> para interagir com <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong>.


38<br />

Já Bartlett e Ghoshal (1997), com b<strong>as</strong>e na pesquisa <strong>de</strong>senvolvida com organizações<br />

<strong>em</strong> transformação, estudaram o processo <strong>de</strong> adaptação dos gestores às su<strong>as</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>finid<strong>as</strong>. Com isso, também propuseram um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

cl<strong>as</strong>sificação d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> exigid<strong>as</strong> aos novos papéis <strong>gerenciais</strong>, cl<strong>as</strong>sificando<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong> três categori<strong>as</strong>: 1) <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, como <strong>as</strong> atitu<strong>de</strong>s,<br />

traços e valores intrínsecos a personalida<strong>de</strong> do indivíduo; 2) os atributos, como os<br />

conhecimentos e experiênci<strong>as</strong>, que pod<strong>em</strong> ser adquiridos e <strong>de</strong>senvolvidos ao longo<br />

da carreira; 3) <strong>as</strong> habilida<strong>de</strong>s especializad<strong>as</strong>, diretamente ligad<strong>as</strong> aos requisitos<br />

específicos do trabalho. O QUADRO 8 apresenta o resultado da investigação <strong>de</strong>sses<br />

autores:<br />

QUADRO 8<br />

Competênci<strong>as</strong> para novos papéis <strong>gerenciais</strong><br />

(Continua)<br />

Tarefa Atitu<strong>de</strong>s/Traços Conhecimento Habilida<strong>de</strong>s<br />

Nível operacional<br />

Criar e buscar<br />

oportunida<strong>de</strong>s<br />

Atrair e usar<br />

habilida<strong>de</strong>s e recursos<br />

esc<strong>as</strong>sos<br />

Administrar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

contínuo do<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />

Orientação para<br />

resultados<br />

Criativida<strong>de</strong>, intuição<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

persu<strong>as</strong>ão, atraente<br />

Perfil competitivo,<br />

persistência,<br />

atrativida<strong>de</strong><br />

Conhecimento<br />

operacional <strong>de</strong>talhado<br />

Conhecimento sobre<br />

competidores e<br />

clientes<br />

Conhecimento sobre<br />

recursos internos e<br />

externos<br />

Compreensão d<strong>as</strong><br />

operações do negócio<br />

Foco n<strong>as</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

Habilida<strong>de</strong> para<br />

reconhecer potencial e<br />

obter comprometimento<br />

Habilida<strong>de</strong> para motivar<br />

e impulsionar pesso<strong>as</strong><br />

Habilida<strong>de</strong> para<br />

sustentar energia<br />

<strong>organizacional</strong> <strong>em</strong> torno<br />

<strong>de</strong> objetivos diferentes


39<br />

QUADRO 8<br />

Competênci<strong>as</strong> para novos papéis <strong>gerenciais</strong><br />

(Conclusão)<br />

Tarefa Atitu<strong>de</strong>s/Traços Conhecimento Habilida<strong>de</strong>s<br />

Nível intermediário<br />

Supervisionar,<br />

<strong>de</strong>senvolver e apoiar<br />

pesso<strong>as</strong> e iniciativ<strong>as</strong><br />

Ligar conhecimento<br />

disperso, habilida<strong>de</strong>s e<br />

prátic<strong>as</strong><br />

Administrar pressões<br />

<strong>de</strong> curto e longo<br />

prazos<br />

Orientação para<br />

pesso<strong>as</strong><br />

Paciência<br />

Flexibilida<strong>de</strong><br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio,<br />

inbtegração e controle<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

percepção e li<strong>de</strong>rança<br />

Ampla experiência<br />

<strong>organizacional</strong><br />

Conhecimento <strong>de</strong><br />

pesso<strong>as</strong> e <strong>de</strong> como<br />

influenciá-l<strong>as</strong><br />

Compreensão da<br />

dinâmica interpessoal<br />

Compreensão da<br />

relação meios/fins<br />

Habilida<strong>de</strong> para<br />

<strong>de</strong>senvolver pesso<strong>as</strong> e<br />

relações<br />

Habilida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>legar<br />

po<strong>de</strong>res<br />

Habilida<strong>de</strong> para<br />

<strong>de</strong>senvolver relações e<br />

equipes<br />

Habilida<strong>de</strong> para<br />

conciliar diferenç<strong>as</strong><br />

Nível <strong>de</strong> direção<br />

Desafiar pressupostos<br />

e expandir<br />

oportunida<strong>de</strong>s e<br />

padrões <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />

Contruir um contexto<br />

<strong>de</strong> cooperação e<br />

confiança<br />

Criar senso <strong>de</strong> missão<br />

e ambição corporativa<br />

Visionário voltado para<br />

a instituição<br />

Disposição para<br />

ampliar os <strong>de</strong>safios<br />

Mente aberta<br />

Espírito <strong>de</strong> justiça<br />

Perspicácia<br />

Gran<strong>de</strong> compreensão<br />

da organização, seu<br />

contexto, negócios e<br />

operações<br />

Entendimento da<br />

organização como<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong>,<br />

processos e cultura<br />

Amplo conhecimento<br />

<strong>de</strong> organizações,<br />

indústri<strong>as</strong> e<br />

socieda<strong>de</strong>s<br />

Habilida<strong>de</strong> para<br />

estabelecer equilíbrio<br />

n<strong>as</strong> relações<br />

Habilida<strong>de</strong> para criar<br />

ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

motivador<br />

Habilida<strong>de</strong> para inspirar<br />

confiança e crença na<br />

instituição<br />

Habilida<strong>de</strong> para<br />

conciliar discernimento<br />

conceitual e <strong>de</strong>safios<br />

motivacionais<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> BARTLETT; GHOSHAL, 1997.<br />

Nessa mesma pesquisa, os autores i<strong>de</strong>ntificaram um alto índice <strong>de</strong> insucesso dos<br />

gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> tradicionais no exercício <strong>de</strong> su<strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> novos<br />

<strong>contextos</strong> organizacionais.<br />

Levando <strong>em</strong> conta essa afirmação, vale citar o estudo realizado por Coda (1999) <strong>em</strong><br />

uma <strong>em</strong>presa do setor elétrico br<strong>as</strong>ileiro e referenciado por Sant’anna (2002, p.49),<br />

que <strong>de</strong>staca um rol <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> atualmente requerid<strong>as</strong> aos gestores<br />

organizacionais, a saber:


40<br />

1. visão estratégica do negócio; 2. capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>finir, com<br />

clareza e exatidão objetivos e met<strong>as</strong> para a equipe e indivíduos,<br />

programando <strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>finindo indicadores <strong>de</strong> resultados e<br />

gerenciando-os com vist<strong>as</strong> ao alcance dos objetivos esperados;<br />

3. orientação para a qualida<strong>de</strong>; 4. capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar os ativos<br />

intelectuais d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> com qu<strong>em</strong> trabalha, i<strong>de</strong>ntificando potencialida<strong>de</strong>s,<br />

b<strong>em</strong> como canalizando-<strong>as</strong> para o trabalho criativo e <strong>de</strong>safiador;<br />

5. capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerir conflitos; 6. capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar feedback;<br />

7. capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar recursos.<br />

Luz (2001) compl<strong>em</strong>enta esse perfil dos gestores <strong>em</strong> sua pesquisa acerca d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> requerid<strong>as</strong> dos gestores <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> telecomunicações<br />

br<strong>as</strong>ileira recent<strong>em</strong>ente privatizada. A autora aponta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

profissionais com conhecimentos sólidos nos processos organizacionais, finanç<strong>as</strong>,<br />

marketing e planejamento, além do comprometimento com o projeto da <strong>em</strong>presa,<br />

excelência na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com a incerteza, trabalhar <strong>em</strong> equipe, capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> relacionamento, <strong>de</strong> cooperação, <strong>de</strong> comunicação, negociação e gerenciamento<br />

<strong>de</strong> conflitos. O gestor ainda <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> adaptar-se a nov<strong>as</strong> situações, com<br />

característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistir ao estresse, criativida<strong>de</strong> e<br />

respeito ao cliente.<br />

Ainda que existam diversos estudos acerca d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> e da trajetória<br />

percorrida pelo conceito ao longo do t<strong>em</strong>po, não foi possível i<strong>de</strong>ntificar nesse<br />

referencial uma articulação <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>sse construto <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

organizacionais, sejam el<strong>as</strong> do tipo incr<strong>em</strong>ental/contínua ou do tipo <strong>de</strong>scontínua.<br />

Portanto, enfatiza-se a importância do foco <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>sta pesquisa, buscando<br />

i<strong>de</strong>ntificar quais <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> requerid<strong>as</strong> dos gestores organizacionais nesse<br />

instável e exigente contexto <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>. De maneira compl<strong>em</strong>entar, o exame <strong>de</strong><br />

como os gestores estão adquirindo e <strong>de</strong>senvolvendo su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> permite<br />

fornecer um panorama interessante para a geração <strong>de</strong> ainda mais estudos na área<br />

<strong>de</strong> conhecimento. É sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> que trata o próximo<br />

<strong>as</strong>sunto <strong>de</strong>ste trabalho, último tópico do capítulo <strong>de</strong> referencial teórico.


41<br />

2.3.4 O <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

Sobre o t<strong>em</strong>a do <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, Le Boterf (2003, p.16) faz a<br />

seguinte afirmação: “A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação não resi<strong>de</strong> mais prioritariamente no<br />

potencial industrial ou n<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>de</strong> pesquisa-<strong>de</strong>senvolvimento, m<strong>as</strong> no<br />

investimento nos recursos raros, que são <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>”.<br />

É possível observar que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> ocorre primordialmente<br />

quando os profissionais encontram-se <strong>em</strong> situações <strong>de</strong>safiador<strong>as</strong>, <strong>em</strong> que é<br />

importante que tenham uma performance positiva, e cujos resultados serão obtidos<br />

através <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e comportamentos específicos.<br />

Na visão <strong>de</strong> Le Boterf (2003), diferentes tipos <strong>de</strong> saberes possu<strong>em</strong> modos <strong>de</strong><br />

aquisição principais correspon<strong>de</strong>ntes, e o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ve<br />

estar suportado por essa relação. Fleury e Fleury (2001), tomando como b<strong>as</strong>e essa<br />

concepção, resum<strong>em</strong> esse enca<strong>de</strong>amento conforme exposto no QUADRO 9:<br />

QUADRO 9<br />

Processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

Tipo Função Como <strong>de</strong>senvolver<br />

Conhecimento teórico Entendimento, interpretação Educação formal e continuada<br />

Conhecimento sobre os<br />

procedimentos<br />

Saber como proce<strong>de</strong>r<br />

Educação formal e experiência<br />

profissional<br />

Conhecimento <strong>em</strong>pírico Saber como fazer Experiência profissional<br />

Conhecimento social Saber como comportar Experiência social e profissional<br />

Conhecimento cognitivo<br />

Saber como lidar com a informação,<br />

saber como apren<strong>de</strong>r<br />

Educação formal e continuada, e<br />

experiência social e profissional<br />

Fonte: FLEURY; FLEURY, 2001, p.40<br />

Em concordância com essa posição, na visão <strong>de</strong> Alles (2004), esses componentes<br />

da competência possu<strong>em</strong> característic<strong>as</strong> distint<strong>as</strong> quanto a sua profundida<strong>de</strong> e,<br />

consequent<strong>em</strong>ente, apresentam diferentes graus <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> <strong>em</strong> seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.


42<br />

B<strong>as</strong>eada <strong>em</strong> conceitos <strong>de</strong> Spencer e Spencer (1993), a autora <strong>de</strong>senvolveu o<br />

Mo<strong>de</strong>lo do Iceberg, utilizando-se da metáfora da geleira, que t<strong>em</strong> a maior parte <strong>de</strong><br />

seu corpo imerso sob a água para diferenciar os conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s –<br />

componentes da competência visíveis, mais fáceis <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e abordados com<br />

maior frequência – dos comportamentos, autoconceitos ou traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong><br />

– componente não visível da competência, mais difíceis <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>senvolver.<br />

Em termos práticos, Alles (2004) propõe algum<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, consi<strong>de</strong>rando os diferentes níveis <strong>de</strong><br />

profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus componentes: a capacitação formal n<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> a<br />

ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> (<strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento); o treinamento prático, a<br />

avaliação e retroalimentação no posto <strong>de</strong> trabalho (<strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s); e o auto<strong>de</strong>senvolvimento (<strong>de</strong>senvolvimento dos comportamentos), que<br />

<strong>de</strong>nota a corresponsabilida<strong>de</strong> do indivíduo <strong>em</strong> seu processo <strong>de</strong> crescimento.<br />

Ao abordar o t<strong>em</strong>a d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> e seu <strong>de</strong>senvolvimento, Cardona e<br />

Chinchilla (1999) propõ<strong>em</strong> que <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> são um produto criado a partir d<strong>as</strong><br />

característic<strong>as</strong> inat<strong>as</strong> do sujeito, <strong>de</strong> seus conhecimentos, <strong>de</strong> su<strong>as</strong> atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> su<strong>as</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> inat<strong>as</strong> do sujeito são traços genéticos sendo,<br />

portanto, difíceis <strong>de</strong> mudar, os autores afirmam que o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se concentrar na aquisição <strong>de</strong> conhecimento, n<strong>as</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s e n<strong>as</strong> habilida<strong>de</strong>s. Acrescentam que os meios para promover o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sses três <strong>as</strong>pectos são, respectivamente, a informação, o<br />

treinamento e a prática.<br />

De forma mais sist<strong>em</strong>ática e estruturada, Cripe e Mansfield (2003) propõ<strong>em</strong> um<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> individuais e <strong>gerenciais</strong><br />

que compreen<strong>de</strong> sete etap<strong>as</strong>, sendo que a etapa anterior sustenta a etapa seguinte,<br />

conforme segue:


43<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Etapa 1: I<strong>de</strong>ntificação e entendimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> – o<br />

profissional <strong>de</strong>ve alcançar a compreensão daquilo que se espera <strong>de</strong>le, sendo<br />

capaz <strong>de</strong> reconhecer ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> nos comportamentos dos outros.<br />

Etapa 2: Autoavaliação comparando a performance atual com o ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />

alta performance – o profissional <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> avaliar a sua própria<br />

performance quando <strong>em</strong> comparação com perfomances <strong>de</strong> excelência.<br />

Etapa 3: Observação e estudo <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> alta performance – o<br />

profissional <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> analisar indivíduos que possuam alta<br />

performance, i<strong>de</strong>ntificando também potenciais <strong>de</strong> melhoria <strong>em</strong> seus próprios<br />

resultados.<br />

Etapa 4: Prática da nova competência <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> trabalho – o<br />

profissional <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> aplicar a nova competência <strong>em</strong> ambientes <strong>de</strong><br />

trabalho relativamente controlados.<br />

Etapa 5: O profissional recebe feedback e reforço sobre o comportamento<br />

d<strong>em</strong>onstrado – é o retorno que o profissional recebe <strong>em</strong> relação à<br />

competência aplicada que lhe permite tomar a ação compatível com o<br />

resultado obtido.<br />

Etapa 6: Estabelecimento <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> ação para usar <strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> – o profissional <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando o feedback<br />

recebido, estabelecer planos <strong>de</strong> ação para aplicar a nova competência <strong>em</strong><br />

diferentes situações e ambientes do trabalho.<br />

Etapa 7: Suporte e reforço à d<strong>em</strong>onstração da competência recém-adquirida<br />

– é a construção <strong>de</strong> espaços e ambientes <strong>em</strong> que o profissional possa aplicar<br />

a nova competência, tendo o respaldo necessário para tanto.<br />

É interessante observar nos mo<strong>de</strong>los propostos o equilíbrio e a corresponsabilida<strong>de</strong><br />

entre o indivíduo e a organização no <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, visando<br />

igualmente a construção <strong>de</strong> um melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho para a organização e o<br />

crescimento do profissional.<br />

Para a presente pesquisa, <strong>as</strong> abordagens <strong>de</strong> Cardona e Chinchilla (1999), Cripe e<br />

Mansfield (2003) e Alles (2004) servirão <strong>de</strong> b<strong>as</strong>e para i<strong>de</strong>ntificar e analisar “se” e


44<br />

“como” os gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>em</strong> contexto <strong>de</strong> mudança estão <strong>de</strong>senvolvendo<br />

su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>. Essa avaliação será realizada tanto <strong>em</strong> relação a prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

auto<strong>de</strong>senvolvimento quanto a iniciativ<strong>as</strong> proporcionad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> organizações d<strong>as</strong><br />

quais os gestores faz<strong>em</strong> parte.<br />

2.3.5 Contribuições do referencial teórico para a pesquisa <strong>de</strong> campo<br />

Como enfatiza Lacerda (2005), a gestão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> oferece um <strong>de</strong>safio tanto<br />

para acadêmicos quanto para profissionais e organizações que buscam essa<br />

abordag<strong>em</strong> na gestão d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>.<br />

Partindo <strong>de</strong> uma visão amplificada d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> nível <strong>organizacional</strong>, como<br />

apresentado por Prahalad e Hammel (1990), que buscam apontar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

organizacionais essenciais para garantir a competitivida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> organizações no<br />

mercado, chega-se às dimensões d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> individuais/<strong>gerenciais</strong> através<br />

dos estudos <strong>de</strong> autores como Fleury e Fleury (2001), Le Boterf (2003) e Dutra<br />

(2007).<br />

A relação entre competênci<strong>as</strong> organizacionais e individuais/<strong>gerenciais</strong> é complexa,<br />

especialmente pela dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> operacionalizar esse <strong>de</strong>sdobramento na prática<br />

<strong>em</strong>presarial. Entretanto, alguns <strong>as</strong>pectos importantes pod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>preendidos e<br />

<strong>de</strong>stacados como pontos <strong>de</strong> orientação:<br />

1) As organizações compet<strong>em</strong> entre si <strong>em</strong> espaços <strong>de</strong>limitados por seus<br />

posicionamentos estratégicos, pel<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> macroambientais (polític<strong>as</strong>,<br />

sociais, econômic<strong>as</strong> e tecnológic<strong>as</strong>) e condições <strong>de</strong> mercado. Esses<br />

posicionamentos direcionam o estabelecimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

organizacionais essenciais, que constitu<strong>em</strong> uma vantag<strong>em</strong> competitiva<br />

sustentável, permitindo a diferenciação da concorrência (PRAHALAD;<br />

HAMMEL, 1990).


45<br />

Em organizações que se encontram <strong>em</strong> meio a um processo <strong>de</strong> mudança,<br />

que po<strong>de</strong> influenciar <strong>em</strong> seu posicionamento estratégico competitivo, é<br />

interessante analisar <strong>em</strong> campo <strong>de</strong> que forma esse contexto <strong>de</strong><br />

transformação impacta na (re)<strong>de</strong>finição d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> organizacionais.<br />

2) Ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> organizacionais essenciais são alicerces para a gestão<br />

d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> individuais e <strong>gerenciais</strong> n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>.<br />

Como um dos patrimônios mais importantes e esc<strong>as</strong>sos no atual mundo do<br />

trabalho, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> são parte fundamental no alcance<br />

dos objetivos estratégicos organizacionais (DUTRA, 2007).<br />

3) A correta i<strong>de</strong>ntificação d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> individuais/<strong>gerenciais</strong> exigid<strong>as</strong> dos<br />

profissionais <strong>em</strong> um dinâmico e turbulento cenário <strong>organizacional</strong> po<strong>de</strong><br />

distinguir uma organização <strong>de</strong> outra, no sentido <strong>de</strong> produzir um melhor<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho competitivo frente ao mercado (FLEURY; FLEURY, 2001).<br />

4) Para além da i<strong>de</strong>ntificação, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

individuais/<strong>gerenciais</strong> é um processo contínuo, coparticipativo e <strong>de</strong><br />

retroalimentação entre profissional e <strong>em</strong>presa, <strong>em</strong> que ambos objetivam o<br />

crescimento e a sustentabilida<strong>de</strong> (ALLES, 2004).<br />

Nesse sentido, para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa <strong>de</strong> campo, é importante<br />

ressaltar a principal referência que será utilizada para a análise e discussão dos<br />

dados que serão coletados, b<strong>em</strong> como <strong>as</strong> razões para sua adoção.<br />

Quanto ao conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>, a abordag<strong>em</strong> proposta por Le Boterf (2003)<br />

mostrou-se a mais a<strong>de</strong>quada a esta pesquisa. A razão pela qual se optou por sua<br />

adoção é a compreensão do autor da competência individual aplicada ao<br />

profissional, como a mobilização <strong>de</strong> recursos oriundos da articulação entre a<br />

biografia e socialização do sujeito, sua formação profissional e seu contexto<br />

profissional. Nesse sentido, é essencial a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong>ss<strong>as</strong><br />

característic<strong>as</strong> e conhecimentos a uma <strong>de</strong>terminada situação, ou seja, a tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão relativa a um <strong>de</strong>terminado contexto.<br />

Portanto, consi<strong>de</strong>rando o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e analisar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

requerid<strong>as</strong> <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> incr<strong>em</strong>ental/contínua e


46<br />

<strong>de</strong>scontínua, a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Le Borterf (2003) propicia uma melhor interpretação<br />

quanto às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong>, quando est<strong>as</strong> são exigid<strong>as</strong> para a administração<br />

<strong>de</strong> <strong>contextos</strong> complexos.<br />

Cada um dos pontos compreendidos no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong>sta revisão teórica po<strong>de</strong> ser<br />

relacionado aos objetivos da pesquisa. Para tanto, o próximo capítulo versa sobre os<br />

procedimentos metodológicos utilizados para a obtenção d<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> à questão<br />

colocada na orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste estudo.


47<br />

3 METODOLOGIA<br />

Neste capítulo estão <strong>de</strong>talhados os procedimentos metodológicos utilizados no<br />

alcance dos objetivos da pesquisa, referentes a caracterização da pesquisa, unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> análise, unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação, procedimentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, estratégia <strong>de</strong><br />

análise dos dados coletados e limitações do método utilizado.<br />

O presente estudo t<strong>em</strong> como objetivos centrais i<strong>de</strong>ntificar e analisar quais<br />

competênci<strong>as</strong> são requerid<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> reais<br />

<strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>, e como os gestores <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

para aplicação no ambiente <strong>de</strong> trabalho. Preten<strong>de</strong>-se também, levando <strong>em</strong> conta a<br />

dinamicida<strong>de</strong> dos cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>, verificar se os gestores<br />

pesquisados i<strong>de</strong>ntificam competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> para lidar com esse<br />

ambiente repleto <strong>de</strong> turbulênci<strong>as</strong> e incertez<strong>as</strong>.<br />

3.1 Caracterização da pesquisa<br />

Utilizando-se a cl<strong>as</strong>sificação proposta por Vergara (2007), no que se refere aos fins,<br />

a pesquisa cl<strong>as</strong>sifica-se como aplicada e <strong>de</strong>scritiva. De acordo com Gil (1999), a<br />

pesquisa aplicada objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, envolvendo<br />

verda<strong>de</strong>s e interesses locais. A pesquisa também é <strong>de</strong>scritiva pois preten<strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> <strong>em</strong> processos <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. De acordo com Collis (2005), a pesquisa <strong>de</strong>scritiva visa<br />

compreen<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma população ou fenômeno <strong>de</strong>finido.<br />

Quanto aos meios, a metodologia da pesquisa é <strong>de</strong> natureza qualitativa que,<br />

segundo Bogdan e Taylor (1975), busca examinar o mundo como é experienciado,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo o comportamento humano a partir do que cada pessoa ou pequeno<br />

grupo <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> pensa ser a realida<strong>de</strong>.


48<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> procedimentos técnicos, como foram utilizados na coleta <strong>de</strong><br />

dados materiais e documentos diversificados d<strong>as</strong> organizações pesquisad<strong>as</strong>, a<br />

metodologia <strong>de</strong>ve também ser cl<strong>as</strong>sificada como pesquisa documental. Por fim,<br />

consi<strong>de</strong>rando que a pesquisadora <strong>de</strong>senvolveu o trabalho também utilizando-se da<br />

observação direta <strong>em</strong> momentos <strong>de</strong> interação junto aos m<strong>em</strong>bros d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

investigad<strong>as</strong>, po<strong>de</strong>-se cl<strong>as</strong>sificar esse procedimento como pesquisa participante<br />

(LAKATOS; MARCONI, 2001).<br />

Visando aten<strong>de</strong>r aos objetivos estabelecidos, foi realizado um estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o do tipo<br />

multic<strong>as</strong>os. De acordo com Yin (2005, p.27), a escolha se justifica, pois “o estudo <strong>de</strong><br />

c<strong>as</strong>o é a estratégia escolhida ao se examinar<strong>em</strong> acontecimentos cont<strong>em</strong>porâneos,<br />

m<strong>as</strong> quando não se pod<strong>em</strong> manipular comportamentos relevantes”. Ainda <strong>de</strong> acordo<br />

com o autor, um estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os múltiplos não difere do estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o único,<br />

sendo ambos variantes dos projetos <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o.<br />

3.2 Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação<br />

Para a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise foram selecionad<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong>, <strong>de</strong> porte<br />

médio, situad<strong>as</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte, que se encontram atualmente ou<br />

p<strong>as</strong>saram nos últimos dois anos por processos significativos <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. Posteriormente será feita uma caracterização mais <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong><br />

amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> é válido apresentá-l<strong>as</strong> brev<strong>em</strong>ente visando ilustrar <strong>as</strong><br />

diferentes tipologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> que são cenário do estudo. O nome d<strong>as</strong> du<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> foi resguardado a pedido <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>l<strong>as</strong>, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> ainda estar <strong>em</strong><br />

processo <strong>de</strong> mudança e não ter feito essa comunicação formal ao mercado.<br />

A primeira <strong>em</strong>presa pesquisada, aqui <strong>de</strong>nominada Alpha Engenharia, v<strong>em</strong><br />

impl<strong>em</strong>entando conceitos e ferrament<strong>as</strong> da gestão por resultados, com o objetivo<br />

principal <strong>de</strong> obter uma melhoria contínua <strong>em</strong> sua gestão. Essa impl<strong>em</strong>entação é<br />

reflexo do crescimento e evolução da <strong>em</strong>presa e t<strong>em</strong> ocorrido gradativamente<br />

através do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos, planos e ações, tanto <strong>em</strong> nível estratégico<br />

quanto operacional. Visto que <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na Alpha Engenharia vêm ocorrendo


49<br />

contínua e evolutivamente ao longo dos últimos dois anos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo<br />

contexto <strong>organizacional</strong>, é possível caracterizar essa mudança como pertencente ao<br />

tipo incr<strong>em</strong>ental/contínua.<br />

Já a segunda <strong>em</strong>presa pesquisada, aqui <strong>de</strong>nominada Beta-Gama S.A., é resultado<br />

<strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> fusão, iniciado no ano <strong>de</strong> 2010, d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> Beta e Gama.<br />

Essa fusão foi fruto <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão dos presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>,<br />

pertencentes a uma mesma família, por observar<strong>em</strong> <strong>em</strong> seus negócios uma<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong>, o que po<strong>de</strong>ria fortalecer a amb<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu mercado. Ao<br />

final do ano <strong>de</strong> 2010, a nova <strong>em</strong>presa foi criada juridicamente, m<strong>as</strong> permanece <strong>em</strong><br />

transformação tanto <strong>em</strong> nível estrutural quanto nos processos internos e na gestão<br />

d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>. Levando <strong>em</strong> conta <strong>as</strong> profund<strong>as</strong> reestruturações pel<strong>as</strong> quais a<br />

<strong>em</strong>presa v<strong>em</strong> p<strong>as</strong>sando, inclusive <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> posicionamento no mercado, é<br />

possível caracterizar a mudança <strong>organizacional</strong> <strong>de</strong>ssa <strong>em</strong>presa como do tipo<br />

<strong>de</strong>scontínua.<br />

As <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> faz<strong>em</strong> parte do programa <strong>de</strong> parceria <strong>em</strong>presarial<br />

promovido pela Fundação Dom Cabral, <strong>de</strong>nominado Re<strong>de</strong> PAEX Parceiros para a<br />

Excelência, da qual a pesquisadora participa como professora <strong>as</strong>sociada. Esse<br />

programa, composto prioritariamente por <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>de</strong> médio porte, t<strong>em</strong> como<br />

objetivo essencial a busca por resultados <strong>de</strong> médio e longo prazos a partir da<br />

construção gradativa <strong>de</strong> conhecimento envolvendo uma parceria entre <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

participantes e a Fundação Dom Cabral.<br />

Por essa razão, a pesquisadora t<strong>em</strong> acesso aos mais altos níveis hierárquicos d<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como a dados secundários para pesquisa documental. Esse fato<br />

auxilia na contextualização <strong>de</strong> cada uma d<strong>as</strong> organizações, através do histórico <strong>de</strong><br />

su<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais, do impacto <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> no panorama<br />

<strong>organizacional</strong> e nos níveis <strong>gerenciais</strong>, além <strong>de</strong> percepções, metodologi<strong>as</strong> e<br />

possíveis processos <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> presentes ness<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>.<br />

Quanto à unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação, é importante consi<strong>de</strong>rar <strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />

estruturais d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>. Em ambos os c<strong>as</strong>os são <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

familiares, on<strong>de</strong> os principais cargos <strong>de</strong> gestão são ocupados por um pequeno


50<br />

número <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>. São organizações enxut<strong>as</strong> <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

funcionários, o que implica <strong>em</strong> um número reduzido <strong>de</strong> níveis hierárquicos e <strong>de</strong><br />

profissionais responsáveis por <strong>de</strong>cisões estratégic<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como pela implantação<br />

d<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong>. Por essa razão, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação possui um número restrito<br />

<strong>de</strong> profissionais, consi<strong>de</strong>rando que o objetivo da presente pesquisa é a i<strong>de</strong>ntificação<br />

e análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestores envolvidos<br />

diretamente n<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> ocorrid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> organizações.<br />

Sendo <strong>as</strong>sim, foram realizad<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> com profissionais que ocupam cargos <strong>de</strong><br />

gestão nos níveis <strong>de</strong> direção e gerência <strong>de</strong> primeiro nível. Buscou-se, portanto, obter<br />

os dados para aten<strong>de</strong>r aos objetivos propostos através d<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> por<br />

dois gestores <strong>de</strong> diferentes graduações <strong>em</strong> cada uma d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

pesquisad<strong>as</strong>, totalizando um universo <strong>de</strong> quatro unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> observação.<br />

É importante fazer du<strong>as</strong> ressalv<strong>as</strong> acerca da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação da pesquisa. A<br />

primeira refere-se à <strong>de</strong>finição dos cargos e funções ocupados pelos profissionais<br />

entrevistados. Inicialmente, houve a intenção <strong>de</strong> entrevistar quatro gestores <strong>de</strong> cada<br />

<strong>em</strong>presa, a saber: o Presi<strong>de</strong>nte e/ou principal executivo da <strong>em</strong>presa, um gerente <strong>de</strong><br />

primeiro nível altamente ligado ao processo <strong>de</strong> mudança, um gestor da área <strong>de</strong><br />

recursos humanos e o gestor primordialmente responsável pela mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. Entretanto, foi i<strong>de</strong>ntificado n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> que ess<strong>as</strong><br />

funções estavam agrupad<strong>as</strong>, sendo exercid<strong>as</strong> por dois ou três únicos gestores. Por<br />

essa razão, o número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> observação foi reduzido.<br />

A segunda ressalva refere-se a uma terceira entrevista realizada <strong>em</strong> uma d<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>. Nesse c<strong>as</strong>o, ocorreram probl<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> do<br />

entrevistado, fazendo com este precis<strong>as</strong>se se ausentar divers<strong>as</strong> vezes no <strong>de</strong>curso<br />

da entrevista e não tenha sido capaz <strong>de</strong> finalizar o questionário. Por essa razão, a<br />

pesquisadora consi<strong>de</strong>rou su<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> inválid<strong>as</strong> aos objetivos <strong>de</strong>ste estudo,<br />

excluindo-o como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação.<br />

3.3 Coleta <strong>de</strong> dados


51<br />

Para obter <strong>as</strong> informações necessári<strong>as</strong> aos objetivos propostos, inicialmente foram<br />

coletados dados secundários d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> por meio <strong>de</strong> pesquisa documental. De<br />

acordo com Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa documental po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar três<br />

variáveis: fontes escrit<strong>as</strong> ou não, fontes primári<strong>as</strong> ou secundári<strong>as</strong>, cont<strong>em</strong>porâne<strong>as</strong><br />

ou retrospectiv<strong>as</strong>. Como fontes <strong>de</strong> dados para a presente pesquisa foram utilizados<br />

documentos internos d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, materiais <strong>de</strong> divulgação e dados da internet.<br />

Consi<strong>de</strong>rando ess<strong>as</strong> variáveis, a pesquisa documental teve como objetivo obter<br />

dados d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> acerca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ologia institucional, tais como<br />

negócio, missão, visão e valores; histórico relevante a essa pesquisa, mais<br />

especificamente mudanç<strong>as</strong> organizacionais recentes ou atuais; map<strong>as</strong> e objetivos<br />

estratégicos gerais norteadores <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> organizações; e, se existentes, processos e<br />

ferrament<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>, mais especificamente relacionados ao t<strong>em</strong>a d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong>.<br />

Além da pesquisa documental, foram realizad<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong>, <strong>de</strong> aproximadamente<br />

uma hora, com profissionais que ocupam cargos <strong>de</strong> gestão n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

pesquisad<strong>as</strong> e que participam ou fizeram parte d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais<br />

<strong>de</strong>ss<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>. Ess<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> foram conduzid<strong>as</strong> diretamente pela<br />

pesquisadora e gravad<strong>as</strong> na íntegra, com a <strong>de</strong>vida autorização <strong>de</strong> todos os<br />

entrevistados.<br />

A escolha pela entrevista <strong>de</strong>u-se <strong>em</strong> razão da flexibilida<strong>de</strong> do instrumento, da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> informações mais complet<strong>as</strong> por parte dos<br />

entrevistados e do estabelecimento <strong>de</strong> contato direto da pesquisadora com o<br />

contexto <strong>organizacional</strong>.<br />

O instrumento utilizado n<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> é composto por 9 questões, que buscam<br />

investigar os <strong>as</strong>pectos relativos a cada um dos objetivos – geral e específicos – da<br />

pesquisa, conforme segue:<br />

I. Qual é o cargo ou função gerencial que o(a) sr(a) ocupa na <strong>em</strong>presa? Há<br />

quanto t<strong>em</strong>po ocupa essa posição gerencial?


52<br />

II.<br />

III.<br />

IV.<br />

Qual o processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> pela qual sua <strong>em</strong>presa p<strong>as</strong>sa<br />

atualmente/p<strong>as</strong>sou recent<strong>em</strong>ente? Qual o(s) objetivo(s) da mudança?<br />

Como era a sua <strong>em</strong>presa antes da mudança <strong>organizacional</strong> <strong>de</strong>scrita?<br />

(Explorar fatores estrutura <strong>organizacional</strong>, processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão,<br />

perfil e papel dos gestores, exigênci<strong>as</strong> da <strong>em</strong>presa quanto às entreg<strong>as</strong><br />

relativ<strong>as</strong> aos gestores)<br />

Como é a sua <strong>em</strong>presa agora, durante/após a mudança <strong>organizacional</strong><br />

<strong>de</strong>scrita? (Explorar os mesmos fatores supracitados)<br />

V. Na sua <strong>em</strong>presa, existe/existiu algum programa <strong>de</strong> preparação ou<br />

capacitação para esse processo <strong>de</strong> mudança, voltado ao nível gerencial? Se<br />

sim, como é/era esse programa, seus objetivos e metodologia?<br />

VI.<br />

VII.<br />

VIII.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o contexto <strong>de</strong> mudança explicitado, o(a) sr(a) consi<strong>de</strong>ra que<br />

existam competênci<strong>as</strong> dos gestores que possam ser facilitador<strong>as</strong> <strong>de</strong>sse<br />

processo <strong>de</strong> mudança? Se sim, quais são ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>? (Explorar o<br />

conteúdo d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, seu significado para o gestor)<br />

Levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a sua experiência frente ao contexto explicitado,<br />

quais competênci<strong>as</strong> são/foram primordialmente requerid<strong>as</strong> do(a) sr(a),<br />

enquanto gestor(a), perante o processo da mudança <strong>organizacional</strong>?<br />

(Apresentar e solicitar a priorização da lista <strong>de</strong> saberes adaptados <strong>de</strong> Le<br />

Boterf, explorando o significado para o gestor)<br />

O(A) sr(a) busca/buscou <strong>de</strong>senvolver ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong><br />

requerid<strong>as</strong> pelo processo <strong>de</strong> mudança? De que forma? (Explorar se <strong>as</strong><br />

iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> part<strong>em</strong> do<br />

próprio gestor, da <strong>em</strong>presa ou <strong>de</strong> ambos e evidênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> como esse<br />

<strong>de</strong>senvolvimento é estruturado ou operacionalizado)<br />

IX. Quais situações pod<strong>em</strong> ilustrar a exigência da aplicação <strong>de</strong>ss<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> <strong>de</strong>ntro do processo <strong>de</strong> mudança? De que forma<br />

ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> auxiliaram ness<strong>as</strong> situações? (Explorar evidênci<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

aplicação d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>)<br />

Visando enfocar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> <strong>de</strong> maneira mais objetiva, além <strong>de</strong> uma<br />

melhor vinculação com os conceitos referenciados por Le Boterf (2003), na sétima


53<br />

pergunta foi apresentada aos entrevistados uma lista <strong>de</strong> saberes adaptados do<br />

quadro-resumo <strong>de</strong>senvolvido pelo autor, que <strong>de</strong>staca os saberes necessários a um<br />

profissional para a administração <strong>de</strong> situações complex<strong>as</strong>.<br />

Especificamente nessa questão, foi entregue ao entrevistado a lista apresentada no<br />

ANEXO A e solicitado que fosse estabelecida uma priorização <strong>de</strong>sses saberes para<br />

um gestor <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>. Após elaborado o ranking, foi<br />

solicitado ao entrevistado o aprofundamento <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> sua compreensão acerca<br />

dos saberes, d<strong>as</strong> razões <strong>de</strong> sua priorização e <strong>de</strong> situações que ex<strong>em</strong>plific<strong>as</strong>s<strong>em</strong> a<br />

aplicação <strong>de</strong>sses saberes na prática <strong>organizacional</strong>.<br />

Essa abordag<strong>em</strong> visou vincular a prática da entrevista ao conceito <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

para administração <strong>de</strong> situações complex<strong>as</strong> proposto por Le Boterf (2003). M<strong>as</strong>,<br />

importante salientar, não foi vetado ao entrevistado que i<strong>de</strong>ntific<strong>as</strong>se livr<strong>em</strong>ente<br />

outr<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> que consi<strong>de</strong>r<strong>as</strong>se requerid<strong>as</strong> pelo processo <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. Sendo <strong>as</strong>sim, essa abordag<strong>em</strong> não é exclu<strong>de</strong>nte, m<strong>as</strong><br />

compl<strong>em</strong>entar, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> uma melhor fundamentação e articulação entre a teoria<br />

e a prática.<br />

3.4 Estratégia <strong>de</strong> análise dos dados<br />

Os dados foram tratados <strong>de</strong> maneira qualitativa, e então sist<strong>em</strong>atizados e<br />

analisados. Esses dados foram obtidos através da pesquisa documental e d<strong>as</strong><br />

entrevist<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> com os gestores d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>.<br />

Para a análise dos resultados foi utilizada a análise qualitativa <strong>de</strong> conteúdo, <strong>de</strong>finida<br />

por Bardin (1995, p.38) como “um conjunto <strong>de</strong> técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong> análise d<strong>as</strong><br />

comunicações que utiliza procedimentos sist<strong>em</strong>áticos e objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição do<br />

conteúdo d<strong>as</strong> mensagens”. Essa técnica permite focalizar não apen<strong>as</strong> o conteúdo<br />

daquilo que é dito como também <strong>as</strong> marc<strong>as</strong> ligad<strong>as</strong> à enunciação.


54<br />

As pergunt<strong>as</strong> constantes no instrumento <strong>de</strong> entrevista foram elaborad<strong>as</strong> visando<br />

aten<strong>de</strong>r aos objetivos geral e específicos da pesquisa, e <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> foram<br />

analisad<strong>as</strong> e articulad<strong>as</strong> à luz d<strong>as</strong> teori<strong>as</strong> <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> por autores <strong>de</strong> referência,<br />

conforme explicitado no QUADRO 10:


55<br />

QUADRO 10<br />

Estrutura da apresentação e discussão dos resultados da pesquisa<br />

Objetivos Questões da Entrevista Autores <strong>de</strong> Referência<br />

Contextualização I) --------<br />

Específico 1<br />

II); III); IV)<br />

Nadler, Shaw, Walton e cols; Weick e<br />

Quinn, Wood Jr.; Porr<strong>as</strong> e Robertson.<br />

Específico 2<br />

Específico 3<br />

Geral<br />

VI);<br />

V); VIII)<br />

VI); VII); IX)<br />

Weaver e Farrell ;Le Boterf; Fleury e Fleury;<br />

Quinn; Sant’anna.<br />

Cardona e Chinchilla; Alles; Cripe e<br />

Mansfield; Le Boterf.<br />

Nadler, Shaw, Walton e cols ; Le Boterf;<br />

Fleury e Fleury; Sant’anna<br />

3.5 Limitações do método<br />

Por se tratar <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o, o método utilizado não permite a generalização<br />

dos resultados. Portanto, <strong>as</strong> conclusões obtid<strong>as</strong> pela pesquisa limitar-se-ão à<br />

realida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>. Entretanto, <strong>de</strong> acordo com Yin (2005), o<br />

estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> fazer uma generalização analítica e expandir o<br />

conhecimento apreendido <strong>de</strong> maneira apropriada para outr<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>. Ainda<br />

<strong>as</strong>sim, o método do estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o permite aprofundar os saberes sobre os<br />

probl<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong>finidos na pesquisa, tornando-se produtivo para estimular nov<strong>as</strong><br />

hipóteses e compreensões sobre o t<strong>em</strong>a.<br />

Outra limitação refere-se ao fato <strong>de</strong> a pesquisadora possuir estreita relação com <strong>as</strong><br />

du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>. Apesar da constante procura por neutralida<strong>de</strong> e<br />

isenção, a atuação da pesquisadora como professora/coor<strong>de</strong>nadora, intervindo<br />

diretamente n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, po<strong>de</strong> gerar algum viés na análise e interpretação dos<br />

dados. Por outro lado, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong>ssa proximida<strong>de</strong>, a atitu<strong>de</strong> dos gestores<br />

pesquisados torna-se b<strong>as</strong>tante receptiva e positiva.


56<br />

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste capítulo é apresentar os resultados da análise documental e d<strong>as</strong><br />

entrevist<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> na pesquisa <strong>de</strong> campo, à luz do referencial teórico estudado.<br />

As análises objetivam estruturar <strong>as</strong> informações obtid<strong>as</strong> junto aos entrevistados <strong>de</strong><br />

forma a respon<strong>de</strong>r aos objetivos específicos e geral da pesquisa.<br />

Buscando uma organização clara da análise e discussão dos resultados da<br />

pesquisa, o capítulo está dividido <strong>em</strong> cinco itens. No primeiro it<strong>em</strong> é feita a<br />

caracterização d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>, incluindo um breve histórico, a<br />

<strong>de</strong>scrição dos negócios e principais característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> estrutura e processos<br />

organizacionais. Também são caracterizados nessa etapa os gestores entrevistados<br />

na pesquisa, <strong>de</strong>stacando <strong>as</strong>pectos como os cargos ocupados e principais funções<br />

<strong>de</strong>ntro d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>.<br />

Os itens dois a cinco analisam <strong>as</strong> informações obtid<strong>as</strong> na pesquisa documental e <strong>as</strong><br />

respost<strong>as</strong> d<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> <strong>de</strong> campo com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> principais teori<strong>as</strong> que alicerçaram<br />

este trabalho. Cada um dos itens está intitulado <strong>de</strong> acordo com o objetivo específico<br />

ou geral da pesquisa a que está relacionado.<br />

4.1 Caracterização d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong><br />

Esse tópico consiste na <strong>de</strong>scrição e caracterização d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>, b<strong>em</strong><br />

como dos gestores participantes da entrevista <strong>de</strong> campo. Para compor essa<br />

caracterização, foram utilizados os dados coletados na pesquisa documental<br />

efetuada n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> e <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> na primeira questão da entrevista.<br />

Tendo <strong>em</strong> vista que a pesquisadora possui conhecimentos prévios acerca <strong>de</strong> amb<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> – <strong>em</strong> razão do trabalho como professora <strong>as</strong>sociada da Fundação Dom<br />

Cabral – algum<strong>as</strong> informações constantes nesse tópico foram obtid<strong>as</strong> através da<br />

observação participante n<strong>as</strong> organizações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 2010.


57<br />

4.1.1 A Alpha Engenharia<br />

A Alpha Engenharia é uma <strong>em</strong>presa situada <strong>em</strong> Belo Horizonte e presta serviços <strong>de</strong><br />

consultoria <strong>em</strong> projetos <strong>de</strong> mineração, sondag<strong>em</strong>, geologia <strong>de</strong> engenharia e<br />

hidroenergia. Criada no ano <strong>de</strong> 1986 com o nome <strong>de</strong> seu fundador, originalmente<br />

atuava como um escritório <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços especializado <strong>em</strong> geologia,<br />

geomecânica e projetos hidrelétricos. Sua fundação foi impulsionada principalmente<br />

por mérito técnico <strong>de</strong> seus dois sócios, profissionais que permanec<strong>em</strong> ainda hoje<br />

como referênci<strong>as</strong> tanto <strong>em</strong> nível acadêmico quanto na prática <strong>em</strong>presarial.<br />

Com o crescimento do mercado <strong>de</strong> metais, a <strong>em</strong>presa ampliou sua atuação na área<br />

<strong>de</strong> geotecnia a partir <strong>de</strong> parceri<strong>as</strong> tecnológic<strong>as</strong> estabelecid<strong>as</strong> com diversos grupos<br />

internacionais, ampliando sua gama <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s. Em 2003, a <strong>em</strong>presa se<br />

consolida com o nome <strong>de</strong> Alpha Engenharia e direciona seu negócio para a oferta<br />

<strong>de</strong> projetos e soluções integrad<strong>as</strong>, posicionando-se como uma <strong>em</strong>presa com sólida<br />

experiência e constituída pelos melhores profissionais técnicos do seu mercado.<br />

Atualmente a Alpha Engenharia po<strong>de</strong> ser enquadrada, <strong>de</strong> acordo com a<br />

cl<strong>as</strong>sificação proposta pelo BNDES 1 , como uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> pequeno a médio porte,<br />

visto que obteve um receita operacional bruta na ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> R$ 14,3 milhões no ano<br />

<strong>de</strong> 2010 e t<strong>em</strong> como meta superar o faturamento <strong>de</strong> R$ 16 milhões no ano <strong>de</strong> 2011.<br />

Em relação a sua missão, visão e valores, a Alpha Engenharia apresenta <strong>em</strong> seu<br />

website a seguinte <strong>de</strong>scrição:<br />

1 De acordo com o BNDES, <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>de</strong> todos os setores pod<strong>em</strong> ser cl<strong>as</strong>sificad<strong>as</strong> <strong>de</strong> acordo com<br />

a receita operacional bruta (ROB) anual, conforme segue: micro<strong>em</strong>presa ROB menor ou igual a<br />

R$2,4 milhões; pequena <strong>em</strong>presa ROB maior que R$2,4 milhões e menor ou igual a R$16 milhões;<br />

média <strong>em</strong>presa ROB maior que R$16 milhões e menor ou igual a R$90 milhões; média-gran<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>presa ROB maior que R$90 milhões e menor ou igual a 300 milhões; gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa ROB maior<br />

que R$300 milhões.


58<br />

Missão: Transformar incertez<strong>as</strong> <strong>em</strong> confiança.<br />

Visão: Ser referência nacional e internacional <strong>em</strong> soluções confiáveis <strong>de</strong><br />

engenharia.<br />

Valores: Disciplina, Criativida<strong>de</strong>, Rigor Técnico, Coerência,<br />

Responsabilida<strong>de</strong> socioambiental, Humanização d<strong>as</strong> relações,<br />

Rentabilida<strong>de</strong>, Produtivida<strong>de</strong>.<br />

A estrutura da Alpha Engenharia conta com 80 funcionários, sendo<br />

aproximadamente 70% alocados na área técnica e 30% n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> suporte. Em<br />

termos <strong>de</strong> organograma, o primeiro escalão da <strong>em</strong>presa é constituído por um<br />

Conselho Técnico e Administrativo – formado pelo Presi<strong>de</strong>nte e pelo Assessor<br />

Técnico, sócios-fundadores da <strong>em</strong>presa – e por uma Diretoria Executiva. No<br />

segundo nível da estrutura estão a Gerência Técnica e <strong>de</strong> Produção e a Gerência <strong>de</strong><br />

Portfólio e Apoio ao Negócio.<br />

Em termos <strong>de</strong> processos organizacionais, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> funções relacionad<strong>as</strong> às<br />

ativida<strong>de</strong>s-fim da <strong>em</strong>presa estão subordinad<strong>as</strong> à Gerência Técnica e <strong>de</strong> Produção e<br />

às respectiv<strong>as</strong> Li<strong>de</strong>ranç<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Áre<strong>as</strong> Técnic<strong>as</strong> (Geologia, Geotecnia, Hidrologia,<br />

Desenho e Técnica). Já os processos <strong>de</strong> suporte ao negócio – administração,<br />

finanç<strong>as</strong>, contabilida<strong>de</strong>, recursos humanos, escritório <strong>de</strong> projetos, tecnologia da<br />

informação e comercial – estão sob a responsabilida<strong>de</strong> da Gerência <strong>de</strong> Portfólio e<br />

Apoio ao Negócio.<br />

Des<strong>de</strong> meados <strong>de</strong> 2009 a Alpha Engenharia v<strong>em</strong> promovendo mudanç<strong>as</strong> visando à<br />

excelência <strong>em</strong> sua gestão. Dentre outr<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong>, a <strong>em</strong>presa ingressou <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong>sse mesmo ano no Programa PAEX da Fundação Dom Cabral, tendo<br />

sido <strong>de</strong>senvolvido o planejamento estratégico da <strong>em</strong>presa e o acompanhamento<br />

periódico <strong>de</strong> seus resultados.<br />

Quanto aos participantes da pesquisa pela Alpha Engenharia, foram entrevistados o<br />

Diretor Executivo e o Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio. O primeiro executivo<br />

é filho do Presi<strong>de</strong>nte da Alpha Engenharia, bacharel <strong>em</strong> Direito e pós-graduado <strong>em</strong><br />

Gestão Empresarial. Ingressou na <strong>em</strong>presa logo após a conclusão da graduação,<br />

m<strong>as</strong> foi há aproximadamente cinco anos que obteve o cargo <strong>de</strong> Gerente<br />

Administrativo e Financeiro, sendo responsável pel<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> financeira, contábil e


59<br />

administrativa. Com <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestão ocorrid<strong>as</strong> na Alpha Engenharia, o<br />

profissional foi recent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong>possado como Diretor Executivo, sendo hoje um<br />

dos principais articuladores estratégicos da <strong>em</strong>presa, além <strong>de</strong> responsável pelos<br />

processos <strong>de</strong> suporte, com maior ênf<strong>as</strong>e na área financeira.<br />

O segundo entrevistado é um executivo <strong>de</strong> carreira, graduado <strong>em</strong> Tecnologia da<br />

Informação, pós-graduado <strong>em</strong> Gestão <strong>de</strong> Negócios e Gestão <strong>de</strong> Projetos. Possui<br />

sólida experiência no gerenciamento <strong>de</strong> projetos, razão pela qual foi admitido na<br />

Alpha Engenharia há três anos para ocupar o cargo <strong>de</strong> Gerente <strong>de</strong> Planejamento,<br />

coor<strong>de</strong>nando <strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> planejamento e controle dos projetos técnicos da<br />

<strong>em</strong>presa. Na nova estrutura <strong>de</strong> gestão da Alpha Engenharia, o profissional ampliou<br />

sua gama <strong>de</strong> funções, tendo sido promovido, <strong>em</strong> janeiro do ano <strong>de</strong> 2011, ao cargo<br />

<strong>de</strong> Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio. Nesse cargo, o profissional t<strong>em</strong> como<br />

responsabilida<strong>de</strong> a gestão operacional <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> funções <strong>de</strong> suporte ao negócio<br />

da <strong>em</strong>presa.<br />

Importante <strong>de</strong>stacar, tendo <strong>em</strong> vista os objetivos da pesquisa, que os profissionais<br />

que foram selecionados para participar d<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> na Alpha Engenharia<br />

possu<strong>em</strong> papéis centrais na promoção, planejamento, execução e acompanhamento<br />

do processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> da <strong>em</strong>presa.<br />

O Diretor Executivo foi uma figura central na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong><br />

iniciar a impl<strong>em</strong>entação da gestão por resultados, tendo sido o principal agente<br />

promotor d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na Alpha Engenharia. É, até a presente data, o executivo<br />

responsável pelo acompanhamento dos resultados d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais.<br />

Já a Gerência <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio foi a mais afetada pel<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

propost<strong>as</strong> pela impl<strong>em</strong>entação da gestão por resultados. Sendo <strong>as</strong>sim, <strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

suporte da Alpha Engenharia são essenciais ao processo <strong>de</strong> mudança e<br />

permanec<strong>em</strong> como guardiãs d<strong>as</strong> metodologi<strong>as</strong> que vêm sendo absorvid<strong>as</strong> pela<br />

<strong>em</strong>presa.


60<br />

4.1.2 A Beta-Gama S.A.<br />

A Beta-Gama S.A. é uma <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> construção. Ainda que juridicamente<br />

já exista como uma única <strong>em</strong>presa, nos níveis <strong>de</strong> mercado, estrutural, <strong>de</strong> processos<br />

e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> a fusão ainda está <strong>em</strong> curso. Por isso torna-se importante<br />

caracterizar brev<strong>em</strong>ente <strong>as</strong> du<strong>as</strong> organizações que dão orig<strong>em</strong> à Beta-Gama S.A.,<br />

para que se compreendam, inclusive, algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> razões da criação da nova<br />

<strong>em</strong>presa.<br />

A Beta é uma <strong>em</strong>presa situada <strong>em</strong> Belo Horizonte, fundada <strong>em</strong> 1974, especializada<br />

<strong>em</strong> engenharia <strong>de</strong> proteção contra incêndios. Como <strong>em</strong>presa familiar, foi fundada<br />

pelo seu atual Presi<strong>de</strong>nte, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio <strong>de</strong>u ênf<strong>as</strong>e a pesquisa técnica,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, qualificação e tecnologia <strong>de</strong> ponta.<br />

O negócio da <strong>em</strong>presa é <strong>de</strong>scrito como <strong>de</strong>senvolvimento e impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong><br />

projetos e soluções para proteção real e segurança ativa e p<strong>as</strong>siva contra incêndios.<br />

Para aten<strong>de</strong>r a esse objetivo, a <strong>em</strong>presa conta com uma estrutura formada por<br />

aproximadamente 75 funcionários próprios, a maioria <strong>de</strong>dicada às áre<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

planejamento e execução dos projetos <strong>de</strong> negócio, além da produção <strong>de</strong><br />

equipamentos para combate a incêndios. A estrutura <strong>de</strong> suporte da <strong>em</strong>presa é<br />

formada b<strong>as</strong>icamente por uma única Gerência Administrativa, a qual é subdividida<br />

internamente <strong>em</strong> su<strong>as</strong> funções financeira, administrativa geral e recursos<br />

humanos/<strong>de</strong>partamento pessoal. Até a conclusão jurídica da fusão, essa Gerência<br />

estava sob a responsabilida<strong>de</strong> da filha do fundador da <strong>em</strong>presa, uma d<strong>as</strong><br />

profissionais entrevistad<strong>as</strong> nesta pesquisa.<br />

No planejamento estratégico <strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> 2010 e acessado na pesquisa<br />

documental, foram verificad<strong>as</strong> <strong>as</strong> seguintes <strong>de</strong>scrições acerca da missão e da visão<br />

da <strong>em</strong>presa Beta: “Missão: Proteger o patrimônio <strong>de</strong> nossos clientes com inovação,<br />

técnica e engenho, contribuindo para a importância do segmento. Visão: Ser<br />

referência <strong>em</strong> soluções para proteção contra incêndios.”


61<br />

Ao longo <strong>de</strong> sua história, a Beta foi se especializando na prestação <strong>de</strong> consultoria<br />

especializada na engenharia <strong>de</strong> incêndio, chegando a obter ao final <strong>de</strong> 2010 uma<br />

receita operacional bruta na ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> R$ 21 milhões, caracterizando-a como uma<br />

<strong>em</strong>presa <strong>de</strong> porte médio.<br />

A Gama foi fundada <strong>em</strong> 1995 por um ex-funcionário da <strong>em</strong>presa Beta, tendo sido<br />

originalmente criada como prestadora <strong>de</strong> serviços para a Beta. É interessante<br />

<strong>de</strong>stacar que o fundador da <strong>em</strong>presa Gama é também genro do fundador da<br />

<strong>em</strong>presa Beta e que sua esposa, ao mesmo t<strong>em</strong>po, acumulava na época <strong>as</strong> funções<br />

<strong>de</strong> Gerente Administrativa da <strong>em</strong>presa Beta e cofundadora/sócia da <strong>em</strong>presa Gama.<br />

Tendo i<strong>de</strong>ntificado um espaço livre <strong>de</strong> mercado na prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong><br />

manutenção e montagens <strong>em</strong> sist<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> proteção contra incêndios, o engenheiro<br />

fundador da Gama propôs ao Presi<strong>de</strong>nte da <strong>em</strong>presa Beta que a nova <strong>em</strong>presa<br />

atu<strong>as</strong>se exclusivamente como prestadora <strong>de</strong> serviços, não configurando, <strong>as</strong>sim, uma<br />

concorrência direta.<br />

Ao longo dos <strong>de</strong>zesseis anos <strong>de</strong> existência, a Gama ampliou seu portfólio <strong>de</strong><br />

serviços, p<strong>as</strong>sando a não atuar exclusivamente para a <strong>em</strong>presa Beta. Atualmente, a<br />

Gama t<strong>em</strong> clientes <strong>em</strong> setores diversificados, como si<strong>de</strong>rurgia, mineração,<br />

montador<strong>as</strong>, indústria <strong>de</strong> celulose, usin<strong>as</strong> elétric<strong>as</strong>, eletroeletrônic<strong>as</strong> e outr<strong>as</strong>. O<br />

principal serviço prestado é a manutenção preventiva, corretiva e montag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

sist<strong>em</strong><strong>as</strong> fixos <strong>de</strong> proteção contra incêndios.<br />

No website da <strong>em</strong>presa é possível encontrar a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sua missão, a saber:<br />

“Missão: Garantir a satisfação <strong>de</strong> nossos clientes e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos produtos<br />

e serviços por meio da valorização <strong>de</strong> nossos colaboradores”.<br />

Os primeiros anos após a fundação foram <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para a Gama,<br />

especialmente por ser uma área <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços ainda pouco explorada.<br />

Entretanto, com o fortalecimento da relação cliente-fornecedor com a <strong>em</strong>presa Beta,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos serviços e a maior visibilida<strong>de</strong> no mercado, a Gama<br />

veio crescendo nos últimos cinco anos <strong>em</strong> patamares superiores a 20% ao ano,<br />

atingindo uma receita operacional bruta <strong>em</strong> 2010 na ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> R$ 7 milhões.


62<br />

A estrutura <strong>organizacional</strong> da Beta conta com aproximadamente 65 funcionários<br />

próprios, praticamente todos voltados para <strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> negócio da <strong>em</strong>presa. As<br />

funções administrativ<strong>as</strong>, comerciais, financeir<strong>as</strong> e <strong>de</strong> recursos humanos eram<br />

dividid<strong>as</strong> entre o próprio Presi<strong>de</strong>nte da <strong>em</strong>presa e um Gerente <strong>de</strong> Negócios.<br />

Po<strong>de</strong>-se observar nesse breve relato sobre <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> Beta e Gama que <strong>de</strong> fato<br />

el<strong>as</strong> nunca foram totalmente indissociad<strong>as</strong>. Além do vínculo profissional sustentado<br />

pela compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus negócios, <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pertenc<strong>em</strong> a uma mesma<br />

família, inclusive compartilhando uma <strong>de</strong> su<strong>as</strong> principais executiv<strong>as</strong>.<br />

Por ess<strong>as</strong> razões, e impulsionados pel<strong>as</strong> condições recentes do mercado, <strong>em</strong><br />

meados <strong>de</strong> 2009 os presi<strong>de</strong>ntes d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>de</strong>finiram pela fusão e criação da<br />

Beta-Gama S.A. Nesse mesmo período, os principais executivos <strong>de</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como outros m<strong>em</strong>bros da família, participavam <strong>de</strong> um programa<br />

promovido pela Fundação Dom Cabral, <strong>de</strong>nominado PDA Parceria para o<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> Acionist<strong>as</strong>. Esse programa estabelece uma parceria com o<br />

intuito <strong>de</strong> preservar e maximizar o patrimônio e facilitar a performance e a<br />

continuida<strong>de</strong> dos negócios d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> familiares participantes.<br />

Ao finalizar o ciclo <strong>de</strong> participação no PDA no final <strong>de</strong> 2009, e já <strong>de</strong>cididos pela<br />

fusão, os presi<strong>de</strong>ntes d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> ingressaram no programa PAEX da Fundação<br />

Dom Cabral, tendo como uma <strong>de</strong> su<strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong> a obtenção <strong>de</strong> um suporte<br />

externo na gestão da mudança. Dessa forma, no princípio <strong>de</strong> 2010, a pesquisadora<br />

p<strong>as</strong>sou a trabalhar junto aos executivos d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, <strong>de</strong>senvolvendo o<br />

planejamento estratégico da Beta-Gama S.A. e acompanhando os resultados dos<br />

projetos ao longo do ano.<br />

Quanto aos participantes da pesquisa pela Beta-Gama S.A., foram entrevistados o<br />

atual Diretor Executivo e a Assessora da Diretoria. O primeiro executivo é graduado<br />

<strong>em</strong> Engenharia Mecânica, foi Presi<strong>de</strong>nte da <strong>em</strong>presa Gama por <strong>de</strong>zesseis anos,<br />

anteriormente engenheiro da <strong>em</strong>presa Beta por nove anos, e também possui<br />

experiência como gestor <strong>de</strong> manutenção mecânica <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa multinacional.<br />

Com a <strong>de</strong>finição da estrutura da Beta-Gama S.A., da qual é sócio com 30% <strong>de</strong><br />

participação, o profissional foi <strong>em</strong>possado como Diretor Executivo. Como ocupante


63<br />

do cargo, o profissional t<strong>em</strong> a mais importante função executiva da nova <strong>em</strong>presa,<br />

dividindo com o Presi<strong>de</strong>nte a responsabilida<strong>de</strong> pelo direcionamento estratégico da<br />

Beta-Gama S.A.<br />

A segunda entrevistada é uma executiva formada pela prática <strong>em</strong>presarial. Está<br />

finalizando o bacharelado <strong>em</strong> Psicologia e possui trinta e um anos <strong>de</strong> experiência<br />

n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> Beta e Gama. Durante sua trajetória profissional, atuou n<strong>as</strong> mais<br />

divers<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, s<strong>em</strong>pre enfocando <strong>as</strong> funções administrativ<strong>as</strong> e <strong>de</strong><br />

gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>. Logo antes da consolidação jurídica da fusão, a executiva<br />

ocupava o cargo <strong>de</strong> Gerente Administrativa na Beta, centralizando <strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

relativ<strong>as</strong> a finanç<strong>as</strong>, compr<strong>as</strong> e recursos humanos da <strong>em</strong>presa. Com a criação da<br />

Beta-Gama S.A., a profissional p<strong>as</strong>sou a ocupar o cargo <strong>de</strong> Assessora da Diretoria,<br />

buscando aprimorar seus conhecimentos, com o objetivo <strong>de</strong> estruturar a área <strong>de</strong><br />

Gestão da Pesso<strong>as</strong> na nova organização.<br />

Conforme explicitado, a Beta-Gama S.A. permanece <strong>em</strong> pleno estado <strong>de</strong><br />

transformação. Nesse processo, vêm sendo fundamentais os papéis exercidos pelos<br />

dois profissionais entrevistados para a pesquisa. O Diretor Executivo, além <strong>de</strong> ter<br />

sido um dos responsáveis pela <strong>de</strong>cisão da fusão, v<strong>em</strong> gerenciando tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> ações<br />

estratégic<strong>as</strong> da <strong>em</strong>presa. É <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse profissional garantir a<br />

execução dos projetos relacionados a mudança <strong>de</strong> layout e estrutura da <strong>em</strong>presa,<br />

integração tecnológica e dos processos <strong>de</strong> negócio. Já a Assessora da Diretoria,<br />

uma d<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s incentivador<strong>as</strong> da mudança, v<strong>em</strong> administrando tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> questões<br />

relacionad<strong>as</strong> aos procedimentos jurídicos, imag<strong>em</strong> <strong>organizacional</strong> e integração dos<br />

processos <strong>de</strong> suporte, especialmente <strong>de</strong> recursos humanos.<br />

Nos próximos tópicos serão explorados <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong> os conteúdos d<strong>as</strong><br />

entrevist<strong>as</strong> <strong>de</strong> campo, analisando-os à luz dos referenciais teóricos estudados.<br />

Dessa forma, buscar-se-á respon<strong>de</strong>r aos objetivos específicos e geral da pesquisa,<br />

b<strong>em</strong> como sintetizar os principais achados e conclusões do estudo.


64<br />

4.2 I<strong>de</strong>ntificação e análise dos cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> n<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong><br />

Essa seção se propõe a aten<strong>de</strong>r ao primeiro objetivo específico da pesquisa. A<br />

análise d<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> questões II, III e IV da entrevista <strong>de</strong> campo<br />

permite que se investigu<strong>em</strong> os cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> vivenciados<br />

pel<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> Alpha Engenharia e Beta-Gama S.A. Esses cenários são<br />

intrinsecamente diferentes, e sua caracterização e análise são feit<strong>as</strong> usando-se<br />

como b<strong>as</strong>e os conceitos e tipologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> estudados na<br />

literatura.<br />

4.2.1 As mudanç<strong>as</strong> na Alpha Engenharia<br />

A primeira entrevista na Alpha Engenharia foi realizada com o Gerente <strong>de</strong> Portfólio e<br />

Apoio ao Negócio. Ele <strong>de</strong>screve <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> ocorrid<strong>as</strong> na <strong>em</strong>presa nos últimos<br />

dois anos como uma busca pela melhoria contínua <strong>de</strong> performance, principalmente<br />

financeira, e também operacional. Em linh<strong>as</strong> gerais, a <strong>em</strong>presa v<strong>em</strong> construindo<br />

novos ativos – procedimentos, ferrament<strong>as</strong> e form<strong>as</strong> <strong>de</strong> execução dos projetos <strong>de</strong><br />

engenharia – com o objetivo primordial <strong>de</strong> elevar o seu patamar <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e<br />

in<strong>de</strong>pendência.<br />

Com o mercado tornando-se cada vez mais competitivo, a Alpha Engenharia t<strong>em</strong><br />

vivenciado fortes pressões para manter seus recursos humanos, altamente técnicos<br />

e especializados. Por essa razão, um segundo objetivo na promoção d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

é a preparação e o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> equipes para que adquiram um foco <strong>em</strong><br />

gestão, saindo <strong>de</strong> uma posição excessivamente acadêmica. Especificamente <strong>em</strong><br />

relação a sua área, o Gerente afirma um terceiro objetivo, que <strong>de</strong>staca como seu<br />

maior <strong>de</strong>safio nesse processo, que é o <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> gerenciar <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>, seja<br />

através da sua equipe e/ou <strong>de</strong> sist<strong>em</strong><strong>as</strong> informatizados.


65<br />

Para aten<strong>de</strong>r a esses três objetivos, a <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong> impl<strong>em</strong>entado projetos –<br />

<strong>de</strong>finidos junto ao planejamento estratégico – que dão sustentação ao processo.<br />

Dentre esses projetos, o Gerente <strong>de</strong>stacou um novo programa <strong>de</strong> cargos e salários,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> treinamento <strong>de</strong> pessoal e a padronização dos<br />

processos <strong>de</strong> negócios e <strong>de</strong> suporte. Tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como outros<br />

projetos estratégicos da Alpha Engenharia, vêm ocorrendo <strong>de</strong>ntro d<strong>as</strong> metodologi<strong>as</strong><br />

e d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestão por resultados que foram sendo incorporad<strong>as</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início do processo <strong>de</strong> mudança.<br />

Entretanto, salienta o Gerente, ess<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> não geraram ruptur<strong>as</strong> acentuad<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> cultura <strong>organizacional</strong>. Característic<strong>as</strong> como o pleno atendimento aos<br />

clientes e a ênf<strong>as</strong>e dada à qualida<strong>de</strong> técnica dos projetos executados permanec<strong>em</strong><br />

como valores enraizados na <strong>em</strong>presa.<br />

Ainda <strong>as</strong>sim, o Gerente enfatiza que percebe alterações naquilo que chama <strong>de</strong><br />

“informalida<strong>de</strong>” d<strong>as</strong> relações. Explica que essa cultura <strong>de</strong> pronto atendimento às<br />

solicitações <strong>de</strong> clientes e foco na área técnica <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a processos pouco<br />

formalizados <strong>de</strong>ntro da Alpha Engenharia, o que veio impactar a capacida<strong>de</strong><br />

financeira da <strong>em</strong>presa. Nesse sentido, afirma, os projetos que vêm sendo<br />

<strong>de</strong>senvolvidos nos últimos dois anos, impulsionados pela impl<strong>em</strong>entação da gestão<br />

por resultados, estão contribuindo para reduzir essa informalida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>spersonalizar a <strong>em</strong>presa. Um ex<strong>em</strong>plo disso po<strong>de</strong> ser visto na seguinte citação:<br />

Há dois anos atrás, você po<strong>de</strong> não acreditar, m<strong>as</strong> era uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong><br />

projetos que não sabia quantos projetos tinha. Por quê? Porque não tinha<br />

uma rotina estabelecida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento que você faz uma proposta até o<br />

momento que n<strong>as</strong>ce um projeto para a equipe produtiva, e aquilo, por sua<br />

vez, entrar <strong>em</strong> um ciclo que gera faturamento, gera produto para o cliente<br />

(...) m<strong>as</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, começamos a fazer todo um processo <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong><br />

documentos, que é muito forte na engenharia. Então, acho que o peso<br />

técnico ainda é muito gran<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> a gestão começa a melhorar a partir <strong>de</strong><br />

um<strong>as</strong> rotin<strong>as</strong> que começam a ser estabelecid<strong>as</strong> (...) Hoje, enxergo que 90%<br />

a 95% dos projetos possu<strong>em</strong> um planejamento <strong>de</strong>ntro da metodologia.<br />

Interessante observar que <strong>as</strong> transformações explicitad<strong>as</strong> pelo Gerente <strong>de</strong> Portfólio<br />

e Apoio ao Negócio vêm ao encontro do conceito <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong><br />

proposto por Porr<strong>as</strong> e Robertson (2003), <strong>em</strong> que o processo é compreendido como<br />

um conjunto <strong>de</strong> teori<strong>as</strong> e técnic<strong>as</strong> que, <strong>de</strong> maneira planejada, visam melhorar o


66<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>organizacional</strong>. De forma compl<strong>em</strong>entar, analisando pelo viés do<br />

conceito <strong>de</strong> Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995), po<strong>de</strong>-se verificar que a Alpha<br />

Engenharia v<strong>em</strong> promovendo <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na sua gestão como forma <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />

ao incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> exigênci<strong>as</strong> do seu próprio entorno, com o objetivo primordial <strong>de</strong><br />

perenizar a <strong>em</strong>presa e mantê-la competitiva.<br />

Sobre os fatores <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adores da mudança <strong>organizacional</strong>, po<strong>de</strong>-se verificar<br />

que na Alpha Engenharia eles se originaram tanto do acirramento da<br />

competitivida<strong>de</strong> do mercado, como também <strong>de</strong> um crescimento <strong>organizacional</strong> e <strong>de</strong><br />

insatisfações intern<strong>as</strong> quanto ao funcionamento da <strong>em</strong>presa. Isso po<strong>de</strong> ser mais<br />

b<strong>em</strong> observado através do ex<strong>em</strong>plo fornecido pelo Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao<br />

Negócio:<br />

Uma outra característica que levou à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar é que a<br />

estrutura da Alpha Engenharia antes era extr<strong>em</strong>amente lenta e confusa.<br />

Não se conseguia <strong>de</strong>finir o papel, principalmente, <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> li<strong>de</strong>ranç<strong>as</strong><br />

máxim<strong>as</strong>, da alta administração. Muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> precisavam ser<br />

muito colegiad<strong>as</strong>, não se tomava <strong>de</strong>cisão ou se queria s<strong>em</strong>pre um pouco<br />

mais <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> informação. E, efetivamente, <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> p<strong>as</strong>savam. Hoje<br />

eu vejo esse papel mais claro.<br />

Na entrevista com o Diretor Executivo, o cenário da Alpha Engenharia é ainda<br />

melhor explicitado. O Diretor <strong>de</strong>screve a mudança <strong>organizacional</strong> pela qual a<br />

<strong>em</strong>presa v<strong>em</strong> p<strong>as</strong>sando ao longo dos últimos dois anos como uma iniciativa <strong>de</strong><br />

implantação <strong>de</strong> uma gestão profissional. Destaca que a <strong>em</strong>presa não n<strong>as</strong>ceu do<br />

<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo <strong>de</strong> seus sócios fundadores, m<strong>as</strong> da capacida<strong>de</strong> técnica e <strong>de</strong><br />

produção que ambos possuíam, e que ainda hoje é fort<strong>em</strong>ente reconhecida pelo<br />

mercado. Com o crescimento da <strong>em</strong>presa, impulsionado pela forte e agressiva<br />

d<strong>em</strong>anda do setor <strong>de</strong> mineração, a alta administração percebeu que a <strong>em</strong>presa não<br />

havia evoluído <strong>em</strong> sua capacida<strong>de</strong> gerencial.<br />

Por ess<strong>as</strong> razões, explica o Diretor, foram propost<strong>as</strong> du<strong>as</strong> transformações, que<br />

ocorreram <strong>em</strong> etap<strong>as</strong> separad<strong>as</strong> por aproximadamente um ano: a primeira foi a<br />

incorporação <strong>de</strong> conceitos básicos <strong>de</strong> gestão, especialmente n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> suporte<br />

ao negócio. Para isso, formalizaram-se <strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> recursos humanos, financeiro e<br />

tecnologia da informação – que originalmente se confundiam <strong>em</strong> um <strong>de</strong>partamento<br />

genérico <strong>de</strong>nominado administrativo. A segunda transformação, <strong>em</strong> curso, diz


67<br />

respeito a focar a Alpha Engenharia <strong>em</strong> uma gestão para resultados. O objetivo<br />

principal <strong>de</strong>ssa segunda etapa é dar visibilida<strong>de</strong> à Alpha Engenharia como uma<br />

<strong>em</strong>presa voltada para o mercado, com met<strong>as</strong> <strong>de</strong> resultado clar<strong>as</strong>. E, para isso, a alta<br />

administração afirma investir na participação <strong>de</strong> sua equipe <strong>de</strong> trabalho, como po<strong>de</strong><br />

ser observado na fala do Diretor Executivo:<br />

Estamos trabalhando no sentido <strong>de</strong> termos uma política <strong>de</strong> meritocracia<br />

interna. Quer<strong>em</strong>os incorporar a gestão por resultados não somente<br />

enquanto números aleatórios estabelecidos <strong>em</strong> um planejamento<br />

estratégico qualquer. Quer<strong>em</strong>os que os colaboradores entendam e<br />

transmitam que isso faz parte <strong>de</strong> uma postura cotidiana. Que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> que faz<strong>em</strong> parte do negócio entendam que a soma d<strong>as</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

cada uma <strong>de</strong>l<strong>as</strong> é que vai fazer com que a gente atinja, ou não, os<br />

resultados pretendidos pelo negócio.<br />

As explanações <strong>de</strong> ambos os gestores encontram sustentação no que é consi<strong>de</strong>rado<br />

por autores como Collins e Porr<strong>as</strong> (2000) e Wood Jr. (2000) como gatilhos para<br />

mudanç<strong>as</strong>. Esses autores concordam que exist<strong>em</strong> tanto fatores extraorganizacionais<br />

impulsionadores <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>, como é o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> macroeconômic<strong>as</strong> e<br />

alterações no ambiente <strong>de</strong> negócios, quanto intraorganizacionais, tais como<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho, crescimento <strong>organizacional</strong> e característic<strong>as</strong> dos níveis <strong>de</strong> gestão.<br />

Bressan (2001) afirma que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do tipo <strong>de</strong> mudança, a i<strong>de</strong>ntificação<br />

d<strong>as</strong> variáveis do contexto que a provocam é uma vantag<strong>em</strong> para os gestores, tendo<br />

<strong>em</strong> vista que o conhecimento po<strong>de</strong> permitir um melhor manejo do processo e o<br />

aumento da eficácia <strong>organizacional</strong>.<br />

Para respon<strong>de</strong>r efetivamente a esses fatores, Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995)<br />

apontam que <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se propor <strong>de</strong>safios-chave, tais como aumentar a<br />

qualida<strong>de</strong> e o valor ao cliente, reduzir custos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação interna, aumentar a<br />

competitivida<strong>de</strong> com inovação, reduzir o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> resposta ao mercado, motivar<br />

contribuições eficazes da força <strong>de</strong> trabalho, encontrar reais vantagens competitiv<strong>as</strong><br />

e, finalmente, gerenciar mudanç<strong>as</strong> com maior velocida<strong>de</strong>. Pelos objetivos d<strong>as</strong><br />

mudanç<strong>as</strong> organizacionais expostos <strong>em</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> da Alpha Engenharia,<br />

percebe-se que alguns <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>safios estão sendo vivenciados, almejando<br />

principalmente à sustentabilida<strong>de</strong> e ao sucesso da <strong>em</strong>presa.


68<br />

Quanto aos impactos percebidos com a impl<strong>em</strong>entação d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na<br />

organização, o Diretor Executivo faz algum<strong>as</strong> pontuações importantes. Destaca que,<br />

na primeira etapa, foi dada ênf<strong>as</strong>e ao esclarecimento dos papéis e funções <strong>de</strong>ntro<br />

da <strong>em</strong>presa. Ele afirma que, nesse ponto, foram i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> algum<strong>as</strong> <strong>de</strong>ficiênci<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong> relação às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> existentes na organização. Na segunda<br />

etapa, já com a participação no programa PAEX, os sócios-fundadores <strong>as</strong>sumiram a<br />

função <strong>de</strong> conselho ou comitê técnico, <strong>de</strong>ixando centralizada a gestão executiva do<br />

negócio na figura do Diretor Executivo, o que tornou o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão mais ágil. Já no segundo nível da estrutura, permaneceu a divisão entre <strong>as</strong><br />

gerênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> negócio e <strong>de</strong> suporte, com algum<strong>as</strong> alterações <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

nomenclatura <strong>de</strong> cargos e seus ocupantes.<br />

Tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>, enfatiza o Diretor, não visaram alterar sobr<strong>em</strong>aneira o<br />

negócio da Alpha Engenharia ou a sua cultura <strong>organizacional</strong>. O foco principal<br />

s<strong>em</strong>pre foi trazer a gestão da <strong>em</strong>presa para um nível mais profissional, melhorando<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente o seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e competitivida<strong>de</strong>. Obviamente, afirma, o<br />

perfil d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> t<strong>em</strong> mudado, e com isso algum<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> da <strong>em</strong>presa – o<br />

que é <strong>de</strong>sejável – m<strong>as</strong> os valores básicos e norteadores do negócio <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

permanecer os mesmos.<br />

Analisando a trajetória do processo <strong>de</strong> mudança da Alpha Engenharia, é possível<br />

verificar que há transformações significativ<strong>as</strong> na <strong>em</strong>presa, envolvendo muit<strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> e recursos <strong>de</strong> divers<strong>as</strong> fontes. Entretanto, é válido interpretar que <strong>as</strong><br />

mudanç<strong>as</strong> organizacionais ocorrid<strong>as</strong> não envolv<strong>em</strong> uma alteração fundamental no<br />

negócio da <strong>em</strong>presa. A Alpha Engenharia continua a prover seus clientes dos<br />

mesmos serviços <strong>de</strong> consultoria <strong>em</strong> projetos <strong>de</strong> mineração, sondag<strong>em</strong>, geologia <strong>de</strong><br />

engenharia e hidroenergia. A diferença é que v<strong>em</strong> buscando fazer isso <strong>de</strong> uma<br />

maneira melhor.<br />

De acordo com <strong>as</strong> tipologi<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> por Porr<strong>as</strong> e Robertson (2003), Weick e<br />

Quinn (1999) e Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995), <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> apresentad<strong>as</strong><br />

pelo processo da Alpha Engenharia sinalizam sua cl<strong>as</strong>sificação como uma mudança<br />

<strong>de</strong> primeira ord<strong>em</strong>, ou do tipo incr<strong>em</strong>ental/contínua.


69<br />

Segundo Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995), a mudança incr<strong>em</strong>ental/contínua<br />

ocorre <strong>em</strong> períodos <strong>de</strong> relativo equilíbrio, <strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa impl<strong>em</strong>enta ações para<br />

melhorar e/ou modificar seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho, sejam alterações na estrutura ou<br />

estratégi<strong>as</strong>, promoção <strong>de</strong> melhori<strong>as</strong> na cultura e <strong>as</strong>sim por diante. Nesse c<strong>as</strong>o, a<br />

mudança visa à melhoria contínua e à manutenção da congruência entre os<br />

componentes organizacionais, e <strong>em</strong> cada etapa do processo a <strong>em</strong>presa é<br />

constant<strong>em</strong>ente adaptada e modificada até que solucione seus probl<strong>em</strong><strong>as</strong>, sendo<br />

capaz <strong>de</strong> avançar <strong>de</strong> forma mais eficaz.<br />

Importante <strong>de</strong>stacar que a mudança do tipo incr<strong>em</strong>ental/contínua não é<br />

necessariamente pequena, ela po<strong>de</strong> ser profunda <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> recursos<br />

necessários ou pesso<strong>as</strong> impactad<strong>as</strong>, m<strong>as</strong>, ainda <strong>as</strong>sim, há uma continuida<strong>de</strong> no<br />

padrão <strong>de</strong> avanço da mudança.<br />

A seguir serão caracterizad<strong>as</strong> <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais promovid<strong>as</strong> na Beta-<br />

Gama S.A. Acredita-se que <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> dos cenários e dos tipos <strong>de</strong> mudança<br />

serão ainda mais evi<strong>de</strong>ntes com o <strong>de</strong>talhamento do processo obtido n<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong><br />

<strong>de</strong> campo.<br />

4.2.2 As mudanç<strong>as</strong> na Beta-Gama S.A.<br />

A primeira entrevista na Beta-Gama S.A. foi realizada com o sócio e diretor<br />

executivo, antes da fusão, Presi<strong>de</strong>nte da <strong>em</strong>presa Gama. Ao explicar o teor e os<br />

objetivos da mudança <strong>organizacional</strong> propostos à <strong>em</strong>presa, o diretor <strong>de</strong>staca dois<br />

fatores essenciais: o primeiro diz respeito ao lançamento <strong>de</strong> um novo produto pela<br />

Gama. Segundo ele, foi <strong>de</strong>senvolvido por essa <strong>em</strong>presa no ano <strong>de</strong> 2009 um produto<br />

<strong>de</strong> alta tecnologia, m<strong>as</strong> que exigia um elevado grau <strong>de</strong> investimento financeiro e <strong>de</strong><br />

pessoal especializado. Auxiliado pelo fato <strong>de</strong> pertencer à família do Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Beta, foi analisada a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> tecnologia entre <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

através <strong>de</strong> um acordo <strong>de</strong> parceria. O segundo fator foi o acirramento da d<strong>em</strong>anda<br />

dos clientes pela prestação <strong>de</strong> serviços mais completos na área <strong>de</strong> proteção contra<br />

incêndios. Enten<strong>de</strong>ndo que a Beta e a Gama possuíam produtos e serviços


70<br />

compl<strong>em</strong>entares – a primeira especializada na produção e execução <strong>de</strong> projetos<br />

novos e a segunda <strong>em</strong> sist<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> manutenção preventiva e corretiva –, a união<br />

entre <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pareceu uma solução <strong>de</strong>finitiva capaz <strong>de</strong> impulsionar fort<strong>em</strong>ente<br />

seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho financeiro. Com o aprofundamento da análise <strong>de</strong> ambos os<br />

fatores, <strong>de</strong>finiu-se que a fusão seria benéfica tanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mercado quanto <strong>de</strong> estruturação interna.<br />

Na entrevista com a Assessora da Diretoria, esses fatores impulsionadores da fusão<br />

são sintetizados a seguir:<br />

Um dos objetivos principais é que o mercado hoje está exigindo <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

muito competentes na área <strong>de</strong> incêndio. A gente chegou à conclusão que<br />

não justificava que du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> que são afins, até <strong>em</strong> termos familiares,<br />

estar<strong>em</strong> separad<strong>as</strong> quando po<strong>de</strong>riam unir forç<strong>as</strong> para se <strong>de</strong>stacar no<br />

mercado e aten<strong>de</strong>r aos clientes, que são muito s<strong>em</strong>elhantes. E a<br />

concorrência é muito predatória.<br />

É possível observar, a partir da <strong>de</strong>scrição dos executivos, que, também no c<strong>as</strong>o da<br />

Beta-Gama S.A., os gatilhos impulsionadores da mudança provieram tanto <strong>de</strong><br />

fatores ambientais quanto <strong>de</strong> fatores internos d<strong>as</strong> organizações. No c<strong>as</strong>o dos<br />

<strong>as</strong>pectos extraorganizacionais, <strong>de</strong>stacam-se novamente <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> do mercado e<br />

competição, m<strong>as</strong> com um incr<strong>em</strong>ento importante <strong>de</strong> inovação tecnológica. Já <strong>em</strong><br />

relação aos <strong>as</strong>pectos intraorganizacionais precipitadores da mudança, <strong>de</strong>staca-se a<br />

questão do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento da estrutura e da natureza<br />

da força <strong>de</strong> trabalho para o atendimento <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong>.<br />

Não cabe a este estudo investigar a relevância do <strong>as</strong>pecto familiar na <strong>de</strong>cisão da<br />

criação da Beta-Gama S.A. M<strong>as</strong> é possível observar no <strong>de</strong>correr d<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> que<br />

esse po<strong>de</strong> ter sido um fator <strong>de</strong>cisivo para a fusão, como forma <strong>de</strong> aumento e<br />

preservação do patrimônio familiar.<br />

O que parece diferenciar a transformação promovida pela Beta-Gama S.A. daquela<br />

promovida pela Alpha Engenharia é o grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> da resposta dada às<br />

forç<strong>as</strong> impulsionador<strong>as</strong> da mudança. De acordo com Sant’anna (2002), para fazer<br />

face às característic<strong>as</strong> da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> estão utilizando arm<strong>as</strong><br />

não convencionais para aten<strong>de</strong>r às d<strong>em</strong>and<strong>as</strong> do ambiente. O autor afirma que <strong>as</strong>


71<br />

experiênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestão tradicionais não têm se mostrado suficientes para respon<strong>de</strong>r<br />

às exigênci<strong>as</strong> do mercado mo<strong>de</strong>rno. Por isso, organizações como a Beta-Gama S.A.<br />

têm sido capazes <strong>de</strong> romper com o p<strong>as</strong>sado, construindo soluções “criativ<strong>as</strong><br />

capazes <strong>de</strong> dotar <strong>as</strong> organizações d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> às d<strong>em</strong>and<strong>as</strong><br />

<strong>de</strong>sse novo ambiente” (SANT’ANNA, 2002, p.76).<br />

Essa ruptura fica mais evi<strong>de</strong>nte n<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> dad<strong>as</strong> pelos executivos às questões<br />

III e IV da entrevista, que se refer<strong>em</strong> às característic<strong>as</strong> da <strong>em</strong>presa “antes da<br />

mudança” e “<strong>de</strong>pois da mudança”. O Diretor Executivo aponta separadamente para<br />

os <strong>as</strong>pectos <strong>de</strong> estrutura e processos da Beta e da Gama. Segundo ele, a Beta era<br />

uma <strong>em</strong>presa consolidada no mercado, que possuía mais <strong>de</strong> trinta e cinco anos <strong>de</strong><br />

existência, sustentada, principalmente, pelo <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo técnico e <strong>de</strong> vend<strong>as</strong><br />

<strong>de</strong> seu Presi<strong>de</strong>nte. Por essa razão, a Beta foi uma <strong>em</strong>presa que teve um elevado<br />

crescimento ao longo <strong>de</strong> sua história, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seu fundador. Até os di<strong>as</strong><br />

atuais, a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mercado da Beta permanece fort<strong>em</strong>ente vinculada à atuação<br />

executiva <strong>de</strong> seu fundador junto aos clientes.<br />

Já a Gama foi uma organização que teve seu crescimento b<strong>as</strong>tante lento no início<br />

<strong>de</strong> sua existência, tendo adquirido impulso apen<strong>as</strong> nos últimos quatro ou cinco anos.<br />

Não gozando <strong>de</strong> um nome técnico <strong>de</strong> referência <strong>em</strong> sua gerência geral, a <strong>em</strong>presa<br />

investiu na aquisição e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um maior profissionalismo <strong>em</strong> nível <strong>de</strong><br />

gestão. A diferença entre <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, e a representativida<strong>de</strong> que a fusão teve<br />

nesse sentido, po<strong>de</strong> ser percebida no <strong>de</strong>poimento da Assessora da Diretoria,<br />

quando afirma:<br />

A Beta t<strong>em</strong>... tinha um perfil muito paternalista e centralizador. O<br />

proprietário da Beta era uma pessoa que tinha uma capacida<strong>de</strong> muito<br />

gran<strong>de</strong> na área comercial, ele mesmo reconhece que a <strong>em</strong>presa foi<br />

crescendo, crescendo, e ele não dando conta <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>partamentos.<br />

Era uma <strong>em</strong>presa com mais <strong>de</strong> 30 anos e ele estava se sentindo um pouco<br />

só. Acabou que os filhos <strong>as</strong>sumiram essa parte <strong>de</strong> gestão, m<strong>as</strong> s<strong>em</strong> o<br />

conhecimento para tal.<br />

Quando a Gama começou a crescer o que chamou a atenção é o fato <strong>de</strong><br />

ela ter contratado profissionais <strong>de</strong> mercado, o que fez a diferença. Então, eu<br />

comecei a alertar: a gente precisa fazer o mesmo. Nós, na Beta, fazíamos<br />

cursos especializados, m<strong>as</strong> <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s da <strong>em</strong>presa estão além disso.<br />

É um aprendizado que t<strong>em</strong> que p<strong>as</strong>sar pela prática, e no mínimo uns cinco<br />

anos. É uma formação. Então, a fusão veio também nos ajudar nesse<br />

sentido.


72<br />

De acordo com o Diretor Executivo da Beta-Gama S.A., ainda não é possível<br />

<strong>de</strong>screver com precisão característic<strong>as</strong> únic<strong>as</strong> da nova <strong>em</strong>presa. Segundo o<br />

executivo, ainda se observam na Beta-Gama S.A. dois perfis diferentes convivendo<br />

na <strong>em</strong>presa, principalmente no que se refere a processos organizacionais e<br />

pesso<strong>as</strong>. Se, por um lado, existe uma cultura <strong>de</strong> gestão trazida pela internalização<br />

dos conceitos existentes na Gama, permanec<strong>em</strong> arraigad<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> paternalist<strong>as</strong><br />

oriund<strong>as</strong> da <strong>em</strong>presa Beta. Nesse sentido, afirma o Diretor Executivo, o ingresso da<br />

<strong>em</strong>presa no programa PAEX contou com a expectativa <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma unicida<strong>de</strong><br />

nos mecanismos <strong>de</strong> gestão da organização. Para isso, foi <strong>de</strong>senvolvido o primeiro<br />

planejamento estratégico da Beta-Gama S.A., propondo uma reflexão acerca do<br />

novo negócio e dos projetos estratégicos requeridos para a consolidação da fusão.<br />

A Assessora da Diretoria <strong>de</strong>staca <strong>as</strong> principais ações tomad<strong>as</strong> nesse sentido: a<br />

finalização do processo jurídico <strong>de</strong> fusão, a criação da nova estrutura <strong>organizacional</strong><br />

da <strong>em</strong>presa com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cargos e funções do primeiro e segundo nível<br />

gerencial, a comunicação interna formal aos colaboradores, <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> layout<br />

promovid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> suporte ao negócio, a re<strong>de</strong>finição (unificação) dos<br />

processos financeiros e contábeis da Beta-Gama S.A. e a contratação/manutenção<br />

<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> mercado para o segundo nível <strong>de</strong> gestão da <strong>em</strong>presa. Outro<br />

<strong>as</strong>pecto enfatizado pela Assessora diz respeito ao impacto n<strong>as</strong> tomad<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

da alta administração na nova <strong>em</strong>presa:<br />

Eu também acho que a gran<strong>de</strong> mudança na fusão é o Presi<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong>r<br />

compartilhar a gestão com outra pessoa, e a mesma coisa o Diretor<br />

Executivo. Eles não estão mais sós no que eles faziam. Além <strong>de</strong> contar com<br />

um corpo técnico especializado, com gestores especializados, eles hoje<br />

trocam, conversam e <strong>de</strong>cid<strong>em</strong> <strong>em</strong> conjunto, não mais isoladamente.<br />

Entretanto, afirma a executiva, <strong>em</strong> nível operacional ainda não é possível observar o<br />

impacto d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>. Diz que esse é o próximo caminho a ser trilhado pela<br />

<strong>em</strong>presa, e que está sendo finalizado um diagnóstico com o objetivo <strong>de</strong> verificar <strong>as</strong><br />

lacun<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do pessoal operacional. Um <strong>de</strong>sejo que está norteando<br />

<strong>as</strong> ações nesse sentido é o <strong>de</strong> enfocar a atração e manutenção <strong>de</strong> talentos técnicos<br />

e <strong>de</strong> gestão para a Beta-Gama S.A., m<strong>as</strong> a <strong>em</strong>presa ainda se percebe imatura<br />

quanto a esse quesito.


73<br />

Ainda que a fusão da Beta-Gama S.A. esteja <strong>em</strong> curso, é válido consi<strong>de</strong>rar que a<br />

profundida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na <strong>em</strong>presa é ainda mais relevante que aquela<br />

observada na Alpha Engenharia. Por essa razão, e analisando a caracterização d<strong>as</strong><br />

tipologi<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> por Porr<strong>as</strong> e Robertson (2003), Weick e Quinn (1999) e Nadler,<br />

Shaw, Walton e cols. (1995), po<strong>de</strong>-se cl<strong>as</strong>sificar a criação da nova <strong>em</strong>presa como<br />

uma mudança <strong>de</strong> segunda ord<strong>em</strong>, ou do tipo episódica, ou ainda <strong>de</strong>scontínua.<br />

Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995) <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> esse tipo <strong>de</strong> mudança como aquela<br />

ocorrida <strong>em</strong> períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio da <strong>em</strong>presa, <strong>em</strong> que d<strong>em</strong>and<strong>as</strong> radicais<br />

vind<strong>as</strong> do ambiente requer<strong>em</strong> alterações igualmente radicais na organização. Nesse<br />

c<strong>as</strong>o, a <strong>em</strong>presa não apen<strong>as</strong> busca melhorar seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e manter a<br />

congruência entre os componentes organizacionais, m<strong>as</strong> também construir uma<br />

nova configuração, b<strong>as</strong>eada <strong>em</strong> uma nova estratégia, <strong>em</strong> uma nova força <strong>de</strong><br />

trabalho, <strong>em</strong> um novo arranjo <strong>organizacional</strong> formal e <strong>as</strong>sim por diante. Finalmente,<br />

essa reconfiguração ten<strong>de</strong>rá a uma congruência mais eficaz e estável dos<br />

componentes organizacionais, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> após um período <strong>de</strong> intensa turbulência.<br />

Como se verifica na Beta-Gama S.A., mais do que uma série <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

incr<strong>em</strong>entais ocorrid<strong>as</strong> <strong>em</strong> uma b<strong>as</strong>e contínua, o tipo <strong>de</strong> transformação<br />

experienciada envolve um rompimento com o p<strong>as</strong>sado e uma profunda reconstrução<br />

<strong>em</strong> praticamente todos os el<strong>em</strong>entos da organização. Portanto, esse tipo <strong>de</strong><br />

mudança é consi<strong>de</strong>rado pelos autores como mais traumático, doloroso e exigente<br />

para os m<strong>em</strong>bros da <strong>em</strong>presa. As pesso<strong>as</strong>, os grupos e a totalida<strong>de</strong> da organização<br />

não apen<strong>as</strong> precisam apren<strong>de</strong>r nov<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong> <strong>de</strong> pensar, trabalhar e agir, m<strong>as</strong><br />

também <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser capazes <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sapren<strong>de</strong>r” hábitos, orientações, crenç<strong>as</strong> e<br />

rotin<strong>as</strong> que foram construíd<strong>as</strong> ao longo do t<strong>em</strong>po.<br />

Concluindo o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e análise dos cenários <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>, propõe-se sintetizar um comparativo<br />

entre a Alpha Engenharia e Beta-Gama S.A. sob a ótica do conceito e tipos <strong>de</strong><br />

mudança apresentados por Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995).


74<br />

Em uma avaliação d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> promovid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> nota-se que<br />

amb<strong>as</strong> foram relevantes para seus m<strong>em</strong>bros. M<strong>as</strong> há diferenç<strong>as</strong> significativ<strong>as</strong><br />

quanto à dinâmica d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> ocorrid<strong>as</strong>, permitindo uma caracterização distinta<br />

quanto a su<strong>as</strong> tipologi<strong>as</strong>.<br />

No c<strong>as</strong>o da Alpha Engenharia, a mudança analisada v<strong>em</strong> ocorrendo gradativamente<br />

ao longo dos últimos dois anos, e po<strong>de</strong> ser resumida como a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong><br />

metodologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestão por resultados, visando à melhoria contínua e ao aumento<br />

da competitivida<strong>de</strong> da <strong>em</strong>presa frente ao mercado. Sendo <strong>as</strong>sim, ainda que possa<br />

ser vista como uma mudança <strong>de</strong> impacto global na organização, ela po<strong>de</strong> ser<br />

cl<strong>as</strong>sificada como incr<strong>em</strong>ental/contínua, tendo <strong>em</strong> vista su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />

essenciais <strong>de</strong> constância, evolução, linearida<strong>de</strong> e ações cumulativ<strong>as</strong>.<br />

Por outro lado, na Beta-Gama S.A., a proposta <strong>de</strong> mudança veio sob a forma <strong>de</strong><br />

uma resposta radical às d<strong>em</strong>and<strong>as</strong> extern<strong>as</strong> e intern<strong>as</strong> do ambiente <strong>organizacional</strong>.<br />

Ao contrário da mudança do tipo incr<strong>em</strong>ental/contínua, há, nesse c<strong>as</strong>o, um<br />

rompimento dos paradigm<strong>as</strong> organizacionais e a reconfiguração <strong>de</strong> todos os seus<br />

el<strong>em</strong>entos: estratégia, estrutura, processos, tecnologia e pesso<strong>as</strong>. Por isso,<br />

cl<strong>as</strong>sifica-se a fusão d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> e a criação da Beta-Gama S.A. como uma<br />

mudança do tipo <strong>de</strong>scontínua, caracterizada essencialmente por ser<br />

multidimensional, multinível e radical.<br />

Ainda que <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> <strong>em</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> tenham, <strong>em</strong> última<br />

instância, um mesmo objetivo central <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> frente ao<br />

mercado, o mecanismo <strong>de</strong> resposta e o impacto d<strong>as</strong> transformações foram<br />

diferentes entre si. Cabe, agora, verificar nos próximos tópicos quais competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> são/foram requerid<strong>as</strong> nos <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong><br />

caracterizados neste estudo.<br />

4.3 Análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> no processo <strong>de</strong><br />

mudança <strong>organizacional</strong>


75<br />

Essa seção se propõe a aten<strong>de</strong>r ao segundo objetivo específico da pesquisa. A<br />

análise d<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> na questão VI da entrevista <strong>de</strong> campo permite que se<br />

i<strong>de</strong>ntifiqu<strong>em</strong> e analis<strong>em</strong> <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong><br />

aos processos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> experienciados pel<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> Alpha<br />

Engenharia e Beta-Gama S.A.<br />

4.3.1 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> para a Alpha Engenharia<br />

N<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> com o Diretor Executivo e com o Gerente <strong>de</strong> Portfólio e<br />

Apoio ao Negócio houve uma consonância quanto ao conteúdo d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança. Em linh<strong>as</strong> gerais,<br />

houve uma segregação daquilo que foi qualificado como competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> nível <strong>de</strong><br />

conhecimentos e competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> nível comportamental.<br />

O Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio i<strong>de</strong>ntificou b<strong>as</strong>icamente cinco<br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança: ser integrador, ser<br />

<strong>de</strong>senvolvedor, ser motivador, conhecimento e foco nos resultados do negócio e o<br />

conhecimento dos <strong>as</strong>pectos técnicos inerentes ao cargo.<br />

Aprofundando sua compreensão acerca <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, o gestor afirma que –<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto <strong>de</strong> dinamicida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> e métodos <strong>de</strong> trabalho – o mais<br />

essencial é que o gestor seja capaz <strong>de</strong> manter a integração d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> <strong>de</strong> sua<br />

equipe, m<strong>as</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po, promova a integração <strong>de</strong>ssa mesma equipe com o<br />

todo da organização. Associado a isso, o gestor <strong>de</strong>ve dar ênf<strong>as</strong>e ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento técnico e gerencial <strong>de</strong> seus subordinados, inclusive como forma <strong>de</strong><br />

reter ess<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e seus conhecimentos <strong>de</strong>ntro da organização.<br />

Outra competência gerencial <strong>de</strong>stacada pelo Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao<br />

Negócio é a capacida<strong>de</strong> do gestor <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> automotivar-se e<br />

motivar a sua equipe. Segundo ele, o ambiente <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entação da gestão por<br />

resultados po<strong>de</strong> ser, muit<strong>as</strong> vezes, frustrante. O conhecimento dos resultados<br />

positivos e negativos do negócio, o aumento da cobrança por alcance <strong>de</strong> met<strong>as</strong> e a


76<br />

percepção <strong>de</strong> um maior controle individual por parte da alta administração po<strong>de</strong><br />

gerar certo grau <strong>de</strong> insatisfação e reativida<strong>de</strong> por parte dos colaboradores, e até<br />

mesmo dos próprios gerentes. Por essa razão, essa <strong>de</strong>nominada competência<br />

motivadora (e automotivadora) torna-se importante para facilitar o <strong>de</strong>curso da<br />

mudança.<br />

Finalmente, é enfatizada pelo profissional a competência do conhecimento e foco<br />

nos resultados do negócio. Sobre isso, afirma:<br />

Hoje <strong>em</strong> dia, acho que uma competência do gestor que é facilitadora e<br />

fundamental a qualquer organização é que ele conheça profundamente e<br />

mantenha s<strong>em</strong>pre o foco nos resultados que se espera para o negócio. Por<br />

um lado, é importante para que <strong>as</strong> própri<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> que trabalham com<br />

esse gestor também <strong>de</strong>senvolvam esse mesmo foco, e segundo para que<br />

todos sejam capazes <strong>de</strong> entregar a contento os produtos aos seus clientes.<br />

Internos ou externos.<br />

De forma similar, o Diretor Executivo da Alpha Engenharia <strong>de</strong>nomina uma<br />

competência gerencial que consi<strong>de</strong>ra como gran<strong>de</strong> facilitadora para o processo <strong>de</strong><br />

mudança experienciado na Alpha Engenharia: a orientação para os resultados da<br />

<strong>em</strong>presa. Ele compreen<strong>de</strong> essa competência gerencial como um somatório <strong>de</strong><br />

requisitos que engloba conhecimentos dos principais indicadores <strong>de</strong> gestão e<br />

governança corporativa da organização, conhecimento <strong>de</strong> conceitos e prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

meritocracia, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> equipes e capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comunicar internamente os resultados pretendidos pela organização. Essa<br />

competência <strong>de</strong> orientação para resultados, afirma o Diretor, é primordial para<br />

gerentes que almej<strong>em</strong> atingir plenamente os objetivos <strong>de</strong> uma mudança<br />

<strong>organizacional</strong>.<br />

Além do conhecimento e orientação para resultados, cl<strong>as</strong>sificada pelo Diretor como<br />

uma “competência técnica”, são também i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> outr<strong>as</strong><br />

quatro competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong>, representando o <strong>as</strong>pecto “comportamental”:<br />

flexibilida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação, otimismo e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agregação <strong>de</strong><br />

pesso<strong>as</strong>.<br />

De forma mais elaborada, o Diretor <strong>de</strong>staca que a flexibilida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

negociação são característic<strong>as</strong> básic<strong>as</strong> para que um gestor obtenha sucesso na


77<br />

impl<strong>em</strong>entação da mudança. A <strong>as</strong>sociação <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> du<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ve permitir<br />

ao gestor circular mais facilmente entre os níveis operacional e estratégico da<br />

organização, ampliando a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção. Já a competência<br />

agregadora diz respeito à capacida<strong>de</strong> do gestor <strong>em</strong> integrar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> <strong>de</strong> sua<br />

equipe, direcionando-<strong>as</strong> a objetivos comuns, no c<strong>as</strong>o da Alpha Engenharia, aos<br />

objetivos propostos pela mudança <strong>organizacional</strong>.<br />

A última competência consi<strong>de</strong>rada facilitadora pelo Diretor Executivo é característica<br />

do que Le Boterf (2003) <strong>de</strong>nomina como saber-ser, o otimismo. Sobre essa<br />

competência, explica o Diretor:<br />

A pessoa que é responsável por uma mudança t<strong>em</strong> que ser capaz <strong>de</strong><br />

enxergar cada <strong>de</strong>safio vencido como uma vitória a ser com<strong>em</strong>orada.<br />

Quando um gestor se propõe a li<strong>de</strong>rar uma mudança, t<strong>em</strong> que saber que<br />

está exatamente entrando <strong>em</strong> confronto com um status, uma realida<strong>de</strong>, e<br />

que quer transformá-la. Então, não po<strong>de</strong> criticar qualquer probl<strong>em</strong>a que<br />

aparecer. O gestor <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>ve ter essa energia, <strong>de</strong> que está ali para<br />

vencer obstáculos, e que quanto mais obstáculos aparecer<strong>em</strong> melhor. Maior<br />

o <strong>de</strong>safio, maior o aprendizado, maior a vitória.<br />

Por fim, o Diretor Executivo salienta que a articulação e a aplicação <strong>de</strong>ss<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong> são fundamentais para que o processo <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> seja<br />

efetivamente impl<strong>em</strong>entado. S<strong>em</strong> a prática <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, conclui o<br />

executivo, a <strong>em</strong>presa acaba por executar divers<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> <strong>de</strong> maneira teórica –<br />

<strong>de</strong>senvolve seu planejamento estratégico, altera seu organograma, <strong>de</strong>screve sua<br />

missão, visão e valores – m<strong>as</strong> não é capaz <strong>de</strong> realmente consolidar <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong> sua rotina diária.<br />

Visando analisar <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> dos gestores da Alpha Engenharia sob a perspectiva<br />

teórica, primeiramente, faz-se necessário aprofundar o conceito <strong>de</strong> facilitador.<br />

Weaver e Farrel (2001) compreend<strong>em</strong> o ato <strong>de</strong> facilitar como um processo pelo qual<br />

o gestor auxilia os indivíduos a completar seu trabalho e melhorar sua forma <strong>de</strong><br />

trabalhar <strong>em</strong> conjunto. Gestores facilitadores são, portanto, aqueles que provêm<br />

métodos, técnic<strong>as</strong> e recursos que dão suporte tanto à execução eficiente do trabalho<br />

quanto aos próprios indivíduos.


78<br />

Analisando a caracterização proposta pelos autores acerca d<strong>as</strong> funções do gestor<br />

facilitador, observa-se que esse papel está relacionado a auxiliar, dar suporte,<br />

facilitar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a atingir <strong>de</strong>terminados objetivos. Po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ssa<br />

análise que uma característica essencial do gestor facilitador é a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alcançar resultados por meio d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>.<br />

Sob essa perspectiva, <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>nominad<strong>as</strong> integrador<strong>as</strong>, agregador<strong>as</strong>,<br />

motivador<strong>as</strong> e <strong>de</strong>senvolvedor<strong>as</strong>, i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> da Alpha Engenharia,<br />

pod<strong>em</strong> ser qualificad<strong>as</strong> como competênci<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> um gestor facilitador,<br />

na medida <strong>em</strong> que funcionam como promotor<strong>as</strong> <strong>de</strong> resultados através d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>.<br />

Outro <strong>as</strong>pecto a ser aprofundado é a cl<strong>as</strong>se <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> apontad<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />

entrevist<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança. Bartlett e Ghoshal (1997),<br />

por ex<strong>em</strong>plo, cl<strong>as</strong>sificam <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> três grupos: <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

personalida<strong>de</strong>, os conhecimentos ou experiênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>senvolvidos e <strong>as</strong> habilida<strong>de</strong>s<br />

especializad<strong>as</strong>. Já Fleury e Fleury (2001) categorizam <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> três<br />

blocos, envolvendo sist<strong>em</strong>icamente a relação do indivíduo com a <strong>em</strong>presa: <strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> do negócio, <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> técnico-profissionais e <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

sociais. Por sua vez, Le Boterf (2003) distingue os três tipos <strong>de</strong> saberes; o saber, o<br />

saber-fazer, e o saber-ser, cl<strong>as</strong>sificando-os <strong>em</strong> diferentes tipologi<strong>as</strong> e funções.<br />

Agrupando <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong><br />

pelos entrevistados da Alpha Engenharia, t<strong>em</strong>-se: ser integrador, ser <strong>de</strong>senvolvedor,<br />

ser motivador (a si mesmo e aos outros), ser flexível, ser negociador, ser otimista,<br />

possuir foco/orientação para resultados e possuir conhecimentos técnicos da função.<br />

Em linh<strong>as</strong> gerais, é possível i<strong>de</strong>ntificar diferentes cl<strong>as</strong>ses <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> quando<br />

utilizad<strong>as</strong> <strong>as</strong> propost<strong>as</strong> <strong>de</strong> categorização dos autores referenciados. Tomando como<br />

b<strong>as</strong>e os blocos <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>finidos por Fleury e Fleury (2001), po<strong>de</strong>-se<br />

buscar cl<strong>as</strong>sificar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong><br />

mudanç<strong>as</strong> – na compreensão dos entrevistados – conforme segue:<br />

<br />

As competênci<strong>as</strong> do negócio: conhecer acerca dos resultados esperados para<br />

o negócio (segregando o que foi explicitado como conhecimento dos


79<br />

indicadores <strong>de</strong> gestão e governança corporativa e conhecimento <strong>de</strong> conceitos<br />

e prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong> meritocracia).<br />

<br />

As competênci<strong>as</strong> técnico-profissionais: possuir conhecimentos técnicos da<br />

função.<br />

As competênci<strong>as</strong> sociais: possuir foco/orientação para resultados<br />

(segregando o que foi explicitado, como ser capaz <strong>de</strong> avaliar e <strong>de</strong>senvolver <strong>as</strong><br />

equipes <strong>de</strong> trabalho e ser capaz <strong>de</strong> comunicar internamente os resultados<br />

pretendidos pela organização), ser integrador, ser <strong>de</strong>senvolvedor, ser<br />

motivador a si mesmo e aos outros, ser flexível, ser negociador e ser otimista.<br />

Já utilizando <strong>as</strong> dimensões <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> Le Boterf (2003), pod<strong>em</strong>-se<br />

cl<strong>as</strong>sificar <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro da perspectiva dos saberes:<br />

<br />

<br />

<br />

Saber: possuir conhecimentos técnicos da função e conhecer acerca dos<br />

resultados esperados para o negócio (indicadores, conceitos e prátic<strong>as</strong>).<br />

Saber-fazer: possuir foco/orientação para resultados, ou seja, a aplicação<br />

<strong>de</strong>sses conhecimentos à prática.<br />

Saber-ser: ser integrador, ser <strong>de</strong>senvolvedor, ser motivador (a si mesmo e<br />

aos outros), ser flexível, ser negociador e ser otimista.<br />

Apesar <strong>de</strong> não ser possível inferir ou tirar maiores conclusões acerca <strong>de</strong>ssa<br />

cl<strong>as</strong>sificação, parece interessante o <strong>de</strong>staque dado pelos entrevistados às<br />

competênci<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong> ao comportamento social, ao saber-ser. Uma interpretação<br />

possível para esse fato seria o alto grau <strong>de</strong> exigência <strong>de</strong>ssa cl<strong>as</strong>se <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

na gestão <strong>de</strong> um processo complexo, como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> uma mudança<br />

<strong>organizacional</strong>.<br />

Por fim, outra questão relevante a ser analisada foi a importância dada pelo Diretor<br />

Executivo da Alpha Engenharia quanto à aplicação na prática <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> chamad<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong>. Destaca-se que um dos pontos <strong>de</strong> convergência dos<br />

conceitos <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> Fleury e Fleury (2001) e Le Boterf (2003) está na


80<br />

ênf<strong>as</strong>e relacionada ao saber agir e ao reconhecimento <strong>de</strong>sse saber pelo outro, como<br />

condição para a competência.<br />

A seguir serão investigad<strong>as</strong> <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong><br />

ao processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> pelos entrevistados da Beta-Gama S.A.<br />

Levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração <strong>as</strong> diferentes tipologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> que<br />

caracterizam <strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, é instigante verificar se esses diferentes <strong>contextos</strong><br />

interfer<strong>em</strong>, <strong>de</strong> alguma forma, na questão d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

4.3.2 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> para a Beta-Gama S.A.<br />

De forma diversa ao que ocorreu com a Alpha Engenharia, <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />

entrevist<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> com a Beta-Gama S.A. não foram similares entre si, no que se<br />

refere às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> tid<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>.<br />

Iniciando pel<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações do Diretor Executivo, o rol <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> <strong>de</strong>scrit<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> foi<br />

composto por três itens: possuir forte conhecimento técnico (especialmente<br />

financeiro), saber priorizar e estar focado nos resultados esperados pela <strong>em</strong>presa e<br />

ser orientador.<br />

Ao aprofundar su<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações sobre <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong>, o Diretor<br />

Executivo explica que o conhecimento financeiro t<strong>em</strong> sido uma ferramenta essencial<br />

ao processo <strong>de</strong> fusão d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>. Destaca que uma gran<strong>de</strong> fraqueza d<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> que originaram a Beta-Gama S.A. era não possuir conhecimento<br />

aprofundado dos conceitos financeiros mais básicos. Por essa razão, a tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão do nível estratégico foi s<strong>em</strong>pre pouco <strong>em</strong>b<strong>as</strong>ada e segura. Portanto, antes<br />

mesmo <strong>de</strong> iniciar a fusão d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, buscou-se no mercado um profissional<br />

especializado <strong>em</strong> finanç<strong>as</strong> corporativ<strong>as</strong>, como forma <strong>de</strong> reduzir essa lacuna <strong>de</strong><br />

competência para a Beta-Gama S.A.


81<br />

Quanto a saber priorizar e estar focado nos principais resultados esperados pela<br />

<strong>em</strong>presa, o Diretor Executivo explica que, <strong>em</strong> uma fusão <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, há uma série<br />

<strong>de</strong> projetos e objetivos que precisam ser i<strong>de</strong>ntificados, priorizados e gerenciados<br />

com extr<strong>em</strong>o cuidado. Afirma que o volume <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s oriund<strong>as</strong> do processo <strong>de</strong><br />

fusão, muit<strong>as</strong> vezes, po<strong>de</strong> fazer com que aquilo que é essencial para o sucesso da<br />

<strong>em</strong>presa se perca <strong>em</strong> um “amontoado <strong>de</strong> taref<strong>as</strong> rotineir<strong>as</strong> e s<strong>em</strong> sentido”. Por isso,<br />

diz, saber i<strong>de</strong>ntificar, priorizar e focar no que é realmente importante para a <strong>em</strong>presa<br />

é uma competência que auxilia sobr<strong>em</strong>aneira a situação <strong>de</strong> mudança.<br />

Por fim, <strong>em</strong> relação a ser orientador, o Diretor Executivo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o gestor <strong>em</strong><br />

processo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>ve ter como característica pessoal a tranquilida<strong>de</strong> para<br />

orientar a sua equipe, fazendo com que todos trabalh<strong>em</strong> voltados a um objetivo<br />

comum. Diz também que ser orientador significa dar direcionamento às ações,<br />

auxiliar na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, e que isso po<strong>de</strong> ser aplicado tanto <strong>em</strong> relação aos<br />

subordinados quanto ao nível estratégico.<br />

Quiçá por sua orientação profissional voltada para a gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>, a<br />

Assessora da Diretoria <strong>de</strong>u maior foco às competênci<strong>as</strong> relacionad<strong>as</strong> aos<br />

comportamentos necessários a um gestor <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> mudança, a saber: o<br />

espírito <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, o comprometimento e a habilida<strong>de</strong> para reter e agregar<br />

pesso<strong>as</strong>.<br />

Esclarecendo sua compreensão sobre ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> indicad<strong>as</strong> como<br />

facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança, a Assessora da Diretoria expressa sua<br />

preocupação <strong>em</strong> relação aos funcionários d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> que vivenciam uma fusão.<br />

Afirma que o gestor <strong>de</strong>ve comprometer-se com a <strong>em</strong>presa e com os objetivos d<strong>as</strong><br />

mudanç<strong>as</strong>, preocupando-se com o resultado “como se ele próprio fosse dono da<br />

<strong>em</strong>presa”.<br />

Somado a isso, e enten<strong>de</strong>ndo a fusão <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> como um momento <strong>de</strong>licado, a<br />

executiva enfatiza que o gestor <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rar, reter e agregar <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> <strong>de</strong> sua equipe, eliminando comportamentos que pod<strong>em</strong> ser nocivos à<br />

organização, como ilustra a citação:


82<br />

Em mudança é muito comum a caça às brux<strong>as</strong>, e a gente p<strong>as</strong>sa por um<br />

período <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong> porque todos ficam com muito medo. Por<br />

isso, o gestor t<strong>em</strong> que ter a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não dizer, <strong>de</strong> não afirmar: você vai<br />

ser mandado <strong>em</strong>bora. Que todos sintam que pod<strong>em</strong> fazer parte e que, se<br />

não fizer, isso possa ser tratado da forma mais profissional e humana<br />

possível. Então, antes <strong>de</strong> tudo, a pessoa que vai ser gestora <strong>em</strong> uma fusão<br />

t<strong>em</strong> que ter esse espírito, essa competência <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, <strong>de</strong> saber reter <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong>, saber agregar e não <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregar.<br />

Agrupando <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> mencionad<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> do<br />

processo <strong>de</strong> mudança da Beta-Gama S.A., obtêm: possuir forte conhecimento<br />

técnico-financeiro, saber priorizar e estar focado nos principais resultados esperados<br />

pela <strong>em</strong>presa, ser orientador, ter espírito <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, ter comprometimento e ter<br />

habilida<strong>de</strong> para reter e agregar pesso<strong>as</strong>.<br />

A análise <strong>de</strong>sse elenco <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>, <strong>de</strong> forma análoga à Alpha Engenharia,<br />

também permite sua cl<strong>as</strong>sificação <strong>em</strong> categori<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> <strong>de</strong> acordo com o<br />

referencial teórico estudado. Utilizando como b<strong>as</strong>e a tría<strong>de</strong> do saber, saber-fazer e<br />

saber-ser <strong>de</strong> Le Boterf (2003), po<strong>de</strong>-se sugerir:<br />

<br />

<br />

<br />

Saber: possuir conhecimento técnico, no c<strong>as</strong>o <strong>em</strong> questão tendo sido<br />

priorizados os conhecimentos financeiros.<br />

Saber-fazer: saber priorizar e estar focado nos principais resultados<br />

esperados pela <strong>em</strong>presa, ter habilida<strong>de</strong> para reter e agregar pesso<strong>as</strong>.<br />

Saber-ser: ser orientador, ter espírito <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, ter comprometimento.<br />

Entretanto, mais relevante que uma simples categorização é a análise <strong>de</strong> como os<br />

entrevistados <strong>de</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> compreend<strong>em</strong> ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong><br />

como facilitador<strong>as</strong> aos cenários <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> experienciados pela Alpha Engenharia<br />

e pela Beta-Gama S.A.<br />

Em primeiro lugar, faz-se necessário mencionar que nenhuma d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

pesquisad<strong>as</strong> possui uma área <strong>de</strong> recursos humanos que trabalhe conceitos <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> na gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>. Ao contrário, nos dois c<strong>as</strong>os, a função<br />

recursos humanos é puramente operacional, centrando-se <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

relacionad<strong>as</strong> a provimento <strong>de</strong> cargos, salários e benefícios. Portanto, trabalhar com<br />

o conceito <strong>de</strong> competência gerencial junto aos executivos da Alpha Engenharia e da


83<br />

Beta-Gama S.A. exigiu, antes <strong>de</strong> tudo, um breve esforço <strong>de</strong> conceituação, que<br />

serviu a fornecer um norte quanto ao que estava sendo questionado. Entretanto, até<br />

o momento da apresentar e solicitar a priorização da lista <strong>de</strong> saberes utilizada como<br />

instrumento compl<strong>em</strong>entar à sétima questão da entrevista, não foi feita nenhuma<br />

sugestão ou recomendação que pu<strong>de</strong>sse direcionar a resposta dos entrevistados<br />

quanto às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>.<br />

Isto posto, como pô<strong>de</strong> ser observado <strong>de</strong> maneira geral, os executivos entrevistados<br />

relacionaram su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong> com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

orientar pesso<strong>as</strong> e obter resultados através <strong>de</strong>l<strong>as</strong>. Esse resultado corrobora a<br />

posição <strong>de</strong> Bartlett e Ghoshal (1997), quando significam o ato <strong>de</strong> gerenciar, acima<br />

<strong>de</strong> tudo, como a consecução <strong>de</strong> resultados por meio d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>. Não <strong>de</strong>sprovendo<br />

<strong>de</strong> valor o trabalho sobre números, tendênci<strong>as</strong> ou a reestruturação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, os<br />

autores enfatizam que o papel mais crucial e valioso dos gestores é exatamente o<br />

<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> atrair, motivar, <strong>de</strong>senvolver e reter pesso<strong>as</strong>.<br />

Detendo-se mais acentuadamente nos papéis <strong>de</strong> mentor e facilitador propostos por<br />

Quinn (2003), nota-se uma similarida<strong>de</strong> tanto com a posição <strong>de</strong> Bartlett e Ghoshal<br />

(1997) quanto <strong>de</strong> Weaver e Farrel (2001) no que se refere ao mérito do gestor <strong>em</strong> –<br />

como facilitador – coadjuvar e auxiliar a sua equipe na obtenção <strong>de</strong> resultados para<br />

a organização.<br />

Mais um <strong>as</strong>pecto afim i<strong>de</strong>ntificado n<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> se reporta aos executivos <strong>de</strong><br />

amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> elencar<strong>em</strong> su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> articulando conhecimentos<br />

técnicos/teóricos, a prática profissional e os comportamentos <strong>de</strong>sejáveis aos<br />

gestores. Esse resultado confirma o que é ressaltado por Le Boterf (2003): a<br />

competência situa-se <strong>em</strong> uma intersecção entre os diferentes saberes, e é preciso<br />

que haja a operacionalização e a transformação <strong>de</strong>sses saberes para que acedam<br />

ao estatuto <strong>de</strong> competência.<br />

Sant’anna (2002), fundamentado nos conceitos <strong>de</strong> Le Boterf (1995), compl<strong>em</strong>enta<br />

fazendo três consi<strong>de</strong>rações sobre a questão d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>. A primeira <strong>de</strong>staca<br />

que a competência não é apen<strong>as</strong> um estado ou conhecimento que se possui, pois é


84<br />

necessário que se saiba mobilizá-la <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> trabalho ou momentos<br />

oportunos. A segunda refere que a competência é contingencial, exercida <strong>em</strong> um<br />

contexto particular, exigindo, portanto, flexibilida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualização. A<br />

terceira afirma que a competência não se constitui apen<strong>as</strong> um construto operatório,<br />

m<strong>as</strong> também social, <strong>em</strong> que o indivíduo é guiado por valores, significações e<br />

mo<strong>de</strong>los socialmente compartilhados. Por conseguinte, a competência está<br />

<strong>as</strong>sociada às polític<strong>as</strong> e prátic<strong>as</strong> organizacionais, e est<strong>as</strong> pod<strong>em</strong> favorecer ou<br />

dificultar a competência.<br />

Essa última consi<strong>de</strong>ração é também relevante ao próximo tópico, que aborda a<br />

investigação sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>, pois po<strong>de</strong>rá ser verificado<br />

se <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> apontad<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> aos processos <strong>de</strong><br />

mudança encontram terrenos férteis n<strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong> organizações para que se<br />

<strong>de</strong>senvolvam.<br />

Finalmente, examinando <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> fornecid<strong>as</strong> pelos quatro executivos<br />

entrevistados, não foi possível concluir maiores divergênci<strong>as</strong> quanto às<br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> nos cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> dos<br />

tipos incr<strong>em</strong>ental/contínua e <strong>de</strong>scontínua. Apesar <strong>de</strong> Nadler, Shaw, Walton e cols.<br />

(1995) fazer<strong>em</strong> distinção entre os papéis dos gestores <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> dos tipos<br />

incr<strong>em</strong>ental/contínua e <strong>de</strong>scontínu<strong>as</strong>, essa diferença não foi evi<strong>de</strong>nciada até este<br />

ponto do estudo.<br />

4.4 Investigação sobre o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong><br />

Esta seção se propõe a aten<strong>de</strong>r ao terceiro objetivo específico da pesquisa. As<br />

questões V e VII da entrevista <strong>de</strong> campo visam investigar “se” e “como” ocorreu o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> dos gestores envolvidos n<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

organizacionais da Alpha Engenharia e Beta-Gama S.A. Como pontos para análise<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, são consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> tanto <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> formais<br />

quanto <strong>as</strong> informais promovid<strong>as</strong> pela <strong>em</strong>presa e pelo próprio gestor.


85<br />

4.4.1 O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> na Alpha Engenharia<br />

Possivelmente por razão da ausência <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> recursos humanos efetiva,<br />

como foi explicitado, fica visível n<strong>as</strong> pon<strong>de</strong>rações do Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao<br />

Negócio e do Diretor Executivo da Alpha Engenharia a esc<strong>as</strong>sez <strong>de</strong> ações<br />

planejad<strong>as</strong> e formais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

De acordo com os profissionais, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> programa <strong>de</strong> preparação para a<br />

implantação da gestão por resultados na Alpha Engenharia, du<strong>as</strong> únic<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong><br />

formais foram promovid<strong>as</strong> pela <strong>em</strong>presa. A primeira foi a contratação <strong>de</strong> uma<br />

consultoria externa para revisão da estrutura e funções organizacionais no ano <strong>de</strong><br />

2008. A segunda foi o ingresso da <strong>em</strong>presa no programa PAEX da Fundação Dom<br />

Cabral, no princípio do ano <strong>de</strong> 2010. Além disso, nenhuma d<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> citad<strong>as</strong> foi<br />

realizada com o intuito claro <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> com vist<strong>as</strong> aos<br />

resultados da mudança <strong>organizacional</strong> proposta.<br />

De certa maneira, houve uma intenção por parte da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> capacitar os<br />

principais executivos da Alpha Engenharia nos conceitos básicos da gestão por<br />

resultados, m<strong>as</strong>, como explica o Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio:<br />

Houve uma capacitação pontual, pouca, e não exatamente para <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong><br />

que precisavam. Houve uma tentativa <strong>de</strong> capacitação, que acredito ter sido<br />

insuficiente, e acho que outr<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> também <strong>de</strong>veriam ter sido<br />

envolvid<strong>as</strong>.<br />

Na opinião do Diretor Executivo:<br />

Sinceramente, acho que praticamente não existiram trabalhos realmente<br />

direcionados pelo nosso projeto <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entar a gestão por resultados.<br />

Nós p<strong>as</strong>samos por um realinhamento da área <strong>de</strong> recursos humanos então,<br />

apesar <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>rmos conceitualmente que a gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> é<br />

estratégico ao negócio, não soub<strong>em</strong>os realmente planejar um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do nível gerencial mais aprofundado.<br />

O que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>preendido <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>poimentos é o aparente <strong>de</strong>spreparo da<br />

<strong>em</strong>presa para vincular a mudança <strong>organizacional</strong> pretendida com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

capacitar seus gestores para esse fim. Acredita-se que <strong>as</strong> principais razões para


86<br />

essa incapacida<strong>de</strong> foram – além da nomeada ausência <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> recursos<br />

humanos na <strong>em</strong>presa – a falta <strong>de</strong> conhecimento acerca d<strong>as</strong> lacun<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> dos gestores que li<strong>de</strong>rariam <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como a crença <strong>de</strong> que<br />

seria possível ir suprindo <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação ao longo do processo,<br />

s<strong>em</strong> que isso exigisse um planejamento antecipado.<br />

Em seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> individuais e <strong>gerenciais</strong>, Cripe<br />

e Mansfield (2003) situam a i<strong>de</strong>ntificação e o entendimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

necessári<strong>as</strong> ao profissional como a primeira <strong>de</strong>ntre <strong>as</strong> sete etap<strong>as</strong> incr<strong>em</strong>entais do<br />

processo. Refletindo sobre a realida<strong>de</strong> da Alpha Engenharia, percebe-se que n<strong>em</strong><br />

mesmo essa i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> é feita, sendo ainda b<strong>as</strong>tante imaturo o<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> capacitação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>.<br />

Entendido que, segundo Alles (2004), <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> levam <strong>em</strong> conta uma corresponsabilida<strong>de</strong> entre a organização e o<br />

indivíduo, foram examinad<strong>as</strong> também <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

executivos entrevistados da Alpha Engenharia.<br />

Por esse ângulo, foi possível extrair um pouco mais <strong>de</strong> informação sobre o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>, ainda que também fracamente vinculad<strong>as</strong> ao<br />

contexto <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>. O Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong>staca <strong>as</strong> su<strong>as</strong> pós-graduações <strong>em</strong> gerenciamento <strong>de</strong> projetos e<br />

gestão <strong>de</strong> negócios, um treinamento formal <strong>em</strong> gestão por resultados e a<br />

capacitação on the job no gerenciamento <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> como <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> mais<br />

relevantes que promoveu no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver <strong>as</strong> su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong>.<br />

Já o Diretor Executivo <strong>de</strong>fine a si mesmo como um autodidata. Quanto às<br />

competênci<strong>as</strong> relacionad<strong>as</strong> ao negócio da Alpha Engenharia, o profissional afirma<br />

ter tido a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> circular entre <strong>as</strong> mais diferentes áre<strong>as</strong> da <strong>em</strong>presa, tendo<br />

sido capaz <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r conhecimentos <strong>em</strong> tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sagens. Acrescenta,<br />

também, que, quando lhe foi d<strong>em</strong>andado <strong>as</strong>sumir a Gerência Administrativa e<br />

Financeira há alguns anos, foi buscar <strong>em</strong> uma pós-graduação <strong>em</strong> gestão<br />

<strong>em</strong>presarial o <strong>de</strong>senvolvimento que consi<strong>de</strong>rou necessário para o cargo. Já <strong>em</strong>


87<br />

relação às últim<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> da <strong>em</strong>presa, a impl<strong>em</strong>entação da gestão por<br />

resultados, o Diretor salienta que – além <strong>de</strong> ser o principal patrocinador d<strong>as</strong><br />

iniciativ<strong>as</strong> formais promovid<strong>as</strong> pela <strong>em</strong>presa – busca para si próprio a participação<br />

<strong>em</strong> eventos <strong>gerenciais</strong> e cursos especializados <strong>em</strong> t<strong>em</strong><strong>as</strong> correlatos.<br />

Quanto às prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>senvolvimento dos gestores da Alpha Engenharia,<br />

verifica-se uma ênf<strong>as</strong>e dada à aquisição <strong>de</strong> conhecimentos específicos para o<br />

exercício d<strong>as</strong> funções e a prática ocupacional. Cardona e Chinchilla (1999)<br />

consi<strong>de</strong>ram que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ve se concentrar igualmente<br />

na aquisição <strong>de</strong> conhecimento via informação, no aperfeiçoamento d<strong>as</strong> habilida<strong>de</strong>s<br />

através da prática e no treinamento <strong>em</strong> antecipar <strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> d<strong>as</strong> atitu<strong>de</strong>s e<br />

omissões. Entretanto, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver<strong>em</strong> uma série <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> comportamentais como facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>, ambos os executivos da Alpha Engenharia não souberam informar<br />

como eles próprios <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

Uma hipótese para essa omissão <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> comportamentais r<strong>em</strong>ete ao Mo<strong>de</strong>lo do Iceberg <strong>de</strong> Alles (2004).<br />

Nesse mo<strong>de</strong>lo, a autora refere que os conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s são<br />

componentes da competência mais visíveis, fáceis <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e abordados com<br />

maior frequência, enquanto os comportamentos, ou traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, são<br />

componentes menos visíveis, mais difíceis <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e, consequent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver.<br />

Em suma, a investigação sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> para<br />

a mudança <strong>organizacional</strong> na Alpha Engenharia permite observar uma <strong>de</strong>f<strong>as</strong>ag<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> relação àquilo que é expresso como <strong>de</strong>sejável para a <strong>em</strong>presa. Partindo da<br />

ausência <strong>de</strong> uma real i<strong>de</strong>ntificação e entendimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> que são<br />

necessári<strong>as</strong> a mudança, até o planejamento e promoção <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento (ou auto<strong>de</strong>senvolvimento) d<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong>, verifica-se um atr<strong>as</strong>o e<br />

uma reativida<strong>de</strong> que são b<strong>em</strong> concluíd<strong>as</strong> no discurso do Diretor Executivo:<br />

Perceb<strong>em</strong>os hoje que muit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> dificulda<strong>de</strong>s que estamos enfrentando ,<br />

principalmente <strong>em</strong> relação às competênci<strong>as</strong> dos nossos gerentes, estão<br />

também atrelad<strong>as</strong> a essa falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> que a <strong>em</strong>presa teve <strong>em</strong>,


88<br />

antecipadamente, ter preparado ess<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> para os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>, nesse<br />

momento <strong>de</strong> mudança, tocar o dia a dia do negócio.<br />

4.4.2 O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> na Beta-Gama S.A.<br />

A preparação e o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> para a mudança<br />

<strong>organizacional</strong> na Beta-Gama S.A. foi também esc<strong>as</strong>sa, tal qual na Alpha<br />

Engenharia. O Diretor Executivo e a Assessora da Diretoria apresentaram<br />

disposições praticamente idêntic<strong>as</strong> quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>,<br />

tanto aquel<strong>as</strong> promovid<strong>as</strong> pela <strong>em</strong>presa quanto por si próprios.<br />

De modo geral, du<strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s foram relatad<strong>as</strong> como direcionad<strong>as</strong> ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do nível gerencial. A primeira, o ingresso da família no PDA –<br />

Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>de</strong> Acionist<strong>as</strong> –, foi iniciada anos antes da tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão sobre a fusão d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>. Como nota <strong>de</strong> esclarecimento, o Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Beta-Gama S.A. é o fundador da <strong>em</strong>presa Beta, pai da Assessora da Diretoria e<br />

sogro do Diretor Executivo, esses últimos participantes <strong>de</strong>ste estudo.<br />

Ao participar do programa, relata o Diretor Executivo, o objetivo principal foi a<br />

integração e o direcionamento dos m<strong>em</strong>bros da família no sentido <strong>de</strong> valorizar e<br />

proteger o patrimônio d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>. Também foram tratados <strong>as</strong>suntos relacionados<br />

à questão sucessória da <strong>em</strong>presa Beta, acabando por s<strong>em</strong>ear a fusão com a Gama.<br />

Longe <strong>de</strong> ter sido uma preparação planejada para a fusão d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, o Diretor<br />

Executivo realça que o espaço <strong>de</strong> conhecimento e diálogo proporcionado pelo<br />

programa foi essencial ao próprio <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

relacionais, <strong>em</strong> especial <strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escuta e <strong>de</strong> negociação com os<br />

m<strong>em</strong>bros da família.<br />

De modo análogo, a Assessora da Diretoria afirma:<br />

Foi no PDA que a gente começou a perceber o quanto havia cois<strong>as</strong> a ser<strong>em</strong><br />

trabalhad<strong>as</strong> para conseguir levar a <strong>em</strong>presa adiante. Infelizmente, n<strong>em</strong><br />

tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> da família tiveram o mesmo aproveitamento com o


89<br />

programa, m<strong>as</strong> para mim, para o meu pai e para o João (nome fictício do<br />

Diretor Executivo) foi essencial para que a gente conseguisse se relacionar<br />

melhor naquilo que dizia respeito à <strong>em</strong>presa. Quando a gente começou no<br />

PDA não havia ainda a i<strong>de</strong>ia da fusão, m<strong>as</strong> acho que acabou sendo uma<br />

d<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> mais importantes para que a gente pu<strong>de</strong>sse, hoje, estar aqui<br />

tentando fazer essa nova <strong>em</strong>presa funcionar.<br />

Ainda que não tenha sido uma iniciativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> vinculada ao processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>, é válido afirmar que<br />

houve uma prática formal, proporcionada pela <strong>em</strong>presa, visando ao aperfeiçoamento<br />

daqueles que viriam a ser os principais executivos da Beta-Gama S.A. Possuindo o<br />

PDA uma dinâmica que mescla aporte conceitual, <strong>de</strong>bates e intercâmbios <strong>de</strong><br />

experiênci<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> participantes <strong>de</strong> sua re<strong>de</strong>, esse aperfeiçoamento foi<br />

promovido tanto no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> nível <strong>de</strong><br />

conhecimentos quanto <strong>de</strong> comportamentos.<br />

Após o período <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> participação no PDA, e já com a <strong>de</strong>cisão<br />

da fusão tomada, explica o Diretor Executivo, ocorreu uma i<strong>de</strong>ntificação mais<br />

madura d<strong>as</strong> <strong>de</strong>f<strong>as</strong>agens que a <strong>em</strong>presa – e sua alta administração – possuíam <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> gestão. Nesse ponto, preocupados <strong>em</strong> não saber direcionar e organizar<br />

uma fusão, foram adotad<strong>as</strong> du<strong>as</strong> ações: a contratação <strong>de</strong> uma consultoria para<br />

orientar os procedimentos jurídicos inerentes ao processo e o ingresso no PAEX.<br />

Em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> para o nível <strong>de</strong> gestão, a segunda<br />

ação citada, para ambos os entrevistados, foi a única <strong>de</strong>finida conscient<strong>em</strong>ente<br />

pensando na mudança <strong>organizacional</strong> vindoura. Entretanto, como salientam os<br />

entrevistados, foi insuficiente <strong>em</strong> relação ao envolvimento <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>-chave para os<br />

objetivos da organização. Explica o Diretor Executivo:<br />

O PAEX a gente já fez pensando <strong>em</strong> organizar a c<strong>as</strong>a para a fusão. Como a<br />

gente já conhecia o programa por causa da nossa parceria com a Fundação<br />

Dom Cabral, sabíamos que a i<strong>de</strong>ia era <strong>de</strong>senvolver os conhecimentos <strong>de</strong><br />

gestão, e começar a colocar <strong>em</strong> prática já <strong>de</strong>ntro da nova <strong>em</strong>presa. O<br />

probl<strong>em</strong>a é que a gente pensou isso s<strong>em</strong> ter envolvido os outros gerentes<br />

da <strong>em</strong>presa, acabamos fechando só com o pessoal da família <strong>de</strong> novo. Foi<br />

bom, m<strong>as</strong> acabou ficando um conhecimento muito centralizado, e não dava<br />

pra dar conta <strong>de</strong> tudo sozinho. Com certeza a gente tinha que ter colocado<br />

mais gente da <strong>em</strong>presa no PAEX, faltou <strong>de</strong>legação.


90<br />

O que se observa diante d<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> na Beta-Gama S.A. é um enfoque <strong>de</strong><br />

capacitação dado à alta administração, à administração familiar, e uma exclusão do<br />

corpo gerencial da <strong>em</strong>presa nesse processo. Novamente, po<strong>de</strong>-se aludir a ausência<br />

<strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> recursos humanos efetiva como possível explicação para essa falta<br />

<strong>de</strong> envolvimento <strong>de</strong> outros profissionais <strong>em</strong> quaisquer tipos <strong>de</strong> capacitações que<br />

permearam a criação da Beta-Gama S.A.<br />

Também, tal qual verificado na Alpha Engenharia, há uma <strong>de</strong>sconexão entre aquilo<br />

que é <strong>as</strong>sinalado como competência gerencial facilitadora aos processos <strong>de</strong><br />

mudança e a busca, ou promoção, do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

Novamente, r<strong>em</strong>ete-se a questão da ausência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e entendimento d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> necessári<strong>as</strong> às <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, como foi exposto por Cripe e<br />

Mansfield (2003) como condição para a existência <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

De acordo com Le Boterf (2003), os tipos <strong>de</strong> saberes d<strong>em</strong>andam form<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

aquisição correspon<strong>de</strong>ntes, e o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ve estar<br />

suportado por essa relação. Fica evi<strong>de</strong>nte na análise dos métodos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> expressos pelos gestores d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

pesquisad<strong>as</strong> que, além da incongruência entre <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong><br />

facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> e <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, há uma tendência <strong>em</strong> valorizar a educação formal, a educação<br />

continuada e – <strong>em</strong> menor grau – a experiência profissional como modos <strong>de</strong><br />

aquisição <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

O que figura ser um obstáculo no <strong>de</strong>correr d<strong>as</strong> transformações vivid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> é o vazio criado pela falta <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> que englobe tanto os componentes <strong>de</strong> educação formal e<br />

continuada quanto <strong>de</strong> experienciação profissional e social. E, levando <strong>em</strong> conta o<br />

postulado por Le Boterf (2003, p.50) <strong>de</strong> que “a competência profissional não resi<strong>de</strong><br />

nos recursos (conhecimentos, capacida<strong>de</strong>s etc.) a mobilizar, m<strong>as</strong> na própria<br />

mobilização <strong>de</strong>sses recursos”, essa lacuna po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisiva para o alcance dos<br />

objetivos d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>.


91<br />

4.5 I<strong>de</strong>ntificação e análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> dos<br />

gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong><br />

A última seção <strong>de</strong>ste capítulo <strong>de</strong> análise e discussão <strong>de</strong> resultados se propõe a<br />

aten<strong>de</strong>r ao objetivo geral da pesquisa. A articulação d<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />

questões VI, VIII e IX da pesquisa <strong>de</strong> campo <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a quais<br />

são <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> primordialmente requerid<strong>as</strong> dos gestores nos<br />

diferentes <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> vivenciados pela Alpha Engenharia<br />

e pela Beta-Gama S.A.<br />

4.5.1 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> da Alpha<br />

Engenharia<br />

Solicitados a respon<strong>de</strong>r acerca <strong>de</strong> quais competênci<strong>as</strong> lhes são primordialmente<br />

requerid<strong>as</strong> no gerenciamento d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> sua organização, os gestores da<br />

Alpha Engenharia apresentam opiniões similares entre si. Ainda que o elenco <strong>de</strong><br />

saberes necessários para a administração d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> tenha sido listado <strong>de</strong><br />

forma um pouco distinta entre os executivos, <strong>de</strong>preend<strong>em</strong>-se algum<strong>as</strong> analogi<strong>as</strong><br />

quanto aos critérios e consi<strong>de</strong>rações utilizados para a priorização.<br />

Apresentado ao instrumento que expõe a lista <strong>de</strong> saberes adaptados <strong>de</strong> Le Boterf<br />

(2003), o Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio forneceu sua priorização<br />

conforme resultados constantes no QUADRO 11:


92<br />

Priorida<strong>de</strong><br />

QUADRO 11<br />

Resultado da priorização dos saberes -<br />

Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio da Alpha Engenharia<br />

1 Saber agir e reagir com pertinência<br />

Saber<br />

2 Saber combinar recursos e mobilizá-los <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado contexto<br />

3 Saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r<br />

4 Saber envolver-se<br />

5 Saber transpor<br />

Fonte: Dados da Pesquisa<br />

Questionado sobre <strong>as</strong> razões <strong>de</strong> sua priorização, o Gerente salienta algum<strong>as</strong><br />

característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> maior peso <strong>em</strong> sua análise, levando <strong>em</strong> conta a sua experiência<br />

atual na Alpha Engenharia.<br />

Em primeiro lugar, explica, o cenário <strong>de</strong> mudança que representa a impl<strong>em</strong>entação<br />

da gestão por resultados é b<strong>as</strong>tante exigente quanto à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociar e<br />

tomar <strong>de</strong>cisões. E, muit<strong>as</strong> vezes, ess<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tomad<strong>as</strong> <strong>de</strong> modo a<br />

intermediar interesses divergentes, especialmente na relação entre a alta<br />

administração e os colaboradores da <strong>em</strong>presa. Outro <strong>as</strong>pecto levantado <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>sse quesito é seu entendimento <strong>de</strong> que saber enca<strong>de</strong>ar ações <strong>de</strong> acordo com<br />

uma finalida<strong>de</strong> guarda uma relação muito próxima com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

planejamento e execução <strong>de</strong> projetos mantendo o foco nos resultados esperados<br />

com a mudança. Por ess<strong>as</strong> razões, o gerente elege o saber agir e reagir com<br />

pertinência como o mais requerido <strong>em</strong> sua função.<br />

Em seguida, o gestor <strong>de</strong>staca a importância <strong>de</strong> seu papel integrador e<br />

<strong>de</strong>senvolvedor <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> como critério para <strong>de</strong>finir o saber combinar recursos e<br />

mobilizá-los <strong>em</strong> um contexto <strong>em</strong> segundo lugar <strong>em</strong> sua ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s.<br />

Segundo o Gerente, viabilizar a mudança é ser capaz <strong>de</strong> agregar e mobilizar<br />

pesso<strong>as</strong>, fazendo com que el<strong>as</strong> alcanc<strong>em</strong> os resultados almejados pela <strong>em</strong>presa.<br />

O terceiro saber priorizado refere-se à exigência <strong>de</strong> aprendizado constante e do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento profissional para um gestor <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>. Um ex<strong>em</strong>plo dado da<br />

aplicação <strong>de</strong>ssa competência po<strong>de</strong> ser observado na citação:


93<br />

Uma competência que v<strong>em</strong> sendo muito requerida <strong>de</strong> mim é, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

ter conhecimentos relacionados à gestão <strong>de</strong> recursos humanos, a parte <strong>de</strong><br />

conhecimentos para a contratação <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>, cargos e salários, plano <strong>de</strong><br />

treinamento. E eu não vim com o preparo pra isso, estou tendo que<br />

<strong>de</strong>senvolver na medida <strong>em</strong> que <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> acontec<strong>em</strong>. Por isso é tão<br />

importante para o gestor saber apren<strong>de</strong>r, tanto na teoria quanto na<br />

experiência.<br />

Os dois últimos saberes são pouco explorados pelo Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao<br />

Negócio. As consi<strong>de</strong>rações do gestor faz<strong>em</strong> referência, b<strong>as</strong>icamente, à importância<br />

<strong>de</strong> a ética profissional ser mantida <strong>em</strong> qualquer situação, do saber <strong>as</strong>sumir os riscos<br />

inerentes ao processo <strong>de</strong> mudança e do saber <strong>de</strong>terminar e interpretar indicadores<br />

<strong>de</strong> contexto, principalmente para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

Encerrando a entrevista, o gestor enfatiza o principal <strong>de</strong>safio pessoal que enxerga<br />

ao participar do processo <strong>de</strong> mudança da Alpha Engenharia, e o que enten<strong>de</strong> ser<br />

essencial para exercer a sua função:<br />

Meu gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio pessoal é conseguir ver essa <strong>em</strong>presa prosperar, é ver<br />

essa <strong>em</strong>presa virar o jogo, virar a mesa. É conseguir ver essa <strong>em</strong>presa ter<br />

resultados, e que esses resultados se revertam para os sócios e, num<br />

segundo momento, se revertam para os funcionários. Esse é o meu <strong>de</strong>sejo,<br />

acima <strong>de</strong> tudo, <strong>em</strong> participar <strong>de</strong> tudo isso. E pra conseguir, só mesmo com<br />

muito conhecimento, muito <strong>de</strong>senvolvimento e muita motivação.<br />

Já a entrevista com o Diretor Executivo fornece a priorização <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

exposta no QUADRO 12:<br />

Priorida<strong>de</strong><br />

QUADRO 12<br />

Resultado da priorização dos saberes -<br />

Diretor Executivo da Alpha Engenharia<br />

Saber<br />

1 Saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r<br />

2 Saber combinar recursos e mobilizá-los <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado contexto<br />

3 Saber agir e reagir com pertinência<br />

4 Saber envolver-se<br />

5 Saber transpor<br />

Fonte: Dados da Pesquisa<br />

Pormenorizando a sua priorização, o Diretor Executivo conta ter tido dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>finir entre os três primeiros saberes selecionados. É b<strong>as</strong>tante enfático <strong>em</strong> relação


94<br />

a importância similar do aprendizado, da mobilização d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> da organização e<br />

do saber agir para a consecução dos resultados da impl<strong>em</strong>entação do novo mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> gestão. Ainda <strong>as</strong>sim, o gestor faz algum<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações que permit<strong>em</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r os critérios <strong>de</strong> priorização.<br />

Quanto ao primeiro saber selecionado como requerido <strong>em</strong> sua função <strong>de</strong> gestor <strong>de</strong><br />

mudanç<strong>as</strong> – o saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r – o Diretor expressa que seu<br />

cargo exige uma constante atualização quanto aos conhecimentos do negócio e,<br />

<strong>de</strong>ntro do contexto da gestão por resultados, quanto às ferrament<strong>as</strong> e métodos que<br />

vêm sendo introduzidos na <strong>em</strong>presa. Sendo o principal patrocinador do projeto na<br />

Alpha Engenharia, o gestor aponta também para a capacida<strong>de</strong> requerida <strong>de</strong>, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, apren<strong>de</strong>r e ensinar esses novos conceitos, como ex<strong>em</strong>plifica:<br />

N<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong>, quer<strong>em</strong>os ser <strong>de</strong>senvolvedores <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong><br />

profissionais básic<strong>as</strong> da área <strong>de</strong> cada técnico. Portanto, isso requer que se<br />

aprenda e se ensine competênci<strong>as</strong> <strong>em</strong> relação ao conhecimento, e a<br />

aplicação <strong>de</strong>sses conhecimentos na rotina da <strong>em</strong>presa. M<strong>as</strong> a gente<br />

também quer <strong>de</strong>senvolver característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> multidisciplinarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> visão<br />

sistêmica. Aí entra a parte da gestão. Eu preciso me atualizar para<br />

conseguir que <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> correspondam <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> conhecimento com<br />

aquilo que existe <strong>de</strong> mais atual <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> gestão. A primeira batalha é<br />

conseguir trabalhar <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> gestão com a mesma serieda<strong>de</strong><br />

que <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong>.<br />

Já tratando do segundo saber priorizado, o Diretor Executivo retoma du<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> indicad<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> mudança: a <strong>de</strong><br />

agregar pesso<strong>as</strong> e orientá-l<strong>as</strong> para resultados. Conta que a Alpha Engenharia é uma<br />

<strong>em</strong>presa formada por uma gama <strong>de</strong> conhecimentos e recursos humanos b<strong>as</strong>tante<br />

diversificada, e que um <strong>de</strong>safio que se t<strong>em</strong> apresentado a ele é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

agregar ess<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> <strong>de</strong> forma a trazer os melhores resultados para a<br />

organização.<br />

O terceiro saber é <strong>de</strong>scrito como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir e <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões. O<br />

Diretor Executivo explica que consi<strong>de</strong>ra esse saber tão importante quanto os<br />

anteriores, m<strong>as</strong> o que pesou <strong>em</strong> sua escolha foi a situação <strong>de</strong> mudança <strong>em</strong> si.<br />

Segundo o gestor, saber o que <strong>de</strong>ve ser feito, saber negociar e <strong>de</strong>cidir e saber tomar<br />

<strong>de</strong>cisões <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> urgência são competênci<strong>as</strong> inerentes a qualquer gestor,<br />

esteja ou não <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança. Sendo <strong>as</strong>sim, diz, não é um saber menos


95<br />

relevante, apen<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>ra que a aplicação dos saberes anteriores t<strong>em</strong> sido mais<br />

requerida <strong>em</strong> sua prática gerencial na impl<strong>em</strong>entação da gestão por resultados.<br />

De maneira similar ao Gerente <strong>de</strong> Portfólio e Apoio ao Negócio, o Diretor Executivo<br />

não explora profundamente os dois últimos saberes listados, elencando apen<strong>as</strong><br />

aqueles que diz ter<strong>em</strong> chamado mais a sua atenção: a ética profissional, o saber<br />

<strong>as</strong>sumir riscos, o saber <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r e o saber <strong>de</strong>terminar e interpretar indicadores<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto. Finaliza explicando que enxerga alta relevância <strong>em</strong> todos os<br />

saberes <strong>de</strong>scritos, m<strong>as</strong> que a sua seleção consi<strong>de</strong>ra primeiramente aquilo que sente<br />

estar sendo primordialmente requerido nesse momento do processo <strong>de</strong> mudança.<br />

Questionado se <strong>de</strong>sejaria agregar alguma outra competência que ainda não tenha<br />

sido elencada, o Diretor diz:<br />

Meu maior <strong>de</strong>safio nessa mudança <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> competência t<strong>em</strong> sido<br />

vencer a resistência interna, por estarmos <strong>em</strong> um segmento mais avesso a<br />

esse processo <strong>de</strong> mudança, como é a engenharia. Porque a gente começa<br />

a valorizar <strong>as</strong>pectos não técnicos, a questão da gestão, <strong>de</strong> ter controle, <strong>de</strong><br />

planejar e replanejar. É a engenharia é um segmento que gosta <strong>de</strong> ser<br />

s<strong>em</strong>pre a cereja do bolo, e a gente está dando mais valor <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> que<br />

estão no suporte do negócio. Ou seja, como gestor, a gente t<strong>em</strong> que saber,<br />

acima <strong>de</strong> tudo, ser flexível e se relacionar.<br />

Analisando <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> dos gestores da Alpha Engenharia ao utilizar o instrumento,<br />

observa-se que há uma concordância <strong>em</strong> relação às competênci<strong>as</strong> que foram<br />

apontad<strong>as</strong> espontaneamente como facilitador<strong>as</strong> ao gerenciamento da mudança. Em<br />

su<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações, os gestores i<strong>de</strong>ntificam a importância <strong>de</strong> todos os saberes,<br />

m<strong>as</strong>, situando-<strong>as</strong> ao contexto <strong>de</strong> mudança, acabam por <strong>de</strong>stacar aqueles<br />

relacionados ao aprendizado, à combinação e mobilização <strong>de</strong> recursos e à ação<br />

pertinente <strong>de</strong> acordo com o contexto.<br />

A valorização do aprendizado r<strong>em</strong>ete aos conceitos <strong>de</strong> Fleury e Fleury (2001, p.39)<br />

ao tratar do t<strong>em</strong>a do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro d<strong>as</strong> organizações.<br />

Compreen<strong>de</strong>ndo a aprendizag<strong>em</strong> como “um processo <strong>de</strong> mudança, provocado por<br />

estímulos diversos, mediado por <strong>em</strong>oções”, os autores observam que a aplicação do<br />

conhecimento e seu <strong>as</strong>cen<strong>de</strong>r ao status <strong>de</strong> competência acontece apen<strong>as</strong> <strong>em</strong> um


96<br />

contexto profissional específico, <strong>de</strong>vendo agregar valor tanto ao indivíduo quanto a<br />

organização.<br />

É possível verificar n<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> com os gestores da Alpha Engenharia que a<br />

experiência <strong>de</strong> mudança na <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong> exigido que esse aprendizado – tanto<br />

técnico quanto gerencial – inicie no nível do indivíduo e seja transmitido ao nível do<br />

grupo e, posteriormente, ao nível da organização. E que esses gestores ve<strong>em</strong> a si<br />

próprios como os principais instrumentos promotores <strong>de</strong>sse aprendizado coletivo.<br />

Outro ponto interessante é a relação entre a questão da mobilização <strong>de</strong> recursos e o<br />

conceito <strong>de</strong> facilitar, tratado anteriormente. Le Boterf (2003) afirma que a<br />

competência consiste <strong>em</strong> saber mobilizar e combinar recursos pessoais e do meio<br />

na administração <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada situação. Articulando esse conceito com o <strong>de</strong><br />

gestor facilitador <strong>de</strong> Weaver e Farrel (2001) – aquele que obtém resultados através<br />

d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> –, po<strong>de</strong>-se inferir que uma competência gerencial importante <strong>em</strong> uma<br />

situação <strong>de</strong> mudança é a <strong>de</strong> auxiliar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> da organização na mobilização <strong>de</strong><br />

seus próprios recursos e do meio para o alcance dos resultados da organização.<br />

Acredita-se que <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>scrit<strong>as</strong> pelos gestores da Alpha Engenharia<br />

como ser integrador, <strong>de</strong>senvolvedor e motivador guard<strong>em</strong> relação com essa<br />

articulação <strong>de</strong> conceitos.<br />

Cabe agora verificar e analisar <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> junto aos gestores da Beta-<br />

Gama S.A. Ao final do capítulo serão relacionad<strong>as</strong> <strong>as</strong> informações d<strong>as</strong> du<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, verificando su<strong>as</strong> s<strong>em</strong>elhanç<strong>as</strong> e diferenç<strong>as</strong>, na busca <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao<br />

objetivo geral da pesquisa.<br />

4.5.2 As competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> da Beta-Gama S.A.<br />

Igualmente ao ocorrido na Alpha Engenharia, a aplicação da lista <strong>de</strong> saberes n<strong>as</strong><br />

entrevist<strong>as</strong> da Beta-Gama S.A. forneceu um ranking b<strong>as</strong>tante similar n<strong>as</strong> respost<strong>as</strong><br />

dos gestores, ainda que não idêntico. Além disso, ambos concordam que todos os


97<br />

saberes são importantes quando aplicados a uma situação <strong>de</strong> fusão, m<strong>as</strong> são<br />

capazes <strong>de</strong> expressar os critérios utilizados para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> precedência.<br />

A priorização realizada pelo Diretor Executivo consta no QUADRO 13:<br />

Priorida<strong>de</strong><br />

QUADRO 13<br />

Resultado da priorização dos saberes -<br />

Diretor Executivo da Beta-Gama S.A.<br />

Saber<br />

1 Saber combinar recursos e mobilizá-los <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado contexto<br />

2 Saber agir e reagir com pertinência<br />

3 Saber envolver-se<br />

4 Saber transpor<br />

5 Saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r<br />

Fonte: Dados da Pesquisa<br />

Sobre seu entendimento e razões para a <strong>de</strong>finição da hierarquia <strong>de</strong> importância dos<br />

saberes, o Diretor Executivo salienta o caráter <strong>de</strong> ação que observa nos dois<br />

primeiros tópicos. Diz que uma fusão <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> é um momento <strong>de</strong>licado para<br />

tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> que faz<strong>em</strong> parte do processo e que, como gestor, se vê<br />

frequent<strong>em</strong>ente d<strong>em</strong>andado a tomar ações, proce<strong>de</strong>r negociações e <strong>de</strong>cidir <strong>em</strong><br />

situações <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a insegurança. Sendo <strong>as</strong>sim, explica, os verbos “mobilizar”,<br />

“agir”, “reagir” foram cruciais para selecionar os dois primeiros saberes como os<br />

mais requeridos pelo processo <strong>de</strong> mudança.<br />

A essa explanação o Diretor acrescenta, com humor, um sentimento que ilustra su<strong>as</strong><br />

razões para a escolha do terceiro saber, o saber envolver-se:<br />

Antes <strong>de</strong> começar tudo isso eu achava que eu era muito “macho”. M<strong>as</strong><br />

“macho” é o Tarzan, o Hom<strong>em</strong> Aranha, realmente a gente sente um baque.<br />

T<strong>em</strong> que saber quando e como <strong>as</strong>sumir os riscos. Por isso eu notei que<br />

precisaria <strong>de</strong> muito mais habilida<strong>de</strong> pra negociar, me envolver. Me envolver,<br />

principalmente com o outro dono. Afinal, nós dois não somos os donos? A<br />

gente precisa se enten<strong>de</strong>r para executar essa fusão. M<strong>as</strong> pra se enten<strong>de</strong>r<br />

você precisa <strong>de</strong> uma habilida<strong>de</strong> para confrontar e para enten<strong>de</strong>r o outro.<br />

Enten<strong>de</strong>r como o outro pensa, como o outro age.<br />

Quanto aos d<strong>em</strong>ais saberes, o Diretor Executivo trata apen<strong>as</strong> do saber tirar lições da<br />

experiência. Afirma que a fusão t<strong>em</strong> sido um processo <strong>de</strong> muita aprendizag<strong>em</strong>


98<br />

prática e que t<strong>em</strong> percebido que cada etapa do trabalho t<strong>em</strong> algo a ensinar, e que<br />

ess<strong>as</strong> lições são valios<strong>as</strong> para que se consiga avançar cada p<strong>as</strong>so <strong>de</strong> uma maneira<br />

melhor, menos traumática. Diz que, se fosse começar todo o processo novamente,<br />

faria muit<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> <strong>de</strong> maneira diferente – com mais planejamento, mais<br />

conhecimento financeiro e gerencial – m<strong>as</strong> que a experiência que está tirando do<br />

seu dia a dia está sendo extr<strong>em</strong>amente rica, e que, s<strong>em</strong> dúvida, o auxiliará<br />

futuramente <strong>em</strong> outr<strong>as</strong> situações complex<strong>as</strong>.<br />

Já <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> da Assessora da Diretoria estão dispost<strong>as</strong> conforme <strong>de</strong>scrito no<br />

QUADRO 14:<br />

Priorida<strong>de</strong><br />

QUADRO 14<br />

Resultado da priorização dos saberes -<br />

Assessora da Diretoria da Beta-Gama S.A.<br />

1 Saber agir e reagir com pertinência<br />

2 Saber envolver-se<br />

Saber<br />

3 Saber combinar recursos e mobilizá-los <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado contexto<br />

4 Saber transpor<br />

5 Saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r<br />

Fonte: Dados da Pesquisa<br />

No <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong> seus critérios <strong>de</strong> priorização, a Assessora da Diretoria t<strong>em</strong><br />

pouco a adicionar ao que foi anteriormente dito pelos d<strong>em</strong>ais entrevistados.<br />

Relaciona o saber agir e reagir com pertinência às d<strong>em</strong>and<strong>as</strong> <strong>de</strong> negociação e<br />

tomad<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão inerentes a uma fusão, e, mais especialmente, a uma fusão que<br />

envolve questões familiares. Acrescenta que enten<strong>de</strong> o saber agir como algo muito<br />

vinculado ao espírito <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, o qual l<strong>em</strong>bra i<strong>de</strong>ntificar como uma competência<br />

gerencial facilitadora ao processo <strong>de</strong> mudança.<br />

Em relação ao saber envolver-se diz que, enquanto graduanda <strong>em</strong> psicologia e<br />

focada na questão da gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> da Beta-Gama S.A., enxerga a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> envolver sua subjetivida<strong>de</strong> com a<strong>de</strong>quação um dos <strong>de</strong>safios mais <strong>de</strong>licados <strong>de</strong><br />

sua atuação no processo <strong>de</strong> mudança. Consi<strong>de</strong>ra a ética profissional como uma<br />

competência gerencial básica para qualquer situação, m<strong>as</strong> que seu envolvimento


99<br />

como gestora e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, filha e esposa dos dois sócios da nova <strong>em</strong>presa,<br />

faz com que essa competência se torne ainda mais essencial.<br />

Quanto à combinação dos recursos e a sua mobilização <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong>terminados,<br />

a Assessora da Diretoria faz menção à questão da retenção e agregação <strong>de</strong><br />

pesso<strong>as</strong> para o bom funcionamento da organização. Novamente colocando-se como<br />

responsável pela gestão <strong>de</strong> recursos humanos da nova <strong>em</strong>presa, a executiva diz<br />

que um <strong>de</strong> seus objetivos profissionais e pessoais nessa nova etapa é o <strong>de</strong><br />

conseguir i<strong>de</strong>ntificar, <strong>de</strong>senvolver e manter <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> que hoje exist<strong>em</strong> na<br />

Beta-Gama S.A. e que eram, <strong>de</strong> certa forma, relegad<strong>as</strong> a um segundo plano n<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> originais.<br />

A gestora, perguntada se teria alguma competência a somar, encerra a sua<br />

entrevista com um <strong>de</strong>poimento similar ao dado pelo Diretor Executivo:<br />

Sinceramente, no meu c<strong>as</strong>o, tenho precisado ter muita corag<strong>em</strong>. Eu estava<br />

<strong>em</strong> uma posição muito confortável, eu era a “dona do pedaço”. Só que <strong>de</strong><br />

um pedaço <strong>em</strong> que eu não dava conta, um pedaço que eu não tinha<br />

habilida<strong>de</strong> técnica para tanto. Então, com essa fusão, precisei ter a<br />

humilda<strong>de</strong> para reconhecer que eu não tinha capacida<strong>de</strong> para aquilo e<br />

corag<strong>em</strong> pra promover <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong>. Eu s<strong>em</strong>pre acredito na<br />

força do ex<strong>em</strong>plo. Não que eu esteja fazendo isso para ser um ex<strong>em</strong>plo,<br />

m<strong>as</strong> acho que essa geração jov<strong>em</strong> que está aqui po<strong>de</strong> ver que uma<br />

mudança po<strong>de</strong> ser positiva, sim. Então, essa corag<strong>em</strong> para a mudança é<br />

fundamental, você não faz nada com medo, porque o medo te paralisa. E<br />

esse movimento traz <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> junto com você, mesmo que el<strong>as</strong> tenham<br />

medo. Ajuda <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a se comprometer<strong>em</strong> junto com você. Porque <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> precisam enfrentar a realida<strong>de</strong>, e a fusão é uma realida<strong>de</strong>.<br />

Enfrentar a realida<strong>de</strong> da mudança é melhor do que ficar na “mesmice” que a<br />

gente estava, e vendo a <strong>em</strong>presa ir <strong>em</strong>bora.<br />

Aprofundando os resultados d<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> <strong>em</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, não é possível<br />

afirmar que tenha havido diferenç<strong>as</strong> profund<strong>as</strong> quanto às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong><br />

primordialmente requerid<strong>as</strong> nos cenários <strong>de</strong> mudança. Tal qual encontrado por<br />

Sant’anna (2002) <strong>em</strong> sua pesquisa, <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> apontad<strong>as</strong> pelos gestores<br />

como <strong>as</strong> mais requerid<strong>as</strong> por su<strong>as</strong> organizações caracterizam-se por ser<strong>em</strong><br />

relacionad<strong>as</strong> a su<strong>as</strong> qualida<strong>de</strong>s pessoais e relacionais, como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

relacionamento interpessoal, <strong>de</strong> comunicação e negociação.


100<br />

Também, n<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>, os saberes relacionados à tomada <strong>de</strong><br />

ação e à mobilização <strong>de</strong> recursos figuram com alguma priorida<strong>de</strong> n<strong>as</strong> list<strong>as</strong> dos<br />

gestores. Em pesquisa citada por Le Boterf (2003), é dito que há pesso<strong>as</strong> que<br />

sab<strong>em</strong> mobilizar conhecimentos <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> familiares, seguros, m<strong>as</strong> que pod<strong>em</strong><br />

não saber fazê-lo <strong>em</strong> um contexto <strong>de</strong> estresse. Em última análise, po<strong>de</strong>-se<br />

<strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r que, para os gestores entrevistados, possuir os conhecimentos<br />

(técnicos, financeiros, <strong>de</strong> negócio) necessários ao processo <strong>de</strong> mudança é <strong>de</strong> fato<br />

importante, m<strong>as</strong> ser capaz <strong>de</strong> atuar mobilizando-os no cenário <strong>em</strong> se encontram<br />

t<strong>em</strong>-se configurado uma forte exigência.<br />

Dois pontos <strong>de</strong> dissonância i<strong>de</strong>ntificados n<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> dos gestores da Alpha<br />

Engenharia e da Beta-Gama S.A. foram <strong>as</strong> ênf<strong>as</strong>es dad<strong>as</strong> aos saberes relacionados<br />

à aprendizag<strong>em</strong> e ao envolvimento. Na Alpha Engenharia, o primeiro foi enfatizado<br />

n<strong>as</strong> du<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> com os gestores, enquanto o segundo foi brev<strong>em</strong>ente citado.<br />

Já na Beta-Gama S.A. ocorreu o inverso.<br />

Longe <strong>de</strong> tirar conclusões <strong>de</strong>finitiv<strong>as</strong> sobre essa diferença, é válido trazer uma<br />

consi<strong>de</strong>ração feita por Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995) sobre os papéis dos<br />

gestores nos diferentes tipos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>. Os autores pon<strong>de</strong>ram que<br />

a mudança incr<strong>em</strong>ental/contínua requer primordialmente dos gestores <strong>as</strong><br />

capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> auxiliar, <strong>de</strong> <strong>de</strong>legar e <strong>de</strong> manter um aprendizado contínuo e<br />

evolutivo na gestão d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>.<br />

Observa-se que <strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações do Diretor Executivo e do Gerente <strong>de</strong> Portfólio e<br />

Apoio ao Negócio da Alpha Engenharia sobre o saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a<br />

apren<strong>de</strong>r vêm ao encontro <strong>de</strong>sse papel facilitador e <strong>de</strong>senvolvedor <strong>de</strong>scrito pelos<br />

autores como característico <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> mudança do tipo<br />

incr<strong>em</strong>ental/contínua.<br />

Por outro lado, os autores supracitados apontam que a mudança <strong>de</strong>scontínua exige<br />

uma li<strong>de</strong>rança mais ativa e um maior envolvimento na administração d<strong>as</strong> situações<br />

gerad<strong>as</strong> na organização. Sendo <strong>as</strong>sim, a tarefa dos gestores <strong>em</strong> mudanç<strong>as</strong> do tipo<br />

<strong>de</strong>scontínu<strong>as</strong> é criar um senso <strong>de</strong> urgência e motivar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> a avançar, ainda


101<br />

que o futuro esteja pouco claro e pareça perigoso. E isso requer dos gestores a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma visão e prover confiança às pesso<strong>as</strong> da organização.<br />

Os <strong>de</strong>poimentos do Diretor Executivo e da Assessora da Diretoria da Beta-Gama<br />

S.A. são coerentes com <strong>as</strong> proposições <strong>de</strong> Nadler, Shaw, Walton e cols. (1995). A<br />

ênf<strong>as</strong>e dada à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber se envolver e <strong>de</strong> ter corag<strong>em</strong> para enfrentar os<br />

<strong>de</strong>safios da fusão encontra respaldo no que é <strong>de</strong>scrito como papel do gestor <strong>de</strong><br />

mudança do tipo <strong>de</strong>scontínua.<br />

O próximo capítulo <strong>de</strong>ste estudo tenta sumarizar <strong>as</strong> principais conclusões tirad<strong>as</strong><br />

pela pesquisadora sobre o trabalho realizado, b<strong>em</strong> como levantar <strong>as</strong> contribuições<br />

<strong>de</strong>sta dissertação para a acad<strong>em</strong>ia, para a própria pesquisadora e para a prática<br />

<strong>em</strong>presarial <strong>de</strong> um modo geral.


102<br />

5 CONCLUSÕES<br />

O presente estudo teve por objetivo geral a i<strong>de</strong>ntificação e análise d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> dos gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong>. Como objetivos compl<strong>em</strong>entares, buscou-se caracterizar os cenários<br />

<strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>, b<strong>em</strong> como verificar como os<br />

gestores <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> estão <strong>de</strong>senvolvendo su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>.<br />

Para atingir esses objetivos foram elaborados um referencial teórico sobre os t<strong>em</strong><strong>as</strong><br />

mudança <strong>organizacional</strong> e competênci<strong>as</strong>, uma análise documental sobre <strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> e su<strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong> trajetóri<strong>as</strong>, e uma pesquisa <strong>de</strong> campo<br />

junto a quatro gestores-chave selecionados da Alpha Engenharia e da Beta-Gama<br />

S.A.<br />

O referencial teórico partiu da compreensão dos conceitos <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> e d<strong>as</strong> tipologi<strong>as</strong> presentes na literatura recente. Discorreu também<br />

sobre o t<strong>em</strong>a d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>, iniciando com uma breve pesquisa sobre <strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> organizacionais estratégic<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> dando maior foco às competênci<strong>as</strong><br />

individuais e <strong>gerenciais</strong>. Esse capítulo consi<strong>de</strong>rou alguns estudos e pesquis<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

autores reconhecidos como referênci<strong>as</strong> nos t<strong>em</strong><strong>as</strong> Mudança Organizacional e<br />

Competência, po<strong>de</strong>ndo-se citar, <strong>de</strong>ntre eles: Wood Jr. (2000), Nadler, Shaw, Walton<br />

e cols. (1995), Weaver e Farrell (2001), Dutra (2007), Fleury e Fleury (2001), Zarifian<br />

(2001), Le Boterf (1995; 2003), Sant’anna (2002), Alles (2004) e Cripe e Mansfield<br />

(2003), entre outros.<br />

A análise documental teve como propósito auxiliar a caracterização d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong><br />

pesquisad<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais experienciad<strong>as</strong> por el<strong>as</strong>. Já a<br />

pesquisa <strong>de</strong> campo objetivou, através <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o, analisar <strong>de</strong> forma mais<br />

apurada esses cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>, b<strong>em</strong> como avaliar <strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> primordialmente requerid<strong>as</strong> <strong>de</strong> seus gestores na<br />

administração <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>, tendo como principal b<strong>as</strong>e os estudos <strong>de</strong> Le Boterf<br />

(2003).


103<br />

5.1 Principais resultados da pesquisa<br />

Constatou-se com o estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o múltiplo que <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> objeto <strong>de</strong>sta pesquisa<br />

vivenciam atualmente processos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> distintos entre si. A<br />

Alpha Engenharia, visando obter um incr<strong>em</strong>ento <strong>em</strong> seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho financeiro e<br />

operacional, v<strong>em</strong> impl<strong>em</strong>entando ao longo dos últimos anos métodos e técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

gestão por resultados. Pelo caráter gradativo e evolutivo da mudança <strong>organizacional</strong><br />

proposta nessa <strong>em</strong>presa, foi possível caracterizá-la como uma mudança do tipo<br />

incr<strong>em</strong>ental/contínua.<br />

A Beta-Gama S.A., por outro lado, está p<strong>as</strong>sando por um momento <strong>de</strong> forte ruptura<br />

<strong>de</strong> seus componentes organizacionais. Tendo sido <strong>de</strong>finida como estratégia para<br />

aumentar a competitivida<strong>de</strong> no mercado, a fusão d<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> Beta e Gama,<br />

originando a Beta-Gama S.A., v<strong>em</strong> sendo um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> reorganização para<br />

todos os m<strong>em</strong>bros da <strong>em</strong>presa. Por su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>,<br />

dinamicida<strong>de</strong> e reconfiguração <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos, a mudança <strong>organizacional</strong> da Beta-<br />

Gama S.A. foi cl<strong>as</strong>sificada como do tipo <strong>de</strong>scontínua.<br />

Dessa forma caracterizad<strong>as</strong> <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais, foi-se buscar respost<strong>as</strong><br />

acerca d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> primordialmente requerid<strong>as</strong> dos gestores <strong>de</strong>ss<strong>as</strong><br />

organizações, e <strong>de</strong> se e como eles estão <strong>de</strong>senvolvendo ess<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>. Para<br />

isso, foram realizad<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> com gestores intimamente vinculados aos<br />

processos <strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong> e, como instrumento compl<strong>em</strong>entar, foi utilizada uma lista<br />

<strong>de</strong> saberes adaptados dos conceitos <strong>de</strong> Le Boterf (2003) acerca d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

necessári<strong>as</strong> aos profissionais para administrar situações complex<strong>as</strong>.<br />

Nesse ponto, uma proposição levantada a partir d<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações feit<strong>as</strong> sobre <strong>as</strong><br />

diferentes tipologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> relativ<strong>as</strong> às <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong><br />

foi a <strong>de</strong> que <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> requerid<strong>as</strong> para o gerenciamento <strong>de</strong>sses processos <strong>de</strong><br />

mudança pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> também ser distint<strong>as</strong>.


104<br />

Estimulados a respon<strong>de</strong>r espontaneamente quanto às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> que<br />

consi<strong>de</strong>ram facilitador<strong>as</strong> ao processo <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>, os gestores da<br />

Alpha Engenharia elencaram tanto <strong>as</strong>pectos relacionados a conhecimentos quanto a<br />

comportamentos. Quanto aos conhecimentos <strong>de</strong>stacaram-se aqueles relacionados<br />

aos cargos, ao próprio negócio e aos conceitos <strong>de</strong> gestão que vêm sendo<br />

incorporados com a impl<strong>em</strong>entação da gestão por resultados. Já <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> comportamentais, foram apontad<strong>as</strong> como facilitador<strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s<br />

como foco <strong>em</strong> resultados, integração e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>, flexibilida<strong>de</strong>,<br />

motivação e otimismo.<br />

Observou-se que parte <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> comportamentais i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> guarda<br />

correlação com o conceito <strong>de</strong> facilitar ou, mais especificamente, <strong>de</strong> gestor facilitador.<br />

Nesse sentido, é válido concluir que os gestores da Alpha Engenharia ve<strong>em</strong> a si<br />

próprios como instrumentos <strong>de</strong> auxílio, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong> mobilização d<strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> da organização para o alcance dos resultados projetados com a mudança.<br />

Na Beta-Gama S.A. <strong>as</strong> respost<strong>as</strong> espontâne<strong>as</strong> trouxeram resultados similares, ainda<br />

que tenham surgido algum<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> diferentes. Novamente foi evi<strong>de</strong>nciado<br />

como competência facilitadora o conhecimento técnico e do negócio da <strong>em</strong>presa.<br />

Também foram elencad<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> comportamentais, tais como o espírito <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>rança, o comprometimento, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reter, agregar e orientar pesso<strong>as</strong> e<br />

o foco <strong>em</strong> resultados.<br />

Analisando esses resultados, é válido concluir <strong>em</strong> ambos os c<strong>as</strong>os que há uma<br />

mescla <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> facilitador<strong>as</strong> ao gerenciamento dos<br />

processos <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>. Possivelmente influenciados por su<strong>as</strong><br />

formações acadêmic<strong>as</strong> – três dos quatro gestores entrevistados possu<strong>em</strong> ensino<br />

superior <strong>em</strong> ciênci<strong>as</strong> exat<strong>as</strong> ou sociais aplicad<strong>as</strong> – os saberes teóricos foram<br />

valorizados como competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> facilitador<strong>as</strong>. Por outro lado, po<strong>de</strong>-se<br />

afirmar que foi dada ênf<strong>as</strong>e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong>sses conhecimentos à<br />

prática profissional, ao saber-fazer. E, aliado a isso, foram também consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong><br />

importantes para a gestão da mudança <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

comportamentais/relacionais, ou o saber-ser.


105<br />

Outro ponto importante do estudo foi a investigação acerca do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong> dos gestores pesquisados. Tanto a Alpha Engenharia quanto a Beta-<br />

Gama S.A. carec<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma estrutura e função <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> efetiva. Quiçá<br />

por essa razão, <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais n<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> foram pouco<br />

planejad<strong>as</strong> no que tange à i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> lacun<strong>as</strong> e ao <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> dos seus gestores.<br />

Em amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, foram i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> algum<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento gerencial, m<strong>as</strong> a maioria <strong>de</strong>svinculada dos objetivos propostos<br />

pel<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>. Sendo <strong>as</strong>sim, <strong>de</strong> forma geral, os gestores vêm buscando suprir<br />

su<strong>as</strong> lacun<strong>as</strong> <strong>de</strong> competência no exercício prático <strong>de</strong> su<strong>as</strong> funções, aliando a isso<br />

ações como a participação <strong>em</strong> program<strong>as</strong> <strong>de</strong> capacitação promovidos pel<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> ou por si próprios.<br />

O que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse fato é que a carência <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntificação clara d<strong>as</strong><br />

d<strong>em</strong>and<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> e sua efetiva execução<br />

têm sido um fator prepon<strong>de</strong>rante <strong>em</strong> algum<strong>as</strong> dificulda<strong>de</strong>s encontrad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> no <strong>de</strong>correr d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais. Advém daí um consenso<br />

entre os gestores <strong>em</strong> dar maior priorida<strong>de</strong>, no presente momento, ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos recursos humanos <strong>de</strong> su<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>.<br />

Finalmente, foram levantad<strong>as</strong> <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> primordialmente<br />

requerid<strong>as</strong> dos gestores através da hierarquização dos saberes conceituados por Le<br />

Boterf (2003). Constatou-se no estudo a consonância <strong>de</strong> dois saberes priorizados <strong>de</strong><br />

forma s<strong>em</strong>elhante pelos gestores d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>:<br />

O saber agir e reagir com pertinência: os gestores apontaram,<br />

essencialmente, a importância <strong>em</strong> saber negociar, agir e tomar <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong><br />

seus <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança. Salientando a dinamicida<strong>de</strong> dos cenários <strong>em</strong><br />

que se encontram, os gestores faz<strong>em</strong> coro quando se reportam a esse saber<br />

como um dos mais requeridos no exercício da gestão d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

organizacionais.


106<br />

<br />

O saber combinar recursos e mobilizá-los <strong>em</strong> um contexto: sobre esse saber,<br />

os gestores r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a sua função facilitadora e a capacida<strong>de</strong> <strong>em</strong> articular os<br />

seus próprios recursos e os recursos do meio para a consecução dos<br />

resultados d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>. Dentro <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> – e até<br />

mesmo <strong>de</strong> estresse – inerentes aos processos <strong>de</strong> transformação, saber<br />

construir competênci<strong>as</strong> a partir <strong>de</strong> recursos e mobilizá-l<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

contexto torna-se uma competência gerencial altamente requerida, <strong>de</strong> acordo<br />

com os gestores pesquisados.<br />

Entretanto, dois pontos <strong>de</strong> divergência pu<strong>de</strong>ram ser i<strong>de</strong>ntificados na aplicação do<br />

instrumento <strong>de</strong> suporte às entrevist<strong>as</strong>. O primeiro diz respeito à valorização dada ao<br />

saber apren<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r. Apen<strong>as</strong> no c<strong>as</strong>o da Alpha Engenharia esse<br />

saber foi priorizado por ambos os gestores, tendo sido <strong>de</strong>stacada a importância da<br />

aprendizag<strong>em</strong> para eles próprios, e <strong>de</strong> sua transferência aos níveis <strong>de</strong> grupo e<br />

<strong>organizacional</strong>.<br />

O segundo ponto <strong>de</strong> divergência concerne à valorização dada ao saber envolver-se.<br />

Nesse c<strong>as</strong>o, apen<strong>as</strong> os gestores da Beta-Gama S.A. enfatizaram sua relevância<br />

para a gestão d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> organizacionais. Elucidando acerca <strong>de</strong> seus critérios<br />

<strong>de</strong> priorização, os gestores apontaram que a criação da Beta-Gama S.A., <strong>de</strong>corrente<br />

<strong>de</strong> uma fusão, t<strong>em</strong> d<strong>em</strong>andado um alto grau <strong>de</strong> comprometimento,<br />

<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>sumir riscos <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada.<br />

Coinci<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, ambos os gestores encerraram su<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> afirmando: para<br />

gerenciar uma mudança como a da Beta-Gama S.A., é preciso ter corag<strong>em</strong>.<br />

Ainda que tenham existido os pontos <strong>de</strong> divergência citados, não é possível concluir<br />

que o fato tenha se dado <strong>em</strong> razão da diferença entre os tipos <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>. Há indícios encontrados na literatura e na<br />

prática da pesquisa que apontam para uma exigência mais elevada d<strong>as</strong><br />

competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> <strong>em</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> do tipo <strong>de</strong>scontínua,<br />

entretanto consi<strong>de</strong>ra-se que seria necessária a ampliação da pesquisa para a<br />

obtenção <strong>de</strong> resultados mais conclusivos.


107<br />

Atualmente, <strong>em</strong> um mundo do trabalho tão competitivo e permeado por mudanç<strong>as</strong>,<br />

conclui-se que t<strong>em</strong> sido d<strong>em</strong>andada dos gestores uma v<strong>as</strong>ta e intensa gama <strong>de</strong><br />

competênci<strong>as</strong>. Dentre el<strong>as</strong>, <strong>de</strong>stacam-se competênci<strong>as</strong> relacionais, <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong><br />

ação, <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> envolvimento e <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> recursos <strong>em</strong> situações<br />

complex<strong>as</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong>. Citando mais uma vez Le Boterf (2003, p. 38):<br />

Pe<strong>de</strong>-se ao profissional que saiba navegar na complexida<strong>de</strong>. Estando<br />

estabelecida uma “meta” (missão, resultado almejado, objetivos etc.) e<br />

“regr<strong>as</strong> <strong>de</strong> navegação” (eficiência, qualida<strong>de</strong> total, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho global etc.),<br />

resta-lhe saber “navegar <strong>de</strong> um a outro” (elaborar e conduzir um projeto),<br />

levando <strong>em</strong> conta o campo <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> e <strong>as</strong> imposições divers<strong>as</strong> e, às vezes,<br />

opost<strong>as</strong> que constitu<strong>em</strong> a complexida<strong>de</strong>.<br />

5.2 Contribuições da dissertação<br />

Para a acad<strong>em</strong>ia – A dissertação oferece contribuições ao estruturar um referencial<br />

teórico que articula diferentes autores <strong>em</strong> dois conceitos que permanec<strong>em</strong> atuais: o<br />

<strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong> e o <strong>de</strong> competência. As discussões presentes nesse<br />

referencial teórico, <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> à pesquisa <strong>de</strong> campo realizada junto a du<strong>as</strong><br />

<strong>em</strong>pres<strong>as</strong> que compet<strong>em</strong> no mercado globalizado, pod<strong>em</strong> contribuir para a<br />

construção <strong>de</strong> novos conhecimentos.<br />

Para a autora – A dissertação possibilita o enriquecimento e o aprofundamento dos<br />

conhecimentos teóricos sobre os t<strong>em</strong><strong>as</strong> pesquisados. Proporciona também uma<br />

atuação profissional mais consistente e <strong>em</strong>b<strong>as</strong>ada conceitualmente, favorecendo o<br />

seu trabalho como professora e consultora que atua diretamente junto aos mais<br />

diversos tipos <strong>de</strong> organizações.<br />

Para <strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> – Propicia uma compreensão mais acurada acerca<br />

d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> <strong>em</strong> cenários <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>.<br />

Essa compreensão po<strong>de</strong> auxiliar na aplicação dos resultados da pesquisa<br />

direcionando alguns pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro d<strong>as</strong><br />

organizações.


108<br />

5.3 Sugestões <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong><br />

Tomando por b<strong>as</strong>e a pesquisa realizada, acredita-se po<strong>de</strong>r dar continuida<strong>de</strong> a este<br />

estudo a partir d<strong>as</strong> seguintes linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> investigação científica:<br />

a) Ampliar este mesmo estudo para outr<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong>, ou acrescentar à unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> observação um número maior <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ntes, que possibilite trazer mais<br />

informações que possam compl<strong>em</strong>entar a compreensão d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong><br />

<strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>contextos</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>organizacional</strong>.<br />

b) Aprofundar pesquis<strong>as</strong> que busqu<strong>em</strong> investigar se há ou não divergênci<strong>as</strong> <strong>em</strong><br />

relação às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> <strong>em</strong> cenários <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>organizacional</strong> <strong>de</strong> diferentes tipos e níveis <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>. Sugere-se a<br />

utilização <strong>de</strong> métodos quantitativos que permitam analisar estatisticamente<br />

dados relativos às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong>.<br />

c) Consi<strong>de</strong>rando que <strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>em</strong>pres<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> são familiares, aprofundar<br />

pesquis<strong>as</strong> que verifiqu<strong>em</strong> e analis<strong>em</strong> eventuais interferênci<strong>as</strong> da condição <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>presa familiar <strong>em</strong> relação às competênci<strong>as</strong> <strong>gerenciais</strong> requerid<strong>as</strong> frente a<br />

mudanç<strong>as</strong> organizacionais.


109<br />

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114<br />

ANEXO A – Lista <strong>de</strong> saberes utilizados na entrevista <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados<br />

Um gestor <strong>em</strong><br />

processo <strong>de</strong><br />

mudança<br />

<strong>organizacional</strong><br />

<strong>de</strong>ve:<br />

Saberes<br />

Saber agir e reagir<br />

com pertinência<br />

Saber combinar<br />

recursos e mobilizálos<br />

<strong>em</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado<br />

contexto<br />

Saber transpor<br />

• saber o que <strong>de</strong>ve fazer<br />

Caracterização<br />

• saber ir além do que foi <strong>de</strong>terminado, solicitado<br />

• saber fazer escolh<strong>as</strong> <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> urgência<br />

• saber arbitrar, negociar e <strong>de</strong>cidir<br />

• saber enca<strong>de</strong>ar divers<strong>as</strong> ações visando atingir uma<br />

finalida<strong>de</strong>, um propósito<br />

• saber construir competênci<strong>as</strong> a partir dos recursos<br />

dados<br />

• saber tirar partido não somente <strong>de</strong> seus próprios<br />

recursos incorporados (conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s,<br />

qualida<strong>de</strong>s), m<strong>as</strong> também dos recursos <strong>de</strong> seu<br />

meio<br />

• saber m<strong>em</strong>orizar múltipl<strong>as</strong> situações complex<strong>as</strong> e<br />

relacioná-l<strong>as</strong> com diversos tipos <strong>de</strong> soluções<br />

• saber distanciar-se, sendo capaz <strong>de</strong> analisar seus<br />

próprios procedimentos<br />

• saber utilizar seus conhecimentos para criar<br />

situações-mo<strong>de</strong>lo<br />

• saber <strong>de</strong>terminar e interpretar indicadores <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um contexto<br />

• saber criar condições para que se transponha o<br />

conhecimento a diferentes situações<br />

Saber apren<strong>de</strong>r e<br />

apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r<br />

Saber envolver-se<br />

• saber tirar lições da experiência; saber transformar<br />

a sua ação <strong>em</strong> experiência<br />

• saber <strong>de</strong>screver aos outros como se apren<strong>de</strong><br />

• saber agir <strong>em</strong> circuito duplo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>,<br />

modificando não somente <strong>as</strong> su<strong>as</strong> ações como<br />

também <strong>as</strong> teori<strong>as</strong> e lógic<strong>as</strong> que fundamentaram <strong>as</strong><br />

ações<br />

• saber envolver sua subjetivida<strong>de</strong><br />

• saber <strong>as</strong>sumir riscos<br />

• saber <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r<br />

• ética profissional<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> LE BOTERF, 2003, p.92

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