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Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Centro <strong>de</strong> Tecnologia e Ciências<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong><br />

Rafael <strong>de</strong> Vasconcellos Clarim<br />

Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o estado supercondutor<br />

nemático<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2012


Rafael <strong>de</strong> Vasconcellos Clarim<br />

Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o estado supercondutor nemático<br />

Dissertação apresentada como requisito parcial<br />

para obtenção do título <strong>de</strong> Mestre, ao Programa<br />

<strong>de</strong> Pós Graduação em <strong>Física</strong>, da Universida<strong>de</strong> do<br />

Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Orientador: Prof. Dr. Daniel Gustavo Barci<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2012


CATALOGAÇÃO NA FONTE<br />

<strong>UERJ</strong>/REDE SIRIUS/CTC/D<br />

C591<br />

Clarim, Rafael <strong>de</strong> Vasconcellos<br />

Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o estado supercondutor<br />

nemático / Rafael <strong>de</strong> Vasconcellos Clarim. - 2012.<br />

85f. : il.<br />

Orientador: Daniel Gustavo Barci.<br />

Dissertação - Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong>.<br />

1. Supercondutivida<strong>de</strong> - Teses.2. Transformações <strong>de</strong> fase<br />

(<strong>Física</strong> matemática) - Teses.3. Cristais líquidos - Teses. I. Barci,<br />

Daniel Gustavo. II. Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong>. III. Título<br />

CDU 537.31<br />

Autorizo, apenas para fins acadêmicos ou científicos, a reprodução total ou parcial <strong>de</strong>sta dissertação,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que citada a fonte.<br />

Assinatura<br />

Data


Rafael <strong>de</strong> Vasconcellos Clarim<br />

Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o estado supercondutor nemático<br />

Dissertação apresentada como requisito parcial<br />

para obtenção do título <strong>de</strong> Mestre, ao Programa<br />

<strong>de</strong> Pós Graduação em <strong>Física</strong>, da Universida<strong>de</strong> do<br />

Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Aprovado em 03 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2012.<br />

Banca Examinadora:<br />

Prof. Dr. Daniel Gustavo Barci (Orientador)<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong> - <strong>UERJ</strong><br />

Prof. Dr. Pedro Jorge Von Hanke Perlingeiro<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong> - <strong>UERJ</strong><br />

Prof. Dr. Mauro Melchia<strong>de</strong>s Doria<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Prof. Dr. Daniel Lorenzo Reyes López<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong> - <strong>UERJ</strong><br />

Prof. Dr. Luca Roberto Augusto Moriconi<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2012


DEDICATÓRIA<br />

A meus pais,<br />

Hamilton <strong>de</strong> Jesus Clarim e<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia Jesus <strong>de</strong> Vasconcellos<br />

e aos meus avós,<br />

José Rangel e Ondina e<br />

Wilson e Inês


AGRADECIMENTOS<br />

À meus pais, Hamilton e Rita <strong>de</strong> Cássia, e à meus avós, Wilson, Inês, José Rangel e Ondina,<br />

por terem me dado toda estrutura familiar essencial para meu <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e<br />

profissional.<br />

À minha namorada, Jéssica Furtado, que sempre me apoiou e colaborou para que eu pu<strong>de</strong>sse<br />

alcançar os meus objetivos.<br />

Ao meu orientador, Dr. Daniel Gustavo Barci, que me orientou <strong>de</strong> maneira excelente,<br />

sempre com muita paciência para passar o conhecimento, dando total apoio para produção do<br />

trabalho e também por toda a confiança que tem <strong>de</strong>positado em mim nos últimos anos.<br />

À todos os meus amigos, próximos ou distantes, recentes ou antigos, pelo carinho e amiza<strong>de</strong><br />

que foram muito importantes nesses últimos anos. Em especial gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer à Thiago<br />

Gaddini, Bruno Cabral, Alan Michel Rangel, Jorge Ricardo (com sua brilhante teoria sobre<br />

vetores), Gustavo Luiz, Paula Ribeiro, Bruno Alho, Gustavo Vicente, Leonardo Rodrigues e<br />

aos diversos outros amigos que peço <strong>de</strong>sculpas por não ter acrescentado o nome nesta lista.<br />

Ao <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> física da <strong>UERJ</strong> e à todos os professores, antigos e recentes, pois sem eles<br />

seria impossível alcançar o conhecimento que me permitiu <strong>de</strong>senvolver este trabalho.<br />

À CAPES pelo apoio financeiro.


"Se quiser vir a ser alguém na vida, que <strong>de</strong>vore os livros."<br />

Don Ramon.<br />

"Com a força da sua mente, seu instinto e, também com sua experiência você po<strong>de</strong> voar alto."<br />

Ayrton Senna.<br />

"Se você quer fazer do mundo um lugar melhor, olhe para si mesmo e faça uma mudança."<br />

Michael Jackson.<br />

"Enquanto tiverem os livros nas mãos serão pessoas honradas, serão gente <strong>de</strong> bem. Em outras<br />

palavras, serão como eu..."<br />

Rubén Aguirre.


RESUMO<br />

CLARIM, Rafael <strong>de</strong> Vasconcellos. Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o estado<br />

supercondutor nemático. 2012. 83f. Dissertação (Mestrado em <strong>Física</strong>) - <strong>Instituto</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong>, Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2012.<br />

O objetivo geral <strong>de</strong>ste projeto é propor um mo<strong>de</strong>lo bidimensional que <strong>de</strong>screva<br />

o novo estado supercondutor, que apresenta simetria <strong>de</strong> cristal líquido,<br />

chamado <strong>de</strong> supercondutor nemático. O estudo começa com uma introdução<br />

sobre a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg das transições <strong>de</strong> fase, on<strong>de</strong> são discutidos<br />

conceitos como parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e as or<strong>de</strong>ns das transições <strong>de</strong> fase,<br />

que são essenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste projeto. Em seguida, é feita<br />

uma discussão sobre as principais características dos supercondutores como a<br />

resistência zero, o efeito Meissner-Ochsenfeld, os tipos <strong>de</strong> supercondutores, o<br />

surgimento <strong>de</strong> vórtices e uma análise sobre a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para<br />

transição <strong>de</strong> fase metal-supercondutor. Após isto, é feita uma abordagem sobre<br />

os principais tipos <strong>de</strong> cristais líquidos, com <strong>de</strong>staque ao cristal líquido<br />

nemático, on<strong>de</strong> é <strong>de</strong>senvolvida a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para transição <strong>de</strong><br />

fase isotrópica-nemática e um estudo sobre o surgimento <strong>de</strong> disclinações no<br />

cristal líquido nemático em duas dimensões. Por fim, é apresentado o mo<strong>de</strong>lo<br />

proposto para <strong>de</strong>screver o estado supercondutor nemático, com a construção da<br />

teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg, o estudo do acoplamento entre as fases e os <strong>de</strong>feitos<br />

topológicos presentes nesse estado.<br />

Palavras-chave: Supercondutivida<strong>de</strong>. Transformações <strong>de</strong> fase (<strong>Física</strong> matemática). Cristais<br />

líquidos.


ABSTRACT<br />

CLARIM, Rafael <strong>de</strong> Vasconcellos. Landau-Ginzburg theory for the nematic superconductor<br />

state. 2012. 83f. Dissertação (Mestrado em <strong>Física</strong>) - <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Física</strong> <strong>Armando</strong> <strong>Dias</strong> <strong>Tavares</strong>, Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, 2012.<br />

The objective of this project is to propose a two-dimensional mo<strong>de</strong>l that <strong>de</strong>scribes<br />

the new superconducting state, which has liquid crystal symmetry, called<br />

nematic superconductor. The study begins with an introduction to the Ginzburg-<br />

Landau theory of phase transitions, which are discussed concepts such as or<strong>de</strong>r<br />

parameter and the or<strong>de</strong>rs of phase transitions, which are essential for the <strong>de</strong>velopment<br />

of this project. Then, there is a discussion of the main characteristics<br />

of superconductors such as zero resistance, the Meissner effect-Ochsenfeld,<br />

the types of superconductors, the appearance of vortex and an analysis of the<br />

Landau-Ginzburg theory to metal superconductor phase transition. After this,<br />

an approach is ma<strong>de</strong> on the main types of liquid crystals, especially the nematic<br />

liquid crystal, which is <strong>de</strong>veloped Ginzburg-Landau theory for nematicisotropic<br />

phase transition and a study about the disclinations in the two dimensional<br />

nematic liquid crystal. Finally, the proposed mo<strong>de</strong>l is presented to <strong>de</strong>scribe<br />

the nematic superconductor state, with the construction of the Ginzburg-<br />

Landau theory, the study of coupling between the phases and the topological<br />

<strong>de</strong>fects present in this state.<br />

Keywords: Superconductivity. Phase transformations (Statistical physics). Liquid crystals.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />

Figura 1 - Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21<br />

Figura 2 - Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23<br />

Figura 3 - Resistivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Metal Típico em função da Temperatura . . . . . . 28<br />

Figura 4 - Efeito Meissner-Ochsenfeld . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />

Figura 5 - Diamagnetismo Perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />

Figura 6 - Supercondutor tipo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />

Figura 7 - Supercondutor tipo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33<br />

Figura 8 - Diagrama H x T dos supercondutores tipo I e tipo II . . . . . . . . . . . 33<br />

Figura 9 - Densida<strong>de</strong> energia livre, f s − f n , em função <strong>de</strong> ψ . . . . . . . . . . . . . 39<br />

Figura 10 - Anel supercondutor com campo magnético aplicado . . . . . . . . . . . 46<br />

Figura 11 - Ângulo α entre o vetor diretor e o eixo maior da molécula em um cristal<br />

líquido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49<br />

Figura 12 - Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Nemático . . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />

Figura 13 - Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Colestérico . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />

Figura 14 - Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Esmético A . . . . . . . . . . . . . . . 51<br />

Figura 15 - Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Esmético B . . . . . . . . . . . . . . . 51<br />

Figura 16 - Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Esmético C . . . . . . . . . . . . . . . 52<br />

Figura 17 - Configuração das moléculas <strong>de</strong> um material através da variação da temperatura<br />

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52<br />

Figura 18 - Energia Livre <strong>de</strong> Landau para um cristal líquido nemático em três dimensões<br />

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55<br />

Figura 19 - Energia Livre <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para um cristal líquido nemático em<br />

duas dimensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57<br />

Figura 20 - Processo <strong>de</strong> Volterra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60


Figura 21 - Diagrama <strong>de</strong> Fase a partir do acoplamento algébrico . . . . . . . . . . . 68<br />

Figura 22 - J · ˆn = 0 em todos os pontos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75<br />

Figura 23 - Vórtice e Disclinação separados por uma distância R . . . . . . . . . . . 76<br />

Figura 24 - Diagrama <strong>de</strong> Fase para a aproximação <strong>de</strong> London . . . . . . . . . . . . 77


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12<br />

1 TRANSIÇÕES DE FASE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15<br />

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15<br />

1.1.1 <strong>Física</strong> Estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15<br />

1.2 Teoria <strong>de</strong> Landau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17<br />

1.2.1 Procedimentos para a construção da teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17<br />

1.2.2 Relação com a <strong>Física</strong> Estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18<br />

1.2.3 Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19<br />

1.2.4 Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22<br />

2 SUPERCONDUTIVIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24<br />

2.1 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Dru<strong>de</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24<br />

2.1.1 Resistivida<strong>de</strong> e Condutivida<strong>de</strong> elétrica nos metais . . . . . . . . . . . . . . . . . 25<br />

2.2 Características dos Supercondutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />

2.2.1 Resistência Zero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />

2.2.2 Efeito Meissner-Ochsenfeld . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29<br />

2.2.3 Diamagnetismo Perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />

2.3 Supercondutores: Tipo I e Tipo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />

2.3.1 Supercondutores Tipo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />

2.3.2 Supercondutores Tipo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />

2.4 Equação <strong>de</strong> London . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34<br />

2.5 Pares <strong>de</strong> Cooper . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35<br />

2.6 Vórtice <strong>de</strong> London . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36


2.7 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para a Supercondutivida<strong>de</strong> . . . . . . . . . . . . 38<br />

2.7.1 Descrição da Teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38<br />

2.7.2 Sistemas Não-Homogêneos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40<br />

2.7.3 Superfície dos Supercondutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41<br />

2.7.4 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg com campo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . 42<br />

2.7.5 Simetrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44<br />

2.7.6 Quantização do Fluxo Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46<br />

3 CRISTAL LÍQUIDO NEMÁTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48<br />

3.1 Cristais Líquidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48<br />

3.1.1 Tipos <strong>de</strong> Cristais Líquidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49<br />

3.1.1.1 Cristais Líquidos Nemático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />

3.1.1.2 Cristais Líquidos Colestéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />

3.1.1.3 Cristais Líquidos Esméticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51<br />

3.2 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para os Cristais Líquidos Nemáticos . . . . . . 52<br />

3.2.1 Transição <strong>de</strong> Fase Isotrópica - Nemática em 3 Dimensões . . . . . . . . . . . . . 52<br />

3.2.2 Transição <strong>de</strong> Fase Isotrópica - Nemática em 2 Dimensões . . . . . . . . . . . . . 55<br />

3.2.2.1 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55<br />

3.2.2.2 Disclinações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59<br />

4 O ESTADO SUPERCONDUTOR NEMÁTICO . . . . . . . . . . . . . . . . 63<br />

4.1 Supercondutores High T c . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63<br />

4.2 O Estado Supercondutor Modulado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65<br />

4.3 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o estado supercondutor nemático . . . . . 69<br />

4.3.1 Aproximação <strong>de</strong> London . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74<br />

5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78<br />

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80


12<br />

INTRODUÇÃO<br />

A primeira teoria bem sucedida sobre transições <strong>de</strong> fase foi introduzida por van <strong>de</strong>r Waals<br />

antes do surgimento da Mecânica Estatística [1]. Esta teoria trazia um pensamento inédito <strong>de</strong><br />

que um único tipo <strong>de</strong> interação entre moléculas po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>screver distintas fases termodinâmicas.<br />

Nas teorias e os mo<strong>de</strong>los atuais que <strong>de</strong>screvem as transições <strong>de</strong> fase e os fenômenos críticos<br />

têm como base a Mecânica Estatística, mas incorporam a idéia <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals.<br />

A Mecânica Estatística foi sistematizada por Gibbs. De acordo com a teoria <strong>de</strong> Gibbs, as<br />

proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um sistema em equilíbrio termodinâmico a uma <strong>de</strong>terminada temperatura po<strong>de</strong>m<br />

ser obtidas a partir da distribuição canônica <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s que está relacionada com a<br />

hamiltoniana que <strong>de</strong>screve o sistema. As proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas em questão são <strong>de</strong>terminadas<br />

a partir da energia livre, que é proporcional à função <strong>de</strong> partição. Uma transição <strong>de</strong> fase<br />

ou um ponto crítico manifesta-se como uma singularida<strong>de</strong> na energia livre a qual é observada<br />

quando se toma o limite termodinâmico. O cálculo da energia livre do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Ising por<br />

Onsager mostrou explicitamente essa proprieda<strong>de</strong> pela primeira vez.<br />

Antes <strong>de</strong> Onsager as transições <strong>de</strong> fase haviam sido estudadas do ponto <strong>de</strong> vista teórico<br />

em teorias aproximadas como a teoria <strong>de</strong> Weiss para o ferromagnetismo, a teoria <strong>de</strong> Bragg-<br />

Williams para a transição or<strong>de</strong>m-<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m em ligas metálicas e a teoria <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals para<br />

a transição líquido-vapor. Essas teorias clássicas ou <strong>de</strong> campo médio po<strong>de</strong>m ser vistas <strong>de</strong> forma<br />

unificada através da teoria <strong>de</strong> Landau.<br />

Uma transição <strong>de</strong> fase que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar nas pesquisas em <strong>Física</strong> da matéria con<strong>de</strong>nsada<br />

é a transição <strong>de</strong> fase metal-supercondutor. Os Metais ocupam uma posição muito especial<br />

no estudo dos sólidos, apresentando uma impressionante varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s que outros<br />

sólidos não possuem [2]. Eles são excelentes condutores <strong>de</strong> calor, <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, entre outras<br />

proprieda<strong>de</strong>s interessantes. O <strong>de</strong>safio da inclusão <strong>de</strong>sses recursos dos metais <strong>de</strong>u o impulso<br />

inicial para a teoria mo<strong>de</strong>rna dos sólidos.<br />

No ano <strong>de</strong> 1911, houve um gran<strong>de</strong> acontecimento no estudo da condução em metais. H.


13<br />

Kamerlingh Onnes observou que a resistivida<strong>de</strong> do mercúrio, abaixo da temperatura <strong>de</strong> 4,15 K,<br />

caia para zero. Este foi o início dos Estudos dos Supercondutores.<br />

Em 1950, Landau e Ginzburg propuseram uma Teoria para o estudo da transição <strong>de</strong> fase<br />

metal-supercondutor. A Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg é uma teoria que não explica os mecânismos<br />

microscópicos que dão origem a supercondutivida<strong>de</strong>. Em vez disso, a teoria analisa as<br />

proprieda<strong>de</strong>s macroscópicas <strong>de</strong> um supercondutor com o auxílio <strong>de</strong> termodinâmica. Inicialmente<br />

esta teoria era introduzida como uma teoria fenomenológica, mas Gor´kov mostrou que<br />

era possível obter esta teoria através da teoria microscópica <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>en Cooper e Schrieffer<br />

(BCS) no limite a<strong>de</strong>quado.<br />

Outro tipo <strong>de</strong> material que ocupa uma posição importante nos estudos das transições <strong>de</strong><br />

fase são os cristais líquidos [3]. A <strong>de</strong>scoberta do primeiro cristal líquido foi <strong>de</strong>vido ao estudo<br />

do botânico austríaco Friedrich Reinitzer, em 1888. Ao realizar sua pesquisa no estudo da<br />

função do colesterol nas plantas, ele observou a existência <strong>de</strong> dois pontos <strong>de</strong> fusão em um éster.<br />

Aumentando a temperatura do sistema, ele percebeu que o composto variava do estado cristalino<br />

para um líquido opaco e, aumentando novamente a temperatura, o líquido opaco tornava-se um<br />

líquido transparente.<br />

Após realizar essas observações, Reinitzer enviou algumas amostras a Otto Lehmann, físico<br />

alemão, que as estudou com um microscópio equipado com um polarizador e um controlador<br />

<strong>de</strong> temperatura. Lehmann verificou que a fase em que o líquido era opaco, a substância era um<br />

líquido homogêneo, mas, que o seu comportamento na presença <strong>de</strong> uma luz polarizada era igual<br />

ao comportamento <strong>de</strong> um cristal. Esta é a origem da <strong>de</strong>nominação Cristal Líquido.<br />

Impulsionado por essa <strong>de</strong>scoberta muitos estudos foram realizados. Entre esses estudos<br />

<strong>de</strong>stacamos: Daniel Vorlan<strong>de</strong>r, com o seu trabalho que mostrou a tendência das moléculas<br />

lineares em formarem fases líquido-cristalinas; Georges Frie<strong>de</strong>l, que em 1922 publicou um<br />

trabalho <strong>de</strong>screvendo as 3 fases do cristal líquido: nemático, esmético e colestérico, explicando<br />

a razão pela existência <strong>de</strong> variações da orientação das moléculas e concluiu que para o<br />

caso <strong>de</strong> cristais líquidos esméticos existia uma estrutura <strong>de</strong> camadas; Carl Oseen e F.C. Frank<br />

realizaram, entre 1920 e 1958, um estudo teórico <strong>de</strong>nominado como "Teoria Contínua"que<br />

<strong>de</strong>screve as proprieda<strong>de</strong>s elásticas nos cristais líquidos; V. Tsevtkov introduz o parâmetro <strong>de</strong>


14<br />

or<strong>de</strong>m em 1942; Glenn Brown, químico norte-americano, publicou um trabalho <strong>de</strong> revisão sobreas<br />

fases líquido-cristalinas em 1957; Wilhelm Maier e Alfred Saupe, dois físicos alemães,<br />

em 1961 formularam pela primeira vez uma teoria microscópica que relaciona as características<br />

moleculares com as fases líquido-cristalinas.<br />

As pesquisas <strong>de</strong> transições <strong>de</strong> fase em sistemas <strong>de</strong> matéria con<strong>de</strong>nsada ainda estão em pleno<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Recentemente foi observado em alguns materiais supercondutores <strong>de</strong> alta<br />

temperatura um novo estado supercondutor [4], [5], [6], [7], que apresenta simetria <strong>de</strong> cristal<br />

líquido nemático, algo que até então não havia sido observado e, consequentemente, ainda não<br />

possui uma teoria completa para <strong>de</strong>screver esse estado. Este trabalho propõe um mo<strong>de</strong>lo que<br />

visa estudar as principais características <strong>de</strong>sse novo estado supercondutor através da teoria <strong>de</strong><br />

Landau-Ginzburg para as transições <strong>de</strong> fase.<br />

A presente dissertação é estruturada da seguinte forma:<br />

• Capítulo 1: Refere-se a construção da teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg das transições <strong>de</strong> fase,<br />

on<strong>de</strong> são discutidos conceitos como parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e as or<strong>de</strong>ns das transições <strong>de</strong><br />

fase, que são essenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste projeto.<br />

• Capítulo 2: São apresentadas as principais características dos supercondutores como a<br />

resistência zero, o efeito Meissner-Ochsenfeld, os tipos <strong>de</strong> supercondutores, o surgimento<br />

<strong>de</strong> vórtices e a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para transição <strong>de</strong> fase metal-supercondutor.<br />

• Capítulo 3: É feita uma abordagem sobre os principais tipos <strong>de</strong> cristais líquidos, com<br />

<strong>de</strong>staque ao cristal líquido nemático, on<strong>de</strong> é <strong>de</strong>senvolvida a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg<br />

para transição <strong>de</strong> fase isotrópica-nemática e um estudo sobre o surgimento <strong>de</strong> disclinações<br />

no cristal líquido nemático em duas dimensões.<br />

• Capítulo 4: É proposto um mo<strong>de</strong>lo para <strong>de</strong>screver o estado supercondutor nemático, com<br />

a construção da teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg, o estudo do acoplamento entre as fases e a<br />

análise dos <strong>de</strong>feitos topológicos presentes nesse estado.


15<br />

1 TRANSIÇÕES DE FASE<br />

Neste capítulo apresentaremos os principais conceitos que serão abordados nessa dissertação.<br />

Inicialmente <strong>de</strong>screveremos o conceito <strong>de</strong> energia livre e <strong>de</strong> parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, que<br />

servirão como base para o estudo principal <strong>de</strong>ste trabalho: a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para as<br />

transições <strong>de</strong> fase.<br />

1.1 Introdução<br />

As transições <strong>de</strong> fase são muito comuns na natureza [8]. Essas transições ocorrem quando<br />

o estado <strong>de</strong> equilíbrio <strong>de</strong> um sistema sofre um alteração em suas condições <strong>de</strong> simetria <strong>de</strong>vido<br />

a variação dos parâmetros externos do mesmo, como por exemplo temperatura, pressão, campo<br />

magnético. Compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>screver a existência <strong>de</strong>ssas transições, bem como seu caráter e<br />

consequências para fenômenos cotidianos, é um dos papeis mais importante do estudo da física<br />

matéria con<strong>de</strong>nsada e da física estatística.<br />

Para <strong>de</strong>screver um sistema, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista microscópico, temos que analisar o Hamiltoniano<br />

do mesmo. O Hamiltoniano apresenta invariância sobre <strong>de</strong>terminadas operações <strong>de</strong><br />

simetrias, que nos permite tirar importantes conclusões sobre a estrutura e o comportamento<br />

em <strong>de</strong>terminadas condições. Em geral, se o sistema estiver sob alta temperatura ou diluído, o<br />

sistema está em uma fase <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada na qual é invariante frente a operações do mesmo grupo<br />

<strong>de</strong> invariância do Hamiltoniano. Quando ocorre uma transição <strong>de</strong> fase, alguma invariância é<br />

quebrada. As quantida<strong>de</strong>s que não permanecem invariantes através <strong>de</strong> uma transição <strong>de</strong> fases<br />

são chamadas <strong>de</strong> parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m.<br />

Vamos agora analisar as transições <strong>de</strong> fase do ponto <strong>de</strong> vista da <strong>Física</strong> Estatística.<br />

1.1.1 <strong>Física</strong> Estatística<br />

Uma das aplicações da <strong>Física</strong> Estatística (além <strong>de</strong> nos ajudar a enten<strong>de</strong>r a natureza) é<br />

calcular proprieda<strong>de</strong>s fundamentais da natureza, incluindo as transições <strong>de</strong> fase. Através dos


16<br />

estudos <strong>de</strong> Boltzmann po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir uma quantida<strong>de</strong> chamada <strong>de</strong> Função <strong>de</strong> Partição. Esta<br />

quantida<strong>de</strong> codifica as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um sistema em equilíbrio termodinâmico. Ela é uma<br />

função <strong>de</strong> parâmetros como a temperatura e, a maioria das variáveis termodinâmicas do sistema,<br />

como por exemplo a energia livre, entropia e pressão, po<strong>de</strong>m ser obtidas em termos da função<br />

partição e <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>rivadas. A sua expressão matemática é dada por:<br />

∑ ∑<br />

Z = e −H[γ]/κBT = e −H[γ]β (1.1)<br />

γ<br />

γ<br />

On<strong>de</strong> γ se refere a todos os microestados do sistema ( como por exemplo todas as configurações<br />

possíveis dos spins em um material magnético), β é igual a 1/κ B T e H[γ] é a Hamiltoniana.<br />

Boltzmann mostrou também que a energia livre <strong>de</strong> Helmholtz é dada por:<br />

F = − 1 ln(Z) (1.2)<br />

β<br />

Obtendo a expressão da energia livre, po<strong>de</strong>mos obter também quantida<strong>de</strong>s termodinâmicas<br />

importantes, como por exemplo a entropia, através <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>rivadas em relação a <strong>de</strong>terminados<br />

parâmetros do sistema.<br />

Com base no que discutimos até agora e no que veremos no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sse estudo, po<strong>de</strong>mos<br />

dizer que a energia livre F(T) é, matematicamente, uma função não analítica da temperatura.<br />

Uma função não analítica é aquela que apresenta <strong>de</strong>rivadas não <strong>de</strong>finidas em certos pontos ou<br />

singularida<strong>de</strong>s. Quando aparecem esses pontos que apresentam singularida<strong>de</strong>s nas <strong>de</strong>rivadas,<br />

dizemos que ocorreu uma transição <strong>de</strong> fase.<br />

É interessante tentar e enten<strong>de</strong>r como obter o comportamente não analítico fora <strong>de</strong> uma<br />

soma <strong>de</strong> exponências, cada qual separado analíticamente em uma temperatura finita qualquer:<br />

[ ∑<br />

F = −κ B Tln<br />

γ<br />

]<br />

e −H[γ]/κ BT<br />

(1.3)<br />

A existência <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s em F é um resultado direto da existência do limite termodinâmico,<br />

ou seja, a presença <strong>de</strong> um número essencialmente infinito <strong>de</strong> graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> em<br />

um sistema termodinâmico.


17<br />

Po<strong>de</strong>mos pensar que a energia livre possa apresentar uma <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> na sua primeira<br />

<strong>de</strong>rivada ou nas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m superior. Definimos então que, quando a primeira <strong>de</strong>rivada<br />

é <strong>de</strong>scontínua, trata-se <strong>de</strong> uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m. No caso da segunda<br />

<strong>de</strong>rivada ser <strong>de</strong>scontínua, trata-se <strong>de</strong> uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m. Esses dois<br />

casos serão estudados com mais <strong>de</strong>talhes na sessão seguinte, no qual <strong>de</strong>finiremos a teoria <strong>de</strong><br />

Landau para as transições <strong>de</strong> fase.<br />

1.2 Teoria <strong>de</strong> Landau<br />

A partir da teoria das funções analíticas estamos familiarizados com o fato <strong>de</strong> que uma<br />

quantida<strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> informação está contida em singularida<strong>de</strong>s. Então, se po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong><br />

alguma forma vir a nos <strong>de</strong>parar com uma singularida<strong>de</strong> na energia livre, então po<strong>de</strong>-se elaborar<br />

uma teoria para tornar possível a compreensão da física das transições <strong>de</strong> fase. Este é o objetivo<br />

da Teoria <strong>de</strong> Landau.<br />

Landau fez uma série <strong>de</strong> pressupostos para a energia livre aproximada <strong>de</strong> um sistema, <strong>de</strong> tal<br />

forma que a energia livre exibe a não analiticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma transição <strong>de</strong> fase e nos fornece gran<strong>de</strong><br />

parte da física envolvida neste processo. Existem essencialmente quatro etapas neste procedimento:<br />

vamos estudar esses primeiros passos, e <strong>de</strong>pois explorá-los novamente em termos da<br />

função <strong>de</strong> partição.<br />

1.2.1 Procedimentos para a construção da teoria<br />

Inicialmente temos que <strong>de</strong>finir um parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ψ para o sistema. Como já haviamos<br />

falado anteriormente, esta quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser zero na fase <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada (acima da temperatura<br />

crítica T c ) e diferente <strong>de</strong> zero da fase or<strong>de</strong>nada (abaixo da temperatura crítica T c ). Feito isso,<br />

assumimos um funcional da energia livre, cujo a energia livre é <strong>de</strong>terminada minimizando o<br />

funcional:<br />

˜F = F 0 (T) + F L (T, ψ) (1.4)<br />

On<strong>de</strong> F 0 (T) é uma função analítica da temperatura e F L (T, ψ) contém toda a informação sobre<br />

a <strong>de</strong>pendência do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ψ.


18<br />

O funcional <strong>de</strong> Landau é assumido como sendo uma função analítica <strong>de</strong> ψ, que obe<strong>de</strong>ce todas<br />

as simetrias possíveis associadas com ψ, o que geralmente inclui a invariância <strong>de</strong> translação<br />

e rotação. Na fase <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, assumimos que ψ seja igual a zero. Então, perto da transição <strong>de</strong><br />

fase, é esperado que ψ seja pequeno, ou seja, po<strong>de</strong>mos construir o funcional <strong>de</strong> Landau através<br />

<strong>de</strong> uma expansão polinomial do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m (essa expansão só é válida quando ψ pequeno).<br />

Assumimos também que toda <strong>de</strong>pendência não trivial da temperatura no funcional <strong>de</strong><br />

Landau está presente no termo <strong>de</strong> menor or<strong>de</strong>m da expansão polinomial <strong>de</strong> F L (T, ψ), que tem a<br />

forma:<br />

∫<br />

F L (T, ψ) =<br />

]<br />

1<br />

dV[<br />

2 a 0(T − T c )ψ 2 + ...<br />

(1.5)<br />

On<strong>de</strong> a 0 é uma constante. Des<strong>de</strong> que F L (T, ψ) seja construído como uma expansão, haverão<br />

outras constantes <strong>de</strong>sonhecidas. Em um sistema físico, essas constantes têm <strong>de</strong>pendência da<br />

temperatura, mas, em geral, elas tem efeito <strong>de</strong>sprezível perto da transição <strong>de</strong> fase.<br />

Após a construção do funcional <strong>de</strong> Landau e minimizando-o como uma função da temperatura,<br />

a natureza da transição <strong>de</strong> fase po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada. O sistema neste nível é especificado<br />

como tendo um estado uniforme ou um estado médio. Por isso a teoria <strong>de</strong> Landau é dita uma<br />

teoria <strong>de</strong> campo médio.<br />

1.2.2 Relação com a <strong>Física</strong> Estatística<br />

Pela equação (1.3) po<strong>de</strong>mos obter a relação:<br />

∑<br />

e −F/κBT =<br />

γ<br />

e −H[γ]/κ BT<br />

(1.6)<br />

Relacionando (1.6) com (1.4) temos que:<br />

∫<br />

e −F/κBT ≃ e −F 0/κ B T<br />

Dψe −F L[T,ψ]/κ B T<br />

(1.7)<br />

On<strong>de</strong> a integral ∫ Dψ é uma integral funcional em todos os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> associados com


19<br />

ψ, ao invés da integral sob todos os microestados. Calculando esta integral, obtemos a relação:<br />

F = E − TS (1.8)<br />

On<strong>de</strong> E representa a energia interna do sistema, T a temperatura e S a entropia. A entropia é<br />

dada por:<br />

S = κ B ln[g(ψ)] (1.9)<br />

On<strong>de</strong> g(ψ) representa a <strong>de</strong>generescência <strong>de</strong> ψ, ou seja, o número <strong>de</strong> microestados acessíveis do<br />

sistema. Expandindo a energia livre temos:<br />

F ≃ E 0 − E ∗ ψ 2 + ... − T[S 0 − aψ 2 + ...] = F 0 + a(T − E ∗<br />

a )ψ2 + ... (1.10)<br />

On<strong>de</strong> a é uma constante. I<strong>de</strong>ntificamos a <strong>de</strong>pendência da temperatura no termo quadrático<br />

da expansão. Veremos na próxima sessão que E∗<br />

a<br />

assumirá o papel <strong>de</strong> uma temperatura do<br />

sistema em que, nos exemplos que serão apresentados, esta temperatura será a temperatura<br />

crítica para a transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m.<br />

1.2.3 Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m<br />

Vamos supor uma energia livre do tipo:<br />

F = F 0 + 1 2 a(T − T 0)ψ 2 − 1 4 bψ4 + 1 6 cψ6 (1.11)<br />

On<strong>de</strong> T 0 é uma temperatura diferente da temperatura crítica. Calculando os mínimos para essa<br />

energia livre fazemos a primeira <strong>de</strong>rivada igual a zero:<br />

∂F<br />

∂ψ = a(T − T 0)ψ − bψ 3 + cψ 5 = 0 (1.12)<br />

Com isso obtemos os valores:<br />

ψ = 0, ψ 2 = b ± √ b 2 − 4ca(T − T 0 )<br />

2c<br />

(1.13)


20<br />

Para <strong>de</strong>finir a temperatura crítica fazemos T = T c . Com isso temos:<br />

F − F 0 = 1 2 a(T c − T 0 ) − 1 2 bψ2 + 1 3 cψ4 = 0 (1.14)<br />

Calculando a <strong>de</strong>rivada primeira obtemos:<br />

ψ 2 = 3b<br />

4c<br />

(1.15)<br />

Substituindo (1.15) em (1.14):<br />

a(T c − T 0 ) − b 3b ( ) 2<br />

3b<br />

4c + c = 0 (1.16)<br />

4c<br />

Ou seja, T c é dado por:<br />

T c = T 0 + 3b2<br />

16ac<br />

(1.17)<br />

Comparando (1.11) com (1.8), i<strong>de</strong>ntificamos a Entropia como sendo:<br />

S = ∂F<br />

∂T = −1 2 aψ2 = − 1 ( ) 3b<br />

2 a = −a 3b<br />

4c 8c<br />

(1.18)<br />

Po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar também a existência <strong>de</strong> um Calor Latente L, em T = T c , que tem a<br />

forma:<br />

L = T c<br />

1<br />

2 aψ2 = T c a 3b<br />

8c = −T cS (1.19)<br />

A existência do calor latente em uma transição <strong>de</strong> fase é caracterizada por uma <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong><br />

na primeira <strong>de</strong>rivada da energia livre quando T = T c , o que nos leva a concluir que<br />

esta energia livre correspon<strong>de</strong> a uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m..<br />

Um gráfico típico <strong>de</strong> uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m [9] é apresentado na figura<br />

1. Nesta figura vemos que para T > T c existe um mínimo estável em ψ = 0, porém existem<br />

também dois mínimos metaestáveis. Os estados metaestáveis correspon<strong>de</strong>m a qualquer estado<br />

do sistema diferente do estado <strong>de</strong> equilíbrio mais estável, que tenham consigo associado uma<br />

restrição que impeça a transição imediata <strong>de</strong>ste para o estado mais estável sem alguma perturbação<br />

significativa <strong>de</strong> origem geralmente externa ao sistema. Quando T = T c , vemos que a


21<br />

energia livre apresenta 3 mínimos estáveis, sendo um <strong>de</strong>les em ψ = 0. Para T < T c , temos que<br />

em ψ = 0, que anteriormente era um ponto <strong>de</strong> mínimo, passa a ser agora um ponto <strong>de</strong> máximo<br />

e o sistema apresenta dos mínimos estáveis.<br />

Figura 1: Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m<br />

Está associado a transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m um fenômeno chamado <strong>de</strong> Histerese<br />

[10]. Basicamente, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a histerese como sendo a situação na qual o sistema fica<br />

"preso"em um mínimo local <strong>de</strong> energia do sistema e, em consequência disto, não consegue alcançar<br />

o equilíbrio termodinâmico. Ainda não existe formalmente um tratamento da histerese<br />

baseado na metaestabilida<strong>de</strong> e na termodinâmica fora do equilíbrio. Portanto, para fazer esse estudo<br />

<strong>de</strong>vemos utilizar aproximações, como por exemplo a histerese in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do passo, que<br />

consiste basicamente em uma aproximação a temperatura zero, on<strong>de</strong> o sistema fica in<strong>de</strong>finidamente<br />

em qualquer mínimo local que ele possa ocupar inicialmente, a histerese <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do passo, on<strong>de</strong> algum mecanismo dissipativo limita a resposta do sistema a ações externas e<br />

a relaxação térmica, pelo qual o sistema se aproxima do equilíbrio termodinâmico auxiliado<br />

pelas relaxações térmicas. Em <strong>Física</strong>, a histerese é encontrada no ferromagnetismo, ferroeletricida<strong>de</strong>,<br />

supercondutivida<strong>de</strong>, absorção e recentemente foi estudada em materiais com memória<br />

<strong>de</strong> forma.


22<br />

1.2.4 Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

Vamos supor agora que temos uma energia livre da forma:<br />

F = F 0 + 1 2 a(T − T c)ψ 2 + 1 4 bψ4 (1.20)<br />

On<strong>de</strong> vamos assumir que a e b são constantes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da temperatura. Calculando os<br />

pontos <strong>de</strong> mínimo:<br />

∂F<br />

∂ψ = a(T − T c)ψ + bψ 3 = 0 (1.21)<br />

Com isso obtemos os valores:<br />

ψ = 0, ψ 2 = a(T c − T)<br />

b<br />

(1.22)<br />

Comparando (1.20) e (1.8) vemos que a entropia é dada por:<br />

S = − 1 2 aψ2 = − 1 2 a2 (T c − T)<br />

b<br />

(1.23)<br />

Deste resultado po<strong>de</strong>mos obter a expressão do calor específico:<br />

C = ∂2 F<br />

∂T 2 = T ∂S<br />

∂T = ⎧⎪⎨⎪⎩<br />

0, se T > T c<br />

a 2<br />

2b T, se T < T c<br />

(1.24)<br />

O Calor específico apresenta uma <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> finita, um salto na temperatura crítica, o<br />

que nos mostra que essa energia livre correspon<strong>de</strong> a uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m.


23<br />

Um gráfico típico <strong>de</strong> uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m [9] é apresentado na figura<br />

2. Nesta figura vemos que para T > T c existe um mínimo estável em ψ = 0. Quando T = T c ,<br />

vemos que a energia livre continua apresentando um mínimo estável em ψ = 0. Para T < T c ,<br />

temos que em ψ = 0, que anteriormente era um ponto <strong>de</strong> mínimo, passa a ser agora um ponto<br />

<strong>de</strong> máximo e o sistema apresenta dos mínimos estáveis, semelhante ao que ocorre na transição<br />

<strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m.<br />

Figura 2: Transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m


24<br />

2 SUPERCONDUTIVIDADE<br />

Nesse capítulo apresentaremos inicialmente uma breve <strong>de</strong>scrição do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Dru<strong>de</strong> para<br />

a condução em metais, que consiste em uma analogia com a teoria cinética dos gases, consi<strong>de</strong>rando<br />

o metal como sendo um gás <strong>de</strong> elétrons. Feito isso, <strong>de</strong>screveremos as principais características<br />

da supercondutivida<strong>de</strong>: o efeito Meissner-Ochsenfeld e a resistência zero, através<br />

<strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo teórico simples, a equação <strong>de</strong> London, e as consequências <strong>de</strong>sta equação, como<br />

a existência <strong>de</strong> vórtices nos supercondutores e a diferença entre os supercondutores tipo I e tipo<br />

II. Por fim, uma discussão sobre a transição <strong>de</strong> fase metal supercondutor através da teoria <strong>de</strong><br />

Landau-Ginzburg, com aplicações em sistemas uniformes, sistemas não-homogêneos, sistemas<br />

na presença do campo magnético, no estudo da superfície dos supercondutores e na quebra<br />

espontânea <strong>de</strong> simetria.<br />

2.1 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Dru<strong>de</strong><br />

Em 1897, J.J. Thomson <strong>de</strong>scobriu o Elétron. [11] Esta <strong>de</strong>scoberta teve um vasto e imediato<br />

impacto nas teorias da estrutura da matéria e <strong>de</strong>finiu o mecanismo <strong>de</strong> condução nos metais.<br />

Aproximadamente 3 anos <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Thomson, Dru<strong>de</strong> construiu uma teoria para<br />

condução térmica e elétrica aplicando a Teoria Cinética para um metal, consi<strong>de</strong>rando-o como<br />

um gás <strong>de</strong> elétrons.<br />

A teoria cinética dos gases fornece informações sobre as gran<strong>de</strong>zas macroscópicas do gás,<br />

<strong>de</strong>screvendo-o como um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> moléculas em movimento caótico, que coli<strong>de</strong>m<br />

elasticamente entre si. Entre as colisões sucessivas, o movimento das moléculas é retilíneo e<br />

cada colisão tem duração <strong>de</strong>sprezível. Po<strong>de</strong>mos supor que as forças aplicadas estão distribuídas<br />

em todas as direções, ou seja, se cancelam globalmente, sendo nula a sua resultante. Dru<strong>de</strong><br />

adaptou essa teoria para <strong>de</strong>senvolver um mo<strong>de</strong>lo para a condutivida<strong>de</strong> em metais e com isso foi<br />

capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e prever uma série <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses materiais.<br />

Os életrons possuem carga elétrica negativa. Com base nisso, Dru<strong>de</strong> assumiu que a com-


25<br />

pensação das cargas positivas nos metais, afim <strong>de</strong> garantir a neutralida<strong>de</strong> elétrica do material,<br />

estaria ligada à partículas muito pesadas que são consi<strong>de</strong>radas imóveis.<br />

Fazendo uma comparação com o que conhecemos hoje sobre a estrutura da matéria, po<strong>de</strong>mos<br />

dizer que os elétrons do gás proposto por Dru<strong>de</strong> são os elétrons que se localizam na camada<br />

<strong>de</strong> condução dos átomos, e as partículas pesadas e imóveis <strong>de</strong> carga positiva são os íons<br />

metálicos, compostos por núcleos atômicos e elétrons fortemente ligados a eles, que chamamos<br />

<strong>de</strong> elétrons do núcleo. Quando esses átomos isolados estão con<strong>de</strong>nsados formando um metal,<br />

os életrons do núcleo continuam ligados ao núcleo formando o íon metálico, mas os elétrons<br />

<strong>de</strong> valência po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>slocar-se para muito longe do átomo <strong>de</strong> origem. Nesse contexto, isto é<br />

chamado <strong>de</strong> Condução Elétrica.<br />

De maneira resumida, as hipóteses do mo<strong>de</strong>lo são:<br />

• Na ausência <strong>de</strong> campos eletromagnéticos externos, os elétrons movem-se em movimento<br />

retilíneo uniforme.<br />

Quando existe um campo externo atuando, o elétron move-se <strong>de</strong><br />

acordo com as Leis <strong>de</strong> Newton, livre <strong>de</strong> qualquer influência <strong>de</strong> íons ou <strong>de</strong> outros elétrons.<br />

• As colisões <strong>de</strong> elétrons com os íons no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Dru<strong>de</strong>, como na Teoria Cinética, são<br />

eventos instantâneos que alteram a velocida<strong>de</strong> do elétron.<br />

• Um elétron escolhido aleatoriamente, em média, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar-se por um tempo τ, que é<br />

chamado <strong>de</strong> tempo livre médio ou tempo <strong>de</strong> relaxamento, antes da sua próxima colisão.<br />

• Os elétrons alcançam o equilíbrio térmico com o meio somente através das colisões e<br />

quanto maior for a temperatura on<strong>de</strong> ocorre a colisão, mais rápido um elétron emerge<br />

<strong>de</strong>ssa colisão.<br />

2.1.1 Resistivida<strong>de</strong> e Condutivida<strong>de</strong> elétrica nos metais<br />

A resistivida<strong>de</strong> ρ é <strong>de</strong>finida como sendo a constante <strong>de</strong> proporcionalida<strong>de</strong> entre o campo<br />

elétrico E em um ponto no metal e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrente que é induzida neste metal. Ou seja:<br />

E = ρ j (2.1)


26<br />

A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrente j é um vetor, paralelo ao fluxo <strong>de</strong> cargas, cuja magnitu<strong>de</strong> é a quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cargas por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo que circula por uma área perpendicular ao fluxo.<br />

Supondo que n elétrons por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volume V movem-se em um metal com velocida<strong>de</strong><br />

v. O número total <strong>de</strong> elétrons que atravessam uma seção transversal <strong>de</strong> área A, em um intervalo<br />

<strong>de</strong> tempo dt, é:<br />

N = nV = n(vdt)A (2.2)<br />

Como cada elétron possui carga −e, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrente po<strong>de</strong> ser escrita como:<br />

j = − eN<br />

Adt<br />

= −env (2.3)<br />

De acordo com a primeira hipótese do mo<strong>de</strong>lo vemos que a velocida<strong>de</strong> dos elétrons após uma<br />

colisão, na presença <strong>de</strong> um campo externo, po<strong>de</strong> ser escrita em função da aceleração imposta<br />

por este campo, ou seja:<br />

− eE = m dv<br />

dt<br />

−→ v = −eEt<br />

m<br />

−→ v = −eEτ<br />

m<br />

(2.4)<br />

On<strong>de</strong> substituímos t por τ pois o tempo em questão é o tempo livre médio. Se aplicarmos a<br />

equação (2.4) em (2.3) obtemos:<br />

j = ne2 τ<br />

m E (2.5)<br />

Este resultado é usualmente representado em termos do inverso da resistivida<strong>de</strong>, que chamamos<br />

<strong>de</strong> Condutivida<strong>de</strong>, e representamos por σ:<br />

σ = ne2 τ<br />

m<br />

(2.6)<br />

Isto estabelece a <strong>de</strong>pendência linear <strong>de</strong> j em E e dá uma estimativa da condutivida<strong>de</strong> em termos<br />

<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s conhecidas, exceto para o tempo <strong>de</strong> relaxamento. Logo, po<strong>de</strong>mos escrever a<br />

resistivida<strong>de</strong> como:<br />

ρ = m<br />

ne 2 τ−1 (2.7)<br />

On<strong>de</strong> a resistivida<strong>de</strong> é proporcional a τ −1 que chamamos <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> espalhamento.


27<br />

Em um metal típico existem 3 tipos <strong>de</strong> espalhamentos: espalhamento por impurezas τ −1<br />

imp ,<br />

por interação elétron-elétron τ −1<br />

el−el<br />

e pelas colisões elétron-fônon τ−1<br />

el− f<br />

. Como eles são processos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, então a taxa <strong>de</strong> espalhamento total <strong>de</strong>ve ter a forma:<br />

τ −1 = τ −1<br />

imp + τ −1<br />

el−el + τ−1 el− f (2.8)<br />

On<strong>de</strong> τimp −1 não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da temperatura, τ−1<br />

el−el é proporcional ao quadrado da temperatura, T 2 ,<br />

e τ −1<br />

el− f<br />

é proporcional a T 5 . Portanto, po<strong>de</strong>mos representar a resistivida<strong>de</strong> um metal á baixas<br />

temperaturas, através <strong>de</strong>:<br />

ρ = ρ 0 + aT 2 + ... (2.9)<br />

On<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com essa equação, a resistivida<strong>de</strong> a temperatura zero, ρ 0 , <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria apenas<br />

da concentração <strong>de</strong> impurezas no material. Contudo, para alguns metais observou-se algo<br />

completamente diferente. Após resfriarmos o metal, a resistivida<strong>de</strong> inicialmente seguia um<br />

comportamento simples, como <strong>de</strong>scrito em (2.9). Mas, em um <strong>de</strong>terminado momento, ela <strong>de</strong>saparece<br />

totalmente, como po<strong>de</strong> ser observado na figura 3. A temperatura on<strong>de</strong> a resistivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>saparece é chamada <strong>de</strong> temperatura crítica, que usaremos a notação T c . Abaixo <strong>de</strong>ssa temperatura<br />

a resistivida<strong>de</strong> não é apenas pequena, mas é exatamente zero. Esse fenômeno é conhecido<br />

como Supercondutivida<strong>de</strong>.


28<br />

Figura 3: Resistivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Metal Típico em função da Temperatura<br />

2.2 Características dos Supercondutores<br />

O fenômeno da supercondutivida<strong>de</strong> foi um completa surpresa e, ainda hoje, se apresenta<br />

como uma das gran<strong>de</strong>s fronteiras para o conhecimento científico. A teoria <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>en, Cooper<br />

e Schrieffer fornece uma explicação microscópica para esse fenômeno, porém ela só é aplicável<br />

a supercondutores <strong>de</strong> baixas temperaturas.<br />

Nesta sessão, vamos expor as principais características dos supercondutores[2] [13] [12]<br />

[14], in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualquer mo<strong>de</strong>lo proposto para estudá-los.<br />

2.2.1 Resistência Zero<br />

Como havíamos citado anteriormente, em um supercondutor a resistivida<strong>de</strong> ρ é zero e a<br />

condutivida<strong>de</strong> σ é infinita para temperaturas abaixo <strong>de</strong> T c . Outra característica do supercondutor<br />

é que para ser consistente com a equação (2.5), temos que o campo elétrico <strong>de</strong>ver ser nulo, E=0,<br />

ou seja, há circulação <strong>de</strong> corrente sem a presença do campo elétrico.<br />

A resistência nula no supercondutor é representada por uma transição <strong>de</strong> fase termodinâmica,<br />

como um líquido passando para o estado gasoso, por exemplo. As proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

cada fase são completamente diferentes. Aqui nós temos duas fases diferentes <strong>de</strong>nominadas<br />

“estado normal”, para temperaturas acima da temperatura crítica, e “estado supercondutor”,<br />

para temperaturas abaixo da temperatura crítica. No estado normal, a resistivida<strong>de</strong> e as outras<br />

proprieda<strong>de</strong>s se comportam como um metal normal, enquanto que no estado supercondutor


29<br />

várias proprieda<strong>de</strong>s físicas são diferentes, incluindo a resistivida<strong>de</strong>.<br />

Um gran<strong>de</strong> obstáculo que encontramos é ter a noção precisa para distinguir uma resistência<br />

muito pequena <strong>de</strong> uma resistência nula. Este problema ocorre pois geralmente, quando medimos<br />

uma resistência <strong>de</strong> uma amostra supercondutora, o multímetro também apresenta uma<br />

resistência nos fios <strong>de</strong> medição, o que nos dá uma resposta <strong>de</strong> uma resistência muito pequena,<br />

mas diferente <strong>de</strong> zero. Uma boa técnica para saber distinguir entre uma resistência muito pequena<br />

e uma resistência nula é a observação da existência <strong>de</strong> uma corrente chamada Corrente<br />

Persistente. Se aplicarmos uma corrente I circulando em um anel feito por um fio supercondutor,<br />

por exemplo, a energia armazenada no campo magnético do anel permanecerá constante<br />

e, como não há resistência, esta corrente irá circular sem perda alguma. Se houver alguma resistência<br />

no anel, ocorrerá uma dissipação <strong>de</strong> energia, consequentemente a corrente I irá <strong>de</strong>cair<br />

com o tempo.<br />

2.2.2 Efeito Meissner-Ochsenfeld<br />

Ao observar amostras supercondutoras <strong>de</strong> Estanho submetidas a um campo magnético externo,<br />

Walther Meissner e seu assitente, Robert Ochsenfeld, <strong>de</strong>scobriram, em 1933, a prova fundamental<br />

que caracteriza um material ser supercondutor, o chamado Efeito Meissner-Ochsenfeld.<br />

Esse efeito consiste na expulsão do campo magnético do interior do supercondutor e é<br />

<strong>de</strong>scrito pela equação <strong>de</strong> Maxwell:<br />

∇ × E = − ∂B<br />

∂t<br />

(2.10)<br />

Com o fato do campo elétrico ser nulo, E=0, no supercondutor, temos que:<br />

∂B<br />

∂t<br />

= 0 (2.11)<br />

Em todos os pontos do supercondutor, ou seja, ao aplicarmos um campo magnético em um<br />

supercondutor, este campo não consegue penetrar no seu interior, como é visualizado na figura<br />

4.<br />

Existem muitas razões para que a existência do efeito Meissner-Ochsenfeld seja a principal<br />

prova da supercondutivida<strong>de</strong>. A razão mais fundamental é que o efeito Meissner-Ochsenfeld


30<br />

Figura 4: Efeito Meissner-Ochsenfeld<br />

é uma proprieda<strong>de</strong> do equilíbrio térmico, enquanto a resistivida<strong>de</strong> é um efeito <strong>de</strong> transporte<br />

que não está em equilíbrio. Chegamos ao mesmo estado final do sistema se nós, inicialmente,<br />

resfriamos o material até a temperatura crítica e <strong>de</strong>pois aplicamos o campo, ou o inverso. Portanto,<br />

o estado final do sistema não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do estado inicial da amostra, que é uma condição<br />

necessária para o equilíbrio térmico.<br />

2.2.3 Diamagnetismo Perfeito<br />

Para manter o campo magnético nulo <strong>de</strong>ntro do supercondutor, como foi <strong>de</strong>finido pelo<br />

efeito Meissner-Ochsenfeld, <strong>de</strong>ve existir uma corrente <strong>de</strong> blindagem circulando na borda do<br />

supercondutor. Isto produz um campo magnético igual em módulo, mas oposto ao campo magnético<br />

externo aplicado no supercondutor, ou seja, o campo magnético resultante é zero.<br />

Para <strong>de</strong>screver as correntes <strong>de</strong> blindagem, basta usar as equações <strong>de</strong> Maxwell e analisar as<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> blindagem. A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> corrente é separada em 2 partes: a<br />

parte externa e a parte interna, ou seja:<br />

j = j ext + j int (2.12)<br />

As correntes <strong>de</strong> blindagem geram uma magnetização por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volume, M, no supercondutor,<br />

que é <strong>de</strong>finida por:<br />

∇ × M = j int (2.13)


31<br />

Definindo o campo magnético H em termos da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrente externa, temos:<br />

∇ × H = j ext (2.14)<br />

Os vetores M, H e B são relacionados por:<br />

B = µ 0 (H + M) (2.15)<br />

Impondo a condição <strong>de</strong> Meissner-Ochsenfeld, B=0, na equação (2.15), obtemos:<br />

M = −H (2.16)<br />

A susceptibilida<strong>de</strong> Magnética é <strong>de</strong>finida, em um aspecto <strong>de</strong> resposta linear, por:<br />

χ = dM<br />

dH<br />

∣ (2.17)<br />

H=0<br />

Assim, temos que para os supercondutores, χ = -1. O gráfico do comportamento da susceptibilida<strong>de</strong><br />

magnética é apresentado na figura 5.<br />

Materiais com valores negativos <strong>de</strong> χ são chamados <strong>de</strong> Diamagnéticos (quando χ é positivo<br />

o material po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> paramagnético ou ferromagnético). Os diamagnéticos blindam<br />

parte do campo magnético externo, e se magnetizam em oposição ao campo magnético externo.<br />

Nos supercondutores o campo magnético externo é totalmente blindado. Por isso po<strong>de</strong>mos dizer<br />

que os supercondutores são Diamagnéticos Perfeitos.<br />

Figura 5: Diamagnetismo Perfeito


32<br />

2.3 Supercondutores: Tipo I e Tipo II<br />

A susceptibilida<strong>de</strong> χ é <strong>de</strong>finida no limite <strong>de</strong> campos magnéticos fracos. A medida que o<br />

campo fica mais forte, po<strong>de</strong>m ocorrer 2 situações que serão <strong>de</strong>scritas nos tópicos a seguir.<br />

2.3.1 Supercondutores Tipo I<br />

Figura 6: Supercondutor tipo I<br />

Neste caso o campo magnético H continua sendo nulo no interior do supercondutor até a<br />

supercondutivida<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>struída. O valor do campo em que ocorre a <strong>de</strong>struição do estado<br />

supercondutor é chamado campo crítico H c . A magnetização obe<strong>de</strong>ce a relação <strong>de</strong>scrita na<br />

equação (2.16) para todos os campos menores que H c e torna-se nula para campos maiores que<br />

H c , como é indicado na figura 6.<br />

2.3.2 Supercondutores Tipo II<br />

Este é o caso mais comum nos supercondutores. No supercondutor tipo II existem dois<br />

campos críticos diferentes, <strong>de</strong>notados por: H c1 , que é o campo crítico inferior, e H c2 , que é o<br />

campo crítico superior. Para pequenos valores do campo magnético H aplicado no supercondutor,<br />

o supercondutor continua apresentando o efeito Meissner-Ochsenfeld, M=-H, e não existe<br />

campo no interior do supercondutor. Contudo, se o campo magnético H chegar a um valor maior<br />

que o campo crítico inferior, o fluxo magnético começa a entrar no interior do supercondutor e<br />

o campo no seu interior fica diferente <strong>de</strong> zero. Com isso, a magnetização começa ten<strong>de</strong>r a zero<br />

a medida que aumentamos o campo magnético H. A magnetização atinge o valor zero quando


33<br />

Figura 7: Supercondutor tipo II<br />

o campo H chega ao valor do campo crítico superior, <strong>de</strong>struindo assim o estado supercondutor<br />

do material. Este comportamento é <strong>de</strong>scrito na figura 7.<br />

A explicação física para a fase termodinâmica entre H c1 e H c2 foi feita por Abrikosov. Ele<br />

mostrou que o campo magnético po<strong>de</strong> penetrar no supercondutor na forma <strong>de</strong> vórtices. Os vórtices<br />

consistem em uma região on<strong>de</strong> circula uma supercorrente ao redor <strong>de</strong> um pequeno núcleo,<br />

que é essencialmente um metal normal. Os vórtices serão estudados com maiores <strong>de</strong>talhes na<br />

sessão 2.6.<br />

A figura 8 <strong>de</strong>screve o comportamento dos supercondutores tipo I e tipo II através <strong>de</strong> um<br />

diagrama campo magnético H x Temperatura T. Nesta figura vemos claramente as regiões <strong>de</strong><br />

Meissner e <strong>de</strong> Abrikosov no caso do supercondutor do tipo II.<br />

Figura 8: Diagrama H x T dos supercondutores tipo I e tipo II


34<br />

2.4 Equação <strong>de</strong> London<br />

A primeira teoria que <strong>de</strong>screve a existência do efeito Meissner-Ochsenfeld foi <strong>de</strong>senvolvida<br />

por dois irmãos, F. London e H. London, em 1935. Nesta teoria eles assumiram que uma<br />

fração dos elétrons tornam-se supercondutores e po<strong>de</strong>m mover-se livremente, sem dissipação,<br />

enquanto que o restante dos elétrons continuam no estado condutor normal, ou seja, tendo uma<br />

resistivida<strong>de</strong> finita. Os elétrons supercondutores anulam a resistivida<strong>de</strong> dos elétrons normais,<br />

fazendo com que a resistivida<strong>de</strong> total seja nula. Para <strong>de</strong>finir a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elétrons chamamos<br />

<strong>de</strong>: n s a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> dos elétrons supercondutores, n n a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> dos elétrons condutores normais<br />

e n a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> total dos elétrons, ou seja, n = n s + n n .<br />

Apesar <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo ser bem simples, ele é bem eficaz. Este mo<strong>de</strong>lo nos leva a Equação<br />

<strong>de</strong> London, que relaciona a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrente elétrica <strong>de</strong>ntro do supercondutor, j, com o<br />

potencial vetor magnético, A, na forma:<br />

j = − n se 2<br />

m e<br />

A (2.18)<br />

Esta é uma das mais importantes equações que <strong>de</strong>screvem a supercondutivida<strong>de</strong>. Aproximadamente<br />

20 anos após essa teoria ser elaborada, Bar<strong>de</strong>en, Cooper e Schrieffer <strong>de</strong>senvolveram<br />

uma teoria chamada <strong>de</strong> Teoria BCS, que reproduz a teoria <strong>de</strong> London em um limite a<strong>de</strong>quado.<br />

Po<strong>de</strong>mos escrever a equação <strong>de</strong> London <strong>de</strong> uma outra forma:<br />

On<strong>de</strong> o fator λ =<br />

j = − 1<br />

µ 0 λ 2 A (2.19)<br />

( ) 1/2<br />

m e<br />

µ 0 n s<br />

é a Profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Penetração, que <strong>de</strong>fine o quanto o campo<br />

e 2<br />

magnético po<strong>de</strong> penetrar na superfície do supercondutor.<br />

Outra maneira <strong>de</strong> relacionar j e B é utilizar a equação <strong>de</strong> Maxwell, ∇ × B = µ 0 j. A partir<br />

<strong>de</strong>ssa equação <strong>de</strong> Maxwell e utilizando a equação (2.19), sabendo que B = ∇ × A, po<strong>de</strong>mos<br />

obter a relação:<br />

∇ × (∇ × B) = − 1 λ 2 B (2.20)


35<br />

Na qual po<strong>de</strong>mos obter o valor do campo magnético.<br />

Vale também ressaltar que se a corrente for contínua, a equação <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> se reduz a<br />

∇ · j = 0. Se aplicarmos isto na equação <strong>de</strong> London, obtemos o calibre <strong>de</strong> London:<br />

∇ · A = 0 (2.21)<br />

Em resumo, a equação <strong>de</strong> London permite <strong>de</strong>screver o efeito Meissner-Ochsenfeld, indica a<br />

profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> penetração <strong>de</strong> campos externos, substitui a relação j = σE em supercondutores<br />

e prevê o comportamento do campo magnético dos vortex nos supercondutores.<br />

2.5 Pares <strong>de</strong> Cooper<br />

Antes <strong>de</strong> apresentar uma <strong>de</strong>finição formal sobre os vortex <strong>de</strong> London e a teoria <strong>de</strong> Landau-<br />

Ginzburg, é importante enunciar um fenômeno que foi explicado pela teoria BCS: a formação<br />

dos Pares <strong>de</strong> Cooper. [15] A i<strong>de</strong>ia dos pares <strong>de</strong> Cooper foi proposta por Cooper em 1956.<br />

Cooper mostrou que, nos supercondutores, dois elétrons interagem formando um par e esse par<br />

é responsável pela supercorrente a baixa temperatura.<br />

Em uma situação normal, seria improvável pensar nessa formação <strong>de</strong> pares, <strong>de</strong>vido a forte<br />

repulsão coulombiana entre os elétrons (pois possuem carga <strong>de</strong> mesmo sinal). Contudo, Cooper<br />

mostrou que para ocorrer a formação <strong>de</strong>sses pares, os elétrons contam com a ajuda <strong>de</strong> uma<br />

excitação da re<strong>de</strong> cristalina conhecida como Fônon.<br />

O fônon, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista quântico, se equivalem a um movimento especial vibracional,<br />

conhecido como modos normais <strong>de</strong> vibração na mecânica clássica. Esse movimento caracterizase<br />

por cada parte da re<strong>de</strong> oscilar com a mesma frequência.<br />

Em geral, essa excitação, que<br />

se <strong>de</strong>sloca como uma onda pelo material, é causada pela agitação natural existente em todo<br />

sistema sujeito a uma temperatura finita, apresentando um pequeno <strong>de</strong>slocamento dos átomos<br />

da re<strong>de</strong>.<br />

Os átomos que formam a re<strong>de</strong> cristalina do metal não são eletricamente neutros, como<br />

vimos anteriormente na sessão 2.1. Os elétrons <strong>de</strong> condução <strong>de</strong>slocam-se para muito longe do<br />

átomos <strong>de</strong> origem, fazendo com que esses átomos fiquem carregados positivamente. Quando


36<br />

um elétron <strong>de</strong>sloca-se no material, ele perturba os átomos da re<strong>de</strong>, sendo atraído pela força<br />

coulombiana. Essa pertubação do elétron gera um fônon e, consequentemente, a interação<br />

elétron-fônon na re<strong>de</strong>.<br />

Como consi<strong>de</strong>ramos o fônon como uma onda <strong>de</strong> átomos positivos <strong>de</strong>slocados, esses fônons<br />

po<strong>de</strong>m atrair outro elétron que esteja próximo, ou seja, com essa configuração conseguimos<br />

fazer a "atração"entre os elétrons, formando o que chamamos <strong>de</strong> Pares <strong>de</strong> Cooper.<br />

Algumas características importantes <strong>de</strong>vem ser citadas nos pares <strong>de</strong> Cooper como por exemplo<br />

se aumentarmos consi<strong>de</strong>ravelmente a temperatura do sistema, a agitação térmica faz<br />

com que a interação elétron-fônon seja <strong>de</strong>sfeita e com isso <strong>de</strong>ixamos ter os pares, ou seja, essa<br />

configuração dos pares <strong>de</strong> Cooper só é possível a baixas temperaturas. Outra característica importante<br />

é que os elétrons isolados possuem spin 1/2, ou seja, são Férmions, mas, quando o par<br />

é formado, um spin aponta para cima (+1/2) e outro para baixo (-1/2), consequentemente o spin<br />

do par <strong>de</strong> Cooper é 0, logo ele é um Bóson.<br />

Cooper originalmente só consi<strong>de</strong>rou o caso <strong>de</strong> um par isolado formado em um metal.<br />

Quando se consi<strong>de</strong>ra o estado mais realista consistindo em muitos elétrons formando pares<br />

faz parte do estudo da Teoria BCS.<br />

2.6 Vórtice <strong>de</strong> London<br />

A teoria proposta pelos irmãos London relaciona a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrente com campos<br />

magnéticos externos.[13][12] Esses campos conseguem penetrar na superfície dos supercondutores<br />

formando os vórtices. Através da equação <strong>de</strong> London po<strong>de</strong>mos encontrar um mo<strong>de</strong>lo<br />

matemático que <strong>de</strong>screve os vórtices nos supercondutores.<br />

Os vórtices são <strong>de</strong>finidos como um núcleo cilíndrico na amostra supercondutora, com proprieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> condutores normais, cujo raio é ξ 0 , que é conhecido como comprimento <strong>de</strong> coerência.<br />

O comprimento <strong>de</strong> coerência está intimamente relacionado ao gap <strong>de</strong> energia (energia<br />

necessária para retirar um elétron do átomo e colocá-lo na banda <strong>de</strong> condução) , cuja interpretação<br />

é representar o tamanho físico do par <strong>de</strong> Cooper.<br />

Vamos <strong>de</strong>screver como o campo magnético <strong>de</strong>cresce até um valor nulo quando partimos <strong>de</strong><br />

uma região <strong>de</strong>ntro do núcleo do vórtice (ou seja, on<strong>de</strong> temos um condutor normal) até a área


37<br />

on<strong>de</strong> ocorre novamente a supercondutivida<strong>de</strong>.<br />

Dentro do núcleo existe um campo magnético radial finito, B=(0,0, B z (r)). O rotacional,<br />

em coor<strong>de</strong>nadas cilíndricas, <strong>de</strong>sse campo magnético é dado por:<br />

∇ × B = − ∂B z êφ (2.22)<br />

∂r<br />

Aplicando (2.22) em (2.20), po<strong>de</strong>mos escrever (2.22) como:<br />

1<br />

r<br />

d<br />

dr<br />

(<br />

r dB )<br />

z<br />

= B z<br />

(2.23)<br />

dr λ 2<br />

Para solucionar essa equação temos que analisar as seguintes situações:<br />

• Para r muito pequeno, r


38<br />

2.7 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para a Supercondutivida<strong>de</strong><br />

Nessa sessão, vamos fazer uma <strong>de</strong>scrição completa das proprieda<strong>de</strong>s macroscópicas <strong>de</strong> um<br />

supercondutor, através da teoria proposta por Landau-Ginzburg [13] [12] [2].<br />

2.7.1 Descrição da Teoria<br />

A Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg da supercondutivida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>senvolvida como uma aproximação<br />

da teoria <strong>de</strong> Landau para transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m, em 1950.<br />

Para supercondutivida<strong>de</strong> Ginzburg e Landau (GL) postularam a existência <strong>de</strong> um parâmetro<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>notado por ψ. No estado normal metálico, acima da temperatura crítica do supercondutor<br />

T c , ψ é zero. Enquanto que no estado supercondutor, abaixo T c , ψ é diferente <strong>de</strong> zero.<br />

Portanto presume-se a obe<strong>de</strong>cer:<br />

⎧<br />

⎪⎨ 0, se T > T c<br />

ψ =<br />

(2.27)<br />

⎪⎩ ψ(T) 0, se T < T c<br />

GL postulou que o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ψ <strong>de</strong>veria ser um número complexo, como uma<br />

função <strong>de</strong> onda macroscópica para o supercondutor. Com o <strong>de</strong>senvolvimento da teoria BCS,<br />

po<strong>de</strong>mos mesmo i<strong>de</strong>ntificar |ψ| 2 como sendo a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> dos pares <strong>de</strong> Cooper presentes na<br />

amostra.<br />

GL postulou que a energia livre dos supercondutores <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente do parâmetro ψ.<br />

Como ψ é complexo e a energia livre tem que ser real, a energia <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r então <strong>de</strong> |ψ|.<br />

Como ψ vai para zero na temperatura crítica, T c , po<strong>de</strong>mos fazer uma expansão em Série <strong>de</strong><br />

Taylor da Energia livre. Para temperaturas próximas à T c , somente os 2 primeiros termos são<br />

consi<strong>de</strong>rados, então temos que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia livre (f=F/V) é:<br />

f s (T) = f n (T) + a(T)|ψ| 2 + 1 2 b(T)|ψ|4 + · · · (2.28)<br />

Com |ψ| pequeno. Neste caso, f s (T) e f n (T) são as <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia livre no estado<br />

supercondutor e condutor normal, respectivamente. Os parâmetros a(T) e b(T) são parâmetros<br />

fenomenológicos da teoria, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da temperatura. Assumimos que b(T) <strong>de</strong>ve ser posi-


39<br />

tivo, pois caso contrário, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia livre não teria mínimo globais e sim máximos<br />

globais, o que não apresentaria sentido físico.<br />

Plotando o gráfico <strong>de</strong> f s − f n como função <strong>de</strong> ψ é possível observar duas curvas possíveis,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do sinal <strong>de</strong> a(T), como vemos na figura 9.<br />

Figura 9: Densida<strong>de</strong> energia livre, f s − f n , em função <strong>de</strong> ψ<br />

No caso <strong>de</strong> a(T)>0, a curva tem um mínimo em ψ=0.<br />

Para a(T) T c<br />

|ψ| =<br />

(2.31)<br />

⎪⎩ ( c b )1/2 (T c − T) 1/2 , se T < T c<br />

O valor mínimo da energia livre é facilmente obtido pela figura (9) e tem o valor -a(T) 2 /2b(T),<br />

que po<strong>de</strong> ser reescrita na forma:<br />

f s (T) − f n (T) = − c2 (T − T c ) 2<br />

2b<br />

(2.32)


40<br />

A partir da energia livre po<strong>de</strong>mos obter quantida<strong>de</strong>s físicas relevantes como por exemplo<br />

entropia. Derivando f com relação a T, obtemos a entropia por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volume, s=S/V,<br />

abaixo <strong>de</strong> T c :<br />

s s (T) − s n (T) = − c2<br />

b (T c − T) (2.33)<br />

Na temperatura crítica, não existe <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> na entropia, confirmando que o Mo<strong>de</strong>lo<br />

GL correspon<strong>de</strong> a uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m.<br />

2.7.2 Sistemas Não-Homogêneos<br />

A Teoria GL completa da Supercondutivida<strong>de</strong> também permite a possibilida<strong>de</strong> do parâmetro<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da posição, ψ(r). Quando isso acontece, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar o termo <strong>de</strong> gradiente<br />

vindo da energia cinética. Como a energia livre não po<strong>de</strong> assumir valores complexos, o<br />

termo contendo o gradiente <strong>de</strong> ψ(r) tem que ser real. Portanto, a energia livre <strong>de</strong>ve ser função<br />

do módulo do gradiente <strong>de</strong> ψ(r).<br />

f s (T) = f n (T) + 2<br />

2m ∗ |∇ψ(r)|2 + a(T)|ψ(r)| 2 + b(T)<br />

2 |ψ(r)|4 (2.34)<br />

On<strong>de</strong> o novo parâmetro m ∗ <strong>de</strong>termina o custo <strong>de</strong> energia associado com gradientes <strong>de</strong> ψ(r).<br />

Tem dimensões <strong>de</strong> massa e <strong>de</strong>sempenha o papel <strong>de</strong> uma massa efetiva para o sistema quântico<br />

com a função <strong>de</strong> onda macroscópica ψ(r).<br />

Integrando a expressão (2.34) em 2 dimensões, obtemos:<br />

∫ ( <br />

2<br />

F s (T) = F n (T) +<br />

2m ∗ |∇ψ(r)|2 + a(T)|ψ(r)| 2 + b(T) )<br />

2 |ψ(r)|4 d 2 r (2.35)<br />

O que indica que F s (T) é um funcional <strong>de</strong> ψ(r). Para minimizar este funcional, po<strong>de</strong>mos<br />

fazer uso da <strong>de</strong>rivada funcional na forma:<br />

δF s [ψ]<br />

δψ(r)<br />

= 0, δF s[ψ]<br />

δψ ∗ (r) = 0 (2.36)<br />

Levando em consi<strong>de</strong>ração que a energia livre representa uma função <strong>de</strong> ψ(r) para cada valor <strong>de</strong>


41<br />

r. Portanto, a energia é a integral das contribuições das duas <strong>de</strong>rivadas, ou seja:<br />

δF s =<br />

∫ ( δFs [ψ]<br />

δψ(r) δψ(r) + δF )<br />

s[ψ]<br />

δψ ∗ (r) δψ∗ (r) d 2 r (2.37)<br />

Outra forma <strong>de</strong> minimizar o funcional é fazendo uma variação infinitesimal no parâmetro<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m na forma:<br />

ψ(r) → ψ(r) + δψ(r) (2.38)<br />

E aplicar esta variação na energia livre. Com isso obtemos que:<br />

∫<br />

δF s =<br />

δψ ∗( − 2<br />

2m ∗ ∇2 ψ + aψ + bψ|ψ 2 | ) ∫ (−<br />

d 3 2<br />

r +<br />

2m ∗ ∇2 ψ + aψ + bψ|ψ 2 | ) ∗<br />

δψd 2 r (2.39)<br />

On<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificamos a equação <strong>de</strong> movimento que minimiza a energia livre:<br />

− 2<br />

2m ∗ ∇2 ψ(r) + (a + b|ψ(r)| 2 )ψ(r) = 0 (2.40)<br />

Que é uma equação do tipo Schrödinger não linear, ou seja, não po<strong>de</strong> ser aplicado o princípio<br />

da superposição neste caso.<br />

2.7.3 Superfície dos Supercondutores<br />

A equação efetiva <strong>de</strong> Schrödinger não-linear tem várias aplicações úteis. Em particular, ela<br />

po<strong>de</strong> ser usado para estudar a resposta do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m supercondutor quando exposto<br />

à perturbações externas. Exemplos importantes disso são as proprieda<strong>de</strong>s das superfícies e<br />

interfaces <strong>de</strong> supercondutores.<br />

Consi<strong>de</strong>rando um mo<strong>de</strong>lo simples <strong>de</strong> interface entre um estado normal e um supercondutor,<br />

em 3 dimensões. Suponha que a interface se situa no plano yz separa o metal normal, em x0. No lado metal normal da interface o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m,<br />

ψ(r), para o supercondutor <strong>de</strong>ve ser zero. Partindo do princípio que ψ(r) <strong>de</strong>ve ser contínuo, por<br />

isso, <strong>de</strong>vemos resolver a equação <strong>de</strong> Schrödinger não-linear:<br />

− 2<br />

2m ∗ d 2 ψ(x)<br />

dx 2 + a(T)ψ(x) + b(T)ψ 3 (x) = 0 (2.41)


42<br />

Na região x>0, com a condição <strong>de</strong> contorno ψ(0)=0, cuja solução é:<br />

ψ(x) = ψ 0 tanh (<br />

x )<br />

√<br />

2ξ(T)<br />

(2.42)<br />

On<strong>de</strong> ξ(T) é um parâmetro chamado Comprimento <strong>de</strong> Coerência <strong>de</strong> Landau-Ginzburg,<br />

que é dado pela expressão:<br />

( )<br />

2 1/2<br />

ξ(T) =<br />

(2.43)<br />

2m ∗ |a(T)|<br />

Isto é um importante parâmetro físico que caracteriza o supercondutor. ξ(T) é uma medida<br />

da distância da superfície sobre a qual o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m retorna ao seu valor máximo.<br />

O comprimento <strong>de</strong> coerência <strong>de</strong> Landau-Ginzburg aparece em quase todos os problemas <strong>de</strong><br />

supercondutores inomogêneos, incluindo superfícies, interfaces, <strong>de</strong>feitos e vortíces.<br />

2.7.4 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg com campo magnético<br />

Como já havíamos discutido anteriormente, o efeito Meissner-Ochsenfeld é a principal característica<br />

dos supercondutores. Para estudar esse efeito através da teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg,<br />

temos que incluir um termo <strong>de</strong> campo magnético na energia livre. Esse termo <strong>de</strong> campo magnético<br />

entra como se ψ(r) fosse a função <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> partículas carregadas, ou seja, com a<br />

substituição usual na mecânica quântica:<br />

<br />

i ∇ → ∇ − qA (2.44)<br />

i<br />

On<strong>de</strong> q é a carga e A é o potencial vetor magnético. Para todos os supercondutores conhecidos<br />

verifica-se que a carga a<strong>de</strong>quada é −2e, <strong>de</strong>vido a formação dos pares <strong>de</strong> Cooper.<br />

Com esta substituição a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia livre <strong>de</strong> GL do supercondutor torna-se:<br />

f s (T) = f n (T) + 1 ∣ ∣∣∣ ( 2m ∗ i ∇ + 2eA) ψ<br />

∣ 2 + a|ψ| 2 + b 2 |ψ|4 (2.45)<br />

Integrando em todo o espaço, incluindo o termo proveniente da energia do campo magnético<br />

∫ ( 1<br />

∣ ∣∣∣ ( F s (T) = F n (T) +<br />

2m ∗ i ∇ + 2eA) ψ<br />

∣ 2 + a|ψ| 2 + b )<br />

2 |ψ|4 d 2 r + 1 ∫<br />

2µ 0<br />

B(r) 2 d 2 r (2.46)


43<br />

A primeira integral é realizada em pontos r no interior da amostra, enquanto o segundo é<br />

executada através <strong>de</strong> todo o espaço.<br />

Para encontrar o mínimo <strong>de</strong> energia fazemos o mesmo procedimento utilizado na sessão<br />

(2.7.2). Com isso obtemos a equação <strong>de</strong> Schrödinger não linear na forma:<br />

− 2<br />

2m ∗ (<br />

∇ +<br />

2ei<br />

A) 2<br />

ψ(r) + (a + b|ψ| 2 )ψ(r) = 0 (2.47)<br />

A Supercorrente <strong>de</strong>vido ao campo magnético po<strong>de</strong> ser encontrada a partir da <strong>de</strong>rivada da<br />

energia livre <strong>de</strong> GL em relação ao potencial vetor<br />

j s = − ∂F s<br />

∂A(r)<br />

(2.48)<br />

O que nos leva à<br />

j s = − 2ei<br />

2m ∗ (ψ∗ ∇ψ − ψ∇ψ ∗ ) − (2e)2<br />

m ∗ |ψ|2 A (2.49)<br />

Se ψ(r)=ψ=cte e ψ ∗ (r)=ψ ∗ =cte, então temos que o primeiro termo <strong>de</strong> (2.49) é nulo, pois os<br />

gradientes <strong>de</strong> ψ e ψ ∗ serão nulos, ou seja, a equação (2.49) fica:<br />

j s = − (2e)2<br />

m ∗ |ψ|2 A (2.50)<br />

Que é a equação <strong>de</strong> London. On<strong>de</strong> n s = 2|ψ| 2 e m ∗ = 2m e . Os valores <strong>de</strong> n s e m ∗ comprovam a<br />

formação <strong>de</strong> pares <strong>de</strong> Cooper nos supercondutores, como era previsto pela teoria BCS.<br />

Com isso po<strong>de</strong>mos expressar o comprimento <strong>de</strong> penetração <strong>de</strong> London em termos das<br />

variáveis <strong>de</strong> Landau-Ginzburg.<br />

[<br />

]<br />

bm ∗ 1/2<br />

λ =<br />

(2.51)<br />

µ 0 e 2 ȧ(T − T c )<br />

Que diverge na temperatura crítica.


44<br />

2.7.5 Simetrias<br />

O parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m GL para supercondutores tem uma amplitu<strong>de</strong> e uma fase complexa:<br />

ψ(r) = |ψ(r)|e iθ(r) (2.52)<br />

Consi<strong>de</strong>re o termo na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia livre GL contendo o operador momentum<br />

canônico<br />

ˆp = ∇ + 2eA (2.53)<br />

i<br />

Aplicando (2.53) em (2.52) obtemos:<br />

ˆpψ(r)e iθ(r) = e iθ(r)( <br />

i ∇ + 2eA) ψ(r) + ψ(r)e iθ(r) ∇θ(r) = e iθ(r)( <br />

i ∇ + 2e( A + 2e ∇θ)) ψ(r) (2.54)<br />

Disto resulta que a energia livre não será alterada quando mudarmos simultaneamente ψ(r)<br />

para ψ(r)e iθ(r) e o potencial vetor <strong>de</strong> acordo com<br />

A(r) → A(r) + ∇θ (2.55)<br />

2e<br />

Isso mostra que a teoria satisfaz invariância <strong>de</strong> gauge local. Tanto a fase do parâmetro <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m e do potencial vetor magnético <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha do gauge, mas todos os observáveis<br />

físicos (energia livre, B o campo magnético, etc) são invariantes <strong>de</strong> gauge.<br />

Contudo essas transformações alteram o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Inicialmente consi<strong>de</strong>ramos o<br />

parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m constante no estado fundamental. Fora do estado fundamental, <strong>de</strong>ve haver<br />

uma rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> fase, ou uma perda <strong>de</strong> energia associada com a mudança <strong>de</strong> θ <strong>de</strong> uma parte<br />

do sólido para o outro. Se consi<strong>de</strong>rarmos um supercondutor no limite <strong>de</strong> London, ou seja, no<br />

limite em que o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tem uma magnitu<strong>de</strong> constante, |ψ|, e uma fase θ(r), que<br />

varia muito lentamente com a posição r, obtemos a energia livre total:<br />

∫<br />

F s = F n +<br />

[<br />

(<br />

d 2 2e<br />

r ρ s ∇θ +<br />

A) 2<br />

+ a|ψ| 2 + b ]<br />

2 |ψ|4 + 1 ∫<br />

2µ 0<br />

B(r) 2 d 2 r (2.56)


45<br />

On<strong>de</strong>, o termo <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z é dado por:<br />

ρ s = 2<br />

2m ∗ |ψ|2 (2.57)<br />

Agora se escolhermos um gauge particular para A(r), como o gauge <strong>de</strong> London, ∇·A = 0,<br />

em seguida, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta gauge fixo, há uma perda <strong>de</strong> energia livre associada com gradientes<br />

<strong>de</strong> θ(r). Para minimizar o gradiente <strong>de</strong> energia, temos <strong>de</strong> minimizar os gradientes, fazendo<br />

θ(r) o mais constante possível em todo o sistema. No caso <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> campo aplicado,<br />

po<strong>de</strong>mos escolher A = 0 e, claramente, então θ(r) será constante em todo o sistema. Des<strong>de</strong> que<br />

o sistema efetivamente escolhe um parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m constante arbitrário para todo o sistema,<br />

po<strong>de</strong>mos dizer que o sistema exibe uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> longo alcance, da mesma forma como um<br />

material ferromagnético varia na sua magnetização M(r).<br />

Devido a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> longo alcance está em fase variável, dizemos que o sistema teve uma<br />

quebra espontânea da simetria global <strong>de</strong> gauge. O ponto é que a simetria global do gauge referese<br />

à mudança <strong>de</strong> θ(r) por um valor constante em todo o sólido (que não implica em qualquer<br />

variação em A). Isto está em contraste com a simetria <strong>de</strong> gauge local em que θ(r) e A(r) são<br />

alterados simultâneamente.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a magnitu<strong>de</strong> também possa variar com a posição, temos que a energia<br />

livre é dada por:<br />

∫<br />

F s = F n +<br />

[ <br />

d 2 2 [( ) 2<br />

r<br />

( ∇|ψ| + |ψ(r)|<br />

2<br />

∇θ + 2e<br />

2m ∗ A) 2]<br />

+ a|ψ(r)| 2 + b ]<br />

2 |ψ(r)|4 + 1 ∫<br />

2µ 0<br />

B(r) 2 d 2 r<br />

(2.58)<br />

Fazendo o procedimento <strong>de</strong>scrito anteriormente na equação (2.36) ou pela equação (2.38),<br />

obtemos a equação <strong>de</strong> movimento para |ψ(r)|:<br />

− 2<br />

2m ∗ [<br />

∇ + i ( ∇θ(r) + 2eA<br />

<br />

) ] 2<br />

|ψ(r)| + (a + b|ψ(r)| 2 )|ψ(r)| = 0 (2.59)<br />

e também a equação <strong>de</strong> movimento para θ(r):<br />

[ [(<br />

− 2<br />

∇ · ∇θ(r) + 2eA ]] )|ψ(r)| 2 = 0 (2.60)<br />

2m ∗


46<br />

Que serão estudadas com maiores <strong>de</strong>talhes no capítulo 4.<br />

2.7.6 Quantização do Fluxo Magnético<br />

Consi<strong>de</strong>raremos agora a quantização do fluxo magnético em um anel supercondutor, no<br />

qual iremos fazer uma analogia com a quantização do fluxo em um vórtice. [13][12] Em um<br />

anel supercondutor, é aplicado um fluxo magnético conforme a figura 10.<br />

Figura 10: Anel supercondutor com campo magnético aplicado<br />

Utilizando coor<strong>de</strong>nadas cilíndricas, po<strong>de</strong>mos expressar a simetria do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m:<br />

ψ(r, θ, z) = ψ(r, θ + 2π, z) (2.61)<br />

Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m não varia ao longo da sessão transversal do<br />

anel. Com isso, torna-se uma função exclusivamente <strong>de</strong> θ.<br />

ψ(θ) = ψ 0 e inθ (2.62)<br />

É possível escrever o potencial vetor magnético A em termos do fluxo magnético Φ através<br />

<strong>de</strong>:<br />

∫<br />

Φ =<br />

∮<br />

B · dS =<br />

A · dr = A θ 2πR (2.63)<br />

Substituindo (2.63) em (2.46) obtemos:<br />

F s (T) = F 0 s + 1<br />

2µ 0<br />

∫<br />

∫ [ 1<br />

B(r) 2 d 3 r + 2 (∇ψ ∗ )(∇ψ) + ehΦ<br />

]<br />

2m ∗ iπR [(∇ψ)ψ∗ − (∇ψ ∗ )ψ] + e2 Φ 2<br />

π 2 R 2 ψ∗ ψ d 3 r<br />

(2.64)


47<br />

On<strong>de</strong> F 0 s é a energia no interior do supercondutor. Calculando as <strong>de</strong>rivadas em relação a ψ<br />

e ψ ∗ obtemos que:<br />

(∇ψ)ψ ∗ − (∇ψ ∗ )ψ = 2inψ ∗ ψ (2.65)<br />

Utilizando as equações (2.65) e (2.62), po<strong>de</strong>mos reescrever a equação (2.64) como:<br />

F s (T) = F 0 s + Φ2<br />

2L + V 4e 2<br />

2π 2 m ∗ R 2 |ψ|2 [Φ + nΦ 0 ] 2 (2.66)<br />

On<strong>de</strong> V é o volume total do anel supercondutor, L é a indutância do anel e Φ 0 é o quantum<br />

do fluxo magnético. O quantum <strong>de</strong> fluxo magnético é expresso por:<br />

Φ 0 = h 2e = 2.7x10−15 Wb (2.67)<br />

A partir da expressão (2.66) e (2.67) po<strong>de</strong>mos obter conclusões importantes. Uma <strong>de</strong>las é<br />

que o segundo termo <strong>de</strong> (2.66) é a energia <strong>de</strong> vácuo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Φ 2 . Mas a principal conclusão<br />

que obtemos nesse resultado é que o fluxo magnético é quantizado. Se fizermos uma<br />

analogia <strong>de</strong>ste anel supercondutor como um vórtice, a estrutura <strong>de</strong> ambos é bastante semelhante,<br />

o que nos permite concluir também que o fluxo magnético <strong>de</strong> um vórtice é quantizado. Para<br />

o caso dos vórtices, o fator n que multiplica o quantum do fluxo é chamado <strong>de</strong> carga topológica<br />

do vórtice. Outra conclusão importante é que a energia terá um mínimo em Φ = −nΦ 0 .<br />

Escrevendo a energia livre em termos <strong>de</strong> Φ obtemos:<br />

F(Φ) − F(0) = C(Φ − nΦ 0 ) 2 + DΦ 2 (2.68)<br />

On<strong>de</strong> C e D são constantes. Vemos que essa função possui um mínimo absoluto em Φ<br />

= 0 e mínimos metaestáveis em Φ = −nΦ 0 . Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pares <strong>de</strong><br />

elétrons passarem <strong>de</strong> um mínimo metaestável para outro, porém a nível macroscópico, vamos<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar estes eventos.


48<br />

3 CRISTAL LÍQUIDO NEMÁTICO<br />

Nesse capítulo vamos fazer inicialmente uma introdução sobre cristais líquidos, apresentando<br />

suas 3 principais configurações: Nemático, Esmético e Colestérico, on<strong>de</strong> daremos uma<br />

ênfase maior no estudo dos cristais líquidos nemáticos, aplicando a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg<br />

para <strong>de</strong>screver a transição <strong>de</strong> fase líquido isotrópico-cristal líquido nemático.<br />

3.1 Cristais Líquidos<br />

Os estados da matéria mais usuais são: sólido, líquido e gasoso. [3] Estes estados diferem<br />

um dos outros pelo arranjo das moléculas do sistema, ou seja, pelos diferentes graus <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

das moléculas que compõem o sistema.<br />

Os líquidos e os sólidos são dois casos extremos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e simetria. [16] Os líquidos apresentam<br />

simetria <strong>de</strong> rotação e translação arbitrárias em R 3 e eles exibem apenas or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> curto<br />

alcance, visto que são maximamente <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados. Os sólidos cristalinos, por sua vez, exibem<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> longo alcance e são invariantes perante um conjunto discreto <strong>de</strong> translações, que são<br />

compatíveis com a periodicida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong>, e um conjunto discreto <strong>de</strong> rotações. Definimos então<br />

que quando nos referimos a or<strong>de</strong>m posicional, estamos nos referindo a invariância perante<br />

translações, e quando nos referimos a or<strong>de</strong>m orientacional, estamos nos referindo a invariância<br />

perante rotações.<br />

Existem materiais que exibem um espectro <strong>de</strong> simetria e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m intermediários se compararmos<br />

com as fases líquida e sólida e um exemplo disso são os cristais líquidos. Os cristais<br />

líquidos são formados por moléculas anisométricas, ou seja, não possuem simetria esférica. As<br />

moléculas que formam os cristais líquidos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> dois tipos: alongadas (em forma <strong>de</strong><br />

bastão), que chamamos <strong>de</strong> moléculas calamíticas, ou em forma <strong>de</strong> disco, que chamamos <strong>de</strong><br />

moléculas discóticas. Em geral, observamos que a parte interna das moléculas <strong>de</strong> um cristal<br />

líquidos é rigida e a parte externa é fluída. Devido a esse caráter duplo da estrutura das moléculas,<br />

<strong>de</strong>u origem a interações, conhecidas como interações estéricas, que conduzem a diversos


49<br />

tipos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m orientacional, juntamente com o caráter fluído das fases dos cristais líquidos.<br />

Na figura 11, observamos a configuração <strong>de</strong> uma molécula em um cristal líquido. A direção<br />

média <strong>de</strong> orientação do eixo maior <strong>de</strong> uma molécula é chamado <strong>de</strong> vetor diretor ˆn. O ângulo<br />

α <strong>de</strong>fine a direção entre o diretor e o eixo maior da molécula. Quando o material está na fase<br />

isotrópica, α varia entre 0 e 90 graus, o que representa todas as direções possíveis <strong>de</strong> uma<br />

configuração aleatória.<br />

Figura 11: Ângulo α entre o vetor diretor e o eixo maior da molécula em um cristal líquido<br />

A tendência das moléculas <strong>de</strong> apontarem ao longo do vetor diretor leva a uma condição<br />

conhecida como anisotropia. Esse termo significa que as proprieda<strong>de</strong>s dos materiais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

da direção em que eles são medidos. O conceito <strong>de</strong> anisotropia foi fundamental para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

3.1.1 Tipos <strong>de</strong> Cristais Líquidos<br />

Em geral, po<strong>de</strong>mos classificar os cristais líquidos <strong>de</strong> duas formas: [17] [18] os termotrópicos<br />

e os liotrópicos. Os cristais líquidos termotrópicos são formados ou pelo aquecimento <strong>de</strong><br />

um sólido ou pelo resfriamento <strong>de</strong> um líquido, ou seja, pela variação <strong>de</strong> temperatura no material.<br />

Os cristais líquidos liotrópicos não são substâncias puras, mas soluções <strong>de</strong> uma substância em<br />

um líquido altamente polar, tal como a água. Tais soluções apresentam proprieda<strong>de</strong>s do estado<br />

cristalino líquido somente acima <strong>de</strong> uma certa concentração. Mais recentemente, sintetizaramse<br />

cristais líquidos que po<strong>de</strong>m ter comportamento tanto termotrópico como liotrópico, e que se<br />

dizem anfotrópicos.<br />

Neste trabalho estaremos mais interessados nas proprieda<strong>de</strong>s dos termotrópicos. Vamos<br />

então <strong>de</strong>screver os principais tipos <strong>de</strong> cristais líquidos termotrópicos:


50<br />

3.1.1.1 Cristais Líquidos Nemático<br />

[19]Este cristal líquido se caracteriza por possuir, em geral, moléculas <strong>de</strong> forma alongada<br />

e são caracterizadas por estarem dispostas no espaço com or<strong>de</strong>m posicional do tipo líquida<br />

isotrópica, mas apresentando uma certa or<strong>de</strong>m orientacional. Neste caso, as moléculas ten<strong>de</strong>m<br />

a ficar, em média, paralelas a um eixo comum representado por um vetor unitário, que é o vetor<br />

diretor.<br />

Figura 12: Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Nemático<br />

3.1.1.2 Cristais Líquidos Colestéricos<br />

[19]Apesar do colesterol não formar cristal líquido, alguns <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>rivados químicos<br />

o fazem e recebem essa <strong>de</strong>nominação. Os Cristais Líquidos Colestérico se assemelham aos<br />

nemáticos, a diferença é que a or<strong>de</strong>m orientacional, em um escala maior, varia seguindo uma<br />

conformação helicoidal. As moléculas estão dispostas em camadas e or<strong>de</strong>nadas em direções<br />

ligeiramente diferentes, na qual o diretor varia <strong>de</strong> ponto para ponto do espaço, <strong>de</strong>screvendo<br />

uma hélice. Este tipo <strong>de</strong> cristal apresenta cores fortes que po<strong>de</strong>m ser alteradas sob ação <strong>de</strong><br />

temperatura, pressão, campo elétrico e magnético.<br />

Figura 13: Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Colestérico


51<br />

3.1.1.3 Cristais Líquidos Esméticos<br />

[19]A fase esmética é caracterizada por apresentar uma distribuição espacial com or<strong>de</strong>m<br />

superior à dos nemáticos e colestéricos. As moléculas são distribuídas em camadas com um espaçamento<br />

bem <strong>de</strong>finido.Dentro <strong>de</strong> cada camada não há or<strong>de</strong>m posicional: As moléculas po<strong>de</strong>m<br />

mover-se livremente, como num líquido isotrópico. Po<strong>de</strong>, porém existir or<strong>de</strong>m orientacional<br />

nos planos das camadas (planos esméticos). É isto que distingue as diferentes fases esméticas.<br />

As substâncias que apresentam a fase esmética são divididas em subfases, <strong>de</strong>signadas por esméticos<br />

A, B, C, D,... seguindo a or<strong>de</strong>m cronológica <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>scoberta. Vamos <strong>de</strong>screver os<br />

principais cristais líquidos esméticos:<br />

• Esmético A: Quando as moléculas são perpendiculares aos planos esméticos e não existe<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m orientacional nesses planos.<br />

Figura 14: Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Esmético A<br />

• Esmético B: É a configuração molecular que exibe or<strong>de</strong>m orientacional nos planos esméticos,<br />

<strong>de</strong> tal forma que cada molécula esteja, em média, ro<strong>de</strong>ada por seis outras, dispostas<br />

nos vértices <strong>de</strong> um hexágono, e os hexágonos formados pelos vizinhos <strong>de</strong> cada molécula<br />

tenham lados paralelos uns aos outros.<br />

Figura 15: Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Esmético B<br />

• Ésmético C: É a configuração molecular que exibe or<strong>de</strong>m orientacional, tal que as moléculas<br />

estejam inclinadas todas para o mesmo lado, e fazendo o mesmo ângulo com a direção<br />

perpendicular aos planos esméticos. Estas fases apresentam or<strong>de</strong>m posicional em uma


52<br />

dimensão: Cada camada é um líquido, mas as diferentes camadas têm posições fixas<br />

relativamente umas às outras.<br />

Figura 16: Moléculas <strong>de</strong> um Cristal Líquido Esmético C<br />

Po<strong>de</strong>mos, então, [20]apresentar a configuração das moléculas através da variação da temperatura<br />

em um <strong>de</strong>terminado material, conforme a figura 17:<br />

Figura 17: Configuração das moléculas <strong>de</strong> um material através da variação da temperatura<br />

Nesta sessão foi feita uma apresentação geral dos cristais líquidos e suas principais estruturas.<br />

Na sessão seguinte será apresentados, com mais <strong>de</strong>talhes, a transição <strong>de</strong> fase líquido<br />

isotrópico - cristal líquido nemático.<br />

3.2 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para os Cristais Líquidos Nemáticos<br />

Nesta sessão vamos <strong>de</strong>screver inicialmente como ocorre a transição <strong>de</strong> fase líquido isotrópico<br />

- cristal líquido nemático em 3 dimensões. Feito isto, <strong>de</strong>screveremos como é a mesma transição<br />

em 2 dimensões e analisaremos os <strong>de</strong>feitos topológicos, conhecidos como disclinações, que<br />

serão essenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

3.2.1 Transição <strong>de</strong> Fase Isotrópica - Nemática em 3 Dimensões<br />

Como haviamos introduzido na sessão anterior, as moléculas que formam os cristais líquidos<br />

nemáticos orientam o seu eixo <strong>de</strong> simetria em torno <strong>de</strong> uma direção preferencial, caracterís-


53<br />

tica essa que chamamos <strong>de</strong> anisotropia, e eles mantem a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m nas posições do centro <strong>de</strong><br />

massa.<br />

[21][22]Quando o sistema está acima da temperatura crítica, observamos que ele não apresenta<br />

or<strong>de</strong>m orientacional e posicional. A medida que resfriamos o sistema até a temperatura<br />

crítica T c , observamos a existência <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m orientacional. Devido a forma das moléculas<br />

que constituem o cristal líquido, elas possuem simetria <strong>de</strong> reflexão entre os extremos do eixo<br />

principal, o que nos leva a concluir que a or<strong>de</strong>m molecular nos cristais líquidos não é representada<br />

por um vetor.<br />

Analogamente ao caso vetorial, no qual o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tem que ter média nula em<br />

todas as direções na fase isotrópica, vemos que as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> simetrias estabelecidas pela<br />

or<strong>de</strong>m nemática são satisfeitas por um tensor <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m, simétrico e <strong>de</strong> traço nulo:<br />

Q i j (⃗x) = V ∑(<br />

v γ i<br />

N<br />

vγ j − 1 )<br />

3 δ i j δ(⃗x − ⃗x γ ) (3.1)<br />

γ<br />

On<strong>de</strong> v γ i<br />

é componente i do vetor unitário ⃗v γ associado à molécula γ. Q i j são as componentes<br />

do tensor ˆQ símetrico <strong>de</strong> traço nulo, Tr( ˆQ) = 0.<br />

Consi<strong>de</strong>rando um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas com o vetor diretor global alinhado com o eixo<br />

x, temos que o tensor será dado por:<br />

< ˆQ >=<br />

⎛<br />

⎜⎝<br />

2<br />

S 0 0<br />

3<br />

0 − 1 3 S + η 0<br />

0 0 − 1 3 S − η ⎞⎟⎠<br />

(3.2)<br />

Se η 0, dizemos que o tensor é biaxial, ou seja, existem duas direções preferenciais em<br />

lugar <strong>de</strong> uma. Se η = 0, dizemos que o tensor é uniaxial, ou seja, existe apenas uma direção<br />

preferencial, que é o caso mais comum. No caso uniaxial, po<strong>de</strong>mos escrever as componentes<br />

do tensor como:<br />

(<br />

< Q i j >= S n i n j − 1 )<br />

3 δ i j<br />

(3.3)<br />

On<strong>de</strong> chamamos o vetor unitário <strong>de</strong> vetor diretor <strong>de</strong> Frank, que tem a função <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o


54<br />

eixo principal <strong>de</strong> ˆQ. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir o valor do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m orientacional escalar S,<br />

que é igual ao valor médio do polinômio <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2, que tem a forma:<br />

S = 1 2 < 3(⃗vγ · ⃗n) 2 − 1 >= 1 2<br />

〈<br />

〉<br />

(3cos 2 α γ − 1) =< P 2 cos(α) > (3.4)<br />

Com isso, po<strong>de</strong>mos construir a energia livre <strong>de</strong> Landau para esta transição <strong>de</strong> fase. Na fase<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, a energia livre tem que ser invariante perante a rotações arbitrárias. Em um grupo<br />

<strong>de</strong> rotações < ˆQ > se transforma como um tensor. Neste caso, as únicas combinações possíveis<br />

são <strong>de</strong> traços <strong>de</strong> potências <strong>de</strong> < ˆQ >, ou seja, Tr < ˆQ >, Tr < ˆQ > 2 , Tr < ˆQ > 3 , etc. Como,<br />

por construção, o traço <strong>de</strong> Tr < ˆQ > é nulo, escrevemos a energia livre <strong>de</strong> Landau até a quarta<br />

or<strong>de</strong>m como:<br />

f N = f LI + 1 ( ( )<br />

) 2<br />

3 9 3<br />

2 r 2 Tr < ˆQ ><br />

)−w<br />

2 2 Tr < ˆQ > +u( 3 2 Tr < ˆQ > 2 = f LI + 1 2 rS 2 −wS 3 +uS 4 (3.5)<br />

On<strong>de</strong> f LI é o valor quando S=0, ou seja, o material está na fase líquido isotrópico. Deveria<br />

aparecer um termo proporcional a Tr <<br />

ˆQ > 4 , porém em um tensor 3 x 3 <strong>de</strong> traço nulo, os<br />

termos quartícos são proporcionais. Consi<strong>de</strong>rando, como na sessão 1.2.3, r como uma função<br />

da temperatura na forma:<br />

r = a(T − T ∗ ) (3.6)<br />

Consi<strong>de</strong>rando também u e w como constantes positivas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da temperatura, i<strong>de</strong>ntificamos<br />

esta transição <strong>de</strong> fase como sendo <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>vido a presença do sinal negativo<br />

do termo cúbico da energia livre. Com isso, a energia livre apresenta uma assimetria com<br />

relação a origem e um novo mínimo aparece a temperaturas altas. Isto é mostrado na figura 17.<br />

O valor do mínimo correspon<strong>de</strong>nte ao estado <strong>de</strong> líquido isotrópico, on<strong>de</strong> S = 0, tem o<br />

valor F N = 0 e não varia com a temperatura. O segundo mínimo, para S > 0, aparece a uma<br />

temperatura T ∗∗ com um valor <strong>de</strong> F N > 0, e portanto aparece como um estado metaestável.<br />

Diminuindo mais a temperatura, uma transição <strong>de</strong> fase acontece em T c on<strong>de</strong> o valor <strong>de</strong> F N<br />

passa a ser negativo para a solução com S > 0, o que é ilustrado no gráfico a seguir.


55<br />

Figura 18: Energia Livre <strong>de</strong> Landau para um cristal líquido nemático em três dimensões<br />

Fazendo um tratamento análogo ao que foi feito na sessão 1.2.3, obtemos os valores <strong>de</strong> S c<br />

e r c :<br />

S c = w 2u , r c = a(T c − T ∗ ) = w2<br />

2u<br />

(3.7)<br />

A entropia é dada por:<br />

S = ∂F N<br />

∂T = −1 2 aS 2 c = − 1 2 a(w/2u)2 (3.8)<br />

Observamos a existência <strong>de</strong> um calor latente nesta transição <strong>de</strong> fase:<br />

L = −T c ∆S = 1 2 aT c(w/2u) 2 (3.9)<br />

O que comprova que esta é uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m.<br />

3.2.2 Transição <strong>de</strong> Fase Isotrópica - Nemática em 2 Dimensões<br />

3.2.2.1 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg<br />

Esta é a parte principal, neste trabalho, do estudo dos cristais líquidos nemáticos. [21][16]<br />

Analogamente ao caso tridimensional, o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tem que ter média nula em todas<br />

as direções na fase isotrópica, ou seja, as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> simetrias estabelecidas pela or<strong>de</strong>m<br />

nemática são satisfeitas por um tensor <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m, simétrico e <strong>de</strong> traço nulo. Porém,


56<br />

neste caso, o tensor uniaxial tem a forma:<br />

(<br />

< Q i j >= S n i n j − 1 )<br />

2 δ i j<br />

(3.10)<br />

E sua representação matricial é dada, no eixo principal, por:<br />

⎛<br />

< ˆQ >=<br />

⎜⎝<br />

1<br />

S 0 2<br />

0 − 1 2 S ⎞⎟⎠<br />

(3.11)<br />

Com isso, po<strong>de</strong>mos calcular os traços das potências <strong>de</strong> < ˆQ > até a quarta or<strong>de</strong>m, lembrando<br />

que, por construção, o traço Tr < ˆQ > é nulo:<br />

• Tr < ˆQ > 2<br />

⎛<br />

Tr < ˆQ > 2 = Tr<br />

⎜⎝<br />

1<br />

S 0 2<br />

⎛<br />

0 −<br />

⎞⎟⎠ 1S ⎜⎝<br />

2<br />

1<br />

S 0 2<br />

0 − 1 2 S ⎞⎟⎠ = Tr ⎛⎜⎝<br />

1<br />

S 2 0<br />

4<br />

0<br />

1<br />

4 S 2 ⎞⎟⎠ = 1 2 S 2 (3.12)<br />

• Tr < ˆQ > 3<br />

Tr < ˆQ > 3 = Tr(< ˆQ > 2 < ˆQ >) = Tr<br />

⎜⎝<br />

⎛<br />

1<br />

S 2 0<br />

4<br />

0<br />

1<br />

⎛<br />

⎞⎟⎠<br />

S 2 ⎜⎝<br />

4<br />

1<br />

S 0 2<br />

0 − 1 2 S ⎞⎟⎠ = Tr ⎛⎜⎝<br />

1<br />

S 3 0<br />

8<br />

0 −<br />

⎞⎟⎠ = 0<br />

1S 3<br />

8<br />

(3.13)<br />

• Tr < ˆQ > 4<br />

Tr < ˆQ > 4 = Tr(< ˆQ > 2 < ˆQ > 2 ) = Tr<br />

⎜⎝<br />

⎛<br />

1<br />

S 2 0<br />

4<br />

0<br />

1<br />

⎛<br />

⎞⎟⎠<br />

S 2 ⎜⎝<br />

4<br />

1<br />

S 2 0<br />

4<br />

0<br />

1<br />

4 S 2 ⎞⎟⎠ = Tr ⎛⎜⎝<br />

1<br />

S 4 0<br />

16<br />

0<br />

1<br />

16 S 4 ⎞⎟⎠ = 1 8 S 4<br />

(3.14)<br />

Estes resultados nos permite concluir que Tr < Q > 2n+1 = 0, ∀n, em 2 dimensões.<br />

Com as equações (3.12), (3.13) e (3.14), po<strong>de</strong>mos escrever a energia livre <strong>de</strong> Landau para<br />

o cristal líquido nemático bidimensional:<br />

)<br />

f N (T) = f LI (T) + r(T)<br />

(2Tr < ˆQ > 2 + 1 )<br />

(8Tr<br />

2 u < ˆQ > 4 = f LI (T) + r(T)S 2 + 1 2 uS 4 (3.15)


57<br />

On<strong>de</strong> r(T) é dado por:<br />

r(T) = a(T − T c ) (3.16)<br />

Se calcularmos os mínimos <strong>de</strong>ssa função:<br />

∂ f<br />

∂S = a(T − T c)S + uS 3 = 0 (3.17)<br />

Obtemos os valores:<br />

Calculando a Entropia:<br />

S = 0, S 2 = a(T c − T)<br />

u<br />

(3.18)<br />

s = − ∂ f<br />

∂T = −1 2 aS 2 = − a2 (T c − T)<br />

2u<br />

(3.19)<br />

Como não existe <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> na entropia, vemos que a transição <strong>de</strong> fase líquido isotrópico<br />

cristal líquido nemático em 2 dimensões trata-se <strong>de</strong> uma transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m,<br />

diferente do que ocorre em 3 dimensões, que é um caso <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m.<br />

O gráfico da energia livre <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o cristal líquido nemático é apresentado na<br />

figura 19.<br />

Figura 19: Energia Livre <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para um cristal líquido nemático em duas dimensões<br />

Em duas dimensões, existe uma forma alternativa para o paramêtro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. [16]Esta<br />

forma alternativa, já que o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m têm apenas 2 componentes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, po<strong>de</strong><br />

ser representada por um número complexo, cuja forma é:<br />

Q = S e i2α (3.20)


58<br />

On<strong>de</strong> S é o módulo do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e α é o ângulo responsável pela orientação do vetor<br />

diretor ˆn. O fator 2 garante a simetria α −→ α + π, que é a simetria <strong>de</strong> reflexão nemática.<br />

Notamos que essa forma alternativa, exceto pelo fator 2, é análoga a forma do parâmetro <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m supercondutor.<br />

Po<strong>de</strong>mos verificar facilmente que esse número complexo reproduz a teoria <strong>de</strong> Landau para o<br />

cristal líquido nemático, pois, Q 2 = (S e −i2α )(S e i2α ) = S 2 e Q 4 = ((S e −i2α )(S e i2α )) ∗ ((S e −i2α )(S e i2α )) =<br />

S 4 . Então, com isso, a energia livre fica:<br />

f N = f LI + a(T − T c )Q 2 + 1 2 uQ4 = f LI + a(T − T c )S 2 + 1 2 uS 4 (3.21)<br />

Para completar a teoria, introduzimos uma <strong>de</strong>pendência posicional do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m,<br />

analogamente a sessão 2.7.5, ou seja:<br />

Q(r) = S (r)e i2α(r) (3.22)<br />

Quando fazemos isso, consi<strong>de</strong>ramos o termo <strong>de</strong> gradiente, vindo da energia cinética, que<br />

tem a forma:<br />

∇Q = (∇S (r))e i2α(r) + S (r)[i2(∇α(r))e i2α(r) ] (3.23)<br />

Como a energia livre não po<strong>de</strong> assumir valores complexos, S(r) tem que ser real. Portanto,<br />

a energia livre <strong>de</strong>ve ser função do módulo do gradiente <strong>de</strong> S(r). Calculando, então, |∇Q| 2<br />

|∇Q| 2 = (∇Q) ∗ (∇Q) = (∇S (r)) 2 + 4S 2 (r)(∇α(r)) 2 (3.24)<br />

Logo, a energia livre <strong>de</strong> Landau-Ginzburg fica:<br />

f N = f LI + ς N<br />

2 [(∇S (r))2 + 4S 2 (r)(∇α(r)) 2 ] + a(T − T c )S 2 (r) + 1 2 uS 4 (r) (3.25)<br />

On<strong>de</strong> ς N é uma constante do termo cinético da energia livre. Integrando (3.25):<br />

∫<br />

F N = F LI +<br />

d r[ 2 ςN<br />

2 [(∇S (r))2 + 4S 2 (r)(∇α(r)) 2 ] + a(T − T c )S 2 (r) + 1 ]<br />

2 uS 4 (r)<br />

(3.26)


59<br />

Po<strong>de</strong>mos fazer uma analogia com o procedimento <strong>de</strong>scrito em (2.36) ou em (2.38) para<br />

obter a equação <strong>de</strong> movimento para S(r) e para α (r). Para S(r) obtemos:<br />

ς N [−∇ 2 S (r) + 4S (r)(∇α(r)) 2 ] + [a(T − T c ) + uS 2 (r)]S (r) = 0 (3.27)<br />

E para α (r) obtemos:<br />

− ς N ∇ · (4S 2 (r)(∇α(r))) = 0 (3.28)<br />

Que serão estudadas com maiores <strong>de</strong>talhes no capítulo 4.<br />

3.2.2.2 Disclinações<br />

Nos cristais líquidos nemáticos observamos singularida<strong>de</strong>s. [23]Estas singularida<strong>de</strong>s tem<br />

estrutura semelhante a dos vórtices em supercondutores. Elas causam distorções na or<strong>de</strong>m<br />

orientacional do sistema e estas distorções não são removidas por <strong>de</strong>formações do meio. Este<br />

é um tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>feito topológico conhecido como Disclinações. As Disclinações são <strong>de</strong>feitos<br />

lineares em três dimensões e pontuais em duas dimensões que são responsáveis pela distorção<br />

local da or<strong>de</strong>m orientacional, o que leva a uma quebra da simetria <strong>de</strong> rotação do sistema.<br />

Existe um parâmetro que me<strong>de</strong> a intensida<strong>de</strong> da disclinação que é dado por κ = η<br />

2π , on<strong>de</strong> η é<br />

o ângulo no qual o vetor diretor percorre ao fazer um transporte paralelo por um circuito fechado<br />

contendo o <strong>de</strong>feito, que é conhecido como circuito <strong>de</strong> Burgers. Para <strong>de</strong>mostrar a construção<br />

<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>feito faremos uso do processo <strong>de</strong> Volterra com κ = −1/2. O processo é ilustrado na<br />

figura 20:<br />

• a) É feito um corte Σ em uma linha L;<br />

• b) É feita uma abertura nas bordas <strong>de</strong> Σ em um ângulo π e é introduzido um setor extra<br />

<strong>de</strong> matéria;<br />

• c) Sistema em equilíbrio;<br />

• d) Demonstra como medir a intensida<strong>de</strong> κ do <strong>de</strong>feito <strong>de</strong>vido a medida do caminho angular<br />

Γ, no qual o vetor diretor percorre quando faz o transporte paralelo pelo circuito <strong>de</strong><br />

Burgers ζ.


60<br />

Figura 20: Processo <strong>de</strong> Volterra<br />

O sinal negativo é <strong>de</strong>vido a orientação contrária <strong>de</strong> Γ em relação a <strong>de</strong> ζ. Experimentalmente,<br />

é visto que as disclinações são múltiplos inteiros <strong>de</strong> ±1/2.<br />

Associamos a estes <strong>de</strong>feitos uma energia <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação.<br />

Baseado nos estudos <strong>de</strong> De<br />

Gennes[24], vemos que existem três tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações possíveis em um cristal líquido<br />

nemático. Essas <strong>de</strong>formações estão presentes na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia livre:<br />

f e = 1 2 K 1(∇ · n) 2 + 1 2 K 2(n · ∇ × n) 2 + 1 2 K 3(n × ∇ × n) 2 (3.29)<br />

tipo:<br />

On<strong>de</strong> K 1 ,K 2 e K 3 , são constantes associadas a cada <strong>de</strong>formação. As <strong>de</strong>formações são do<br />

• Primeiro termo: Deformação do tipo "Splay"↦−→ Compressão do sistema;<br />

• Segundo termo: Deformação do tipo "Twist"↦−→ Torção do sistema;<br />

• Terceiro termo: Deformação do tipo "Bend"↦−→ Encurvamento do sistema.<br />

Como estamos tratando <strong>de</strong> um cristal líquido nemático bidimensional, os <strong>de</strong>feitos não<br />

causam torção no sistema[23]. Neste caso, po<strong>de</strong>mos usar o mo<strong>de</strong>lo planar <strong>de</strong> Frank para <strong>de</strong>screver<br />

as <strong>de</strong>formações do sistema. Esse mo<strong>de</strong>lo consiste em fazer K 1 = K 3 = K, K 2 = 0 e as<br />

componentes do vetor diretor são:<br />

n x = cos(α), n y = sen(α), n z = 0 (3.30)


61<br />

Com α = α(x, y).<br />

Aplicando (3.30) em (3.29) e integrando a equação, obtemos uma energia da forma:<br />

∫<br />

E = K<br />

dA(∇α(x, y)) 2 (3.31)<br />

O que torna o estudo das disclinações em duas dimensões muito mais simples. Minimizando<br />

esta energia obtemos uma equação, em coor<strong>de</strong>nadas polares, do tipo:<br />

1<br />

r<br />

∂<br />

∂r<br />

(<br />

r ∂α )<br />

+ 1 ( ) ∂ 2 α<br />

= 0 (3.32)<br />

∂r r 2 ∂φ 2<br />

Com a condição <strong>de</strong> contorno:<br />

∮<br />

dα = 2πκ discl (3.33)<br />

Estamos buscando soluções singulares para a equação <strong>de</strong> movimento da disclinação. Neste<br />

caso, então, temos duas soluções que satisfazem essa equação:<br />

α = Aφ + B, α = Cln(r) + D (3.34)<br />

On<strong>de</strong> A, B, C e D são constantes a <strong>de</strong>terminar.<br />

Dentre as duas soluções a que realmente é <strong>de</strong> nosso interesse é a primeira, pois ela <strong>de</strong>screve<br />

a <strong>de</strong>formação orientacional <strong>de</strong>vido a disclinação. A segunda solução se refere a <strong>de</strong>formações<br />

na or<strong>de</strong>m translacional que aparecem nas dislocações, que são os <strong>de</strong>feitos topológicos em um<br />

cristal líquido usual. Da condição <strong>de</strong> contorno obtemos que A ≡ κ discl , com κ discl sendo um<br />

múltiplo inteiro <strong>de</strong> ± 1/2. Substituindo a solução α = κ discl φ + B na equação (3.31) e sabendo<br />

que dA = rdrdφ, obtemos:<br />

∫<br />

E = K<br />

∫<br />

dA(∇α(x, y)) 2 = K<br />

rdrdφ(∇α(r, φ)) 2 = K 2<br />

∫ R ∫ 2π<br />

r 0<br />

0<br />

drdφκ 2 1<br />

discl<br />

r<br />

(3.35)<br />

On<strong>de</strong> R é o raio do sistema e r 0 é o tamanho do <strong>de</strong>feito, que é introduzido para que a<br />

energia do sistema seja bem comportada nas proximida<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>feito. Integrando a equação


62<br />

(3.35) obtemos:<br />

E = πKκ 2 discl ln ( R<br />

r 0<br />

)<br />

(3.36)<br />

Analisando esta equação vemos que a energia é da or<strong>de</strong>m do logaritmo do tamanho do<br />

sistema, ou seja, o custo <strong>de</strong> energia é muito alto <strong>de</strong>vido ao sistema ser macroscópico.


63<br />

4 O ESTADO SUPERCONDUTOR NEMÁTICO<br />

Neste capítulo, veremos as principais caracterísiticas do estado supercondutor nemático.<br />

Inicialmente, é feita uma introdução sobre os supercondutores <strong>de</strong> alta temperatura, pois foi no<br />

estudo <strong>de</strong>sses compostos que foi observado este novo estado supercondutor. Após esta <strong>de</strong>scrição,<br />

é construida a teoria geral <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para este estado, on<strong>de</strong> são os estudados<br />

o acoplamento entre as fases e as equações <strong>de</strong> movimento. Por fim, é usado o limite <strong>de</strong> London,<br />

que consi<strong>de</strong>ra os módulos dos parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m constantes, possibilitando um melhor<br />

compreensão da teoria e a construção <strong>de</strong> diagramas <strong>de</strong> fase para este estado.<br />

4.1 Supercondutores High T c<br />

A supercondutivida<strong>de</strong> a altas temperaturas, conhecida como supercondutores "High T c ",<br />

tem sido um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para os pesquisadores, [34]<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scoberta inicial do fenômeno<br />

da supercondutivida<strong>de</strong>, pelo pesquisador Kammerling Onnes, em 1911.<br />

Muitas técnicas tem sido <strong>de</strong>senvolvidas para alcançar esse objetivo, como por exemplo<br />

aplicar altas pressões em <strong>de</strong>terminados compostos que, em condições normais, não exibiriam a<br />

supercondutivida<strong>de</strong> [25]. [32] Com a utilização <strong>de</strong>sta técnica, foi possível praticamente dobrar o<br />

número <strong>de</strong> supercondutores conhecidos até então. Apesar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s progressos na catalogação<br />

<strong>de</strong> novos supercondutores, a temperatura crítica ainda não era tão alta, na máxima <strong>de</strong> 10K para<br />

supercondutores convecionais e <strong>de</strong> 23K para a liga <strong>de</strong> Nióbio-Germânio Nb 3 Ge.<br />

Em 1986, [26] porém, houve uma gran<strong>de</strong> revolução com a <strong>de</strong>scoberta da supercondutivida<strong>de</strong><br />

com temperatura crítica <strong>de</strong> 30K em um composto cerâmico contendo La-Ba-Cu-O.<br />

O material sintetizado, La 2−x Ba x CuO 4 , iniciou a pesquisa em supercondutores chamados <strong>de</strong><br />

cupratos ou óxidos <strong>de</strong> cobre, cujas temperaturas crítica exce<strong>de</strong>ram a temperatura <strong>de</strong> liquefação<br />

do Nitrogênio, que é 77K.<br />

Além da alta temperatura crítica [32], os cupratos supercondutores apresentam proprieda<strong>de</strong>s<br />

interessantes, como por exemplo anisotropias extremamente elevadas, estrutura em camadas e


64<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> dopagem.<br />

A estrutura dos supercondutores High T c é formada por camadas sobrepostas <strong>de</strong> diferentes<br />

átomos, sendo compostas puramente <strong>de</strong> cobre e oxigênio aquelas on<strong>de</strong> se origina o fenômeno da<br />

supercondutivida<strong>de</strong>. [27]Os átomos <strong>de</strong> cobre e oxigênio disputam elétrons entre si. O oxigênio<br />

necessita <strong>de</strong> dois elétrons, e o cobre tem um para doar. Assim, para cada par cobre-oxigênio,<br />

fica faltando um elétron. Essa ausência, que é conhecida como buraco, comporta-se como um<br />

elétron, porém <strong>de</strong> carga positiva, que fica localizada no cobre, em vista do oxigênio segurar<br />

dois elétrons extras. O notável é que esses buracos mantêm uma das proprieda<strong>de</strong>s fundamentais<br />

do elétron: o spin, que po<strong>de</strong>remos enten<strong>de</strong>r como a rotação <strong>de</strong> uma partícula ao redor <strong>de</strong> seu<br />

próprio eixo.<br />

Na camada <strong>de</strong> cobre-oxigênio, <strong>de</strong>fine-se uma gran<strong>de</strong>za fundamental para o entendimento<br />

dos compostos: a dopagem. Ela correspon<strong>de</strong> aos buracos acrescentados à camada, além <strong>de</strong><br />

seu valor natural, ou seja, <strong>de</strong> apenas um buraco por átomo <strong>de</strong> cobre. São os átomos nas <strong>de</strong>mais<br />

camadas do composto que, ao subtraírem elétrons da camada <strong>de</strong> cobre-oxigênio, regulam<br />

a dopagem, <strong>de</strong>ixando ali buracos. A dopagem correspon<strong>de</strong> ao x na fórmula dos compostos.<br />

Quanto mais buracos existirem no plano formado pelos átomos <strong>de</strong> cobre e oxigênio, maior será<br />

a chamada dopagem do material.<br />

As camadas <strong>de</strong> cobre-oxigênio <strong>de</strong>sempenham um papel fundamental nas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

transporte. A condução eletrônica encontra-se confinada basicamente nestes planos, enquanto<br />

as <strong>de</strong>mais camadas atômicas atuam como reservatórios <strong>de</strong> carga, visto que são responsáveis<br />

pela transferência <strong>de</strong> cargas as camadas cobre-oxigênio.<br />

As proprieda<strong>de</strong>s eletrônicas nos estados supercondutor e normal <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m fortemente da<br />

dopagem do material e são muito sensíveis à aumento <strong>de</strong> pressão. Para exemplificar isto, po<strong>de</strong>mos<br />

citar o composto La 2−x S r x CuO 4 . Neste caso, o elemento dopante Estrôncio (Sr), retira<br />

elétrons dos planos <strong>de</strong> condução <strong>de</strong> Cobre e Oxigênio, que apresentam um elétron extra para<br />

cada átomo <strong>de</strong> Cobre (ou sítio da re<strong>de</strong>), <strong>de</strong>ixando os buracos com mobilida<strong>de</strong> para se <strong>de</strong>slocar<br />

nos planos.<br />

Em geral, os cupratos apresentam características semelhantes com relação a dopagem [28].<br />

Para compostos com baixo nível <strong>de</strong> dopagem (x ≤ 0, 05 − 0, 06), o material apresenta uma fase


65<br />

antiferromagnética isolante, tornando-se um isolante <strong>de</strong> Mott no composto pai (x = 0), mesmo<br />

para baixas temperaturas. A partir <strong>de</strong> x ≈ 0, 06 começa a se observar a supercondutivida<strong>de</strong> com<br />

valores <strong>de</strong> T c muito baixos até que a máxima temperatura crítica é verificada em compostos<br />

com nível <strong>de</strong> dopagem ótimo x ≈ 0, 16. Acima <strong>de</strong>sse valor, a temperatura crítica volta a cair,<br />

tornando-se nula em x ≈ 0, 27.<br />

Muitos grupos no mundo tem se <strong>de</strong>dicado no estudo do comportamento dos cupratos supercondutores.<br />

Na próxima sessão, vamos iniciar a discussão sobre o comportamento <strong>de</strong> alguns<br />

cupratos quando a dopagem se aproxima <strong>de</strong> x =1/8.<br />

4.2 O Estado Supercondutor Modulado<br />

Uma série <strong>de</strong> experimentos no cuprato La 2−x Ba x CuO 4 [4], [5], [6], [7], mostrou um comportamento<br />

anômalo nas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transporte, quando a dopagem se aproxima <strong>de</strong> x = 1/8.<br />

Essencialmente, é observado que o material se comporta como um supercondutor nos planos<br />

<strong>de</strong> Cu, porém no eixo perpendicular a estes planos, o comportamento é metalico com uma<br />

gran<strong>de</strong> resistência. Ou seja, num certo intervalo <strong>de</strong> temperatura e dopagem, existe uma gran<strong>de</strong><br />

frustração no acoplamento Josephson entre os planos <strong>de</strong> Cu, que faz com que a supercondutivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser isotrópica. De alguma forma, existe um <strong>de</strong>sacoplamento dinâmico entre as<br />

diferentes camadas <strong>de</strong> Cu e O.<br />

Por outro lado, nesta região <strong>de</strong> dopagem, é bem conhecida a existência <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m unidirecional,<br />

na forma <strong>de</strong> ondas <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga (CDW) e spin (SDW), comumente chamadas<br />

<strong>de</strong> stripes, que em português seria "listrado"[29]. As stripes foram preditas teoricamente pelos<br />

cálculos <strong>de</strong> Hartree-Fock com condições <strong>de</strong> contorno periódicas [30], sendo verificadas posteriormente<br />

através da observação experimental <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> spins em La 2−x S r x CuO 4 por<br />

espalhamento <strong>de</strong> nêutrons, evi<strong>de</strong>nciando a formação <strong>de</strong> domínios estáticos antiferromagnéticos<br />

em antifase nos planos CuO 2 separados por stripes quase-1D contendo os portadores dopados.<br />

Em outras palavras, as cargas dopadas concentram-se ao longo das pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> domínio geradas<br />

espontaneamente entre regiões antiferromagnéticas (Do inglês Antiferromagnetic Domain<br />

Walls, ADW). Assim, a fase <strong>de</strong> stripes ocorre através da relação entre as interações antiferromagnéticas<br />

(entre íons magnéticos e interações coulombianas entre cargas), que favorecem


66<br />

elétrons localizados, e a energia cinética <strong>de</strong> ponto-zero dos buracos dopantes, que ten<strong>de</strong>m a<br />

uma <strong>de</strong>slocalização <strong>de</strong> carga. A instabilida<strong>de</strong> das stripes vem <strong>de</strong> flutuações quânticas que, no<br />

caso unidimensional, implicam no fenômeno da separação spin-carga. Experimentalmente, as<br />

stripes são mais fáceis <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>tectadas em isolantes (on<strong>de</strong> ela é relativamente estática),<br />

mas existem fortes evidências <strong>de</strong> flutuações na correlação <strong>de</strong> stripes em compostos metálicos e<br />

supercondutores.<br />

Efeitos similares que ocorrem no cuprato La 2−x Ba x CuO 4 são verificados na fase listrada <strong>de</strong><br />

La 1.6−x Nd 0.4 S r x CuO 4 e na fase listrada com campo magnético induzido em La 2−x S r x CuO 4 .<br />

Com o intuito <strong>de</strong> interpretar estas observações foi proposto uma nova or<strong>de</strong>m supercondutora<br />

chamada <strong>de</strong> [7] [4] [5] [6]“Onda <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pares”, ou PDW, do inglês, Pair Density<br />

Wave. Neste novo estado da matéria, a supercondutivida<strong>de</strong>, a onda <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga e<br />

spin estariam interconectados. Esta modulação do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m supercondutor seria o<br />

responsável <strong>de</strong> produzir a frustração no acoplamento Josephson 1 entre os planos <strong>de</strong> Cu. A<br />

PDW po<strong>de</strong> ser entendida como uma fase <strong>de</strong> cristal líquido quântico anisotrópico que quebra o<br />

grupo <strong>de</strong> simetria <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, bem como a invariância translacional e o gauge global.<br />

Em geral, o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> um estado supercondutor po<strong>de</strong> ser escrito na forma [4]<br />

[5] [6]:<br />

ψ ι,ι ′(r, r ′ ) =< φ † ι (r)φ † ι<br />

(r ′ ) > (4.1)<br />

′<br />

on<strong>de</strong> φ † ι (r) é o operador <strong>de</strong> campo fermiônico que cria um elétron com spin ι na posição<br />

r. Outras distinções entre os diferentes estados supercondutores po<strong>de</strong>m ser estabelecida com<br />

base das simetrias espaciais e <strong>de</strong> spin <strong>de</strong> ψ. Em sólidos cristalinos, todos os estados supercondutores<br />

respeitam a simetria <strong>de</strong> translação do solído, ψ(r + R, r ′ + R) = ψ(r, r ′ ), on<strong>de</strong> R é um<br />

vetor qualquer da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bravais 2 . Na ausência <strong>de</strong> acoplamento spin-órbita, os estados supercondutores<br />

po<strong>de</strong>m ser classificados, [31]bem como pela sua transformação em rotações <strong>de</strong> spin<br />

como singleto (quando o spin do operador <strong>de</strong> criação na posição r não está alinhado com o spin<br />

1<br />

É um efeito físico que se manifesta pela aparição <strong>de</strong> uma corrente elétrica que flui através <strong>de</strong> dois supercondutores<br />

fracamente interligados, separados apenas por uma barreira isolante muito fina. A corrente que<br />

atravessa a barreira é chamada <strong>de</strong> Corrente Josephson.<br />

2<br />

Denominação dada às configurações básicas que resultam da combinação dos sistemas <strong>de</strong> cristalização com<br />

a disposição das partículas em cada uma das células unitárias <strong>de</strong> uma estrutura cristalina, sendo estas células<br />

entendidas como os paralelepípedos que constituem a menor subdivisão <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> cristalina que conserva<br />

as características gerais <strong>de</strong> toda re<strong>de</strong>, permitindo que pela réplica da mesma possa reconstruir todo o sólido.


67<br />

do operador na posição r’) ou tripleto (quando os spins estão alinhados). Finalmente, o estado<br />

supercondutor po<strong>de</strong> preservar ou quebrar a simetria inversão temporal.<br />

O supercondutor listrado é um exemplo <strong>de</strong> um estado em que a simetria translacional do<br />

cristal é espontaneamente quebrada <strong>de</strong> tal forma que ψ(r + R, r ′ + R) exibe uma <strong>de</strong>pendência<br />

não trivial em R. Assim como um CDW é geralmente <strong>de</strong>finido em termos <strong>de</strong> um estado fundamental,<br />

então um estado PDW é caracterizado pelo menor valor do momento P cry do cristal,<br />

para o qual:<br />

ψ 0 ι,ι ′(r, r′ ) = N −1 ∑ R<br />

exp[iP cry · R] < φ † ι (r + R)φ † ι ′ (r ′ + R) > (4.2)<br />

tem um valor esperado que não nulo.<br />

Um estado supercondutor é caracterizado pela quebra espontânea da simetria <strong>de</strong> gauge. Uma<br />

vez quebrada esta simetria, funções <strong>de</strong> correlação como<br />

ψ (4) =< φ † ι1 (r 1)φ † ι2 (r 2)φ † ι3 (r 3)φ † ι4 (r 4) > (4.3)<br />

são geralmente diferentes <strong>de</strong> zero. Em qualquer estado supercondutor com carga 2e temos que<br />

ψ ι,ι ′(r, r ′ ) 0. Alguns componentes do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m do supercondutor com carga 4e<br />

também serão diferentes <strong>de</strong> zero. Porém, po<strong>de</strong>ria acontecer que, consi<strong>de</strong>rando a equação (4.1),<br />

ψ ι,ι ′(r, r ′ ) = 0 mas ψ (4) 0. Nesta caso, o estado seria supercondutor, já que quebra invariância<br />

<strong>de</strong> gauge porém, não existiriam pares <strong>de</strong> Cooper, mas con<strong>de</strong>nsados <strong>de</strong> quatro cargas.<br />

Há duas razões para consi<strong>de</strong>rar a existência <strong>de</strong>ste parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Em primeiro lugar,<br />

é evi<strong>de</strong>nte que mesmo no estado PDW, embora a componente uniforme <strong>de</strong> ψ seja nula,<br />

a componente uniforme <strong>de</strong> ψ (4) ∼ ψ P cry<br />

ψ −P cry<br />

0. Mais importante ainda, o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong><br />

ψ (4) po<strong>de</strong> ser mais robusto do que o or<strong>de</strong>namento PDW. Especificamente, em algumas circunstâncias,<br />

é possível que flutuações térmicas ou quânticas <strong>de</strong>struam a or<strong>de</strong>m PDW, restaurando<br />

simetria translacional sem restaurar simetria <strong>de</strong> calibre nem a rotacional. Neste caso, alguns<br />

componentes <strong>de</strong> ψ (4) permanecem diferentes <strong>de</strong> zero, embora ψ vá a zero, dando lugar ao estado<br />

Supercondutor Nemático.<br />

A forma mais simples <strong>de</strong> um parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m do supercondutor modulado é dado por


68<br />

um campo escalar complexo <strong>de</strong> carga 2e, com momento P cry ,<br />

ψ(r, r ′ ) = ∆ Pcry e iP cry·R + ∆ −Pcry e −iP cry·R<br />

(4.4)<br />

on<strong>de</strong> R = (r +r ′ )/2 e, em geral, ∆ −Pcry não é o complexo conjugado <strong>de</strong> ∆ Pcry . Definimos também,<br />

o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m do supercondutor 4e como um campo escalar complexo ψ 4e (r, r ′ ) ∼<br />

∆ −Pcry ∆ −Pcry .<br />

A partir do acoplamento algébrico <strong>de</strong>stes parâmetros, levando em conta também as ondas<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga e <strong>de</strong> spin, po<strong>de</strong>-se construir uma teoria <strong>de</strong> Landau, cujo diagrama <strong>de</strong><br />

fases é apresentado na figura 21. Po<strong>de</strong>mos observar a presença <strong>de</strong> diferentes fases <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

da temperatura e da rigi<strong>de</strong>z das stripes (que é representada pela letra κ). Se a rigi<strong>de</strong>z for muito<br />

gran<strong>de</strong> κ/ρ s >> 1, os vortices <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nam o estado PDW produzindo uma transição <strong>de</strong> fase para<br />

uma onda <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga. Se a rigi<strong>de</strong>z for menor, é possivel a proliferação <strong>de</strong> vórtices<br />

e dislocações, produzindo um estado metálico nemático. Porém, se a rigi<strong>de</strong>z das stripes for<br />

menor ainda, existe a possibilida<strong>de</strong> muito interesante da proliferação <strong>de</strong> dislocações isoladas,<br />

mantendo o or<strong>de</strong>m orientacional e <strong>de</strong> gauge, dando lugar neste caso ao supercondutor nemático<br />

<strong>de</strong> carga 4e.<br />

Figura 21: Diagrama <strong>de</strong> Fase a partir do acoplamento algébrico


69<br />

4.3 Teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg para o estado supercondutor nemático<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>sta dissertação é pesquisar as proprieda<strong>de</strong>s gerais da fase supercodutora nemática<br />

recentemente proposta.<br />

Para isto, construiremos uma teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg com dois<br />

parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m: o parâmetro supercondutor, <strong>de</strong>scrito no capítulo 2 e o parâmetro nemático,<br />

<strong>de</strong>scrito no capitulo 3.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos então o parâmero <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m supercondutor<br />

ψ(r) = |ψ(r)|e iθ(r) (4.5)<br />

e o nemático em duas dimensões dado por<br />

Q(r) = S (r)e i2α(r) (4.6)<br />

note que o fator 2 nesta <strong>de</strong>finição é para ter a simetria <strong>de</strong> reflexão α → α + π.<br />

Seguindo a filosofia da teoria <strong>de</strong> Landau, supomos que os parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m são pequenos<br />

e fazemos uma expansão da energia livre, consi<strong>de</strong>rando todos os acoplamentos permitidos pela<br />

simetria até or<strong>de</strong>m quartico.<br />

A parte dos potenciais que produzem as quebras <strong>de</strong> simetria <strong>de</strong> rotação e gauge são as usuais:<br />

• Potencial supercondutor:<br />

V S = a(T)ψ(r) ∗ ψ(r) + 1 2 b(ψ(r)∗ ψ(r)) 2 = a(T)|ψ(r)| 2 + 1 2 b|ψ(r)|4 (4.7)<br />

• Potencial Nemático:<br />

V N = r(T)Q(r) ∗ Q(r) + 1 2 u(Q(r)∗ Q(r)) = r(T)S (r) 2 + 1 2 uS (r)4 (4.8)<br />

Resta agora estudar os acoplamentos entre os parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. O acoplamento usual<br />

entre dois campos complexos é:


70<br />

V S N = υ 2 ψ(r)∗ ψ(r)Q(r) ∗ Q(r) = υ 2 |ψ(r)|2 S (r) 2 (4.9)<br />

Porém, o efeito da nematicida<strong>de</strong> é mais sutil por ser <strong>de</strong> caráter geométrico.<br />

[35] [7]O<br />

parâmetro supercondutor sente a nematicida<strong>de</strong> como uma curvatura ou uma alteração da métrica<br />

do espaco como:<br />

g i j = δ i j + ΛQ i j = δ i j + ΛS (r)[n i n j − 1 2 δ i j] (4.10)<br />

On<strong>de</strong> δ i j é a métrica do espaço sem o acoplamento, Λ é uma constante <strong>de</strong> acoplamento e<br />

Q i j é o termo nemático <strong>de</strong>finido na equação (3.10)<br />

Esta métrica entra no cálculo dos termos cinéticos (termos com gradiente) da energia livre<br />

do supercondutor. Para compreen<strong>de</strong>r melhor como ocorre esse processo, vamos analisar inicialmente<br />

apenas estes termos cinéticos. Consi<strong>de</strong>rando o campo magnético nulo, temos que o<br />

termo cinético é dado por:<br />

|∇ψ(r)| 2 = [∇ψ(r)] ∗ i [∇ψ(r)] j g i j (4.11)<br />

Substituindo a equação (4.10) em (4.11) obtemos:<br />

|∇ψ(r)| 2 = |∇ψ(r)| 2 + ΛS (r)[ˆn · ∇ψ(r) ∗ ][ˆn · ∇ψ(r)] (4.12)<br />

On<strong>de</strong> o primeiro termo é referente ao gradiente com a métrica sem o acoplamento e o<br />

segundo termo é referente ao acoplamento. Escrevendo (4.12) em termos <strong>de</strong> |ψ(r)| e θ(r):<br />

|∇ψ(r)| 2 = [|∇|ψ(r)|| 2 + |ψ(r)| 2 |∇θ(r)| 2 ] + ΛS (r)[(∇ n |ψ(r)|) 2 + |ψ(r)| 2 (∇ n θ(r)) 2 ] (4.13)<br />

On<strong>de</strong> <strong>de</strong>finimos a <strong>de</strong>rivada direcional ∇ n :<br />

∇ n = ˆn · ∇ (4.14)<br />

Das equações (4.7), (4.8), (4.9) e (4.13) e fazendo ς S<br />

2 = 2<br />

2m ∗<br />

na energia livre supercondutora,<br />

po<strong>de</strong>mos obter a energia livre <strong>de</strong> cada fase da energia livre do estado supercondutor nemático,


71<br />

ou seja:<br />

• Energia livre supercondutora:<br />

∫<br />

F S = F n +<br />

d 2 r ς S<br />

2 [(∇|ψ(r)|)2 + |ψ(r)| 2 (∇θ(r)) 2 ] + V S (|ψ(r)|) (4.15)<br />

• Energia livre nemática:<br />

∫<br />

F N = F LI +<br />

d 2 r ς N<br />

2 [(∇S (r))2 + 4S (r) 2 (∇α(r)) 2 ] + V N (S (r)) (4.16)<br />

• Energia livre <strong>de</strong> acoplamento e interação:<br />

∫<br />

F S N =<br />

d 2 rΛS (r)[(∇ n |ψ(r)|) 2 + |ψ(r)| 2 (∇ n θ(r)) 2 ] + V S N (|ψ(r)|, S (r)) (4.17)<br />

• Energia livre total:<br />

F = F S + F N + F S N (4.18)<br />

Da equação (4.18) vemos que a energia livre é uma função <strong>de</strong> |ψ(r)|, <strong>de</strong> α(r), <strong>de</strong> θ(r) e <strong>de</strong><br />

S(r). Desta forma, para minimizar a energia livre temos que fazer a <strong>de</strong>rivada funcional com<br />

relação a estas 4 variáveis individualmente e igualar cada uma <strong>de</strong>las a zero, analogamente ao<br />

que foi feito na equação (2.36) ou na (2.38). Com isso, temos que as equações <strong>de</strong> movimento<br />

para cada variável são dadas por:<br />

• Equação para |ψ(r)|:<br />

δF<br />

δ|ψ(r)| =<br />

δF S<br />

δ|ψ(r)| +<br />

δF N<br />

δ|ψ(r)| + δF S N<br />

δ|ψ(r)| = 0 (4.19)<br />

Calculando cada termo separadamente:<br />

–<br />

δF S<br />

δ|ψ(r)| = ς S (−∇ 2 |ψ(r)| + |ψ(r)||∇θ(r)| 2 ) + V ′ S (|ψ(r)|) (4.20)


72<br />

–<br />

δF N<br />

δ|ψ(r)| = 0 (4.21)<br />

–<br />

δF S N<br />

δ|ψ(r)| = Λ[S [−∇2 n|ψ(r)| + |ψ(r)|(∇ n θ) 2 ] − ∇ n S ∇ n |ψ(r)|] + υ|ψ(r)|S 2 (4.22)<br />

Aplicando (4.20), (4.21) e (4.22) em (4.19) temos a equação <strong>de</strong> movimento para |ψ(r)|<br />

δF<br />

δ|ψ(r)| = ς S (−∇ 2 |ψ(r)| + |ψ(r)||∇θ(r)| 2 ) + a(T)|ψ(r)| + b|ψ(r)| 3 +<br />

+Λ[S [−∇ 2 n|ψ(r)| + |ψ(r)|(∇ n θ) 2 ] − ∇ n S ∇ n |ψ(r)|] + υ|ψ(r)|S 2 = 0 (4.23)<br />

• Equação para θ(r):<br />

δF<br />

δθ(r) = δF S<br />

δθ(r) + δF N<br />

δθ(r) + δF S N<br />

δθ(r) = 0 (4.24)<br />

Calculando cada termo separadamente:<br />

–<br />

–<br />

–<br />

δF S<br />

δθ(r) = −ς S ∇ · [|ψ(r)| 2 ∇θ(r)] (4.25)<br />

δF N<br />

δθ(r) = 0 (4.26)<br />

δF S N<br />

δθ(r) = −Λ∇ n[S |ψ(r)| 2 ∇ n θ(r)] (4.27)<br />

Aplicando (4.25), (4.26) e (4.27) em (4.24) temos a equação <strong>de</strong> movimento para θ(r):<br />

δF<br />

δθ(r) = ς S ∇ · [|ψ(r)| 2 ∇θ(r)] + Λ∇ n [S |ψ(r)| 2 ∇ n θ(r)] = 0 (4.28)<br />

• Equação para S (r):<br />

δF<br />

δS (r) = δF S<br />

δS (r) + δF N<br />

δS (r) + δF S N<br />

δS (r) = 0 (4.29)


73<br />

Calculando cada termo separadamente:<br />

–<br />

δF S<br />

δS (r) = 0 (4.30)<br />

–<br />

δF N<br />

δS (r) = ς N[−∇ 2 S (r) + 4S (r)|∇α(r)| 2 ] + V ′ N(S (r)) (4.31)<br />

–<br />

δF S N<br />

δS (r) = Λ 2 [(∇ n|ψ(r)|) 2 + |ψ(r)| 2 (∇ n θ(r)) 2 ] + υ|ψ(r)| 2 S (4.32)<br />

Aplicando (4.30), (4.31) e (4.32) em (4.29) temos a equação <strong>de</strong> movimento para S (r):<br />

δF<br />

δS (r) = ς N[−∇ 2 S (r) + 4S (r)|∇α(r)| 2 ] + r(T)S (r) + uS (r) 3 +<br />

+ Λ 2 [(∇ n|ψ(r)|) 2 + |ψ(r)| 2 (∇ n θ(r)) 2 ] + υ|ψ(r)| 2 S = 0 (4.33)<br />

• Equação para α(r):<br />

δF<br />

δα(r) = δF S<br />

δα(r) + δF N<br />

δα(r) + δF S N<br />

δα(r) = 0 (4.34)<br />

Calculando cada termo separadamente:<br />

–<br />

δF S<br />

δα(r) = 0 (4.35)<br />

–<br />

δF N<br />

δα(r) = −4ς N∇ · (S 2 ∇α(r)) (4.36)<br />

–<br />

δF S N<br />

δα(r) = −ΛS [∇ n⊥|ψ(r)|∇ n |ψ(r)| + |ψ(r)| 2 ∇ n⊥ θ(r)∇ n θ(r)] (4.37)<br />

On<strong>de</strong> <strong>de</strong>finimos o operador ∇ n⊥ que é dado por:<br />

∇ n⊥ = ˆn × ∇ (4.38)


74<br />

Aplicando (4.35), (4.36) e (4.37) em (4.34) temos a equação <strong>de</strong> movimento para<br />

α(r):<br />

δF<br />

δα(r) = 4ς N∇ · (S 2 ∇α(r)) + ΛS [∇ n⊥ |ψ(r)|∇ n |ψ(r)| + |ψ(r)| 2 ∇ n⊥ θ∇ n θ(r)] = 0 (4.39)<br />

As equações (4.23), (4.28), (4.33) e (4.39) são as equações <strong>de</strong> movimento que minimizam<br />

a energia livre. Solucioná-las é uma tarefa bastante ardua e até então não existe uma solução<br />

exata para estas equações acopladas. Porém, no presente trabalho, vamos fazer uso <strong>de</strong> uma<br />

aproximação que permite obter resultados e análises significativas.<br />

4.3.1 Aproximação <strong>de</strong> London<br />

Consi<strong>de</strong>raremos agora a teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg mediante a aproximação <strong>de</strong> London.[7]<br />

Nesta aproximação, novamente com o campo magnético igual a zero, temos que os módulos<br />

dos parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m são constantes, ou seja, |ψ(r)| = |ψ| e S(r) = S. Com isso, os termos<br />

com gradiente dos módulos será igual a zero. Analisando apenas os termos cíneticos, a energia<br />

livre <strong>de</strong> Landau-Ginzburg, com esta aproximação, assume a forma:<br />

∫<br />

F =<br />

[<br />

d 2 x ϖ|∇α(r)| 2 + ρ s |∇θ(r)| 2 + ρ ]<br />

sS<br />

2 (∇ nθ(r)) 2<br />

(4.40)<br />

On<strong>de</strong> ρ s foi <strong>de</strong>finido na equação (2.57), mas temos que observar que, como estamos tratando<br />

<strong>de</strong> um supercondutor <strong>de</strong> carga 4e, a massa efetiva m ∗ neste caso é equivalente a 4m e .O termo<br />

ϖ = 4S 2 ς N é o termo <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z da fase nemática. O último termo da parte cinética é referente<br />

ao acoplamento entre a corrente supercondutora e a flutuação nemática. A corrente supercondutora<br />

é <strong>de</strong>finida aplicando a equação (2.55) na equação (2.18) e fazendo com que o campo<br />

magnético seja nulo. Fazendo isto, a corrente passa a ter uma <strong>de</strong>pendência apenas do gradiente<br />

<strong>de</strong> θ(r) e da rigi<strong>de</strong>z supercondutora. Logo, o termo <strong>de</strong> acoplamento é <strong>de</strong>finido por Q i j J i J j , on<strong>de</strong><br />

J = ρ s ∇θ(r) é a corrente supercondutora.<br />

Nesta aproximação, o conjunto <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> movimento (4.23), (4.28), (4.33) e (4.39) é<br />

reduzido para apenas 2 equações, que são as equações para os ângulos θ(r) e α(r). Sendo assim,<br />

(4.28) e (4.39) assumem a forma:


75<br />

• Equação para θ:<br />

ρ s ∇ 2 θ(r) + ΛS ρ s ∇ 2 nθ(r) = 0 (4.41)<br />

• Equação para α:<br />

ϖ∇ 2 α(r) + ΛS ρ s ∇ n⊥ θ∇ n θ = 0 (4.42)<br />

Que são duas equações bastante semelhantes, no qual fica expressa a <strong>de</strong>pên<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> θ e<br />

α em ambas (a <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> α em (4.41) é <strong>de</strong>vido a ∇ n conter o vetor diretor n, que, como<br />

vimos anteriormente, é uma função <strong>de</strong> α).<br />

Para minimizar a energia livre, a corrente <strong>de</strong>ve ser localmente perpendicular ao vetor diretor<br />

n. Para isto, temos duas configurações possíveis que minimizam esta energia livre: Disclinações<br />

isoladas ou vórtices acoplados as disclinações, <strong>de</strong> tal forma que J · ˆn = 0 em todos os pontos,<br />

como é apresentado na figura 22.<br />

Figura 22: J · ˆn = 0 em todos os pontos<br />

Uma solução possível para minimizar esta energia livre é dada pela disclinação<br />

n i = x i /r (4.43)<br />

e pelo vórtice<br />

∂ i θ = ε i j x j /r 2 (4.44)<br />

Aplicando (4.43) e (4.44) em (4.42) e (4.41) vemos que elas realmente são soluções que<br />

minimizam a energia livre.


76<br />

Vamos agora imaginar uma situação em que tentamos separar a disclinação do vórtice, por<br />

uma distância R, como vemos na figura 23.<br />

Figura 23: Vórtice e Disclinação separados por uma distância R<br />

Fazendo isto, as equações (4.43) e (4.44) ficam:<br />

n i = x i<br />

r<br />

∂ i θ(r) = ε i j(x j + R j )<br />

(r + R) 2 (4.45)<br />

Aplicando a equação (4.45) em (4.40), obtemos que os vórtices e as disclinações possuem<br />

uma interação atrativa logarítmica, F ∼ ln(R), cujo sinal é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do sinal das suas cargas<br />

topológicas. Portanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ρ s não seja pequeno, o <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>namento da fase N-SC só po<strong>de</strong><br />

ser produzido <strong>de</strong> duas formas:<br />

• Por disclinações isoladas, que restauram a isotropia, mas não afetam a supercondutivida<strong>de</strong><br />

(Transição N-SC/SC);<br />

• Pela proliferação <strong>de</strong> vortex fortemente ligados as disclinações (Transição N-SC/condutor<br />

normal).


77<br />

Na figura 24 vemos o diagrama <strong>de</strong> fases na aproximação <strong>de</strong> London. Po<strong>de</strong>mos observar as<br />

duas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>namento da fase N-SC <strong>de</strong>vido as configurações citadas anteriormente.<br />

Figura 24: Diagrama <strong>de</strong> Fase para a aproximação <strong>de</strong> London


78<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Nesta dissertação estudamos proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas <strong>de</strong> um novo estado supercondutor<br />

recentemente proposto chamando <strong>de</strong> supercondutor nemático. Este estado aparece como<br />

uma consequência direta da existência <strong>de</strong> supercondutivida<strong>de</strong> modulada, quando o parâmetro<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m muda <strong>de</strong> sinal seguindo uma estrutura <strong>de</strong> faixas. Flutuações quânticas ou térmicas<br />

<strong>de</strong>stas estruturas po<strong>de</strong>m reestabelecer a simetria <strong>de</strong> translação, produzindo um parâmetro <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m homogêneo, porém anisotrópico.<br />

Para seu estudo propomos uma teoria <strong>de</strong> Landau-Ginzburg, construída usando dois parâmetros<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m: o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m supercondutor e o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m nemático. As teorias<br />

<strong>de</strong> Landau para estes dois parâmetros in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes foram <strong>de</strong>scritas nos capítulos II e III<br />

respectivamente. No capítulo IV estudamos os diferentes acoplamentos possíveis. Mostramos<br />

que, além do acoplamento algébrico entre os parâmetros supercondutor e nemático, existe um<br />

acoplamento geométrico que influencia as flutuações do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Isto <strong>de</strong>ve-se ao<br />

parâmetro nemático induzir a “curvatura” do espaço, já que a nematicida<strong>de</strong> induz uma “métrica”<br />

flutuante. Em certo sentido, o supercondutor nemático tem uma dinâmica similar a um campo<br />

complexo num espaço curvo.<br />

De posse da teoria completa <strong>de</strong> Landu-Ginzburg, calculamos as equações que levam a minimizar<br />

a energia livre. Como estas equações são bastante complexas, <strong>de</strong>cidimos iniciar seu<br />

estudo no limite <strong>de</strong> London. Nesta aproximação, <strong>de</strong>sprezamos as flutuações dos módulos dos<br />

parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, tanto do supercondutor quanto do nemático. Desta forma obtemos uma<br />

energia livre apenas para as fases. Neste regime, as equações <strong>de</strong> movimento são mais simples.<br />

Procuramos então, soluções com topologia não trivial achando apenas dois tipos: disclinações,<br />

associadas com a fase do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m nemático, e vórtices ligados fortemente<br />

às disclinações. Tem que ser <strong>de</strong>stacado que a solução <strong>de</strong> vórtice isolado não minimiza a energia<br />

livre, pelo menos na aproximação <strong>de</strong> London. Comprovamos que, <strong>de</strong>vido ao acoplamento geométrico,<br />

existe uma interação atrativa logarítmica entre vórtice e a disclinação a qual mantém


79<br />

estas estruturas fortemente ligadas. Quanto maior for a distância que tentamos separar os dois<br />

<strong>de</strong>feitos, maior vai ser a força <strong>de</strong> atração entre eles.<br />

A construção dos diagramas <strong>de</strong> fase na aproximação <strong>de</strong> London nos permite uma boa<br />

visualização <strong>de</strong> como ocorre a formação do estado supercondutor nemático e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nação do<br />

mesmo. Os parâmetros que influenciam a or<strong>de</strong>m ou a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sse estado são a temperatura,<br />

a rigi<strong>de</strong>z da estrutura <strong>de</strong> stripes e a proliferação <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos topológicos, que são os vórtices<br />

para supercondutores e as disclinações para os cristais líquidos nemáticos.<br />

O estado supercondutor nemático po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nar-se em apenas duas situações: Via proliferação<br />

<strong>de</strong> disclinações, o que produz uma transição supercondutor nemático/supercondutor<br />

isotropico, ou pela proliferação <strong>de</strong> vórtices ligados às disclinações, o que produz uma transição<br />

supercondutor nemático/metal isotrópico. Fica claro que estes resultados são consequência da<br />

aproximação <strong>de</strong> London, já que se levarmos em conta flutuações dos módulos dos parâmetros<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, o diagrama <strong>de</strong> fases po<strong>de</strong>ria ser muito mais complexo.<br />

Existem várias perguntas abertas sobre o supercondutor nemático, o que nos motiva para<br />

<strong>de</strong>finir futuras linhas <strong>de</strong> pesquisa. Para uma caracterização mais acurada do diagrama <strong>de</strong> fases,<br />

<strong>de</strong>veriamos ir além da aproximação <strong>de</strong> London, ou seja, levar em conta as flutuações nos módulos<br />

dos parâmetros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Para isto teremos que minimizar a energia livre em função,<br />

tanto dos módulos quanto das fases. Este será o próximo passo para completar a caracterização<br />

termodinâmica <strong>de</strong>ste novo estado supercondutor.<br />

Se este estado supercondutor existir, <strong>de</strong>verá ter consequências experimentais muito claras.<br />

Uma <strong>de</strong>las seria o comportamento da dinâmica dos vórtices. Por exemplo, se os vórtices são<br />

ligados às disclinações, significa que uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Abrikosov <strong>de</strong>veria ser também uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

disclinações. Dado o caráter geométrico <strong>de</strong>stas, <strong>de</strong>veria ser possível sua manipulação por meios<br />

mecânicos. Portanto, uma possível linha <strong>de</strong> pesquisa é estudar os diferentes estados da matéria<br />

<strong>de</strong> vórtices agora ligados as disclinações.<br />

Outra linha <strong>de</strong> pesquisa será a <strong>de</strong>terminação das proprieda<strong>de</strong>s eletrônicas <strong>de</strong>ste estado. Estudaremos<br />

o espectro fermiônico na presença <strong>de</strong> flutuações do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m supercondutor<br />

nemático. Este cálculo é importante, já que a dispersão eletrônica e a forma da superfície <strong>de</strong><br />

Fermi são observáveis típicos em experiências <strong>de</strong> ARPES (“Angle resolved photoemission”).


80<br />

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