Fasceíte plantar: Dr. Pereira de Castro - Revdesportiva.pt

Fasceíte Plantar
abstract
» Rev Medic Desp in forma, 1 (3), pp.7-8, 2010
Dr. A. Pereira de Castro | Especialista em Ortopedia e Traumatologia | Especialista em Medicina
Desportiva | Comissão Médica do Comité Olímpico | Consultor de Ortopedia do Sporting, Sad.
A Fasceíte Plantar é uma das lesões mais frequentes do calcanhar de atletas de fundo e saltadores.
Pode provocar um longo período de incapacidade o que prejudica o planeamento desportivo
do atleta. É uma inflamação da fascia plantar que quando se torna crónica evolui para
tendinose. Factores intrínsecos e extrínsecos podem condicionar o desenvolvimento da lesão.
A dor no calcanhar, mais intensa quando se levanta e coloca o pé no chão é o sintoma mais relevante.
O tratamento é conservador e só em casos extremos é necessário recorrer à cirurgia.
responde quem sabe
Plantar fasciitis is one of the most frequent injuries in the heel of the long distance runners and
jumpers. It can cause a quite long period of incapacity, which disturbs the sports planning of
the athlete. It is an inflammation of the plantar fascia and when it becomes chronic it ends on
a tendinosis. Several intrinsic and extrinsic factors can promote the development of this injury.
Pain in the heel, which is worse after standing and when the foot touches the ground, is the
most relevant symptom. The treatment is conservative and only in extreme cases is necessary
to undergo surgery.
Palavras-chave
Keywords
Talalgia, Tendinose, Calcaneo
(Heel Pain, Tendinosis, Calcaneous)
A Fasceíte Plantar é uma das lesões
mais frequentes em pessoas que praticam
desportos de corrida e de salto.
É a causa mais frequente de dor no
calcanhar em atletas. A fasceíte plantar
constitui uma das mais frequentes
lesões por hiper solicitação, afectando
aproximadamente 10% dos atletas de
corrida, basquetebol, ténis, futebol, ginástica
e outros desportos.
Apesar do prognóstico com cuidados
conservadores ser bom – mais de 90%
dos atletas tem resposta favorável à terapêutica
– a duração prolongada dos sintomas
afecta a participação desportiva.
por traumatismos repetidos conduzem à
degeneração do colagénio. Embora tido
com frequência como um processo inflamatório,
a degenerescência e necrose
das fáscias encontradas na fasceíte plantar
são mais semelhantes à tendinose
do que à tendinite. Durante o repouso a
fáscia plantar tende a retrair-se, motivo
pelo qual a dor se intensifica após o sono
ou depois de muito tempo sentado.
Etiopatogenia
A fasceíte plantar é provocada pela tracção
repetida da fáscia plantar na inserção
no calcâneo, o que leva a microroturas
da aponevrose. Com o tempo, a
fasceíte pode dar origem ao esporão do
calcâneo. As fáscias plantares são aponevroses
fibrosas que proporcionam
apoio importante às arcadas longitudinais
do pé. As microroturas das fáscias
São condicionadas por factores:
Extrínsecos:
• Erros de treino físico, quando é
excessivo e não progressivo;
• Calçado em más condições, sem
amortecimento no calcanhar;
Revista de Medicina Desportiva in forma * Maio 2010

esponde quem sabe
• Treino em piso inadequado (pisos duros).
Intrínsecos:
• Alterações morfológicas do pé
(pés planos ou cavos, calcâneos varos, pronação excessiva);
• Diminuição da força de flexão plantar;
• Retracção ou redução da flexibilidade dos músculos tensores
plantares (tricipete).
Quadro clínico
• Dor intensa sob o calcanhar quando se dá o primeiro passo
ao levantar-se da cama;
• Dor vai diminuindo ao longo do dia;
• Dor no início do treino que depois alivia;
• Nos casos extremos a dor é permanente em cada passo.
Os atletas com fasceíte plantar sentem dor intensa no pé, que se
agrava com a carga nos primeiros passos do dia (dor quando se
levanta e se põe o pé no chão), regredindo em seguida gradualmente
com a actividade do dia. É uma dor profunda na superfície
plantar do pé, na região antero-externa do calcanhar. A dor pode
ser reproduzida pedindo aos doentes para se colocarem em bicos
de pés ou fazer a flexão dorsal do pé. O exame objectivo do pé
revela dor localizada no tubérculo plantar interno do calcâneo.
Deve fazer-se também o exame do tendão de Aquiles.
• Marcha descalço em bicos de pés e sobre os calcanhares na praia;
• Gelo local: banho de gelo (com cuidado) ou massagem da
planta do pé com uma lata gelada de um refrigerante;
• Talas nocturnas;
• Electroterapia: ionizações com dexametasona;
• Infiltrações com corticosteroides em situações renitentes;
• Ondas de choque;
• Ortóteses.
Diagnóstico
O diagnóstico de fasceíte plantar é feito apenas através da história
clínica e do exame objectivo. O Rx é normal ou revela apenas um
esporão do calcâneo. A Ecografia mostra sinais inflamatórios, ao
passo que a RMN mostra sinais semelhantes à tendinose na inserção
no calcâneo. Deve realçar-se que o significado dos esporões
do calcâneo é controverso, pois um estudo em realizado em 1000
doentes revelou uma prevalência de 13% de esporões, mas apenas
5% desses doentes apresentaram história de dor no calcanhar.
O regresso à prática desportiva deve ser feito de forma cuidadosa
e progressiva e quando estiver assintomático.
Diagnóstico Diferencial
• Fractura de fadiga ou stress do calcâneo;
• Sindroma do túnel társico;
• Doença de Sever (apofisite calcaneana) em jovens com 8 a 15
anos de idade;
• Tendinite do flexor do hallux;
• Síndrome da almofada adiposa do calcâneo.
Tratamento
Conservador
• Alongamentos da fáscia plantar e do trícipete sural (exercícios
em bicos de pés num degrau de escada) e ingestão de
antinflamatórios não esteroides;
• Talonetes almofadadas para o calcanhar (silicone ou borracha);
Cirúrgico
Têm indicação cirúrgica os casos que não revolveram conservadoramente
durante um período de 6 meses.
• Técnica com radiofrequência: coblation ou microdebrider;
• Tenólise da fáscia na inserção no calcâneo. A remoção do
esporão é desnecessária.
Bibliografia
1. Clinical Guide to Sports Injuries – Roald Bahr / Sverre Maehlum. Human
Kinetics, Oslo, Noruega, 2004.
2. 20 Common Problems – Sports Medicine – James C. Puffer. Mc Grow
Hill, Nova Iorque, 2002.
3. Sports Injuries. Their Prevention and Treatment, 3ª edição – Lars Peterson
/ Per Renstrom, Martin Dunitz. Londres, 2001.
4. Turek’s Orthopaedics, 6ª edição – Stuart L. Weinstein / Joseph A. Buckwalter.
Lippincott Williams & Wilkins, Baltimore, 2005.
Maio 2010 * www.revdesportiva.pt