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COMUNICADO - Semanário de Jacareí

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<strong>Semanário</strong> 973 - <strong>Jacareí</strong> (SP), 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2012<br />

Santa Casa é con<strong>de</strong>nada a pagar i<strong>de</strong>nização<br />

por negligência em diagnóstico em 2005<br />

O Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong><br />

São Paulo (TJ-SP) consi<strong>de</strong>rou<br />

proveniente um recurso que<br />

responsabiliza a Santa Casa <strong>de</strong><br />

Misericórdia <strong>de</strong> <strong>Jacareí</strong> pela<br />

morte <strong>de</strong> Sebastião José das<br />

Neves, e con<strong>de</strong>na a instituição<br />

ao pagamento <strong>de</strong> uma in<strong>de</strong>nização<br />

por danos morais que<br />

po<strong>de</strong> passar <strong>de</strong> R$173mil à<br />

mãe do jovem, morto em 2005,<br />

com 35 anos, por consequência<br />

<strong>de</strong> uma fratura no ombro<br />

esquerdo.<br />

O relato da história da morte<br />

<strong>de</strong> Sebastião, sustentado<br />

no processo judicial, constitui<br />

uma sequência bizarra <strong>de</strong> fatos<br />

e negligências. No dia 4 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2005, ele foi visitar<br />

um amigo internado na Santa<br />

Casa. Saiu para beber água<br />

e, ao voltar para o quarto em<br />

que estava, foi abordado com<br />

brutalida<strong>de</strong> por dois guardas<br />

civis, que torceram e puxaram<br />

seu braço esquerdo para<br />

trás, expulsando-o do local<br />

por haver passado o horário <strong>de</strong><br />

visitas. A partir daí, começou<br />

a sentir dores no ombro que<br />

havia sido torcido. Aconselhado<br />

pela família, voltou à Santa<br />

Casa no dia seguinte, <strong>de</strong>sta vez<br />

como paciente. Sebastião foi<br />

atendido pelo médico Ewerton<br />

Ribeiro, que o examinou,<br />

realizou uma radiografia e não<br />

constatou fratura, receitou Di-<br />

A Santa Casa errou duas vezes ao não diagnosticar fratura<br />

clofenato Sódico e o liberou.<br />

A intensida<strong>de</strong> das dores aumentou<br />

e, no dia 6, Sebastião<br />

retornou ao pronto socorro da<br />

Santa Casa, on<strong>de</strong> foi atendido<br />

pelo médico Paulo Risk, que,<br />

segundo relato da mãe apoiado<br />

pela sentença do TJ, “apenas<br />

receitou Dipirona”. A partir<br />

<strong>de</strong> então, o ombro do paciente<br />

começou a inchar, e seu corpo<br />

começou a apresentar manchas.<br />

Preocupados, familiares<br />

o levaram a uma consulta particular<br />

com o ortopedista Junichi<br />

Tamari, no dia 13 <strong>de</strong> outubro.<br />

Com base em uma nova radiografia,<br />

o médico constatou uma<br />

“fratura na extremida<strong>de</strong> distal<br />

da clavícula E”, no ombro esquerdo<br />

<strong>de</strong> Sebastião, além <strong>de</strong><br />

grave infecção, e encaminhou<br />

o paciente para internação.<br />

No dia 17, Sebastião foi internado<br />

na Santa Casa e sofreu<br />

intervenção cirúrgica no ombro,<br />

porém com a fragilida<strong>de</strong><br />

que seu corpo apresentava, não<br />

conseguiu se recuperar e faleceu<br />

no dia 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

2005.<br />

A mãe <strong>de</strong> Sebastião, Maria<br />

Pedro Neves, na época já era<br />

<strong>de</strong>bilitada por um <strong>de</strong>rrame, e<br />

morava com o filho, que a assistia.<br />

Foi ela quem entrou na<br />

Justiça contra a Santa Casa. Na<br />

primeira instância, a sentença<br />

do Juiz substituto Rodrigo Miguel<br />

Ferrari alegou que não havia<br />

“nexo <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>”, ou<br />

seja, a morte <strong>de</strong> Sebastião não<br />

estava relacionada com o ombro<br />

fraturado. A <strong>de</strong>cisão sofreu<br />

recurso e foi revertida pelo TJ.<br />

Logo no início do parecer<br />

da 6ª Câmara <strong>de</strong> Direito Privado<br />

do TJ-SP, formada por<br />

três <strong>de</strong>sembargadores, a hipótese<br />

da inexistência <strong>de</strong> nexo é<br />

contestada: “(...) porque, além<br />

<strong>de</strong> constar expressamente da<br />

certidão <strong>de</strong> óbito como causa<br />

mortis ‘septicemia, abscesso<br />

em ombro esquerdo, hepatopatia<br />

crônica <strong>de</strong>scompensada’, os<br />

dois laudos periciais indiretos<br />

realizados pelo IMESC com<br />

base na documentação trazida<br />

pelas partes não afastaram<br />

a relação <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência<br />

entre a fratura e o processo infeccioso”.<br />

Na prática, o órgão<br />

<strong>de</strong> Justiça sustenta que ficou<br />

claro através do atestado emitido<br />

pela própria Santa Casa que<br />

Sebastião morreu por causa do<br />

ombro fraturado. Além disso, a<br />

entida<strong>de</strong> não apresentou provas<br />

para tentar comprovar a ausência<br />

do nexo entre a fratura no<br />

ombro e o óbito.<br />

O acórdão da sentença do TJ<br />

ressalta, ainda, que a existência<br />

da fratura é incontroversa,<br />

e foi constatada pelo laudo <strong>de</strong><br />

exumação do cadáver <strong>de</strong> Sebastião.<br />

É consi<strong>de</strong>rada também<br />

acusação <strong>de</strong> que o jovem<br />

Foto: <strong>Semanário</strong><br />

teria morrido em conseqüência<br />

do alcoolismo (o que é negado<br />

pela família), e a conclusão é<br />

<strong>de</strong> que mesmo que houvesse<br />

outras causas complicadoras<br />

do estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do paciente<br />

(como hematopatia e uso <strong>de</strong><br />

álcool e drogas), uma análise<br />

clínica a<strong>de</strong>quada com a constatação<br />

da fratura e início <strong>de</strong><br />

tratamento imediato po<strong>de</strong>ria<br />

ter evitado a morte do paciente.<br />

A pena foi fixada em R$80mil<br />

mais 1% <strong>de</strong> juros ao mês <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a data da morte, por isso o valor<br />

atualizado acima <strong>de</strong> R$150mil.<br />

Ainda cabe recurso no STJ<br />

(Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça).<br />

Na opinião da advogada da família,<br />

Marisa Migli, que levou<br />

o recurso ao TJ, dificilmente a<br />

sentença será revertida em uma<br />

nova instância.<br />

Quem representa a mãe da<br />

vítima, que hoje já está com a<br />

saú<strong>de</strong> bem prejudicada, é seu<br />

filho Carlos Roberto Neves.<br />

Ele conta que os dias <strong>de</strong> dor e<br />

internação do irmão foram <strong>de</strong><br />

muito sofrimento e horror para<br />

a família. “É uma coisa que<br />

a gente não enten<strong>de</strong> por que<br />

aconteceu. Não tinha porque”.<br />

Ele relata, ainda, que o atendimento<br />

durante a internação foi<br />

marcado por <strong>de</strong>scaso e falta<br />

<strong>de</strong> higiene. “Teve um dia que<br />

o paciente da cama ao lado do<br />

meu irmão mijou na própria<br />

maca. A urina se espalhou pelo<br />

chão. A enfermeira chegou<br />

para aplicar remédio e simplesmente<br />

abriu as pernas para<br />

não encostar na urina. Imagine<br />

a situação à qual meu irmão<br />

esteve exposto”. O acórdão<br />

do TJ, por sua vez, menciona<br />

o atendimento na fase <strong>de</strong> internação<br />

foi a<strong>de</strong>quado: “(...) no<br />

tocante a tal período não se observa<br />

qualquer irregularida<strong>de</strong><br />

na conduta da ré, que realizou<br />

os procedimentos necessários<br />

para tratamento do paciente”.<br />

A sentença se dá somente pela<br />

negligência ocorrida nos dois<br />

primeiros atendimentos na instituição.<br />

Carlos informou, ainda, que<br />

há um processo em andamento<br />

para tentar responsabilizar<br />

os guardas civis pela morte <strong>de</strong><br />

Sebastião. Os médicos Ewerton<br />

Ribeiro e Paulo Risk não foram<br />

encontrados pelo <strong>Semanário</strong><br />

para expor suas opiniões sobre<br />

o caso.<br />

A Prefeitura, através da Secretaria<br />

<strong>de</strong> Comunicação, optou<br />

por não comentar o assunto ao<br />

<strong>Semanário</strong>. A Administração<br />

também impe<strong>de</strong> que os <strong>de</strong>partamentos<br />

públicos subordinados<br />

a ela o façam. Esta postura<br />

é imposta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 2004, ocasião da reeleição<br />

do ex-prefeito Marco Aurélio<br />

<strong>de</strong> Souza (PT) (2732 dias).<br />

Paciente <strong>de</strong> fibromialgia alega sofrer discriminação<br />

Com 36 anos <strong>de</strong> vida e<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver, Sílvio Gonçalves<br />

enfrenta há cerca <strong>de</strong> 8<br />

anos uma fibromialgia e, recentemente,<br />

foi diagnosticado<br />

com Câncer <strong>de</strong> Pele. Além<br />

das enfermida<strong>de</strong>s, mas não<br />

menos dolorosa, relata uma<br />

enorme dificulda<strong>de</strong> em se<br />

sentir respeitado pelo sistema<br />

público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em <strong>Jacareí</strong>.<br />

Morador do Jardim Paraíso,<br />

ele e sua mulher Tatiana procuraram<br />

o <strong>Semanário</strong> para<br />

contar sua história <strong>de</strong> luta e<br />

sofrimento<br />

Sílvio carrega consigo<br />

uma pilha <strong>de</strong> documentos<br />

médicos, entre diagnósticos<br />

<strong>de</strong> fibromialgia e carcinoma<br />

(câncer), indicações da re<strong>de</strong><br />

pública para tratamento com<br />

a medicação Dolantina, para<br />

acompanhamento especializado,<br />

atestados e inclusive<br />

um prontuário <strong>de</strong> atendimento<br />

da Santa Casa que diz<br />

“possível diagnóstico: <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

químico”.<br />

Este último diagnóstico diz<br />

respeito a um atendimento<br />

ocorrido em 2007 durante<br />

um surto <strong>de</strong> dor supostamente<br />

causado pela fibromialgia.<br />

Como é comum em suas crises<br />

<strong>de</strong> dor, naquele dia ele<br />

chegou a se contorcer <strong>de</strong> dor,<br />

chamando atenção na sala <strong>de</strong><br />

atendimento. Des<strong>de</strong> então, segundo<br />

acusa, os aten<strong>de</strong>ntes da<br />

Santa Casa o consi<strong>de</strong>ram um<br />

viciado. “Sinto que sou visto<br />

como um <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte químico<br />

que vai para o hospital obter<br />

uma dose <strong>de</strong> droga”, conta.<br />

Sílvio conta que é comum<br />

chegar ao ambulatório da Santa<br />

Casa, ficar até 8 horas esperando<br />

por um atendimento e,<br />

quando enfim é atendido, ter a<br />

medidcação trocada por uma<br />

<strong>de</strong> menor efeito, que acaba<br />

sendo menos eficiente no alívio<br />

da dor.<br />

No dia 18 <strong>de</strong> fevereiro, o paciente<br />

chegou a registrar um<br />

boletim <strong>de</strong> ocorrência contra<br />

a Santa Casa sobre a suposta<br />

troca <strong>de</strong> medicamento. O fato<br />

teria se repetido algumas vezes,<br />

inclusive na última quarta-feira,<br />

dia 28, ocasião em<br />

que ele registrou uma reclamação<br />

formal na Santa Casa<br />

e, suspeitando <strong>de</strong> troca <strong>de</strong><br />

medicamentos, pediu um exame<br />

<strong>de</strong> urina para atestar uma<br />

possível ausência da medicação<br />

correta em seu organismo.<br />

Segundo Sílvio, o pedido foi<br />

negado.<br />

Durante alguns surtos <strong>de</strong><br />

dor, Sílvio conta que foi até o<br />

pronto-socorro da Vila Industrial,<br />

em São José dos Campos<br />

e que, ali, nunca teve problemas.<br />

“Quando não me <strong>de</strong>ram<br />

Dolantina, <strong>de</strong>ram Tramadol,<br />

que fez efeito. Se (aqui) eles<br />

não querem dar Dolantina,<br />

que dêem um medicamento<br />

que resolva”. Para sustentar<br />

que não é viciado no medicamento,<br />

Sílvio argumenta que<br />

chegou a ficar 9 meses sem a<br />

medicação, em uma trégua da<br />

doença.<br />

Sílvio tem muito mais a<br />

aparência <strong>de</strong> quem sofre uma<br />

péssima sorte em sua saú<strong>de</strong><br />

do que a aparência <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

químico – e sua mulher<br />

Tatiana não parece uma<br />

mulher que estaria disposta a<br />

<strong>de</strong>dicar sua vida a sustentar<br />

um suposto vício do marido.<br />

Além das aparências, eles<br />

têm indicações, diagnósticos<br />

e receitas<br />

médicas fornecidas<br />

pelo<br />

próprio sistema<br />

público.<br />

Com os<br />

documentos,<br />

i n c l u i n d o<br />

a reclamação<br />

formal<br />

feita nesta<br />

semana, e<br />

cansados <strong>de</strong><br />

esperar uma<br />

mudança no<br />

atendimento,<br />

o casal procurou<br />

uma<br />

advogada, e<br />

preten<strong>de</strong> levar<br />

a questão Sílvio e Tatiana reclamam um atendimento digno<br />

à Justiça.<br />

lida<strong>de</strong>, contudo, a fibromialgia<br />

Além da rotina, e do tratamento<br />

contra o câncer <strong>de</strong> pele, ralice, que trata diversos casos<br />

não causa dores extremas. Do-<br />

que é feito cirurgicamente da doença, conta que nunca<br />

pela remoção dos tumores opta por receitar a Dolantina,<br />

que surgem com frequência medicamento que consi<strong>de</strong>ra<br />

em seu corpo, Sílvio chega “um tiro <strong>de</strong> caminhão em uma<br />

a temer que o diagnóstico <strong>de</strong> formiga”.<br />

Fibromialgia possa estar errado,<br />

dada a constância com cretaria <strong>de</strong> Comunicação, opta<br />

A Prefeitura, através da Se-<br />

que ocorrem os surtos <strong>de</strong> dor por não comentar qualquer assunto<br />

com o <strong>Semanário</strong>, além<br />

e a ineficiência do tratamento<br />

obtido.<br />

<strong>de</strong> impedir que os <strong>de</strong>partamentos<br />

públicos subordinados<br />

A reumatologista Doralice<br />

<strong>de</strong> Souza esclarece que a fibromialgia<br />

é uma doença crô-<br />

imposta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

a ela o façam. Esta postura é<br />

nica, que não representa risco 2004, ocasião da reeleição do<br />

<strong>de</strong> morte, tratável em nível ex-prefeito Marco Aurélio <strong>de</strong><br />

ambulatorial e que causa dores Souza (PT) (2732 dias).<br />

constantes caso não seja tratada<br />

corretamente. Ela explica é uma síndrome, ou estado<br />

A doença - A fibromialgia<br />

que a dor é algo subjetivo, e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, em que o paciente<br />

cada pessoa tem uma sensibi-<br />

sofre, entre outros sintomas,<br />

dor generalizada no corpo. As<br />

causas <strong>de</strong>sta síndrome ainda<br />

não são perfeitamente compreendidas<br />

pela Ciência, mas<br />

seu tratamento é feito a base<br />

<strong>de</strong> medicamentos.<br />

Corpo do paciente possui diversos<br />

tumores por causa <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pele<br />

Fotos: <strong>Semanário</strong>

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