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pra discutir

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Donizete Soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

e gerar<br />

boas conversas por aí<br />

abordagens


série abordagens:<br />

* Ideias Libertárias<br />

* Ilusório, deturpado e falso<br />

* Educomunicação<br />

- desde 1988 -<br />

pela constituição de sujeitos autônomos!<br />

portalgens.com.br<br />

[11] 3714 8158 | 995 691 000<br />

igens@portalgens.com.br<br />

ISBN: 978-85-63081-01-8


Donizete Soares<br />

Pra <strong>discutir</strong><br />

e gerar<br />

boas conversas por aí


Este texto integra a série abordagens, que tem como<br />

objetivo contribuir para a compreensão e o debate das<br />

linhas de pesquisa e ação do INSTITUTO GENS, desde<br />

1988.<br />

Revisão: Isis Lima Soares<br />

São Paulo, fevereiro de 2015<br />

ISBN: 978-85-63081-01-8<br />

pela constituição de sujeitos autônomos!<br />

www.portalgens.com.br<br />

[11] 37148158 | 995 691 000<br />

igens@portalgens.com.br<br />

educação | comunicação | educomunicação | filosofia<br />

Donizete Soares - professor de filosofia, co-responsável<br />

pelo INSTITUTO GENS e pelos projetos 'Cala-boca já<br />

morreu – porque nós também temos o que dizer' e<br />

'Trecho 2.8 – criação e pesquisa em fotografia'.


Sumário<br />

Olá!<br />

Não somos nada disso<br />

Quando falta apoio mútuo<br />

Não fosse a solidariedade...<br />

Sentimento americano<br />

Invasão cultural<br />

'quem nasceu para carneiro....<br />

Dramas humanos na tela da tevê<br />

Gosto não se discute?<br />

Crítico, sim. Desagregador, não.<br />

Poder e Responsabilidade<br />

'quem não se comunica, se trombica'<br />

Que história, não?<br />

Até!<br />

1<br />

2<br />

7<br />

10<br />

15<br />

22<br />

25<br />

33<br />

40<br />

42<br />

45<br />

48<br />

54<br />

56


DISCUTIR<br />

é o mesmo que sacudir, chacoalhar,<br />

bater, ameaçar, quebrar uma ideia,<br />

uma pensamento, um argumento.<br />

CONVERSAR<br />

é o mesmo que conviver, encontrarse<br />

com frequência<br />

gerar boas conversas<br />

é o mesmo que dar vida aos<br />

encontros, a fim de que eles tragam<br />

benefícios a cada um<br />

Atribuição-SemDerivações<br />

CC BY-ND<br />

Esta licença permite a redistribuição, comercial e não<br />

comercial, desde que o trabalho seja distribuído<br />

inalterado e no seu todo, com crédito atribuído ao autor.


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Olá!<br />

Os textos a seguir são exercícios de leitura, compreensão<br />

e interpretação do que temos feito de<br />

nós mesmos. São observações, exclamações, interrogações,<br />

reticências sobre temas relevantes,<br />

que têm a ver com a nossa vida individual e coletiva<br />

e, por isso mesmo, pouco [ou quase nunca]<br />

lembrados, pensados e comentados na família, na<br />

escola, nas mídias...<br />

Interessa, então, abordar alguns deles e contribuir<br />

para que sejam conhecidos e debatidos. Tomara<br />

que sirvam para dar início a boas conversas, especialmente<br />

entre os que ainda não tiveram oportunidade<br />

de ouvir e <strong>discutir</strong> ideias e práticas que influenciam<br />

diretamente seus modos de pensar, de<br />

sentir e de se posicionar no mundo.<br />

Espero, sinceramente, co-laborar com você!<br />

1


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Não somos nada disso<br />

É ilusória, deturpada e falsa a ideia largamente<br />

difundida de que somos americanos, europeus,<br />

asiáticos, africanos ou oceânicos. É enganosa –<br />

mais que isso, danosa – a série de divisões e subdivisões<br />

geográficas e políticas imposta a todos<br />

nós. Não somos brasileiros, mexicanos, bolivianos,<br />

canadenses, guatemaltecos... Não somos paulistas,<br />

cariocas, baianos, riograndenses, goianos, mineiros,<br />

catarinenses... Não somos nada disso.<br />

América, Ásia, Europa, África e Oceania – assim<br />

como brasileiros, mexicanos, bolivianos... e<br />

paulistas, cariocas, baianos, catarinenses... – são<br />

termos convencionalmente criados para denominar<br />

milhares de gentes diferentes e únicas.<br />

2


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

São mais uma tentativa – vitoriosa – de acabar<br />

com a diversidade que nos caracteriza e de nos fazer<br />

aceitar ideias e práticas que não dizem respeito<br />

a nós. Mais que isso: são uma forma de investimento<br />

seguro no sentido de apagar nossas origens.<br />

Mesmo assim – mesmo não dizendo nada<br />

que tem a ver com as milhares de gentes diferentes<br />

e únicas –, essas denominações estão aí há<br />

séculos fazendo o maior estrago.<br />

Não somos nem o que aprendemos na escola<br />

e nem o que os chamados 'meios de comunicação<br />

social' [ou mídia] fazem tanta questão de enfatizar.<br />

Em geral, a educação escolar e os meios de<br />

comunicação oficial divulgam [ensinam] apenas o<br />

tipo de ciência ou saber financiados e bancados<br />

por interesses específicos – não raro, diferentes,<br />

distantes e até mesmo contrários à nossa história<br />

mais profunda.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Escola e Mídia, quase sempre, divulgam<br />

saberes que têm a ver, isto sim, com o suposto<br />

direito de alguns de definir e delimitar<br />

espaços, de escolher quem pode ou<br />

não pode habitar esse ou aquele território,<br />

de impor uma língua e um jeito de falar, de<br />

definir qual deve ser sua principal característica<br />

cultural...<br />

Ora, os milhares de grupos humanos espalhados<br />

pela terra são essencialmente marcados por<br />

particularidades e especificidades que [quase]<br />

nada têm em comum com divisões e subdivisões<br />

arbitrárias.<br />

Cada um desses grupos, por conta da língua e<br />

de alguns costumes comuns, tem histórias, trajetórias,<br />

objetivos e interesses igualmente diferentes e<br />

únicos. São diferentes e ponto final!<br />

4


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Não se parecem<br />

– por que teriam que se parecer?<br />

Muitos não querem contatos com outros povos<br />

– por que teriam que querer?<br />

Nem todos tem os mesmos interesses<br />

– por que teriam que ter?<br />

Por outro lado, por que há tanto interesse em<br />

juntá-los, nomeá-los, defini-los e classificá-los?<br />

Por quê?<br />

A ideia de que somos isso ou aquilo é mais<br />

uma das tantas mentiras que, desde crianças, ouvimos<br />

e somos levados a acreditar.<br />

Infelizmente – e sem pensar – a maioria de nós<br />

apenas repete o que aprendeu. E assim, de tanto<br />

ouvir e falar, o que foi e é insistentemente dito e<br />

repetido fica parecendo verdade.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Os mapas políticos descrevem pouco ou nada<br />

do que realmente tem a ver com as origens dos<br />

povos. São apenas e tão somente a expressão de<br />

vontades e, sobretudo, de interesses que não são<br />

nem as vontades e nem os interesses dos que efetivamente<br />

ali nasceram e vivem.<br />

Procure saber os porquês dos continentes<br />

terem recebido os nomes que têm.<br />

Investigue o porquê e o como foi e é feita a<br />

divisão territorial entre países.<br />

Pesquise por que o Brasil tem esse nome,<br />

essa geografia e essa subdivisão política.<br />

Busque saber a história da sua cidade, do<br />

seu bairro, da sua rua.<br />

Entende o quanto é ilusória, deturpada e falsa<br />

a ideia tão difundida de que somos isso e aquilo?<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Quando falta apoio mútuo<br />

Há sempre alguém que realmente precisa do<br />

outro – e, pelos mais diferentes motivos, aceitáveis<br />

ou não, há quem dele necessite até morrer.<br />

Veja mães cujos filhos são portadores de grave<br />

deficiência física e/ou mental e/ou emocional:<br />

quantas delas, várias com idade avançada, não<br />

carregam no colo ou nas costas seus filhos adultos<br />

em busca de atendimento médico!<br />

Como são fortes essas mulheres! De onde tiram<br />

tanta energia? Como lutam pela vida dos filhos!<br />

Seriam mães e filhos, conforme pretendem<br />

certos 'darwinistas', perdedores na competição<br />

pela vida? Seriam os indivíduos mais fracos da espécie?<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Há pessoas que não precisam dos outros por<br />

tanto tempo. Mas necessitam por algum tempo.<br />

Não são dependentes de assistência, mas carecem<br />

de cuidado e atenção, ao menos durante um<br />

período. Caso não sejam atendidas, caso falte solidariedade,<br />

apoio mútuo, tudo fica muito difícil...<br />

Restam-lhes, então, não raro, poucas saídas, dentre<br />

elas, a agressão, o sofrimento e a morte.<br />

Utilizar-se de toda e qualquer forma de agressão<br />

ao outro é muito comum a quem se vê – e realmente<br />

se encontra – sozinho no mundo. Poderia<br />

ele dizer: 'por que não intimidar, roubar, machucar<br />

e até acabar com a vida do outro [qualquer outro],<br />

já que ninguém liga <strong>pra</strong> mim?' Ou então: 'por que<br />

respeitar quem quer que seja se absolutamente<br />

ninguém me respeita?'<br />

Pode haver maior tristeza e solidão do que viver<br />

sem ser aguardado e querido por alguém?<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

De que tanto faz existir ou não?<br />

De ser tratado como coisa qualquer?<br />

Qual é o tamanho do sofrimento para quem o<br />

sentir-se humano é coisa rara ou até mesmo inexistente?<br />

Quanto suporta o corpo e a mente de alguém<br />

que se vê como um ser que não é percebido?<br />

Sofrimento é miséria, penúria, padecimento. É<br />

dor que paralisa e impede qualquer reação. Há<br />

pior dor física e/ou emocional que a provocada<br />

pelo total esquecimento?<br />

Morrer, então, é a última e única saída. É despedir-se<br />

de um lugar para o qual nunca foi bem recebido.<br />

É dizer adeus a quem jamais percebeu<br />

sua existência. É descansar num tempo em que viver<br />

não é o tempo da convivência humana.<br />

Quando falta o apoio mútuo, morrer é, sobretudo,<br />

um ato de denúncia!<br />

9


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Não fosse a<br />

solidariedade...<br />

Quem de nós já não passou por momentos difíceis<br />

na vida? Quantas vezes vivenciamos situações<br />

que pareciam não deixar nenhuma saída?<br />

Felizmente, a maioria de nós consegue, de alguma<br />

forma, se livrar dessas encruzilhadas, se equilibrar<br />

e seguir adiante. Nem todos, contudo, podem dizer<br />

o mesmo. Há os que chegam ao fundo do poço<br />

[ou da fossa – já que o primeiro, geralmente, é limpo],<br />

e por muito pouco não sucumbem...<br />

Muito embora os 'meios de comunicação social'<br />

prefiram fazer shows com a miséria humana,<br />

explorando o que há de mais baixo, tacanho e en-<br />

10


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

fadonho que pode chegar um ser humano, felizmente<br />

há pessoas que não medem esforços para<br />

amenizar o sofrimento de muita gente. Conseguindo<br />

olhar além de si mesmas, dos seus próprios<br />

umbigos, essas pessoas verdadeiramente salvam<br />

[nada a ver com o discurso igrejeiro] a vida de<br />

seus iguais.<br />

Não falo, evidentemente, dos que exploram o<br />

trabalho de seus funcionários e não pagam impostos<br />

sobre suas riquezas, por exemplo, e depois,<br />

para aliviar a consciência, <strong>pra</strong>ticam a tal 'caridade<br />

cristã'. Também não me refiro aos que, para se<br />

mostrarem bonzinhos, fazem doações [vultuosas<br />

ou não] para instituições de caridade ou ONG's<br />

que 'acalmam' as possíveis reações dos que vivem<br />

em situações miseráveis, quase sempre provocadas<br />

justamente por eles.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Seguramente, a miséria social e econômica a<br />

que milhares de seres humanos estão submetidos<br />

não é menor que o nível de miséria humana almejado<br />

e sustentado por quem consegue pegar para<br />

si próprio a riqueza que é produzida pela grande<br />

maioria...<br />

Mas, voltando aos solidários [de verdade], o<br />

que os mobiliza?<br />

Que sentimento é esse que faz com que alguém<br />

deixe de lado os próprios interesses para se<br />

interessar pelos outros, não importando, sobretudo,<br />

quem são esses outros?<br />

O que o leva a deixar de “ganhar dinheiro” com<br />

suas habilidades e seu profissionalismo, e dedicar<br />

parte do seu tempo ao outro sem pensar e querer<br />

nada em troca?<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

A resposta é uma só e tem a ver com o sentimento<br />

mais antigo que o homem desenvolveu: o<br />

apoio mútuo, o que há de verdadeiramente nobre<br />

na história da humanidade, a razão pela qual o ser<br />

humano conseguiu sobreviver durante tanto tempo<br />

na terra.<br />

Se desde o princípio tivéssemos que enfrentar<br />

o tipo de sociedade que hoje mantemos, muito<br />

provavelmente a espécie humana não existiria há<br />

muito tempo.<br />

Enganam-se, pois, os que afirmam que a competição<br />

é a mola mestra da sociedade.<br />

São, no mínimo, falaciosas as afirmações de<br />

que a vida em sociedade é uma contínua competição,<br />

que somente os “melhores” vencem, que o<br />

mercado é o campo ideal <strong>pra</strong> vencer na vida...<br />

Que horror!<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Ao mesmo tempo, enganados, destratados,<br />

destroçados e já tão dilacerados por dentro, não<br />

são poucos os que repetem, sem pensar, afirmações<br />

como estas.<br />

Faz sentido, isto sim, o que disse o geógrafo<br />

russo Kropotkin: nenhuma espécie sobreviveria –<br />

a humana, inclusive – se, a princípio, os iguais não<br />

se juntassem e, assim, se fortalecessem.<br />

Não fosse o sentimento de estar junto, de uns<br />

apoiarem os outros, a necessidade de ser gregário,<br />

isto é, de viver em grupo e coletivamente enfrentar<br />

as adversidades naturais e os animais muito<br />

mais fortes e maiores que os humanos, certamente<br />

não habitaríamos a face da terra há muito<br />

tempo.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Sentimento americano<br />

Há pelo menos um sentimento que nos une e<br />

nos separa no imenso continente americano.<br />

Nos une porque nossos antepassados [nativos]<br />

não tiveram forças suficientes para impedir a ação<br />

de invasores europeus [portugueses e espanhóis,<br />

inicialmente] unicamente ocupados em retirar e levar<br />

nossas riquezas para saciar a fome do monstro<br />

nascente naquelas terras por volta dos anos<br />

1500.<br />

O mesmo pode ser dito dos nativos do Norte,<br />

invadidos e dizimados por gente fugida da Inglaterra<br />

católica, sedenta pelo sangue dos que não queriam<br />

mais ser cristãos de Roma.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Nos une também porque a África cedeu corpos<br />

para serem esfoliados em grande parte do continente.<br />

Como os ameríndios, os africanos escravizados<br />

não tiveram forças suficientes para derrotar<br />

os alimentadores do Capital.<br />

Esse sentimento de perda, de dor, de sofrimento,<br />

de ser explorado e desgastado para servir aos<br />

donos do dinheiro, certamente habita o que há de<br />

mais profundo em cada um nós.<br />

E não tem como não ser assim, já que no Brasil,<br />

por exemplo, a escravidão oficial acabou há<br />

não mais que algumas gerações antes de nós.<br />

Mas a escravidão 'não oficial' não acabou.<br />

A exploração de crianças, adolescentes, jovens<br />

e adultos ainda é realidade neste continente, que<br />

contribui com percentual importante e expressivo<br />

na conta dos atuais milhões de miseráveis e famintos<br />

do planeta.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

O que são favelas, cortiços e assemelhados<br />

[depósitos de gente com pouquíssima ou sem nenhuma<br />

atenção da maioria dos que vivem às custas<br />

dessas gentes] senão a nova senzala? E os<br />

bancos, condomínios, casas e prédios luxuosos –<br />

expressões de enorme riqueza – não são a nova<br />

versão da casa-grande?<br />

Contudo, se esse sentimento que, de alguma<br />

forma, nos une como americanos, também, de alguma<br />

forma, nos separa como americanos porque,<br />

de tanto os ainda colonizadores nos fazerem ocupados<br />

em buscar satisfazer nossas necessidades<br />

básicas [comer e beber e pagar e pagar...], nós temos<br />

uma dificuldade enorme de olhar para o lado,<br />

justamente onde muitos outros, como nós, foram e<br />

são submetidos à condição de viver em busca de<br />

satisfazer necessidades básicas.<br />

17


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Ver e perceber como somos todos muito parecidos,<br />

como vivemos de modo semelhante, é algo<br />

que a maioria de nós ainda não se deu conta.<br />

E nem poderia ser diferente, afinal são mais de<br />

500 anos de pregação/ensino de um determinado<br />

modo de ser, de pensar e de agir que – temos que<br />

admitir, infelizmente! – foram e continuam sendo<br />

muito efetivos.<br />

Ora, se houve – e há – ensino de<br />

verdade, então, há aprendizagem.<br />

Aliás, que aprendizagem!<br />

Em geral, somos compreensivos, obedientes e<br />

muito comportados. Basta alguém se apresentar<br />

impositivo e altivo que logo surgem seguidores,<br />

acatando ordens e cumprindo exatamente 'o que o<br />

mestre mandou'.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Se for <strong>pra</strong> ajoelhar e rezar, por que não? Ajoelhando<br />

e rezando, ganha-se alguma recompensa...<br />

Se esse ou aquele não aceitar as condições impostas,<br />

há milhares que o fariam sem reclamar...<br />

Mas não foi somente esse modo de ser, de<br />

pensar e de agir que aprendemos. Tantos anos de<br />

práticas autoritárias fizeram de muitos de nós mais<br />

do que especialistas em dominar, escravizar e<br />

desgastar os outros.<br />

Há dentro de muitos de nós uma capacidade<br />

incrível de violentar o outro, de acabar com ele,<br />

não importando se esse outro é alguém próximo,<br />

se é membro da família ou se vive em lugares que<br />

a gente nem sabe onde fica.<br />

Muitos de nós aprendemos – e muito bem! –<br />

as técnicas tanto de como levar o outro [qualquer<br />

outro] a viver em condições subumanas como as<br />

de aceitar viver sem dignidade.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Embora esse sentimento que nos une e nos<br />

separa não só habite nosso pensamento mais antigo<br />

como vem sendo fortalecido durante gerações,<br />

certamente não é o único sentimento que, há tanto<br />

tempo, também sobrevive em nosso meio. Fosse<br />

assim, os antigos e novos colonizadores estariam<br />

absolutamente tranquilos e, de modo algum, se<br />

ocupariam com leis, exércitos, planos econômicos,<br />

eleições e, sobretudo, com tecnologias de informação<br />

e comunicação, a maioria delas voltada exatamente<br />

para o controle social.<br />

Ocorre que, dentre os tantos sentimentos que<br />

nos constituem, há um outro que vem antes desse<br />

que nos une e separa.<br />

Um sentimento que, para impedir que aflorasse,<br />

fez com que os colonizadores dizimassem populações<br />

inteiras.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Um sentimento que, para não ser aflorado, faz<br />

com os governos, por convenção mundial, se obriguem<br />

a acabar com a mortalidade infantil mas, por<br />

outro lado, por não investirem em políticas sociais<br />

destinadas aos mais jovens, simplesmente adiam<br />

a mortalidade de crianças, permitindo que sejam<br />

mortas aos 10, 15, 18 ou 20 anos.<br />

O fato é que, por mais que sejam fundamentadas,<br />

testadas e aplicadas com todo o rigor, as pedagogias<br />

dos invasores não conseguem acabar<br />

com o sentimento de liberdade das pessoas.<br />

Ou seja: porque há liberdade, as pessoas aceitam<br />

a condição de escravidão ou não.<br />

Ser livre ou não ser livre – esta é a questão!!!<br />

21


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Invasão cultural<br />

Que as TIC´s [tecnologias da informação e da<br />

comunicação] estão cada vez mais presentes no<br />

dia a dia dos mais diferentes grupos sociais da<br />

América Latina, é mais que evidente.<br />

Que regem a vida de cada um de nós e de todos<br />

os grupos sociais, já é realidade.<br />

Que, em geral, trazem benefícios individuais e<br />

coletivos, não há como não admitir.<br />

Mas ninguém nos consultou se queríamos ou<br />

se precisávamos de tudo isso que se nos impõe<br />

como necessário, útil e benéfico. Ninguém nos<br />

perguntou se estávamos interessados...<br />

E, assim como das outras vezes, continuam a<br />

nos enfiar goela abaixo ideias e produtos.<br />

22


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

E nos convenceram de que realmente precisamos<br />

dessa parafernália toda <strong>pra</strong> viver. E nós aceitamos,<br />

assim como um velho filme que, de tantas<br />

vezes visto, sabemos de cor o enredo e a sequência<br />

das cenas... Mais uma vez, aceitamos consumir<br />

e não criar, admirar e não inventar, acatar e<br />

não questionar. Decidimos ser objetos e não sujeitos.<br />

O que dizer de muitos entre nós que, mesmo<br />

sem poder com<strong>pra</strong>r tantos produtos, endividam-se<br />

ou simplesmente babam diante de tantos equipamentos?<br />

A saída possível – realmente possível – é criarmos<br />

condições para que um número cada vez<br />

maior de pessoas, desde a mais tenra idade, se<br />

aproprie tanto do 'como fazer informação e comunicação'<br />

como das tecnologias que se nos apresentam<br />

como tão necessárias, úteis e benéficas.<br />

23


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Como assim?<br />

Fazendo com que os equipamentos [cada vez<br />

mais baratos e acessíveis, de acordo com a estratégia<br />

dos invasores] sejam conhecidos e manipulados<br />

por toda e qualquer pessoa, a fim de que elas<br />

os utilizem para, se quiserem, expressarem [do jeito<br />

que bem entenderem] o que sentem e pensam.<br />

É possível que, a partir daí, mudando-se o<br />

ponto, a vista também mude...<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

'quem nasceu para<br />

carneiro não se espante<br />

quando é comido'<br />

Sabe quem falou isso ai?<br />

Nem imagino.<br />

Foi o Bocarra, o P.P. Bocarra.<br />

Quem é esse cara?<br />

Pedro Paulo Bocarra, o Rei da Carne de Chicago.<br />

Nunca ouvi falar dele.<br />

É um personagem de 'A Santa Joana dos Matadouros',<br />

do alemão Bertold Brecht [1898/1956].<br />

Sabia, não. Conheço pouco o Brecht.<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

O pano de fundo dessa peça é a Queda da Bolsa<br />

de Nova Iorque, em 1929, que foi, segundo dizem,<br />

a primeira e maior crise do capitalismo. Os donos<br />

do dinheiro produziram muito, mas não tinha quem<br />

com<strong>pra</strong>sse os seus produtos. Havia mais oferta<br />

que procura. Então, a quebradeira foi geral. Os endinheirados,<br />

inclusive os do Brasil, que na época<br />

eram os fazendeiros do café, se ferraram... e o<br />

povo [principalmente] também...<br />

E o que é que Santa Joana tem a ver com isso?<br />

Negociando carne, o Bocarra era o maior poderoso<br />

em Chicago. Ele controlava o mercado. Com<strong>pra</strong>va<br />

e vendia do jeito que bem entendia, de<br />

modo que todos os outros braços do negócio, tipo<br />

criadores, transportadores, investidores, industriais<br />

etc. dependiam dele, quer dizer, do dinheiro dele.<br />

... E a Santa Joana?<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Acontece que quem mais dependia do homem<br />

eram os trabalhadores que, embora perdessem<br />

suor e sangue e vida nos matadouros de bois, porcos,<br />

carneiros e outros animais... recebiam salários<br />

baixíssimos e viviam em condições miseráveis.<br />

Joana era uma dessas desgraçadas e, para compor<br />

o belo quadro da exploração, fazia parte de um<br />

grupo religioso que, como sempre, cumpre muito<br />

bem o seu papel de domesticar os homens,<br />

amansá-los, prometendo vida boa e felicidade em<br />

outro tempo [depois da morte] e lugar [o que chamam<br />

de céu].<br />

Joana fazia parte do jogo, ao lado de Bocarra...<br />

Não. Ela enfrentou o cara. Por várias vezes, frente<br />

a frente, disse ser ele o responsável pela miséria<br />

daquela gente toda. Falou em nome dos famintos...<br />

Cobrou dele outras atitudes...<br />

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donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

E o cara?<br />

Até que ouviu a menina [tinha uns 20 anos] e chegou<br />

a dizer que admirava a coragem e ousadia<br />

dela e coisa e tal, mas absolutamente nada alterou<br />

o seu jeito burguês de ser e de viver e de viver da<br />

exploração do outro, ou melhor, de todos os outros.<br />

Joana, por essas e por outras, passou a ser<br />

reconhecida e respeitada pelos miseráveis.<br />

E ela virou santa por causa disso?<br />

Mais ou menos. No momento mais crítico da quebradeira,<br />

em que as condições tendiam somente a<br />

piorar, em que o Bocarra e seus braços estavam<br />

aparentemente na pior, em que uma multidão de<br />

famintos podia estourar como gado, em que uma<br />

possível greve geral poderia paralisar de vez os<br />

negócios do rei da carne e, aí sim, complicar a<br />

vida dos homens do dinheiro, em que...<br />

28


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

E daí?<br />

Joana, mais uma vez, enfrentou os poderosos, dizendo<br />

coisas que eles sabiam muito bem serem<br />

verdadeiras, mas não queriam que os outros ouvissem,<br />

porque simplesmente não convém que esses<br />

outros, sempre muitos outros, ouçam e saibam<br />

de coisas que possam vir a complicar os que sabem<br />

muito bem o que significa a separação entre<br />

uns e outros...<br />

... E a Joana?<br />

Passou um tempo, ela foi ameaçada, perseguida,<br />

de algum modo ferida e levada <strong>pra</strong> morrer diante<br />

de Bocarra, em seus braços. Foi quando, então,<br />

ela virou santa. Ou melhor, os endinheirados, convenientemente,<br />

fizeram dela uma santa. Colocaram<br />

bandeiras sobre o seu corpo e, junto com os<br />

miseráveis, na frente e ao lado deles, velaram a<br />

29


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

'Santa Joana dos Matadouros'.<br />

Caramba!!!<br />

Muito espertamente, os endinheirados perceberam<br />

que a morte de Joana era um momento excelente,<br />

um fato primoroso que não podia deixar de ser capitalizado.<br />

Se ficassem ali e fizessem as honras fúnebres<br />

ao corpo da menina guerreira, que em vida<br />

teve a petulância de se dirigir a eles, os poderosos,<br />

e desafiá-los em favor dos miseráveis e famintos<br />

como sempre; se eles permanecessem ali<br />

por algum tempo, certamente aqueles desgraçados<br />

não os veriam e os tratariam como, de fato,<br />

eles mereceriam ser vistos e tratados, mas, ao<br />

contrário, como pessoas boas, tão humanas a<br />

ponto de elegerem a brava e defunta lutadora<br />

como 'A Santa Joana dos Matadouros'...<br />

Sacanagem!!! Muita sacanagem!!!<br />

30


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Pois é, agora que você sabe quem é o tal do Bocarra,<br />

personagem de 'A Santa Joana dos Matadouros',<br />

do Brecht, entende o que ele falou? Entende<br />

que 'quem nasceu para carneiro não se espante<br />

quando é comido' é bem mais que uma frase<br />

de efeito? Que um cara como Bocarra – rico<br />

porque vive da miséria de muitos, e vivo porque se<br />

nutre do sangue dos animais e do sangue dos homens<br />

que matam os animais – não joga uma palavra<br />

fora e nem brinca em serviço? Que para ele,<br />

assim como para seus iguais, há um matadouro –<br />

lugar cuja única razão de existir é acabar com a<br />

vida do outro – separando pessoas?<br />

Entendo, sim. E, cá entre nós, não há novidade alguma<br />

nessa história. Eu não conhecia esse tal Bocarra,<br />

mas bocarras não faltam. Ao contrário! Não<br />

faltam nem bocarras e nem seus matadouros...<br />

31


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Eles estão estrategicamente espalhados por aí, e<br />

interpretando, cada vez melhor, os seus papéis.<br />

Miseráveis também não faltam. Pra não mexer no<br />

cenário, basta um <strong>pra</strong>to de sopa e uma promessa<br />

qualquer. Não são poucos os que que ainda caem<br />

nessa conversa! E para que o espetáculo continue,<br />

é preciso que Joana exista; que ela fale, que<br />

grite, que corra e que morra... assim... sofrendo<br />

muito... até ser transformada em santa... Ora, ora,<br />

não há matadouros sem santos e santas... e bocarras!<br />

Depois de Joana, virão outras e, muito provavelmente,<br />

passarão por situações parecidas<br />

com as que ela passou. E, assim como a Joana<br />

de Brecht, talvez sejam transformadas em santas<br />

joanas também...<br />

32


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Dramas humanos na tela<br />

da tevê<br />

Observe como a mídia oficial/comercial trata os<br />

dramas humanos. Em especial as tevês, o que<br />

buscam e mostram? Esbanjam cenas carregadas<br />

da dor e da tristeza dos outros – os 'protagonistas'<br />

de suas esperadas e, mais que isto, aguardadas<br />

narrativas.<br />

Quem está mais abatido? Quem está sofrendo<br />

mais? Qual o melhor ângulo, o melhor enquadramento?<br />

E as coisas, os lugares destruídos, as<br />

pessoas – especialmente as pessoas? Onde elas<br />

estão concentradas? É fundamental que elas apareçam<br />

chorando e desesperadas. Tem alguém revoltado<br />

e bravo?...<br />

33


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

O repórter tem a pachorra de perguntar às vítimas<br />

o que sentiram na hora trágica. Embarga a<br />

voz e – não importando se são crianças, jovens ou<br />

velhas – pede que falem sobre o que elas querem<br />

fazer daí <strong>pra</strong> frente... E continua a entrevista emocionada<br />

até o momento em que ouve do entrevistado[a]:<br />

“não há o que fazer”, “é assim mesmo” e<br />

“é vontade de deus”...<br />

[O máximo! - exatamente o que esperava.]<br />

Em seguida, com ar sério e algo preocupado,<br />

falam os apresentadores ou âncoras que, em geral,<br />

dizem o mesmo que já foi dito e mostrado. Tecem<br />

alguma consideração que nada acrescenta,<br />

para, logo depois, abrirem um sorriso e anunciar<br />

[depois dos comerciais] a próxima notícia que, em<br />

geral, nada tem a ver com a tragédia.<br />

34


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

É claro que este modo de tratar as desgraças<br />

humanas não é uma novidade inventada pela mídia<br />

oficial/comercial. Em particular, os jornais televisivos<br />

deixam muito a desejar em matéria de...<br />

matérias jornalísticas. Por conta do modelo adotado<br />

– que “vende bem”; caso contrário, seria outro<br />

o modelo –, quem nele trabalha não somente é<br />

pago pelos 'donos da mídia', mas aceita, concorda,<br />

sustenta e mostra a própria cara no que há de<br />

pior em termos de tratamento da informação.<br />

Muito antes dos negócios tão bem explorados<br />

da mídia oficial/comercial, a igreja católica tratou<br />

de “capitalizar” os dramas e as inevitáveis dores<br />

humanas; e não somente ela, mas tantas outras<br />

que, hoje mais que nunca, aparecem nas ruas,<br />

<strong>pra</strong>ças e becos... sempre lugares pobres, evidentemente.<br />

35


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Com escola tão boa e eficiente, como não<br />

aprender? Com exemplos tão edificantes, como<br />

não se tornar especialista na capacidade de explorar<br />

o outro, sobretudo quando ele mais precisa da<br />

solidariedade dos seus iguais?<br />

Você conhece alguma igreja que, mesmo pregando<br />

o tempo todo a preocupação com o homem,<br />

não explora justamente a fragilidade humana, em<br />

especial a dor provocada pelas situações dramáticas?<br />

Não dizem elas que o céu não é <strong>pra</strong> qualquer<br />

um, mas somente para os que sofrem sem deixar<br />

de frequentá-las e, claro, contribuir com a tal 'obra<br />

do criador'?<br />

[O que não dizem e fazem para encher a sacolinha?!]<br />

36


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Mas o que pretendem as empresas que controlam<br />

a mídia oficial/comercial? Seguramente, nada<br />

que tenha a ver com solidariedade – termo, aliás,<br />

que não cabe no vocabulário empresarial. Ao contrário,<br />

o que sustenta o sistema econômico que,<br />

juntos, mantemos é justamente a exploração do<br />

homem pelo homem. No máximo, falamos em 'ajudar'<br />

o outro, nos moldes do que a igreja católica difundiu<br />

como 'caridade'. Nada mais que isto!<br />

Ora, como são empresas [nos tempos recentes,<br />

igrejas também funcionam como empresas],<br />

são formas de investimento de capital – e capital,<br />

se não for transformado em mais capital, simplesmente<br />

desaparece –, a única coisa que interessa é<br />

o lucro, o aumento do capital. Portanto, tudo vale.<br />

Vale tudo! Afinal, a dor é um grande negócio!<br />

[a dor dos outros, obviamente]<br />

37


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Há muito, sabemos o quanto a dor e a desgraça<br />

do outro nos chamam a atenção – dura e triste<br />

essa constatação, sem dúvida, mas há como dizer<br />

o contrário?<br />

Geralmente, expressões de alegria e felicidade<br />

incomodam e geram reações contrárias às expressões<br />

de dor e tristeza. Gostamos de festa, mas o<br />

que nos envolve e comove mesmo é o luto...<br />

Quantos de nós nos alegramos com a alegria do<br />

outro? O mesmo não ocorre com relação à sua<br />

dor; não raro, sofremos com os seus sofrimentos,<br />

choramos com ele, não importando se é alguém<br />

próximo ou não. Aprendemos a ser solidários na<br />

tristeza.<br />

Tanto as igrejas como as empresas de mídia<br />

sacaram bem essa nossa fragilidade. Mas, sobretudo,<br />

contaram e contam com o nosso consentimento<br />

para operarem dessa maneira.<br />

38


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Não fosse assim, as empresas não teriam<br />

aprendido tão bem como aprenderam as lições<br />

das igrejas e, ambas, não alcançariam o sucesso<br />

que se renova a cada dia. São muito parecidas<br />

tanto nos propósitos quanto nos resultados: partilham<br />

os mesmos espaços, buscando o mesmo público;<br />

vendem as mesmas ideias, produtos e serviços;<br />

disputam a tapa os mesmos consumidores;<br />

direta e indiretamente, visam e obtém lucros.<br />

Há quem diga que 'a gente se vê na tela da<br />

tevê'. É possível, já que muitos se deixam [ou fazem<br />

questão de] mostrar, expondo efeitos da tragédia<br />

que resulta da nossa dificuldade de nos ver<br />

como meros consumidores de ideias e valores.<br />

De tão embaçadas de água benta, nossas vistas<br />

se contentam em contemplar os dramas humanos<br />

na tela da tevê...<br />

39


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Gosto não se discute?<br />

Gosto não se discute – diz o senso comum. O<br />

que, certamente, é um exagero. Simplesmente<br />

porque a opção por isso ou aquilo é definida por<br />

variáveis que independem de um possível e desejável<br />

sentido puro. A escolha do <strong>pra</strong>to preferido, do<br />

estilo musical ou do tipo de obra de arte... são opções<br />

perpassadas por elementos que vão da origem<br />

familiar à quantidade de dinheiro que se tem<br />

no bolso. Antes, durante e depois de tudo o que<br />

possa se referir ao gosto, opção ou preferência há<br />

o meio no qual se está envolvido. O indivíduo altera,<br />

altera-se e é alterado por outros indivíduos,<br />

conforme as circunstâncias. Gosto, então, se discute<br />

sim.<br />

40


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Opções e preferências não caem do céu ou<br />

brotam puras em algum lugar. São, ao contrário,<br />

construções históricas. São produções coletivas<br />

definidas por situações que, juntamente com outros<br />

indivíduos, envolvem necessidades e interesses<br />

diversos e inevitavelmente conflitantes.<br />

41


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Crítico, sim.<br />

Desagregador, não.<br />

Tecer considerações favoráveis ou não às<br />

ações dessa ou daquela pessoa ou instituição é<br />

algo absolutamente legítimo sob qualquer ponto<br />

de vista. Dizer o que pensa, sente ou acha a respeito<br />

de quem quer que seja é, igualmente, direito<br />

de toda e qualquer pessoa, independente dela estar<br />

ou não integrada num determinado grupo social,<br />

assim como participar ou não de qualquer ação<br />

desse grupo.<br />

Quando se está à frente de alguma ação coletiva,<br />

então, o exercício da crítica constante e radical<br />

é uma necessidade absolutamente intrínseca à<br />

própria ação.<br />

42


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Caso contrário, estão comprometidas tanto a<br />

seriedade da intenção quanto a continuidade da<br />

atuação. A constância e a radicalidade da crítica<br />

fazem dela algo mais sério do que gostar ou não<br />

de alguém, ser simpático ou não às ações de alguma<br />

instituição.<br />

A crítica vai muito além de falar mal de alguém<br />

ou de um projeto... Isto porque, para ser crítica,<br />

nada efetivamente escapa do olhar e da análise<br />

daquele que, legitimamente, a exerce.<br />

Quem olha criticamente o faz de modo analítico,<br />

ou seja, de-compõe, des-mancha, des-faz o<br />

objeto criticado.<br />

Neste sentido, a crítica verdadeira e honesta é<br />

sempre destrutiva: ela des-constrói o que se lhe<br />

mostra arranjado, montado, definido... verdadeiro.<br />

Não há, pois, crítica construtiva.<br />

Seu alvo são as ações.<br />

43


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Em nenhum momento, portanto, se justifica<br />

destrato ou ofensa aos formuladores e/ou realizadores<br />

das ações. O que se des-constrói são os objetivos,<br />

os modos como se <strong>pra</strong>ticam as ações, os<br />

fins a que elas se destinam. As pessoas envolvidas<br />

nessas ações são absolutamente dignas de<br />

todo respeito.<br />

Ninguém tem direito de destratar ou ofender alguém.<br />

Por sua vez, receber e acatar críticas são<br />

ações de dignidade ímpar...<br />

44


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Poder e<br />

Responsabilidade<br />

Para quem trabalha com gestão de pessoas, é<br />

fundamental compreender [e bem] a relação entre<br />

os termos que formam o título deste texto.<br />

Acredita-se que o sucesso de qualquer projeto<br />

está associado à divisão de responsabilidades:<br />

“cada um fazendo bem a sua parte, todos ganham”.<br />

Cria-se grupos de trabalho, distribui-se funções<br />

e, claro, alguém ou um pequeno grupo de<br />

pessoas [a 'liderança'] assume a frente das ações.<br />

Se os resultados forem bons, os 'líderes', em<br />

geral, guardam para si mesmos os “louros” do empreendimento;<br />

até reconhecem o trabalho da equipe,<br />

mas o brilho e a fama não são divididos.<br />

45


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Entretanto, contudo, todavia, se as dificuldades<br />

aparecerem mais que os resultados esperados,<br />

outras coisas são ditas, outros são os procedimentos:<br />

a 'liderança' faz questão de dividir com todos a<br />

responsabilidade pelo fracasso, espalhando culpas<br />

– palavra horrível! – para todos os lados.<br />

Ora, qualquer projeto realmente importante<br />

– desde que decorra do sonho e/ou da necessidade<br />

das pessoas alterarem a realidade<br />

em que vivem – está inevitavelmente<br />

fadado ao sucesso.<br />

Se ele não acontece, e/ou se as dificuldades<br />

insistem em superar as possibilidades, é preciso<br />

investigar o tipo de gestão implantada pela 'liderança'<br />

e acatada pelos grupos de trabalho: divisão<br />

de responsabilidade e concentração de poder.<br />

46


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Adotando-se a gestão participativa, a divisão a<br />

ser feita não é de responsabilidade – uma vez que<br />

é absolutamente imprescindível cada um assumir<br />

a parte que lhe cabe –, mas de poder.<br />

O poder é que deve ser dividido, jamais<br />

concentrado. Centralizar as decisões e dividir<br />

responsabilidades é a principal característica<br />

da gestão autoritária.<br />

É mais que necessário, portanto, saber diferenciar<br />

bem um termo do outro para que o tipo de<br />

gestão adotada nas ações coletivas não apareça<br />

uma coisa e, na verdade, seja outra.<br />

O sucesso de um projeto nunca é individual,<br />

mas sempre coletivo. O fracasso, por sua vez, é<br />

individual e coletivo.<br />

47


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

'quem não se comunica<br />

se trombica'<br />

É comum ouvirmos dizer que estamos na Era<br />

da Informação, e quem for atento à tecnologia certamente<br />

estará à frente da maioria das pessoas.<br />

Caso contrário, ficará inevitavelmente jogado às<br />

traças.<br />

A mídia [sobretudo tevê, rádio e jornal], então,<br />

trata de disseminar essa ideia, obtendo brilhante<br />

êxito. Ela se orgulha ao afirmar que é portadoras<br />

dos ideais que necessitamos para viver nos tempos<br />

atuais.<br />

Tempos, aliás, sombrios, especialmente marcados<br />

pela força e dominação de uns poucos sobre<br />

a imensa maioria.<br />

48


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Quantos de nós têm acesso aos 'benefícios da<br />

tecnologia', já que milhões de pessoas vivem em<br />

condição inferior ao mínimo de dignidade humana?<br />

Nosso tempo é o mais prodigioso da história<br />

em termos de invenções e novidades, mas é também<br />

o mais violento e profundamente marcado<br />

pelo desrespeito ao ser humano e à natureza.<br />

Em nenhum outro momento da história fomos,<br />

ao mesmo tempo, tão grandiosos e tão mesquinhos,<br />

tão ousados e tão covardes, tão humanos e<br />

tão desumanos...<br />

De informação e boa intenção tanto o inferno<br />

como a terra estão cheios. As consequências são<br />

amplamente conhecidas e sofridas na pele de milhares<br />

de pessoas.<br />

Por quê e para quê tanta informação? Melhor:<br />

a quem efetivamente interessa tamanha tecnologia<br />

da informação?<br />

49


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

O que justifica o investimento cada vez maior<br />

na pesquisa e produção de variados equipamentos<br />

de informação?<br />

O que mobiliza um pequeno grupo de pessoas<br />

tão envolvidas e interessadas em adquirir, vender,<br />

trocar e guardar... informação?<br />

Ora, se a fome é o que mais mata no mundo;<br />

se a maioria absoluta dos grupos humanos<br />

não vive de acordo com suas respectivas riquezas,<br />

já que os bens produzidos socialmente<br />

não são distribuídos socialmente;<br />

se apenas um pequeníssimo grupo de pessoas<br />

concentra e detém em suas mãos, além<br />

das riquezas, o controle sobre a tecnologia [financiada<br />

por toda a sociedade] – tanta informação<br />

só pode ter um objetivo: impedir que<br />

esse quadro se altere.<br />

50


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

***<br />

Há, todavia, outra opção: comunicação como<br />

processo que tem como marca maior a ação em<br />

comum. Ou Comunicação = ação em comum<br />

como desdobramento do conjunto de ações individuais<br />

elaboradas de pensamento crítico sobre<br />

convivência social.<br />

Trata-se, portanto, de um processo pautado no<br />

respeito e no compromisso com o outro. Respeito:<br />

aceitação e tolerância com o diferente, com quem<br />

pensa e age de modo diverso do nosso. [Respeitar<br />

(re = de novo + espectar = olhar) é olhar de<br />

novo, prestar atenção.] Compromisso: não como<br />

fidelidade a um outro, mas com qualquer outro, independente<br />

de ser ou não conhecido nosso.<br />

[Compromisso é o mesmo que promessa, que é o<br />

mesmo que dar a própria palavra.]<br />

51


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Ora, se formos críticos ante às mensagens insistentemente<br />

bombardeadas pela mídia, certamente<br />

não permitiremos que muita coisa continue<br />

acontecendo. Perguntaremos, por exemplo, que<br />

tipo de respeito e compromisso têm conosco os<br />

que a operam? De onde falam e o que pretendem<br />

com suas afirmações, negações, acusações, condenações<br />

e absolvições? Quem são os autores<br />

dos textos que publicam, as vozes que difundem e<br />

o que querem com as imagens que colocam no<br />

ar?<br />

Nesse caso, estaremos dando início a Era da<br />

Comunicação - tempo marcado pelo estar com o<br />

outro, do não ficar à sua frente ou segui-lo, mas<br />

caminhar ao seu lado; tempo em que ter respeito e<br />

compromisso com o outro é ser companheiro e<br />

parceiro, jamais superior ou inferior a ele.<br />

52


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

***<br />

Não sei o que o Chacrinha - um nome da televisão<br />

do Brasil - queria dizer quando repetia que<br />

“quem não se comunica se trombica”. Nem sei o<br />

que ele pensava exatamente sobre comunicação.<br />

Pouco importa! O que vale é que sua frase,<br />

tantas vezes repetida, serve para dizer que a ação<br />

em comum é a nossa única saída.<br />

Afinal, quem é companheiro não é carregado e<br />

nem carrega ninguém, mas oferece o ombro e<br />

aceita o ombro do outro.<br />

Quem é parceiro, divide poder e assume responsabilidades.<br />

Nunca o contrário.<br />

53


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Que história, não?<br />

Triste, doloroso, infeliz, desgraçado, medíocre,<br />

desprezível, baixo, deplorável... – que outros adjetivos<br />

há para qualificar o que o homem tem feito<br />

de si mesmo e do outro no decorrer dos tempos?<br />

A história do homem é a história da exploração<br />

do homem pelo homem – como negar esta afirmação?<br />

O que chamamos história da humanidade é a<br />

simples constatação de que não houve e nem há<br />

limites para esse tipo de exploração – como negar<br />

também essa afirmação?<br />

Absolutamente nada impediu e impede o homem<br />

de desgastar e esgotar outro ser igual a ele.<br />

54


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

O interessante, contudo, é que o homem que<br />

submete o outro torna-se submisso de quem aceita<br />

a submissão, estabelecendo um tipo de relação<br />

que é lamentável.<br />

Longe da condição de sujeitos que realizam<br />

ações, transformam-se em meros objetos sofrendo<br />

ações decorrentes das condições que ambos definiram<br />

para si mesmos. Os laços que criam são<br />

correntes que os mantém interna e externamente<br />

dependentes um do outro.<br />

Tem como negar a tese de que ainda não saímos<br />

da pré-história da humanidade?<br />

55


donizete soares<br />

<strong>pra</strong> <strong>discutir</strong><br />

Até!<br />

Insisto na ideia de co-laborar com você, despertando<br />

seu interesse e empenho para o intenso e constante<br />

debate sobre certas ideias e práticas, não por<br />

acaso devastadoras da nossa vida individual e coletiva.<br />

Minha intenção foi [continua sendo] provocar,<br />

gerar incômodo, desconforto, dúvidas, desconfiança...<br />

Mas é preciso mais: é muito importante<br />

não se conformar com o que está escrito, ir além,<br />

investigar, escarafunchar, consultar, conferir...<br />

Se você leu esses exercícios de leitura, compreensão<br />

e interpretação do que temos feito de nós mesmos,<br />

é possível – tomara! – que continue pensando<br />

e conversando sobre eles. Ao menos enquanto<br />

isto acontecer, muitos pensamentos, sentimentos,<br />

posicionamentos hão de sofrer alguma alteração.<br />

Estou certo disso!<br />

56


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Palestras<br />

EDUCAÇÃO<br />

* Papel do professor nas<br />

diferentes concepções de<br />

educação e de escola<br />

* Por que os saberes tradicionais<br />

não estão na ‘grade’ curricular?<br />

* Pedagogia tecnicista – o que é<br />

isto?<br />

* ‘Se não for libertária, toda<br />

pedagogia é autoritária*<br />

* Concepções críticas de<br />

Educação<br />

* Escola e Violência Simbólica<br />

* Eixos Transversais na<br />

Educação Escolar<br />

* ‘Para não criar mamíferos de<br />

luxo’<br />

* “Os resultados do ensino ou não<br />

têm importância ou são<br />

perniciosos”<br />

* Concepções ingênuas de<br />

Educação<br />

* Temas Geradores<br />

* Grêmio Estudantil – por que<br />

não?<br />

COMUNICAÇÃO<br />

* Mídia e Preconceito<br />

* Ilusório, deturpado e<br />

falso<br />

EDUCOMUNICAÇÃO<br />

* ‘Educação pelos<br />

meios de comunicação’<br />

* Educomunicação – o<br />

que é isto?<br />

* Cobertura de evento<br />

na perspectiva da<br />

Educomunicação<br />

FILOSOFIA<br />

* Aspectos da Ética<br />

* ‘Alegoria da Caverna’,<br />

de Platão<br />

* O lixo como problema<br />

* Assujeitamento ou<br />

Subjetivação<br />

* Sociedade de controle<br />

* Modos de conhecer o<br />

mundo<br />

* Ética e Relações<br />

Humanas


Oficinas<br />

Artes Visuais e Conhecimento<br />

do Mundo [24 horas]<br />

* Pessoas, lugares e<br />

paisagens: a fotografia do<br />

ponto de vista da criança –<br />

uma forma prática de<br />

conhecer outros tipos de<br />

leitura de mundo.<br />

Eixo transversal Consumo<br />

[4 horas]<br />

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publicitários que contribuem<br />

para a formação de crianças<br />

e adolescentes cada vez<br />

mais consumistas.<br />

Cultura digital [18 horas]<br />

* Uso do blog como registro<br />

das atividades realizadas por<br />

professores na sala de aula.<br />

Linguagem oral e escrita<br />

[24 horas]<br />

* Criação coletiva de notícias<br />

através de texto escrito,<br />

fotografia e vídeo em forma<br />

de jornal digital.<br />

Leitura crítica de<br />

programas da TV<br />

[4 horas]<br />

* A força da TV na<br />

formação de<br />

valores e suas<br />

relações com<br />

ideias, sentimentos<br />

e comportamentos<br />

de adultos<br />

Produção coletiva de<br />

comunicação e/ou<br />

Comunicação<br />

Comunitária na<br />

perspectiva da<br />

Educomunicação<br />

[carga horária<br />

variável]:<br />

Atividades<br />

associadas a<br />

língua, geografia,<br />

história, ciências,<br />

artes, sociologia,<br />

filosofia...<br />

* Rádio<br />

* Vídeo<br />

* Fotografia<br />

* Redes Sociais


Cursos<br />

DE CURTA DURAÇÃO<br />

cada uma das palestras é também título de<br />

curso, com duração de 3 a 12 horas cada,<br />

podendo acontecer sob a modalidade<br />

presencial e/ou virtual<br />

DE LONGA DURAÇÃO<br />

modalidade presencial, inclusive in loco,<br />

para organizações governamentais,<br />

privadas e não governamentais<br />

* Concepções de Educação [40 horas]<br />

* Formação em Comunicação Comunitária<br />

[32 horas]<br />

* Formação em Educomunicação | módulos<br />

[40 horas]<br />

* Modos de conhecer o mundo [40 horas]

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