Abóboras. - CPRA
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Abóboras.<br />
Classificação Botânica<br />
As abóboras, Cucurbita sp., pertencem à Família das Cucurbitaceae e à Tribo das<br />
Cucurbiteae. O gênero Cucurbita compreende 27 espécies conhecidas.<br />
As cinco espécies mais comumente cultivadas nas nossas hortas são as seguintes:<br />
1. Cucurbita pepo.<br />
Um certo número de<br />
variedades no seio dessa espécie, é<br />
brenhosa. As folhas e os caules têm<br />
espinhos. As folhas, sempre<br />
profundamente cortadas, também se<br />
caracterizam por lóbulos angulosos.<br />
O pedúnculo dos frutos se<br />
caracteriza por divisões (de 5 a 8, e<br />
às vezes mais) muito marcadas e<br />
não se alarga no lugar da inserção.<br />
Essas divisões se prolongam, sobre<br />
os frutos como costelas ou<br />
colorações diferentes. As sementes<br />
são esbranquiçadas e achatadas.<br />
Elas estão sempre na margem e são<br />
de cor branco cinza uniforme.<br />
Foto. Cucurbita pepo: Sweet Dumpling<br />
A espécie Cucurbita pepo se divide em duas sub-espécies:<br />
- Cucurbita pepo pepo. Essa sub-espécie só compreende as variedades domesticadas, tais como<br />
as abobrinhas, as abóboras assim como algumas abóboras ornamentais, chamadas na França<br />
“colocintos”, que se caracterizam habitualmente por uma pigmentação avermelhada.<br />
- Cucurbita pepo ovifera. Essa sub-espécie se divide ela mesma em três grupos;<br />
* O grupo ovifera, que só contém variedades domesticadas, tais como as abóborasglande,<br />
os “patissons” e algumas abóboras ornamentais (coroa de espinhos, ovo branco,<br />
colher...)<br />
* O grupo texana, que é constituído de abóboras selvagens que são encontradas no<br />
Texas.<br />
* O grupo Ozarkana, que é constituído de abóboras selvagens que são encontradas<br />
fora do Texas (Illinois, Missouri, Arkansas, Oklaoma e Louisiana).<br />
1
Foto. Pedúnculo dos frutos de Cucurbita pepo.<br />
2. Cucurbita maxima.<br />
Essa espécie se caracteriza mais<br />
frequentemente por caules muito<br />
compridos, e só existem poucas<br />
espécies realmente brenhosas. As folhas<br />
são grandes, jamais profundamente<br />
divididas, e elas têm lóbulos<br />
arredondados. Os numerosos pêlos e<br />
rudes que cobrem toda as partes verdes<br />
da planta nunca se tornam espinhosos.<br />
Foto. Cucurbita maxima:<br />
Hungarian Blue.<br />
O pedúnculo do fruto é sempre<br />
arredondado e sem costelas. Depois da<br />
floração ele se alarga muito, se quebra<br />
freqüentemente e adquire um diâmetro<br />
duplo ou triplo do diâmetro do caule.<br />
As sementes são sempre cobertas de<br />
uma película pouco aderente. Elas são<br />
marginais e sua cor varia do branco<br />
puro ao bistre escuro. Elas são ovais e<br />
inchadas.<br />
Foto. Pedúnculo dos frutos de<br />
Cucurbita maxima.<br />
2
3. Cucurbita moschata.<br />
As variedades dessa espécie<br />
são todas rasteiras. As folhas não são<br />
cortadas, mas apresentam ângulos<br />
bastante marcados. As folhas e os<br />
pecíolos são recobertos de numerosos<br />
pelos, que não se tornam espinhosos.<br />
Foto. Cucurbita moschata:<br />
Musquée de Provence.<br />
O pedúnculo apresenta cinco<br />
costelas ou ângulos e se alarga ou se<br />
achata no lugar da inserção no fruto.<br />
As sementes são normalmente de cor<br />
branco-cinza e muito marginais.<br />
Foto. Pedúnculo dos frutos de<br />
Cucurbita moschata.<br />
4. Cucurbita argyrosperma.<br />
Que também se chama Cucurbita mixta. Os botânicos só aceitaram essa espécie nos anos<br />
1930. Os caules são muito longos, as folhas são grandes e recobertas de pêlos. O pedúnculo é<br />
lobado e um pouco achatado no lugar de inserção dos frutos. As sementes são bastante longas e<br />
achatadas e profundamente marginais. Às vezes essa borda é cor prateada.<br />
Cucurbita argyrosperma se divide em duas sub-espécies:<br />
- Cucurbita argyrosperma argyrosperma que se sub-divide em quatro grupos:<br />
argyrosperma, callicarpa, stenosperma e palmieri. Os três primeiros grupos incluem todas<br />
as variedades cultivadas conhecidas. O quarto grupo corresponde às populações<br />
espontâneas do nordeste do México que denominamos normalmente Cucurbita palmieri.<br />
- Cucurbita argyrosperma sororia, que inclui as populações selvagens difundidas do<br />
México ao Nicarágua, que eram originalmente descritas sob o nome de Cucurbita sororia.<br />
Essa sub-espécie é considerada como sendo o ancestral selvagem do grupo.<br />
3
Foto. Cucurbita<br />
argyrosperma: Pépita Veracruz.<br />
5. Cucúrbita ficifolia.<br />
Como seu nome indica, as<br />
folhas dessa espécie parecem com as<br />
da figueira e têm cinco lóbulos<br />
arredondados, separados por<br />
cavidades profundas. As sementes<br />
são de cor preta. Os caules são muito<br />
longos e podem atingir 15 metros. É<br />
uma espécie vivaz quando as<br />
condições climáticas o permitem. A<br />
frutificação se manifesta quando os<br />
dias são mais curtos.<br />
Foto. Cucurbita ficifolia.<br />
História<br />
A família das Cucurbitáceas é uma das famílias mais importantes no domínio alimentício.<br />
As espécies do gênero Cucurbita foram domesticadas no Novo Mundo e cultivadas há milênios<br />
pelos povos Ameríndios. Apesar da marginalização atual de algumas dessas espécies, elas foram<br />
um componente essencial do regime alimentar de comunidades rurais e algumas comunidades<br />
urbanas do continente American,o e de outras partes do mundo.<br />
Geralmente estima-se que Cucurbita maxima é saída do centro de biodiversidade da<br />
América do Sul. Quanto às outras quatro espécies comumente utilizadas pelo homem, isto é,<br />
Cucurbita pepo, Cucurbita moschata, Cucurbita ficifolia e Cucurbita argyrosperma, supõe-se<br />
terem sido domesticadas na América Central sem que a certeza dessa origem seja absoluta.<br />
Por volta do final dos anos 1980, uma grande quantidade de informações foi reunida sobre a<br />
origem e evolução dessas quatro espécies. Os limites taxonômicos e genéticos de Cucurbita pepo e<br />
Cucurbita argyrosperma foram redefinidos e as espécies selvagens que lhes são aparentadas foram<br />
classificadas em categorias intra-específicas apropriadas. As conclusões de todas essas pesquisas<br />
lançaram uma dúvida sobre a origem centro-americana de Cucurbita moschata e Cucurbita<br />
ficifolia.<br />
4
Cucurbita pepo<br />
Segundo as escavações arqueológicas, a espécie Cucurbita pepo é uma das mais velhas<br />
espécies domesticadas. Os traços mais antigos foram descobertos no México, no Vale de Oaxaca,<br />
(8750 antes de Cristo a 700 depois de Cristo) e nas grutas de Ocampo em Tamaulipas (7000 antes<br />
de Cristo a 500 antes de Cristo). Sua presença nos EUA é também muito antiga, pois remonta a<br />
4000 antes de Cristo, no Missouri, e a 1400 antes de Cristo, no Mississipi.<br />
É possível que Cucurbita pepo tenha sido domesticada ao mesmo tempo no México com<br />
Cucurbita fraterna como ancestral selvagem, e na região leste dos EUA, com Cucurbita texana<br />
como ancestral selvagem.<br />
Cucurbita argyrosperma<br />
É a espécie cultivada que mais foi objeto de pesquisas intensivas nesses últimos anos.<br />
Segundo as descobertas arqueológicas mais recentes, parece que a domesticação de Cucurbita<br />
argyrosperma, no sul do México data de mais de 7000 anos. O grupo argyrosperma parece o menos<br />
especializado e mais primitivo enquanto o grupo callicarpa é o grupo mais especializado e mais<br />
recente. O tamanho relativamente grande das sementes do grupo argyrosperma sugere que esse<br />
grupo foi principalmente selecionado pelas sementes. Em compensação, a diversidade das formas,<br />
das cores e do tamanho dos frutos dos grupos Stenosperma e Callicarpa sugere que a seleção era<br />
orientada ao mesmo tempo para a obtenção de sementes e de polpa. Na América do Sul, a espécie<br />
Cucurbita argyrosperma é cultivada no Peru e na Argentina. As variedades que aí são cultivadas<br />
são manifestadamente uma introdução recente do grupo Callicarpa. Algumas variedades desse<br />
grupo são também presentes nos EUA, assim como uma variedade do grupo argyrosperma,<br />
comercializada como planta ornamental “Silver Seed Gourd”.<br />
No México, os três grupos cultivados de Cucurbita argyrosperma se encontram, cada um,<br />
em zonas bem específicas do país, numa altitude que varia entre 0 e 1800 metros. Eles prosperam<br />
de preferência em climas quentes e secos, ou então com uma estação de chuvas bem determinada.<br />
Cucurbita moschata<br />
Os vestígios dessa espécie descobertos durante pesquisas arqueológicas não permitem<br />
afirmar com certeza que essa espécie é originária da América Central ou da América do Sul. Os<br />
vestígios mais antigos foram descobertos nas grutas de Ocampo, Tamaulipas no noroeste do<br />
México. Eles datam de um período que vai de 4900 a 3500 antes de Cristo. Descobriu-se também<br />
em Huaca Prieta, no Peru (3000 antes de Cristo), no Guatemala (2000 antes de Cristo a 850 depois<br />
de Cristo).<br />
Essa espécie sendo extremamente variável quanto à morfologia de seus frutos e suas<br />
sementes, não se pode tirar nenhuma conclusão quanto à determinação de um centro de origem<br />
genética. A diversidade genética dessa espécie é considerável quanto à forma de seus frutos e de<br />
suas sementes, quanto aos ciclos de crescimento, quanto à resistência às doenças virais, quanto à<br />
capacidade de conservação.<br />
Pode-se mencionar a existência de variedades muito resistentes aos vírus cultivados pelos<br />
povos Maias ou de variedades a ciclos de crescimento muito diferentes cultivados na península de<br />
Yucatan. São 2000 origens de Cucurbita moschata que foram repertoriadas pelos cientistas<br />
americanos.<br />
Cucurbita ficifolia<br />
O centro de origem e domesticação dessa espécie é ainda desconhecido. Ele se situa na<br />
América Central ou na América do Sul. Os vestígios mais antigos foram descobertos no Peru.<br />
Essa espécie se caracteriza por uma grande produtividade, e é comum encontrar por volta de<br />
cinqüenta frutos em uma planta. Cada fruto pode conter até 500 sementes ou mais.<br />
5
Polinização<br />
A abóbora é uma planta monóica, isto é, que carrega na mesma planta flores macho e flores<br />
fêmea em lugares diferentes.<br />
A abóbora pode ser auto<br />
fecunda: uma flor fêmea pode ser<br />
fertilizada por pólen, que vem de<br />
uma flor macho da mesma planta.<br />
Entretanto, as fecundações<br />
cruzadas são predominantes: a flor<br />
fêmea é fertilizada por pólen que<br />
vem de diferentes plantas da mesma<br />
variedade ou de uma outra<br />
variedade.<br />
O principal vetor dessas<br />
polinizações cruzadas são as<br />
abelhas. Em função das regiões e<br />
dos ambientes, a distância de<br />
isolamento aconselhada entre duas<br />
variedades de abóboras varia de 500<br />
metros até 1 quilômetro e até mais.<br />
Foto. Flores macho e flores fêmea<br />
As flores macho são<br />
facilmente reconhecíveis, pois elas<br />
aparecem acima da folhagem no<br />
final de longos caules. As flores<br />
fêmeas são tão facilmente<br />
reconhecíveis, porque em sua base<br />
se encontra o futuro fruto, na<br />
verdade o ovário, já possuindo uma<br />
forma bem definida. O tamanho<br />
desse ovário pode ser conseqüente.<br />
Assim, ele atinge às vezes 15 cm de<br />
comprimento, na variedade Tromba<br />
d’Albenga.<br />
Foto. Uma flor fêmea.<br />
Quando a flor fêmea é fecundada, o fruto se desenvolve. Quando a flor fêmea não é<br />
fecundada, o fruto se enfraquece.<br />
Numa planta de abóbora, as flores macho aparecem muito antes das flores fêmeas, e elas são<br />
bem mais numerosas que essas últimas. Pode-se notar também, que durante os períodos de<br />
temperatura muito alta, as flores macho são predominantes.<br />
As flores macho possuem pólen e néctar, e as flores fêmea possuem somente néctar.<br />
Elas têm uma duração de vida muito curta: elas se abrem antes da madrugada e se fecham<br />
definitivamente na metade da manhã.<br />
6
É essencial tomar consciência que as polinizações cruzadas só podem se manifestar no seio<br />
da mesma espécie. Não há fecundações cruzadas e hibridações naturais possíveis entre as diferentes<br />
espécies de Cucurbita, existem alguns casos de cruzamentos com Cucurbita argyrosperma.<br />
De fato, os botânicos americanos perceberam que Cucurbita argyrosperma se caracterizava<br />
por diferentes níveis de compatibilidade e então, de hibridação potencial.<br />
- o maior grau de compatibilidade se manifesta com Cucurbita moschata.<br />
- um grau menor de compatibilidade se manifesta com variedades e populações selvagens de<br />
Cucurbita pepo, assim como algumas variedades de Cucurbita maxima e de formas de<br />
Cucurbita foetidissima.<br />
- um grau ainda menor de compatibilidade se manifesta com as espécies selvagens tais como<br />
Cucurbita lundelliana, Cucurbita martinezzi, Cucurbita pedatifolia e Cucurbita digitata.<br />
Para resumir, as hibridações são<br />
antes de tudo entre variedades (no seio<br />
de cada espécie) e não há hibridações<br />
entre Cucurbita pepo, Cucurbita<br />
maxima, Cucurbita moschata e<br />
Cucurbita ficifolia.<br />
Foto. Flores macho<br />
A única espécie que pode se<br />
hibridar com as três primeiras dessas<br />
quatro espécies é a Cucurbita<br />
argyrosperma. Deve-se destacar que,<br />
entretanto, a espécie Cucurbita<br />
argyrosperma é pouco conhecida e<br />
pouco cultivada nas hortas de zonas<br />
temperadas.<br />
Assim, um agricultor pode produzir<br />
sementes de abóboras em sua horta (se esse<br />
último é isolado de maneira satisfatória da<br />
mais próxima horta que produza outras<br />
abóboras) com a condição de só cultivar uma<br />
variedade por espécie: por exemplo, uma<br />
abóbora-moranga (Cucurbita pepo), uma<br />
abóbora-menina (Cucurbita maxima), uma<br />
abóbora-cheirosa (Cucurbita moschata), uma<br />
abóbora de Siam (Cucurbita ficifolia).<br />
Foto. Abelhas em uma flor fêmea.<br />
É aconselhável não se cultivar a<br />
variedade Cucurbita argyrosperma perto de variedades Cucurbita pepo, Cucurbita maxima e<br />
Cucurbita moschata, quando se deseja produzir suas próprias sementes. Em compensação, pode-se<br />
muito bem produzir sementes de Cucurbita argyrosperma e de Cucurbita ficifolia na mesma horta<br />
já que não existe nenhum risco de hibridação entre essas duas espécies.<br />
7
O agricultor não pode produzir, pelo menos em polinização livre, sementes de abobrinhas<br />
verdes, quando há na mesma horta uma outra variedade de Cucurbita pepo, por exemplo, uma<br />
variedade de abobrinha amarela.<br />
De fato, as abelhas vão hibridar essas duas variedades de Cucurbita pepo, e a hibridação só<br />
será manifestada no segundo ano, quando as sementes saídas dessas duas variedades de abobrinha<br />
serão colocadas em cultura.<br />
É importante entender que a hibridação acontece no verdadeiro fruto que é a semente. O que<br />
nós comemos, é a polpa do falso fruto, que é na verdade um alargamento do ovário. Os óvulos<br />
foram fecundados por pólen transmitido da flor macho a flor fêmea. Cada óvulo fecundado se torna<br />
uma semente.<br />
Quando o óvulo de uma<br />
variedade é fecundado por pólen<br />
vindo de outra variedade (da mesma<br />
espécie), ele gera uma semente cujas<br />
potencialidades são muito diferentes.<br />
Nós vamos agora citar as<br />
técnicas de “polinização controlada”,<br />
permitindo ao agricultor de produzir<br />
sementes de várias variedades da<br />
mesma espécie na mesma horta sem<br />
levar em conta as distâncias de<br />
isolamento.<br />
Foto. Deixadas por elas<br />
mesmas, as flores se fecham<br />
naturalmente no meio da manhã.<br />
A primeira técnica consiste simplesmente a cultivar sob proteção de um véu, todas as<br />
plantas da mesma variedade. Pode-se assim, confeccionar um mini-túnel com arcos recobertos por<br />
um mosquiteiro em filó ou malha metálica fina. A única contingência real dessa técnica é a<br />
necessidade de introduzir insetos polinizadores, pois sem eles, as plantas não poderão ser<br />
fecundadas.<br />
Colméias de zangões são comercializadas por sociedades especializadas, mas elas<br />
representam evidentemente um certo custo. Esse custo pode ser dividido por dois ou três<br />
agricultores na medida em que basta que um mini túnel seja visitado a cada dois ou três dias por<br />
insetos polinizadores. Os zangões entram na colméia durante a noite, e fica fácil transportá-los de<br />
um lugar para o outro.<br />
Pode-se também otimizar o uso de tais colméias (normalmente destinadas a polinizar<br />
grandes superfícies e durante muitas sementes) criando um túnel bastante grande que poderá<br />
acolher uma variedade de cada espécie de Cucurbita com uma variedade de pepino, uma variedade<br />
de melão, uma variedade de melancia, uma variedade de berinjela, uma variedade de quiabo. Todas<br />
as sementes produzidas serão de variedades puras.<br />
8
Foto. Mini-túnel com arcos recobertos por um mosquiteiro.<br />
A segunda técnica é a da polinização manual. Ela consiste em ligar, à noite, as flores macho<br />
e as flores fêmea que vão abrir na manhã seguinte. Com um pouco de experiência é muito fácil<br />
reconhecê-las, pois elas adquirem uma cor amarela característica. Às vezes, mesmo as flores de<br />
algumas variedades têm a extremidade de suas pétalas ligeiramente dobradas, na véspera da<br />
abertura. A ligadura se efetua na extremidade da flor. Utiliza-se simplesmente fita crepe<br />
(geralmente destinada a proteger as bordas das madeiras nos trabalhos de pintura). É aconselhável<br />
ligar pelo menos duas flores macho para cada flor fêmea a polinizar.<br />
Nas hortas que acolhem um<br />
grande número de plantas de<br />
abóboras, é prático sinalizar as flores<br />
fêmeas com ligaduras com uma marca<br />
colorida, por um pedaço de fita<br />
adesiva colorida colada na folha<br />
situada acima, ou por qualquer outro<br />
meio que permita encontrá-las<br />
facilmente no dia seguinte. É também<br />
preferível percorrer a horta no dia<br />
seguinte seguindo o mesmo percurso<br />
utilizado na véspera e seguindo as<br />
mesmas direções, por exemplo, de<br />
leste a oeste.<br />
Foto. Uma flor fêmea com ligadura<br />
As flores fêmeas com ligadura são de fato mais fáceis de se encontrar quando a direção do<br />
percurso de trabalho é a mesma, por causa da orientação natural das folhas.<br />
De manhã, as flores machos são colhidas, liberadas de suas ligaduras e suas pétalas<br />
retiradas. A fita adesiva da flor fêmea é em seguida retirada delicadamente. Se uma ou outra flor,<br />
uma vez liberada da ligadura, não se abre totalmente e naturalmente, é que ela não está “madura”:<br />
então não se pode utilizar para o processo de polinização manual.<br />
A polinização é efetuada caiando o pólen das flores macho sobre cada parte do estigma da<br />
flor fêmea. Deve-se ser muito vigilante, pois pode acontecer que uma abelha pouse no meio do<br />
processo de fecundação. Então esse último deve ser abandonado por causa da intrusão de pólen<br />
estranho.<br />
9
Quando a polinização se efetua corretamente, deve-se fechar cuidadosamente a flor fêmea<br />
envolvendo-se delicadamente com fita adesiva. Não se deve esquecer de fixar logo, com ligadura<br />
hortícola ao redor do pedúnculo da flor polinizada afim de poder reconhecê-la facilmente no final<br />
da estação dos frutos que terão sido polinizados manualmente. A ligadura deve ser bastante frouxa,<br />
para permitir ao pedúnculo de crescer sem problemas.<br />
Foto. De manhã, as flores machos<br />
são colhidas, liberadas de suas ligaduras<br />
e suas pétalas retiradas.<br />
É aconselhável efetuar essa<br />
polinização manual o mais cedo possível.<br />
De fato, as polinizações manuais efetuadas<br />
no final da manhã em estação muito quente<br />
têm muito poucas chances de sucesso, na<br />
medida em que o pólen terá esquentado e<br />
fermentado e não será mais viável. Não se<br />
deve esquecer que, deixadas por elas<br />
mesmas, as flores se fecham naturalmente<br />
no meio da manhã.<br />
Antes de realizar a polinização manual, deve-se cuidar para que as flores com ligaduras não<br />
sejam furadas na base. Acontece que alguns insetos, tais como os grandes zangões, abrem uma<br />
passagem à força. Essa intrusão pode se manifestar também depois que a polinização tenha sido<br />
feita e deve-se verificar no dia seguinte que as flores polinizadas na véspera tenham guardado a<br />
integridade. Esse tipo de intrusão é uma exceção.<br />
Na medida do possível, deve-se evitar polinizar uma flor fêmea com uma flor macho colhida<br />
na mesma planta.<br />
Foto. Anteras e pólen.<br />
As polinizações manuais<br />
serão coroadas de sucesso quando<br />
elas são efetuadas no início da fase<br />
de frutificação. Quando um fruto já<br />
se formou naturalmente (isto é, por<br />
polinização de insetos) numa planta<br />
destinada a ser polinizada<br />
manualmente, é muito aconselhável<br />
colhê-lo a fim que esse fruto<br />
polinizado manualmente possa<br />
beneficiar de todo o vigor da planta.<br />
Além disso, o número de frutos<br />
polinizados por planta será<br />
determinado pela duração da<br />
estação normal de crescimento, pelo<br />
nível do calor do verão e pela natureza da variedade.<br />
Assim, pode-se polinizar um só fruto de uma variedade de “abóbora gigante”, dois frutos de<br />
uma variedade de “potimarron”, três frutos de uma variedade de “patisson” e uma dúzia de frutos de<br />
uma variedade de “pomme d’or”.<br />
10
Nós pudemos constatar que<br />
certas variedades de abóboras<br />
parecem mais recalcitrantes do que<br />
outras de polinização manual. É o<br />
caso, por exemplo, da variedade<br />
“Potiron verde azeitona”.<br />
Entretanto, ainda não está provada<br />
que essa dificuldade seja intrínseca<br />
à variedade, e que ela não seja na<br />
verdade uma conseqüência de uma<br />
certa falta de adaptação da tal<br />
variedade a um ou outro ambiente.<br />
Foto. A polinização é<br />
efetuada caiando o pólen das<br />
flores macho sobre cada parte do<br />
estigma da flor fêmea.<br />
Quando no início da estação, deseja-se praticar polinizações manuais em abóboras, deve-se<br />
cuidar para que o espaço entre as variedades seja amplamente suficiente para os caules não se<br />
misturarem e as flores (em particular as flores macho) serem facilmente marcadas para cada<br />
variedade.<br />
Para uma produção de<br />
sementes que beneficie de uma boa<br />
diversidade genética, é recomendado<br />
cultivar no mínimo 6 plantas de cada<br />
variedade. O ideal é de cultivar uma<br />
dúzia ou ainda melhor, uma vintena<br />
se o espaço na horta o permitir.<br />
Foto. Não se deve esquecer<br />
de fixar logo, com um fio colorido<br />
ao redor do pedúnculo da flor<br />
polinizada afim de poder<br />
reconhecê-la facilmente no final<br />
da estação dos frutos que terão<br />
sido polinizados manualmente.<br />
Produção de sementes<br />
Durante a colheita de frutos, é aconselhável esperar o maior tempo possível antes de abri-los<br />
para extrair as sementes. De fato, essas últimas continuam a se formar no interior do fruto. Quando<br />
se espera um mês ou mais, a qualidade e a viabilidade das sementes são melhores.<br />
Na abertura do fruto, as sementes são extraídas com a mão e pode-se lavá-las tirando a<br />
polpa. Elas são em seguida colocadas logo para secar em um pequeno tamis em um lugar seco e<br />
ventilado.<br />
11
As sementes de abóbora levam um certo<br />
número de dias para secarem completamente. Um<br />
ventilador pode acelerar muito o processo. As<br />
sementes são totalmente secas se elas quebram<br />
quando se tenta dobrá-las. É muito desaconselhável<br />
secá-las em cima de papel, pois depois não se pode<br />
descolá-las.<br />
Foto. As sementes são extraídas com a<br />
mão. Pode-se lavá-las tirando a polpa.<br />
As sementes de abóbora têm uma duração<br />
germinativa média de 6 anos. Entretanto, elas<br />
podem conservar uma faculdade germinativa até 10<br />
anos ou mais.<br />
As diversas variedades de Cucurbita pepo<br />
contêm, por quilo, de 5 000 até 20 000 sementes. As<br />
diversas variedades de Cucurbita maxima contêm,<br />
por quilo, de 2 500 sementes até 5 500 sementes.As<br />
diversas variedades de Cucurbita moschata contêm,<br />
por quilo, de 5 200 sementes até 12 000 sementes.<br />
Criação de variedades<br />
Mesmo que as abóboras<br />
sejam fundamentalmente plantas<br />
alógamas, parece que elas são, apesar<br />
disso, adaptadas a condições de autofecundação.<br />
Alguns autores na América<br />
destacam diferentes razões para isso.<br />
A primeira é o desenvolvimento<br />
bastante amplo das Cucurbita, que<br />
ocasiona sempre uma fecundação das<br />
flores fêmeas de uma planta por<br />
pólen vindo de flores machos da<br />
mesma planta. A segunda é a prática<br />
muito corrente dos Ameríndios de<br />
misturar na horta, plantas de milho,<br />
de abóbora e de feijão, instaurando<br />
assim uma certa distância entre as<br />
plantas da mesma variedade.<br />
De qualquer maneira, a auto fecundação foi muito utilizada por obtentores para criar novas<br />
variedades, e não parece que as Cucurbita sejam muito sensíveis ao que chamamos “depressão<br />
genética”.<br />
Por causa disso, é muito fácil para um agricultor de brincar de criar suas próprias<br />
variedades, cruzando duas variedades da mesma espécie.<br />
12
A técnica é similar à usada para a<br />
polinização manual, com a diferença que<br />
as flores macho vêm de plantas de uma<br />
variedade diferente. Assim, na véspera à<br />
noite, pode-se fechar flores fêmea de<br />
Golden Delicious (em forma de coração)<br />
e flores macho da variedade Marina di<br />
Chioggia (que são duas Cucurbita<br />
maxima). Na manhã seguinte, a<br />
fecundação se efetua como explicado<br />
antes. É claro que não se deve esquecer<br />
de pregar uma etiqueta no pedúnculo,<br />
precisando os nomes da variedade<br />
“receptadora” e da variedade “macho”.<br />
As sementes são colhidas no outono e<br />
semeadas no ano seguinte.<br />
Quando o cruzamento foi realizado com variedades muito “purificadas” (o que é o caso das<br />
variedades chamadas para uso profissional), ele vai gerar plantas de primeira geração que vão ser<br />
relativamente parecidas, e não é necessário cultivar um grande número. Em compensação, não é o<br />
caso quando as variedades utilizadas para o cruzamento são variedades para uso amador com<br />
características relativamente variáveis. O cruzamento vai então gerar plantas de primeira geração<br />
mais diferentes que as gerações seguintes, e pode-se cultivar um número maior do que no caso<br />
anterior.<br />
As plantas dessa primeira geração deverão ser sistematicamente auto fecundadas. Isso quer<br />
dizer que as flores de cada planta são polinizadas manualmente com flores macho saídas da mesma<br />
planta. O agricultor vai selecionar frutos em função de critérios, tais como a obtenção de um<br />
coração de cor bronze e com epiderme verrugosa. Ele só vai colher sementes do ou dos frutos<br />
selecionados.<br />
Essas sementes são em seguida semeadas no ano seguinte, e as plantas que elas vão produzir<br />
são todas auto fecundadas. O agricultor novamente só selecionará o ou os frutos em forma de<br />
coração de bronze e verrugosos. Esse processo será repetido até que todos os frutos obtidos tenham<br />
as características selecionadas a partir da primeira geração.<br />
A variedade é assim chamada “fixada”. Entretanto, é muito provável que de tempos em<br />
tempos apareçam frutos que chamamos “fora do tipo” por causa da presença de genes qualificados<br />
de “recessivos”.<br />
Uma nova variedade pode também<br />
ser criada quando se descobre na horta uma<br />
abóbora que não corresponde nada à<br />
variedade semeada. Pode-se chamar a isso<br />
de mutação ou um presente dos anjos. Se o<br />
agricultor aprecia a cor, a forma, o sabor ou<br />
a grande precocidade do fruto “fora do<br />
tipo”, pode-se utilizar como base de um<br />
processo de seleção e de auto-fecundação<br />
afim de obter, depois de alguns anos, uma<br />
variedade fixada que produz somente frutos<br />
similares ao fruto descoberto na horta.<br />
Foto. Diversidade de Abóboras.<br />
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