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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO<br />

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E<br />

COMUNICAÇÃO APLICADAS À EDUCAÇÃO<br />

ESPECIAL: UMA ANÁLISE DO ENSINO DE SURDOS<br />

NAS CLASSES ESPECIAIS.<br />

MARIA CLAUDIA ALVES DE SANTANA REGIS<br />

São Paulo<br />

2003<br />

1


MARIA CLAUDIA ALVES DE SANTANA REGIS<br />

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E<br />

COMUNICAÇÃO APLICADAS À EDUCAÇÃO<br />

ESPECIAL: UMA ANÁLISE DO ENSINO DE SURDOS<br />

NAS CLASSES ESPECIAIS.<br />

Dissertação apresentada à<br />

Faculdade de Educação<br />

da Universidade de São<br />

Paulo como exigência<br />

parcial para obtenção do<br />

grau de Mestre em<br />

Educação.<br />

Orientadora: Profª Drª Maria Luisa Sprovieri Ribeiro<br />

Banca Examinadora: ______/_______/2003<br />

Presidente: ___________________________________<br />

Prof. Dr.<br />

___________________________________<br />

Prof. Dr.<br />

___________________________________<br />

Prof. Dr.<br />

São Paulo<br />

2003<br />

2


REGIS, Maria Claudia Alves de Santana. As tecnologias da informação e comunicação<br />

aplicadas à educação especial: uma análise do ensino de surdos nas classes especiais. São<br />

Paulo, FEUSP, 2003.(Dissertação de Mestrado)<br />

RESUMO<br />

Preocupada em verificar e contribuir para melhor atuação dos professores das<br />

classes especiais para deficientes auditivos, esta pesquisa de natureza qualitativa enfocou<br />

quais as possíveis contribuições que as tecnologias da informação e comunicação<br />

proporcionam aos professores que utilizam o computador como ferramenta pedagógica e<br />

para a reflexão de sua prática pedagógica. A metodologia adotada foi a entrevista semiestruturada<br />

com as professoras das classes especiais, a opção por uma entrevista mais<br />

direcionada foi positiva na medida que fez emergir momentos de reflexão na sala de aula. A<br />

análise dos dados indicou que existe uma preocupação entre as professoras das classes<br />

especiais em se apropriarem do conhecimento e das técnicas adequadas para o uso das<br />

tecnologias da informação e comunicação no ensino dos surdos. As professoras<br />

entrevistadas expressaram interesse e motivação para melhorar sua prática educativa e<br />

desenvolverem uma comunicação mais eficaz com os alunos surdos, no entanto, estão<br />

despreparadas para o uso do computador e da Internet como ferramenta pedagógica, assim<br />

como a escola pública enfrenta vários fatores que dificultam o acesso às essas tecnologias.<br />

Informatizar a classe especial, a distribuição de softwares e acesso a Internet, a<br />

capacitação em serviço dos professores tem sido uma das ações da Secretaria Estadual de<br />

Educação do Estado de São Paulo vem desenvolvendo para garantir um ensino de<br />

qualidade, contudo, a de se considerar o compromisso do sistema educacional na formação<br />

pedagógica do professor inclusivo e de educação especial e a possibilidade de uma prática<br />

reflexiva que garanta diferentes oportunidades de atuação.<br />

3


REGIS, Maria Claudia Alves of Santana. The technologies of the information and<br />

communication applied to the special education: an analysis of the teaching of deaf in the<br />

special classes. São Paulo, FEUSP, 2003. (Dissertation of Master's degree)<br />

ABSTRACT<br />

Concerned in to verify and to contribute for the teachers' of the special classes better<br />

performance for deficient auditory, this research of qualitative nature focused which the<br />

possible contributions that the technologies of the information and communication provide<br />

to the teachers that use the computer as pedagogic tool and for the reflection of your<br />

pedagogic practice. The adopted methodology was the interview semi-structured with the<br />

teachers of the special classes, the option for an interview more addressed it was positive in<br />

the measure that made to emerge moments of reflection in the class room. The analysis of<br />

the data indicated that a concern exists among the teachers of the special classes in if they<br />

adapt of the knowledge and of the appropriate techniques for the use of the technologies of<br />

the information and communication in the teaching of the deaf ones. The teachers<br />

interviewees expressed interest and motivation to improve your educational practice and<br />

they develop a more effective communication with the deaf students, however, they are not<br />

capable for the use of the computer and of Internet as pedagogic tool, as well as the public<br />

school faces several factors that hinder the access to the those technologies.<br />

To computerize the special class, the distribution of softwares and I access Internet,<br />

the training in the teachers' service has been one of the actions of the State Clerkship of<br />

Education of the State of São Paulo it is developing to guarantee a quality teaching,<br />

however, the one of being considered the commitment of the educational system in the<br />

inclusive teacher's pedagogic formation and of special education and the possibility of a<br />

reflexive practice that guarantees different opportunities of performance.<br />

4


Aos meus familiares e filhos: Katherine,<br />

Mariane e Guilherme, e em especial ao<br />

meu marido Dorimar companheiro<br />

dedicado e incentivador do meu progresso<br />

acadêmico.<br />

pela elegância nos gestos de compreensão<br />

e solidariedade que me dispensaram para<br />

o bom andamento e conclusão dessa obra.<br />

5


Agradecimentos<br />

À Maria Luisa, estimada professora, pela<br />

disciplina, rigor, orientação e pelo carinho,<br />

sentimentos que fizeram germinar uma amizade<br />

onde prevaleceu o respeito mútuo, fator este, tão<br />

importante para meu crescimento acadêmico e<br />

emocional.<br />

À professora Roseli Baumel, pela competência e<br />

simpatia, com a qual contribuiu orientando<br />

minhas ações no propósito de enriquecer essa<br />

dissertação de mestrado.<br />

A Professora Neide Noffs por me honrar fazendo<br />

parte da banca.<br />

E finalmente, as minhas colegas de profissão, as<br />

professoras das classes especiais, por<br />

compartilhar informações, pelos momentos de<br />

discussões e estudos, assim como pelas situações<br />

de conforto e descontração que tanto facilitaram<br />

as entrevistas e a conclusão desse trabalho.<br />

6


ÍNDICE<br />

1. Introdução.............................................................................................................10<br />

2. Fundamentação Teórica........................................................................................ 15<br />

2.1 A Declaração de Salamanca.................................. ............................................... 15<br />

2.2 A LDB e a Educação de Surdos............................ ...............................................16<br />

2.3 A Política Educacional do Estado de São Paulo...................................................20<br />

2.4. Legislação Atual...................................................................................................22<br />

2.5. O Futuro da Educação: professor-reflexivo aprendendo sempre ..........................24<br />

2.6. A Surdez................................................................ ................................................29<br />

2.7. A Educação de Surdos e a Língua de Sinais......... ................................................ 31<br />

2.8. O Velho e o Novo Paradigma................................................................................35<br />

2.9.Ações da Secretaria de Educação para Informatização das Classes especiais .......37<br />

3. Procedimentos Metodológicos....................................... ......................................... 40<br />

4. Análise e Discussão dos Resultados......................................................................... 46<br />

4.1 Percepções das professoras sobre o processo de informatização das classes<br />

especiais, dificuldades de implantação das TIC 's ..................................................... 46<br />

4.1.1 Nível de Conhecimento e participação das professoras sobre o processo de<br />

informatização das classes especiais ............................................................................ 48<br />

4.1.2 Expectativas quanto a utilização, distribuição de material e manutenção das<br />

TIC's nas classes especiais............................................................................................ 54<br />

4.2 Percepções das professoras sobre o uso e as possiveis contribuições que as TIC 's<br />

oferecem ao processo de ensino aprendizagem dos surdos..........................................62<br />

4.2.1 Professoras motivadas para iniciarem processo de informatização..................... 64<br />

4.2.2 Percepções das professoras sobre a influência das TIC’s em sua prática<br />

pedagógica.................................................................................................................... 69<br />

4.2.3 Expectativas das professoras sobre o impacto das tecnologias ...........................73<br />

5 Considerações finais.................................................................................................. 82<br />

5.1 Sobre o processo de informatização nas classes especiais ..................................... 82<br />

5.2 Sobre a participação das professoras no processo de informatização ....................84<br />

5.3 Sobre a utilização de material................................................................................. 84<br />

5.4 Sobre o uso e as possiveis contribuições das TIC 's...............................................85<br />

5.5 Sobre a motivação das professoras......................................................................... 86<br />

5.6 Sobre a influência das TIC 's ..................................................................................87<br />

5.7 Sobre o impacto das tecnologias ............................................................................ 88<br />

6 Referências bibliográficas ........................................................................................90<br />

ANEXO 1 ....................................................................................................................97<br />

ANEXO 2 ..................................................................................................................100<br />

ANEXO 3 ..................................................................................................................124<br />

ANEXO 4 ..................................................................................................................127<br />

Quadro de abreviaturas e siglas..................................................................................134<br />

7


“A velocidade com a qual está tudo em mudança hoje obriga<br />

educadores a achar tempo na da sala de aula para expor seus alunos a<br />

novas formas de pensar que os ajudarão a sobreviver como cidadãos e<br />

como profissionais no futuro”.<br />

Sem dúvida, muitas formas de pensar do passado continuarão<br />

válidas no futuro, especialmente aquelas ligadas aos valores humanos,<br />

cuja presença na educação terá importância cada vez maior, como<br />

contrapeso, na medida em que uma sociedade cada vez mais<br />

tecnologicamente orientada exige conhecimentos técnicos.<br />

Estão surgindo, aos poucos, novas idéias, novas formas de<br />

encarar fenômenos ou situações, que facilitam a compreensão, a<br />

avaliação e a tomada de decisão que um indivíduo tem de fazer a toda<br />

hora. Por isso, é imprescindível que educadores, em todos os níveis de<br />

formação de pessoas, repensem a exigência que fazem aos seus alunos,<br />

levando-os a diminuir a quantidade de informação memorizada (que<br />

poderia ser obtida em obras de referência em qualquer momento futuro).<br />

Importante é aumentar sua capacidade de pensar criticamente e<br />

de solucionar problemas difíceis na ampla e variada gama das áreas de<br />

conhecimento (…)”.<br />

Prof. Dr. Fredric Michael Litto - Novas Formas de Pensar*<br />

* Publicado no site Aprendiz do Futuro http://www.uol.com.br/aprendiz/ outubro de<br />

1997<br />

8


Introdução<br />

9


1. Introdução<br />

No decorrer de minha trajetória profissional, durante quinze anos como professora de<br />

classe especial para deficientes auditivos, e depois exercendo outros cargos no âmbito da<br />

Diretoria de Ensino Região Sul-3, como Assistente Técnico Pedagógico de Educação<br />

Especial, passando a Assistente Técnico do Núcleo de Informática e posteriormente a<br />

Supervisor de Ensino, venho acompanhando e refletindo sobre a questão da informática na<br />

educação especial, em específico, a educação dos surdos. Novas questões começaram a<br />

fazer parte das minhas preocupações quando me tornei formador nos cursos de capacitação<br />

de professores para o uso da informática e Internet voltados para a educação. Cada vez mais<br />

percebia que o professor precisa estar adequadamente preparado para utilizar<br />

pedagogicamente as tecnologias da informação e comunicação. E como supervisor de<br />

ensino, vi crescer a necessidade de se fazerem cumprir as ações da Secretaria de Educação<br />

na introdução das tecnologias da informação e comunicação nas escolas públicas, o que já é<br />

uma prioridade na agenda da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. São inúmeras<br />

ações que a S.E.E. /SP* vem desencadeando, tais como: implantação das salas de<br />

informática nas escolas com a modalidade Ensino Médio; aquisição de computadores com<br />

acesso à Internet nas Classes Especiais e Salas de Recursos; capacitação em serviço de<br />

professores; distribuição de softwares, por exemplo, o Dicionário Digital da Língua de<br />

Sinais; programa de Inclusão Digital, destinado aos professores da rede pública estadual<br />

que oferece um bônus de R$900,00 para o professor adquirir seu micro computador<br />

pessoal, com o objetivo de incentivar o professor na utilização adequada dos recursos da<br />

informática na sua prática pedagógica. Além de comprar seu micro, o professor é inscrito<br />

num programa de capacitação para aprender o domínio das TIC’s. Ainda são oferecidos<br />

cursos oferecidos nos Núcleos Regionais de Tecnologias Educacionais (NRTE), instalados<br />

nas diversas Diretorias de Ensino.<br />

Recentemente, implantou-se informatização da área administrativa escolar através do<br />

Sistema de Gestão Dinâmica da Administração Escolar (GDAE), que é um sistema<br />

administrativo constituído por um Portal na Internet, onde os dados e informações irão fluir<br />

entre as Escolas e Órgão Centrais, passando pelas Diretorias de Ensino. A vida escolar dos<br />

alunos concluintes do Ensino Fundamental e Médio está disponibilizada para o público e<br />

* S.E.E./SP- Secretaria Estadual de Educação/ São Paulo<br />

10


para as outras unidades de ensino, para averiguação de documentos e conclusão de cursos,<br />

evitando assim a burocracia de conferir se um aluno concluiu o curso, dispensando o<br />

processo de visto confere, facilitando as informações, sem dispêndio de tempo e verbas.<br />

Também cabe ressaltar o site da Secretaria de Educação, www.educacao.sp.gov.br é um<br />

Portal onde gestores, professores, alunos e o público em geral têm acesso a várias<br />

informações ; links com o Centro de Referência Mário Covas (C.R.E. Mário Covas), com a<br />

Secretaria de Educação Especial, legislação informatizada da S.E.E./SP, é a democratização<br />

da informação e do conhecimento, beneficiando à todos e mostrando que as questões<br />

importantes, que envolvem o destino de outras pessoas ou de grupos, devem ser tratadas<br />

com a maior seriedade e transparência possível.<br />

Assim como vêm ocorrendo em diversos sistemas educacionais do mundo, o processo<br />

de inovação tecnológica possibilita a mudança de paradigmas e possibilidades pedagógicas<br />

ocasionando impactos relevantes para todos os envolvidos com a educação, gestores,<br />

professores, alunos, pais e comunidade em geral.<br />

Informatização e o uso da Internet estão crescendo a cada dia mais na educação. Em<br />

tempos atrás, ou melhor, na década de 80 quais os professores que poderiam imaginar, que<br />

apenas digitando uma palavra e acionando um mecanismo de busca, uma gama de<br />

informações se abriria para eles? Ou que utilizando um software de simulação, jogos,<br />

autoria e outros, poderia despertar ainda mais o interesse dos alunos, ou ainda utilizar o<br />

computador como um sistema de comunicação alternativa para surdos, cegos, paralíticos<br />

cerebrais e outros.<br />

Para melhor compreender as possibilidades que as tecnologias da informação e<br />

comunicação aplicadas à educação especial, em específico ao ensino dos surdos, os<br />

objetivos dessa pesquisa foram:<br />

1) Analisar as contribuições que as tecnologias da informação e comunicação trazem<br />

para a educação dos surdos, nas classes especiais da Diretoria de Ensino da Região<br />

Sul-3, considerando a política de informatização da Secretaria Estadual de<br />

Educação e as verdadeiras condições de trabalho em sala de aula.<br />

11


2) Discutir a prática pedagógica do professor das classes especiais e, descobrir se ao<br />

utilizar as Tecnologias da Informação e Comunicação na sala de aula ocorrem<br />

mudanças no processo de ensino dos surdos, levando-o a refletir sobre sua prática.<br />

Assim, a formação do professor reflexivo é o desafio que se coloca ao sistema<br />

educacional atual, a fim de proporcionar melhorias na qualidade de ensino, favorecer a<br />

aprendizagem em sala de aula, organizar de forma racional os recursos educativos<br />

transformando-os em ferramentas pedagógicas eficazes que possam garantir um projeto<br />

político pedagógico que atenda a realidade do educando e de toda comunidade educacional.<br />

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), no Título<br />

VI que trata Dos Profissionais da Educação, fica estabelecido no artigo 61:<br />

A formação de profissionais da educação, de<br />

modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis<br />

e modalidades de ensino e as características de<br />

cada fase do desenvolvimento do educando, terá<br />

como fundamento:<br />

I- A associação entre teorias e práticas, inclusive<br />

mediante a capacitação em serviço;<br />

II- Aproveitamento da formação e experiências<br />

anteriores em instituições de ensino e outras<br />

atividades.<br />

Entender os benefícios do uso das TIC’s, bem como analisar a organização do trabalho<br />

profissional, o reforço das competências relacionais e dos professores como conhecedores,<br />

diante do novo paradigma educacional, foi uma preocupação dessa pesquisa, pois se<br />

observou que quando existe a oportunidade de apropriação de novas técnicas aos<br />

profissionais da educação pública, inicia-se um processo que evidencia as possibilidades de<br />

incorporação das tecnologias no planejamento administrativo e pedagógico da escola, pois<br />

12


o trabalho dos professores revela-se não apenas pela sua experiência, mas pela sua<br />

capacidade em repensar a experiência através da atividade que leva ao conhecimento.<br />

A escola perdeu sua característica de ser contemporânea, ela é arcaica e não tem<br />

acompanhado o progresso científico e tecnológico. Os professores ainda não são capazes de<br />

se apropriarem dessa contemporaneidade, continuam seu trabalho escolar sem se dar conta<br />

das mudanças que ocorrem em todos os setores da sociedade. A história da humanidade<br />

mostra que a tecnologia é uma atividade milenar dos esforços do ser humano em melhorar<br />

as suas atividades do dia a dia, tornando-as menos dispendiosas e sofridas.<br />

Os professores das classes especiais, por sua vez, estão se esforçando para se<br />

apropriarem dessa contemporaneidade, procurando incorporar as TIC’s na sala de aula,<br />

aprendendo a usar essas tecnologias como um instrumento pedagógico e reconhecendo a<br />

transformação no seu papel de educador preocupado com a inclusão do surdo no âmbito,<br />

educacional, social e agora também no mundo digital, no entanto essa trajetória está apenas<br />

começando.<br />

13


Fundamentação<br />

Teórica<br />

14


2. Fundamentação Teórica<br />

Para tratar as questões referentes às tecnologias da informação e comunicação no ensino<br />

dos surdos e à prática pedagógica nas classes especiais é necessário olhar atentamente aos<br />

referenciais teóricos que analisem:<br />

• a legislação e as políticas educacionais sobre a questão dos portadores de<br />

necessidades educativas especiais;<br />

• o panorama da educação especial na rede pública estadual;<br />

• o conceito do professor reflexivo;<br />

• considerações sobre a surdez, o ensino dos surdos , o bilingüismo e a língua<br />

brasileira de sinais: LIBRAS;<br />

• o novo e velho paradigma educacional;<br />

• o processo de implantação da informática na educação especial.<br />

Os referenciais teóricos acima citados serão contemplados nos itens aqui descritos.<br />

2.1. A Declaração de Salamanca<br />

A “Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e<br />

Qualidade” aconteceu de 7 a 10 de junho de 1994 em Salamanca, Espanha.<br />

Reuniram-se mais de trezentos representantes de noventa e dois governos e de vinte e<br />

cinco organizações internacionais, com o objetivo de promover a Educação para Todos,<br />

analisando as mudanças fundamentais de política necessárias para favorecer o enfoque da<br />

educação integradora, capacitando as escolas para atender a todas as crianças, sobretudo às<br />

que têm necessidades educativas especiais.<br />

Nessa Conferência foi aprovada a Declaração de Salamanca contendo princípios,<br />

políticas e práticas para as necessidades educativas especiais e sugerindo uma linha de<br />

ação. Foi nessa Declaração que se instituiu o compromisso para orientar os princípios de<br />

atendimento ao aluno portador de necessidades educativas especiais (NEE’s) para<br />

freqüentar a rede regular de ensino e dessa forma se estruturar uma escola adequada e<br />

15


preparada para atender as peculiaridades de cada aluno e, em condições favoráveis, para<br />

o atendimento especializado.<br />

Atualmente, as questões concernentes às pessoas com necessidades especiais estão<br />

sendo discutidas e os movimentos em relação a sua inclusão vêm adquirindo força.<br />

Aos poucos, as capacidades destas pessoas estão sendo reconhecidas e para ajudá-las a<br />

desenvolver seu potencial é necessário uma organização escolar mais flexível, que permita<br />

a aplicação de um currículo adaptado e a utilização de métodos, técnicas e recursos<br />

especiais, como o computador, softwares educacionais e sistemas de comunicação<br />

alternativa.<br />

Conforme lembra Ribeiro Sprovieri (1998 p. 45),<br />

“Com a Declaração de Salamanca (1994) os<br />

estudiosos de Educação despertaram para a<br />

necessidade de discutir o conceito de Escola<br />

Inclusiva que diz respeito não só ao campo da<br />

Educação Especial, mas que supõe mudanças<br />

significativas na Educação Comum, supondo<br />

entendimentos entre especialistas de todas as<br />

áreas”.<br />

2.2. A LDB e a Educação de Surdos<br />

De acordo com as informações contidas no documento “Novas Diretrizes da<br />

Educação Especial – Documentos legais”, distribuído pela Secretaria Estadual de<br />

Educação, em março de 2001, A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de<br />

que 10% de uma população é portadora de uma deficiência e dados da mesma secretaria<br />

afirmam que, no Estado de São Paulo, a rede pública atende em média 6 milhões de alunos,<br />

dos quais 15.000 apresentam algum tipo de deficiência, ou seja, 0,25% de seus alunos.<br />

Durante um longo período, as diretrizes e bases da educação nacional estiveram<br />

consolidadas na Lei Nº4.024 de 20 de dezembro de 1961, e posteriormente pela Lei Nº<br />

5692/71 de 11 de agosto de 1971, também conhecida como Reforma Passarinho*, que<br />

* Ministro de Estado da Educação em 1971.<br />

16


vigorou por 25 anos, até meados de 1996, quando o Presidente da República, Fernando<br />

Henrique Cardoso, em 20 de dezembro de 1996 sancionou a nova Lei de Diretrizes e Bases<br />

da Educação Nacional - LDB- sob o Nº 9.394/96.<br />

Cabe salientar que a Lei Nº5.692/71 teve como característica marcante a<br />

reformulação do Ensino, organizando-o em 1º e 2º graus, já a Lei Nº. 9394/96 contempla<br />

essa divisão de outra forma, apresentando as diferentes modalidades de ensino da seguinte<br />

forma: Ensino Fundamental Ciclo I (1ª a 4ª série), Ciclo II (5ª a 8ª série) e Ensino Médio,<br />

enfatizando o ensino em ciclos e só permitindo a retenção dos alunos nos términos de cada<br />

ciclo e, propondo uma postura mais compromissada do professor com o “ensinar e ensinar<br />

bem”.<br />

Já que o aluno não pode ser retido ao final de cada ano, o corpo docente deve<br />

garantir o processo de ensino-aprendizagem permanente e com responsabilidades.<br />

colocação:<br />

No que concerne a educação especial, a LDB destina o capítulo V, e faz a seguinte<br />

Entende-se por educação especial, para efeitos desta Lei,<br />

a modalidade de educação escolar, oferecida<br />

preferencialmente na rede regular de ensino, para<br />

educandos portadores de necessidades educativas<br />

especiais.<br />

§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio<br />

especializado, na escola regular, para atender as<br />

peculiaridades da clientela de educação especial.<br />

§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,<br />

escolas ou serviços especializados, sempre que, em<br />

função das condições específicas dos alunos, não for<br />

possível a sua integração nas classes comuns de ensino<br />

regular.<br />

§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional<br />

do Estado, tem início na faixa etária de 0 a 6 anos,<br />

durante a educação infantil.<br />

§ 4º O educando em condições de integrar-se no Ensino<br />

Regular tem assegurado matrícula no ensino público<br />

básico.<br />

17


Art.59 Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos<br />

com necessidades especiais:<br />

I- currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e<br />

organização específica para corresponder às suas<br />

necessidades;<br />

II- terminalidade específica para aqueles que não possam<br />

atingir o nível exigido para conclusão do ensino<br />

fundamental;<br />

III- professores com especialização adequada em nível<br />

médio ou superior, para atendimento especializado, bem<br />

como professores do Ensino Regular capacitados para a<br />

integração desses educandos nas classes comuns;<br />

IV- educação especial para o trabalho, visando a sua<br />

efetiva integração na vida em sociedade, inclusive<br />

condições adequadas para os que não revelem capacidade<br />

de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação<br />

com o Sistema de Formação Técnico-Profissional e as<br />

áreas de trabalho e da assistência social;<br />

V- acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais<br />

suplementares para o nível de ensino regular respectivo.<br />

Art.60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino<br />

estabelecerão critérios de caracterização das instituições<br />

privadas sem fins lucrativos especializadas e com atuação<br />

exclusiva em educação especial, para fins de apoio<br />

técnico e financeiro pelo poder público.<br />

Parágrafo único - O Poder Público adotará como<br />

alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos<br />

educandos com necessidades especiais na própria rede<br />

pública regular de ensino, independentemente do apoio às<br />

instituições previstas neste artigo.<br />

Analisando o texto que compõe o capítulo V, nota-se que as pessoas que o<br />

elaboraram encontravam-se familiarizadas com algumas expressões atualmente utilizadas<br />

por especialistas em educação especial e conseguiram abolir expressões antigamente<br />

usadas, tais como, excepcional, deficientes, tratamento... Percebe-se também que essa<br />

redação obedece às recomendações de organismos internacionais sobre educação especial,<br />

por exemplo, a Declaração de Salamanca (1994), instrumento, entre muitos outros, que<br />

preconiza avanços conceituais e práticos significativos que contribuem para a eliminação<br />

de estigmas e preconceitos relativos a portadores de necessidades educativas especiais.<br />

18


Denominando alunos portadores de deficiência como aqueles que apresentam<br />

necessidades educacionais especiais, a LDB descaracteriza o conceito do aluno portador de<br />

um déficit, pois na realidade todos os alunos possuem modos diferentes de aprender. Sendo<br />

assim, o caráter democrático da inclusão social está presente e indicado como dever da<br />

sociedade, do poder público e da escola que devem promover políticas, ações e recursos<br />

que atendam às necessidades educacionais de todos os alunos.<br />

Quadro atual das formas de atendimento que são oferecidas na área da educação<br />

especial, segundo informações do Serviço de Educação Especial/SP (S.E.E. /CENP)*.<br />

Formas de<br />

atendimento<br />

C<br />

A<br />

R<br />

A<br />

C<br />

T<br />

E<br />

R<br />

I<br />

Z<br />

A<br />

Ç<br />

Ã<br />

O<br />

Classe Especial Sala de Recursos Classe Hospitalar<br />

Alunos da mesma<br />

área de<br />

excepcionalidade.<br />

Permanência do<br />

professor na<br />

classe<br />

Ensino<br />

individualizado.<br />

Atende o aluno<br />

na própria escola.<br />

Agrupamento variável<br />

e assistemático de<br />

alunos da mesma área<br />

de excepcionalidade.<br />

Ensino<br />

individualizado.<br />

Permanência do<br />

professor na classe.<br />

O aluno é matriculado<br />

na classe<br />

comum/especial para<br />

atendimento<br />

combinado.<br />

Pode atender alunos<br />

de várias escolas<br />

Alunos vítimas de acidentes ou<br />

portadores de doenças crônicas.<br />

Professor presta atendimento em<br />

leito ou em sala própria perto da<br />

enfermaria ou dos quartos.<br />

Ensino individualizado.<br />

O aluno pode estar matriculado<br />

na classe comum ou na própria<br />

classe hospitalar.<br />

Atende alunos hospitalizados,<br />

por período prolongado, ou não,<br />

de várias escolas.<br />

*Secretaria de Educação Especial - Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.<br />

19


2.3. A Política Educacional do Estado de São Paulo: Documentos Legais<br />

Em 1917, no Estado de São Paulo, começam a aparecer as primeiras iniciativas<br />

educacionais voltadas às pessoas portadoras de deficiência, inicialmente através de<br />

instituições especializadas, de caráter filantrópico, que muito contribuíram para informar e<br />

sensibilizar a sociedade paulista quanto aos direitos dessas pessoas.<br />

São Paulo foi pioneiro na implantação de serviços educacionais voltados ao<br />

atendimento de portadores de deficiência na rede pública de ensino. Em 1933, foi elaborado<br />

o “Código de Educação”, instituído pelo Decreto Lei Nº 5.881 de 21 de abril de 1933, que<br />

estabeleceu proporções para os aspectos filosóficos, sociais e técnicos da educação<br />

especial, no contexto de escola pública. A partir de então, iniciou-se a criação de classes<br />

especiais, salas de recursos e unidades de ensino itinerante. No entanto, estas duas últimas<br />

modalidades de ensino eram direcionadas especificamente para a área da deficiência visual.<br />

Inicialmente, as classes especiais instaladas nas escolas da rede regular de ensino<br />

visavam preparar o “aluno com deficiência” para inserção numa classe comum, no entanto,<br />

com o decorrer do tempo, passaram a ter caráter permanente, não mais atendendo à<br />

perspectiva de inclusão educacional inicial e sim, passando a atender alunos das mais<br />

variadas dificuldades de aprendizagem, multirrepetentes, estigmatizando alunos.<br />

Cabe salientar que, não generalizando, algumas classes especiais não se imbuíram de<br />

uma atitude paternalista, muito comum na área educacional, destacando o profissionalismo<br />

de professores especializados e diretores que fizeram cumprir seu papel.<br />

Atualmente, o Serviço de Educação Especial/SP vem implementando ações para que a<br />

educação especial promova um atendimento escolar de qualidade a todos os alunos:<br />

incentivando a autonomia administrativa/pedagógica, enviando diretamente para as<br />

Diretorias de Ensino e Unidades Escolares recursos que possibilitem a implantação de seus<br />

próprios projetos pedagógicos, criando salas ambientes de informática e para as classes<br />

especiais, verbas para aquisição de computadores e acesso a Internet. Assim, certifica-se do<br />

progresso e aprimoramento da qualidade de ensino, contemplando a inclusão escolar de<br />

alunos com necessidades educacionais especiais.<br />

A idéia de inclusão escolar está fundamentada nos seguintes documentos legais:<br />

20


1. Constituição da Republica Federativa do Brasil:<br />

• Art. 205 - “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será<br />

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno<br />

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua<br />

qualificação para o trabalho”.<br />

• Art.206 – Inciso I, “(...) o ensino será ministrado com base nos seguintes<br />

princípios”:<br />

I - igualdade de condições para o acesso e<br />

permanência na escola;<br />

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e<br />

divulgar o pensamento, a arte e o saber;<br />

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas<br />

e coexistência de instituições públicas e privadas de<br />

ensino;<br />

IV - gratuidade do ensino público em<br />

estabelecimentos oficiais;<br />

• Art. 208 - Inciso III – O dever do Estado com a educação será efetivado<br />

mediante a garantia de:<br />

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito,<br />

inclusive para os que a ele não tiveram acesso na<br />

idade própria;<br />

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e<br />

gratuidade ao ensino médio;<br />

III - atendimento educacional especializado aos<br />

portadores de deficiência, preferencialmente na rede<br />

regular de ensino;<br />

IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças<br />

de zero a seis anos de idade;<br />

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da<br />

pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade<br />

de cada um;<br />

21


VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às<br />

condições do educando;<br />

VII - atendimento ao educando, no ensino<br />

fundamental, através de programas suplementares de<br />

material didático-escolar, transporte, alimentação e<br />

assistência à saúde.”<br />

2. Lei 7.853/89, que dispõe sobre a responsabilidade do Poder Público em prover<br />

condições para o ingresso e a permanência de alunos com necessidades especiais<br />

nos sistemas de ensino.<br />

3. Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).<br />

4. Lei 9.394/96 – LDB que em seu capítulo V dispõe sobre a educação especial como<br />

modalidade de educação escolar, oferecida em todos os níveis de escolaridade,<br />

preferencialmente na rede regular de ensino;<br />

5. Decreto nº 3.298 de 20/12/1999, que regulamenta a Lei 7.853, na Seção II,<br />

definindo a atuação do governo, indicando ações específicas e visando criar<br />

condições para a universalização do atendimento educacional;<br />

6. Deliberação Nº 05/00 de 04 de maio de 2000.<br />

7. Resolução SE N° 95/00 de 21de novembro de 2000.<br />

8. Lei Nº 10.958 de 27 de novembro de 2001, que torna oficial a Língua Brasileira de<br />

Sinais –LIBRAS- e dá providências.<br />

9. Resolução SE – 61, de 05 de abril de 2002, que dispõe sobre ações referentes ao<br />

programa de Inclusão Escolar.<br />

2.4.Legislação Atual<br />

Deliberação CEE Nº. 05/00 - Fixa normas para a educação de alunos que<br />

apresentam necessidades educacionais especiais na educação básica do sistema estadual de<br />

ensino.<br />

Resolução SE Nº 95/00 de 21/11/2000 – Dispõe sobre o atendimento de alunos<br />

com necessidades educacionais especiais nas escolas da rede estadual de ensino e dá<br />

providências correlatas.<br />

Lei Nº 10.958 de 27/11/2001 – Onde o governador do Estado de São Paulo<br />

promulga a seguinte lei: “Fica reconhecida oficialmente a Língua Brasileira de Sinais<br />

22


(LIBRAS) e os demais recursos de expressão a ela associada como meio de comunicação<br />

objetiva e de uso corrente da Comunidade Surda”.<br />

Resolução SE – 61, de 05/04/ 2002, que dispõe sobre ações referentes ao programa<br />

de Inclusão Escolar, prevê ações que garantam o sucesso escolar dos alunos com<br />

necessidades educativas especiais, por meio de currículo adaptado, profissional capacitado,<br />

estratégias de ensino e o uso de recursos e materiais didáticos específicos.<br />

Sem dúvida, tais regulamentações estaduais caracterizam um avanço significativo<br />

da educação especial no estado de São Paulo e muito somam ao movimento em prol do<br />

bilingüismo que, cada vez mais vem sendo divulgado nas classes especiais, e nos meios de<br />

comunicação. Hoje, em algumas emissoras de TV, existem programas com tradução<br />

simultânea em língua de sinais e programas onde a função legenda oculta (closed caption)<br />

está disponível.<br />

No bilingüismo existe uma preocupação em considerar os relatos de surdos adultos<br />

e tomá-los como contribuição para melhor entendermos as dificuldades dos surdos na<br />

escola e as possíveis modificações e avanços no ensino do surdo, e na formação do<br />

professor especialista.<br />

Atualmente, a reivindicação da comunidade surda que clama por um intérprete da<br />

língua brasileira de sinais nas escolas públicas em todos os níveis de ensino, passa a ser<br />

discutida entre educadores e gestores da educação, e agora com a Lei N o 10.958/2001,<br />

cresce a necessidade de formar professores proficientes em LIBRAS para melhor atender<br />

essa clientela, respeitando sua cultura.<br />

Diante dessa nova tendência na educação de surdos, qual seria o papel do professor<br />

especializado?<br />

Diante das evoluções sociais, culturais e tecnológicas do mundo atual, que<br />

modificam o pensamento humano e exigem cada vez mais pessoas criativas, autocríticas e<br />

construtoras de seu conhecimento, o uso do computador de forma pedagogicamente correta<br />

e adequada às necessidades da população surda, poderia beneficiar o processo de ensino,<br />

auxiliando o professor no desenvolvimento da LIBRAS e na aquisição da leitura e escrita<br />

dos surdos, incentivando a inclusão escolar e social dessa clientela? Poderia ainda as TIC’s<br />

influenciarem positivamente na formação e na atuação de um professor crítico-reflexivo,<br />

que além de dominar as técnicas que envolvem o uso do computador, esteja preparado para<br />

23


uma pedagogia fundamentada em métodos que visam a acumulação de informações pelo<br />

aluno?<br />

Conforme citação de Paulo Freire (1990):<br />

“É necessário sermos homens e mulheres<br />

de nosso tempo que empregam todos os recursos<br />

disponíveis para dar o grande salto que nossa<br />

educação exige”.<br />

Evidentemente podemos fazer melhor pela educação dos surdos. Entretanto, levar o<br />

professor a refletir sobre sua prática educativa em sala de aula e buscar as condições<br />

favoráveis para que o processo de ensino de surdos, agora apoiado em legislações que dão<br />

respaldo a implantação da informática na educação e no reconhecimento oficial da<br />

LIBRAS, é prioridade para uma educação de qualidade, compromissada com o avanço<br />

escolar dos portadores de necessidades educativas especiais.<br />

O papel da Educação no mundo atual indica um horizonte mais amplo e<br />

diversificado, tendo em vista a formação de estudantes capazes de adquirir e desenvolver<br />

novas competências, em função de novos saberes que se produzem e que demandam um<br />

novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com novas tecnologias e linguagens,<br />

capazes de responder a novos ritmos e processos. Dessa forma, coloca-se, também aos<br />

professores, a necessidade de aprendizagem contínua que lhes possibilitem acompanhar a<br />

dinâmica do movimento científico e cultural em que estão inseridos, para dele participarem<br />

e nele interferirem (ESCOLA DE CARA NOVA. S.E. E. /SP 1998).<br />

2.5. O Futuro da Educação: professor-reflexivo aprendendo sempre<br />

“Se o professor voltar a aprender, voltar a estudar, voltar a se valorizar, ele passa a<br />

cuidar bem do aluno, e o aluno cresce de maneira impressionante. Não sou contra a<br />

tecnologia, os computadores, as antenas parabólicas, mas digo sempre: a peça principal da<br />

tecnologia é o professor” (Pedro Demo, Jornal do Brasil, 08/10/00).<br />

Vivemos a Era da Informação e do Conhecimento, que está criando uma nova<br />

civilização, alterando estilo de vida, ética e trabalho, formas de emprego, conceito de vida,<br />

estruturas econômicas e convicções políticas, mudando paradigmas educacionais.<br />

24


O professor precisa se conscientizar da importância do seu trabalho, de que o<br />

sucesso do aluno dependerá da sua atuação, que ele precisa estudar sua profissão para<br />

compreender como trabalhar dentro desse novo paradigma educacional, surgido com essa<br />

nova sociedade tecnológica da informação e comunicação. Destaca-se o papel do professor<br />

como mediador da aprendizagem do aluno e, para ser mediador, esse professor deve estar<br />

dotado de conhecimentos e informações, renovando-as constantemente. É necessário estar<br />

atento aos vários ambientes de aprendizagem, observando a melhor maneira de fazer a<br />

aplicação prática e o modo de utilizar as novas tecnologias da informação e comunicação<br />

como ferramenta pedagógica eficaz.<br />

Dentro de um enfoque transdisciplinar (RANDOM, 1996), o professor deverá ter<br />

visão e consciência da sua atitude, da sua práxis, para ousar, antecipar, diagnosticar e<br />

participar do processo de aprendizagem, levando o educando ao desenvolvimento pleno das<br />

suas potencialidades.O trabalho intelectual e educacional deve visualizar o futuro e, dessa<br />

forma, os professores podem tornar-se intelectuais: olhando para o futuro.<br />

O professor intelectual deverá trabalhar enfocando programas educacionais que o levem<br />

ao:<br />

• Entendimento e desenvolvimento do perfil cognitivo de cada aluno;<br />

que segundo Morin(2000), afirma “ o conhecimento das informações<br />

e os dados isolados é insuficiente. É preciso situar as informações e<br />

os dados em seu contexto para que adquiram sentido<br />

• Avaliar as capacidades e tendências individuais;<br />

• Adequar práticas educativas a fim de atender as particularidades do<br />

aprender individual, percebendo que nem todos aprendem da mesma<br />

forma;<br />

Conhecer e incorporar os Pilares da Educação para o próximo<br />

milênio que segundo o Relatório para a UNESCO da Comissão<br />

Internacional sobre Educação no Século XXI (DELORS, 1997), são:<br />

Aprender a conhecer;<br />

Aprender a fazer;<br />

Aprender a viver em conjunto;<br />

Aprender a ser.<br />

Nesse contexto, o professor toma consciência da sua responsabilidade políticosocial,<br />

podendo incorrer em mudança na sua prática pedagógica, passando a atuar como<br />

pesquisador de sua práxis.<br />

25


“A escola deve estimular as crianças a aprenderem a estudar e pensar e também a<br />

aprenderem a se comunicarem e a viverem em conjunto. Aprender a estudar e a pensar é<br />

essencial no mundo marcado pelo excesso de informações e conhecimentos que<br />

envelhecem muito rapidamente, mas não é menos importante aprender a comunicar e viver<br />

em conjunto, estimulando a criança a falar, ouvir, construir em conjunto” (Antonio Nóvoa,<br />

Caderno de Empregos, JB de 03/06/99).<br />

Analisar a partir de tudo o que existe é uma forma existencialista de construção do<br />

pensamento, mas essa forma existencialista não exclui a emoção, o que pode nos levar a<br />

encontrar formas de nos comunicarmos de maneira mais direta e pessoal.<br />

De acordo com Moacir Gadott em entrevista concedida ao Jornal do Brasil o<br />

cotidiano escolar deve envolver afetividade, "Porque passamos muito tempo de nossas<br />

vidas na escola - não só os professores - devemos ser felizes nela. A felicidade na escola<br />

não é uma questão de opção metodológica ou ideológica. É uma obrigação essencial dela".<br />

(Moacir Gadott, Caderno de Empregos, JB de 04/06/2000)<br />

A tarefa do professor é ousada, e se estiver disposto a ser um professor-intelectual,<br />

está predestinado a se arriscar, considerando em primeiro lugar que o reconhecimento de<br />

diferentes circunstâncias impõe duplo caminho: da análise para a síntese e da síntese para a<br />

análise, pois só dessa forma estaremos fazendo, ao mesmo tempo, a crítica das situações e a<br />

nossa própria autocrítica, o que faz que percebamos que não estamos totalmente prontos,<br />

acabados e sim aptos para continuar...<br />

Donald A. Schön levanta três questões básicas a respeito do trabalho do professor:<br />

1. Quais as competências que os professores deveriam ajudar as<br />

crianças a desenvolver?<br />

2. Que tipos de conhecimento e de fazer permitem aos professores<br />

desempenhar seu trabalho eficazmente?<br />

3. Que tipos de formação serão mais viáveis para equipar os professores<br />

com as capacidades necessárias ao desempenho do seu trabalho?<br />

“(...) uma crise de confiança no conhecimento profissional, que desperta a busca de<br />

uma nova epistemologia da prática profissional. Na educação, esta crise centra-se num<br />

conflito entre o saber escolar e a reflexão-na-ação dos professores e alunos” (SCHÖN, 1992<br />

p.80).<br />

O conceito de professor reflexivo na verdade é um movimento que vem acontecendo na<br />

formação de professores, é reflexivo por que é através da reflexão da sua experiência que<br />

26


acontece o conhecimento. É um constante reconstruir de sua prática educativa, envolve a<br />

noção do aprender a fazer, com o objetivo de adquirir não apenas uma qualificação<br />

profissional, mas também adquirir competências que o torne um professor mais apto para<br />

enfrentar as diversas situações e a trabalhar em equipe.<br />

A idéia de professor reflexivo como adjetivo está relacionada ao senso comum, pois<br />

todo e qualquer profissional é reflexivo, segue passos etapas para desenvolver sua tarefa;<br />

mas a idéia de reflexivo como movimento envolve a questão de que não é só resolver uma<br />

situação prática, mas a partir dela elaborar um conhecimento dessa prática, problematizar,<br />

elaborar hipóteses, testá-las, o professor precisa investigar, problematizar a realidade e<br />

assim a prática não será repetitiva. O professor reflexivo torna-se pesquisador da sua<br />

própria prática.<br />

De acordo com Schön, o modelo centralizador, o velho paradigma educacional, não é<br />

favorável ao surgimento da ação-reflexiva, pois não existe uma coerência entre o saber<br />

escolar (respostas prontas, exatas) e a reflexão na ação (idéia de flexibilidade, do novo, do<br />

aprender coletivo).<br />

A noção do saber escolar, o tipo de conhecimento que os professores supostamente<br />

possuem e transmitem aos alunos, a crença em respostas exatas, não contemplam a idéia de<br />

que o conhecimento acontece diretamente junto com a prática. É através da prática que<br />

ocorre a reflexão.<br />

Schön, assim como alguns autores contemporâneos (Pimenta, Nóvoa), apontam para<br />

algumas das características do professor reflexivo, descrevendo que ele deverá atuar como<br />

mediador e facilitador do processo de aprendizagem, deve ser ativo, participativo, flexível e<br />

compreender que a aprendizagem é recíproca e mútua. Será um pesquisador/observador da<br />

evolução de seus alunos, um pesquisador de sua práxis e um observador ativo, intervindo<br />

no momento certo e de forma adequada. O professor investigador terá a técnica e a<br />

tecnologia a serviço do seu trabalho, ele investiga sua prática faz reflexão sobre a sua ação,<br />

cria novas visões, amplia o entendimento do problema, vai buscar a raiz do problema e o<br />

coloca sob nova ótica, dessa forma esse professor ainda pode ser entendido como professor<br />

artista, pois a “arte” cria não apenas formas para resolver, mas também para compreender<br />

fins e valores.<br />

27


O professor reflexivo pode ser também considerado como professor investigador, a<br />

reflexão individual não é suficiente, ele precisa de referências externas para ampliar suas<br />

reflexões, precisa da teoria para romper os limites da compreensão que ele tem de sua<br />

prática, precisa analisar sua prática, explicitar seus valores sociais. O que significa para ele<br />

ser professor, como ultrapassar a dimensão de suas técnicas? Como se apropriar de novos<br />

conhecimentos e como essa apropriação vai melhorar sua práxis?<br />

A prática reflexiva é o fator primordial que deve alicerçar a formação profissional<br />

dos professores, uma vez que a formação reflexiva, para Zeichner (1988), pode aumentar a<br />

capacidade do professor lidar com as incertezas, a complexidade e a diversidade cultural e<br />

humana.<br />

Em seu livro: “Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro”, Edgard Morin<br />

afirma que: “As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente<br />

revelaram, ao longo do século XX, inúmeras zonas de incertezas que surgiram nas ciências<br />

físicas (microfísicas, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológicas e<br />

nas ciências históricas” (p.16). O professor lida diariamente com os imprevistos, fato único,<br />

que segundo Schön (1987), não abordado em teorias e técnicas existentes, é o que se<br />

conhece por “zonas indeterminadas da prática docente”.<br />

Com base em Morin (2000) “O inesperado surpreende-nos. É que nos instalamos de<br />

maneira segura em nossas teorias e idéias, e estas não têm estrutura para acolher o novo.<br />

Entretanto, o novo brota sem parar... e quando o inesperado se manifesta, é preciso ser<br />

capaz de rever nossas teorias e idéias, em vez de deixar o fato novo entrar à força na teoria<br />

incapaz de recebê-lo” (p.30).<br />

O professor refletindo sobre sua prática em sala de aula e procurando inovar suas<br />

aulas, utilizando as tecnologias da informação e comunicação, demonstra uma competência<br />

fundamental ao novo paradigma educacional da escola atual, pois a escola hoje não<br />

consegue competir com o mundo lá fora, vídeo-game, televisão, vídeo-cassete, cinema. O<br />

aluno é do mundo e o surdo não pode ficar excluído desse mundo. De acordo com Paulo<br />

Bedaque, em seu artigo: O presente do futuro -Uma visão pedagógica da Multimídia* “É<br />

preciso procurar novos caminhos, novas soluções na transferência de informações”.<br />

*Anais do Confie-Congresso e Feira de Informática e Educação - Dias 26,27 e 28 de junho de 1997- Anhembi SP<br />

28


Os canais de comunicação com o mundo são mais amplos do que os explorados na<br />

escola de um modo geral” (p.165). Em suma, alunos que nas aulas convencionais não tem<br />

um bom desempenho escolar em certas disciplinas, poderão ter um bom desempenho se o<br />

professor usar outros recursos de comunicação, por exemplo, o computador, isto é, se ele<br />

estiver imbuído de uma visão pedagógica da multimídia.<br />

A escola não se tem mantido contemporânea, ela se tornou arcaica, não acompanha<br />

o progresso da ciência e da tecnologia. O professor reflexivo deve se apropriar dessa<br />

contemporaneidade, ele tem que transpor e estar apto para enfrentar o imprevisto, ele deve<br />

ser capaz de deliberar em ação, transformar as disciplinas e o conhecimento dos alunos, o<br />

seu ato pedagógico é único, não pode se repetir.<br />

2.6. A surdez<br />

A surdez é um impedimento sensorial que causa no indivíduo danos lingüísticos,<br />

cognitivos, emocionais, sociais e escolares, o que pode produzir graves limitações na vida<br />

do surdo, visto que a linguagem é a principal função mental do ser humano, sendo a<br />

capacidade de utilizá-la o fator que o difere de outros animais. Ela pode gerar no indivíduo<br />

um sério bloqueio comunicativo levando-o a não compartilhar e participar da sociedade do<br />

ouvinte, o que leva a criança surda a sofrer sérias dificuldades escolares e o adulto surdo à<br />

incapacidade de inserção no mercado de trabalho.<br />

Ouvir é, normalmente uma importante fonte de agradáveis experiências sociais.<br />

Uma linguagem comum é o principal meio de interação social do homem (TELFORD<br />

&SAWREY, 1978, p.395). Dentre as causas da surdez, de acordo com TELFORD<br />

&SAWREY, podemos afirmar que “alguns defeitos são herdados. Existe um tipo<br />

hereditário de surdez neurodegenerativa que pode estar presente à nascença ou<br />

desenvolver-se ulteriormente. Infecções como a rubéola, no inicio da gravidez, assim como<br />

a gripe e a caxumba, podem provocar a surdez congênita, não hereditária. Ocasionalmente<br />

nasce uma criança com ausência ou malformação do canal auditivo externo, do tímpano ou<br />

dos ossículos do ouvido médio” (op.cit p.403). Doenças infantis, tais como, escarlatina,<br />

caxumba, sarampo e coqueluche, e outras como, pneumonia, gripe, meningite e infecções<br />

do ouvido (otitis media) podem causar perdas auditivas.<br />

29


A surdez pode ser diagnosticada nos primeiros meses de vida da criança e com uma<br />

boa adaptação de prótese auditiva, e intenso trabalho de terapia fonoaudiológica e<br />

estimulação da Língua Brasileira de Sinais, a criança surda pode desenvolver a linguagem e<br />

freqüentar a escola com a mesma idade das crianças ouvintes e na fase adulta trabalhar,<br />

constituir família e participar ativamente da sociedade.<br />

As perdas auditivas são classificadas em relação ao seu grau (DEVIS e<br />

SILVERMAN, 1986), como:<br />

• audição normal - perda de até 25 db;<br />

• perda leve - perda de 25 a 40 db;<br />

• perda moderada - perda de 41 a 70 db;<br />

• perda severa - perda de 71 a 90 db;<br />

• perda profunda - perda superiores a 91 db.<br />

A grande maioria dos surdos possui resíduos de audição que podem ser estimulados<br />

na terapia com auxílio de instrumentos específicos, provocando uma melhora na<br />

discriminação auditiva e possibilitando ao surdo compreender sons e seqüências de fala<br />

previamente trabalhadas. Com a utilização da audição residual e da leitura orofacial, a<br />

criança surda poderá iniciar uma comunicação com seus interlocutores e desenvolver a<br />

linguagem. Este, no entanto é um processo bastante longo.<br />

Há cerca de 300 anos vem acontecendo a educação de surdos no Brasil, sendo que<br />

no seu início pouco se conhecia na psicologia sobre o problema e os indivíduos deficientes<br />

eram colocados em asilos. A surdez e a conseqüente mudez eram confundidas com uma<br />

inferioridade de inteligência. É verdade, porém, que a ausência da linguagem influi<br />

profundamente no desenvolvimento psicossocial do indivíduo. A compreensão da fala<br />

através da forma motora dos sons nos lábios e movimentos da face, implícitos na produção<br />

de elementos fonéticos, aliada à utilização dos resíduos auditivos, fazem parte das diversas<br />

metodologias de oralização.<br />

Numa perspectiva médico-oralista, são técnicas de estimulação global o uso das<br />

tecnologias na área fonoaudiológica aplicadas ao diagnóstico e tratamento de distúrbios da<br />

30


fala e o uso da informática dentro do processo terapêutico, estas podem implicar na<br />

reabilitação de deficientes auditivos.*<br />

Será que o uso das Tecnologias da Comunicação e da Informação só pode servir ao<br />

surdo numa perspectiva médica de reabilitação? A aplicação da informática educacional<br />

não poderá facilitar o processo de ensino nas classes especiais?<br />

2.7. A Educação de Surdos e a Língua de Sinais<br />

É necessária a compreensão dos motivos subjacentes à mudança de orientação da<br />

filosofia educacional em relação ao surdo, do oralismo à comunicação total e desta ao<br />

bilingüismo que defende que a língua de sinais deve se desenvolver o mais cedo possível.<br />

Estimativas mundiais revelam que do total de surdos existentes, apenas 15% atinge<br />

o nível secundário e 1% o nível universitário.<br />

O método Oralista acreditava que o surdo só seria capaz de aprender e de pensar se<br />

adquirisse a fala e concebia os sinais como uma forma inferior de comunicação. Na área<br />

educacional, esse método foi um fracasso, pois não conseguiu atingir a todos os surdos que<br />

passaram por esse processo de escolarização.<br />

Comunicação Total prática educativa utilizada com os deficientes auditivos, que<br />

propõe o uso de múltiplos meios comunicativos, através de recursos lingüísticos e não<br />

lingüísticos, combinando sinais, oralização, leitura orofacial, gestos, linguagem escrita,<br />

alfabeto digital, pantomima, desenho etc... Uma forma de explorar todo o recurso<br />

disponível para atingir o surdo por meio dos canais: auditivo, visual, tátil...<br />

A prática da Comunicação Total despertou a consciência de que os sinais<br />

facilitavam o ensino do professor e serviam para a comunicação fluir de forma mais<br />

natural, respeitando a língua materna dos surdos, dessa forma o desempenho educacional<br />

progredia.<br />

O Bilingüismo é a exposição do surdo a dois ambientes lingüísticos: o gestual e o<br />

oral. Um dos objetivos da introdução o mais precoce possível da Língua de Sinais é de que<br />

se garanta que a criança não terá retardo no seu desenvolvimento lingüístico.<br />

* A Estimulação Global e a Informática no Processo Terapêutico nos Portadores de Deficiência auditiva - 1º Congresso Brasileiro de<br />

Educação de Surdos, junho de 1999<br />

31


Em seu artigo “A língua de sinais brasileira e sua iconicidade: análises<br />

experimentais computadorizadas de caso único”, o professor Capovilla (1998) faz uma<br />

análise de alguns fatores psicossociais e algumas concepções históricas acerca de surdez,<br />

apontando para antigos preconceitos em relação ao surdo e a sua língua, atrelados à idéia de<br />

que a Língua de Sinais era apenas representações analógicas e icônicas, típicas do estágio<br />

pré-lingüístico de mímica e pantomima. Wilhelm Wundt (fundador da psicologia<br />

experimental) foi uns dos primeiros acadêmicos a defender as concepções lingüística e<br />

antropológica das línguas de sinais como linguagem própria e dos surdos como um povo<br />

com uma cultura própria. Antigamente a Língua de Sinais era vista como uma forma<br />

inferior de comunicação, com vocabulário limitado de sinais, sem estrutura hierárquica,<br />

gramática ou abstração, limitada a uma representação holística de certos aspectos concretos<br />

da realidade. A partir da década de 60, a Língua de Sinais é reconhecida como linguagem,<br />

com sinais lexicais específicos, arbitrários e convencionais, uma morfologia ricamente<br />

complexa e uma sintaxe espacial própria.<br />

No enfoque educativo, o desenvolvimento lingüístico e cognitivo seria garantido<br />

pela Língua de Sinais, considerando-a como língua materna e, a segunda língua oral e/ ou<br />

escrita garantiria a integração do surdo no mundo dos ouvintes. A ênfase é dada a Língua<br />

de Sinais como língua materna do surdo, sua língua natural, e a condição do surdo não<br />

como deficiente e sim como diferente possuidor de uma cultura própria.<br />

No bilingüismo, o pressuposto básico coloca a leitura e escrita como segunda<br />

língua, dentro da Língua Portuguesa. Para o surdo é a Língua Brasileira de Sinais sua<br />

primeira Língua.<br />

As diferentes formas de educação têm prós e contras, alguns “oralizadores” radicais,<br />

por exemplo, se esforçam ao máximo para aproveitar os resíduos auditivos das crianças, no<br />

entanto, isso nem sempre é possível. Da mesma forma, existem surdos que se recusam a<br />

falar porque entendem que assim estarão fortalecendo a cultura dos surdos e forçando os<br />

ouvintes a adotarem os sinais.<br />

Mencionei o parágrafo acima apenas para ilustrar que existem controvérsias a<br />

respeito das diferentes abordagens metodológicas no ensino do surdo, apesar da legislação<br />

atual tornar oficial a Língua de Sinais (Lei Nº 10.958/01).<br />

32


Cárnio (1998), em seu artigo “O papel da família e da escola no processo de leitura<br />

e escrita do surdo”, além de fazer algumas reflexões sobre as interferências do contexto<br />

educacional no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem oral/sinalizada e<br />

escrita de surdos, discute “como a forma atuação dos professores dificulta o processo de<br />

aquisição da leitura e escrita por jovens surdos e, em virtude disso, a inclusão desses jovens<br />

no ensino comum torna-se prejudicada”.<br />

Cárnio relata: “O surdo passou a ser visto como uma pessoa que possui uma forma<br />

própria de comunicação, que deve ser respeitada, e a linguagem oral, como uma segunda<br />

língua, que o surdo vai aprender se for do seu interesse”. Assim, considera-se o surdo como<br />

alguém com uma língua diferente (a de Sinais) do ouvinte, mas não desviante.<br />

Entretanto, quando falamos na aquisição da língua escrita vamos encontrar uma<br />

série de dificuldades, entre elas a questão da opção da família quanto ao tipo de<br />

comunicação que estabelecerá com seu filho, se os pais também forem surdos, é quase certo<br />

que a Língua de Sinais será naturalmente desenvolvida e apreendida, mas quando o surdo é<br />

filho de pais ouvintes que desconhecem a Língua de Sinais, essas crianças surdas<br />

apresentam desvantagens e dificuldades para incorporar a Língua de Sinais como sua<br />

primeira língua (é essa maioria de alunos que temos como clientela).<br />

Oliver Sachs (1990) em seu livro, “Vendo vozes”, afirma que os “surdos possuem<br />

uma cultura própria, isto é, que os surdos são um ‘povo’ e não apenas um número de<br />

indivíduos isolados, anormais e deficientes”.<br />

Várias pesquisas sugerem que a criança surda de nascença, com acesso a uma língua<br />

espaço-visual proporcionada por pais surdos, desenvolverá uma linguagem sem qualquer<br />

deficiência. Além disso, os dados sugerem que os fundamentos da linguagem não estão<br />

baseados na forma do sinal, mas sim, na função lingüística que a serve (Petitto, 1987;<br />

Petitto & Bellugi, 1988; Petitto & Marantette, 1991; Bellugi & Klima, 1979, 1990;<br />

Karnopp, 1994; Quadros, 1995).<br />

Acredita-se que a língua de sinais brasileira, a LIBRAS, deve ser amplamente<br />

divulgada e até a ser utilizada em lugares públicos, principalmente no contexto educacional,<br />

este é um processo de longo prazo, que envolve e requer a transformação da sociedade<br />

como um todo.<br />

33


O ensino de línguas deve oferecer a oportunidade ao aluno de estar em contato com<br />

a língua para desenvolvê-la de forma natural (oferecer input). O ideal é que isso aconteça<br />

através do contato intenso com a escrita do Português. O ensino da Língua Portuguesa, no<br />

caso entendida como a segunda língua do surdo, exige uma atenção especial às questões<br />

externas (ambiente interação: input, output, feedback, idade, interesse/motivação, prática<br />

social, estratégias de ensino, estilos de aprendizagem, fatores afetivos). Sugere-se que as<br />

áreas que devam ser enfatizadas no processo de ensino de línguas envolvam os aspectos<br />

relacionados ao sistema morfológico e ao léxico, pois esses refletem as variações das<br />

línguas. Além desses aspectos relacionados diretamente às línguas, cabe salientar que as<br />

questões externas extrapolam as análises lingüísticas no processo educacional.<br />

Em seus trabalhos sobre a linguagem (KANT, 1793) concluiu que os surdos “nunca<br />

podem atingir mais do que um análogo da razão” (1980, p.49) e que mesmo após aprender<br />

a sentir os movimentos dos órgãos da fala, o surdo “nunca chegará aos conceitos gerais<br />

porque os sinais de que ele precisará para tanto nunca serão capazes de representar uma<br />

generalidade” (1980 p.54).<br />

Schopenhauer, afirmava que os surdos não teriam acesso direto ao raciocínio, já que<br />

o raciocínio dependia da linguagem e, para a época a linguagem plena era apenas a oral.<br />

Wilhelm Wundt (1911), o pai da psicologia experimental foi quem revelou a língua de<br />

sinais como uma linguagem em seu próprio direito, defendendo as concepções lingüísticas<br />

e antropológicas da Língua de Sinais e da cultura do surdo.<br />

Saussure (1916) enfatizava a arbitrariedade das relações entre o signo e o seu<br />

referente, e a iconicidade de certos sinais como prova de sua inferioridade. Para a época a<br />

Língua de Sinais não passava de mera gesticulação, mímica e pantomima, sem estrutura,<br />

gramática ou abstração, limitada a uma representação holística de certos aspectos concretos<br />

da realidade. Foi só após os estudos pioneiros de Stokoe (1960) e de Klima e Bellugi<br />

(1979) que se estabeleceu o “status” lingüístico das Línguas de Sinais.<br />

A Língua de Sinais tende a ser tão rápida quanto a fala, ela nasce icônica, mas<br />

quando o sinal se cristaliza torna-se não icônico. Um sinal é considerado icônico quando<br />

seu significado é auto-evidente e arbitrário, quando isso não acontece, quanto maior a<br />

iconicidade de um sinal, maior é a semelhança entre a forma física de um sinal e a forma<br />

física do objeto ou o movimento associado a este objeto ou ação.<br />

34


Ao descrever a morfologia de sinais usados no Brasil, em seu “Dicionário Ilustrado<br />

de Sinais” Capovilla, Raphael e Macedo (1998) freqüentemente mostram uma descrição<br />

icônica revelando a idéia por trás do sinal, isto é, sua relação ideográfica e pictórica,<br />

envolve associações com coisas, eventos, gestos ou comportamentos similares que o sinal<br />

aparenta simular. A análise da morfologia de sinais revela que os sinais são compostos por<br />

variações delimitadas de um conjunto de variáveis bem circunscrito, incluindo um conjunto<br />

finito de configurações de mãos, de locais, de configurações e de movimentos. O<br />

vocabulário da Língua de Sinais é composto de sinais lexicais convencionais dessa língua,<br />

mas nem todos os sinais têm palavras correspondentes na língua falada e vice-versa.<br />

2.8. O Velho e o Novo Paradigma<br />

Atualmente, o que se discute não é mais se a informática faz bem ou mal para a<br />

educação e sim os horizontes que se abrem com a presença da informática no processo de<br />

ensino dos professores das classes especiais e na aprendizagem dos alunos surdos. A<br />

informática e a Internet estão transformando paradigmas e trazendo novos desafios à<br />

educação. Um dos desafios é a função do computador e da Internet na sala de aula. Outro<br />

desafio incide sobre as políticas educacionais que devem atender a grande maioria dos<br />

excluídos, e entre esse contingente de excluídos encontra-se, os alunos portadores de<br />

necessidades educativas especiais. Deve ser revisto o currículo escolar e as suas<br />

aplicações, considerando o universo de informações que os alunos receberão via Internet.<br />

Nesse oceano de informações, o que importa é saber escolher, decidir e criar. Dentro desse<br />

novo cenário, o aprender está no fazer e interagir com a máquina e com outras pessoas.<br />

No velho paradigma educacional, desconsiderava-se a bagagem cultural do aluno, a<br />

idéia era de que o aluno chegava a escola com a cabeça vazia e a escola tinha como função<br />

colocar na cabeça dos alunos conhecimentos e habilidades intelectuais, o que seria testado<br />

através de provas. Nesse contexto, o papel do professor era o de transmissor e detentor de<br />

um saber absoluto e cabia ao aluno um papel passivo, um receptor de informações prontas.<br />

O currículo educacional era fragmentado em classificações estanques, disciplinas separadas<br />

(matemática, ciências, português, inglês, biologia, história, geografia, física...), o conceito<br />

de interdisciplinaridade não habitava esse universo. O aluno que conseguisse terminar o<br />

35


curso estava pronto, formado para ingressar no mercado de trabalho, sem nenhuma<br />

referência a continuidade dos estudos. Hoje se percebe que ninguém está pronto, totalmente<br />

acabado e sim, ao contrário, que está apto para continuar aprendendo. A própria legislação<br />

indica nos históricos escolares que os alunos estão aptos para prosseguirem seus estudos no<br />

nível superior.<br />

O velho paradigma educacional já não serve mais para a sociedade contemporânea,<br />

pois o aumento das informações tanto para os alunos como para os profissionais passou a<br />

ser uma constante no cotidiano de ambos.<br />

O novo paradigma indica um novo cenário escolar, a escola deve ser um lugar<br />

privilegiado de aprendizagem, rico em recursos tecnológicos e humanos onde alunos<br />

possam construir seu conhecimento de forma individual, de acordo com seu próprio ritmo.<br />

A introdução das tecnologias da informação e comunicação na escola já se tornou<br />

uma realidade na rede pública estadual, muito se tem investido na distribuição de recursos<br />

físicos para as escolas e na capacitação dos professores. O início das ações da Secretaria<br />

Estadual de Educação foi marcado pela implantação de salas ambientes de informática em<br />

escolas que atendem ao ensino médio, essa ação recebeu a denominação de Programa de<br />

Informática Pedagógica do Estado de São Paulo, implantou cerca de 3000 salas ambientes<br />

de informática, capacitou multiplicadores dos diversos Núcleos Regionais de Tecnologia<br />

Educacional pertencente a COGSP e CEI*. Agora uma das ações da Secretaria de Educação<br />

está voltada para a aquisição de computadores para as escolas que possuem salas de<br />

recursos ou classes especiais para deficientes mentais, auditivos, visuais e físicos. Tais<br />

ações desencadeiam mudanças na escola, nas perspectivas e possibilidades pedagógicas<br />

provocando impactos para todos que compõem o sistema educacional, tais como<br />

professores, alunos, gestores e comunidade.<br />

Ladislau Dowbor (2000, p.9) em seu texto “A educação frente às novas tecnologias<br />

do conhecimento” afirma que é necessário “entender efetivamente o que são estas<br />

tecnologias, como funcionam, a que servem, que potencial representam.<br />

*COGSP-Coordenadoria da Grande São Paulo.<br />

*CEI - Coordenadoria de Ensino do Interior.<br />

36


Tanto para melhorar a nossa prática pedagógica, como para melhor preparar os<br />

nossos alunos, que terão de utilizar estas tecnologias como parte do cotidiano profissional”.<br />

A melhor compreensão sobre as possibilidades de uso das tecnologias como<br />

ferramentas pedagógicas e sobre os conceitos e paradigmas envolvidos, deverá ser<br />

garantida aos profissionais da Educação, em especial aos professores, contribuindo para um<br />

projeto pedagógico significativo.<br />

2.9.Ações da Secretaria de Educação para Informatização das Classes<br />

Especiais<br />

Em meados de 2000, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo inicia o<br />

processo de implantação de computadores com acesso à Internet nas classes especiais.<br />

Em maio de 2000, foi enviado ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação<br />

(FNDE-MEC), o projeto para o desenvolvimento do Dicionário Digital de Língua<br />

Brasileira de Sinais, em seguida começa a distribuição do CD-ROM “Dicionário Digital da<br />

Língua Brasileira de Sinais” parceria entre o INES - Instituto Nacional de Educação de<br />

Surdos e a Secretaria de Educação Especial. O projeto e concepção desse dicionário foram<br />

obra de estudos e pesquisas que aconteceram no INES e que levaram a conclusão de que<br />

existe certa facilidade e aderência dos alunos surdos às novas tecnologias de comunicação<br />

e informação e a conclusão de que há uma grande defasagem em relação a aquisição da<br />

Língua Portuguesa pelos alunos surdos. Essa defasagem lingüística limitava o acesso dos<br />

surdos a interatividade possibilitada pela Internet, principalmente na troca de informações.<br />

Com base na experiência do Canadá acessível via internet, no site<br />

http://dww.deafworldweb.org (hoje http://www.handspeak.com), onde estavam iniciando<br />

uma experiência em disponibilizar os sinais, da ASL - Língua Americana de Sinais<br />

correspondentes a palavras através de GIFS animados (fotos animadas), nasceu o interesse<br />

do INES (1998-1999) em desenvolver o dicionário de LIBRAS tornando-o acessível pelo<br />

SITE do Instituto, http://www.ines.org.br . O projeto foi desenvolvido em 10 meses a partir<br />

da liberação dos recursos pelo FNDE em janeiro de 2001.<br />

Em 2002, a Secretaria Estadual de Educação através do CAP - Centro de Apoio<br />

Pedagógico fez a distribuição para todas as escolas da rede pública estadual do CD-ROM<br />

37


“Dicionário de LIBRAS Ilustrado”, com o objetivo de equipar todas as escolas com acervo<br />

que facilite a comunicação entre ouvintes e surdos e incrementar ações que contemplem a<br />

efetivação de uma escola inclusiva. Portanto, houve distribuição de dois dicionários via<br />

MEC o “Dicionário Digital da Língua Brasileira de Sinais” com 3.853 sinais/itens lexicais<br />

para se fazer os verbetes e via S.E.E. o “Dicionário de LIBRAS Ilustrado”, este, um pouco<br />

mais sofisticado com mais animações, 43.606 verbetes, 3.340 imagens e 3.585 vídeo.<br />

38


Procedimentos<br />

Metodológicos<br />

39


3. Procedimentos Metodológicos<br />

Analisando e reconhecendo que os diferentes tipos de pesquisas obedecem aos<br />

padrões estabelecidos pela Metodologia Científica e que este aspecto estabelece a coerência<br />

de uma pesquisa, o presente trabalho adotou a abordagem qualitativa.<br />

A Pesquisa Qualitativa é um tipo complexo de pesquisa de campo que tem por objetivo<br />

desenvolver novas habilidades ou abordagens, resolver problemas com aplicação direta ao<br />

contexto da sala de aula.Tem sua ação voltada para as necessidades básicas do indivíduo,<br />

levando em conta suas aspirações e potencialidades de conhecer e agir. Na análise<br />

qualitativa o que é considerado é freqüência ou não de uma dada característica ou de um<br />

conjunto de características num determinado fragmento de mensagem.<br />

Gressler (1979) indica que é a metodologia que procura incentivar o desenvolvimento<br />

autônomo (autoconfiante) a partir das bases e uma relativa independência do exterior, e que<br />

esse tipo de pesquisa tem como objetivo:<br />

• motivar e instrumentar grupos populares para que assumam sua experiência<br />

cotidiana de vida e de trabalho como fonte de conhecimento e de ação de<br />

transformação;<br />

• desenvolver um processo educativo que vise à reconstituição articulada, coerente e<br />

rigorosa da realidade.<br />

A pesquisa seguiu as seguintes etapas:<br />

1. informações sobre a existência ou não de estudos já realizados;<br />

2. delimitação da área de estudo;<br />

3. visitas informais à área (contatos com professores e alunos para observar<br />

seu cotidiano, falar da pesquisa, verificar o uso do computador em sala de<br />

aula);<br />

4. estas visitas propiciaram reuniões mais amplas, onde a equipe de<br />

professores das classes especiais discutiu e trocou informações sobre a<br />

implantação da informática na educação especial e o computador auxiliando<br />

em seu trabalho;<br />

40


A forma como os dados foram coletados foi por entrevista semi-estruturada, que de<br />

acordo com Lüdke & André (1986) é a base para esse tipo de pesquisa. A entrevista oral foi<br />

filmada e centrava num tema particular: o computador na classe especial. A filmagem<br />

aconteceu dentro da sala de aula num período em que os alunos estavam no intervalo ou<br />

numa atividade de leitura com outra professora supervisionando.Também houve filmagem<br />

nas reuniões de capacitação dos professores para o uso do computador, mas nessa<br />

filmagem, mais se observou o desempenho do professor frente à máquina, do que<br />

propriamente a entrevista para coleta de dados. Foram coletadas opiniões expressas sobre:<br />

os acontecimentos no âmbito da classe especial e da escola, as mudanças de atitudes, de<br />

influências e o interesse dos alunos pelas tecnologias da informação e comunicação<br />

(computador, software, Internet, telefone para surdo, TV e vídeo). Os informantes foram<br />

professoras das classes especiais que se mostraram dispostas a responder e aprender,<br />

interessadas em melhorar sua prática pedagógica, expressando seus desejos de comunicar e<br />

receber novas informações.<br />

Oliveira (2000) descreve as pesquisas com abordagem qualitativa da seguinte<br />

forma:<br />

“As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa<br />

possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de uma<br />

determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas<br />

variáveis, compreender classificar processos dinâmicos experimentados<br />

por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança,<br />

criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em<br />

maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos<br />

comportamento ou atitudes dos indivíduos”.<br />

As características fundamentais da abordagem qualitativa na pesquisa, de acordo com<br />

Bogdan & Biklen (1999), sugerem que os dados sejam colhidos em seu ambiente natural,<br />

ou seja, no seu ambiente habitual de ocorrência, esses dados são em forma de palavras ou<br />

imagens e não em forma de números, o processo é mais importante do que o resultado final.<br />

Na abordagem qualitativa, o que contempla a investigação educacional é o modo como as<br />

expectativas se traduzem nas atividades, procedimentos e interações diárias.<br />

A princípio foi feito um levantamento do número de escolas pertencentes a Diretoria de<br />

Ensino região Sul-3 que atende a modalidade Educação Especial, constatou-se que no<br />

universo das cento e cinco (105) escolas estaduais dessa diretoria, apenas oito (8)<br />

41


unidades de ensino (anexo I), oferecem a modalidade educação especial: classes<br />

especiais para deficientes mentais e deficientes auditivos. Limitando a existência de apenas<br />

três (3) escolas ofertarem atendimento aos surdos, são três escolas que mantêm classes<br />

especiais para deficientes auditivos: E.E. Profº Itúrbides Bolívar de Almeida Serra, E.E.<br />

Jorge Saraiva e E.E. Pastor Emílio W. Kerr. No total foram envolvidas na pesquisa (8) oito<br />

professoras das classes especiais de deficientes auditivos (D.A.), mas durante o processo de<br />

capacitação dos professores para o uso do computador, foram filmadas e colhidas opiniões<br />

de todas as professoras de educação especial, incluindo as que ministram aula para as<br />

classes especiais de deficientes mentais (D.M.).<br />

Foi solicitado a senhora Dirigente de Ensino permissão para as visitas e filmagens das<br />

classes especiais, das professoras e alunos, sendo que para os alunos, foi pedida a<br />

autorização aos pais.<br />

Lüdke & André (1986) sugerem que a entrevista semi-estruturada deve estar permeada<br />

por um esquema básico, portanto foram elaboradas doze (12) perguntas que permitiam<br />

flexibilidade nas respostas e o surgimento de outros questionamentos.<br />

• identificação pessoal: idade, formação acadêmica, tempo de magistério na<br />

classe especial;<br />

• tipos de recurso que utiliza para ensinar surdos;<br />

• existência de computador e Internet na classe especial;<br />

• conhecimento sobre programas de computador, aplicativos, softwares que<br />

manuseia ou já ouviu falar;<br />

• atividades que mais utiliza no ensino de surdos;<br />

• como acontece a comunicação professor e aluno surdo;<br />

• expectativas diante das tecnologias da informação e comunicação na sua<br />

prática de ensino;<br />

• expectativas que o professor tem sobre o aluno e o computador;<br />

• dificuldades que prevê para a implantação da informática na sua prática<br />

pedagógica;<br />

• atribuições que cabem aos professores e à escola para organização e<br />

manutenção do bom desempenho e uso do computador;<br />

42


• expectativas quanto ao domínio da ferramenta pedagógica e do domínio<br />

técnico dos alunos;<br />

• comentários adicionais livres.<br />

As entrevistas objetivaram coletar informações acerca do processo de ensino e da<br />

competência técnica que as professoras possuem sobre as tecnologias da informação e<br />

comunicação, além da utilização da LIBRAS como metodologia de trabalho adotada<br />

atualmente pelo sistema de ensino público, visto que , durante o ano letivo de 2002, foram<br />

distribuídos para todas as escolas estaduais, mesmo àquelas que não possuem classes<br />

especiais, o “Dicionário de LIBRAS Ilustrado” em forma de CD-ROM para auxiliar no<br />

atendimento dos surdos no sistema regular de ensino.<br />

Segundo Bardin (1977) a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que analisam<br />

as comunicações procurando obter indicadores que permitam inferências de conhecimentos<br />

referentes às condições de produção das mensagens. Dessa forma, as entrevistas receberam<br />

um tratamento baseado na concepção de análise de conteúdos da autora citada. Ainda de<br />

acordo com Bardin,<br />

(...) no plano metodológico, a querela entre a abordagem quantitativa e a<br />

abordagem qualitativa absorve certas cabeças. Na análise quantitativa, o<br />

que serve de informação é a freqüência com que surgem certas<br />

características do conteúdo. Na análise qualitativa é a presença ou a<br />

ausência de uma dada característica de conteúdo ou de um conjunto de<br />

características num determinado fragmento de mensagem que é tomado<br />

em consideração. (1997 p.21).<br />

Visto que, para esse trabalho, o enfoque centra sobre a abordagem qualitativa, para a<br />

análise das entrevistas foram inicialmente consideradas: as unidades de análise, registro de<br />

quantas vezes aparecem no texto um mesmo tema, idéia ou até mesmo uma palavra. Em<br />

seguida as entrevistas foram criteriosamente assistidas e transcritas para serem lidas<br />

buscando observar nas falas das professoras, a presença e/ou ausência dos temas<br />

objetivando abstrair dessas leituras categorias e subcategorias. Procurei manter o rigor e a<br />

descoberta, que de acordo com Bardin, servem para ultrapassar as incertezas, ou seja,<br />

“aquilo que julgo ver na mensagem estará lá efetivamente contido, podendo essa visão<br />

muito pessoal, ser partilhada por outros?” (1997, p.29), como também propicia o<br />

enriquecimento da leitura: “se um olhar imediato espontâneo, é já fecundo, não poderá uma<br />

leitura atenta, aumentar a produtividade e a pertinência?” (op. cit. p.29).<br />

43


As regras apresentadas por Bardin para a construção das categorias ditam que as<br />

mesmas devem ser:<br />

• Homogêneas – não se deve misturar as categorias.<br />

• Exaustivas – é necessário esgotar a totalidade do texto.<br />

• Exclusivas – não se deve classificar um mesmo elemento do conteúdo em<br />

duas categorias diferentes.<br />

• Objetivas - codificadores diferentes devem chegar a resultados iguais.<br />

• Adequadas ou pertinentes – as categorias devem ser adaptadas ao conteúdo e<br />

ao objetivo.<br />

Como a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos e, no caso<br />

específico desse trabalho, inferir conhecimentos sobre as implicações do uso das<br />

tecnologias da informação e comunicação no ensino dos surdos nas classes especiais, as<br />

regras apresentadas para a classificação das categorias originaram os dados que<br />

proporcionaram a criação das tabelas, que compõem o anexo 2.<br />

Na verdade, procurei seguir uma análise consciente preocupando-me em estar atenta às<br />

falas das professoras, suas expressões, seus gestos e olhares para poder estabelecer relação<br />

com a natureza psicológica, sociológica, política, histórica e acadêmica das mesmas.<br />

44


Análise e Discussão dos<br />

Resultados<br />

45


4. Análise e Discussão dos Resultados<br />

Nesse tópico, considerando os objetivos propostos no presente trabalho e,<br />

estabelecendo algumas relações entre as respostas dadas nas entrevistas (Anexo 2) , foi<br />

possível apontar as categorias e subcategorias que foram aparecendo no processo, e estão<br />

assim detalhadas:<br />

• Percepções das professoras sobre o processo de informatização das classes<br />

especiais, dificuldades de implantação e manutenção das TIC’s nas escolas públicas<br />

estaduais;<br />

• percepções das professoras sobre o uso e possíveis contribuições que as tecnologias<br />

da informação e comunicação oferecem no processo de ensino aprendizagem dos<br />

surdos; oportunizando reflexões e mudanças na prática educativa.<br />

Os temas citados são frutos do próprio modelo de entrevista utilizado, expondo os<br />

temas abordados: o processo de informatização nas classes especiais da rede pública<br />

estadual, em específico 08 classes especiais jurisdicionadas pela Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3; e as contribuições das TIC’s para a educação especial.<br />

Inicialmente realizei a transcrição das fitas de vídeo procurando evidenciar as<br />

percepções das professoras sobre o tema informática e educação especial, suas<br />

contribuições e dificuldades.<br />

As categorias, com suas subcategorias foram consideradas, localizando fatos, frases<br />

ou expressões que ocorreram com certa regularidade, procurando evidenciar tendências,<br />

sem, no entanto, deixar de lado alguns elementos específicos. A discussão destas categorias<br />

permeia o cotidiano da classe especial de deficientes auditivos da rede pública estadual. As<br />

mesmas serão consideradas com exemplos das falas das professoras.<br />

4.1. “Percepções das professoras sobre as o processo de informatização das classes<br />

especiais, dificuldades de implantação e manutenção das TIC’s nas escolas públicas<br />

estaduais”.<br />

Nesse tema, encontram-se as respostas de 08 professoras que ministravam aula para<br />

a classe de D.A. referentes à aquisição, instalação e funcionamento das TIC’s em sala de<br />

46


aula, que foram categorizadas da seguinte forma: quanto ao nível de conhecimento e<br />

participação das professoras sobre o processo de informatização das classes especiais, e a<br />

função da equipe de gestão escolar para garantir o uso pedagógico das TIC’s.<br />

As professoras fizeram considerações sobre a demora na instalação do computador nas<br />

classes especiais e a dificuldade que elas tem sido na utilização do computador, quando o<br />

mesmo não está instalado na classe, caso de algumas escolas que por questão de segurança<br />

tiveram seus micros instalados em outro ambiente por ser local que apresentava mais<br />

segurança, como por exemplo, biblioteca escolar, sala com grade nas janelas e grades de<br />

proteção na porta de entrada próxima da ala administrativa da escola.<br />

Outra tecnologia que agora faz parte do cotidiano escolar do surdo é o telefone para<br />

surdo que a Telefônica, empresa de telecomunicações que atua no estado de São Paulo,<br />

instalou nas escolas públicas que possuem classes especiais para surdos, instrumento este<br />

que permite a comunicação telefônica entre surdos e entre a comunidade ouvinte.<br />

Quadro 1 – Respostas que indicam às categorias de análise.<br />

Tema Categorias Número de<br />

Professoras<br />

Percepções das professoras<br />

sobre as o processo de<br />

informatização das classes<br />

especiais, dificuldades de<br />

implantação e manutenção<br />

das TIC’s nas escolas<br />

públicas estaduais.<br />

Nível de conhecimento e<br />

participação das professoras<br />

sobre o processo de<br />

informatização das classes<br />

especiais.<br />

Expectativas quanto à<br />

utilização, distribuição de<br />

material e manutenção e das<br />

TIC’s nas classes especiais.<br />

08<br />

08<br />

47


4.1.1 “Nível de conhecimento e participação das professoras sobre o processo de<br />

informatização das classes especiais”.<br />

Esta categoria apresentou respostas das 08 professoras, relatando as impressões das<br />

professoras e o quanto suas opiniões influenciaram ou não na definição do local onde<br />

foram instalados os micros e os telefones para surdos.<br />

Quadro 2 – Respostas que indicam as subcategorias de análise.<br />

Categoria Subcategorias Número de<br />

Professoras<br />

Nível de conhecimento e<br />

participação das<br />

professoras sobre o<br />

processo de informatização<br />

das classes especiais.<br />

Foi consultado pela direção<br />

da escola e participou das<br />

decisões sobre a instalação<br />

dos micros e fones para<br />

surdos.<br />

Foi informado, mas não foi<br />

consultado.<br />

Não foi informado.<br />

6<br />

1<br />

1<br />

A maioria das professoras entrevistadas (6) afirmou ter sido informada pela direção<br />

da escola sobre o recebimento de uma verba para compra de um micro computador com<br />

acesso à Internet, para a classe especial. Elas puderam opinar sobre o melhor local para a<br />

instalação, no caso da escola X, funcionam quatro classes especiais D.A. e todas<br />

professoras (L, B, Su e C) decidiram que o único micro deveria ser instalado na sala número<br />

09, onde funciona no período da manhã a classe especial D. A-B e a tarde a D.A.D, pois<br />

havia mais espaço para organização das carteiras. Também foram consultadas sobre o<br />

melhor local para instalação do fone para surdos e decidiram que deveria ser no corredor da<br />

ala administrativa da escola, porque dessa forma seus alunos surdos poderiam solicitar<br />

48


ajuda de um ouvinte que trabalha na secretaria da escola, para efetuarem uma ligação, caso<br />

houvesse necessidade.<br />

Já na escola Y, funcionam duas classes de D.A. e uma de D.M., juntas com a direção<br />

da escola, as professoras S, I e H optaram que a instalação dos dois micros deveria ser<br />

imediata, mas como as salas de aula onde funcionam as classes especiais ainda não<br />

possuíam grades de proteção nas janelas e na porta, os mesmos deveriam ser instalados na<br />

biblioteca, dessa forma as professoras acreditavam trabalhar melhor, pois com dois micros<br />

no mesmo espaço, as atividades seriam desenvolvidas com mais facilidade. No entanto,<br />

como essa situação de instalação dos micros na biblioteca era provisória, isto é, assim que<br />

as grades de segurança fossem colocadas nas salas de aula os micros seriam instalados um<br />

em cada sala, de acordo com as orientações dadas pelos órgãos oficiais, ou seja, a verba era<br />

destinada para compra de um micro computador para a classe especial D.A. e um para a<br />

classe D.M., ambas com acesso à Internet. Portanto a direção não iria fazer a ligação<br />

telefônica na biblioteca.<br />

Quanto à instalação do telefone para surdo na sala justifica-se pelo fator segurança,<br />

pois se fosse instalado no pátio, em breve seria roubado ou destruído por vândalos no fim<br />

de semana, visto que a escola é aberta para comunidade para eventos e projetos sociais. No<br />

entanto, quando da ocasião das entrevistas indaguei se as mesmas usavam o telefone para<br />

desenvolverem alguma atividade de leitura e escrita a resposta da professora da classe<br />

especial D.A.A.foi:<br />

“Assim nunca usaram, mas eu já expliquei<br />

por cima como usar, que eles devem pegar o fone<br />

colocar, ligar e eles têm que digitar a mensagem<br />

para eles lerem para se comunicarem com as<br />

outras pessoas”.(professora S).<br />

Nesse momento a aluna M interviu falando em língua de sinais que ela sabia usar o<br />

telefone, usando LIBRAS, a professora pediu para a Maristela mostrar o que sabia, ela se<br />

levantou pegou o fone colocou no lugar certo, ligou e simulou digitar um texto, mas não o<br />

fez, notei que existe um grande interesse em aprender, mas a oportunidade de usar o<br />

aparelho ainda não havia surgido. Os alunos procuravam por si mesmo adivinharem o<br />

49


funcionamento do aparelho, até então a professora não havia tido a idéia de fazer desse<br />

instrumento uma ferramenta para suas aulas de leitura e escrita.<br />

Solicitei à professora uma demonstração de como se usa o aparelho telefônico para<br />

surdos e ela prontamente a explicou:<br />

“Eles tem que tirar o telefone do gancho,<br />

discar 1402 e esperar atender a telefônica, depois<br />

acopla o fone no aparelho e liga. Então a<br />

telefonista envia uma mensagem de ok! Pode<br />

digitar sua mensagem, então eles digitam aqui<br />

para o número que desejam ligar. A telefonista<br />

faz a ligação, conforme o surdo digita a<br />

telefonista vai lendo e passa as informações para<br />

a outra pessoa do outro lado da linha, isto é se a<br />

outra pessoa não tiver esse mesmo tipo de<br />

aparelho, mas se a pessoa tiver esse aparelho,<br />

então é direto, o aluno liga o aparelho, coloca o<br />

cartão e já digita o número aqui, sem precisar da<br />

telefonista”. (professora S)<br />

Então perguntei se seus alunos já conseguiam fazer isso e ela me respondeu:<br />

“Ainda não, por causa do Português, eles ainda<br />

não tem o Português estruturado”. (professora S)<br />

Continuei insistindo e perguntei se ela não acharia importante começar ensinar aos seus<br />

alunos a usar essa tecnologia, ela respondeu:<br />

“Ah! Sim, com certeza eles têm bastante<br />

curiosidade, mas os pais ainda não...não sei acho<br />

que ainda não surgiu uma oportunidade de<br />

alguma coisa de eu pedir para eles ligarem, de<br />

surgir algum problema aqui na escola, e eu pedir<br />

para eles ligarem para o pai ou mãe. Também<br />

poderia ser em qualquer situação não<br />

50


necessariamente numa necessidade, é verdade, foi<br />

falta de pensamento”. (professora S)<br />

E então a professora S sorriu timidamente, deixando nítida a impressão de que<br />

faltou um pouco de reflexão da sua prática pedagógica, que estava ainda atrelada a<br />

instrumentos antigos tais como, lousa, caderno e livros e que ainda não tinha enxergado o<br />

uso pedagógico do fone para surdos.<br />

Na escola Z, perguntei a professora A que leciona no período da tarde se a<br />

escola possuía computador na classe especial ela respondeu: não.Perguntei se a mesma<br />

sabia o motivo pelo qual a escola não possuía computador nas classes especiais e ela<br />

argumentou:<br />

“A região é muito carente e acontece<br />

roubo periódico na escola e não só o computador<br />

é roubado, assim como máquinas, xerox, como<br />

material da secretaria. È ocorreu um roubo nesse<br />

último final de semana... não, foi na segunda<br />

feira, o terceiro do ano e veja, nós estamos<br />

apenas no mês de abril...”.(professora A)<br />

Nesse momento a professora expressou desânimo diante da situação da escola,<br />

chegou até a recorrer a colega de trabalho para confirmar as datas dos roubos ocorridos na<br />

escola e confirmou que os computadores destinados as classes especiais nem chegaram a<br />

ser instalados. No caso específico dessa escola, a questão da violência e roubos nas escolas<br />

públicas da periferia tem atrapalhado muito o desenvolvimento e a implantação da<br />

informática nas salas de aulas. No entanto, antes dos computadores serem roubados, essa<br />

professora não tinha sido informada sobre a compra dos micros, nem tão pouca, consultada.<br />

A direção da escola simplesmente comprou os dois micros, uma para classe de D.M.<br />

e outro para a classe de D.A., não avisou a professora e deixou o mesmo guardado na sala<br />

da secretaria, local que foi arrombado e de onde levaram os micros. Infelizmente, essa<br />

escola, ainda não adquiriu novos micros, pois isso é um processo longo que demanda<br />

sindicância para apurar os fatos e só posterior a essa ação é que poderá solicitar à Gerência<br />

de Informática Pedagógica (G.I.P.).<br />

Outra que também leciona na escola Z no período da manhã declarou o seguinte:<br />

51


“Sou formada pela PUC/SP em EDAC,<br />

esse é meu terceiro ano trabalhando com classe<br />

especial de surdos na Escola Estadual Z. A escola<br />

recebeu os computadores para as classes<br />

especiais, mas por motivo de segurança demorou<br />

a serem instalados e foram roubados antes mesmo<br />

da gente estar usando”. (professora R)<br />

Para ter certeza de que essa professora não havia sido comunicada sobre a compra<br />

dos computadores para a classe especial, foi perguntado se realmente ela e os seus alunos<br />

não tiveram acesso aos computadores, a resposta obtida foi:<br />

“Infelizmente não, e também só fui<br />

informada da compra dos micros após o roubo”<br />

(professora R).<br />

E apresentou sua opinião, num texto que digitou durante a Orientação Técnica de<br />

Informática, ocasião que aprendeu a utilizar o Word:<br />

“Nossa escola não tem identidade, pode<br />

parecer um pouco pessimista, mas essa é nossa<br />

realidade, digo temos uma realidade que poderia<br />

ser transformada em identidade... contudo é<br />

conturbada e afeta a própria organização<br />

funcional emperrando o desenvolvimento do<br />

currículo” (professora R).<br />

Essa professora critica a falta de gestão participativa na escola, nesse caso a escola<br />

não está sendo democrática e isso compromete o trabalho do professor em sala de aula. Em<br />

sua fala aparece a critica ao trabalho desarticulado que ocorre dentro da escola, cada<br />

professor desenvolvendo seu trabalho sozinho, a escola sem uma proposta pedagógica<br />

concreta que atenda as necessidades do alunado, uma escola não administrada e que não<br />

informa e tão pouco discute sua realidade.<br />

Cabe esclarecer que a escola Z, durante o período que compreende 2001-2002,<br />

passou por trocas constante de Diretora, a ex-diretora se aposentou, a vice assumiu, houve<br />

52


nova atribuição, a vice voltou a função de origem, a nova diretora ficou por um curto<br />

período, a vice reassumiu, em seguida houve ingresso de diretores novos, novamente quem<br />

assumiu o cargo ficou pouco tempo, pois não residia na capital São Paulo e assim que teve<br />

oportunidade pediu anuência e concorreu a vaga no interior, reassume novamente a vice.<br />

Essa instabilidade gerou muita dificuldade na escola, comprometendo toda gestão escolar.<br />

Laville & Dione (1999 p.11) afirmam que<br />

“Chegar a possíveis explicações ou<br />

soluções para um problema pode significar não<br />

apenas aquisição de novos conhecimentos, mas,<br />

também, favorecer uma determinada intervenção.<br />

Um problema é sempre uma falta de<br />

conhecimentos”.<br />

Os dados revelaram que nas escolas onde a direção assumiu uma postura mais<br />

participativa, as professoras (6) foram informadas e consultadas sobre a implantação da<br />

informática na educação especial e onde não houve interação direção e corpo docente, o<br />

processo ainda não foi efetivado, apontando para as subcategorias: “informado, mas não<br />

consultado” (1) e “não informado” (1).<br />

Manifestações de insatisfação e frustração ao saber que a escola havia recebido<br />

verba para compra dos micros e que as mesmas não foram consultadas e, muito mais grave<br />

ainda, que esse material nem chegou a ser usado, ficam evidentes nas expressões que as<br />

professoras da escola Z, relataram:<br />

“É mesmo o caso que dela não temos<br />

como desenvolver nosso trabalho com a<br />

informática, não temos computador, a escola está<br />

passando para um período difícil está havendo<br />

troca constante de diretor, isso prejudica<br />

qualquer iniciativa de melhoria, nós não podemos<br />

contar nem com a televisão e vídeo, porque não<br />

tem segurança estamos sem acesso a sala de<br />

vídeo desde o ano passado, mas sempre tentamos,<br />

na medida do possível ser criativo”. (professora<br />

R).<br />

53


Nessa fala percebe-se que a professora indica a variável criatividade do professor<br />

como um instrumento importante para solucionar os contratempos que ocorrem no seio da<br />

escola.<br />

4.1.2. “Expectativas quanto à utilização, distribuição de material e manutenção e das<br />

TIC’s nas classes especiais”.<br />

Esta categoria abarca impressões das professoras sobre o conhecimento que<br />

possuem ou não, quanto ao uso das TIC’s, apresentou respostas das 08 professoras,<br />

manifestando seu ponto de vista sobre como e quando utilizar as TIC’s, o material de<br />

consumo que necessitam ter em sala de aulas, tais como, folhas de sulfite, tinta para<br />

impressora, disquetes e também, softwares educacionais, de várias categorias como, por<br />

exemplo, softwares de simulação, jogos, dicionários, inclusive o de LIBRAS, e por fim<br />

garantia de que sempre terão acesso à Internet.<br />

Fica evidente na fala das professoras o despreparo das mesmas para a utilização do<br />

computador, mas por outro lado observa-se que a máquina por si só não faz a diferença. A<br />

diferença está na paixão que move o professor a querer melhorar para oferecer o melhor<br />

para seus alunos. Um professor apaixonado por sua missão, estimula a criatividade e a<br />

vontade de seus alunos pelo saber.<br />

Hoje em dia não existem mistérios para começar a usar um computador, basta ler<br />

algumas orientações, ou mesmo fazer um curso de noções básicas de informática, ou<br />

mesmo solicitando ajuda a um amigo mais experiente no assunto. Tudo isso por causa da<br />

interface amigável, ícones com alto teor representativo, você logo deduz qual a função dos<br />

mesmos. Mas esse assunto não será tratado aqui, o que está sendo considerado é a<br />

motivação, a curiosidade e a mudança da prática educativa tradicional para uma prática que<br />

aceita o aluno como alguém que pode conhecer algo que o professor desconhece e que,<br />

portanto, oportuniza uma relação de aprender juntos. O professor da classe especial já<br />

vivencia essa situação por inúmeras vezes, pois há ocasiões em que ele necessita do aluno<br />

para conhecer Língua de Sinais. Não é diferente com o computador e com o descobrir a<br />

função de algumas teclas ou ícones, por vezes, o aluno surdo, descobre bem mais rápido do<br />

que a professora qual a função de uma tecla, ou o significado de algum ícone.<br />

54


Para elucidar tal afirmação, eis a fala de uma professora:<br />

“Bem , já está influenciando porque meus alunos<br />

ficam muito satisfeitos quando produzem e olha<br />

que legal...eles mostram um para o outro o que<br />

fizeram e como fizeram e percebem as diferentes<br />

formas de fazer. Muitas vezes eles me perguntam<br />

se do jeito que o outro fez está certo, e então<br />

aproveito e digo, que existem muitas formas de<br />

fazer e que todas estão certas, desde que cheguem<br />

ao produto final. Eu fico muito animada com<br />

eles”( professora H).<br />

Quadro 3 – Respostas que indicam as subcategorias de análise<br />

Categoria Subcategorias Número de<br />

professoras<br />

Expectativas quanto à<br />

utilização, distribuição de<br />

material e manutenção e<br />

das TIC’s nas classes<br />

especiais.<br />

Professoras que possuem<br />

conhecimentos sobre o uso<br />

do computador.<br />

02<br />

Professoras que não<br />

possuem conhecimentos<br />

sobre o uso do computador,<br />

mas estão se interessadas<br />

em dominar as técnicas.<br />

04<br />

Professoras com<br />

expectativas negativas<br />

diante das TIC’s<br />

02<br />

55


A subcategoria “professoras que possuem conhecimentos sobre o uso do<br />

computador” refere-se a duas professoras que, quando indagadas sobre quais os programas<br />

de computador mais utilizam, demonstraram conhecer os aplicativos do Windows e alguns<br />

softwares educativos disponíveis no mercado, tais como “A casa de Franklin”, “Dally Doo-<br />

Cores” e “Alfabeto”. As professoras L e H, eram as mais novas em idade, e as que mais<br />

conheciam sobre os aplicativos do Windows e sobre alguns softwares educacionais como<br />

jogos e estórias infantis. O fator idade das professoras aparece como uma variável<br />

importante, pois as mais novas mostraram mais desenvoltura com o uso computador,<br />

possivelmente pelo fato de, durante a infância e adolescência, vivenciarem um cotidiano<br />

mais tecnológico, com acesso a controle remoto de TV e vídeo, jogos de vídeo- game e<br />

outros. Ao se manifestarem interessadas em falar sobre os jogos que conhecem, essas<br />

professoras apontaram para o lúdico no processo de ensino aprendizagem, o aprender com<br />

prazer e com afeto. O lúdico serve para nortear o trabalho pedagógico, despertando o<br />

interesse do aluno.<br />

Uma professora que apresenta certo grau de desenvoltura diante das possibilidades<br />

do computador, quando perguntei: “Quais os programas de computador que você mais<br />

utiliza?”, respondeu:<br />

“Com meus alunos utilizo o Paint, o Word<br />

e alguns softwares que comprei, tipos jogos,<br />

oficina de desenhos, dicionário de Língua de<br />

Sinais que foi entregue aqui na escola. Eles<br />

gostam muito de jogos e desenhos, mas eu ainda<br />

sei trabalhar no Excel, mas não trabalho com<br />

eles”. (professora H).<br />

A professora S, explicou que já utiliza com seus alunos o Paint para fazer desenhos<br />

e frases e o Word para fazer lista de palavras com alguns alunos e, com os mais velhos,<br />

pequenos textos. Já ensinou os procedimentos básicos para criar pasta e salvar seus<br />

arquivos, e agora está utilizando o CD-ROM de LIBRAS para efetivar uma melhor<br />

comunicação e garantir que todos conheçam a língua de sinais brasileira. Respondeu a<br />

mesma pergunta da seguinte forma:<br />

56


“Eu trabalho com o Word, né, de textos e<br />

Power Point , que é desenho com as figuras”<br />

(professora S).<br />

Nos dois exemplos acima as professoras demonstraram ter um pouco mais de<br />

segurança, o que fica evidenciado nessas respostas sobre quais os programas de<br />

computador que elas conheciam ou pelo menos já haviam ouvido falar:<br />

“Muitos. Word, Power Point, Excel, Softwares<br />

Educacionais, olha tem um chamado<br />

“Mamíferos” é muito animado, conseguimos<br />

fazer um filme, mas eu não tenho o CD, foi um<br />

colega que me emprestou durante um tempo,<br />

agora os alunos sempre perguntam sobre o CD.<br />

Acho que vou comprar um para mim...”<br />

(professora H).<br />

“Conheço o Word, Paint, Power Point, os<br />

jogos que acompanham o pacote Microsoft<br />

Windows. Também conheço alguns softwares que<br />

são vendidos até em banca de jornal, mas muito<br />

bom, A casa de Franklin é um desses. Tenho<br />

usado também o Fine Artist e Creative Write,<br />

estão instalados aqui nesse computador”.<br />

(professora L).<br />

A utilização educativa das novas tecnologias e em específico dos softwares, só é<br />

possível com o envolvimento das professoras. Essa utilização deve ser autêntica, natural e<br />

isso implica em uma mudança da cultura escolar, com um envolvimento maior entre alunos<br />

e professores. No caso das classes especiais, sempre houve uma interação mais estreita<br />

entre professores e alunos, a afetividade acontece com maior facilidade, pois geralmente a<br />

57


professora de surdos compreende melhor a criança, do que os próprios pais que ainda não<br />

conhecem LIBRAS.<br />

O tema “software educativo” foi objeto de grande debate nos Anais do Confie-<br />

Congresso e Feira Informática e Educação (1997), de acordo com o professor Vítor Duarte<br />

Teodoro, da Universidade Nova de Lisboa:<br />

Há expectativas demasiado elevadas em<br />

relação às possibilidades das tecnologias. As<br />

tecnologias, por si só, não têm qualquer efeito.<br />

Qualquer situação educativa envolve >(p.178).<br />

Quanto à subcategoria “Professoras que não possuem conhecimentos sobre o uso do<br />

computador, mas estão se interessadas em dominar as técnicas”, observou-se que as<br />

professoras começam a pensar em fazer coisas novas, mas ainda na perspectiva de fazer<br />

melhor as coisas velhas, por exemplo, trabalhar a memorização das palavras. Algumas<br />

professoras afirmaram trabalhar listas de palavras no Word, para memorização de frutas,<br />

vestuários, cores, alimentos etc...<br />

A entrevista continuou e foi observada a postura da professora diante das<br />

dificuldades que prevê no uso da informática:<br />

“Dificuldades? Assim a minha...é a falta<br />

de preparo do professor. Que eu sei assim,<br />

algumas coisas que eu faço corriqueira, mas<br />

assim outros programas, como Excel eu já não sei<br />

trabalhar tanto. Fiz o curso, mas eu não consigo<br />

trabalhar agora... e a falta de software para o<br />

deficiente auditivo” (professora S).<br />

As respostas fornecidas pelas professoras nas entrevistas evidenciam a necessidade<br />

que as mesmas sentem em relação ao domínio das técnicas de uso do computador e a<br />

preocupação em aprender a utilizar essa ferramenta no contexto escolar. Ao comentar sobre<br />

a falta de softwares para surdo, a professora demonstrou desconhecer o Dicionário de<br />

LIBRAS e também ter uma visão equivocada ao achar que os surdos não poderiam utilizar<br />

os mesmos programas que os ouvintes usam.<br />

Segundo Paulo Freire, (1995):<br />

58


“A educação não é redutível à técnica, mas não se<br />

faz educação sem ela. Há necessidade dos<br />

professores se aprimorarem e reconhecerem as<br />

grandes possibilidades que o uso de computador<br />

como uma ferramenta pedagógica pode trazer<br />

tanto para sua prática como para melhorar e<br />

facilitar o processo de aprendizagem do aluno”.<br />

A professora S relatou sobre quais os programas de computador que mais utiliza:<br />

“O Paint, comecei com a trabalhar com os alunos<br />

o Paint, porque foi esse ano que os computadores<br />

chegaram, que eu comecei a utilizar mesmo,<br />

porque os computadores chegaram foi no ano<br />

passado, mas eu comecei a utilizar nesse ano,<br />

quer dizer, eu mesmo comecei a me entrosar<br />

melhor com os computadores, porque eu não<br />

tinha conhecimento de como trabalhar, do que<br />

fazer com eles, então esse ano é que comecei a<br />

trabalhar o Paint com eles”.<br />

Nesse caso, ficou claro que a professora ainda não possuía um bom conhecimento<br />

sobre as possibilidades do computador como ferramenta pedagógica, mas mesmo assim<br />

estava iniciando atividades no Paint. Este programa serve para fazer desenhos e inserir<br />

caixas de textos onde os alunos podem dar títulos aos desenhos, criar diálogos, ou mesmo<br />

digitar pequenos textos, utilizando várias ferramentas para expandir sua criatividade.<br />

Percebe-se que a adequada preparação da professora é o elemento fundamental para que a<br />

mesma possa fazer uso do computador em sala de aula.<br />

“O uso de computadores no processo de ensinoaprendizagem,<br />

em lugar de reduzir, pode expandir<br />

a capacidade crítica de nossos meninos e meninas.<br />

Depende de quem usa, a favor de quê e para quê.<br />

(...)” - citado por Paulo Freire no projeto de<br />

informatização da Escola Caravelas - São Paulo,<br />

setembro de 1996.<br />

Essa professora S é a mesma que tem o telefone para surdo instalado dentro da sala<br />

de aula e, ao ser indagada sobre o fato de não ter desenvolvido atividades de leitura e<br />

59


escrita utilizando o aparelho, manifestou reação positiva refletindo sobre o fato de não ter<br />

pensado na possibilidade pedagógica do telefone para surdo.<br />

Quando perguntei à professora sobre os programas de computador que conhecia ou pelo<br />

menos tinha ouvido falar, respondeu:<br />

“Word, Paint, Windows, Photo Shop, Corel<br />

Draw...vários” (professora Su)<br />

Logo em seguida, ao ser indagada sobre quais os recursos que ela mais utilizava na sua<br />

prática de ensino, a mesma professora fez a seguinte consideração:<br />

“Hum...na prática ou no computador? Na<br />

prática de ensino? Quais atividades? Que eu mais<br />

utilizo...Eu utilizo muita dramatização...é<br />

atividades de utilizar imagens, atividades que os<br />

alunos consigam entender um conteúdo.<br />

(professora Su)<br />

Para Almeida, M.E. (2000)<br />

“O clima de euforia em relação à<br />

utilização de tecnologia em todos os ramos da<br />

atividade coincide com um momento de<br />

questionamento e de reconhecimento da<br />

inconsistência do sistema educacional”.<br />

As respostas das professoras apontam as dificuldades que cada escola apresenta<br />

para instalar e manter os micros funcionando, assim como o despreparo do professor para o<br />

uso do computador como ferramenta que pode provocar uma revolução tecnológica do<br />

aprendizado, da mesma forma que o livro impresso (cartilha) quando se tornou uma<br />

ferramenta de ensino.<br />

Na ocasião das entrevistas, nem todas as entrevistadas haviam recebido o software<br />

“Dicionário Digital da Língua Brasileira de Sinais” do Ministério da Educação/Secretaria<br />

de Educação Especial/Instituto Nacional de Educação de Surdos, distribuído para as<br />

unidades de ensino. As professoras que haviam recebido o software apenas tinham<br />

visualizado seu o conteúdo para depois planejarem as aulas. Estavam animadas com as<br />

60


possibilidades de uso do Dicionário, mas levantavam o problema de nas classes especiais<br />

serem atendidos surdos de todas as séries juntos, numa mesma sala, o que dificultaria<br />

bastante o trabalho com este software. Sendo assim, para a utilização do Dicionário Digital,<br />

as aulas deveriam ser bem elaboradas e adequadas ao conteúdo da série de cada aluno.<br />

Outro fato relevante diz respeito ao acesso a Internet, na ocasião das visitas às<br />

escolas, em apenas uma escola havia instalação da linha telefônica, a escola X, estava<br />

conectada e os alunos já estavam fazendo uso da Internet, pesquisando e lendo notícias em<br />

diversos sites. Nota-se o quanto é moroso o processo de instalação e conexão dos micros à<br />

Internet e que isso depende muito mais dos gestores, do que propriamente dos professores.<br />

A referência à subcategoria “Professoras com expectativas negativas diante das<br />

TIC’s”, foi observada no depoimento da professora B, que por sinal era a professora com<br />

mais idade e que recebeu uma formação acadêmica voltada para o Oralismo do surdo e que<br />

atuou como professora de surdos em Instituição particular na década de 70. Ao responder a<br />

pergunta sobre quais os recursos materiais que utilizava para ensinar os surdos, ela afirmou:<br />

“Os recursos materiais em sala de aula, né? Bom<br />

a gente usa todos os recursos que podem ser<br />

visíveis, porque o surdo precisa muito, objetos da<br />

sala, as vezes trago de casa. Agora eu estou num<br />

trabalho de iniciação, então trago muitas velas<br />

para eles fazerem exercícios de sopro, fazemos<br />

gargarejo com água, enfim tudo aquilo que possa<br />

ser visual, a gente usa tudo”( professora B)<br />

E continuou sua fala a respeito dos programas de computador que conhecia ou pelo<br />

menos já havia ouvido falar:<br />

“Olha a minha colega Luciana que me dá<br />

bastante apoio, pois na minha época não tinha<br />

computador, eu estou me esforçando ao máximo<br />

para aprender e passar para meus alunos”<br />

(professora B).<br />

A partir destes depoimentos é possível verificar como é difícil substituir o<br />

paradigma tradicional, o que aponta à idéia de alguns autores , como Dowbor (1994) e<br />

61


Drucker (1993) que dizem que “a tecnologia não é a característica fundamental da<br />

transformação educacional, embora seja incitadora de mudanças a partir de reflexões que<br />

provoca” (Almeida, 2000, p. 15).<br />

Ainda no âmbito dessa subcategoria, se verifica o pouco envolvimento e interesse<br />

dessa professora em se apropriar desse novo conhecimento para dinamizar suas aulas,<br />

acreditando ainda que os exercícios oro-faciais são mais importantes do que trazer a<br />

tecnologia para suas aulas, essa professora desconhece LIBRAS e diz estar aprendendo<br />

com seus alunos e com a colega de trabalho, nesse caso existe a necessidade do<br />

aprimoramento da professora por meio de formação continuada. Essa professora perdeu a<br />

característica da contemporaneidade, não acompanhando o progresso da ciência e da<br />

tecnologia. Os professores revelam-se não pela sua experiência, mas pela capacidade para<br />

pensarem a sua experiência.<br />

4.2. Tema “Percepções das professoras sobre o uso e as possíveis contribuições que as<br />

tecnologias da informação e comunicação oferecem ao processo de ensino<br />

aprendizagem dos surdos; propondo reflexões e mudanças na prática educativa”.<br />

No tema anterior, sobre as percepções das professoras em relação ao processo de<br />

informatização das classes especiais, dificuldades de implantação e manutenção das TIC’s<br />

nas escolas públicas estaduais, foram considerados o grau de conhecimento dos professores<br />

sobre o processo de implantação da informática na educação especial, da distribuição do<br />

material, bem como, da manutenção dos mesmos. O tema que será abordado agora trata<br />

sobre as percepções das professoras sobre o uso e possíveis contribuições que as<br />

tecnologias da informação e comunicação oferecem ao processo de ensino aprendizagem<br />

dos surdos; proporcionando reflexões e mudanças na prática educativa. Focalizará de que<br />

forma o computador pode servir como instrumento para a transformação educacional.<br />

62


Quadro 4 – Respostas que indicam as categorias de análise<br />

Tema Categorias Número de<br />

professoras<br />

Professoras motivadas para<br />

iniciarem o processo de<br />

08<br />

informatização em suas<br />

aulas.<br />

Percepções das professoras<br />

sobre a influência das TIC’s<br />

08<br />

em sua prática pedagógica<br />

“Percepções das<br />

professoras sobre o uso e as<br />

possíveis contribuições que<br />

as tecnologias da<br />

informação e comunicação<br />

oferecem ao processo de<br />

ensino aprendizagem dos<br />

surdos; proporcionando<br />

reflexões e mudanças na<br />

prática educativa”.<br />

Expectativas das professoras<br />

sobre o impacto das<br />

tecnologias<br />

06<br />

Aqui estão apresentadas as respostas de oito professoras sobre o tema informática na<br />

educação especial, o despreparo para o uso do computador e as dificuldades de terem essas<br />

tecnologias funcionando perfeitamente durante todo o período escolar. Primeiramente, é<br />

importante fazer algumas colocações sobre as tecnologias da informação e comunicação, é<br />

evidente que as TIC’s estão mudando o mundo, mas devem ser ensinadas na escola e a<br />

escola precisa mudar suas formas de trabalho, para tanto devem desenvolver estratégias:<br />

infra-estrutura, treinamento apropriado, material, currículo apropriado, todas as disciplinas<br />

devem incluir a técnica das TIC’s.<br />

63


4.2.1. Professoras motivadas para iniciarem o processo de informatização em suas<br />

aulas<br />

Evidencia-se no quadro baixo a questão dos recursos materiais mais utilizados pelas<br />

professoras das classes especiais, destacando a LIBRAS como uma língua e não um<br />

instrumento. No entanto, um aspecto negativo foi a falta de acesso de alguns professores a<br />

essas ferramentas: uma escola teve seus micros roubados e outra teve seus micros<br />

instalados, mas temporariamente sem acesso à Internet.<br />

Quadro 5 – Respostas que indicam as subcategorias de análise<br />

Categoria Subcategorias Número de<br />

professoras<br />

Professoras motivadas para<br />

iniciarem o processo de<br />

informatização em suas<br />

aulas.<br />

Recursos materiais que<br />

utilizam para ensinar surdos<br />

Professoras motivadas para a<br />

informática, mas sem<br />

condições de trabalho.<br />

08<br />

02<br />

Todas as professoras entrevistadas fizeram referências a utilização de materiais para<br />

o ensino do surdo. A grande maioria, como foi observado em sala de aula, usa a lousa, o<br />

giz, o livro didático, mas todas fizeram referências a língua de sinais e às tecnologias,<br />

principalmente a TV e o vídeo. Outras deixaram claro que utilizam o editor de texto Word,<br />

para desenvolverem suas atividades de escrita e memorização das palavras. Quando, na<br />

entrevista, são indagadas sobre quais os materiais que usam para ensinar surdos e, em outra<br />

pergunta, sobre quais os programas de computador que elas conhecem ou pelo menos<br />

ouviram falar, respondem:<br />

64


“Uso figuras, cartazes, livros didáticos e de<br />

histórias infantis, o computador, língua de sinais,<br />

o português, todos os recursos que forem<br />

possíveis, vídeo” . (professora L)<br />

As respostas oferecidas são parcialmente coerentes com o cotidiano escolar, pois a<br />

lousa estava repleta de informações escritas, exercícios para serem copiados nos cadernos,<br />

mas quando perguntado para a professora sobre os recursos que utiliza para ensinar surdos,<br />

a resposta obtida foi:<br />

Materiais? Todos os recursos materiais que eu<br />

posso mostrar uma imagem para eles. Todos os<br />

recursos visuais possíveis. Televisão, vídeo,<br />

computador e... Cartazes, desenhos... Os<br />

materiais concretos... e o uso da língua de sinais<br />

que já não é mais um recurso, é uma língua”<br />

( professora Su).<br />

No entanto, houve algumas respostas coerentes com a condição observada no<br />

momento da entrevista e em outras ocasiões de visita à classe:<br />

“Utilizo diversos recursos audiovisuais, áudio<br />

porque trabalho com os resíduos auditivos dos<br />

alunos que possuem perda moderada ou perda<br />

profunda num limiar capaz de detectar sons da<br />

fala ou instrumentos, musicais, sons do ambiente.<br />

Visuais para todos os alunos, principalmente para<br />

os com perda profunda. Em minhas aulas uso a<br />

TV e o vídeo, computador, jornais, cartazes,<br />

revistas, dicionário da língua portuguesa e de<br />

língua de sinais, leitura e escrita, desenho...”<br />

(professora H).<br />

65


“Figuras, cartazes, livros didáticos e de histórias<br />

infantis, o computador, língua de sinais, o<br />

português, todos os recursos que forem possíveis,<br />

vídeo”.(professora L).<br />

“Recursos materiais? Eu uso figuras, desenhos,<br />

livros, lousa, giz, vídeo e basicamente a língua de<br />

sinais mais freqüentemente” (professora C).<br />

Quando a professora H cita que utiliza a TV e Vídeo, ela está fazendo uso de uma<br />

tecnologia que pode de forma simples ser simplificada, ou seja, as fitas de vídeo que as<br />

escolas recebem, ou compram, podem ser substituídas por bytes enviados via Internet. Ou<br />

mesmo utilizar a tela da TV para fazer uma apresentação de trabalhos dos alunos, desde<br />

que a TV esteja conectada por um cabo ao micro.<br />

Quanto aos programas de computador que conhecem, apenas uma professora<br />

demonstrou desconhecer por completo e ter pouco interesse em manusear o micro,<br />

deixando a responsabilidade para a colega que trabalha na classe especial ao lado.<br />

“Olha a minha colega L que me dá bastante<br />

apoio, pois na minha época não tinha<br />

computador, eu estou me esforçando ao máximo<br />

para aprender e passar para meus alunos”<br />

(professora B).<br />

Duas professoras demonstraram possuir algum conhecimento sobre os programas de<br />

computador e estarem motivadas com o uso do computador como mais um instrumento<br />

pedagógico, mas, no entanto, não possuem condições de trabalho. A escola onde lecionam<br />

foi roubada, os computadores nem chegaram a ser instalados nas classes e uma professora<br />

nem sabia que esses existiam, apenas tomou conhecimento quando soube do roubo. Quando<br />

perguntei se existia computador na classe especial, responderam:<br />

66


“Não, foi roubado, antes mesmo que eu soubesse<br />

que havíamos ganhado um para a classe especial.<br />

Fiquei muito decepcionada com essa situação”<br />

(professora A).<br />

“Não, nem sabia que havia e que foi já roubado”<br />

(professora R).<br />

E assim foi com as outras perguntas relacionadas ao uso do computador:<br />

“Fica prejudicada a minha resposta, porque não<br />

tenho computador aqui nessa escola, mas na<br />

escola da prefeitura, eu uso um pouco com meus<br />

alunos, só que lá também tem uma pessoa que fica<br />

disponível o tempo todo no laboratório de<br />

informática”. (professora A).<br />

“Olha para falar a verdade só uso o Word, e o<br />

Paint, mas em minha casa, aqui como você sabe<br />

não temos computador e vou te dizer outra coisa,<br />

para usar a sala de vídeo é muito difícil, sempre<br />

está ocupada e quando não está ninguém sabe<br />

onde estão as chaves” (professora A).<br />

As respostas da professora que leciona no período da tarde também expressam<br />

descontentamento em relação aos problemas sociais e de gerenciamento que ocorrem no<br />

seio da escola.<br />

“Conheço poucos programas. Sei que tem Word,<br />

Paint, tem jogos no computador que já vem na<br />

instalação, Paciência e outros que esqueci<br />

agora” ( professora R).<br />

No documento organizado pela Secretaria de Estado da Educação, utilizado em uma<br />

Orientação Técnica oferecida a todos os Supervisores da Rede Estadual de Ensino,<br />

67


(responsáveis pela Educação Especial “Adaptações de Acesso ao Currículo”) fica clara a<br />

necessidade de uma organização escolar que privilegie o planejamento e a ação.<br />

De acordo com o MEC* - Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais - Estratégias para a<br />

Educação de Alunos com Necessidades<br />

Educacionais Especiais “(...) a concepção de<br />

currículo inclui, portanto, desde os aspectos<br />

básicos que envolvem os fundamentos filosóficos<br />

e sócio-políticos da educação até os marcos<br />

teóricos e referenciais técnicos e tecnológicos que<br />

a concretizam na sala de aula: relaciona princípios<br />

e operacionalização, teoria e prática, planejamento<br />

e ação”. (p.2)<br />

“Os sistemas educacionais devem modificar suas<br />

atitudes, expectativas e, mais ainda, organizaremse<br />

para constituir uma real escola para todos, que<br />

dê conta das especificidades decorrentes das<br />

necessidades apresentadas pelos alunos”.(p.2)<br />

*Ministério da Educação e Cultura<br />

68


4.2.2 Percepções das professoras sobre a influência das TIC’s em sua prática<br />

pedagógica<br />

As falas das professoras indicaram que todas acreditam que as tecnologias da<br />

informação e comunicação, em específico o computador e a Internet, poderão influenciar<br />

sua prática pedagógica, estimulando a auto estima de seus alunos e aumentando a<br />

competência do professor.<br />

Quadro 6 – Respostas que indicam as subcategorias de análise<br />

Categoria Subcategorias Número de<br />

professoras<br />

Percepções das professoras<br />

sobre a influência das<br />

TIC’s em sua prática<br />

pedagógica<br />

Acreditam que as TIC’s<br />

podem influenciar em sua<br />

prática pedagógica<br />

Não acreditam que as TIC’s<br />

podem influenciar em sua<br />

prática pedagógica<br />

08<br />

00<br />

A subcategoria “acreditam que as TIC’s podem influenciar em sua prática<br />

pedagógica” compreende a fala de todas as professoras entrevistadas. É certo que está sob a<br />

responsabilidade do professor desenvolver as adaptações curriculares, contudo, todo o<br />

movimento que acontece na escola deve envolver a escola como um todo. Cabe à gestão<br />

escolar subsidiar o trabalho do professor, orientando seu caminho, permeado por um<br />

trabalho de equipe, onde se discuta e implemente ações coletivas que contemplem as bases:<br />

física, perceptiva e cognitiva. A base física abrange recursos materiais, instalação dos<br />

computadores, ligação telefônica para conexão à Internet; a base cognitiva envolve o<br />

conhecimento das professoras acerca das Tecnologias de Informação e de Comunicação, a<br />

69


apropriação de nova cultura de aprendizagem, novas técnicas e domínios,<br />

habilidades e competências tanto das professoras como as que devem ser estimuladas nos<br />

alunos e, por fim, a base perceptiva que envolve o compromisso, a solidariedade e a<br />

responsabilidade das professoras com sua prática educativa e com seus alunos, aflorando o<br />

que é vocação e inovação.<br />

A maioria das professoras entrevistadas demonstrou uma visão positiva sobre as<br />

contribuições das TIC’s na sua prática de ensino.<br />

“É, seria mais assim, num contexto geral, seria<br />

mais pelo visual, porque eu acho que o surdo é<br />

muito concentrado, nada atrapalha ele. Por isso<br />

quando ele está no computador parece que ele<br />

navega mesmo, nessa coisa gostosa de procurar e<br />

parece que fixa mais. Não sei. Eu tenho sentido<br />

mais ou menos assim”. (professora B)<br />

“Acho que é um grande estímulo, quando eles vão<br />

para o computador eles ficam mais animados,<br />

eles começam a procurar palavras, começam a<br />

perceber o erro, ver o que o amigo escreve e o<br />

que ele escreve, se o amigo sabe um número<br />

maior de palavras, ele também quer chegar<br />

naquele número, então além de uma competição,<br />

mas uma competição sadia, eles ficam mais<br />

estimulados tanto na escrita quanto, como no<br />

desenho, como criar coisas, responder<br />

cruzadinhas, essas coisas” (professora L).<br />

Em vista ao exposto, fica evidente que as professoras reconhecem a importância do<br />

computador como um facilitador e estimulador do processo de construção do conhecimento<br />

do aluno e que seu uso instala uma atmosfera favorável para a aprendizagem dos alunos.<br />

70


“Influencia assim, ajudando! Sendo um veículo a<br />

mais para ampliar o conhecimento do aluno”.<br />

(professora C)<br />

“Bem, já está influenciando porque meus alunos<br />

ficam muito satisfeitos quando produzem e olha<br />

que legal... eles mostram um para o outro o que<br />

fizeram e como fizeram e percebem as diferentes<br />

formas de fazer. Muitas vezes eles me perguntam<br />

se do jeito que o outro fez está certo, e então<br />

aproveito e digo, que existem muitas formas de<br />

fazer e que todas estão certas, desde que cheguem<br />

ao produto final. Eu fico muito animada com<br />

eles” (professora H).<br />

É inegável que a motivação da professora acima determina o envolvimento e<br />

desempenho dos alunos nas atividades, os fatores afetivos, o respeito e a disposição da<br />

professora para conduzir sua aula são fundamentais para o prosseguimento das atividades<br />

em sala de aula. Segundo Coll (1999 p.35),<br />

“Para se sentir interesse, deve-se saber o que se<br />

pretende e sentir que isso preenche alguma<br />

necessidade (de saber, de realizar, de informar-se,<br />

de aprofundar). Naturalmente, se um aluno não<br />

conhece o propósito de uma tarefa e não pode<br />

relacionar esse propósito à compreensão daquilo<br />

que implica a tarefa e às suas próprias<br />

necessidades, muito dificilmente poderá realizar<br />

aquilo que o estudo envolve em profundidade”.<br />

No depoimento abaixo, verifica-se que a professora acredita que o computador pode<br />

beneficiar suas aulas, mas ainda não possui o domínio das novas técnicas. É necessário que<br />

o professor se instrumentalize e adquira as competências técnicas básicas para iniciar o<br />

trabalho com seus alunos.<br />

“Como eu imagino...? Eu imagino que utilizando<br />

o computador em alguns programas vai poder<br />

71


eneficiar o aluno a trabalhar com a<br />

concentração, memória, questões também<br />

referentes à pesquisa que o aluno também tem que<br />

ter postura de pesquisa, que é muito difícil<br />

ensinar ao aluno a conduta de pesquisar. É... Eu<br />

acho que beneficia em todos os aspectos”.<br />

As professoras que não possuem computador em sala de aula, pois o mesmo foi<br />

roubado, antes mesmo da instalação na sala, apresentaram uma visão favorável sobre as<br />

contribuições que as tecnologias podem proporcionar no ensino e aprendizagem dos seus<br />

alunos. Contudo expressam preocupações sobre o quanto a escola não articulada pode<br />

limitar a prática pedagógica das professoras. É necessário que a escola se torne capaz de<br />

refletir e resolver seus problemas, pois ninguém poderá fazer isso por ela. O trabalho<br />

coletivo envolvendo gestores, educadores, alunos, pais e comunidade, é a alavanca para o<br />

sucesso da escola.<br />

“Se fosse possível inovar algo nessa escola... bem<br />

minhas aulas poderiam ser mais criativas do que<br />

são, pois você já viu como é difícil contar com<br />

outros recursos aqui nessa escola”.<br />

(professora R)<br />

“Poderia facilitar muito minhas aulas, assim<br />

como proporcionar alegrias aos alunos que já são<br />

excluídos da sociedade por serem surdos, agora<br />

ainda excluídos da informática? Sei que a região<br />

aqui é muito violenta, sempre acontecem roubos<br />

nessa escola, mas não sei, se a direção fosse<br />

organizada podíamos fazer um trabalho para<br />

conquistar a comunidade do bairro. Bom, acho<br />

que não tem haver com esse assunto”.<br />

(professora A)<br />

72


4.2.3 Expectativas das professoras sobre o impacto das tecnologias<br />

Nenhuma das professoras entrevistadas demonstraram ter visão negativa sobre as<br />

contribuições das TIC’s na sua prática de ensino. Todas estão convencidas que a inclusão<br />

no mundo digital deve ser assegurada a todos, e que o surdo, já que possui o canal visual<br />

como principal mecanismo para sua comunicação, pode descobrir e manusear com<br />

desenvoltura o computador.<br />

Quadro 7 – Respostas que indicam as subcategorias de análise<br />

Categoria Subcategorias Número de<br />

professoras<br />

Expectativas quanto ao<br />

07<br />

ingresso dos alunos surdos<br />

ao mundo digital<br />

Expectativas das<br />

professoras<br />

sobre o impacto das<br />

tecnologias<br />

Expectativas relacionadas ao<br />

uso da Internet<br />

06<br />

Dificuldades dos professores 08<br />

As professoras expressaram suas expectativas sobre como seus alunos se sentirão<br />

quando estiverem fazendo parte do mundo digital e estiverem dominando as tecnologias da<br />

informação e comunicação. O fato dos alunos não serem excluídos do mundo digital foi<br />

freqüentemente destacado, como fica comprovado nas falas a seguir:<br />

“Acho que para eles vai ser muito importante<br />

porque vai coloca-los assim não digo igualado,<br />

porque a deficiência existe a nível sensorial e às<br />

vezes ela é muito gritante realmente, mas vai<br />

73


valer como uma auto-estima, já que vão se<br />

igualar ao resto do mundo, que hoje o mundo é<br />

computadorizado, então eu vejo mais por esse<br />

lado”. ( professora B)<br />

“Iriam ficar muito felizes, porque eles são tão<br />

carentes e com certeza não têm computador em<br />

casa. E se pudessem usar a Internet para fazer<br />

bate papo, então seria o máximo!”<br />

(professora A).<br />

A questão da competência dos alunos foi lembrada por quatro professoras, expressa<br />

nas falas:<br />

“Acho que sentirão muito competentes por<br />

poderem estar se comunicando com outras<br />

pessoas de longe, através do computador, através<br />

do próprio telefone aí, que você me deu uma<br />

grande idéia de trabalhar qualquer aula ali. Acho<br />

que eles sentirão muito realizados”.<br />

(professora S)<br />

“Ah, Felicidade! Porque eles adoram mexer no<br />

computador!” (professora C).<br />

“Uma segurança maior, tanto para o futuro para<br />

o trabalho, quanto para uso mesmo de...os meus<br />

como são pequenos, para coordenação motora,<br />

língua de sinais, correspondência de letras,<br />

correspondência de palavras. Então no futuro eu<br />

acho que eles vão estar mais seguros de estar<br />

usando essa máquina.” ( professora L)<br />

74


“Orgulhosos de si. Na verdade eles já<br />

descobriram que o computador é de uso exclusivo<br />

dos surdos e dos deficientes mentais e já se<br />

sentem orgulhosos. Quando descobrirem a<br />

Internet, ah! Vão delirar”.(professora H)<br />

“Se sentirão realizados! Porque todos eles<br />

querem conhecer. Cada dia eles querem conhecer<br />

alguma coisa do computador” (professora Su).<br />

Na subcategoria relacionada às expectativas relacionadas ao uso da Internet, foi<br />

perguntado, em primeiro lugar, se a classe especial possui acesso à Internet e apenas uma<br />

escola já estava com a conexão pronta. As demais escolas apresentavam a seguinte<br />

situação, uma os micros instalados provisoriamente na biblioteca, portanto, em breve<br />

seriam transferidos para a classe especial e essa já estava com a rede telefônica pronta.<br />

“Ainda não teve, mas na minha sala já instalaram<br />

a linha telefônica para colocar acesso à Internet.<br />

Está tudo programado para isso” (professora S).<br />

“Por enquanto os micros estão na biblioteca, mas<br />

quando forem para as salas terão acesso à<br />

Internet, já temos até o telefone dos surdos<br />

instalado na sala” (professora H).<br />

A escola que teve seus micros roubados não tinha nenhuma expectativa favorável<br />

em relação à aquisição de novos micros, nem tão pouco preparado a sala com o cabo<br />

telefônico.<br />

“A dificuldade aqui é em ter computador”<br />

(professora R).<br />

Uma professora chegou a pedir para que a supervisora de ensino interviesse na situação<br />

da escola, solicitando da seguinte forma:<br />

75


“Por favor, vê se conversa com a direção da<br />

escola e arrume novos computadores para as<br />

classes especiais” (professora A).<br />

Na escola que já está com acesso à Internet, apenas uma professora demonstrou que<br />

não tinha conhecimento sobre a conexão, portanto ficou evidente que a mesma tem muita<br />

dificuldade para utilizar o computador.<br />

“Esse computador... (a professora ficou muda,<br />

talvez por não ter certeza se existia conexão a<br />

Internet)” (professora B).<br />

Foi procurado comprovar se ela sabia da situação da sala e insisti perguntando se<br />

aquele micro estava conectado à Internet, a professora respondeu que sim, mas que ela<br />

nunca havia usado a Internet. Sobre as dificuldades ela acrescentou:<br />

“Bom, como ferramenta pedagógica eu acho<br />

assim, as principais dificuldades são a<br />

preparação dos professores. A gente não está<br />

assim... muito preparado, a gente gostaria<br />

inclusive de aprender mais técnicas”.<br />

A professora L, já fazia uso da Internet e explicou o cronograma de uso do<br />

computador pelos alunos das duas classes especiais D.A. A e D.A. B:<br />

“Existe um que é usado às terças-feiras pelos<br />

meus alunos e nas 5ª feiras pelos alunos da<br />

professora B” (professora L).<br />

A resposta de duas professoras da mesma escola referente às dificuldades abordou a<br />

questão do número de computadores e a necessidade de preparação adequada dos<br />

professores. Em resposta à pergunta sobre a conexão com a Internet, uma professora<br />

indicou que na sala dela não havia computador, mas que trabalhavam em forma de rodízio<br />

de alunos:<br />

“Na minha sala não. Existe um computador na<br />

escola para quatro salas de deficientes auditivos<br />

76


aqui e a gente utiliza fazendo rodízio. Uma sala<br />

usa e depois a outra”(professora C).<br />

“Principal dificuldade com relação à surdez é à<br />

questão da abstração das palavras, é a questão de<br />

ter um texto muito grande tem que estar sempre<br />

interpretando. Outra dificuldade é só ter um<br />

computador, a questão do tempo, porque nós<br />

temos que trabalhar com um computador a<br />

informática ligada a um só tema em que a gente<br />

está trabalhando, mas ao mesmo tempo um<br />

computador para sete alunos, às vezes, fica<br />

invariável”(professora Su).<br />

Todas as professoras apontaram possuir dificuldades para utilizar de forma<br />

adequada o computador como ferramenta pedagógica e que estão em processo de<br />

apropriação dessa nova técnica. Todas expressaram seu ponto de vista acerca das<br />

orientações oficiais recebidas para o uso do computador, enfatizando a necessidade de mais<br />

cursos para melhor aprimoramento.<br />

“Bom nós tivemos uma orientação técnica na<br />

Diretoria de Ensino , uma capacitação, mas foi<br />

muito pouco, a gente gostaria de ter mais. Já<br />

fizemos alguns trabalhos no computador, eu<br />

principalmente que tenho uma segunda série, eu<br />

estou dando alfabeto maiúsculo e minúsculo e<br />

estou ensinando os nomes. Então fizemos uma<br />

listagem dos nomes próprios e cada um abriu uma<br />

pasta para guardar os trabalhos”(professora B).<br />

Apenas três professoras mencionaram ter participado de alguns cursos de capacitação<br />

em informática (oferecido pelo NRTE SUL 3) informou, como no exposto abaixo:<br />

77


“Foi dada capacitação, cursos para trabalhar<br />

com textos com a Internet e é assim o apoio é<br />

dado quando nós vamos lá para e perguntamos<br />

alguma coisa” (professora L).<br />

“É... Houve um curso básico de informática.<br />

Professor Sérgio que fazia parte da Educação<br />

Continuada... Para os professores da rede<br />

pública! Mas foi assim um curso bem básico né...!<br />

Como utilizar os Word... Como utilizar o Excel...<br />

é... Digitação... Mas a duração do curso foi muito<br />

rápida. Durou, acho que, uma semana e meia.<br />

Aproximadamente 10 dias” (professora Su).<br />

“Para o uso do computador... Olha, eu tive uma<br />

oficina depois que o computador chegou aqui na<br />

escola. Teve só uma oficina com a nossa<br />

supervisora foi a única oficina porque não teve<br />

outra anterior a essa”(professora C).<br />

Uma professora entendeu a questão de forma limitada, enxergando como<br />

orientações oficiais o que a direção da escola comunica:<br />

“Como assim oficiais?(riso tímido) O que me<br />

passaram foi: quando chegaram os<br />

computadores, o assistente(vice –diretor) que na<br />

época era o Eugênio, ele perguntou para mim e<br />

para a professora da classe de D.M., onde seria<br />

mais viável colocar. Será melhor colocar na<br />

biblioteca? Ele até sugeriu, seria melhor por<br />

causa da segurança e que nós poderíamos utilizar<br />

78


o computador no horário que precisássemos não<br />

necessariamente determinados, eu é que<br />

determinei o horário para organizar melhor o<br />

trabalho, para não ficar só todo dia indo para o<br />

computador, mas para orientar mesmo. Ele falou<br />

que só os deficientes iriam usar os computadores.<br />

E que os dois computadores (um destinado para a<br />

classe de D.A. e outro de D.M.) iriam ficar juntos<br />

para a gente usar com o grupo de<br />

alunos.”(professora S).<br />

Duas professoras abordaram ainda a questão da falta de uma comunicação eficaz<br />

entre docentes e gestores da educação, destacando que as informações sobre os cursos<br />

oferecidos quase sempre não são informadas em tempo hábil.<br />

“Ah! Aqui só ficamos sabendo das coisas quando<br />

já acabaram as inscrições. Outro dia fiquei<br />

sabendo que o CAPE* estava oferecendo cursos<br />

de Língua de Sinais e Soroban, perdi só fui saber<br />

por intermédio de colegas que já estavam fazendo<br />

o curso lá. Mas também tem um problema, esses<br />

cursos só podem ser feitos fora do horário de<br />

aula, e aí não dá porque eu trabalho de manhã e<br />

de tarde” (professora A).<br />

Uma professora afirmou só ter recebido orientações oficiais da Supervisora de Ensino, no<br />

entanto, essa não é a realidade, fato que já foi demonstrado em depoimentos anteriores,<br />

onde algumas professoras citaram suas participações em cursos oferecidos.<br />

“Só a sua orientação enquanto supervisora nas<br />

Orientações Técnicas para classe especial”<br />

(professora R).<br />

Em resumo, a implantação da informática nas classes especiais das escolas<br />

jurisdicionadas pela Diretoria de Ensino Região Sul 3 está acontecendo de maneira<br />

79


flutuante e de acordo com a administração da unidade escolar, o que às vezes dificulta o<br />

processo, quando a escola não possui uma gestão participativa. Contudo, a preparação<br />

adequada do professor para o uso das tecnologias continua sendo o grande desafio.<br />

*Centro de Apoio Pedagógico<br />

80


Considerações<br />

Finais<br />

81


5. Considerações Finais<br />

Retomando minha proposta inicial algumas considerações serão feitas de acordo<br />

com os objetivos:<br />

1. Analisar quais as contribuições que as tecnologias da informação e comunicação trazem<br />

para a educação dos surdos nas classes especiais da Diretoria de Ensino da Região Sul-3<br />

considerando a política de informatização da Secretaria Estadual de Educação e as<br />

verdadeiras condições de trabalho em sala de aula.<br />

2. Discutir a prática pedagógica do professor das classes especiais e descobrir se ao<br />

utilizar as Tecnologias da Informação e Comunicação na sala de aula ocorrem<br />

mudanças no processo de ensino dos surdos, levando-o a refletir sobre sua prática.<br />

5.1. Sobre o processo de informatização nas classes especiais.<br />

Ao refletir sobre o primeiro objetivo, surgiu o tema “Percepções das<br />

professoras sobre o processo de informatização das classes especiais, dificuldades de<br />

implantação e manutenção das TIC’s nas escolas públicas estaduais”, que desvendou<br />

problemas estruturais e sociais que não podem ser resolvidos somente pelos professores: o<br />

não estabelecimento de canais de comunicação capazes de resolver a questão da<br />

participação dos professores no processo de informatização; classes não divididas em séries<br />

e roubos de equipamentos.<br />

Neste sentido, um dos desafios está na implantação de um canal de<br />

comunicação eficaz, que leve até o interior da sala de aula toda informação necessária,<br />

todas as orientações oficiais, capaz de fazer chegar até a sala de aula as propostas e ações<br />

da Secretaria de Educação.<br />

A SEE/SP estabeleceu diretrizes para desencadear ações de uma política de<br />

informatização das classes especiais promovendo maior autonomia<br />

administrativa/pedagógica, para as unidades escolares, através de ações de apoio, enviando<br />

recursos diretamente a elas. Esse tipo de ação favorece a uma atmosfera de participação e<br />

colaboração de toda a comunidade na elaboração de seus próprios projetos pedagógicos.<br />

82


A informática na educação, e em destaque no presente trabalho, na educação<br />

especial oferece a possibilidade de uma melhor inclusão do surdo na sociedade<br />

tecnológica. No entanto, informática na Educação Especial ainda é muito recente, assim<br />

como o movimento pelo reconhecimento da língua brasileira de sinais. Esta mudança de<br />

paradigma começa a determinar a atuação do professor de classe especial para deficientes<br />

auditivos, que infelizmente não dispõe de condições favoráveis para o desenvolvimento de<br />

um trabalho pedagógico de qualidade. Para efetivar o processo de inclusão social é<br />

primordial que sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às características<br />

individuais..<br />

O atendimento aos alunos surdos nas classes especiais da rede pública estadual<br />

é feito sem separação de classes: alunos de todas as séries e idades estudam juntos, o que<br />

em termos pedagógicos é um absurdo. A escola, instituição que promove e media o<br />

conhecimento, um ambiente de convivência social, deve propiciar, a todos os alunos as<br />

mesmas oportunidades.<br />

No 2.º parágrafo da resolução S.E.95/00(Anexo 4) está citado que:<br />

“Aplica-se aos alunos de modalidade<br />

de educação especial as mesmas regras previstas<br />

no regimento para fins de classificação em<br />

qualquer série”.<br />

Subtende-se que a oferta da garantia de qualidade para os alunos surdos de<br />

classes especiais deveria seguir os mesmos moldes de oferta para alunos da classe comum,<br />

ou seja, que os alunos surdos fossem agrupados segundo critério de série e idade, nas<br />

quatro séries iniciais do ensino fundamental do ciclo I.<br />

As escolas jurisdicionadas pela D.E.R.Sul3 enfrentam desafios quanto a<br />

implantação e manutenção dos computadores nas classes especiais, por causa de roubos<br />

constantes do Patrimônio Público. Escolas são constantemente invadidas nos finais de<br />

semanas, sendo subtraídos das mesmas vários equipamentos, tais como: micro<br />

computadores, máquinas de escrever, aparelhos telefônicos, aparelhos de som, TV e Vídeo,<br />

além de materiais de consumo: folhas de sulfite, cola, lápis, canetas...e até a própria<br />

merenda escolar.<br />

Portanto as ações da Secretaria de Educação que visam promover o acesso à<br />

informática, financiando os equipamentos de informática para as escolas que possuem<br />

83


classes para alunos portadores de necessidades educacionais especiais encontram-se<br />

prejudicadas nas escolas da periferia de São Paulo.<br />

5.2. Sobre a participação das professoras no processo de informatização<br />

A maioria das entrevistadas afirmou ter participado do processo de implantação<br />

da informática nas classes especiais. As professoras foram informadas que havia verba para<br />

aquisição de micro computadores e foram escutadas quanto ao melhor local para sua<br />

instalação, apesar de as orientações oficiais determinarem que a instalação fosse nas salas<br />

onde funcionam as classes especiais.<br />

Houve uma escola que, a princípio, não atendeu a essa orientação, pois<br />

precisava de algum tempo para providenciar grades de segurança para portas e janelas e,<br />

como já havia comprado os computadores, optou por instalação temporária na biblioteca da<br />

escola, sem acesso a Internet.<br />

Como já mencionado, infelizmente, a realidade apontou para o problema<br />

freqüente de roubos nas escolas. Soma-se a esse, problemas de ordem material, de compra e<br />

de manutenção dos equipamentos de informática, bem como o acesso a Internet (cabos de<br />

linhas telefônicas também são constantemente roubados das escolas mais isoladas). Esses<br />

entraves acabam impedindo a concretização dos benefícios que podem advir da informática<br />

aplicada à educação.<br />

5.3 Sobre a utilização do material<br />

As professoras entrevistadas fizeram considerações acerca dos materiais que mais<br />

utilizam no ensino de surdos e uma idéia interessante foi levantada: a língua de sinais<br />

poderia não ser apenas um instrumento, mas uma língua oficial. Isso demonstra uma visão<br />

mais abrangente, que considera que a LIBRAS composta de todos os componentes<br />

pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica e sintaxe. Vários estudos com<br />

surdos demonstram que a língua de sinais se organiza no cérebro da mesma forma que as<br />

línguas faladas.<br />

Apesar das falas das professoras apontarem para uma evidente preocupação de<br />

acompanharem os avanços tecnológicos, as respostas evidenciaram que as práticas mais<br />

comuns em sala de aula, ainda são as aulas expositivas tendo como recurso lousa e giz.<br />

84


Segundo Schön (op.cit.), a competência profissional implica um conhecimento situado<br />

na ação holística, criativa, pessoal e construída. A pesquisa mostrou que as professoras das<br />

classes especiais ainda não estão seguras das técnicas para a utilização do computador<br />

como ferramenta pedagógica. É necessário orientá-las sobre as possibilidades de utilização<br />

do computador e da Internet para fins educacionais, fornecendo parâmetros sobre o seu<br />

significado cultural.<br />

5.4.Sobre o uso e as possíveis contribuições das TIC’s aos processos de ensino e de<br />

aprendizagem dos surdos.<br />

A evolução tecnológica do mundo atual está gerando mudanças na organização escolar,<br />

portanto implicando diretamente na rotina da sala de aula. Essas mudanças exigem do<br />

professor, maior independência, criatividade e auto crítica na obtenção e na seleção de<br />

informações. Por meio do uso de redes de comunicação e dos recursos multimídia, o<br />

emprego da tecnologia computacional estimula a aquisição do conhecimento e o<br />

desenvolvimento de diferentes formas de representação e compreensão do pensamento.<br />

Quando o professor começa a fazer uso do computador como um instrumento que irá<br />

enriquecer sua prática pedagógica, está oferecendo chances aos seus alunos para<br />

representarem e testarem suas idéias ou hipóteses. Tais práticas conduzem a um mundo<br />

abstrato e simbólico, favorecendo um modo diferente de atuar e interagir com seus alunos.<br />

Essa nova relação propicia o desenvolvimento da racionalidade técnico operatório e lógicoformal,<br />

amplia a compreensão dos aspectos sócio-afetivos, clareando alguns fatores entre<br />

eles os pedagógicos e psicológicos.<br />

As professoras demonstraram insegurança quanto aos domínios das técnicas para o uso<br />

do computador, contudo, consideraram que as TIC’s podem contribuir, e muito, para o<br />

processo de ensino dos surdos. Através da multimídia, de softwares (específicos para<br />

surdos ou não) podem contribuir no desenvolvimento da leitura e escrita do surdo e se<br />

tornarem um instrumento de comunicação alternativa entre surdos-surdos e entre surdosouvintes.<br />

As entrevistadas acreditam que serão grandes as contribuições das tecnologias para o<br />

desenvolvimento de seu trabalho escolar, bem como, para o processo de aprendizagem dos<br />

alunos. Acham que o uso da tecnologia pode elevar a auto-estima de seus alunos,<br />

85


permitindo gerar expectativas positivas quanto suas possibilidades para enfrentar o novo,<br />

ou seja, o mundo digital. As professoras compreendem que se não oferecerem a seus alunos<br />

o acesso às tecnologias, estarão contribuindo para o emergir de um outro tipo de exclusão, a<br />

exclusão digital, aumentando a categoria de analfabetos digitais.<br />

5.5.Sobre a motivação das professoras<br />

Para além das condições objetivas do cotidiano escolar da classe especial, o que nos<br />

interessa é saber se as professoras das classes especiais estariam motivadas para introduzir<br />

as tecnologias em sua prática pedagógica. Foi interessante notar como a professora que<br />

tinha o aparelho telefônico de surdos dentro da sua sala, não havia pensado na possibilidade<br />

pedagógica do instrumento e, após a entrevista sua conclusão a respeito da questão,<br />

concluindo que poderia ter se aproveitado esse instrumento para enriquecer suas aulas de<br />

Português, através da leitura e escrita com o aparelho telefônico.<br />

Todas as professoras entrevistadas demonstraram estarem predispostas a aprender e a<br />

ensinar as técnicas que envolvem o uso do computador, como também abordaram a<br />

possibilidade dos alunos possuírem mais conhecimentos do que elas para o manuseio do<br />

mouse e dos programas computacionais.<br />

Para Pimenta (2000), a competência profissional implica em um conhecimento que<br />

depende da capacidade do profissional para apreciar o valor das suas decisões e as<br />

conseqüências que dela decorrem. Esta proposta salienta o aspecto da prática como fonte de<br />

conhecimento através da experimentação e reflexão, como momento privilegiado de<br />

integração de competências.<br />

O professor pode ser o elemento mediador e facilitador do conhecimento de seus<br />

alunos, para tanto é necessário que ele se instrumentalize com as tecnologias<br />

contemporâneas e reflita sobre sua prática pedagógica, percebendo que o ato pedagógico é<br />

único. É preciso que aprenda a enfrentar o imprevisto e seja capaz de ter iniciativa,<br />

transformando as disciplinas e o conhecimento dos alunos.<br />

86


5.6. Sobre a influência das TIC’s na prática pedagógica.<br />

As considerações das professoras indicaram que as TIC’s, em específico o<br />

computador e a Internet, poderão influenciar sua prática pedagógica, aumentando a<br />

competência do professor. No entanto, estar motivado não é uma responsabilidade<br />

unicamente sua, como foi apresentada a situação das professoras que não participaram do<br />

processo de implantação da informática nas classes especiais e que só souberam dos fatos<br />

após o roubo dos computadores destinados as classes especiais. Diante de uma situação tão<br />

desanimadora, só restou a estas professoras continuarem seu trabalho escolar com os<br />

recursos materiais: lousa, giz, caderno, folhas, não podendo nem sequer contar com a sala<br />

de Vídeo. Contudo cabe ressaltar que as professoras das classes especiais procuram não<br />

expressar esse desânimo aos seus alunos, o que na realidade é quase impossível.<br />

A grande maioria das entrevistadas fez referências a utilização de materiais para o<br />

ensino do surdo, falaram das tecnologias, mas na realidade, como foi observado em sala de<br />

aula, as professoras usam a lousa, o giz, o livro didático. Algumas fizeram referências a<br />

língua de sinais e às tecnologias, principalmente a TV e o vídeo. Poucas deixaram claro que<br />

usam o computador, que utilizam o editor de texto Word, nas atividades de escrita e<br />

memorização das palavras. Como ainda estamos muito ligados ao antigo paradigma, são<br />

grandes os desafios que temos que enfrentar para que o uso da informática na educação<br />

especial se estabeleça. Enquanto supervisora de ensino e também como professora de classe<br />

especial, acredito que é necessário mudar as abordagens educacionais que permeiam a<br />

educação dos surdos e assumir uma abordagem que favoreça tanto a compreensão da<br />

transformação cultural contemporânea quanto a participação nela.<br />

5.7.Sobre o impacto das tecnologias<br />

Como introduzir as TIC’s na escola pública, e em particular na classe especial, onde<br />

tantas outras prioridades aparecem? Salas multisseriadas, alunos de diferentes idades na<br />

mesma classe, roubos de materiais permanentes da escola, dificuldade de envolvimento dos<br />

pais com os processos de ensino e aprendizagem de seus filhos (muitos pais não conhecem<br />

a língua de sinais), dificuldade para a inclusão dos portadores de necessidades educacionais<br />

especiais nas classes comuns. Na verdade, o impacto das tecnologias só está começando, é<br />

87


necessário que não permitamos que aconteça a exclusão dos surdos na sociedade<br />

contemporânea que privilegia a informação e comunicação.<br />

Para Carlos Seabra (1997 p.138), “cada vez mais o computador é o veículo de<br />

transporte da mente e um instrumento essencial de trabalho, não podemos preparar as novas<br />

gerações para um mundo de subalternidade, tanto do ponto de vista individual quanto na<br />

perspectiva da nação”.<br />

As professoras classes especiais compreendem muito bem a questão de não formar uma<br />

categoria de excluídos. É uma luta já conhecida, que vêm enfrentando no sentido de<br />

promover a inclusão dos alunos surdos na classe comum. Também estão convictas de que<br />

outro desafio terão que transpor: deverão se preparar para o mundo digital, assim como se<br />

preparam para conhecer e aprender língua de sinais (apesar de muitas não serem<br />

proficientes nessa língua).<br />

Quanto ao segundo objetivo, é certo que os modelos pedagógicos que estão introjetados<br />

nos profissionais da educação, estão sendo questionados e substituídos. Isso gera<br />

insegurança e conflitos. O mundo mudou e a escola não pode permanecer estática, presa a<br />

antigos paradigmas.<br />

As professoras parecem acreditar que o uso da língua de sinais está favorecendo a sua<br />

prática pedagógica, desenvolvendo melhor a comunicação em sala de aula. Sem dúvidas a<br />

recente legalização da LIBRAS( Anexo 3) vem beneficiar a vida de muitos surdos, mas<br />

existem aqueles surdos que acreditam que a oralização amplia as suas possibilidades de<br />

inclusão na sociedade. Os surdos oralizados vêm se manifestando não no sentido de irem<br />

contra a LIBRAS, mas sim pelo fato de não concordarem com o fato da língua de sinais ser<br />

a língua exclusivamente única dos surdos. Uma professora manifestou-se preocupada com<br />

seus alunos oralizados e afirmou não apenas utilizar LIBRAS.<br />

Contudo, todas professoras atentam para a necessidade do surdo, saber ler e<br />

escrever e, assim como qualquer cidadão saber usar dos meios modernos de comunicação,<br />

possuir e-mail, usar o computador. Os surdos devem obter na escola os conhecimentos<br />

prévios e básicos da informática, bem como outros requisitos necessários para não serem<br />

excluídos do mercado de trabalho.<br />

88


Referências<br />

Bibliográficas<br />

89


4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Camargo. 6ª Edição. S.P. Martins Fontes.<br />

94


Anexos<br />

95


Escolas Estaduais D.E.Sul-3 / Educação Especial<br />

E.E. Adolfo Casais Monteiro<br />

Unidade Escolar<br />

E.E. Neiva de Lourdes Andrade<br />

E.E.Adrião Bernardes<br />

E.E.Afrânio de Oliveira<br />

E.E.Alberto Salotti<br />

E.E.Alexandre Ansaldo Mozzilli,Prof.<br />

E.E.Alexandre Marcondes Filho,Senador<br />

E.E.Ana Luiza Florence Borges,Prof.<br />

nº/classe<br />

especial D.A<br />

nº/classe<br />

especial<br />

D.M<br />

E.E.Aniz Brada,Dr.<br />

E.E.Antonio Pereira Lima,Dr.<br />

E.E.Argeo Pinto Dias,Engenheiro 0 2<br />

E.E.Aurélio Campos,Deputado<br />

E.E.Barragem II<br />

E.E.Beatriz Lopez,Profª<br />

E.E.Belkice Manhães Reis,Profª<br />

E.E.Benedito F.de Albuquerque,Prof.<br />

E.E.Calhim Manoel Abud 0 4<br />

E.E.Callia,Maestro<br />

E.E.Cândido de Oliveira,Prof. 0 1<br />

E.E.Carlos Ayres,Prof.<br />

E.E.Carlos Cattony,Prof.<br />

E.E.Carlos de Moraes Andrade,Prof.<br />

E.E.Chácara Cocaia<br />

E.E.Chácara das Corujas<br />

E.E.Charlita,Irmã<br />

E.E.Christiano Altenfelder Silva,Dr.<br />

E.E.Clarina Amaral Gurgel,Profª<br />

E.E.Cond.Cariobas Mte Verde<br />

E.E.Cond.Cariobas Recanto Mariza<br />

E.E.Cond.Vargem Grande I<br />

E.E.Cond.Vargem Grande II<br />

E.E.David Zeiger<br />

E.E. Cefam/ Interlagos<br />

E.E.Duarte Leopoldo e Silva,Dom<br />

E.E.Emilio W.Keer,Pastor 2 2<br />

E.E.Ernestino Lopes da Silva,Prof,<br />

E.E.Esther Garcia ,Prof.<br />

E.E.Eurípides Simões de Paula,Prof.<br />

E.E.Francisco João Azevedo<br />

E.E.Francisco Roswell Freire.<br />

E.E.Gerson de Moura Muzel<br />

96


E.E.Giulio David Leone,Prof.<br />

E.E.Hebert Baldus<br />

E.E.Herminio Sacchetta<br />

E.E.Hilton Reis Santos<br />

E.E.Homero Vaz do Amaral 0 4<br />

E.E.Itiro Muto 0 2<br />

E.E.Iturbides Bolívar de A.Serra 4 0<br />

E.E.Jardim Castro Alves<br />

E.E.Jardim Guanhembu<br />

E.E.Jardim Lucélia III<br />

E.E.Jardim Moraes Prado I<br />

E.E.Jardim Moraes Prado II<br />

E.E.Jardim Santa FéII<br />

E.E.Jardim São Bernado<br />

E.E.Jardim Varginha II<br />

E.E.Jardim Varginha III<br />

E.E.Jeronymo Monteiro<br />

E.E.Jesus José Attab,Prof.<br />

E.E.João Goulart,Presidente<br />

E.E.Joaquim Álvares Cruz,Prof.<br />

E.E.Jorge Saraiva 2 1<br />

E.E.José Duarte Junior,Prof.<br />

E.E.José Geraldo Lima,Prof.<br />

E.E.Juventina M.D.Castro,Prof.<br />

E.E.Laerte Ramos de Carvalho<br />

E.E.Leda Guimarães Natal<br />

E.E.Loteamento Gaivotas I<br />

E.E.Loteamento Gaivotas II<br />

E.E.Loteamento Gaivotas III<br />

E.E.Lucas Roschel Rasquinho<br />

E.E.Maria Amélia Braz,Prof.<br />

E.E.Maria de Lourdes A.Sinisgalli,Prof<br />

E.E.Maria Juvenal Homem de Mello,Prof.<br />

E.E.Maria Luiza de A.Martins Roque,Prof.<br />

E.E.Mário Arminante,Prof.<br />

E.E.Mário Lopes Leão,Dr.<br />

E.E.Marlene Árdua Fortunato<br />

E.E.Mirna II<br />

E.E.Nair Toledo Damião<br />

E.E.Noêmia Campos de Sica.<br />

E.E.Paulino Nunes Esposo<br />

E.E.Perillier,Mademoiselle<br />

E.E.Pq. das Arvores<br />

E.E.Pq.Tamari<br />

E.E.Prisciliana Duarte Almeida<br />

97


E.E.Prof.Jair de Andrade<br />

E.E.Recanto Campo Belo<br />

E.E.Regina Miranda B.de Carvalho<br />

E.E.René Muawd,Presidente<br />

E.E.Reverendo Erodice Pontes de Queiroz<br />

E.E.Roberto Mange<br />

E.E.Rossine Camargo Guarnieri<br />

E.E.Samuel Wainer<br />

E.E.Santo Dias da Silva<br />

E.E.Savério Fittipaldi<br />

E.E.Tancredo de Almeida Neves<br />

E.E.Vera Athayde Pereira,Prof.<br />

E.E.Vicente de Paula Dale Coutinho<br />

E.E.Wahigton Alves natel<br />

EELeonor Fernandes C.Zacharias<br />

Indígena Guaran G.Pepo<br />

Jacob Thomaz Itapura Miranda<br />

José Vieira de Moraes<br />

Levi Carneiro<br />

98


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ X________________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. B Turno Manhã nº de alunos:09<br />

Professora: B<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC-FMU<br />

E-mail: não tinha endereço eletrônico<br />

Qual o seu nome? B. S.<br />

Idade? 56 anos<br />

Formação? Pedagoga.Trabalhei 22 anos no Instituto Dona Conceição para Surdos e, em<br />

1996 resolvi fazer EDAC que é a especialização para deficientes auditivos, na FMU,<br />

porque achei que faltava alguma teoria, embora a prática eu tivesse bastante.<br />

Quantos alunos você tem nessa classe especial? Atualmente nove alunos<br />

Na sua sala tem computador? Na escola existe um computador que é usado pelas salas<br />

especiais. A gente usa, e eu constantemente uso as 5ª feiras e a minha colega na 4ª feira.<br />

99


Há quanto tempo leciona em classe especial? 07 anos nessa escola.<br />

Quais os recursos matérias que você utiliza para ensinar os surdos? Os recursos materiais<br />

em sala de aula, né? Bom a gente usa todos os recursos que podem ser visíveis, porque o<br />

surdo precisa muito, objetos da sala, as vezes trago de casa. Agora eu estou num trabalho<br />

de iniciação, então trago muitas velas para eles fazerem exercícios de sopro, fazemos<br />

gargarejo com água, enfim tudo aquilo que possa ser visual, a gente usa tudo.<br />

Existe computador em uma sala, esse computador tem acesso à Internet? Esse<br />

computador...(a professora ficou muda, talvez por não ter certeza se existia conexão a<br />

Internet).<br />

Voltei a insistir: Você usa a Internet? Não, não. Insisti: você não usa, mas tem acesso a<br />

Internet? Tem , tem!<br />

Quais os programas de computador que você conhece, ou pelo menos já ouviu falar? Olha a<br />

minha colega L que me dá bastante apoio, pois na minha época não tinha computador, eu<br />

estou me esforçando ao máximo para aprender e passar para meus alunos.<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu sobre o uso do computador? Bom nós<br />

tivemos uma orientação técnica na Diretoria de Ensino dada capacitação, mas foi muito<br />

pouco, a gente gostaria de ter mais. Já fizemos alguns trabalhos no computador, eu<br />

principalmente que tenho uma segunda série, eu estou dando alfabeto maiúsculo e<br />

minúsculo e estou ensinando os nomes. Então fizemos uma listagem dos nomes próprios e<br />

cada um abriu uma pasta para guardar os trabalhos.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino? Atividades? Bom<br />

LIBRAS, porque hoje está muito em voga, e também porque a gente, depois de muitos<br />

anos, chegou a conclusão que realmente é o que o surdo mais precisa e, quando ele<br />

realmente entendeu o processo é sem dúvida nenhuma que sua primeira língua , o gestual a<br />

LIBRAS, enfim, a comunicação com as mãos.<br />

Como você se comunica com seus alunos? Eu faço as duas coisas, porque eu não posso<br />

admitir que se faça só LIBRAS, porque tem alguns alunos que tem uma facilidade e<br />

dependendo do grau de surdez também, os que falam “melhorzinho” a gente não pode<br />

deixar de incentivar o oralismo. Então a leitura labial, ou oro-facial é muito importante,<br />

então eu faço as duas coisas eu faço LIBRAS e faço a atividade oro-facial.<br />

Como você imagina que o uso das TIC’s podem influenciar ou não sua prática de ensino?<br />

100


É seria mais assim, num contexto geral, seria mais pelo visual, porque eu acho que o surdo<br />

é muito concentrado, nada atrapalha ele. Por isso quando ele está no computador parece<br />

que ele navega mesmo, nessa coisa gostosa de procurar e parece que fixa mais. Não sei.<br />

Eu tenho sentido mais ou menos assim.<br />

Quais as dificuldades que você prevê no uso da informática como ferramenta pedagógica?<br />

Bom, como ferramenta pedagógica eu acho assim, as principais dificuldades são a<br />

preparação dos professores. A gente não está assim ...muito preparado, a gente gostaria<br />

inclusive de aprender mais técnicas.<br />

O que você acha que seus alunos sentirão quando estiverem dominando essas tecnologias<br />

da informação e comunicação? Acho que para eles vai ser muito importante porque vai<br />

coloca-los assim não digo igualado, porque a deficiência existe a nível sensorial e às vezes<br />

ela é muito gritante realmente, mas vai valer como uma auto-estima, já que vão se igualar<br />

ao resto do mundo, que hoje o mundo é computadorizado, então eu vejo mais por esse lado.<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador na sala de aula? O que<br />

cabe ao professor fazer? O que cabe a escola fazer?<br />

Bom a escola seria incentivar cada vez mais, ou seja, não deixar faltar o material que é<br />

bastante caro, por se tratar de uma escola do Estado. A gente precisaria também aprender<br />

mais técnicas, o professor se especializar mais na informática para ele poder estar mais<br />

preparado para passar aos alunos.<br />

Existe algo que não lhe foi perguntado e você gostaria de acrescentar a essa entrevista?<br />

Não, eu acho que tudo foi perguntado.<br />

101


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ X________________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. D Turno tarde nº de alunos:08<br />

Professora: C<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC- FMU/SP<br />

E-mail: tinha endereço eletrônico<br />

Qual é o seu nome? C.<br />

Qual é a sua idade? 37 anos<br />

Formação...? Pedagogia com habilitação em EDAC<br />

102


Quanto leciona em classe especial? 10 anos<br />

Quais os recursos materiais que você utiliza para ensinar surdos? Recursos materiais. Eu<br />

uso figuras, desenhos, livros, lousa, giz, vídeo e basicamente a língua de sinais mais<br />

freqüentemente.<br />

Existe computador na sua classe? Na minha sala não. Existe um computador na escola para<br />

quatro salas de deficientes auditivos aqui e a gente utiliza fazendo rodízio. Uma sala usa e<br />

depois a outra.<br />

Existe acesso à internet? Nessa sala sim!<br />

Quais os programas de computador que você conhece ou pelo menos já ouviu falar? O<br />

Excel, Word, Paint (de desenho né?) e só.<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu para o uso desses materiais? Para o uso do<br />

computador. Para o uso do computador... Olha, eu tive uma oficina depois que o<br />

computador chegou aqui na escola. Teve só uma oficina com a nossa supervisora foi a<br />

única oficina porque não teve outra anterior a essa.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino? Pesquisa, digitação de<br />

algumas frases... Algumas palavras e jogos.<br />

Como você se comunica com os seus alunos? Basicamente através da língua de sinais.<br />

Porque nesse momento na minha sala não tem nenhum que tenha oralidade.<br />

Como você imagina que o uso das tecnologias da informação e da comunicação pode<br />

influenciar ou não em sua pratica de ensino? Influencia assim, ajudando! Sendo um<br />

veiculo a mais para ampliar o conhecimento do aluno.<br />

103


E quais as principais dificuldades que você prevê no uso da informática como ferramenta<br />

educacional? Ah, no momento como os meus alunos necessitam de Libras eu acho que<br />

deveriam ter mais programas que tenham a língua de sinais.<br />

O que você acha que os seus alunos sentirão quando eles estiverem dominando essas<br />

tecnologias? Ah, Felicidade! Porque eles adoram mexer no computador!<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador e sala de aula? O que<br />

cabe ao professor e o que cabe a escola? Ter mais capacitação para os professores e para<br />

eles dominarem esse recurso para poder estar passando pros alunos.<br />

E o que cabe à escola? Colaboração!<br />

Existe alguma coisa que você gostaria de falar que não foi perguntado? No momento não.<br />

(risos)<br />

Obrigada! De nada!<br />

104


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ X________________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. A Turno Manhã nº de alunos:10<br />

Professora: L<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC-FMU/SP<br />

E-mail: tinha endereço eletrônico<br />

Qual o seu nome? L. M. G.<br />

Idade? 25 anos<br />

Formação? Pedagogia com habilitação em EDAC-FMU<br />

Há quanto tempo leciona em classe especial? Esse é meu segundo ano.<br />

Quais os recursos matérias que você utiliza para ensinar os surdos?Figuras, cartazes, livros<br />

didáticos e de histórias infantis, o computador, língua de sinais, o português, todos os<br />

recursos que forem possíveis, vídeo.<br />

105


Existe computador em sua classe especial?Existe um que é usado às terças-feiras pelos<br />

meus alunos e nas 5ª feiras pelos alunos da professora B.<br />

Tem conexão com a Internet? Tem<br />

Quais os programas de computador que você conhece? Eu trabalho com o Word, né?de<br />

textos e Power Point , que é desenho com as figuras.<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu para o uso desse material? Foi dada<br />

capacitação, cursos para trabalhar com textos com a Internet e é assim o apoio é dado<br />

quando nós vamos lá para e perguntamos alguma coisa.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino? As atividades? Eu<br />

trabalho muito com ditado em língua de sinais, jogos de dominó, palavras e desenho,<br />

trabalho muito palavras dentro de um grupo, por exemplo, grupo de frutas, vestuário,<br />

conceito semântico.<br />

Como você se comunica com seus alunos? Com língua de sinais, gestos com os alunos que<br />

não sabem língua de sinais, até eles adquirirem alguma...é forma escrita , desenhos.<br />

Como você imagina que o uso das TIC’s podem influenciar ou não sua prática de ensino?<br />

Acho que é um grande estímulo, quando eles vão para o computador eles ficam mais<br />

animados, eles começam a procurar palavras, começam a perceber o erro, ver o que o<br />

amigo escreve e o que ele escreve, se o amigo sabe um número maior de palavras, ele<br />

também quer chegar naquele número, então além de uma competição, mas uma competição<br />

sadia, eles ficam mais estimulados tanto na escrita quanto, como no desenho, como criar<br />

coisas, responder cruzadinhas, essas coisas.<br />

Quais as dificuldades que você prevê no uso da informática? Dificuldades? Assim a<br />

minha...é a falta de preparo do professor. Que eu sei assim, algumas coisas que eu faço<br />

corriqueira, mas assim outros programas, como Excel eu já não sei trabalhar tanto.Fiz o<br />

curso, mas eu não consigo trabalhar agora e a falta de software para o deficiente auditivo.<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador na sala de aula? O que<br />

cabe ao professor fazer? O que cabe a escola fazer? Seria melhor um número maior de<br />

computadores, mas como temos apenas um agente faz ...um grupo senta, um aluno faz<br />

atividade no computador. Ah! O que é necessário para um bom uso, o professor capacitado,<br />

ter o domínio do computador para ele passar essa confiança para o aluno e também a escola<br />

acho que não cabe muito...assim ela já tendo o computador, deixando espaço para ele ser<br />

106


utilizado, acho que cabe ao professor e aos alunos, né?É um respeito as regras, tanto dos<br />

alunos esperarem o outro...<br />

O que você acha que seus alunos sentirão quando estiverem dominando essas tecnologias?<br />

Uma segurança maior, tanto para o futuro para o trabalho, quanto para uso mesmo de...os<br />

meus como são pequenos, para coordenação motora, língua de sinais, correspondência de<br />

letras, correspondência de palavras. Então no futuro eu acho que eles vão estar mais<br />

seguros de estar usando essa máquina.<br />

Existe algo que não lhe foi perguntado e você gostaria de acrescentar a essa entrevista?<br />

Acho que o uso do computador é bom tanto para os alunos surdos como para os ouvintes.<br />

Acho que para o futuro, nós vivemos num país de muita comunicação, transformação em<br />

informática, informações a toda hora, acho que o computador dá acesso para tudo isso.<br />

Quando eles começarem a mexer na Internet, começarem a descobrir coisas novas, que eles<br />

podem entrar em contato com outras pessoas, com outros surdos, acho que eles vão estar<br />

aproveitando bastante.<br />

107


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ Z_______________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. A Turno Manhã nº de alunos:10<br />

Professora: A.<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC-FMU/SP<br />

E-mail: não tinha endereço eletrônico<br />

Qual o seu nome? A.R.F.S.<br />

Idade? 27 anos<br />

Formação? Pedagogia em EDAC /FMU. Estou fazendo outra habilitação agora, para me<br />

tornar Supervisora de Ensino.<br />

Há quanto tempo você leciona em classe especial? 04 anos<br />

Quais os recursos matérias que você utiliza para ensinar os surdos?Livros, lousa, giz,<br />

cadernos, TV, vídeo cartazes, revistas, dicionários e outras coisas, mas não posso usar<br />

108


computador porque não temos. Bom o que posso dizer é que uso LIBRAS em sala de aula e<br />

se tivesse computador ia ser melhor!<br />

Existe computador em sua classe especial? Não foi roubado, antes mesmo que eu soubesse<br />

que havíamos ganhado um para a classe especial.Fiquei muito decepcionada com essa<br />

situação.<br />

Quais os programas de computador que você mais utiliza?<br />

Fica prejudicada a minha resposta, porque não tenho computador aqui nessa escola, mas na<br />

escola da prefeitura, eu uso um pouco com meus alunos, só que lá também tem uma pessoa<br />

que fica disponível o tempo todo no laboratório de informática.<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu para o uso desse material?<br />

Ah! Aqui só ficamos sabendo das coisas quando já acabaram as inscrições. Outro dia fiquei<br />

sabendo que o CAPE estava oferecendo cursos de Língua de Sinais e Soroban, perdi só fui<br />

saber por intermédio de colegas que já estavam fazendo o curso lá. Mas também tem um<br />

problema, esses cursos só podem ser feitos fora do horário de aula, e aí não dá porque eu<br />

trabalho de manhã e de tarde.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino?<br />

Em minhas aulas faço como todos professores, uso caderno, livro, lousa, giz, jornais,<br />

materias concretos, jogos, dramatização e fazemos muitos desenhos para formar estórias.<br />

Como você se comunica com seus alunos?<br />

Uso sinais e fala. Alguns alunos ainda não conhecem LIBRAS estão aprendendo aos<br />

poucos, assim como eu. Outros alunos querem falar porque na hora do recreio vão tentar<br />

conversar com os colegas ouvintes.<br />

Quais os programas de computador que você conhece ou pelo menos já ouviu falar?<br />

Olha para falar a verdade só uso o Word, e o Paint, mas em minha casa, aqui como você<br />

sabe não temos computador e vou te dizer outra coisa, para usar a sala de vídeo é muito<br />

difícil, sempre está ocupada e quando não está ninguém sabe onde estão as chaves.<br />

A classe especial tem acesso à Internet? Risos...<br />

Como você imagina que o uso das TIC’s podem influenciar ou não sua prática de ensino?<br />

Poderia facilitar muito minhas aulas, assim como proporcionar alegrias aos alunos que já<br />

são excluídos da sociedade por serem surdos, agora ainda excluídos da informática? Sei que<br />

a região aqui é muito violenta, sempre acontecem roubos nessa escola, mas não sei se a<br />

109


direção fosse organizada podíamos fazer um trabalho para conquistar a comunidade do<br />

bairro. Bom, acho que não tem haver com esse assunto.<br />

Quais as dificuldades que você prevê no uso da informática como ferramenta educacional?<br />

Por enquanto a dificuldade está em ter esses computadores na classe.<br />

O que você acha que seus alunos sentirão quando estiverem dominando as tecnologias da<br />

informação e da comunicação?<br />

Iriam ficar muito felizes, porque eles são tão carentes e com certeza não tem computador<br />

em casa. E se pudessem usar a Internet para fazer bate papo, então seria o máximo!<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador na sala de aula? O que<br />

cabe ao professor fazer? O que cabe a escola fazer?<br />

A escola cabe primeiro nos avisar das verbas destinadas as classes especiais, pedir nossa<br />

opinião e garantir a segurança na escola. Aos professores, assim como eu, que não domino<br />

muita coisa na área de informática, cabe se capacitar para poder ensinar os alunos. É isso<br />

que fiz com a Língua de Sinais, fiz cursos para aprender e já estou aplicando.<br />

Existe algo que não lhe foi perguntado e você gostaria de acrescentar a essa entrevista?<br />

Por favor, vê se conversa com a direção da escola e arrume novos computadores para as<br />

classes especiais.<br />

110


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ Z_______________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. B Turno Tarde nº de alunos:08<br />

Professora: R.<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC-PUC/SP<br />

E-mail: não tinha endereço eletrônico<br />

Qual o seu nome? R.S.<br />

Idade? 28 anos<br />

Formação? Pedagogia PUC.<br />

Há quanto tempo você leciona em classe especial? 03 anos<br />

111


Quais os recursos matérias que você utiliza para ensinar os surdos? LIBRAS, livros,<br />

cadernos, folhas, cartazes, lousa, giz, faço muito passeios pelo bairro. Enfim, o que tenho<br />

disponível uso.<br />

Existe computador em sua classe especial? Não, nem sabia que havia e que foi já roubado.<br />

Quais os programas de computador que você mais utiliza?<br />

Como? Se não tenho computador.<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu para o uso desse material?<br />

Só a orientação de você enquanto supervisora nas Orientações Técnicas para classe<br />

especial.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino?<br />

Faço muita dramatização, brincadeiras, jogos, muita leitura e escrita, ditado em LIBRAS e<br />

ditado para forçar a leitura dos lábios.<br />

Como você se comunica com seus alunos? Com a fala e com a Libras.Depende do aluno.<br />

Quais os programas de computador que você conhece ou pelo menos já ouviu falar?<br />

Poucos. Sei que tem Word, Paint, tem jogos no computador que já vem na instalação,<br />

Paciência e outros que esqueci agora.<br />

A classe especial tem acesso à Internet? É poderia ter se tivesse computador!<br />

Como você imagina que o uso das TIC’s podem influenciar ou não sua prática de ensino?<br />

Se fosse possível inovar algo nessa escola... bem minhas aulas poderiam ser mais criativas<br />

do que são, pois você já viu como é difícil contar com outros recursos aqui nessa escola.<br />

Quais as dificuldades que você prevê no uso da informática como ferramenta educacional?<br />

A dificuldade aqui é em ter computador.<br />

O que você acha que seus alunos sentirão quando estiverem dominando as tecnologias da<br />

informação e da comunicação?<br />

Ficariam super felizes, mas por enquanto isso é sonho.<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador na sala de aula? O que<br />

cabe ao professor fazer? O que cabe a escola fazer?<br />

A escola deveria ser mais organizada e dar condições de trabalho aos professores, eu<br />

garanto que nós professores saberíamos o que fazer.<br />

Existe algo que não lhe foi perguntado e você gostaria de acrescentar a essa entrevista?<br />

Tem jeito de você como Supervisor nos ajudar a adquirir outro computador?<br />

112


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ Y_______________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. A Turno Manhã nº de alunos:10<br />

Professora: H<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC-FMU/SP<br />

E-mail: tinha endereço eletrônico<br />

Qual o seu nome? SH. H.<br />

Idade? 24 anos<br />

Formação? Pedagogia em EDAC /FMU.<br />

Há quanto tempo você leciona em classe especial? 02 anos<br />

Quais os recursos matérias que você utiliza para ensinar os surdos? Utilizo diversos<br />

recursos audiovisuais, áudio porque trabalho com os resíduos auditivos dos alunos que<br />

possuem perda moderada ou perda profunda num limiar capaz de detectar sons da fala ou<br />

113


instrumentos, musicais, sons do ambiente. Visuais para todos os alunos, principalmente<br />

para os com perda profunda. Em minhas aulas uso a TV e o vídeo, computador, jornais,<br />

cartazes, revistas, dicionário da língua portuguesa e de língua de sinais, leitura e escrita,<br />

desenho...<br />

Existe computador em sua classe especial? Na sala de aula ainda não, por questões de<br />

segurança , optamos por colocar na biblioteca, ela é bem fechada, não tem janela na parte<br />

inferior , só na superior, portanto quem está do lado de fora não consegue enxergar o que<br />

tem lá dentro.<br />

Quais os programas de computador que você mais utiliza?<br />

Com meus alunos utilizo o Paint,, o Word, alguns softwares que comprei , tipos jogos,<br />

oficina de desenhos, dicionário de sinais que foi entregue aqui na escola. Eles gostam muito<br />

dos jogos e desenhos, mas eu ainda sei trabalhar no Excel, mas não trabalho com eles.<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu para o uso desse material?<br />

Participei de alguns cursos oferecidos no ano passado pelo Núcleo de Informática lá da<br />

Diretoria de Ensino( NRTE-SUL3). Conheci alguns softwares , o Fine Artist, Creative<br />

Write, são oficinas de desenhos e historinhas, gostei muito.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino?<br />

Faço de tudo, eles fazem muitas atividades no caderno, eles cobram quando não tem lição<br />

no caderno, usamos livros também, mas quando falo que hoje é dia de aula no computador,<br />

nossa... todos acabam a lição rápido para poderem ir para a biblioteca. Também usamos a<br />

TV e vídeo, mas eles reclamam quando não tem legenda. No computador eles criam<br />

estórias, sempre ligadas ao tema estudado, tem facilitado muito na fixação das palavras.<br />

Como você se comunica com seus alunos?<br />

Com a fala e com língua de sinais. Fiz um curso de seis meses sobre língua de sinais, isso<br />

me ajudou bastante na comunicação.Tem aluno que prefere falar comigo usando voz e com<br />

os colega só sinais, eu respeito e está dando certo.<br />

Quais os programas de computador que você conhece ou pelo menos já ouviu falar?<br />

Muitos. Word, Power Point, Excel, Softwares Educacionais, olha tem um chamado<br />

“mamíferos” é muito animado, conseguimos fazer um filme, mas eu não tenho o cd, foi um<br />

colega que me emprestou durante um tempo, agora os alunos sempre perguntam sobre o cd.<br />

Acho que vou comprar um para mim...<br />

114


A classe especial tem acesso à Internet? Por enquanto os micros estão na biblioteca, mas<br />

quando forem para as salas terão acesso à Internet, já temos até o telefone dos surdos<br />

instalado na sala.<br />

Como você imagina que o uso das TIC’s podem influenciar ou não sua prática de ensino?<br />

Bem , já está influenciando porque meus alunos ficam muito satisfeitos quando produzem e<br />

olha que legal...eles mostram um para o outro o que fizeram e como fizeram e percebem as<br />

diferentes formas de fazer. Muitas vezes eles me perguntam se do jeito que o outro fez está<br />

certo, e então aproveito e digo, que existem muitas formas de fazer e que todas estão certas,<br />

desde que cheguem ao produto final. Eu fico muito animada com eles.<br />

Quais as dificuldades que você prevê no uso da informática como ferramenta educacional?<br />

Ah! Queria mais cursos e muitos softwares diferentes aqui na escola. A dificuldade do<br />

momento e a falta de softwares e não estarmos conectados com a Internet. Para os alunos a<br />

dificuldade está na falta de mais computadores, eles ficam ansiosos pela sua vez de usar,<br />

isso atrapalha a dinâmica da sala.<br />

O que você acha que seus alunos sentirão quando estiverem dominando as tecnologias da<br />

informação e da comunicação?<br />

Orgulhosos de si. Na verdade eles já descobriram que os computadores é de uso exclusivo<br />

dos surdos e dos deficientes mentais e já se sentem orgulhosos. Quando descobrirem a<br />

Internet, ah! Vão delirar.<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador na sala de aula? O que<br />

cabe ao professor fazer? O que cabe a escola fazer?<br />

Ao professor cabe proporcionar aos alunos o bom uso do computador, prestar atenção para<br />

ver se eles não estão fazendo coisas que possam danificar o micro, orientar para o uso e<br />

sempre contextualizar com o conteúdo tratado no dia. Já para a escola cabe manter os<br />

micros funcionando, garantir a segurança e passar as informações dos cursos que estão<br />

sendo oferecidos pela Secretaria de Educação e CAPE, as vezes quando ficamos sabendo ,<br />

os cursos já começaram.<br />

Existe algo que não lhe foi perguntado e você gostaria de acrescentar a essa entrevista?<br />

Tem jeito de você avisar que queremos mais cursos, mais CD Rom, e softwares para<br />

surdos? Bem brincadeira, mas seria tão bom...<br />

115


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ Y_______________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. A Turno Manhã nº de alunos:10<br />

Professora: S<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC-FMU/SP<br />

E-mail: tinha endereço eletrônico<br />

Começamos então a entrevista<br />

Qual o seu nome? S. S. S.<br />

Idade? 36 anos<br />

Formação? Pedagogia em EDAC e Fonoaudiologia.<br />

Quais os recursos matérias que você utiliza para ensinar os surdos? Eu utilizo tudo, vídeo,<br />

tv, computador, jornal, revista, língua de sinais, leitura e escrita, desenho...<br />

116


Existe computador em sua classe especial? Dentro da classe ainda não, por causa da<br />

segurança eles acharam melhor colocar na biblioteca, que é toda fechada, não tem janela<br />

embaixo só em cima, assim não ficaria muito visível para os de fora. Eu utilizo lá na<br />

biblioteca.<br />

Quais os programas de computador que você mais utiliza?<br />

O Paint. Comecei com eles o Paint, porque foi esse ano que os computadores chegaram,<br />

que eu comecei a utilizar mesmo, porque os computadores chegaram foi no ano passado,<br />

mas eu comecei a utilizar nesse ano, quer dizer, eu mesmo comecei a me entrosar melhor<br />

com os computadores, porque eu não tinha conhecimento de como trabalhar, do que fazer<br />

com eles, então esse ano é que comecei a trabalhar o Paint com eles.<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu para o uso desse material?<br />

Como assim oficiais?(riso tímido) O que me passaram foi: quando chegaram os<br />

computadores, o assistente(vice –diretor) que na época era o Eugênio , ele perguntou para<br />

mim e para a professora da classe de D.M., onde seria mais viável colocar.Será melhor<br />

colocar na biblioteca?Ele até sugeriu, seria melhor por causa da segurança e que nós<br />

poderíamos utilizar o computador no horário que precisássemos não necessariamente<br />

determinados, eu é que determinei o horário para organizar melhor o trabalho, para não<br />

ficar só todo dia indo para o computador, mas para orientar mesmo. Ele falou que só os<br />

deficientes iriam usar os computadores. E que os dois computadores (um destinado para a<br />

classe de D.A. e outro de D.M.) iriam ficar juntos para a gente usar com o grupo de alunos.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino?<br />

Como assim atividades? Eu trabalho muitas estórias com eles, tanto estórias em vídeo,<br />

como estória contada, eu peço à eles que contem a estória , para assim trabalhar seqüência ,<br />

tudo em língua de sinais. O vídeo que é passado também, primeiro eu passo tudo para eles<br />

terem uma noção do todo, depois vou passando em partes e traduzindo tudo em língua de<br />

sinais para eles. Depois fazemos atividades de interpretação da estória, o que eles<br />

entenderam, desenho das estórias. No computador, fazemos desenhos ou das estórias ou de<br />

outras áreas que estão sendo trabalhadas, na última vez que fomos ao computador, estava<br />

trabalhando ciências, animais e alguns alunos desenharam coelho, cavalo, assim, mas como<br />

eles não tem muito controle no mouse, saiu assim... meio, mas saiu. Bem a gente trabalha<br />

117


assim é desenho, leitura e escrita, interpretação de texto, separação de sílabas, as atividades<br />

normais de ouvintes...(risos nervosos).<br />

Como você se comunica com seus alunos?<br />

Com alguns eu uso mais a fala, que é o caso da Jucilene, que tem um resíduo auditivo<br />

muito bom, a Rafaela e o Rafael, agora os outros, eles não têm resíduo auditivo, então é<br />

mais a língua de sinais.<br />

Quais os programas de computador que você conhece ou pelo menos já ouviu falar?<br />

Eu já ouvi falar...guardar nome é cruel comigo. Sei que tem um lá que “bate texto”, é<br />

“uods” “ouds”, sei lá um negócio assim. Esse do Paint, que é o que mais gosto o que mais<br />

me dou, tem o logo, o megalogo que é de tartaruguinhas, mas o que mais uso mesmo é o<br />

Paint.<br />

A classe especial tem acesso à Internet?<br />

Ainda não teve, mas na minha sala já instalaram a linha telefônica para colocar acesso à<br />

Internet. Está tudo programado para isso.<br />

Como você imagina que o uso das TIC’s podem influenciar ou não sua prática de ensino?<br />

Nossa e como influencia! Acho que facilita tudo, que nem vídeo, o próprio computador,<br />

depois que a gente começar a entrar na Internet, eu acho que facilita bastante.<br />

Quais as dificuldades que você prevê no uso da informática como ferramenta educacional?<br />

Dificuldades? Acho assim...a dificuldade que a gente encontra para ensinar à eles(surdos) é<br />

que vem tudo em Português então a gente tem que traduzir tudo para a língua de sinais.<br />

Alguns conseguem ler e reconhecer algumas palavras em Português, mas a estrutura do<br />

Português é diferente da estrutura da língua de sinais, às vezes eles até sabem o que está<br />

escrito, mas não entenderam a mensagem. Então acho que é isso que dificulta um pouco,<br />

não sei se era isso que você queria saber.<br />

O que você acha que seus alunos sentirão quando estiverem dominando as tecnologias da<br />

informação e da comunicação?<br />

Acho que sentirão muito competentes por poderem estar se comunicando com outras<br />

pessoas de longe, através do computador, através do próprio telefone aí, que você me deu<br />

uma grande idéia de trabalhar qualquer aula ali. Acho que eles sentirão muito realizados.<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador na sala de aula? O que<br />

cabe ao professor fazer? O que cabe a escola fazer?<br />

118


Ao professor cabe ensinar os alunos utilizar de maneira correta, mostrando a utilidade e a<br />

importância desse computador aqui dentro. A escola eles já estão tomando todas as<br />

providências de segurança, o Eugênio chegou até a colocar antivírus no computador.<br />

Acho que não podem mexer todos ao mesmo tempo, todos devem ter seu horário, todos<br />

observando, ligar primeiro o estabilizador, ter toda a seqüência, não desligar o computador<br />

a qualquer hora. Tem toda uma regra que deve ser seguida para ter o computador<br />

funcionando bem e para ser usado da melhor maneira possível em todos os componentes<br />

curriculares, isso é muito importante, dá para ser usado em todos.<br />

Existe algo que não lhe foi perguntado e você gostaria de acrescentar a essa entrevista?<br />

Eu gostaria de pedir mais cursos, que eles dessem mais cursos para a gente poder usar mais<br />

o computador. Eu comecei a me interessar mais pelo computador esse ano, porque o ano<br />

passado o Estado ofereceu curso “Sim City” e o “Cabri Brincando”, foi a í que eu perdi o<br />

medo de mexer, porque eu tinha medo de ligar. Eu queria mais para a idade deles, se bem<br />

que a gente pode adaptar também. O básico eu comecei lá , o Paint.<br />

.<br />

119


____________________________________________ Anexo 2<br />

Modelo de relatório usado como documentos de análise<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-FEUSP<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTA INDIVIDUAL<br />

Essa entrevista tem por objetivo investigar o uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação nas classes especiais para deficientes auditivos da Diretoria de Ensino Região<br />

Sul-3, e foi um dos procedimentos adotados pela Profª Maria Claudia Alves de Santana<br />

Regis, aluna do curso de mestrado área temática Educação Especial da FEUSP. Essa<br />

pesquisa visa analisar as contribuições que as Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

(TIC’s) podem oferecer a educação dos surdos, investigando a prática educativa do<br />

professor de classe especial, portanto gostaria de contar com sua colaboração, respondendo<br />

a entrevista de acordo com o roteiro abaixo e também solicito autorização para gravação em<br />

vídeo. Desejo lembrar que não existem respostas certas ou erradas e o que importa é sua<br />

opinião sincera. Agradeço e saliento que sua participação é fundamental para a realização<br />

desse trabalho.<br />

E.E. ___ X________________________________________________________<br />

Endereço: _______________________________________ Fone:____________<br />

Classe Especial D.A. C Turno tarde nº de alunos:07<br />

Professora: SU<br />

Formação: Pedagogia com habilitação em EDAC- PUC/SP<br />

E-mail: tinha endereço eletrônico<br />

Qual é o seu nome? M. S.<br />

Qual é a escola que você leciona?Escola Estadual X<br />

Qual é a sua idade? 41 (risos)<br />

Qual é a sua formação? Professor de Educação Especial com habilitação em Educação para<br />

Deficientes Auditivos. Pedagogia/PUC-SP.<br />

Há quanto tempo você leciona em classe especial? Faz 15 anos<br />

Quais os recursos materiais que você utiliza para ensinar surdos? Materiais? Todos os<br />

recursos materiais que eu posso mostrar uma imagem para eles. Todos os recursos visuais<br />

120


possíveis. Televisão, vídeo, computador e... Cartazes, desenhos... Os materiais concretos...<br />

e o uso da língua de sinais que já não é mais um recurso, é uma língua.<br />

Existe computador na sua classe especial? Existe.<br />

Tem acesso a Internet?Tem.<br />

Quais os programas de computador que você conhece ou pelo menos já ouviu falar? Word,<br />

Paint, Windows, Photo Shop, Corow Drew… Vários! (O Corel Draw é um programa gráfico<br />

que gera desenhos vetoriais)<br />

Quais as orientações oficiais que você recebeu para o uso desses materiais? É... Houve um<br />

curso básico de informática. Professor Sérgio que fazia parte da Educação Continuada...<br />

Para os professores da rede pública! Mas foi assim um curso bem básico né...! Como<br />

utilizar os Word... Como utilizar o Excel... é... Digitação... Mas a duração do curso foi<br />

muito rápida. Durou, acho que, uma semana e meia. Aproximadamente 10 dias.<br />

Quais as atividades que você mais utiliza na sua prática de ensino? Hum... Na prática no<br />

computador...! Na prática de ensino...! Quais as atividades...! Que eu mais utilizo... Eu<br />

utilizo muita dramatização... é... Atividades de utilizar imagens. Atividades que os alunos<br />

consigam entender um conteúdo. Eu utilizo textos, bastantes textos relacionados a temas<br />

atuais como, por exemplo, drogas, copa do mundo, um texto da atualidade... Eu trabalho o<br />

significado do texto, a contextualização, a argumentação... São as atividades que eu mais<br />

trabalho.<br />

Como você se comunica com os alunos? Eu me comunico oralmente, através da língua de<br />

sinais e através de dramatização, e gestos espontâneos quando eu não sei o sinal da palavra.<br />

Como você imagina que o uso das tecnologias, da informação e da comunicação pode<br />

influenciar ou não em sua pratica de ensino? Está se referindo a informática?<br />

Isso!<br />

S – Como eu imagino...? Eu imagino que utilizando o computador em alguns programas vai<br />

poder beneficiar o aluno a trabalhar com a concentração, memória, questões também<br />

referentes à pesquisa que o aluno também tem que ter postura de pesquisa, que é muito<br />

difícil ensinar ao aluno a conduta de pesquisar. É... Eu acho que beneficia em todos os<br />

aspectos.<br />

Quais as principais dificuldades que você prevê no uso da informática como ferramenta<br />

pedagógica? Principal dificuldade com relação a surdez é a questão da abstração das<br />

121


palavras, é a questão de ter um texto muito grande tem que estar sempre interpretando.<br />

Outra dificuldade é só ter um computador, a questão do tempo, porque nós temos que<br />

trabalhar com um computador a informática ligada a um só tema em que a gente está<br />

trabalhando, mas ao mesmo tempo um computador para sete alunos, às vezes, fica<br />

invariável.<br />

O que você acha que os alunos sentirão quando estiverem dominando as técnicas da<br />

informática?Se sentirão realizados! Porque todos eles querem conhecer. Cada dia eles<br />

querem conhecer alguma coisa do computador.<br />

O que você acha importante para garantir o bom uso do computador em sala de aula? O que<br />

cabe ao professor e o que cabe a escola?<br />

O que cabe ao professor é quem tem uma sistemática para a utilização do computador...<br />

Estar sempre mediando para o aluno compreender a utilização do computador<br />

Existe algo que não lhe foi perguntado e que você gostaria de declarar? Não...<br />

122


Resolução SE - 61, de 5-4-2002.<br />

Dispõe sobre ações referentes ao Programa de Inclusão<br />

Escolar<br />

A Secretária da Educação, com fundamento nas disposições<br />

do artigo 58 da Lei nº 9.394, de 20.12.1996, na Deliberação<br />

CEE 05/2000 e na Resolução SE nº 95/2000 e considerando<br />

que:<br />

a política de ação governamental prevê um Programa de<br />

Atendimento aos alunos da rede pública, com necessidades<br />

educacionais especiais, preferencialmente em classes<br />

regulares de ensino;<br />

as escolas devem reconhecer e responder às necessidades<br />

educacionais especiais de alunos, por meio de currículo<br />

adaptado, profissionais capacitados, estratégias de ensino, uso<br />

de recursos e materiais didáticos específicos;<br />

a formação continuada é necessária tanto aos professores<br />

especializados, bem como aos professores do ensino regular<br />

para garantir um percurso escolar de sucesso aos alunos com<br />

necessidades especiais;<br />

pelo princípio da inclusão escolar e pela legislação vigente há<br />

necessidade de estender, para as demais necessidades<br />

educacionais especiais, o serviço do Centro de Apoio<br />

Pedagógico para Atendimento ao Deficiente Visual -<br />

CAPDV; Resolve:<br />

Artigo 1º - As ações de gerenciamento e definição de<br />

diretrizes que atendam à demanda de alunos da rede pública<br />

estadual com necessidades educacionais especiais passam a<br />

integrar o Centro de Apoio Pedagógico para o Deficiente<br />

Visual, ampliando-o e alterando sua denominação para Centro<br />

de Apoio Pedagógico Especializado.<br />

123


Parágrafo único: Entende-se por apoio pedagógico<br />

especializado, para os fins desta resolução, o conjunto de<br />

serviços e recursos necessários ao processo de escolarização<br />

de alunos portadores de necessidades especiais decorrentes de<br />

deficiências sensoriais, físicas ou mentais; outras síndromes<br />

ou patologias; ausência de alunos à escola, por período<br />

prolongado, por necessidade de hospitalização; transtornos no<br />

processo ensino aprendizagem por superdotação, altas<br />

habilidades e/ou competências.<br />

Artigo 2º - O Centro a que se refere o artigo 1º desta<br />

resolução tem por objetivo:<br />

I - gerenciar e operacionalizar as demandas da Educação<br />

Especial da Secretaria de Estado da Educação acrescentandose<br />

a elas ação integrada com as Diretorias de Ensino sobre<br />

pertinência, acompanhamento e avaliação pedagógica dos<br />

convênios estabelecidos com Instituições educacionais<br />

especializadas por meio de classes descentralizadas;<br />

II - definir diretrizes e efetivar as ações de educação<br />

continuada aos profissionais da rede estadual de ensino no<br />

que diz respeito às demandas didático-pedagógicas dos alunos<br />

com necessidades educacionais especiais;<br />

III - subsidiar, apoiar e contribuir de forma efetiva e<br />

abrangente a rede estadual de ensino nas adequações<br />

ambientais, curriculares, metodológicas, mudanças de atitudes<br />

e perspectivas, para assegurar a educação básica aos alunos<br />

que apresentem necessidades educacionais especiais;<br />

IV - oferecer apoio pedagógico especializado por meio de<br />

equipe multidisciplinar itinerante que deverá atuar em ação<br />

compartilhada com as Diretorias de Ensino;<br />

V- pesquisar, selecionar, adaptar e produzir materiais<br />

didáticos específicos relativos às necessidades especiais<br />

124


demandadas, promovendo sua divulgação e distribuição na<br />

rede estadual de ensino.<br />

Artigo 3º - O Centro de Apoio Pedagógico Especializado<br />

atuará de forma sistemática, em ação conjunta com os órgãos<br />

desta Secretaria, mantendo trabalho articulado com órgãos de<br />

outras Secretarias de Estado, especialmente as da Saúde,<br />

Emprego e Relações do Trabalho, Desenvolvimento e<br />

Assistência Social e o Fundo Social de Solidariedade.<br />

Artigo 4º - Os integrantes do Centro de Apoio Pedagógico<br />

Especializado serão designados por ato específico.<br />

Artigo 5º - Esta resolução entrará em vigor na data de sua<br />

publicação, revogando-se as disposições em contrário.<br />

125


RESOLUÇÃO SE Nº 95, DE 21 DE NOVEMBRO DE<br />

2000<br />

Dispõe sobre o atendimento de alunos com necessidades<br />

educacionais especiais nas escolas da rede estadual de ensino<br />

e dá providências correlatas<br />

A Secretária da Educação, no uso de suas atribuições e com<br />

fundamento no disposto nas Constituições Federal e Estadual,<br />

na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no<br />

Estatuto da Criança e do Adolescente e na Indicação nº<br />

12/1999 e Deliberação nº 5/2000 do Conselho Estadual de<br />

Educação, e considerando que:<br />

- a educação especial para atendimento escolar de educandos<br />

portadores de necessidades especiais deve ser realizada,<br />

preferencialmente, na rede regular de ensino, em classes<br />

comuns com apoio de serviços especializados organizados na<br />

própria escola ou em centros de apoio regionais;<br />

- a integração, permanência, progressão e sucesso escolar de<br />

alunos portadores de necessidades especiais em classes<br />

comuns do ensino regular representam a alternativa mais<br />

eficaz no processo de atendimento desse alunado;<br />

- em função das condições específicas dos alunos, sempre que<br />

não for possível sua integração em classes comuns da rede<br />

escolar, a classe especial deve ser mantida na rede regular ou,<br />

ainda, quando necessário, deverá ser oferecido atendimento<br />

por meio de parcerias com instituições privadas<br />

especializadas sem fins lucrativos;<br />

126


- a rede estadual já possui formas diversificadas para<br />

atendimento dos alunos portadores de necessidades especiais<br />

e que os paradigmas atuais da inclusão escolar desses alunos<br />

vêm exigindo a reorganização da educação especial visando a<br />

ampliação dos serviços de apoio especializado e a renovação<br />

dos projetos pedagógicos e metodologia de trabalho das<br />

classes especiais, resolve:<br />

Artigo 1º - São considerados alunos com necessidades<br />

educacionais especiais aqueles que apresentam significativas<br />

diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais decorrentes de<br />

fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente ou<br />

temporário, que resultem em dificuldades ou impedimentos<br />

no desenvolvimento do seu processo ensino-aprendizagem.<br />

Artigo 2º - Os alunos portadores de necessidades especiais,<br />

ingressantes na 1ª série do ensino fundamental ou que venham<br />

transferidos para qualquer série ou etapa do ensino<br />

fundamental e médio, serão matriculados, preferencialmente,<br />

em classes comuns do ensino regular, excetuando-se os casos,<br />

cuja situação específica, não permita sua integração direta em<br />

classes comuns.<br />

§ 1º - O encaminhamento dos alunos portadores de<br />

necessidades especiais para serviços de apoio pedagógico<br />

especializado em salas de recursos ou em classes especiais<br />

far-se-á somente após avaliação pedagógica realizada em<br />

conformidade com o disposto na presente resolução.<br />

§ 2º - Aplica-se aos alunos da modalidade de educação<br />

especial, as mesmas regras previstas no regimento da escola<br />

para fins de classificação em qualquer série ou etapa,<br />

127


independente de escolarização anterior, mediante avaliação<br />

feita pela escola.<br />

Artigo 3º - O atendimento escolar a ser oferecido ao aluno<br />

com necessidades educacionais especiais, deverá ser<br />

orientado por avaliação pedagógica realizada pela equipe da<br />

escola podendo, ainda, contar com o apoio de profissionais da<br />

área da saúde quanto aos aspectos físicos, motores, visuais,<br />

auditivos e psico-sociais.<br />

Artigo 4º - Caberá aos Conselhos de Classe/Ciclo/Série, ao<br />

final de cada ano letivo, aprovar relatório circunstanciado de<br />

avaliação, elaborado por professor da área, contendo parecer<br />

conclusivo, acompanhado de fichas de observação, periódica<br />

e contínua, sobre a situação escolar dos alunos atendidos pelas<br />

diferentes modalidades de educação especial.<br />

Parágrafo único - Em conformidade com o parecer emitido<br />

pelo Conselho de Classe/Ciclo/Série, o aluno poderá ser<br />

encaminhado para classe comum, com atendimento de apoio<br />

em sala de recursos ou permanecer na classe especial.<br />

Artigo 5º - Os alunos que apresentarem deficiências com<br />

severo grau de comprometimento, cujas necessidades de<br />

recursos e apoios extrapolem, comprovadamente, as<br />

disponibilidades da escola, deverão ser encaminhados às<br />

respectivas instituições especializadas conveniadas com a SE.<br />

Artigo 6º - Para os alunos portadores de necessidades<br />

especiais, que não puderem atingir os parâmetros exigidos<br />

para a conclusão do ensino fundamental, as escolas poderão,<br />

com fundamento no inciso II do artigo 59 da Lei 9.394/96,<br />

128


expedir declarações com terminalidade específica de<br />

determinada série.<br />

§ 1º - A terminalidade prevista no caput deste artigo somente<br />

poderá ocorrer em casos plenamente justificados mediante<br />

relatório de avaliação pedagógica, balizada por profissionais<br />

da área da saúde, com parecer aprovado pelo Conselho de<br />

Escola e visado pelo Supervisor de Ensino.<br />

§ 2º - A escola deverá se articular com os órgãos oficiais ou<br />

com as instituições que mantenham parcerias com o Poder<br />

Público, a fim de fornecer orientação às famílias no<br />

encaminhamento dos alunos a programas especiais, voltados<br />

para o trabalho, para sua efetiva integração na sociedade.<br />

Artigo 7º - Consideradas as especificidades regionais e locais,<br />

com o objetivo de viabilizar gradativamente o disposto na<br />

presente resolução, serão organizados Serviços de Apoio<br />

Pedagógico Especializado (SAPEs), no âmbito da Unidade<br />

Escolar, por solicitação desta, com anuência da Diretoria de<br />

Ensino e da respectiva Coordenadoria de Ensino.<br />

Artigo 8º - A implementação de Serviços de Apoio<br />

Pedagógico Especializado (SAPEs) tem por objetivo melhorar<br />

a qualidade na oferta da educação especial da rede estadual,<br />

mediante uma reorganização que favoreça a adoção de novas<br />

metodologias nas classes especiais bem como a inclusão<br />

gradativa do alunado em classes comuns do ensino regular.<br />

Parágrafo único - Os Serviços de Apoio Pedagógico<br />

Especializado (SAPEs) serão implementados através de:<br />

129


I - turmas com caráter suplementar, para atividades<br />

especializadas, desenvolvidas em sala de recursos específicos,<br />

com atendimento por professor especializado, em horários<br />

programados de acordo com as necessidades dos alunos, e,<br />

em período diverso daquele em que freqüentarem as classes<br />

comuns da própria escola ou de unidade diversa;<br />

II - turmas em classes especiais para alunos que, em virtude<br />

de condições específicas, não puderem ser integrados às<br />

classes comuns do ensino regular.<br />

Artigo 9º - Na organização dos Serviços de Apoio Pedagógico<br />

Especializado (SAPEs) nas Unidades Escolares, observar-se-á<br />

que:<br />

I - o funcionamento diário da sala de recursos será de, no<br />

mínimo, um turno de 5 horas diárias, para atendimentos<br />

individuais ou de pequenos grupos com turmas entre 10 e 15<br />

alunos, de modo a atender alunos de 2 ou mais turnos;<br />

II - o apoio suplementar oferecido aos alunos em sala de<br />

recursos terá como parâmetro o desenvolvimento de<br />

atividades que não deverão ultrapassar a 2 horas diárias e a 10<br />

horas semanais para cada aluno;<br />

III - o funcionamento de classe especial será de 5 horas<br />

diárias para atendimento de, no mínimo, 10 e, no máximo, 15<br />

alunos de uma mesma área de deficiência.<br />

Artigo 10 - A organização dos SAPEs na unidade escolar, sob<br />

a forma de sala de recursos ou de classe especial, somente<br />

poderá ocorrer quando houver:<br />

I - comprovação de demanda avaliada pedagogicamente;<br />

130


II - professor habilitado na área;<br />

III - espaço físico adequado, não segregado;<br />

IV - recursos e materiais didáticos específicos.<br />

Parágrafo único - As turmas a serem atendidas pelas salas de<br />

recursos poderão ser instaladas para atendimento de alunos de<br />

qualquer série ou etapa do ensino fundamental ou médio e as<br />

classes especiais somente poderão ser criadas para<br />

atendimento de alunos cujo grau de desenvolvimento seja<br />

equivalente ao previsto para o Ciclo I.<br />

Artigo 11 - Os docentes habilitados para atuarem nos SAPEs<br />

serão classificados na seguinte conformidade:<br />

Faixa I - portador de Licenciatura Plena em Pedagogia com<br />

habilitação na respectiva área da Educação Especial;<br />

Faixa II - portador de Licenciatura Plena em Pedagogia com<br />

cursos de especialização, com, no mínimo, 120 horas na área<br />

de Educação Especial;<br />

Faixa III - portador de outras licenciaturas com pós graduação<br />

- strictu sensu - na área de Educação Especial;<br />

Faixa IV - portador de diploma de Ensino Médio, com<br />

habilitação para o magistério e curso de especialização na<br />

área de Educação Especial.<br />

Artigo 12 - Caberá ao professor de Educação Especial, além<br />

das funções docentes:<br />

I - participar da elaboração da proposta pedagógica da escola;<br />

131


II - elaborar plano de trabalho que contemple as<br />

especificidades da demanda existente na unidade e/ou na<br />

região, atendidas as novas diretrizes de Educação Especial a<br />

serem objeto de oportuna divulgação;<br />

III - integrar os conselhos de classes/ciclos/séries e participar<br />

das HTPCs e/ou outras atividades coletivas programadas pela<br />

escola;<br />

IV - orientar a equipe escolar quanto aos procedimentos e<br />

estratégias de inclusão dos alunos nas classes comuns;<br />

V - oferecer apoio técnico pedagógico aos professores das<br />

classes comuns;<br />

VI - fornecer orientações e prestar atendimento aos<br />

responsáveis pelos alunos bem como à comunidade.<br />

Artigo 13 - As unidades escolares que não comportarem a<br />

existência dos SAPEs, poderão contar com o atendimento<br />

itinerante a ser realizado por professores especializados<br />

responsáveis pelas salas de recursos alocados em SAPEs da<br />

região.<br />

Artigo 14 - Caberá às Diretorias de Ensino:<br />

I - proceder ao levantamento da demanda das classes<br />

especiais e salas de recursos, objetivando a otimização e<br />

racionalização do atendimento mediante o encaminhamento<br />

de alunos para outra escola ou remanejamento de recursos e<br />

equipamentos para salas de unidades escolares sob sua<br />

jurisdição;<br />

132


II - propor a criação de serviços de apoio pedagógico<br />

especializado à respectiva Coordenadoria de Ensino;<br />

III - orientar e manter as escolas informadas sobre os serviços<br />

ou instituições especializadas existentes na região, mantendo<br />

contatos com as mesmas, de forma a agilizar o atendimento<br />

de alunos.<br />

Artigo 15 - As situações não previstas na presente resolução<br />

serão analisadas e resolvidas por Grupo Especial de Trabalho,<br />

a ser instituído junto ao Gabinete desta Pasta, e encaminhadas<br />

aos órgãos centrais para as providências que se fizerem<br />

necessárias.<br />

Artigo 16 - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua<br />

publicação, ficando revogadas as disposições em contrário,<br />

em especial, a Resolução SE nº 247/86.<br />

133


____________________________________________Quadro de Abreviaturas e Siglas<br />

Abreviatura/ Siglas Significado<br />

CAPE<br />

Centro de Apoio Pedagógico<br />

CEI<br />

Coordenadoria de Ensino do Interior<br />

CENP<br />

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas<br />

COGSP<br />

Coordenadoria da Grande São Paulo<br />

D.A.<br />

Deficiente Auditivo<br />

D.M.<br />

Deficiente Mental<br />

D.E.R. Sul 3 Diretoria de Ensino Região Sul 3<br />

GDAE<br />

Gestão Dinâmica da Administração Escolar<br />

G.I.P.<br />

Gerência de Informática Pedagógica<br />

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais<br />

PUC/SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo<br />

EDAC<br />

Educação de Deficientes da Áudio Comunicação<br />

NRTE Sul 3 Núcleo Regional de Tecnologia Educacional Sul 3<br />

S.E.E./SP Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo<br />

TIC’s<br />

Tecnologias da Informação e Comunicação<br />

134


135

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