Tempo e Eternidade em Santo Agostinho Time and ... - Mirabilia
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COSTA, Ricardo da (coord.). <strong>Mirabilia</strong> 11<strong>T<strong>em</strong>po</strong> e <strong>Eternidade</strong> na Idade MédiaTi<strong>em</strong>po y Eternidad en la Edad Media – <strong>Time</strong> <strong>and</strong> Eternity in the Middle AgesJun-Dez 2010/ISSN 1676-5818Portanto, como revela a perícope supra, o princípio b<strong>em</strong> como as palavrasproferidas no ato criacional, não são criaturas produzidas por Deus paraservir<strong>em</strong> de instrumentos para ser<strong>em</strong> usados na criação do mundo, mas é opróprio Verbo de Deus.Nosso Pensador está interpret<strong>and</strong>o Gn 1.1 à luz de Jo 1.1-3 do NovoTestamento. Logo, o princípio e as palavras do decreto criador sãoidentificados com o Verbo do Evangelho de João. Isto é, o Verbo, o Logosou Razão é o princípio da criação, e já que o Verbo de Deus é a figura divinado Filho, e que o Filho constitui uma única natureza com o Pai, o princípio éo próprio Deus. Como esclarece Werner Beierwaltes ao comentar este trechodas Confissões:Em termos teológicos a palavra é o Filho, a sabedoria, enquanto do ponto devista filosófico é a razão eterna, a eternidade int<strong>em</strong>poral, a verdade <strong>em</strong> si [...].Criar ‘no princípio’ significa, portanto, aquele que cria de modo absoluto,conseqüent<strong>em</strong>ente de modo at<strong>em</strong>poral <strong>em</strong> virtude de sua espontaneidade [...](BEIERWALTES, 1995, p. 127, 128).Entend<strong>em</strong>os que o Verbo divino é o princípio <strong>em</strong> dois aspectos.Primeiramente <strong>em</strong> virtude do fato de que o Verbo compõe a mesmadivindade com Deus (o Pai), Deus é o princípio absoluto de todas as coisascomo já comentamos. Em segundo lugar o Verbo é o princípio, na medida <strong>em</strong>que possui os arquétipos eternos de todos os seres ônticos. Neste aspecto,<strong>Agostinho</strong> evidencia sua herança neoplatônica, visto que o Verbo <strong>em</strong> suacosmogênese ass<strong>em</strong>elha-se a segunda hipóstase plotiniana, o Nous. Pois, oNous t<strong>em</strong> <strong>em</strong> si a multiplicidade dos arquétipos de todos os seres, que serãoutilizados pela terceira hipóstase (Psyché) para dar forma ao mundo sensível.Resguard<strong>and</strong>o nas devidas proporções, a realidade das formas inteligíveis dePlatão equivale-se ao papel do Nous plotiniano e do Verbo <strong>em</strong> <strong>Santo</strong><strong>Agostinho</strong>. 7Segundo o Hiponense, Deus com o atributo da onipotência criou o mundonão de uma matéria preexistente, n<strong>em</strong> tampouco por <strong>em</strong>anação, mas do nada.A criação do nada, no latim: creatio ex nihilo, não deve ser entendida como se onada fosse a causa material e Deus a causa eficiente do cosmos. Quer dizer,como se Deus tivesse utilizado o nada como matéria prima para seu atocriador. Mas, dev<strong>em</strong>os entender nihilo simplesmente como coisa nenhuma,7Nas Conf. VII, 10, 16, e 21, 27, <strong>Agostinho</strong> identificava o Verbo com o Nous exposto notexto dos platônicos, que possivelmente eram as Enéadas. Isso não quer dizer que não eraconsciente das profundas diferenças que separavam o Verbo do Nous (Cf. Ibid., VII, 21,27). <strong>Agostinho</strong> não estava apenas sendo um intérprete de Plotino, mas cristianizava asidéias que lhe pareciam profícuas (Cf. JOLIVET, 1932, p. 93-95).142