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A Crise Ambiental e a Mídia - NIMA - PUC-Rio

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DedicatóriaÀ minha mãe, Tiza Lobo, por tudo o que fez e fazpelos seus filhos em cada momento de felicidade e alegria. Eles são muitos, e guardo comespecial alegria segundo por segundo.Aos meus maravilhosos irmãos Marcelo Lobo, MarinaLobo Gibson e Alex Gibson, que me ajudam a rir e seguir em frente todos os dias. Desdesempre, suas companhias são absolutamente insuperáveis.À linda Alice, que me ensina a ser uma pessoa melhortodos os dias desde que a conheci. Minha vida, sem dúvida, é muito melhor quando estou aseu lado.confiança.A todos os meus amigos, pontos de estabilidade e2


Introdução“Eu sou feito de água, eu sou feito de terra, eu sou feito de ar. Eu tenho a mesma proporçãode água do planeta, eu verto lágrimas com o sabor dos oceanos, eu trago nas veias osminérios que jazem nas profundezas do solo. Eu sou água, eu sou terra, eu sou ar. Se a águaestá poluída, se o ar está contaminado e se a terra é infértil, eu pereço” 1 .André TrigueiroA disposição para falar sobre a crise ambiental pode e deve ser maior do que aatenção dispensada ao tema que percebemos hoje, em todos os parâmetros que se podeanalisar. Muito embora a consciência sobre o meio ambiente e seus fundamentos práticos eindispensáveis (em primeira instância porque somos parte integrante dele) tenha adquiridoproporções mais diretas no cotidiano de nossa sociedade, ainda percebem-se barreiras porora intransponíveis na inserção de informações precisas e embasadas para a população.Uma observação criteriosa e objetiva sobre este fato aponta para diversas direções, queserão, em princípio, tratadas pontualmente nesta monografia.Para iniciar a análise sobre esta época em que a bandeira da preservação ambiental éparte fundamental das cartilhas de bom comportamento de empresas e tema constante nasdiscussões em Universidades e palestras ao redor do mundo, cabe voltar um pouco notempo e percorrer as linhas de evolução da constatação do cenário preocupante deste iníciode século. Em consideração a esta afirmação, torna-se importante que se abra um breveparêntese para lembrar que a crise ambiental de hoje é reflexo de inúmeros anos de práticas(antrópicas, em muitos casos) insustentáveis, conseqüência da incessante busca por lucros ecapital.1 Trecho retirado da entrevista realizada no dia 21 de Novembro, na <strong>PUC</strong>.3


Esta introdução não pretende adiantar temas que, certamente, virão no decorrerdeste ensaio; ainda assim, é necessário citar algum exemplo para que a afirmação nãopareça infundada. Algo relevante, e que tende a embasar o que aqui se tornou explícito, sãoos níveis da concentração de gás carbono na atmosfera. Antes da revolução industrial, estesníveis estavam inteiramente dentro dos padrões considerados naturais e necessários para amanutenção da vida no planeta – como se notará mais à frente -; após a revolução,fenômeno totalmente norteado pelas atitudes dos homens, estas taxas já ultrapassaram em60% sua observação e capacidade natural.Muito embora antes deste período houvesse inúmeras causas para uma maioremissão de gases estufa, como ensejos naturais, por exemplo, tudo era restituído com opassar dos anos; o planeta possui a capacidade de resiliência, ou seja, a possibilidade dereestruturar um sistema após algum entrave natural. Isto significa que, naturalmente, novasárvores cresciam no lugar daquelas que haviam sofrido os efeitos do ensejo e, emconseqüência, seqüestravam o carbono em excesso anteriormente emitido. Com a ação dohomem, no entanto, a taxa deste gás lançada na atmosfera está muito além daquela que aresiliência e o planeta poderiam suportar. A conseqüência é uma das piores que poderiahaver: superaquecimento global.O cenário torna-se, portanto, é evidente. Impasse ambiental, discrepâncias nadistribuição de renda, necessidade de refazer as contas econômicas. O primeiro e principalproblema nesta discussão é a percepção direta de que, ainda hoje, as esferas econômicas,sociais e ambientais permanecem trabalhadas separadamente; a visão holística não éexercida e apenas medidas paliativas são propostas e efetivamente realizadas. A análise dotema, no entanto, assume proporções intangíveis; neste sentido, a necessidade de tratá-lo4


com desenvoltura é expressa pelas mais variadas manifestações de calamidades ecológicasque são observadas cada vez com maior freqüência.O tema proposto e que será exaustivamente analisado será algo contemporâneo,ainda que em conseqüência de muitos anos – e séculos – de má utilização das reservasnaturais do planeta e de poucos cuidados com as conseqüências ecológicas: a criseambiental que atinge a todos os povos, e o papel da mídia para sua solução/ informação dapopulação nos mais simples dos atos de rotina. A partir daí, será possível estabelecercomparações nítidas entre todo o impasse ambiental e o embasamento com o qual a mídiatrata do tema, além dos espaços destinados nos grandes meios de comunicação e a visãointegrada com assuntos econômicos, sociais e políticos decorrentes das informaçõesexpostas.O papel da população é de fundamental importância para a elaboração de umaconsciência crítica acerca do meio ambiente, uma vez que a percepção de manejosinsustentáveis em seu cotidiano pode levar a soluções possíveis e de fácil acesso,fornecendo matérias-primas benéficas para o combate ao descaso ambiental. Para alémdestas atribuições práticas, é importante ressaltar a influência que notícias divulgadas emgrandes meios de comunicação exercem sobre a vida social de grande parcela dapopulação, o que contribui para a análise específica sobre o acúmulo de informaçãoambiental integrada aos mais diversos assuntos veiculada pela mídia.Torna-se necessário, portanto, abalizar o discurso ambiental a partir de umapesquisa clara e objetiva acerca do impasse vigente, através da análise crítica dos danosdecorrentes de práticas insustentáveis determinados após ampla observação dos entravesatuais. Neste primeiro momento da tese, o objetivo será o de passar para o papel todas asinformações obtidas a respeito dos principais problemas decorrentes da insustentabilidade e5


que, potencialmente, podem causar sérios danos para a existência da vida humana na Terra.Não se trata, aqui, de divulgar uma visão pessimista; trata-se, na verdade, da tentativa deretratar uma realidade ainda bastante encoberta, mas com possibilidades de soluções emmédio e longo prazo.Após este importante tópico, serão analisados o segundo e o terceiro de um ciclonecessário que envolve estas diferentes áreas: a análise científica, o papel da mídia e algunsexemplos, e a disponibilidade de informações ambientais sobre três assuntos em dois dosprincipais jornais impressos do país: O Globo e a Folha de S. Paulo. Neste momento, oprincipal objetivo a ser traçado pela tese será perceber a evolução dos espaços usados pelamídia para o tema, o embasamento com o qual ele é tratado e a importância de aumentar ounão a atenção para o impasse ambiental. Em certo sentido, além de descobrir espaçosalternativos de divulgação – ou pelo menos mais específicos -, como jornais de preservaçãoambiental de baixo orçamento, revistas especializadas e outros, há também a preocupaçãode perceber se há, na grande Mídia, a percepção sobre a dissociação dos três pilaresanteriormente citados: economia, social e meio ambiente.Um espaço seguinte à análise destes três pólos de discussão será, justamente, ajunção dos resultados obtidos até aqui na monografia, em uma conclusão coerente. Aprincipal importância é poder agrupá-los e estabelecer conclusões sobre motivos econseqüências do impasse ambiental a partir de um trabalho empírico, científico e prático e,portanto, objetivar possíveis soluções e caminhos a serem percorridos em busca de ummundo mais sustentável. A intenção é observar os resultados de forma integrada, e entendero comportamento da mídia perante o quadro de instabilidade do meio ambiente.6


Capítulo 1 – A crise <strong>Ambiental</strong>Uma informação importante, para início de análise, é o fato de que há a necessidadeurgente de se atingir um novo paradigma. De acordo com Lester Brown, fundador doWorldWacht Institute e atual membro do Earth Police, “a alternativa é uma economia solare de hidrogênio, um sistema de transportes urbanos que enfoque sistemas ferroviáriosavançados e que dependa mais da bicicleta e menos do automóvel, e uma economiaabrangente de reutilização e reciclagem”. (Brown: pg 12). Estas são, sem dúvida,características de um novo modelo de sociedade, diferente do modelo socialista e, emgrande extensão, distinto do modelo capitalista vigente, baseado no lucro a todo custo e emgrandes quantidades de concentração de renda nas mãos de muito poucos.Pois não há qualquer sentido em tratar da crise ambiental se os economistas nãodecidirem refazer as contas ou, ao menos, colocar em suas análises todos os danosambientais que as propostas estudadas pelas empresas apresentarão. E são, justamente,estes danos que não são contados, o que nos leva a perceber que eles são absorvidos pelosgovernos. Neste caso, quem paga a conta somos todos nós, a nossa geração, e ainda maisaquelas que seguirão a nossa.É nesta linha de raciocínio que aparece a noção de desenvolvimento sustentável,termo pela primeira vez cunhado em 1987, no Relatório Brundtland. Segundo estedocumento, trata-se do “desenvolvimento que atende às necessidades do presente, semcomprometer a capacidade de as novas gerações atenderem às suas próprias necessidades”.(In. Meio Ambiente no séc. 21. Glossário) Esta definição segue a tendência que, anteriormente,apresentava seus primeiros traços, a partir do momento em que o relatório brasileiro feitopara a <strong>Rio</strong>-92 determinava que o modelo seguido pelo capitalismo era “ecologicamente7


predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”. (In. Meio Ambiente no séc. 21.Glossário).São inúmeros os problemas decorrentes do descaso ambiental representado pormuitos países ao redor do mundo. Um aumento de temperatura constante, assim como aqueda acentuada em tantos lugares; a quase extinta distribuição eficiente das quatroestações do clima no ano (é cada vez mais difícil perceber o verão como era antes, oinverno e assim por diante); o degelo e o conseqüente aumento no nível dos oceanos (o quepode levar ao desaparecimento de cidades costeiras); a queda dos lençóis freáticos; diversosproblemas relacionados aos recursos hídricos, como sua escassez e contaminação; erosãodos solos; acúmulo de resíduos sólidos em áreas sem qualquer estrutura para tratamento deesgotos, além de tantos outros.É muito importante destacar, antes de abordar o assunto com maior credibilidade,que há soluções possíveis e dentro de nossas capacidades para estas questões. O fato é, noentanto, que estas soluções estão concomitantemente relacionadas a mudanças drásticas emnossas formas de vida social e pessoal. Neste sentido, além de qualquer outro, cabe a nósdefinir se aceitamos estas novas conjecturas que certamente surgirão; a bem da verdade,não se trata tanto de uma escolha. Trata-se, possivelmente, da única oportunidade quetenhamos de reduzir os efeitos do impasse ambiental e perpetuar a vida da espécie humana.1.1 - Aquecimento GlobalUm dos maiores equívocos cometidos por quem não possui informação sobre otema é a denúncia da gravidade do efeito estufa. Pois o fato, claro e objetivo, é que ele éfundamental para a existência da vida tal e qual nós a conhecemos, justamente por8


equilibrar as energias que entram e saem da atmosfera terrestre. O principal problema - esobre isto se fala mais abertamente na grande Mídia apenas agora-, é o agravamento desteefeito a partir de uma quantidade de emissões de gases estufa muito maior do que aquelanatural e positiva. Se ainda é impossível afirmar com precisão e absoluta certeza que esteagravamento e o conseqüente aquecimento global são causados por atitudes antrópicasinsustentáveis, torna-se cada vez mais evidente, a partir dos números e estatísticas, que estarelação existe. A primeira Conferência Mundial sobre o Clima, realizada em 1979, jámostrava preocupação com a elevada concentração de dióxido de carbono na atmosfera:“A prolongada dependência da sociedade com relação aos combustíveis fósseiscomo fonte principal de energia no futuro, juntamente com o contínuodesmatamento, provavelmente resultará em maciços aumentos de dióxido decarbono atmosférico nas próximas décadas e séculos”. (Global Warming: pg. 392)Hoje, a metade da contaminação urbana tem sua origem nos automóveis e estes, por suavez, também são responsáveis pela quarta parte dos gases que produzem o efeito estufa 2 . Oaumento das emissões de gases de estufa, segundo o professor da faculdade de Lisboa, emPortugal, Nuno Lacasta, está estimado em 140% no período de 1990 até 2010. O Tratado deKioto estabeleceu algumas metas de redução da concentração de carbono, que serãoapresentadas em um próximo momento. Segundo o professor, a União Européia destinouem 2005 US$410 milhões para que os efeitos das mudanças climáticas sejam combatidos,ainda que este valor continue baixo para a demanda do setor. Os países em2 Idéia retirada do livro Ciudadania Planetária – Temas y desafios del periodismo ambiental – FederaciónInternacional de Periodistas <strong>Ambiental</strong>es.9


desenvolvimento estão crescendo economicamente, e sua demanda por energia e maiorconsumo tende também a aumentar 3 .Em períodos anteriores à revolução industrial era possível perceber, sem qualquerdúvida, emissões de gases estufa para a atmosfera, causadas, por exemplo, por ensejosnaturais florestais. Os sistemas naturais possuem, no entanto, a capacidade de produzir ofenômeno da resiliência que, como explicado, permite a um sistema retornar às condiçõesnormais de equilíbrio e refazer suas características após distúrbios causados por algunsprocessos, como os ensejos. O nascimento de novas árvores após o processo de regeneraçãotornava possível o seqüestro de carbono e, neste sentido, admitia a reutilização dasexcessivas taxas de carbono anteriormente emitidas.O que se viu após o processo de industrialização, a priori, foi o aumentodesordenado das emissões de carbono a partir de formas não naturais (diferente, portanto,do que eram os ensejos), o que não apenas desestabilizou a capacidade de resiliência dossistemas - vide as altas taxas de desmatamento nas florestas, em quantidades tão abusivasque não permitem a reintegração do sistema – como também foi fundamental para oagravamento do aquecimento global. Os números deste entrave ambiental sãoimpressionantes: apenas nos últimos 100 anos, por exemplo, a temperatura da Terra subiu0,6 grau centígrados. Como afirma o jornalista ambiental Washington Novaes em entrevistapara a GloboNews, com esta mesma elevação em nossa temperatura corporal, atingimos oestado febril.Uma das maiores tentativas de apresentar soluções para este grave problema quepode atingir mudanças climáticas sem precedentes, como a desorganização dos fluxos dechuva e descaracterização das estações do ano (verão, outono, inverno e primavera), é o3 Idéia retirada do site www.ambientebrasil.com.br/noticias.10


Tratado de Quioto, Protocolo ratificado em fevereiro de 2005. Segundo este acordo, ospaíses do Anexo I (países desenvolvidos) que ratificaram o documento (os Estados Unidosassinaram, mas não ratificaram) devem diminuir em média 5% de suas emissões de gasesestufa entre os anos de 2008 e 2012, com base no ano de 1990.Os Estados Unidos, responsáveis por 25% destas emissões, exibem um argumentofrágil em sua defesa: dizem que países como Brasil, Índia e China, atualmente entre os 10maiores emissores de gases de estufa do mundo, devem assumir suas responsabilidades dediminuição de cotas; apenas assim aceitariam, em teoria, ratificar o acordo. A explicaçãopara que países em desenvolvimento não façam parte (ao menos obrigatoriamente) destaprimeira fase de compromisso se baseia no fato de que suas industrializações foram tardias,o que contribuiu para uma menor taxa de emissões históricas. Em palavras mais simples, ospaíses desenvolvidos têm maior parcela de responsabilidade no alto índice de concentraçãodos gases estufa na atmosfera.Em nota escrita para o “Verdenovo”, jornal de preservação ambiental desenvolvidopor alunos da <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> e com uma edição lançada em Novembro de 2006, André Trigueirofala do sério trabalho desenvolvido pelo governo alemão para atingir as cotas estabelecidasde preservação do clima. Segue, abaixo, uma pequena passagem de seu texto:São mais de 15500 aerogeradores espalhados pelo país, contribuindo para que 8% de toda aenergia da Alemanha sejam de fontes limpas e renováveis. Os alemães já superaramantecipadamente a meta de chegar em 2020 com pelo menos 20% da matriz energéticasupridos por fontes limpas e renováveis. Quando 2020 chegar, esse percentual deverá ser deno mínimo 25%. (In. ‘Verdenovo’) 4 .4 Jornal de preservação ambiental criado por alunos de jornalismo e publicidade da <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>.11


Muitos são os países da Europa que trabalham em busca da consciência para osproblemas enfrentados por toda a humanidade. Mas, a bem da verdade, é importanteressaltar o caso de Bogotá, na Colômbia, uma cidade subdesenvolvida que somou esforçosem busca de um espaço mais sustentável voltado para as pessoas, e não para os automóveis.A partir deste exemplo, é possível perceber que há totais condições para que seja feito algosemelhante no Brasil, com sucesso.Na prefeitura de Enrique Peñalosa, entre 1998 e 2001, Bogotá passou por umarevolução em sua geografia urbana. Muitas áreas que não tinham nenhum tipo de estruturaacabaram saneadas e reestruturadas. Hoje, existem áreas ruborizadas e diversos parquespara pedestres, bicicletas, patins e outros tipos de lazer e transporte se locomoverem sem orisco de carros por perto. As calçadas, em muitos lugares, foram rebaixadas, o que permiteque as bicicletas e os pedestres circulem no mesmo nível e no mesmo espaço do motorista,que deve diminuir a velocidade – máximo de 40 km/h.Foram criados 180 novos parques na cidade, além de um sistema cicloviário de 120km de extensão. Como forma de equilibrar o uso da bicicleta com o transporte público, foiconstruído um sistema de integração entre as ciclovias e um ônibus, conhecido comotransmilênio (Bus Rapid Transit), que trafega dentro de canaletas exclusivas, sem nenhumtrânsito. O ciclista pode guardar sua bicicleta com segurança nos bicicletários das estaçõese pegá-la na volta. Estes ônibus transportam por volta de 700000 passageiros por dia.1.2 - Saneamento BásicoEm primeiro lugar, sobre este tema, é importante considerar que é papel do prefeitocoletar, armazenar e transportar os recursos sólidos. Trata-se, de fato, de algo extremamente12


complexo de ser realizado por fatores políticos, de certo modo importantes de seremcomentados mais adiante. Neste momento, no entanto, a principal necessidade é a de trazernúmeros e estatísticas que comprovem, em primeira instância, as conseqüências de umprecário sistema de saneamento básico nas cidades e, depois, mostrar com absolutasegurança caminhos para modificar esta situação.Um dos maiores cuidados que se deve ter na disposição dos resíduos sólidos é adefinição exata do que é lixo (o que não pode ser reaproveitado de nenhuma forma em umnovo ciclo de produção, por exemplo), e tudo aquilo que de algum modo pode novamenteser utilizado. Ainda assim, cabe afirmar que o lixo é, em si mesmo, uma solução, e deve serencarado como tal.Lixo = SoluçõesReduzir Reciclagem Reutilização CompostagemReal perspectiva de soluçãoReaproveitamentoEconomia de recursos naturaisAdubo, fertilizantes naturaisAlém de todas estas soluções e possibilidades, que não pré-necessitam de grandesesforços para que sejam alcançadas, há também uma outra importante capacidade de13


emanejamento: a obtenção de energia a partir da queima do gás metano. Se, por um lado, aabsoluta falta de cuidado e critério nos lixões das grandes cidades deixa uma quantidadesem fim de resíduos sólidos em contato direto com o ar livre, cujas conseqüências são nãoapenas os riscos de contaminação de pessoas que entrem em contato com eles, mas tambéma enorme quantidade de gás metano liberado para a atmosfera (um dos mais graves gasesestufa), por outro se pode obter energia a partir de sua queima. A sua utilização é nobre:aquecer, por exemplo, o almoço de crianças carentes em creches, como é feito em Sertão deCarangolas, Petrópolis.Não obstante, um sistema minimamente razoável de saneamento básico, como umaeficiente rede de esgotos e aterros sanitários apropriados para que sejam levados e tratadosos resíduos sólidos, contribui diretamente para que os recursos hídricos não sejamcontaminados em excesso – o que leva à escassez deste precioso bem -, além de evitarmuitos tipos de doenças exclusivas das áreas urbanas. Ainda que já exista uma melhoria nodestino final dos resíduos sólidos, há muito a ser feito. As possibilidades para que odesenvolvimento sustentável seja alcançado com satisfação nas cidades são inúmeras; bastaque medidas sérias sejam tomadas pelo governo.Um exemplo que, em nenhum aspecto, deve ser considerado sustentável, é o lixão.Nestes locais, os resíduos sólidos são depositados sem qualquer cuidado técnico ou normasde segurança, o que causa sérios riscos ao meio ambiente e à saúde das pessoas que alitrabalham. Além dos vetores de doenças que se espalham pelo ar, os catadores entram emcontato direto com todos os tipos de resíduos, sem qualquer seleção anterior. Neste sentido,os perigosos resíduos hospitalares são despejados no mesmo local de todos os outros.É importante analisar tecnicamente algumas soluções que são adotadas, umas paliativas,outras mais eficientes. São os aterros controlados e os aterros sanitários. Os primeiros14


apresentam uma melhoria em relação ao lixão, ainda que longe da essencial. Neste caso,algumas técnicas são usadas na tentativa de diminuir os danos ambientais causados pelosresíduos sólidos, mas não é a solução mais indicada. Na verdade, nem os aterros sanitárioscomportam elementos suficientes para atingir o máximo possível de eco-eficiência, aindaque seja uma das mais modernas formas de atuação. São inúmeros os cuidados técnicos enormas operacionais cuidadosas com o meio ambiente (degradação dos solos, emissão degás estufa , etc.) e com a saúde pública.Neste momento, algumas destas medidas podem ser explicitadas, na tentativa de que odiscurso não se baseie apenas na teoria. Em relação aos resíduos sólidos, é de fundamentalimportância que os conhecidos três “erres” sejam estimulados; são eles: Reduzir, Reutilizare Reciclar, necessariamente nesta ordem. A reciclagem é a última instância; antes dela,existem a redução e a reutilização. Trata-se de algo muito importante, tendo em vista quequalquer cidadão pode se esforçar neste sentido, sem precisar de auxílio governamental. E,em âmbito mais geral, a criação de novos aterros sanitários que respeitem as normasoperacionais e critérios técnicos exigidos por lei para que se dê o tratamento necessário aosresíduos.1.3 - Escassez/ poluição dos recursos hídricosEste problema está diretamente relacionado à idéia de desenvolvimento sustentável nascidades, uma vez que a busca pela sustentabilidade significa não esgotar os recursos dosquais se necessita para que a teia da vida – expressão cunhada pelo físico Fritjof Capra –permaneça em constante estado de evolução. A água é um recurso de extrema importânciapara a existência humana, em incontáveis situações.15


Em relação aos recursos hídricos, alguns números chamam a atenção. Um exemplodisto é que, segundo dados da ONU, 1,2 bilhão de pessoas no mundo – ou seja, 1/6 dapopulação mundial – não possui acesso à água potável. Justamente por isso, chega a 34 milo número de pessoas que morrem diariamente ao redor do mundo por causa de problemasrelacionados à poluição dos recursos hídricos (In: www.onu-brasil.org.br).Curitiba, no Paraná, é um bom exemplo de possibilidades de alcançar um caminhosustentável. Nesta cidade, todas as novas construções de prédios precisam, por Lei,incorporar ao projeto de construção a captação, o armazenamento e a utilização da água dachuva para muitos outros usos, como a lavagem de carros, por exemplo, além de canalizartoda a água utilizada na máquina de lavar, chuveiros e banheiros para uma cisterna, a fimde reutilizá-la na descarga. 5O <strong>Rio</strong> Guandu tem potencial de abastecimento para 80% da região Metropolitana do<strong>Rio</strong>, e utiliza 10 vezes mais sulfato de alumínio para tornar a água bruta para consumohumano do que se fosse tecnicamente limpo. De acordo com dados da ONU, apenas 3% daágua do Planeta são de água doce, enquanto destes, apenas 0,65% pode ser considerado deágua potável. Outros dados dão conta de que 1,2 milhão de pessoas ao redor do mundo nãopossuem acesso à água potável, enquanto 40% do estimado potencial de perdas da rede dedistribuição de água potável no Brasil é causado por falhas na manutenção do sistema. 6Além de todos os problemas que já são conhecidos de grande parcela do público, comoa falta de cuidado com o desperdício doméstico da água, as precárias estruturas de captaçãoe armazenamento, a pequena cultura de reutilização e a contaminação dos lençóis freáticos,5 Idéia retirada do artigo de André Trigueiro: O Globo, 29/10/03.6 Idéia retirada do artigo de André Trigueiro: O Globo, 06/05/2003.16


há também outras formas de perdas dos recursos hídricos. O programa “Água: O Desafiodo Século 21” 7 , exibido pela GloboNews em maio de 2003, apresenta uma série deargumentos que enaltecem o desperdício deste bem precioso bem pelo nosso país, atravésdaquilo que é chamado de água virtual. Alguns exemplos citados no programa daquantidade necessária de água para a produção e agricultura podem ser vistos nos tópicosabaixo: 1 tonelada de aço produzida no Brasil = 15 mil litros. 1 quilo de arroz = 1500 litros. 1 quilo de pão = 1000 litros. Montagem de 1 carro = 6000 mil litros, em média.Estes impressionantes números mostram o preço que se paga para ser o maior produtorde aço no mundo, assim como ter, em 2003, grandes recordes nas exportações de produtosagrícolas, como são os casos do Brasil 8 . Ainda que o Brasil seja o país, em todo o mundo,com a maior quantidade de água, isso não nos dá o direito de crer ser este um produtoinfinito ou, por isso, permitir a sua contaminação. Pois é isso que se está fazendo.Para que se tente estabelecer um pertinente paralelo com a correta destinação dosrecursos sólidos, como anteriormente tratado, cabe fazer uma alusão interessante: como amaioria do lixo no Brasil não é tratado da forma como deveria, há a contaminação de7 Extraído do livro “Mundo Sustentável”, de André Trigueiro. Pgs 115, 116 e 119.8 Idem.17


mananciais por causa do chorume 9 . Este é um grave problema e clama por uma imediatasolução, uma vez que dois importantes pilares estruturais de uma sociedade (a água e olixo) padecem um em causa e circunstância do outro.A falta de água potável e contaminação dos recursos hídricos será um dos mais gravessensos de urgência do século 21, e a principal preocupação é não perder o controle de suaatribuição finita; caso contrário, este bem se tornará tão caro quanto ouro. A diferença,infelizmente, é que água é essencial para a vida; o ouro não.Algumas atitudes podem ser repensadas de modo individual, e devem também serlevadas em conta, uma vez que cada contribuição neste sentido será de grande valor. Fecharas torneiras na hora de escovar os dentes, tomar banho ou lavar louças são excelentesexemplos de esforços individuais; lavar carros com um balde d’água recolhida da chuva,sem torneiras, e varrer o chão em frente às portarias são boas ações coletivas.1.4 - ConsumismoO início de uma análise apurada deste tema leva em consideração que o consumoestá intimamente ligado ao ser humano; o maior problema, no entanto, é a dificuldade deassumir o consumo de nossas necessidades básicas, ou seja, a dificuldade de não adentrardiretamente no consumismo. Uma vez isto feito, a relação entre desgaste ambiental porcausa dos constantes ataques aos recursos naturais finitos e as necessidades básicas dosconsumidores se torna inteiramente desigual, tendenciosamente com maiores danos para omeio ambiente (FELDMAN, FABIO – Meio Ambiente no Século 21). Segundo o Relatório doDesenvolvimento Humano/ PNUD de 1998:9 Idem. Pg 123.18


O consumo contribui claramente para o desenvolvimento humano, quando aumenta suascapacidades, sem afetar adversamente o bem-estar coletivo, quando é tão favorável para asgerações futuras como para as presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planetae quando encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas.(In: Meio Ambienteno século 21. Feldman: pg.38)O principal e mais grave dos problemas, no entanto, surge quando se percebe quenão é a partir desta definição que o consumo é encarado hoje pelas diversas sociedades.Não há qualquer respeito pela capacidade finita dos recursos naturais da terra e, portanto eno mesmo sentido, também não há qualquer respeito pela definição de desenvolvimentosustentável originada no Relatório Brundtland de 1987.Segundo dados do Instituto Akatu, o nível de consumo em proporções planetárias jápassa em 20% aquilo que a Terra consegue suportar, o que é extremamente complexo, apartir do momento em que se depara com uma realidade impressionante: 50% da populaçãomundial vivem abaixo da linha da pobreza (www.akatu.org.br). Estes dados de realidadelevam a uma percepção que não pode deixar de ser notada e analisada em todas as contasque tiverem de ser feitas: não há separação entre três pilares; economia, social e meioambiente. Uma visão holística, ou seja, integrada de todas as formas de iniciativas humanasapresentam-se como urgentes nesta ordem mundial que já atinge proporções inimagináveise ainda pode chegar a níveis mais drásticos do que estes.De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Superior de Estudos daReligião (ISER), 90% dos brasileiros admitem que a principal fonte de informação de seuscotidianos é a televisão. (In: Trigueiro: pg 76. Meio Ambiente no Século 21). Ao observar comatenção este dado, é possível perceber a enorme força que as campanhas de publicidadeexercem sobre inúmeras parcelas da sociedade. Muito embora seja necessário lembrar que19


não são todos os que se deixam lembrar pelas promessas de felicidade incondicionaltransmitidas pelas propagandas de produtos supérfluos, também não se pode negligenciar aforça dos anunciantes.Isso significa que a força da sociedade de consumo ganhou substância, sem dúvida,com o advento das indústrias, da conseqüente concorrência e busca ininterrupta por lucrose, por fim, com a prática da publicidade e a tentativa de tornar necessário um produtosupérfluo. A partir destes mecanismos de comunicação, também são criados, época apósépoca, estereótipos de beleza e juventude. O verbo ‘ter’ assume proporções inimagináveis ea sociedade se esmera em obter a grande maioria dos produtos anunciados, o ponto departida do consumismo. André Trigueiro 10resume em três frases o problema doconsumismo: “Você ostentar onde há escassez é um problema ético, moral. E cada produtoou serviço, quando consumido, traz indissociável matéria prima e energia. Se o planeta éum só e os recursos não são finitos, e se eu não preciso de tudo o que eu tenho, eu toacelerando a exaustão dos recursos sem uma finalidade útil”.1.5 O Estatuto da Cidade/ Concentração de RendaA partir da concisa definição de desenvolvimento sustentável, pode-se estabelecerparâmetros reais para que esta situação seja plenamente estabelecida; a noção de que as trêsesferas – econômica, social e ambiental – devem caminhar em paralelo, e não maisseparadas umas das outras, se faz cada vez mais necessária, uma vez que a visão sistêmicareaparece como um conceito de profunda importância para a tentativa de solucionar a crise10 Em entrevista realizada no dia 21 de Novembro, na <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>.20


ambiental vigente. É justamente a partir desta e de tantas outras constatações que se podepensar em um documento de grande importância : O Estatuto da Cidade.Este Estatuto aponta exatamente na direção de um caminho sustentável e seguro, apartir do momento em que cita “a garantia do direito a cidades sustentáveis, (...) à infraestruturaurbana, ao transporte e aos serviços públicos, (...) para as presentes e futurasgerações” como atividades primordiais no sentido de viabilizar uma melhoria na qualidadede vida da população; o que só é possível se a sustentabilidade for compreendida como oponto a ser alcançado. Para que seja explicada a criação deste estatuto, torna-se importanteuma breve análise sobre as condições de crescimento urbano. A urbanização, em paísescomo o Brasil, por exemplo, aconteceu de forma desordenada e acelerada, condiçãofundamental para o surgimento de profundos problemas políticos, sociais, econômicos eambientais.Dito isso, cabe afirmar, categoricamente e sem receios de repetições, que asustentabilidade só poderá ser alcançada uma vez que estas esferas caminhem juntas, deforma holística, integrada, tal e qual afirma o Estatuto da Cidade; uma vez que a cidadeilegal, à margem da sociedade em todos os âmbitos que se pode pensar, for integrada àcidade real, também cercada de incertezas e inseguranças em todos os níveis. A constataçãode que, infelizmente, ainda são inúmeros os problemas relacionados à falta de estruturaurbano-sócio-ambiental em muitas cidades brasileiras apenas reforça a certeza de que aindahá muito a ser feito em prol do cumprimento total deste Estatuto.A concentração de renda também se apresenta como uma das práticas maisinsustentáveis contemporâneas. E a explicação para esta afirmação é muito simples. Nãopode haver qualquer sentido de sustentabilidade em uma sociedade como a carioca, que temum orçamento maior para a segurança particular – como cercas elétricas, cancelas, vigias,21


sistemas de monitoramento interno e etc – do que para a segurança pública. Além disso,enquanto não há circulação do dinheiro - mas sim sua concentração em poucas contasexorbitantes -, muitas pessoas não têm acesso à saúde, saneamento básico, oportunidadesou água potável e vivem em favelas 11 .Talvez, neste momento, seja necessário pensar a respeito do sentido que as pessoasgostariam de dar para suas vidas. É importante que se tenha a consciência, palavrafundamental sugerida por Trigueiro, a respeito de nossa função no mundo e do cuidado queprecisamos ter conosco, com o outro e com o nosso entorno, pois o universo é único paratodos, e depende de todos. O jornalista, no meio da resposta sobre as práticas inustentáveisda sociedade, exprime uma importante sensação: “A soma destas faltas de cuidado resultana crise ambiental. Ela nasce disso. Se estou dentro de algo maior, não serei tão desleixadocom certas coisas porque aquilo também diz respeito a mim. Enquanto tivermos esta estadualidade entre eu e o meio ambiente, eu aqui e a natureza lá, não resolvemos a criseambiental” 12 .11 Idéia extraída da entrevista com André Trigueiro.12 Em entrevista realizada no dia 21 de Novembro de 2006, na <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>..22


Capítulo 2. O papel da mídia, um exemplo de pautas de uma ONG e um meio alternativo decomunicaçãoEste capítulo tratará da importância fundamental da mídia na divulgação de notíciasde cunho ambiental, além de fazê-lo de forma holística, ao integrar notícias ambientais atodas as outras editorias. Depois desta análise um tanto minuciosa, alguns outros fatos serãoexplicitados, calcados em entrevistas realizadas para esta tese, as ações de uma ONGcarioca chamada Transporte Ativo e o jornal de preservação ambiental “Verdenovo”.Muito embora este ponto já tenha sido colocado, é extremamente importante que osjornalistas o tenham como chave em suas cabeceiras; deve-se integrar visões. Não existemuita eficácia em citar que Amsterdã corre risco de desaparecimento nos próximos 50 a100 anos por causa do acréscimo no nível dos oceanos, se não for feita uma extensareportagem sobre as causas desta elevação. Se ele existe, é, em grande parte, devido aoaquecimento global, fruto de ações antrópicas insustentáveis baseadas na economia dodescarte, do carbono e na concentração desenfreada de renda.Apenas a partir do momento em que a mídia reconhecer o quadro vigente como damais alta gravidade, é que será possível estabelecer parâmetros para que a crise sejasolucionada. Até que este momento aconteça, no entanto, torna-se extremamentecomplicado aceitar mudanças globais, uma vez que o acúmulo de informações necessáriassobre o tema ainda não terá sido exaustivamente transmitido, o que leva à conclusão de quenão haverá substâncias necessárias a fim de transformar todo o cotidiano de umapopulação. Apenas através da real percepção do iminente risco que nossa geração e asfuturas correm caso não haja um redirecionamento das políticas econômicas, ambientais e23


sociais – o que pode ser conseguido com a ajuda do enorme poder exercido pela mídia -,será possível uma extensa e completa troca de valores.2.1 A mídia e seu papelLester Brown faz algumas observações interessantes em seu livro Eco-Economia,que de tão importantes faz-se necessário reproduzir uma delas aqui, sem qualquer iniciativade editar qualquer trecho:“Será tarde demais para impedir um aumento da temperatura causado pelo acúmulo de gasesestufa? Sim. Um aumento de temperatura induzido pelo gás de estufa aparentemente já estáem curso. Mas, será tarde demais para impedir um descontrole da temperatura climática?Talvez não, se reestruturarmos rapidamente a economia energética” (In. Eco-Economia, pg129).E, para tanto, é urgente o apoio da mídia. Este apoio, no entanto, é muito difícil deser obtido. Por mais simples que possa parecer a situação - a crise ambiental é notória, amídia é um importante alicerce de sustentação das informações que poderão transformar arotina da população mundial e, portanto, reorganizar o planeta de modo sustentável –, ela éextremamente complexa. Por mais que se possa dizer algo como ‘se a mídia tem a chavepara nos ‘salvar’, então que o faça’, não é exatamente como parece ser.A crise ambiental é vigente - sobre isso não há mais dúvidas - e seus efeitoscomeçam a surgir. Trata-se, no entanto, de algo que ainda irá durar 50, 100 anos para trazerainda mais graves conseqüências. Se, para a história do planeta, este tempo é irrisório, para24


o jornalismo é uma eternidade. O tempo desta profissão, um dos principais motores dacomunicação em todo o mundo, é de um imediatismo cada vez mais exacerbado, movidopor matérias e reportagens finitas em seu próprio tema, um dia ou poucas horas após teremacontecido.Há, no entanto, um fator importante que deva ser levado em consideração, e quepode mudar um pouco a idéia do tempo no jornal impresso e dos assuntos interpretadoscomo imediatos. Segundo o ambientalista Hiram Firmino 13 , o “auge são as mudançasclimáticas já em curso”, o que implica em uma contradição no acúmulo e embasamento dasnotícias sobre sustentabilidade veiculadas na grande parte da mídia do mundo e do país.Há alguns veículos alternativos que vêem insurgirem na relação entre meioambiente, economia e social pautas sinceras e imprescindíveis para a busca de um novoparadigma através da mudança de comportamentos sociais da sociedade ao redor doplaneta.O editor-chefe do jornal ‘Envolverde’, Adalberto Marcondes 14 , observa, para amesma pergunta acerca do auge na imprensa, um ponto de vista interessante: “Esta é umaverdade que deve ser relativizada pelo desenvolvimento das tecnologias da informação. Osjornais não são mais detentores do “furo jornalítico”. Este furo agora está no rádio, na TV ena Internet. Os jornais precisam se reinventar para buscar um novo papel na sociedade.Neste ponto acredito que os temas socioambientais podem ganhar relevância. Será precisoaos diários de papel ser mais reflexivos, contextualizadores e buscar uma interação maiorcom os desejos de futuro da sociedade. Eu acredito que esta busca pela profundidade nos13 Em entrevista realizada no dia 9 de Novembro de 2006, por e-mail. (Minas Gerais).14 Em entrevista realizada no dia 19 de Novembro de 2006, por e-mail. (Minas Gerais).25


textos, reportagens, artigos e tudo o mais vai fazer com que a mídia impressa tenha umpapel mais relevante nos temas socioambientais”.O jornalista André Trigueiro, em seu artigo acadêmico de título “A Idade Mídia”,aponta duas observações, a respeito deste tema acima tratado, de dois importantesprofissionais. O primeiro deles, Caio Marcondes Filho, alerta para a atual pré-definição decompetência na carreira: “Bom jornalista passou a ser mais aquele que consegue, em tempohábil, dar conta das exigências de produção de notícia do que aquele que mais sabe oumelhor escreve”. (Trigueiro: pg 78) Hoje, menos importa o embasamento e conhecimento danotícia; o que de verdade está em pauta são as notícias atuais. E é este ponto que trata comextrema propriedade o escritor argentino Jorge Luiz Borges, quando fala que “para aimprensa, o agora é o auge do tempo”. (Trigueiro: pg 79).Um outro importante entrave na divulgação de notícias é o acúmulo moderno deinformações. Elas surgem de todos os lugares, dos mais diferentes veículos – jornaisimpressos, tv, rádio, internet, propagandas, apenas para citar alguns – e criam ritmos eestilos de vida para as sociedades, que se vêem absortas em um Universo espetacularizado.Adalberto Marcondes também menciona este aspecto como um impasse para o maiorconhecimento ambiental, pois ele afirma que existem dois tipos de informação: as que aspessoas querem saber, que estão nos jornais de domingo, nos tablóides e são fáceis de achare aquelas que as pessoas precisam saber; estas sim são muito difíceis de serem encontradas,mas são elas que possuem grandes potenciais de transformação sociais. É neste grupo quese encontram as pautas referentes ao impasse da sustentabilidade.Estas considerações permitem interpretações plausíveis para a falta de espaço dedivulgação destinado nos grandes veículos aos temas ambientais e suas interseções aosmais variados assuntos. A falta de espaço na mídia é nítida, muito embora a <strong>Rio</strong>-92 tenha26


levantado grandes possibilidades de novas pautas. O evento realizado no Brasil, maisespecificamente na cidade do <strong>Rio</strong> de Janeiro, com o nome de Conferência das NaçõesUnidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, se tornou a maior reunião já feita paratratar da questão ambiental ligada aos paradigmas sociais e econômicos.O encontro contou com a presença de mais de 100 chefes de Estado; além disso,mais de 170 países mandaram representantes para discutir todos os pontos selecionadospara o evento. (In. Mousinho: Glossário) Nada mais natural do que uma completa cobertura damídia e dos mais variados e expressivos veículos de comunicação; e foi exatamente isto quepôde ser notado no decorrer daqueles dias e dos meses que os seguiriam.Um grande aparato de jornalistas foi selecionado para cobrir o encontro e entendermelhor o que se passava no mundo. Esta informação, em princípio, parece um tanto quantocuriosa, uma vez que os jornalistas já deveriam chegar ao local de suas reportagensconscientes do assunto em pauta, para um maior sucesso de suas investidas em busca desubsídios para boas matérias. Naqueles dias, no entanto, ainda não havia muitos jornalistascom bases necessárias de conhecimento, o que não foi um empecilho para as redações:diversos erros de conteúdo foram cometidos, mas o evento era coberto por ampla parcela daimprensa, fato fundamental devido a sua grandeza.Além disso, muitos especialistas no tema ambiental, oriundos de outras profissões,foram incorporados ao quadro dos jornais impressos, de rádio e televisão, para quepudessem exercer uma espécie de consultoria prática aos jornalistas, para que estes sesentissem mais seguros no momento de realizar suas reportagens. Esta euforia midiáticaacerca dos tópicos ambientais, porém, não durou muito tempo, e pouco a pouco os espaçosdestas notícias se tornaram escassos.27


Marcondes 15 , no entanto, faz uma observação interessante sobre isto. Ele lembraque, apesar de tudo, há cadernos em alguns dos principais jornais impressos do país quefalam estritamente de meio ambiente, além daquilo que ele chama de “Mídia <strong>Ambiental</strong>” –veículos especializados em sustentabilidade. Apesar disso, no entanto, ele acredita que osjornalistas ambientais exclusivos entrarão em extinção apenas quando o tema ambiental fortratado de forma transversal em todas as pautas e todos os jornalistas tiverem oembasamento suficiente para tratar desta questão com a seriedade que ela merece. Nadadisso, no entanto, será possível sem ‘que a sociedade valorize este tipo de informação e queas forças econômicas estejam dispostas a pagar por ela’, de acordo com suas palavras.André Trigueiro faz uma observação muito interessante em seu artigo: “Ojornalismo ambiental quebra o dogma da imparcialidade, (...), ao tomar partido em favor dasustentabilidade, do uso racional dos recursos naturais, do equilíbrio que deve reger asrelações do homem com a natureza, do transporte coletivo, da energia limpa, dos três‘erres’ do lixo e etc. Quando estas idéias justificarem atitudes que se multipliquem pelomundo inspirando a construção de uma nova civilização, um novo paradigma (...), ojornalismo ambiental terá cumprido a sua missão” (In: Meio Ambiente no Século 21: pgs 89 e 89).A conclusão a que se chega é que somente a informação verdadeira pode promovernovos rumos para mudanças sociais, e são estas mudanças que fornecerão subsídiosnecessários para a perpetuação da vida no planeta tal como conhecemos e concebemos.Hiram Firmino 16 afirma que a partir do momento em que se tem contato com a verdade arespeito da crise ambiental, só há avanços nas transformações sociais. E é isso que precisaser feito.15 Em entrevista realizada no dia 19 de Novembro de 2006, por e-mail (São Paulo).16 Em entrevista realizada no dia 9 de Novembro de 2006, por e-mail (Minas Gerais).28


2.2 A ONG Transporte Ativo e sua Relação com a ImprensaA ONG Transporte Ativo (TA) é uma associação criada no <strong>Rio</strong> de Janeiro por ZéLobo, membro do Conselho Consultivo do projeto Kioto Cities 20/20, que discute as açõesdos automóveis nas cidades e as suas conseqüências. Algumas ações de conscientizaçãopara os problemas no tráfego da cidade e o incentivo ao uso de transportes movidos àpropulsão humana (como skate, patins, bicicletas) foram realizadas ao longo dos últimostrês anos pela ONG, que conta com pouco mais de 40 filiados à lista de discussão em todoo Brasil.A imprensa, em certa medida, apóia as ações na cobertura das pautas enviadas pelospróprios integrantes da TA, muito embora apresente os mesmos problemas relativos a faltade visão holística. Apresentam as iniciativas da ONG e mostram, de alguma forma, aimportância destas ações para o meio ambiente, mas não estruturam uma coberturacompleta acerca do impasse ambiental, com todas as repercussões nas outras editorias. Valelembrar que o meio ambiente pode ser pauta de todas elas, com exemplos abaixo.Editoria de Esportes: Poderia ser sugerida uma pauta sobre o recente mundial de‘Beach Soccer’ nas areias de Copacabana, entre os dias 02 e 12 de Novembro de 2006.Além de falar sobre o evento esportivo em si, poderia ser importante falar sobre o acúmulode resíduos sólidos recolhidos, o trânsito decorrente do mundial ou o clima de Novembro,que está diferente dos outros anos.Editoria de Economia: Uma pauta mais aberta, porém tão importante quanto a deesportes, seria fazer a conta dos danos ambientais da abertura de uma fábrica de algumagrande empresa. Deste modo, seria possível analisar problemas decorrentes deste ato, como29


o consumismo, o desmatamento (dependendo da abordagem da empresa) e os gases estufaemitidos. A partir disso, há a capacidade da exigência de uma contra-partida da empresapara a preservação ambiental.Estas explicações acima servem para afirmar que a cobertura dos eventosdivulgados e criados pela TA são importantes, mas poderia ser feita de maneira maisholística e ordenada. Segue, abaixo, os números das matérias veiculadas na imprensa:Vídeos: 16 reportagens feitas pela TV <strong>PUC</strong>, TV Globo, Record, TV COM, RedeTV, CNT, TVE Brasil e Band.Impressos: 16 reportagens feitas pelo Jornal Povo do <strong>Rio</strong>, O Estado de São Paulo,Jornal do Brasil, Jornal O Globo, Jornal Zero Hora (Porto Alegre) e Revista Isto É.Internet: 7 reportagens feitas pelos sites Ambiente Brasil, Repórter Social, Manual,bike brazil, revista bike action, portal COMPETE e site do RJTV, da Rede Globo.Rádio: 1 reportagem feita pela Agência Rádio Web.Estas reportagens cobriram alguns eventos promovidos pela ONG, dos quais sedestaca o ‘Desafio Intermodal’ de 2006, com coberturas extensas do RJTV 1ª e 2ª edição,do Jornal da Globo, do Jornal Povo do <strong>Rio</strong> e do Jornal do Brasil. Neste desafio, 5 pessoassaíram do mesmo local no Centro da Cidade, em horário de pico de engarrafamento, etinham como destino a Praça Antero de Quental, no Leblon. A diferença é que cada um30


tinha um meio de transporte diferente do outro. Na disputa tinha o carro, o ônibus, a moto,a bicicleta e o metrô. A moto ganhou, e a bicicleta ficou em segundo. O carro foi openúltimo a chegar, na frente apenas do ônibus.Ainda que a cobertura das ações promovidas pela ONG em busca da maiorutilização dos transportes sustentáveis seja feita por alguns veículos, o Presidente daassociação Zé Lobo 17 acredita que as matérias produzidas em cima das pautas enviadaspara as assessorias dos jornais não abordam a idéia de sustentabilidade de forma completa.Segundo ele, os repórteres não relacionam as ações da ONG “ao aquecimento global nem adanos causados por empresas; nem, tampouco, às emissões de gases estufa”.2.3 O ‘Verdenovo’‘Verdenovo’ é um jornal de preservação ambiental criado por alunos de jornalismoe publicidade da <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> O jornal conta (e/ ou contará) com diversas manifestações derespeito à causa ambiental: crônicas, charges, reportagens, exemplos de design e arquiteturasustentáveis, poesias, fotografias, publicidades, curiosidades. A intenção é que, a cada mês,apareçam novos colaboradores, para que todos possam ter espaço e mostrar seus trabalhosem busca de um mundo sustentável. A idéia é que sejam buscados textos e imagensinteressantes de estudantes e profissionais de diversas áreas, para que o incentivo a práticassustentáveis seja cada vez maior.A primeira edição do jornal teve lançamento no dia 14 de Novembro de 2006, na<strong>PUC</strong>. Ela apresenta artigos enviados por André Trigueiro direto da Alemanha, na época emque fez a cobertura da última Copa do Mundo de futebol, da Secretária Executiva da Rede17 Em entrevista realizada no dia 13 de Novembro de 2006, por e-mail.31


Brasileira de Educação <strong>Ambiental</strong> Patrícia Mousinho e do Fundador e Presidente da ONGTransporte Ativo Zé Lobo, além de bonitas charges, fotos, textos, artigos e poesias deestudantes de publicidade, desenho industrial e jornalismo.Na primeira edição, patrocinada pelo departamento de Comunicação Social da <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>, alguns assuntos interessantes são abordados:• Introdução ao jornal – Nota do Editor.• O Aquecimento Global – Coluna de Zé Lobo; Charge de Carlos A. Valério Jr.;Publicidades de Guilherme Figueira; nota de André Trigueiro.• Reciclagem – Reportagem de Daniela Gontigo.• Desmatamento – Poesia de Thais Zveibil.• Educação <strong>Ambiental</strong> – Coluna de Patrícia Mousinho.• Consumismo – Artigo Opinião de Giovana Chichito.• Energias Renováveis – Nota de André Trigueiro.• Belezas naturais – Fotos de Lucas Zappa e textos de Felipe Lobo.• Uso racional da água – Nota de André Trigueiro.• Redução de Resíduos Sólidos – Nota de André Trigueiro.A idéia é fornecer um novo veículo alternativo de informação, para se juntar aos demaisjá em circulação – como as Revistas Terra, JB Ecológico e ECO21, ou os sites O ECO eEnvolverde, por exemplo -, que apresentará uma visão holística e quebrará a idéia –amplamente discutida - de imparcialidade no jornalismo, uma vez que se colocará a favorde mudanças no ciclo consumo/ insustentabilidade, tal e qual fazem os outros editoriais de32


meio ambiente. A 1ª edição teve uma tiragem de 2750 exemplares e foi distribuída na <strong>PUC</strong>,em alguns colégios e outros espaços de divulgação.Hiram Firmino 18responde a uma pergunta acerca da importância de veículosalternativos de divulgação ambiental, como o jornal ‘Verdenovo’, da seguinte forma: ‘asgrandes revoluções na história da humanidade foram feitas por minorias e não pelamultidão que, como gado, segue unida para o matadouro’. Esta é a esperança que não deveser renegada.18 Em entrevista realizada no dia 9 de Novembro de 2006, por e-mail (Minas Gerais).33


Capítulo 3. Análise de três temas ambientais noticiados nos jornais O Globo e Folha de S.PauloEste capítulo analisará a quantidade de notícias ambientais veiculadas entre os dias01 de Janeiro de 2005 até o dia 10 de Novembro de 2006 em dois dos principais jornaisimpressos do país: O Globo, do <strong>Rio</strong> de Janeiro, e a Folha de S. Paulo, de São Paulo 19 . Aimportância aqui não será a de abordar em detalhes a pauta e o conteúdo das notícias –mesmo porque não seria possível, tendo em vista o elevado número pesquisado -, mas simperceber o volume de temas ambientais veiculados e a íntegra (ou parte) de alguns trechosinteressantes. Foram observados notas, reportagens e artigos de opinião sobre três assuntosfundamentais: água, clima e lixo 20 .3.1 ÁguaO Globo: 17 documentos.Dentre estes documentos, se destaca uma interessante matéria de Luciana Casemiro,publicada no jornal O Globo do dia 22 de Maio de 2005. Nesta reportagem, Luciana relatao elevado custo das contas de água que alguns condomínios cobram por cada morador. Umpequeno trecho segue logo abaixo:19 Informações extraídas do site www.webjornal.net/monitor_setorial20 Neste site, o conjunto de matéria sobre o assunto aparece com o nome ‘lixo’, e não resíduos sólidos. A tesemanterá esta informação.34


As campanhas para redução do consumo de água estão abrindo os olhos dos condomínios para umaquestão controvertida: a cobrança de tarifa mínima pelas concessionárias. É que muitos prédioscomeçaram a perceber que, apesar dos consertos de vazamentos e dos esforços que fazem paraconsumir menos, não conseguem diminuir a conta. Aí prestaram atenção em como é calculada a taxa:a cobrança pressupõe que cada apartamento usa mensalmente pelo menos 15 metros cúbicos de água(ou seja, 15 mil litros) e as unidades comerciais, 20 metros cúbicos. Mesmo quando o consumo émuito inferior a isso. (In: O Globo, 22/05/05. Webjornal.net – Monitor Setorial).Isto significa que a cobrança poderá ir além do que cada um consumiuindividualmente, algo que soa bastante diferente. Ainda assim, há a preocupação, dentre as17 matérias analisadas, em tratar com alguma eficiência a qualidade da água e osdesperdícios acumulados por cada habitante e pela sociedade em todos os seus níveis esetores. O repórter Paulo Ricardo Moreira aborda bem a questão do desperdício em suareportagem “Tapando o ralo e sabendo usar, não vai faltar”, publicada no dia 06 de abril de2006. Na matéria, ele fala sobre uma empresa que promove uma campanha contra odesperdício; mas a importância aqui é o tema tratado.Folha de S. Paulo: 13 Documentos.Dentre estes 13 documentos, o que mais se destaca é uma reportagem extraída daFolha no dia 30 de março de 2005. Nesta matéria, a principal relação acontece pois aligação entre economia e meio ambiente se apresenta de forma clara e objetiva, a partir deuma experiência prática de economia atingida através da reutilização de água. A explicaçãopara isso é um breve resumo da reportagem: O técnico de máquinas de lavar roupas RubensJosé de Oliveira Filho tinha altos custos mensais com a conta de água porque era precisotestar todas as máquinas recém consertadas. Sua idéia, portanto, foi a de reciclar a água que35


havia utilizado, o que lhe possibilitou um lucro muito maior e ainda preserva um bem emescassez ao redor do mundo. Abaixo, um trecho da reportagem:Oliveira bolou um sistema de filtros, consultou um especialista em produtos químicos etratamento de água e, em 2003, criou o projeto Safira (Sistema de Armazenamento,Filtragem e Reaproveitamento da Água). É um kit externo com filtro e reservatório que,acoplado a uma lavadora, elimina a sujeira e o sabão da água usada na lavagem. (...)Segundo ele, uma dona de casa que lave roupas diariamente pode reduzir o consumo de6.000 litros para 15 litros de água por mês, em média. (In: Jornal Folha de S. Paulo,30/03/05. Webjornal.net – Monitor Setorial).O que chama a atenção, infelizmente, é o número muito reduzido de matérias,reportagens e notas sobre água publicados no decorrer destes dois anos quase inteiros. Valelembrar, também, que estamos em pleno século 21 e aquele antigo problema precisa sermencionado: a escassez, o desperdício e a contaminação dos recursos hídricos devem serpautas precisas e urgentes em todas as redações, pois trata-se de um dos mais avançadosriscos para a perpetuação da vida em nosso planeta.3.2 ClimaO Globo: 133 documentos.Muitas destas notícias dizem respeito à previsão do tempo no Estado para ospróximos dias ou a efeitos e conseqüências de calor elevado ou fortes pancadas de chuvas etemporais. Pode-se perceber, através de uma análise mais apurada destes documentos, quemuitos tratam apenas dos efeitos negativos de fenômenos climáticos fora de hora, mas nãoapresentam claros estudos dos motivos sócio-econômicos que contribuíram para o impasseambiental. Vale ressaltar que muitas destas matérias foram pautadas pelos recentesfuracões, como o Katrina e o Rita.36


Não cabe, aqui, falar especificamente de cada uma destas reportagens, notas eartigos. O que vale, de fato, é ressaltar o aspecto global deste material veiculado:primordialmente fatos que, de alguma forma, foram notícias no mundo todo, como estesfenômenos climáticos que ocasionaram os furacões ou as altas velocidades dos ventos no<strong>Rio</strong> de Janeiro. As conseqüências destes desvios climáticos são amplamente mencionadas,mas o aquecimento global que assola o planeta de forma desenfreada tem pouco destaquenas matérias veiculadas. Este assunto só é tratado quando algo acontece de imediato. Nesteexemplo, o timing do noticiário pode ser percebido com maior clareza.Segue abaixo um trecho de notícia sobre o estado de emergência na Flórida causadopela iminência da chegada do furacão Wilma, em reportagem do enviado especial JoséMeirelles Passos, do dia 21 de Outubro de 2005:Embora o Wilma deva tocar a Flórida apenas no domingo, o governador Jeb Bush preferiu nãoesperar pelo impacto para declarar estado de emergência. Ele fez isso no início da tarde de ontem e,graças a essa iniciativa, agora tem o poder de convocar a Guarda Nacional no momento em que acharnecessário. (In: O Globo, 21/10/05. Webjornal.net – Monitor Setorial).Folha de S. Paulo: 199 documentos.Na Folha, as informações veiculadas tendem a apresentar característicassemelhantes àquelas do Jornal O Globo. Diversas matérias tratam dos furacões Katrina,Wilma e Rita, além do fato de que muitas apresentam apenas dados sobre previsões detemperatura e clima no Brasil e no mundo. Isto até poderia ser considerado natural; oproblema, no entanto, é que as informações apresentam claros sinais de novidade, uma vezque mostram números muito distintos daqueles que vinham sendo apresentados nos anosanteriores. Segue, abaixo, um exemplo claro disto: um trecho da reportagem retirada do dia37


05 de Setembro de 2006, feita pela Agência Folha, na qual é mencionado o fato de que asprevisões apontavam o mês de Setembro mais frio da região Centro-Sul do Brasil nosúltimos 40 anos:O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que a mínima de -7,5C, registrada em SãoJoaquim (SC) em setembro de 1964, possa ser igualada neste ano. Ontem, a cidade teve -3C. Aprevisão é que a temperatura fique abaixo dos -5C hoje. Em Santa Catarina, Urubici (171 km dacapital) teve ontem -6C. A sensação térmica chegou a 17C negativos. Nevou em vários municípios.(In: Folha de S. Paulo, 05/09/06. Webjornal.net – Monitor Setorial).Esta reportagem mostra nítidas evidências de algum distúrbio climático. Ao invésde ser utilizada uma visão holística, que abrange a todas as áreas e setores, e que levante ahipótese da busca de um 3º paradigma, no qual a sociedade teria que rever seus conceitos evalores, o jornal apenas apresenta informações sobre o declive acentuado nos índices detemperatura, sem conceituá-lo ou expor suas causas anteriores. Não é possível perceber atéque ponto há falta de interesse ou falta de informação: fato é, no entanto, que há um graveequívoco na abordagem escolhida pelas reportagens.3.3 Resíduos SólidosO Globo: 68 documentos.As matérias que tratam de resíduos sólidos possuem uma particularidade em relaçãoàs outras que foram relacionadas acima. Neste caso específico, algumas reportagenspautadas tiveram excelente êxito no propósito de denunciar o destino final dos resíduos.Uma reportagem aborda a questão com importante embasamento teórico e dadosestatísticos: a dos repórteres Paulo Marqueiro e Túlio Brandão, publicada em O Globo do38


dia 20 de Fevereiro de 2005. No texto, eles falam sobre o destino inadequado dos resíduossólidos dos municípios em torno da Baía de Guanabara.Cerca de 92% do lixo dos 16 municípios que formam a Bacia da Baía de Guanabara são tratados deforma inadequada. Das 13.300 toneladas coletadas diariamente, somente mil vão para um aterrosanitário (o de Adrianópolis, em Nova Iguaçu). O restante é jogado em lixões ou nos chamadosaterros controlados, em que o tratamento é parcial. (In: O Globo, 20/02/05. Webjornal.net – MonitorSetorial).Nesta mesma reportagem, um importante trecho precisa ser destacado: o momentono qual são tratados alguns dos principais problemas dos aterros controlados e,principalmente, dos lixões. Aqui fica clara a preocupação em discursar a respeito dos danosambientais e humanos destes equivocados destinos dos resíduos.Pelo menos seis dos 16 municípios (cerca de 40%) jogam os resíduos em lixões, sem qualquermedida para evitar danos ao meio ambiente ou à saúde, como proliferação de doenças, contaminaçãodo solo e poluição das águas. É o caso de Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Magé,<strong>Rio</strong> Bonito e Tanguá. (Idem).O Aterro de Gramacho, bastante conhecido dos cariocas, e cenário do documentário‘Estamira’, de Marcos Prado, não foi esquecido na reportagem. A negligência em analisaros cuidados necessários para o tratamento do espaço e sua conseqüente observação foiabordada a partir de dados relevantes.Cerca de cem toneladas de lixo infecto-contagioso são despejadas diariamente emGramacho sem qualquer tratamento, desrespeitando a resolução número 5 do ConselhoNacional de Meio Ambiente (Conama). Além disso, uma montanha de lixo com 50 metrosde altura tem de ser monitorada pois corre o risco de desabar. (Idem).É importante, porém, perceber alguns aspectos desta relação de matérias de o Globodurante estes dois anos. Muito embora a tendência absoluta delas seja tratar de aterros39


controlados e sanitários e da má adequação dos resíduos sólidos, por causa dos decorrentesdanos ambientais e humanos – o que já é uma informação muito valiosa -, não se percebegrande preocupação em mostrar que é necessário cuidar dos três R’s antes – reduzir,reutilizar, reciclar -, além de não ressaltar que muito daquilo considerado lixo poderia serreaproveitado. O consumismo também poderia ser abordado, como forma de lembrar asociedade sobre a falta de recursos naturais do planeta por causa da concorrÊncia deempresas e um sistema viciado em competição e vitórias.Folha de S. Paulo: 28 documentos.A diferença de, exatamente, 40 matérias e notas sobre resíduos sólidos entre OGlobo e a Folha chama a atenção. Não se sabe ao certo o motivo dessa discrepância; aúnica afirmação que se pode fazer é que o conteúdo das informações veiculadas ébasicamente o mesmo nos dois jornais. Ambos falam sobre o descaso com as normas desegurança nos aterros e o acúmulo desnecessário de lixo. A Folha publicou, no dia 12 deAgosto de 2006, uma reportagem sobre o estado de emergência em que se encontravam osmoradores de Carapicuíba, na grande São Paulo, por causa da paralisação no recolhimentodo lixo das residências.A principal importância desta matéria é a denúncia de dois pontos congruentes: anecessidade urgente da coleta de resíduos sólidos (a matéria não fala, mas deveria lembrarda importância da coleta seletiva), e um destino apropriado para eles. De acordo com areportagem, a coleta parou de ser feita porque o aterro para o qual as 140 toneladas deresíduos diárias de Carapicuíba eram levadas, em Itaquaquecetuba, foi interditado por causade danos ambientais causados, principalmente, pela enorme quantidade de chorume jogada40


diretamente no leito de um córrego. A denúncia, portanto, atinge as precárias condições dosaterros e a conseqüente paralisação da coleta diária.Outra reportagem interessante fala sobre o extenso mercado que se cria no entornodo Aterro de Gramacho, feita pelo repórter da sucursal do <strong>Rio</strong> Antônio Góis. Ao analisá-la,percebe-se as inúmeras ramificações que surgem a partir de um aterro com grandescomplicações ambientais e sociais. A matéria também atenta para o fato de que catadoresde lixo que lá trabalham, não trocariam a vida em contato com vetores de doenças e lixostóxicos por um local mais limpo, porque provavelmente ganhariam menos.Eles (os catadores) são apenas a parte mais visível de uma atividade que, somente noentorno de Gramacho, emprega 15 mil pessoas e movimenta R$ 1,4 milhão por mês,segundo estudo finalizado no ano passado pela empresa SA Paulista, contratada pelaComlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), do <strong>Rio</strong>, para operação e recuperaçãodo local. (In: Folha de S. Paulo, 06/03/05. Webjornal.net – Monitor Setorial).A matéria fala sobre o fim do Aterro (o que ainda não aconteceu) e, portanto, aiminência de 15 mil desempregados, já que este mercado do entorno do Aterro é compostopor depósitos, empresas de reciclagem, prostitutas, caminhoneiros, supermercados, entreoutros, que atuam ali apenas por causa do trabalho dos catadores, como afirma na mesmareportagem a socióloga Lúcia Luiz Pinto, que coordenou o estudo da AS Paulista.Uma questão ética é levantada a partir desta percepção: o fim do Aterro resulta nofim de uma rede de empregos e na conseqüente condição de desemprego para muitaspessoas. Ainda assim, a necessidade de transformar a destinação dos resíduos sólidos emum local regulamentado pelas normas específicas de seguranças é ainda maisimprescindível.41


ConclusãoO impasse ambiental está aí. As mudanças climáticas, o descaso com a infraestruturada destinação e da coleta dos resíduos sólidos, o desmatamento, o abuso nautilização dos recursos naturais finitos do planeta, o consumismo desenfreado calcado nasbases sólidas do capitalismo, a necessidade urgente de mudanças das matrizes energéticas.Todas estas informações, no entanto, ainda não encontraram veículos suficientes paraserem divulgadas, nem muitos jornalistas com potencial para tratar desta questão comcapacidades técnicas e científicas ligadas ao desafio prático de transmití-las para um grandepúblico de leitores e ouvintes.São extensas as possíveis mudanças. Lester Brown afirma que elas estarão em todosos setores da sociedade. De acordo com suas palavras: “carros e ônibus serão movidos pormotores de células de combustível, alimentados por eletricidade gerada através de umprocesso eletroquímico que utiliza hidrogênio como combustível, em vez de motores decombustão interna. Com células de combustíveis movidas a hidrogênio, não existirá o CO2,perturbador do clima, nem poluentes nocivos à saúde” (Brown: pgs 39 e 40). Percebem-se,portanto, novos horizontes: uma economia baseada no hidrogênio, e não mais no carbono,como o é nos dias atuais.Além disso, a essência dos três erres da produção deve ser preservada, em suaordem estabelecida. Em primeiro lugar, há a redução. Reduz-se a quantidade dos materiaiscomercializados, a partir do consumo consciente – exclui-se ao máximo os supérfluos -, oque preserva uma maior quantidade de recursos naturais que não serão retirados do planetasem fundamentos práticos. Logo após, deve-se pensar na reutilização. Neste processo,reutiliza-se tudo o que for possível, para que se elimine uma grande quantidade de lixo que42


poderia, na verdade, ser uma solução. E, necessariamente por último, aparece a reciclagem,etapa necessária para que alguns objetos já usados possam voltar às etapas de produção.Tem fim a economia do descarte e surge um novo modelo de produção/ armazenamento.Todos estes fatores acima relacionados, no entanto, não possuem qualquerfundamento prático caso não haja um interesse extenso da mídia em conhecer com maiordiscernimento sobre a crise ambiental, suas causas, conseqüências e soluções, e emdisponibilizar espaços atraentes nos mais diversos veículos de comunicação para as notíciasdo tema incorporadas à visão holística necessária. Há, porém, um fator de fundamentalimportância que atesta a credibilidade e importância da mídia para que se chegue ao menospróximo das soluções: é muito possível que apenas ela, em seus grandes jornais e veículosde comunicação, possa informar dentro do tempo necessário sobre o impasse ambientalvigente.Pode-se constatar, após esta profunda análise acerca do acúmulo de informaçõescalcadas em estudos e estatísticas, que a população mundial – tendo em vista que odespreparo jornalístico não acontece apenas no Brasil – não recebe as notícias necessáriaspara comprovar a urgente necessidade de promover mudanças drásticas em seus estilos devida, além de exigir reformas estruturais na economia e na política de seus governantes.Apenas assim, será possível que ainda haja tempo para que o planeta não sucumba aoentrave da insustentabilidade, causado, em grande parte, pelas ações antrópicasprovenientes da estrutura econômica e social calcada em sólidas bases de combustíveisfósseis e lucro a todo custo.43


Um dos maiores jornalistas do país, e grande personalidade do jornalismoambiental, Washington Novaes 21lembra o grande desafio de abordar com maiorregularidade matérias acerca da chamada crise ambiental. Segundo o jornalista, não ésimples tratar de problemas como este, uma vez que eles ameaçam diversas classes:políticos, porque precisariam modificar suas formas de governo; empresários, porquetemem a perda de seus rendimentos a partir do corte de gastos e ações; comunicadores,porque enfrentarão problemas com seus anunciantes, além dos governantes e dosempresários; jornalistas, pois mudaria em completo sua visão acerca da estruturajornalística e, finalmente, para os cidadãos, que ‘se sentem impotentes diante de tudo isso’-suas próprias palavras.É, sobretudo, a partir do ponto de vista social, que se deve pensar esta conclusão. Oacúmulo de práticas insustentáveis de cada cidadão é notório, assim como a falta de acessoa informações que poderiam tornar menor este número. É impressionante a percepção deque, aproximadamente, 50% dos trajetos percorridos por automóveis de passeio são feitosentre distâncias de até 5 km, perfeitos para caminhar ou para o uso de outros transportessustentáveis.São inúmeros os exemplos de outras simples mudanças que poderiam fazer enormesdiferenças, se um grande número de pessoas adquirissem subsídios para tanto – apenaspossíveis se houver as informações necessárias, como lembra Adalberto Marcondes.Segundo Hélio Mattar, Presidente do Instituto Akatu de Consumo Consciente 22 , 9 minutosdiários de queda das Cataratas de Iguaçu seriam economizados caso as 17 milhões depessoas da Grande São Paulo fechassem suas torneiras na hora que escovassem os dentes.21 Em entrevista realizada no dia 15 de Novembro de 2006, por telefone (Goiás).22 O site é www.akatu.org.br44


Este é um típico exemplo de como um simples ato, se aceito por muitas pessoas, é capaz depromover grandes transformações. E, como este, há outros.A importância de que as emissões de gases estufa sejam reduzidas é uma dasprincipais preocupações mundiais, segundo Washington Novaes. A mudança nas matrizesenergéticas, hoje compostas pelos combustíveis fósseis, carvão mineral e gás natural, não émuito bem aceita pelos Estados Unidos, que acredita perder grande potencial de suaeconomia caso isto aconteça. Além dos EUA, a Austrália e os principais paísesexportadores de petróleo também não vêem com bons olhos tamanha reestruturação na basede suas economias.Esta mudança, no entanto, encontra algumas outras dificuldades, de acordo comWashington Novaes. Os Estados Unidos apostam em novas tecnologias que vêm sendodesenvolvidas para seqüestro de carbono, opção que os especialistas do IntergovernamentalPanel on Climate Change (IPCC) acreditam ser viável tecnicamente; mas terão queresponder a exigências legais de hidrologia, geologia e etc. Existem também as energiasalternativas, como biomassa, eólica, solar, das marés e hidrogênio. A grande questão que seimpõe para estas energias é que ainda não é feita a contagem dos gastos com petróleo,carvão mineral e gás natural, o que contribui para o argumento, ainda sem fundamento, deque estas alternativas seriam mais caras que as energias tradicionais.A verdade é que a população é despreparada para lidar com a crise ambiental e paraperceber suas ações insustentáveis e as perspectivas de soluções. Talvez, este seja um cicloimportante que deva ser pensado: segundo o físico e ambientalista Fritjof Capra, vivemosem uma rede de interdependência, a teia da vida, na qual todos os elementos da Terra estãointerligados e são pré-requisitos para o bom funcionamento do planeta. (Capra: pgs 23 a 29) Apartir desta afirmativa, pode-se pensar em uma idéia interessante. O impasse ambiental, dia45


após dia, apresenta contornos mais nítidos de sua existência; cabe a mídia veicular estasinformações, apresentar suas causas e conseqüências para o futuro da humanidade, eapontar soluções e caminhos para as mudanças. Apenas desta forma a população mundialirá se deparar com a realidade urgente e galopante de crise e mudará não apenas seuscostumes, mas também as cobranças de transformações em todos os setores da sociedade.46


Bibliografia:Livros: Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas deconhecimento/ coordenação André Trigueiro. – <strong>Rio</strong> de Janeiro: Sextante, 2003. Ciudadania Planetária – Temas y desafios del periodismo ambiental – FederaciónInternacional de Periodistas <strong>Ambiental</strong>es. Gonçalves, Carlos Walter Porto, 1949- O desafio ambiental/ Carlos Walter Porto-Gonçalves;organizador Emir Sader. – <strong>Rio</strong> de Janeiro: Record, 2004. – (Os porquês da desordemmundial. Mestres explicam a globalização). CAPRA, Fritjof. – A Teia da Vida. Ed. Cultrix. – Ecologia Profunda – Um Novo Paradigma. BROWN, Lester. – Eco-Economia (www.uma.org.br) TRIGUEIRO, André. Mundo Sustentável: abrindo espaço na mídia para um planeta emtransformação / André Trigueiro. – São Paulo: Globo, 2005. Global Warming – The greenpeace report oxford/ new york, oxford university press, 1990 –kaliparti ramakrishna – pg 392.Textos: Pavimentando o Planeta: automóveis e agricultura em disputa pela terra – Lester Brown. Vantagens da Bicicleta sobre o Automóvel – Werner Stiffel (extraído de “Liegeräder –Hinweise zu Konstruktion und Baú”) A Perspectiva Holística no Jornalismo – Entrevista com Evaldo Pereira Lima extraída darevista Ecologia & Desenvolvimento.Artigos: Artigo “A solução que vem do céu” – André Trigueiro, O Globo, 29/10/2003 Artigo “A química da água” – André Trigueiro, O Globo, 06/05/2003 Artigo “Consumindo a vida” – André Trigueiro, O Globo, 27/11/2004Sites: www.ambientebrasil.com.br47


www.webjornal.net/monitor_setorial www.lead.org.br www.reservaer.com.br www.uma.org.br www.onu-brasil.org.br www.akatu.org.brEntrevistas: Jornalista Washington Novaes - Goiás Jornalista e Editor-chefe do jornal ‘Envolverde’ Adalberto Marcondes – São Paulo Jornalista e Editor-chefe do JB Ecológico Hiram Firmino – Minas Gerais Jornalista e Apresentador do Jornal das Dez da GloboNews André Trigueiro – <strong>Rio</strong> deJaneiro.48


Anexos:Entrevista com o Editor-chefe do jornal ‘Envolverde’ Adalberto Marcondes.Realizada no dia 19 de Novembro, por e-mail.Felipe Lobo: Lester Brown afirma em seu livro 'Eco-Economia' que "só a mídia temcapacidade para disseminar as informações necessárias, no prazo disponível". O que énecessário ser feito para que a mídia assuma esta responsabilidade?Adalberto Marcondes: A mídia não é uma entidade monolítica. É formada por centenas deempresas que têm interesses políticos e econômicos. Alguns veículos estão mais avançadosdo que outros na difusão de temas relacionados a sustentabilidade. No entanto, as mudançasnão são induzidas apenas pela mídia. Em muitos casos ela apenas reage a mudanças decenário dentro da sociedade. Ou seja, a mídia reflete as ansiedades da sociedade. Algunsanos atrás não havia nada sobre meio ambiente ou desenvolvimento sustentável emnenhuma mídia brasileira. Hoje já existem cadernos em jornais como O Globo, Jornal doBrasil, Valor Econômico e muitos outros regionais. Surgiu também o que podemos chamarde "Mídia <strong>Ambiental</strong>", veículos de comunicação especializados em meio ambiente esustentabilidade. Em resumo, é necessário que a sociedade valorize este tipo de informaçãoe que as forças econômicas estejam dispostas a pagar por ela.49


FL: O escritor Jorge Luiz Borges diz, com grande propriedade, que "para a imprensa, oagora é o auge do tempo". Até que ponto esta cada vez maior necessidade do fatoinstantâneo é um entrave para a divulgação de notícias ambientais?AM: Esta é uma verdade que deve ser relativizada pelo desenvolvimento das tecnologias dainformação. Os jornais não são mais detentores do "furo jornalístico". Este furo agora estáno rádio, na TV e na Internet. Os jornais precisam se reinventar para buscar um novo papelna sociedade. Neste ponto acredito que os temas socioambientais podem ganhar relevância.Será preciso aos diários de papel ser mais reflexivos, contextualizadores e buscar umainteração maior com os desejos de futuro da sociedade.Eu acredito que esta busca pela profundidade nos textos, reportagens, artigos e tudoo mais vais fazer com que a mídia impressa tenha um papel mais relevante nos temassocioambientais.FL: Existem jornalistas ambientais ou deveriam existir jornalistas que falem compropriedade de muitos assuntos, incluindo meio ambiente?AM: Atualmente existem jornalistas ambientais, uma categoria que deverá entrar emprocesso de extinção assim que os temas de desenvolvimento e sustentabilidade passarem afazer parte de forma transversal de todas as pautas. Jornalistas ambientais, por enquanto,são aqueles que têm o conhecimento necessário para compreender essa transversalidade eaplicá-la em seu trabalho cotidiano.50


FL: André Trigueiro diz, em seu artigo no livro Meio Ambiente no Século XXI, que "é aavalanche de informações que perturba nossa capacidade de discernir e entender acomplexidade do mundo moderno com um olhar sobre aquilo que é essencial". Como épossível que a mídia reverta este quadro?AM: O excesso de informação é um problema da sociedade moderna, que tem 100 canaisde TV, 100 emissoras de rádio, milhares de sites de internet e bancas de jornais cada vezmais repletas de títulos. É difícil escolher o modelo do carro, quanto mais o modo de vidaque se deseja. Cada tempo tem sua relação com a informação. O nosso tempo é de excesso.O que precisamos ter em mente é que existem basicamente dois tipos deinformação, não importando seu volume:1 – as informações que as pessoas querem saber: estas são fáceis, existem em grandequantidade e, na maioria das vezes não tem qualquer relevância para a sociedade. Estão emprogramas dominicais, tablóides populares e em rádios populares, assim como nas TVs.2 – as informações que as pessoas precisam saber: Estas são mais difíceis em todos ossentidos. São mais complicadas para produzir, encontrar, destacar, compreender e ofereceraos leitores. No entanto, estas são as informações com potencial de transformação social.Estas são as que estão comprometidas com a sustentabilidade e com a construção do futuro.As pessoas são soberanas para decidir. Mas sem maniqueísmos, mesmo o maiscomprometido dos leitores também precisa de informação fútil.FL: O 1º dos 27 itens acordados na Declaração do <strong>Rio</strong> da <strong>Rio</strong>-92: "O homem é o centro ea razão do desenvolvimento sustentável e deve viver em harmonia com a natureza". Épossível dizer em termos gerais qual o nível de contribuição para o impasse ambiental das51


ações insustentáveis dos homens? E, em teoria, a mídia contribui para a falta deinformação sobre o meio ambiente – o que se apresenta como uma incoerência dosprincípios jornalísticos?AM: A mídia é uma generalidade. Existem mídias que contribuem para o desenvolvimentosustentável (muito poucas ainda) e outras que não têm nenhum compromisso com isto. Mascreio que, em sua maioria, os veículos de comunicação são como a média das pessoas, têmpouca informação ambiental ou tem informação equivocada.Para ser incoerente com princípios jornalísticos precisamos admitir que elesexistam. Como isto também é uma ficção, não creio que a mídia esteja sendo incoerente.Ela reproduz a sociedade de onde emerge.FL: Entre os dias 1/1/05 até o dia 10/11/06, foram publicadas 332 reportagens, artigos enotas nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo sobre clima. A maioria delas, no entanto,fala sobre a previsão do tempo, altas taxas de calor em determinada época do ano e muitosobre os furacões Katrina, Rita e Wilma. Não há, no entanto, um estudo aprofundado esequencial sobre o Aquecimento Global. Por quê?AM: Porque as pessoas querem saber se vão precisar de agasalho e guarda-chuvas e nãoque o planeta está passando por um ciclo catastrófico de aquecimento que poderá levarmilhares de espécies à extinção e à inviabilização da atividade humana em diversas regiões.Jornais são feitos para os leitores. Eles têm tudo o que os seus leitores querem, pesquisasperiódicas mostram isso.52


FL: O Brasil possui a maior reserva de água, a maior diversidade e maior floresta tropicaldo mundo. Há a impressão nítida, no entanto, de que muitas pessoas não conhecem estepotencial. Em qual veículo estas informações são repassadas, e por que não são notíciasconsideradas fundamentais?AM: Porque não falta água e nem florestas. As pessoas têm estes bens como infinitos noBrasil. Fala-se muito em preservar a água, mas não se cobra por ela. Não se investe emtratamento de esgotos em nível necessário para zerar o déficit de saneamento. O mesmo éem relação às florestas. Os leitores dos jornais e telespectadores estão confortavelmente nassalas de suas casas e empresas. Não têm floresta lá. Nós não estamos conseguindo, de fato,sensibilizar as pessoas em relação a estes temas. Existe uma certa preocupação, mas nãomaior do que com as questões cotidianas da sobrevivência, como o dinheiro, por exemplo.FL: A população está preparada para trocar suas matrizes energéticas baseadas noscombustíveis fósseis para as energias renováveis, para diminuir o consumo, paratransformar a economia de descarte atual em um exemplo dos 3 R's, enfim, para mudarseus comportamentos em busca da sustentabilidade?AM: Não. E nem está sendo preparada para isto. Pelo contrário, as empresas estãoinvestindo cada vez mais em dizer a todos que a felicidade está no consumo e que cada umpode ter tudo o que desejar, desde que consiga dinheiro. Ora, o objetivo passa a serproduzir dinheiro, não bem estar e felicidade em longo prazo.53


As alterações em padrões de comportamento coletivo são lentas. Precisam deindutores mais poderosos. Não há, ainda, nada que force as pessoas a mudarem de padrãode consumo. Mas vai haver, em breve.Entrevista com Hiram Firmino, <strong>Ambiental</strong>ista, jornalista, editor da Revista JBEcológico, do Jornal do Brasil. Realizada no dia 09 de Novembro, por e-mail.Felipe Lobo: Qual o papel da mídia na crise ambiental?Hiram Firmino: Informar para conscientizar e promover mudança de paradigma.FL: Por que não há uma maior disponibilidade de espaços para a divulgação de notíciasambientais nos grandes veículos de comunicação?HF: Porque a imprensa ainda não se conscientizou nem compreendeu a importânciarevolucionária da questão ecológica. Daí só abrir espaço para o assunto quando se trata detragédia (roubo de madeira, grandes incêndios florestais, etc.).FL: Falta embasamento para a maioria dos jornalistas ao tratar do impasse ambiental,além de uma apurada visão holística para que as colocações estejam relacionadas aospilares econômicos e sociais?HF: Completamente.54


FL: Lester Brown afirma em seu livro 'Eco-Economia' que "só a mídia tem capacidadepara disseminar as informações necessárias, no prazo disponível". O que é necessário serfeito para que ela assuma esta responsabilidade?HF: Tomar consciência que só informar – e não se envolver – não vai resolver o seuproblema comum: salvar o planeta e sobreviver com ele. A imprensa tradicional precisa setornar sustentável, o que significa se tornar imprensa verde, bem diferente de imprensamarrom. Significa tomar partido, defender a natureza, o desenvolvimento sustentável e aresponsabilidade social. Só continuar anunciando “A Amazônia vai acabar, estáacabando...”, um dia vai acabar mesmo.FL: O escritor Jorge Luiz Borges diz, com grande propriedade, que "para a imprensa, oagora é o auge do tempo". Até que ponto esta cada vez maior necessidade do fatoinstantâneo é um entrave para a divulgação de notícias ambientais?HF: Não é mais entrave. O auge são as mudanças climáticas já em curso.FL: Até que ponto as mídias alternativas, como jornais e revistas especializadas no tema,podem ajudar a divulgar a informação?HF: Formando multiplicadores de uma nova consciência e atitude no mundo, mesmo que aconta-gotas. Pra não desanimar: as grandes revoluções na história da humanidade foramfeitas por minorias e não pela multidão que, como gado, segue unida para o matadouro.55


FL: É possível afirmar que o acúmulo de práticas insustentáveis por parte da populaçãoestá diretamente relacionado à falta de informação a respeito do impasse ambiental?HF: Claro. Freud já dizia que somente a informação, no caso, nova, ecológica,revolucionária, processada no cérebro humano é capaz de promover mudanças. E depois deinformado de uma verdade, no caso a verdade ambiental, não há recuo, só avanço, mesmoque demore a se tornar uma prática comportamental. Exemplo: eu tomo consciência quefumar é ruim. Daí a parar de fumar é outra coisa.FL: Existem jornalistas ambientais ou deveriam existir jornalistas que falem compropriedade de muitos assuntos, incluindo meio ambiente?HF: De maneira estratégia, num primeiro momento se necessita de jornalistasespecializados em meio ambiente. Seu papel é serem âncoras. Num segundo momento, aísim, mais abrangente, todos os jornalistas e suas respectivas editorias deveriam seecologizar. Ou seja, a questão ambiental deverá, num futuro próximo, não ser mais umamatéria/editoria especializada. Ela irá permear todas as editorias, de política, economia,esportes. É isso que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, está tentando implantar noGoverno Lula: verticalizar a questão ambiental como políticas públicas em todos os demaisministérios... até que um dia não se necessite mais nem de um Ministério Verde nem deEditorias e jornalistas de Meio Ambiente. Idem, é toda a população que deve se tornarambientalistas –e não somente alguns indivíduos.56


Em tempo, apesar de romântica na aparência, a questão ambiental é profundamenterevolucionária, por pregar o altruísmo, o coletivo, o social, em lugar do egoísmo, doindividualismo, etc. Na visão ecológica, perante o mundo, o ser humano tem a mesmaimportância que uma galinha. Somos todos farinha do mesmo saco e só pensando e agindoassim com os nossos semelhantes, com a natureza e o meio ambiente que nos cerca nossalvaremos. A imprensa, junto.Entrevista com o jornalista Washington Novaes. Realizada no dia 15 de Novembro de2006, por telefone:Felipe Lobo: Qual o papel da mídia na crise ambiental?Washington Novaes: É decisivo. Terá que levar para a sociedade as informações sobre asgrandes questões colocadas de forma que a sociedade possa discutir e transformar emagenda política para cobrar dos governantes e políticos ações e soluções. Segundo KofiAnnan, os principais problemas do mundo não são o terrorismo e sim o aquecimentoglobal, capacidade de reposição da biosfera e etc.FL: Ainda há tempo para mudar?WN: Não sabemos exatamente em qual ritmo o problema vai aumentar. Fato é que existemvários estudos que mostram os problemas se agravarem no dia-a-dia. Temos que correr, averdade é que é preciso muita urgência para enfrentar isso tudo. Para tanto, é preciso que amídia mude para se adequar a esses novos tempos; não pode continuar tratando no velho57


modelo de jornalismo de espetáculo e só tratar dele em momentos de grande crise. Énecessário que a cobertura dos problemas ambientais seja uma rotina; só assim a crisepoderá ser enfrentada.FL: O senhor disse, certa vez, que o planeta está com febre. Por que este assunto não éamplamente tratado?WN: Essas chamadas questões ambientais são muito ameaçadoras para os governantes epolíticos. Isso porque, se enfrentarem adequadamente estas questões precisam mudar suaforma de política. É também muito complexo para os empresários, porque para trataremadequadamente deste tema deveriam absorver custos de suas ações, e temem que isso afetea rentabilidade. É ameaçadora para a comunicação, pois terá problemas com governos,empresas, publicidade e anunciantes; é ameaçadora para o jornalista, porque teriam quemudar sua visão do jornalismo e, por último, mas não menos importante, é ameaçadorapara os cidadãos, uma vez que se sentem impotentes diante de tudo isso.FL: O que será preciso fazer para começar as necessárias mudanças?WN: Será preciso encontrar formas de reduzir as emissões de gases estufa. Até aqui, aproposta mais forte é a de uma redução através da mudança de matrizes energéticas quehoje são baseadas no petróleo, carvão mineral e gás natural. Essa proposta enfrenta grandeoposição dos Estados Unidos, que não querem mudar sua base energética, da Austrália, edos paises exportadores de petróleo também. Mesmo os chamados paises emdesenvolvimento não querem assumir compromissos de redução sob o argumento de que os58


paises desenvolvidos é que devem cumpri-los. Os EUA acreditam na tecnologia quedesenvolvem para seqüestro de carbono. O IPCC acha que, tecnicamente, isso é viável, masterá que responder a questões de hidrologia, geologia e etc. Outro caminho é o das fontesalternativas: eólica, solar, marés, hidrogênio, biomassas. Um dos problemas que enfrentam,no entanto, é que como não se faz uma contagem adequada dos custos das energias depetróleo, gás e etc., estas energias alternativas são consideradas mais caras do que as outras.Esta falta de contabilidade gera um problema. Há uma discussão entre especialistas sobreos custos reais do hidrogênio que ainda está em andamento. E, finalmente, tem a energianuclear e uma pressão para que se use esta energia; o autor da Teoria de Gaia afirma queesta é a solução.Entrevista com o jornalista André Trigueiro. Realizada no dia 21 de Novembro, na<strong>PUC</strong>.Felipe Lobo: André, em poucas palavras, o que é a crise ambiental?André Trigueiro: A crise ambiental é causada por um modelo de desenvolvimento que serevelou fracassado numa premissa importante que é o da manutenção, no longo prazo, deum projeto de desenvolvimento que seja gerador de riqueza, de renda e de emprego. Se avariável da sustentabilidade não se incorpora a esse modelo, ele tem curto prazo. A criseambiental revela que estamos experimentando um modelo eco-cida de desenvolvimento.Não é o planeta que está em risco; o que está em risco é a sobrevivência de nossa espécie.O estilo de vida que estamos adotando exaure recursos finitos fundamentais a vida, e sem59


eles, nós perecemos. O que estamos percebendo é que muitos indicadores, com diferentesmetodologias, chegam à mesma conclusão: acendeu a luz amarela.FL: Lester Brown afirma que apenas a mídia tem a possibilidade de, no tempo necessário,divulgar as afirmações urgentes. O que precisa acontecer para que ela assuma estaresponsabilidade?AT: Primeiro se dá conta da gravidade deste momento. Tornou-se imprescindível einadiável enfrentar dentro das redações o imenso desafio que é através do trabalho dojornalista informar sobre a necessidade da mudança. Não basta apenas informar, ela temque remeter a uma nova atitude. A calibragem destas informações requer um certo cuidado;eu diria uma arte. Como você, sem esvaziar esperança, informa sobre a gravidade domomento estimulando um novo comportamento, uma consciência. Ela encerra anecessidade da atitude. Só realiza a mudança quem tem consciência.FL: Qual o 3º paradigma proposto por Lester Brown?AT: Ele propõe que haja diálogo entre ecologistas e economistas e menos preconceitomútuo. A dificuldade é perceber que, tanto economia quanto ecologia – é o que sugereBrown – são importantes e indispensáveis na concepção deste novo modelo e que teria asustentabilidade como norte magnético, ou seja, sem prejuízo do desenvolvimento, vourealizar projetos que tentem na medida do possível compatibilizar a necessidade do lucro,da realização do negócio com sustentabilidade. Isso é uma utopia, não existe. Ainda. E oque Lester Brown faz quando sugere a Eco-Economia, é um desarmamento. Vamos nos60


econhecer como importantes no processo. Ele chama a tenção para o fato de que é precisohaver concessões.FL: Quais você considera as principais práticas insustentáveis que nós, indivíduos,fazemos em nosso cotidiano?AT: Primeiro é o consumismo, quer dizer, um estilo de vida no qual não há limite para oconsumo, e se esquece de duas coisas importantes: a variável da ética, que é você ostentaronde há escassez, isso é um problema moral, e a outra é que cada produto ou serviçoquando contratado/ consumido é indissociável de matéria prima e energia. Se o planeta éum só e os recursos não são infinitos e eu não tenho limites de consumo, eu sou umcolecionador de matéria prima e energia. Se eu não preciso de tudo o que tenho, acelero aexaustão dosa recursos sem uma finalidade útil. Uma segunda questão importante é aconcentração de renda. A função do dinheiro não é ser acumulado, mas sim ser entendidocomo uma ferramenta. Isso não é sustentável, porque esse dinheiro está fazendo falta, emalgum lugar. Em um mundo onde há tanta desigualdade, é importante que a gente pense afunção social do dinheiro e do capital. Não há sustentabilidade onde as pessoas crescemsem oportunidades, vivem em favelas, não tem saneamento básico e não tem segurança deestar tomando água tratada. Por último, mas não menos importante, acho que é o resgate dosentido da vida. Em algum momento parar para pensar: o universo existe para me servir ouestou dentro de algo maior? É preciso ter cuidado. Cuidar bem de você, do outro e do seuentorno. A soma destas faltas de cuidado resulta na crise ambiental. Enquanto tivermos estadualidade eu e o meio ambiente, eu aqui e a natureza lá, a gente não resolve a criseambiental.61


FL: Porque não existem mais jornalistas que tratem da crise ambiental?AT: Existem sim. Eu acho que é preciso ter um pouco de paciência porque é um processoem andamento. Já foram muitos poucos jornalistas que ousavam discutir este tema e eramalvo de preconceito; depois isto passou a ser interessante para outros segmentos dentro dojornalismo: temos a Rede Brasileira de Jornalismo <strong>Ambiental</strong>, algumas bem consolidadasmídias segmentadas na área ambiental, como é o caso do site O Eco. Existe o JB Ecológico,a revista ECO 21, o Jornal do Meio Ambiente, ou seja, o espaço para a discussão na mídiasegmentada e grande mídia está crescendo. Em alguns anos será possível perceber que esteprocesso está ganhando musculatura. A questão fundamental é: quanto tempo ainda vamosesperar, porque há uma urgência, precisamos ter a noção do timing que os processos seresolvem. Acho que o Brasil e a mídia brasileira precisam acordar pro fato que, algunstemas antes considerados marginais, hoje devem justificar pelo menos uma primeira páginapor semana. E não é pra dizer que deu problema. É pra você sinalizar rumo e perspectiva.62

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